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MAIS ALEM DA “CULTURA®: ESPAGO, IDENTIDADE E POLITICA DA DIFERENGA Akhil Guptae James Ferguson Para uma disciplina cujo rito de passagem central é o trabalho de campo, cujo fascinio tem-se baseado na exploragio do remoto (*o mats outro dos outros” [Hannerz 1986, p. 363)), cuja fungao critica considera-se estar em sua justaposigo de modos radicalmente diferentes de ser (ocilizados ‘alhures") dos da cultura getalmente ocidental dos antropélogos, surpreendentemente tem hvido, na teoria antropolégica, pouca consciéncia da questio do espago. (Algumas excepdes notiveis sio Appadursi (1986, 1988], Hannerz [1987] «© Rosaldo {1988, 19891.) A colegio de cinco ensaios etnogrificos publicada pela revista Cultural Anthropology em 1992, para a qual este artigo serviu de introdlucio,’ representa uma tentativa modesta de tratar das questocs cde espaco e lugar, junto com algumas preocupacdes necessariamente relacionadas, como as de localizacio, deslocamento, comunidade e identidade. Em particular, queremos explorar de que modo ¢ interesse renovado sobre a teorizagie do espago na teoria pés-modernista e feminista (Anzaldua 1987, Baudrillard 1988, Deleuze ‘© Guattari 1987, Foucault 1982, Jameson 1984, Kaplan 1987, Martin Mohanty 1986) - encamado em nogoes como vigilincia, panopticismo, simulacro, desterritorializagio, hiperespago pés-modemo, fronteiras © margi- nalidade ~ forgi-nos a reavaliar conceitas analiticos centrais da antropologia como o de “cultura” ¢, por extensio, a idéia de “diferenea cultural’ ‘Eas tcxo fo pablo orginal rn ARB Gapt cries Ferguson (192) “Beyond ule: Space, deat end ihe poco erence” Gara Atropotogy vl 7.121. Washington: Amerean Andaopclogical AStocation, fevers, p. 628. Tradugs de Peo Mala Soe. 1. sur referesea evs Cultura Anthropology, vl. 7.02 cle Reve le 1982. IN do ” [As representagdes do espaco nas ciéncias sociais depenclem muito das imagens de rompimento, rupnura € isjungio. A distingto entre sociedades, nagdes e culturas baseia-se numa divisto do espaco aparentemente niio problemética, no fato de que ocupam espagos “naturalmente’ descontinuos. A premissa cht descontinuidade configura 0 ponto a partir da qual sto teorizados 0 contato, 0 conflito €a contradic entre culturase sociedades, Por exemplo, a representagio do mundo como uma colegio de “paises al como aparece na maioria dos mapas rmundizis, considers-o um espago inerentemente fmigmentado, dividido por cores diferentes em diversas sociedades nacionais, cada uma delas “enraizad” em seu devido lugar (cf, Malki)” F considerado to certo que ‘cada pais encama sua propria cultura distinta, que os termas “Sociedade” e *cultura” so rotineiramente apostos 103 nomes de estados-nagbes, como acontece quando um tursta visita a India para entender a “cultura indiana” 2 “sociedae indiana", ou vai 8 Tailindia para experimentar a “cultura tailandesa", ou visita os Estados Unidos para respirar um pouco de “cultura americana claro que 0s territérios geogrificos que, acredita-se, as culturas e sociedades devem ocupar, mio precisam ser nagées. Temos, por exemplo, idéias sobre dreas culturais que recobrem virios estados-nagbes, ‘ou sobre nagdes multiculturais. Numa escala menor, talvez, esto nossos pressupostos sobre a associagdo entre grupos culturalmente unititios (tribos ou povos) a “seus” terrtérios: os *Nuer” vivem na "Nuerlindia® assim por diante, A ilustrago mais clara desse tipo de pensamento esti nos clissicos “mapas etnogesficos”, que pretendem mostrar a distribuigdo espacial de povos, tibos e culturas. Mas, em todos esses casos, 0 espago tome-se uma grade neutra sobre a qual a diferenca cultural, a meméria historica e a organizagio social s40 inscritas, & dessa forma que 0 espago funciona como um principio organizador central nas ci8ncias sociais, a0 mesmo tempo em que desaparece da esfera de aglo analitica Esse suposto isomorfismo entre espaco, lugar € cultura resulta em alguns problemas significativos. Primeiro, hi a questio daqueles que habitam 2 fronteira, aquela “estreita faixa ao longo das bordas escarpadas" (Anzaldua 1987, p. 3) das fronteiras nacionais. A ficgio de culturas como fenémenos distintos que se assemelham a objetos que ocupam espagos distintos torna-se implausivel para os habitantes das fronteiras, Relacionados a estes esto os que viver cruzando fronteiras ~ trabalhadores migrantes, nomades «€ membros da elite profissional € de negécios transnacional: o que é “a cultura” dos lavradores que passam uma metade do ano no México e a outra metade nos Estados Unidos? Por fim, hé aqueles que cruzam fronteiras de forma mais ou menos permanente ~ imigrantes, refugiados, exilados ¢ expatriados. Nesses casos, 2 disjungdo de lugar ¢ cultura fica especialmente clara: refugiados khmer nos EUA levam a ‘cultura khmer” com eles, da mesma forma complicada como os imigrantes indianos na Inglaterra transportam a “cultura indiana’ para sua nova patria 2. Cl. Catral Antrepology, vo. 7, 8 1, fevercto de 1992.(N. do T} | : : : j (Um segundo conjunto de problemas levantados pelo mapeamento implicita de culturas por sobre os tugares € conseguir dar conta cis diferencas culturais no interfor de uma localidade. © *muliculturaismo” & 0 mesmo tempo, um débil reconhecimento do fato de que as culturas perderam suas amarras 2 lugares definidos, ¢ uma tentativa de subsumir essa pluratidade de culturas na mokdura de uma identidade nacional ‘Da mesma forma, a idéia de *subcultura” tenta preservar a idéia de "culturas" distintas, ao mesmo tempo em que reconhece a relacio de diferentes culturas com uma cultura dominante dentro do mesmo espaco geogrifico © territorial, Explicagées convencionais sobre etnia, mesmo quando utlizadas para descrever diferencas culturais em cendtios onde povos de regibes diferentes vivemn lado a lado, pressupdem uma ligaclo, problemitica entre identidade e lugar. Embora sejam sugestivos porque procurem alargar associag0 raturalizada de cultura com lugar, tais conceitos deixam de interrogar esse pressuposto de uma forma realmente fundamental, Precisamos nos perguntar como tratara diferenca cultural ao mesmo tempo em que abandonamos os clichés sobre cultura (localizada). [Em terceiro lugar, hé a questo importante da siuagio pés-colonial: a que lugares pertencem as culturas hibridas do pés-colonialismo? Sera que 0 encontto colonial cria uma ‘cultura nova" nos paises colonizados colonizadores, ot seri que ele desestabiliza a nocdo de que nagoes e culturas so isomérficas? Como se discutiré adiante, a condigio pés-colonial problematiza ainda mais a relagio entre espago e cultura Por fim ~ € 0 mais importante ~ 0 desafio & paisagem fraturada de nagoes independentes ¢ culturas autnomas levanta a questio de compreender a mudanea social e 1 transformacao cultural como situadas dentro de espacos interligados. A suposi¢lo de que os espacos slo autonomos permitiu que 0 poder da topografia ocultasse a topografia do poder. © espaco inerentemente fragmentado implicito na definigao da antropologia como o estudo de culturas (no plural) pode ter sido um dos motives por tris da antiga ¢ persistente omissdo de escrever a histérla da antropologia como uma biografia do imperialismo, Pois, se parimos da premissa de que os espagos sempre estiveram interligados hicrarquicamente, em vez de naturalmente desconectados, ento, a mudanca cultural ¢ social no se torna mais uma questto de contato € de articulaglo cultural, mas de repensar a diferenca por meio da conexio, Para ilustrar, examinemos um modelo poderoso de mudanga cultural que tenta relacionar dialeticamente ‘local com arenas espaciais mais amplas: a articulagao. Os modelos de articulagto, venham do estruturalismo marcista ou da “economia moral", postulam um estado primevo de autonomia (geralmente rotulado de *pré-capitalista") que ¢ entdo violado pelo capitalismo global. © resultado € que tanto a arena local como as arenas mais amplas se transformam ~ a local mais do que a global, com certeza ~, mas niio necessariamente ums diregao predeterminada, Essa nolo de articulaglo permite que se explorem as ricas conseqiiéncias 1, Boo dbviamene lo vale pa estrada “nova nic iade” para teatos como os de Arzaun (1987) ¢Rathakishn (1987), 33 } | I i | I io intencionais do, digamos, capitalismo colonial, em que ocorrem paralelamente perda e invencao, Contudo, 20 tomar uma “comunidade” localizada, pré-existente, como ponto iniial, essa nogio deixa de examinar suficientemente os processos (Iais como as estruturas de sentimento que permeiam a imaginagio a comunidade) que participam em primeira instincia da constructo do espago como fugar ou localidade. Em outras palavras, em vez de supor a autonomia da comunidade primeva, devemos examinar de que modo cla se formou como comunidade, a partit do espago intertigado que desde sempre existia. © colonialismo representa, eno, a substituiglo de uma forma de intesligaglo por outra, No dizemos isso para negar que 0 lismo em expansio tenham profundos efeitos desarticuladores sobre sociedades cexistentes, Mas, 20 trazet sempre para 0 primeiro plano a distribuigio espacial de relagdes de poder hieriequicas, podemos entender melhor o processo pelo qual um espago adquire uma édentidade distintiva como lugar. Nao nos esquecendo de que 25 nodes de localidade ou comunicade referem-se tanto a um. espago fisico demarcado quanto a agrupamentos de interago, podemos perceber que a identidade de um lugar surge da interseco entre seu envolvimento especifico em um sistema de espagos hierarquicamente organizados e a sua construcio cultural como comunidade ou localidade. E por essa razJo que aquilo que Jameson (1984) chamou de *hiperespaco pés-modemno” desafiou de forma tio fundamental a conveniente ficcio que mapeava culturas por sobre lugares e povos. No ocidente capitalists, 0 regime fordista de acumulagio, que enfatizava imensas unidades de produgio, uma forga de trabalho relativamente estivel e o estado do bem-estar social, criou “comunidades” urbanas cujos contomos ficavam mais claramente visiveis nas cidades industriais (Davis 1984, Harvey 1989, Mandel 1973). A contraparte disso na arena internacional foi que as empresas multinacionais, sob a lideranga dos Estados Unidos, exploravam constantemente as matériasprimas, os bens primirios e a mao-de-obra barata dos cstados-nagdes independentes do “Terceiro Mundo" pés-colonial. Agéncias multilaterais e poderosos Estados ocidentais pregavam as ‘leis’ do mercado ~ necessariamente apoiadas pela forca militar ~ para estimular 0 fluxo internacional do capital, ao mesmo tempo em que politicas nacionais de imigragao garantiam que nio hhouvesse um fluxo livre Gsto é, andrquico, perturbador) de mao-de-obra para as ilhas de altos salitios do centro capitalists. Os padrées de acumulagio fordista foram substituidos por um regime de acumulagao exivel — caracterizado por produgio em pequena escala, mudangas rapidas nas linhas de produsio, movimentos extremamente cipidos de capital para explorar os menores diferencials de custo de mao-le-obra ieprima ~ baseado numa rede mais sofsicada de informagio € comunicagio e melhores meios de transporte para bens € pessoas. Ao mesmo tempo, a producto industrial de cultura, diversto € lazer, que atingiu pela primeita vez algo parecido com a distribuicio global durante 2 era fordista, conduziu paradoxalmente a invencio de novas formas de diferenca cultural ¢ novas formas de imaginar a comunidade, Algo como uma esfera publica transnacional tomou obsoleto qualquer sentido de comunidade ou localidade cstrtamente limitado €, ao mesmo tempo, permitiu a criagao cle formas de solidariedade e identidade que colonialismo ou o capi ce mate nio repousim sobre uma apropriaclo do espago em que a contigiidade © 9 contato pessoal sejam fundamentais. No espaco pulverizado da pds-modemidadle, 0 espago nto se tomou irrelevante: ele foi neertitorializado de umn modo que mio se conforma A experiéncia de espago que caracterizava a era da alta modemidade. & isso que nos forga a repensar as politicas de comunidade, solidatiedade, identidade © diferenga cultural, ‘Comunidades imaginadas, lugares imaginados Sem diivida, os povos sempre foram mais moveis € as identidades menos fixas do que as abordagens cestiticas e tipologizantes da antropologia clissica sugerem. Mas, hoje, a ripida mobilidade e expansao dos jpovos combina-se com a recusa de produtos e priticas culturais de “ficar parado para dar um sentido profundo de perda de raizes territoriais, de erosio da peculiaridade cultural dos lugares de fermentagio na teoria antropoi6gica. A aparente desterritorializacio da identidade que acompanha tais process0s colocou n0 centro da investigagio antropoldgica recente a questio de Clifford (1988, p. 275}: “O que significa, no final do século XX, falar de uma ‘terra nativa? Que processos, em vez de esséncias, estio envolvidos nas atuais experitncias de identidade cultural?” Evidentemente, essas questoes mo Sio novas, mas 0 debate sobre identidade coletiva parece assumir, hoje, um casiter especial, quando viverios cada vez mais no que Said (1979, p. 18) chamou de “uma cond generalizada de sem-teto", em um mundo onde a5 identidades estio se tomando cada vez mais, senito totalmente, desterritoriaizadas, wo menos tersitorializadas de maneira diferente. Povos refugiados, migrantes, deslocados ¢ sem Estado — s20 esses, talvez, os primeiros a experimentar essas eslidades em sua forma mais completa, mas 0 problema € mais geral. Em um mundo de diispora, fluxos transnacionais de cultura © maovimentos em massa de populagdes, tentativas antiquadas de mapear o globo como utn Conjunto de regides ‘ow bercos de cultura sto desnortendas por uma série estonteante de simulacnos pés-coloniais, duplicagbes e reduplicagdes, na medida em que a India © © Paquistio reaparecem numa simulaglo pés-colonial em Londres, a Teer pré-revolucioniria ergue-se das cinzas em Los Angeles, ¢ milhares de sonhos culturais semelhantes slo representados em cenirios urbanos e rurais em todo © mundo. Nesse jogo-culturs da didspora, ficam bormdas fronteiras familiares entre o “aqui” e 0 “Ki”, o centro e a periferia, a co¥inia ea metropole, Quando 6 “agui’ e 0 "la" ficam assim embacados, as cerezas ¢ Axagdes culturals da metw6pole so perturbadas tanto ~sendto da mesma formna ~ quanto as da periferia colonizada, Nesse sentido nilo sio apenas 0 deslocados que experimentam uma deslocalizacio (cf. Bhabha 1989, p. 66), pois até mesmo quem permanece em locais familiares e ancestais ve mudar inelutavelmente « natureza de sua relaglo com 0 lugar 38 | i | ! | ¢ romperse a ilusio de uma conexo essencial entre higar © cultura. A ‘anglicidade’, por exemplo, na Inglaterra contemporinea internacionalizads, € uma nogio tho complicada € quase to desterrtoralizada quanto uma “palestinidade” ou “armenidade", uma vez que “Inglaterra” ("a verdadeira Inglaterra") refere-se menos 2 1m lugar limitado do que a um estado de ser ou a uma localizacio moral imaginados. Considere-se, por exemplo, o que diz. um jovem branco fi de reggae no etnicamente ea6tico bairro de Balsall Heath, em Birmingham (cf, Hebdige 1987, pp. 158-159): [Niveise mais iso de“nglatera" ben-vindos os da rat Agel €o Cael Nigéril No este Inglaterra. Esso que ets scontecondo Bala Heath 0 cento do melting pot, pave toque veja qu aio eo abe, meio paqustants, meio jamsicano, cio cacocés, mei lands, Bu sei porque somo esvctsrcia ands quem su eu? Mediz de ode eu su? les me xitcam, svethae boa Inglaterra Todo tem, de onde eu sou Sabe, eu ress com nepos, paguistaness, fianos, alco, tudo © gue Voo8 ule, fag parte de qué? Sou apenas una pessoa sem mies. A tea as, sss, ene io asc a Jaca, a gee ilo nascea a“nglatera. A gonte aasceasqui, car. nos dito. € asim que cu vjo. asim qe ldo com io A-aberta aceitagao do cosmopolitismo, que parece estar implicita aqui talvez seja mais uma excegio do que a regra, mas mlo se pode ter dividas de que a explosto de uma “Inglaterra” culturalmente estével e unitria no “aqui” cutand-mte do Balsall Heath contemporineo seja um exemplo de um fendmeno que é real e que se espalha, Esti claro que a eroslo dessas conexdes supostamente naturais entre povos € lugares nao conduziu ao espectro modemista da homogeneizaco cultural global (Clifford 1988). Mas “culturas” e “povos", por mais persistentes que sejam, deixam de ser plausivelmente identifictveis como pontos no mapa. A itonia de nossa época, no entanto, € que, ao mesmo tempo em que lugares ¢ localidades se tornam ‘cada vez mais borrados e indeterminados, as tdéias de locals cultural ¢ etnicamente distintos tomam-se talvez ainda mais proeminentes. F nesse ponto que fica mais visivel a manelra como comunidades imaginadss (Anderson 1983) ligam-se a lugares imaginados, na medida em que povos deslocades se retinem em torno de terrasnatais, lugares ou comunidades imaginadas, em um mundo que parece negar cada vez mais essas firmes Ancoras teitorializacas em sua realidade (Os lugares lembrados tm amidde servido como aincoras simbélicas para gente dispersa. Hi muito que isso € verdade para os imigrantes, que (como mostra vivamente Leonard [1992) usam a meméria do lugar para construir imaginativamente seu novo mundo. Nesse sentido, a “terra natal" permanece um dos simbolos unificadores mais podetosos para povos méveis e destocados, embora a relagio com ela possa ser construida de modo diferente em, cendrios diferentes. Ademais, mesmo em tempos € cendsios mais completamente desterritorializados ~ cendrios em que a “terra natal” no 86 estd distante, mas também nos quais a prépria ogo de “terra natal” como lugar de duragio fixa € posta em questo -, certos aspectos de nossas vidas 36 ‘permanecem altamente“localizados” em um sentido socal, como argumenta Peters (1992), Precisamos deixar de lado a idéia ingénua de comunidade como entidade literal (ef. Cohen 1985), mas continuar sensiveis 2 profunda "bifocalidade” que caracteriza as vidas localmente vividas em um mondo globalmente interconec- tado, bem como 20 poderoso papel do lugar na “visio de perto” da experiéncia vivida (Peters 1962), No entanto, a erosto parcial dos mundos socials espacialmente limitados ¢ © papel crescente da jmaginacio de lugares & distancia devem ser situados dentro dos termes altamente espacializados de uma economia capitalsta global. O desafio € usar 0 enfogue sobre o modo como o espaco € imaginado (mas no imagindria) como forma de explorar os processos pelos quai tais processos conceituais de construgio do ugar encontram-se com as condligdes politicas e econdmicas globais em mutaglo dos espagos vividos ~ a elagio, poderiamos dizer, entre lugar e espaco, Como mostra Ferguson," poclem surgir tensdes importantes {quando os lugares que foram imaginados & distincia precisam tomar-se espacos vividos, pois os lugares so sempre imaginados no contexto de determinagdes poliicas e econdmicas que tém uma l6gica propria, A temitoralidade 6, asim, reinscrta no ponto exato em que esti ameacaca de ser apagada {A idéia de que se atribui signficagio ao expago é, sem avid, familiar aos antropélogos. Com efeito dificilmente ha uma verdade antropolégica mais antiga ou mais bem estabelecida. Oriente ou ocidente, dentro: fa fora, esquerda ou direta, montana ou plincie, pelo menos desde a epoca de Durkheim, a antropologia sabe que a experiéncia do espaco é sempre socialmente consruda, A tarefa mais urgente € politizar essa observagio incontestivel, Compreendendo-seaatribuicio de sentido como uma prea, como se estabelecern 0s sents espacias? Quem tem o poder de tomar lugaees 0s espagos? Quem contesta S50? O que esti em questac? Essas questes sio paricularmente importantes onde a associacio signficativa de lygares © povos est ‘em jogo. Como demonstra Mallcki,” devem ser contestados, aqui, dois naturalismos. O primeiro, j4 discutido, 6-0 que chamaremos de Adio etnoldgico de supor como natural a associagdo de um grupo culturalmente suniario (a "tbo" ou 0 “povo") com “su” teriéno, Um segundo e intimamente elacionado naturalism & fo que chamaremos de heibito nacional de tomar como natural a associagd de cidaddios ce estados com seus territérios. Aqui, imagem exemplar ¢ do maparmiind! convencional dos estados-nagées, por meio do qual 48 criangas aprendem idéias tio engandoramente simples como a de que Franca é onde os franceses viver, 08 Estados Unidos sto o lugar onde os americanos viver, ¢ assim por diante. Até mesmo um observador camtal sibe que nem s6 americanos vivem nos BUA, © est claro que a propria questio co que € um “americano verdadeiro” € controvertda, No entanto, até mesmo os antropblogos ainda falam de “cultura “4 GataralAnropogy, vl 7,121, feverero de 1992. (N.do 5. Wid i j | | | | it } { | | americana’, sem ter clareza do que isso significa, porque supomos uma associa¢ao natural de uma cultura (a “cultura americana”), um povo (os “americanos") e um lugar (os “Estados Unidos da América"), Tanto 0 naturalismo etnol6gico como 0 nacional apresentam as associagées de povo e lugar como sélidas, citeriosas © pacificas, quando sto, na verdade, contestadas, incerta ¢ fluidas. Trabalhos mais recentes em antropologia e campos relacionados enfocaram os processos mediante os uals essas representacdes nacionais reificadas e naturalizadas sio construfdas e mantidas por Estados e elites nacionais, (Ver, por exemplo, Anderson 1983, Handler 1988, Herzfeld 1987, Hobsbawm e Ranger 1983, Kapferer 1988, Wright 1985.) Borneman® apresenta um caso em que 2s construgdes estatals de um territ6rio nacional sto complicadas por um tipo muito particular de deslocamento, na medida em que a divisio teritorial da Alemanha apés a Segunda Guerra Mundial torau impossivel aos dois Estados as reivindicacdes de uma terra natal teritorlalmente circunscrita € de uma nagio culturalmente delineada, que sto geralmente essenciais para estabelecer legitimidade, Seus cidadios também nao podiam contar com tais apelos na construcio de suas proprias identidaces. Bomeman afirma que, a0 forjr identidades nacionais afastadas dessa forma de terttério e cultura, as Estados germinicos do pés-guerra ¢ seus cidadaos utilizaram estratégias de ‘oposiglo, que resultaram, em wlkima instincia, em versdes das identidades deslocadas e descentradas, que marcam o que com frequéncia chamado de condigdo pés-moderna. As discussdes sobre o nacionalismo deixam claro que os Estados desempenham um papel crucial na politica popular de construcio do lugar e a criago de lagos naturalizados entre lugares e povos. & importante observar, porém, que as ideologias estatais estio Longe de ser 0 (nico ponto em que a imaginacio do lugar Seia politizada. Imagens contrapostas de lugar foram evidentemente muito importantes nos movimentos racionalistas anticolonizis, bem como nas campanhas pela autodeterminaglo © sobertaia por parte de contracnagées éinicas como os hutus (MalkKD,” 08 eritrcus © os arménios. Bisharat (1992) investiga 2 participagio da imaginagio de um lugar na luta dos pelestinos, mostrando de que mado construgdes ‘especificas da “terra natal” mudaram em resposta a circunstAncias polticas e de que maneira uma relagto Profundamente sentida com “a terra" continua a informar ¢ inspirar a luta dos palestinos pela autodetermina- ‘0. O artigo de Bisharat serve como lembrete, 2 luz das conotagdes muitas vezes reacionirias do nacionalismo no mundo ocidental, do quanto foram poderosas as nogdes de terra natal e de “nosso lugar” utilizadas com frequéncia em contextos anticoloniais. 6 id bd, 7 to Com efeito, os cbservadores futuros das revolugées do século XX provavelmente se espantarto com a dificuldade de formular movimentos politicos de larga escala sem referéncia a pltrias nacionais. Gupta* cliscute as dificuldades surgidas na tentativa de reunir pessoas em tomo de uma coletividade nao nacional, come © movimento dos iiio-alinhados. Problemas semelhantes sio levantados pelo movimento internacio- nalista proletéco, pois “como descobriram geragées de marxistas depois de Mark, uma coisa € libertar uma naglo, outra bem diferente € libertar os trabalhadores do mundo” (Gupia).” As tendéncias ao nacionalismo dio intemacionalismo baseado na classe (como na historia da Segunda Internacional, ou da URSS) € 2 utopia imaginada em termos locais em vez. de universais (como em News from nowhere, de Morris [1970], em que snowhere™"” futopial revela-se um "somewhere" especificamente inglés) mostram claramente a importincia de ligar as causas aos lugares e A ubiqlidade da construcio do lugar na mobilizacio politica coletiva, No entanto, essa constnicio do lugar mio precist se dar em escala nacionsl. Um exemplo disso € a manera como nocoes idealizadas do “campo” foram urilizadas em censirios urbanos para crticar 0 capitalismo industrial (cf., para a Inglaterra, Williams 1973; para a Zimbia, Ferguson.)"* Outro caso € a reelaboragao das ideias de “ta” e “comunidade” em feminists como Martin ¢ Mohanty (1986) ¢ Kaplan (1987), Rofel" tf outro ‘exemplo ema seu tratamento dos significados contestados dos espagos ea historia local de uma fabrice chinesa ua anilise mostra como as localizagées espectficas ci falbrica adquiriram significados 20 longo do tempo e como esses significados espaciais localizados confundiram os projetos modemizadores © pandpticos dos plancjadores ou seja, de que modo a durabildade da memoria e os significados localizados de lugares © corpos colocam em questo a propria idéia de uma “*modernidade” universal indiferenciada, Deve'se observar que essas politicas populares de lugar podem, facilmente, tanto ser conservadoras ‘quanto progressistas, Com muita freqiléncia ~ como acontece nos Estados Uniclos de hoje -, a associacto de lugar com mem6ria, perc e nostalgia cai como uma hava para os movimentos populares reacionsrios 1580, vale nio apenas para as imagens nacionais associadas hi muito tempo com a dlireita, mas também para os locais € cenirios nostalgicos imaginados, tais como a “pequena cidade americana”, ou “a fronteins”, que freqlertemente se associam complementam idealizagdes amtiferinistas do “lar” e da “famitia® 8 id 9. tt id 10, "Nenbure"(N:do"T) 1, “Algres.(N. do) 12. Ch Cilrara nctropology: v0.7, 1B. td, bid 14. Vertambéos Roberson (1988, 1991) sobre police da nosaga€ "sons do har tivo” no ap. veri de 1992. [N40] i | | f | : f i { Espago, politica @ representapdo antropolégica A mudanga de nossas concepgées da relacio entre espago € dlferenga cultural oferece uma nova perspectiva sobre os debates recentes em tomo de questoes sobre a representaglo a escrita antropol6gica. [A nova atengao as priticas representativas jé Fevou 3 compreensio mais sofisticada das processos de reificagio @ de construgio da alteridade na escrita antsopol6gica. Isto posto, porém, parece-nos igualmente que a noglo recente de “critica cultural" (Marcus ¢ Fischer 1986) depende de uma compreensio espaciaizacla da diferenca cultural que precisa ser problematizada, © fundamento da critica cultural ~ uma relagio dialégica com uma “outra” culrura que produz um ponto de vista critico sobre “nossa propria cultura” ~ supde um mundo jé existente de muitas “culturas* diferentes © uma distingto no problematica entre “nossa propria sociedade” ¢ uma “outra" sociedade. Na formulag2o de Marcus e Fischer, 0 propésito da cftica cultural € “gerar questoes critcas de uma sociedade para investigar 2 outra” (op. cit, p. 117); seu objetivo € “aplicar os resultados substantivos © as ligdes epistemolégicas aprendidas com a etnografia no exterior a uma renovacio da funcio critica da antropologia tal como é desenvolvida nos projetos etnogriticos em seu pais” (idem, p. 112). Marcus ¢ Fischer so sensiveis 2o fato de que a clferenca cultural esté presente também “aqui em 0550 pals" e que “o outro” nio precisa ser exético ou longinquo para ser outro, Mas a concep2o fundamental da cftica cultural como uma relaglo entre “sociedades diferentes" acaba, talvez contra as intengdes dos autores, espacializando a diferenca cultural de maneira familiar, na medida em que a etnografia se toma, como acima, uma ligagio entre um “em nosso pais" no problematizado ¢ um “exterior”. A telagio antropolégica nto se di simplesmente com povos que sto diferentes, mas com “uma sociedade diferente”, “uma cultura diferente" ¢ assim, 6 inevitavelmente uma relagio entre ‘aqui’ e “i*. Em tudo isso, 0s termos de oposicio “aqui” ¢ “Hi”, “nds” & “eles, “nossa propria® ¢ “outra" sociedade) sto considerados como dados: 0 problema, para os antropdlogos, & Usar nosso encontro com “eles”, “i, para construir uma critica de “nossa propria sockedade”, “aqui” Hi varios problemas nessa forma de conceituar 0 projeto antropoligico. O mais Gbvio talvez seja a questio a identidade do "nés" que aparece em expresses como “nds mesmos” € “nossa prépria sociedade”. Quem & esse ‘nds’? Se a resposta é, como tememos, o Ocidente, entio, precisimos perguntar exatamente quem deve ser incluido ¢ excluido desse “cube’. O problema também nlo ¢ resolvido peta simples substituiclo de “nossa prépria sociedade” por “a sociedade do etnégrafo", Para os etndgrafos, como para outros nativos, o munclo pés-colonial 6 um espago social! interligado; para muitos antropologos ~ talvez especialmente para os intelectuais deslocados. do Terceiro Mundo ~ a identidade da "prépria sociedade" & uma questo em aberto ‘Um segundo problema com o modo como a diferenga cultural foi conceituada no projeto de “critica cultural” que, uma vez excluido daquele dominio privilegiado de “nossa propria sociedade’, “o outro” é sutmente 40 natvizado ~colocado num quadro separado de andlise¢ “encarceraclo espacialmente” (Appaclurai 1988) naquele cootto Tuga” que & proprio de urna ‘outa cultura”. A erica cultural supde uma separagito original, tansposta pelo antropdlogo, no iniio do trabalho de campo. O problem ¢ de “contro”: comunicao no com um mundo ocitl e econémico compartihado, mas “através de culturas" ¢ “entre sociedades" Como altemativa para esse modo de penssr sobre a cliferenca cultural, queremos problemtizara unidade do nds” aalteridade do “outro, e questionar a separicao radical entre 0$ dois que em primero lugar tora st oposigio possivel, Estaiios menos interessados em estabelecer uma relacio disldgica entre sociedades ‘peografieamente distintas do que em explorar os processos de praduedo de diferenca em um mundo de txpacos cultural, soci e economicamenteinterdependentes ¢interlgados. A diferenca ¢ fundamental € pode ‘erilustrada por um breve exame de um texto que foi altamente elogiado pelo movimento da “ertica cultura” Nisa: The Ife and words of a kung woman, de Marjorie Shostak (1981), foi amplamente admirido por sua utilizagio inovadora da histéria de vida, © saudado como um exemplo notivel da experimentacio polilonica na escrita etnografica (Clifford 1986, 1988, p. 42; Marcus e Fischer 1985, pp. 58-59; Pratt 1986). Todavia, em relagio 2s questdes que estamos discutinds, Nisa € um trabalho muito convencional € profundamente defeitzoso, Ao individuo, Nisa, & concedido um grau de singularidade ~ mas ela € usada principalmente como tepresentante de um tipo: "0 kung”, Bsses habitantes de Botswana (os “bosquimanos” ide antigamente) so apresentados como um “povo" distinto, “outro” € ~obviamente ~ primordial. Shostak tratu-os como sobreviventes de uma época evolucionaria anterior: eles so “uma das sihimas sociedades tradicionais de eagadores-coletores existentes”,racialmente distntos, tradicionais ¢ isolados (op. cit, p. 4). Sua cexperiéncia de “mudanca cultural” € “ainda bastante recente © tenue", ¢ seu sistem tradicional de valores testa “quase intacto" idem, p. 6). O *contato” com “outros grupos” de povos agricolas ¢ pastoris ecorreu, segundo Shostak, somente depois da década de 1920 e s6 depois dos anos 60 € que realmente acabou 0 isolamento dos tkung, levantando pela primeira ver. as questdes de “mudanca’, “adaptagto" e “contaro ccultural* (idem, p. 346) © espago que os tkung habitam, o deserto de Kalahari, € obviamente muito diferente e separado do nosso. Repetidamente, « narrativa retorna ao tema do isolamento: em um cenitlo ecoldgico rude, um modo de vida de milhares de anos atris foi preservado gracas apenas 2 seu extriordindtio isolamento espacial. A tarefa da antrop.ilogia, como Shostak a concebe, é cruzar essa linha divis6ria espacial, entrar nessa terra que o tempo esqueceu, uma terra (como Wilmsen [1989, p. 10} observa) com antighidade, mas sem hist6ria, para ‘ouvir as vozes das mulheres, que podem revelar “o que sua vida tein sido hi geragées, passivelmente hé milhares de anos* (Shostak 1981, p. 6) ‘A exotizagio implicit nese retrato, em que os tkung aparecem quase como que vivenco num outro planeta, suscitou surpreendentemente poucas esticas dos tedricos da etnografia. Patt (1986, p. 48) apontou a com razdo a “contradigio gritante” entre o retrato de seres primais intocados pela histéria ¢ a historia da “conquista dos bosquimanos" pelos brancos, mareada pelo genocidio. Como ela afirma (op. cit, p. 49), (Que imagem dos ang eciaros se, cm vez de defini-los como sbreviventes dade dapedra de uma adapta deca complet 1 desero de Kalahari, sos wssemos com scbreviventes dt expaso coptalisa ede uma deliadsecomplexasdapagSo a és steulos de viténciae intimidagto? Mas até mesmo Pratt mantém a nolo dos tkung como uma entidade ontolégica pré-existente — “sobreviventes", nlo produtos (e muito menos produtores) de historia. “Eles" sio vitimas, tendo sofrido 0 processo mortal do “contato conosco". ‘Uma maneira muito diferente e muito mais uminadora de conceituar a ser encontrada na recente e devastadora critica de Wilmsen (1989) a0 culto antropolégico do “bosquimano’ Wilmsen mostra como, em interac2o constante com uma rede mais ampla de relagbes socials, velo 2 se produzir, pela primeira vez, a diferenga que Shostak toma como ponto de partida ~ de que modo, pode-se dizer, “os bosquimanos” tomaram-se bosquimanos. Ele demonstra que o povo da lingua san tem estado em interaco continua com outros grupos desde quando temos indicios; que as relagdes politicas e econdmicas ligavam o supostamente isolado Kalahari a economia politica regional tanto na era colonial como pré-colonial, ‘que com frequéncia eles criaram gado; e que nao € possivel sustentar uma separagiio estrta entre os pastores €0s forrageadores. Ble apresenta argumentos fortes para dizer que os 2hu (lung) nunca foram uma sociedade sem classes, © que, se dio essa impressio, "é porque estio incorporados como subclasse numa formago social mais ampla que inclui os batswana, 08 ovaherero e outros’ (Wilmsen, op. cit, p. 270). Ademais, ele ‘mostra que o r6tulo “bosquimano/san’ existe hd apenas meio século, tratando-se de uma categoria produzida mediante a “retribalizacao" do periodo colonial (idem, p. 280); e que “o conservadorismo cultural atibuido | esse povo por quase todos os antrop6logos que trabalharam com ele até recentemente é uma conseqiiéncia ~ do uma causa ~ do modo como ele foi integrado nas economias capitaistas modernas de Botswana ¢ da Namibia” (idem, p. 12). Em relago ao espaco, Wilmsen (op. cit, p. 157) € inequtvoco: Mo ¢ postvel flr do iclamento do Kaha, protgido po sass pépriak distin enorme, Par o que extavam dento, 0 fora qualquer “for” que houvesse em determinado momento ~esteva sempre presente. A apna de solamente sua elidads de pobreza exbulhada so prods recentes de um procsso que se deserrolos dente dis sculs €culmincy nos dtimos moments der colon © proceso de produgio da diferenca cultural, demonstra Wilmsen, ocorre em um espago continuo, conectado, atravessado por relagdes econdmicas © politicas de desigualdade. Li onde Shostak supe a diferenga como dada e concentra-se em ouvir “através das culturas", Wilmsen sealiza @ operagao mais radical de interrogar a Yalterdade” do outto, stuando a producio da diferenga cltural no interior dos processos historicos de um mundo social e espacialmente inteligado, © que € preciso, entio, € mais do que um ouvido atento ¢ mios editorias habeis para eapturar orquestrr a8 vores dos “outros"; € necessiria uina disposiglo para interrogar, politica ¢ historiamenre, 0 Spuente “dado de um mundo divididlo em primeito lugar entre “n6s" “outros”. Um primero passo ness divegio ¢ ir adiante das conceprbes naturaizadas de “culturas” espacalizadas ¢ explorar, em vez disso, a produea0 da iferenca dentro de espagos comuns, compartthados econectados ~"0s sa por exemplo, no emo “um povo", ‘nativo" do deserto, mas como uma categoria historicamente constituida € des-possuida, sistematicamente relegada ao desert. De um mode mais geral, 0 passo pelo qual clamamas vai além da considerago da diferenca cultural como 0 correlato de um mundo de “povos" cujas histérias separadas esperam que os antropélogos Rubelecam as pontes, significa passar a vé-la coma produto de um proceso histGrico compantithado que diferencia o mundo a0 mesmo tempo em que o conecta. Para os proponentes da “ertca cultural’, 3 diferenga € tomada como ponto de partida, no como produto final. Diante de um mundo dado de ‘sociedades “ferentes", perguntam eles, como podemos usar a experiéncia de uma para comentar a outra? Mas, se Gquestionamos um mundo pré-dado de “povos e culturss” separaclos ¢ distintos, ¢ vemos um conjunto de relagdes produtoras de diferenca, ssimos de um projeto de justapos de exploragio da construgio de diferengas num processo hist5rico, Nessa perspectiva, 0 poder nio entra no quadro antropoligico apenas no momento da representacio ~ pois’a diferenciac2o cultural que 0 antropélogo tenta representar fol desde sempre proctzida dentro de um ‘umpo de relagées de poder. Ha, portanto, uma politica da alteridade que nao é redutivel a uma pottica da representacio, As estratégas textals podem chamar a ateng3o para a politica da representacio, masa questio Ga aleridade em si mesma nio é tratada pelos dispostivos da eonstrucio textual poliféniea ou da colaboragao ‘com informantes-escrtores, como autores como Cliford e Crapanzano parecem as vezes suger. Alem da (e no em vez dat) experimentagio textual, hi uma necessidade de abordar a questio do -Ocidente” e seus “outros” de uma forma que reconhega as czes extratextusis do problema, Por exemplo: fo tema da 4rea de imigragao c das leis de imigragio € uma sirea prética em que a politica do espago € a politica da alteridade ligam-se de forma muito direta. Com efeito, xe a separagio de lugares separados nao & tum dado natural, mas um problema antropol6gico, & notivel como os anttopélogos tiveram to pouco a dizer sobre as questées politicas contemporineas ligadas 2 imigragio nos Estados Unidos."* Se aceitamos um de diferengas preexistentes para um, 1S. Enamon evidenemene conscientes de que uma consierivel quantdade de trabalho recente em anopoogiacenta-se na questo a ining, Noenanto parce-nos qo boa pane deses esd pereanece mo nel da descio dacumestagto de padres tendncis da ‘nigap. mates verescomumenfaqe 6a inca poles, Stotrabalhosidscuvelmente importants com frequen, etteicamente ‘mundo de lugares originalmente separados e culturalmente distintos, entdo, a quest2o da politica de imigraglo € apenas uma questio de quanto deverfamos lutar para manter essa ordem original. Nessa perspectiva, as proibicies de imigracdo sao um problema relativamente menor. Com efeito, operando com uma compreensio ‘espacialmente naturalizada da diferenca cultural, a imigragio descontrolada pode até parecer um perigo para 3 antropologia, ameagando borrar ou apagar a diferenga cultural dos lugares que € nosso “negécio", Se, por outro lado, reconhecemos que a diferenga cultural € produzida e mantida num campo de relagdes de poder em um mundo desde sempre interligado espacialmente, entio, a restricto & imigragao passa a ser vista como lum dos principais meios pelos quais os sem-poder sio mantidos nessa situagao. A *diferenga” imposta aos lugares toma-se, nessa perspectiva, parte integrante de um sistema global de dominagio. A tarefa antropoldgica de desnaturalizar divisdes culturais e espaciaisliga-se, nesse ponto, A tarefa politica de combater um muito literal “encarceramento espacial do nativo" (Appadurai 1988) em espacos econdmicos reservados, assim parece, a pobreza, Nesse sentido, a mudanga na forma de pensarmos a8 relagdes de cultura, poder e espaco abre a possibilidade de mudar mais do que nossos textos. Hi espaco, por exemplo, para muito mais envolvimento antropoldgico, tanto teérico quanto pritico, com a politica de fronteira EUA/México, com 08 direitos politicos & de organizaglo dos tabalhadores imigrantes € com a apropriagio de conceitos antropoldgicos de “cultura” ¢ “diferenga” pelo aparato ideolSgico repressivo das leis de imigragao e pelas percepgdes populares de “estrangeiros" ¢ “alienigenas" Uma certa unidade de lugar e povo foi assumica h4 muito tempo pelo conceito antropologico de cultura No entanito, independentemente das representagdes antropol6gicas e das leis de imigraclo, “o nativo" esta “encarcerado espackalmente” apenas em parte. A capacidade das pessoas de confundir as ordens espaciais estabelecidas, mediante movimentos fisicos ou por meio de atos politicos e conceituais de reimaginacio, significa que espaco e lugar nunca podem ser “dados", e que o processo de sua construgto sociopoliica deve sempre ser levado em consideraglo. Uma antropologia cujos objetos no sto mais concebidos como tutomaitica € naturalmente ancoraclos no espaco precisard dar ateng2o especial a0 modo como espacos € lugares sto construidos, imaginados, contestados € impostos. Nesse sentido, nilo é um paradoxo dizer que as questdes de espaco e lugar estio, nessa época desterrtorializada, mais do que nunca no centro da representagio antropolégica, tflcazes na arena poitica formal. Contudo, permanece o deafo de efrentr especficamente us quesdesculuris que envovern © ‘mapenmeto ds teridae no espage, como sugeimes que & rece, Uma fra ci que pelo menos guts anropsogos lever eat estes a sii da imigrgo mexicana par os Estados Unidos (por exemplo, Alvarez I, 1987, Bustamene 1987, Chavet 191, Keaeney 1986, 1990: Kearney Nagengast 1989, Route 1991). Ouzoexemploé Borneman (1986). qe € nove por mora os ago eapeition etre les de imigrago hometobia nacional sexualidade, bo cso den migrants cuban "arts" pare os Estados Unidos Conctusdo ‘Ao sugerir o requestionamento dos pressupostos espaciais imy 10s nos conceitos mais fundamentais € aparentemente incuos das ciéncias sociais, tas como “cultura, “Sociedade”, “comunidade” e “nag30", n8o pretendemos estabelecer um plano detalhado para um aparato conceitual altemativo, Queremos, poréim, spontar algumas diregdes promissoras para o futuro, Um veio extremamente rico foi atingido por aqueles que tentam teorizar a intersicialidade e © hibrdismo, na situaglo pés-olonial (Bhabha 1989, Hannere 1987, Rushalie 1969); para povos que vivem em fronteiras nacionais © culturais (Anzaldua 1967; Rosaldo 1987, 1988, 1989); para refugiados e deslocades (Ghosh 1989, Malkki);"® € no caso dos migrantes e trabalhadores (Leonard 1992), A “politica e cultura sincrética, adaptativa’ do hibridismo, observa Bhabhu (1989, p. 64), questiona “as nogdes imperialists e colonialist de pureza tanto quanto (..) a8 nogdes nacionalstas”. Resta ver que tipos de politcas slo possbilitadas por essa teorizagio do hibrdismo e em que medica ela pode acabar com todas as reivindicagdes de autenticidade, todas as formas de essenciallsmo, estatépicas ou nfo (ver especialmente Radhakrishnan 1987), Bhabha (op. cit, p. 67) aponta para a conexio perturbadora entre reivindicages de pureza ¢ teleologia ut6 pereeber que | 20 descrever como chegou a (nico lugar no mundo de ond flr er um ponto em gv a contra, oantagonismo, oe hibridismos da inflata cultural, as ‘rors ds es no exam nega sapeaas em algun send ipsa de ergo oa retorno, © lug de ade fase esa ncomensudvea connie dentro das quae a estos sobreviver, lo polticamente avs ¢mican, rave As frontetras so justamente esses lugares de “contradigdes incomensuraveis". O termo nao indica um local topografco fixo entre dois outs loess Rixos agtes, sociedad, cules), mas uma zona interstictal de desiocamentoe desterrtorializagio, que conforma a identidade do sujeito hibridizado, Em vez de descartila como insignificant, zona marginal esteits faa de tera entre lugares estiveis, queremos sustentar ue a nogdo de frontera é uma conceituacio mais adequada do local “normal” do sujeito pds-modemo Oura divegto promissora que nos teva adiante da cultura como fendmeno espaciaimente localizado € proporcionada pela anise do que € chamado de “meios de comunicagio de massa", “cultura publica” ¢ indkstria cultural”. (Niss0, tem sido muito iafluente a revista Public Culture) Existindo simbioticamente com «forma de mercadoria,influenciando profundamente os povos mais remotos de cujoestudo os antropélogos fizeram um ta fetiche, 0s mass media apresentam o desafio mais laos nogbes ortodoxas de cultura. £ claro 16, Ct Cult Amropology V0.7, Fever de 1992. do} 45 que as fronteiras locais, regionais ¢ nacionais nunca contiveram a cultura da maneira como supunham amiide as representagdes antropol6gicas. Porém, a existéncia de uma esfera piiblica transnacional significa que no € mais possivel sustentar a ficglo de que essas fronteiras encerram culturas e regulam trocas culturais, A produgio e distribuicio da cultura de massa ~ filmes, programas de ridio e televisto, jomnais, discos, livros, concertos ao vivo - ¢ controlada, em larga medida, por aquelas organizagdes notoriamente sem lugar, as empresas multinacionais, A “esfera publica" é, portanto, dificlmente publica no que se refere a0 controle sobre as representagdes que nela circulam. Os trabalhos recentes nessa drea enfatizam os perigos de reduzir 1 recepelo da produg2o cultural multinacional ao consumo passivo, no deixando espaco para criagao ativa de agentes de disjungdes € deslocamentos entre o fluxo de mercadorias industriais e procutos cultura. Preocupa-nos, porém, da mesma forma, 0 perigo oposto de celebrar a inventividade dos “consumidores" da industria cultural (especialmente na perifeia), que adaptam de maneira bastante diferente os produtos a eles vendidos, ceinterpretando-os e refazendo-os, as vezes de forma muito diferente e, outras vezes, numa direg2o que promove a resisténcia em vez do conformismo. © perigo, aqui, reside na tentaglo de usar os exemplos dispersos dos fluxos culturais que gotejam da “periferia" para os principais centros da indilstria cultural como luma maneira de descartar a “grande narrativa” do capitalismo (em especial, a natrativa “totalizante” do apitalismo tardio)e, assim, evitar as poderosas questées politicas associadas a hegemonia global do Ocidente A reconceituaglo do espaco implicita nas teorias da intersticialidade ¢ da cultura ptiblica levou a esforgos ppara conceituar a diferenca cultural sem invocar a idéia ortodoxa de “cultura”. Trita-se de uma dea em larga medida ainda inexplorada ¢ pouco desenvolvida, Encontramos claramente a reuni2o de priticas culturals que rio ‘pertencem’ a um “povo" em particular ou a um lugar definido. Jameson (1964) tentou capturar a pecullaridade dessas priticas na nogdo de uma “dominate cultural’, 20 passo que Ferguson (1990) propos uma ‘idéia de “estilo cultural” que busca uma lgica de priticas superficiais sem necessariamente circunscrever essas Priticas num “modo total de vida" que abranj valores, crengas, atkudes etc, como no conceito usual de cultura, Precisamos explorar 0 que Hommi Bhabha (1989, p. 72) chama de “o estranho da diferenca cultural A ifeeng eter toma-se um problema no quando se pode spontr para a Venus htnote, ou pare o punk cyjoncabelos eto ‘expetador no a; elt nfo tem esc spo de visite posivel de xa, cot & estanheza do fair que ela 3b tors mais ‘roblemdtica, tanto polica quant conceitulmente(.) quando o problema da difereng cura énb-enguanto-utros,outios quam née, ea fone Por que enfocar essa fronteira? Argumentamos que a desterritorializagao desestabilizou a fixidez do ‘nds € do “outro”. Mas ndo criou sujeitos que sejam ménadas livremente flutuantes, apesar do que €, as vezes, ressuposto por aqueles que se mostram vidos em celebrar a liberdade e 0 aspecto liidico da condigao pés-modema, Como observam Martin € Mohanty (1986, p. 194), a indeterminagao também tem limites | | polticos que derivam da negaso da prépialoalizar20 do exkico em campos miplos de poder. Em vez Fe pos detemnos na noc de destertorializagio, na pulverizacio do espago da alta modemnidade, precisamos feariar de que modo espago esti sendo reteritorinizado no mundo contemporineo. Precissinos sRiologicamente dar conta do fato de que a “distincia” entre 08 icos de Bombaim ¢ os ricos de Londres pode ser menor do que entre diferentes classes na mesma cidade. A localizacio fsica € 0 terri fio, Eymnte tanto tempo a rinica grade sobre a qual a diferenga cultural podia ser cesenhada, precisa ser Substituida por grades miitiplas que nos pemitam ver que conexio v contigbidade ~ de modo mais geral, & representacio de temitGrio ~ variam consideravelmente gougas a fatores como classe, género, raga € Cexualidade, e estio disponiveis cle forma diferenciuda aos que se encontram em locais diferentes do campo do poder, Biologratia ALVAREZ. JR, Robert R. (1987) Fanilia: Migrcion and adaptation in Baka and Alta Calfonia, 1800-1978. Bekele: University of California Pras. ANDERSON. Bert (193) agin communis: Recon nthe erin and sre of mina, Landes: Ver |ANZALDUA, Gloria (1987) Borderand/La Fronts: The ew mein, Sto Francisco (Califia Spnsters/ Aunt Lae "APPADURAL Asjun (1986) “Theory in antvopology: Centr and periphery". 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