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constante, mas nem os poetas nacionalistas renun- ciam a uma boa dose de ironia, como no caso de Anténio Manuel Couto Viana. Todavia, a revista retoma ¢ impoe algumas formas clissicas, como a xdcara ¢ o romance, sem esquecer algumas bala- das e muitos sonewos. Distings-se a renovagao do erotismo gracas & poesia de David Mourio-Ferceira, assim como 2 geometrizacio da poesia feminina, na revisio feita por Fernanda Botelho, que parece ter recuperado a sedugio das propostas de Mécio Sas. ‘Avesta revista, orientada & direita, contrapde-se, em 1951, Arvore, que se compromete ainda com © neo-tealismo, do qual eomeca contudo a separar- -se, optando por uma poesia ebraneas, que mui- tas vezes procura alcancar uma espécie de pureza temaitica — na esteira de Rilke, por exemplo. A muptura € todavia dificil, e mesmo um poeta da pura transparéncia, como Anténio Ramos Rosa, est ainda sujeto a lembrangas pesadas do neo-realismo, como no poema tio bovinamente consagrado 20 «boi da pacincias, O mesmo boi rumina também ro pasto poético de Raul de Carvalho, ¢ s6 Luis Amato parece ter escapado a esta doenga, que José ‘Terra prevende resolver gracas a uma rexomada de temas e formulas provindos da poesia presencista € mais patticularmente de José Régio. Revistas, ambas, de curta duracio, mas que nao quiseram morter imediatamente: a Arvore que ja procurara ctiar uma espécie de delegacio no Norte, gragas a Serpente (1951), conheceu outros prolon- gamentos ou outros herdeicos: Grafia (1961), Sibila (desse mesmo ano, aparecida em Castelo Branco, mas na verdade revista de Sintra), Poemas Livres (1962) e Poesia Uril (também desse ano de 1962). Nao convém esquecer que, nese periodo, se veri- ficam mudancas profundas na vida portuguesa: 0 general Humberto Delgado fora impedido de ganhar as eleigbes para a presidéncia da Repaiblica fem 1958, dera-se 0 assalto a0 quartel de Beja, ¢ apés 0 rapto do Santa Maria pelo capitio Henri- ‘que Galvio, iniciara-se a guerra colonial, primeiro ‘em Angola, depois na Guiné ¢ em Mocambique. Esta situagio forgou a0 exilio muitos ¢ muitos jovens menos jovens criadores, de Jorge de Sena ‘a Helder Macedo, passando por José Augusto Sea- bra, Manuel Alegre, Fernando’ Echevarria, Luiza Neto Jorge. (O que nfo impediu a poesia etradicionalistas de procurar assegurar uma continuidade, primeiro com Graal (1955), mas sem éxito, se bem que a revista contasse com o apoio da poderosa Empresa Nacio- nal de Publicidade, ¢ mais tarde com Tempo Pre sente (1959), apoiada pela Verbo, que orienta a poesia para uma zona ainda 3 direita, que serve 5 opcbes priticas ¢ tedricas de Femando Guedes € de Florentino Goulart Nogueira. A situacio financeira destas duas revistas permite compreen- der que, & dircita, o jogo editorial se estruturava em fungio das escolhas politicas, em detrimento de toda e qualquer consideragio poética ‘A publicagio mais significaiva deste petiodo foi contudo Poesia 61, que concentra um grupo de jovens criadores que nto passam pelas revistas, depois de terem sido publicados pelos suplemen- tos literarios. Esti-se jé perante uma certa desvita- Tizagto das revistas, que ndo voltarao @ ocupar — pelo menos no que diz respeito 3 eriagio poética —o lugar que fora o seu entre 1910 e 1950. Poe- sia 61 afisma-se também pela escolha de uma poe- sia branca, quer dizer, orientada pela expressividade das palavtas, apoiads no versi-librismo que a Pre- senga banalizara. Avulta no grupo 2 importancia dda poesia feminina que no hesita em assumir a sexualidade das mulheres gracas a Maria Teresa Horta, mau grado uma pobreza imagistica ¢ um CADERNOS POESIA trabalho insuficiente da palavra, mas sobretudo Iniza Neto Jorge, que hesita entio entre uma orientacio algo construtivista © uma decomposiglo a palavra de boa raiz surrealista $6 em 1964 — tao tarde! — se verifica um surto reduzido de «poesia experimental» — titulo pelo ‘menos pleondstico, jé que toda 2 poesia tem de © set! — levada a cabo pelos dois poctas madei- renses Ant6nio Aragio e Herberto Helder, 2 que se juntou, no segundo niimero, E. M. de Melo e Castro, Poesia intervalar, sobretudo no que diz res- peito a Herberto Helder que, com o seu primeiro livro, A Golher na Boca, fornecera um guia poé- tico hesitando entre o fenomenolégico e o existen- cial, gracas & sua maneira de materializar a relacio entre a palavra ¢ © poema, ou, se preferirmos, entre o compo ¢ a palavra. Esta remateralizacio da poe- sia experimental® esta todavia demasiado depen- dente da ligio surrealista ¢ particularmente das colagens, do concretismo brasileiro c, mesmo se indirectamente, da poesia do norte-americano EE, Cummings. De novo, entre 1958 ¢ uma data indeterminada, verifica-se 2 reelaboragio de um certo surrealismo que adopta a méscara abjeccionista, eujos centros vitais foram os cafés Gelo e Royal — no Cais do Sodré — e um pouco o Restauracio, com algumas passagens, sobretudo nocturnas, pela Mansarda, Uma vez mais este grupo no pode contar com revistas, embora a Pirammide (1959, ditigida por Car- los Lourres e Méximo Lisboa) the abrisse as portas, gracas a um sentido ecuménico que nem sempre caracterizou a orientacéo da maior parte dos eabjec- cionistass. Também as Folbas de Poesia (1957; Hel- der Macedo, Herberto Helder, Ant6nio Salvado) procuraram encontrar uma via nova, gracas sobre- tudo 4 poesia dos dois primeiros, assim como & mobilizacio dos poctas que, nesse grupo e nesse periodo, traduziam uma inquietacio nova perante © mundo e a palavra. Mas jf a relacio com as editoras profissionais se alterara profundamente, multiplicando-se as colec- bes de poesia: na Arica, na Porcugilia, na Gui- maties, na Moraes, assegurando uma difusio que dava aos poetas 2 possibilidade de aparecer em volume antes mesmo de passar pelas revistas, como acontecia nas coleccées consagradas aos «jovens poe tas (Guimarles e Portugilia). Assim se reduzia 0 campo da experimentagio, em proveito de propos- tas mais estruturadas, submetidas ao crivo das edi- toras, se bem que, entre nés, a funcio do leitor ‘nfo possuisse ainda a profisionalizacio existente em paises como os Estados Unidos, a Inglaterra, a Franca ¢ mais ainda Por outro lado, e de maneira contraditstia, o pais estava sujeito a uma dilaceracio cuja gravidade s6 agora comeca a entender-se na literatura de guerra que pretende legitimar os «combatentes, esque- cendo que nfo hé guerra quando faleam os com- Datentes! Mas uma parte dos jovens criadores forcados 20 exilio langou-se na reflexto politica e, se nfo houve uma auténtica literarura de exili, ‘multiplicaram-se as publicagbes consagradas & refle- ao politica (Cadernos de Circunstincia, Cadernos Necessérios, Cadernos Socialistas..). Como se a reflexio e a producio poéticas se tivessem tornado secundéias face & perturbacio provocada pela dura guerra colonial que, mesmo com poucos mortos, ia corroendo a homogeneidade nacional, gracas 4 teimosia cimperialistas nfo s6 do aparelho da Dita- dura, mas de uma parte nfo dispicienda da bur- guesia ‘Talvez se possa afirmar que o sobressalto final de Abril de 1974 nio permitiu o regresso is tevis- tas, € que nio se verificou nenhuma grande pro- poss potiea» pai des publcastespeiics certo também que se multiplicaram as editoras que publicam poesia, da Regra do Jogo & Assitio & Alvim, o que sublinha a imporcincia da trans- feréncia que parece ter-se processado no sistema nacional da producio poética: os editores desem- penham um papel de arbitragem entre as diferentes propostas, que na maior parte das vezes aparecem em volume, dispensando a espera nas paginas das revistas. Trata-se certamente de uma alteracio pro- fanda dos habitos nacionais, se bem que a poesia continue a ser publicada, seja nas revistas ainda cexistentes, seja nos jornais culturais ou nos raros suplementos literirios que ainda sao. publicados pela imprensa diatia ‘Todavia, a poesia, esse sopro infinito, encontra sempre um lugar onde se exprimir, ¢ se continua a ser apenas uma, € porque o homem precisa de muitas vozes diferentes para dizer a sua unidade. "A cacn potica tei don ean inci, 00 nao sempo hate com 0 Henao Ius,habismenesbido 4 Gracchus Babeut, as redigido a teadade po Sin Maral Exc amaniets consul o elemento feat que auain 9 lan {fats do Partido Comsnits de ath, onde K. Meee F Engels fram ja utlidade polities do reco 36 Tomas do inertia “abaladores de rodor ox pater umn. Uma vo, 3 da 050, que também podin sr a de Deus, ima, empurts para um objco El ore er ou os creer Exe tipo desea fo vobretado ‘ecupetado pelos amaguius, emborsndo estes susete da cts ‘Ehamence tes de muito comunia, sem squccet 3 image ‘asia. O«Ditmatume de Alia de Campos resp sts ‘inaia mado Sel ananulano €pefogado pele exe bei de to ede ota a oa. O emanifeeoe ni die a0 fot, cn ‘once no cao do lanfo Comautas,porgse petende bre: todo deembararse do pasado, Quer dar que ose er € menos ‘eileen mat el ¢ deve & neceesade de proce a vente ‘do que pasado homens ou eras imped o aso a0 presen ‘eagulaea em pate, sno intelrmente, © fra Num enstiocoasgrado a James Joe, Herman Brch faz una bsenagio gue sli sporti da pti ente propose Plistcas moderase 0 wposton do publica sDeceno 0 que se fez © ‘que conus a faerse no dominio da plots cnsad apenas Sm vector simaltaneamente resto « groserament simpli da clade felectal as precsamente ea uenposigo loses vila permite expla que os vstantes do Salo e Pais fm 1863 tenham comegado a proesiar conus as tla de None. “Tunas de um compartment delerio ‘nteamen lens (0 qu al se manfnare,e que comesava eno sens, co sia reolcinitio da imeaio dents do ito do tempo e, cao ‘oto se gone de prfeaa, do fin da ate (Citation tar et ‘omar, ats, Galiatd. 196, p. 2023). Nao pase consult ‘Sorina leo Dicer wind Evento, sped er 1985 em Zi Que. Mas pee sabreudo vesfcarse que © pdblio compreende Sando mas So oj ple Wena trun das propos moder Tas importoda do que Ihe €sprsentad, Polo que a damate nde da epost propose moderns rol pena sae de uma weniea de terapeua defen. O que tambem aonteces to cage do moderismo portugués. como a0 pods deat de set SE pore ano que ae tentntnn corents 0 stclioms fants. de defi mo geesogia do stein, mesmo se fspe ‘undo einai flea de Nite, me peer ca ex Mens Asidve A stuaio € patos, prgue, por ui ldo, © prope tima modemidade radial, que cota com of models que atulhem sos do pasido, mas, pelo outa se abut wna kpc Iniadom a aba oa 3 penonagens que ext no eneloO ‘eo por s ararusucompiagioongnizas por Nas li Conia, cm que todo erence so suelo, dese int de {nino do Cancion ats impress dos sede do card Care jeial O veconbecimenc de fama que spate pertencr 40st Fealimo, nto permite snibir = qualidade nein » prods Sots © conta a0 wesptor do suelo. "0 rence penence 2 Fangs Dagogne,eptemGlogn que sei ‘omeninte it endo com a steno que meee. Reco aqui ais putculemene 2 Benire ef owogrphie, Dat, Vein 1973

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