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Numero 9 - 2004 “Ambiente e Mudangas Globais” inpice Maria Jalla FERREIRA - Eiliorial José Eduardo VENTURA - apresentagao ARTIGOS: Filipe Duarte SANTOS - Aiteragesclimiticus: simagio aetual ceniriosfuturos ‘Ana Ramos PEREIRA - 0 espaco litorale asua vuerabilidade Luciano LOURENCO, Nuno Cunha LOPES - Znedndios Florestais, consequéncia razio de ser de novas Mudancas Globais José Eduardo VENTURA - Ambiente, Desenvolvimento e Mudangar Globus ‘Bruno MARQUES, Ricardo FERNANDES -A desflorestagio da Amazénia: do “inferno verde" 140 “deserto vermelh Ama FIRMINO- Falucagio Ambiental em Tonpo de Mudenga ‘Luisa PINHEIRO, Pedro DELGADO « Gesido de Residuos. O Coniributo dos Sistemas de Informagdo Geogrifica Jorge UMBELINO - Ambiente versus Turismo: caminkas de convergincla Isabel MENDES ~ Insrumentas Econdmicos de Gestio Ambiental. O caso Portugués Joio PORTEIRO, Helena CALADO, Margarida PEREIRA - Plano da hacia Hidrgrifica da Lagoa das Sete Cidades (Acares). Compatibilzagio entre sistema produtivo e ambiente [Naudja Castitho da COSTA ~ Gestdo e manejo de unidades de conservacdo urbana na cidade do ‘Rio de Jencir - Brasil Fernando COSTA Coninibuigdes para o couhecinenta das processos erosivos em Cabo Verde “Margarida PEREIRA, José Eduardo VENTURA Condicionantes ombientais no ondenamento do terntirio NOTAS: spago da Assocaso dos Professors de Geografia: Peo DAMIAO - Projecto "Coasowach™ Um alr eriico sobre lara. Uma proposa de educagdo no ambiente ¢ para 0 “ordenamenia do tertéro ‘TEMAS DOS PROXIMOS NUMEROS, 10, Cidades e Habitats de Inovagio (coord. Nuno Soares e Maia Filia Ferreira) 11. Bspagos Maritimos © Governagio (coord. Henrique Souto) algo com o apato de: FCT Fundagio para a Ciéneia e a Tecnologia vista do Departamento de Geografia e Planeamento Regional us a1 m 191 as ms 261 O espaco ioral ea sua vulnersbilidade Incéndios Florestais, consequéncia erazio de ser de novas Mi Globais ie Ambiente, Desenvolvimento ¢ Mudancas Globais A desfloresiagio da Amazénia: do “inferno verde” ao vermetho" Educagio Ambiental em Tempo de Mudanga Gestdio de Residuos. © Contrituto dos Sistemas de I Geogrifica Ambiente versus Turismo: caminkos de convergéncia Instrumentos Econdmicos de Gestio Ambiental, O caso, Plano da bacia Hidrogréfica dz Lagoa das Sete Cidades Compatibilizagao entre sistema produtivo ¢ ambiente Gestio © manejo de unidades de conservagao urbana na eidad Rio de Janeiro Contribuigées para o conhecimento dos processos erosivos em Verde Condicionantes ambientais no crdenamento do terrivario Revista do Departamento de Geografia ¢ Planeamento Regional onsellto Consultive: F. Nunes da Silva (IST). Jean-Paul Gilg (Fraga). Joo Ferrio (ICS/UL). Joao {tua (Brasil). José Pedro Pontes (ISEG). Laura Sakaja (Croéeia). Luis Espinha da Silveira (ECSH/ INL). Luis Vicente Baptista (FCSH/UNL). Marco Painho (ISEGLUNL). Paul Claval (Franga). Vicente Jielza de Ory (Espanha), mnsetho Editorial: Comissdo Cientifica do Departamento de Geografia e Planeamento Regional ‘aula Bordalo Lema. Regina Salvador. Ana Firmino. Maria José Roxo. Maria de Nazaré Roca. José Eduardo Ventura. Margarida Pereira. Jorge Umbelino. José Afonso Teixeira. Maria Jilia Ferreira. ‘osé Ant6nio Tenedério. Henrique Souto. Nuno Soares. Dulce Pimentel, Rui Pedro Julio, Pedro Yortesdio Casimiro. Carlos Pereira da Silva, Femando Martins, José Licio, ‘ropriedade: Faculdade de Cigncias Sociais e Humana orada para correspondénci {evista GeolNora Departamento de Geografia ¢ Planeamento Regional aculdade de Ciencias Sociais ¢ Humanas «de Berna, 26-, 1069-061 LISBOA (PORTUGAL) felefone: +351.217933919 Fax: +351.217977759 geoinova@fesh.unl pt 's artigos sio indexados na Bibliographie Géographigue Internationale «Revista est disponivel na PORBASE e est includ nas colecges da Bibliotece Nacional e no Directério (Catélogo do LATINDEX, sistema de informacio bibliogrifica das publicagSes cientifias, seriadas ¢ foduzidas na América Latina, no Caribe, em Espanka e Portugal. ‘5 nimeros da Revista esto referencindas na Cybergeo, revista virtual francesa de Geografia, ‘epésito legal w 141791/99 ISN: 0874-6540 lamero avulso: €7,50 + €2,50 para envio Assinatura anual (2 nimeros): €10,00 FCT Fundagio para a Ciéncia e a Tecnologia ‘Apolo do Program Operaional «Cina, Tacnloge Inova (umd Command de Api I) A desflorestagio da Amazonia: do “inferno verde” ao “deserto vermelho”? Bruno Pereira MARQUES Ricardo Correia FERNANDES. EO ~ Centro de Estudos de Geogata Paneameto Regional Faculdade de Cifcias Socnise Hamanas d Universidade Nova de Lisbow ‘Ax, de Bea 26 C, 1069-061 LISBOA PORTUGAL) TA 351217983819 Fax 351217977799 emit: pecramargaeseeh un pt refernandes 3h ul pt Resumo 4 Amazénia, considerada a maior floresia tropical do planeta e a principal fonte de biodiversidade ao nivel mundial, encerra em si mesma wm aparente pa- ‘radoxo. Se, por wm lado, constitui um recurso extremamente importante i escala lanetiria, quem ndo se lembra do slogan: “Amazénia: 0 Pulmdo do Planeta Terra"? Por outro lado, representa uma oportunidade imensa e um potencial tinico para o crescimento sdcio-econdmico da regido e do préprio Brasil. ‘A Amazénia é normaimente apontada como a “metifora perfeita" da bata- tha a favor da defesa e preservaciio do ambiente. Contudo, a desmatagao resul- ‘ante da exploracao madeireira, da expansit da fronteira agricola e da pecuiria tem posto em causa a sua sustentabilidade Sem querer transformécla numa “giganiesca” reserva natural gue ponha em causa os legitimos anseios de desenvolvimento das populagdes locais, urge tomar medidas preventivas e conservacionisias que the permitam o “Desenvolvi- ‘mento verdadeiramente Sustentével” Palayras-chave: Amaziinia, desflorestagao, desenvolvimento sustentivel. Abstract Amazon is considered the biggest tropical forest in the planet and the main source of biodiversity worldwide, although it presemts an apparent paradox. 2 Bruno Pereira Marques ¢ Ricardo Correia Fernandes Ifon one side, itrepresents an extremely important resource worldwide, who do not recall the slogan: “Amazon: the lung of Planet Earth”? On the other side, that same potential represents a huge opportunity for the region's social and economic growth and Brazil’ itself Amazon is usually referred as the “perfect metaphor” in favour of ‘environmental preservation. Although, the deforestation caused by wood cutting, agriculture and cattle rising is disrupting the sustainability in the world's biggest tropical forest. Without wanting 10 transform it in a “giant” natural reserve that may Jeopandize the legitimate local population's desires for development it urgent 10 take preventive and conservationist measures that may allow to reach a real “Sustainable Development”. Keywords: Amazon, deforestation, sustainable development. Résumé L'Amazonie est la plus grande foréttropicale de 1a planéte et la principal source de biodiversité & niveau mondial, démontre un apparent paradoxe, Dime certaine maniére on peut dire qu'elle représente wn important ressource @ U’échelle planétaire, comme on dit: “L'Amazonie: Le poumon du Planete Terre"? Et au méme temps représente un potentiel wmique pour la croissance socio-économique de ta Région et du Brésil L’Amazonie est considerée comme la “métaphore parfait” de ta bataille qui défonde ia conservation de l'environnement. Toutefois, la déforestation qui résulte de exploration du bois, de l'expansion agricole et de I’élevage a pris en eause la lus grande forét tropicale du monde. Sans vouiotr la transformer dans une “gigantesque” réserve naturelle, qui ‘peut mettre en cause le désire de développement des populations locales, om doit prendre les mesures préventives et de conservation gui conduisent & wn vrai "Développement Durable”. Mots-clés: Amazonie, déforestation, développement durable. 1. Introdugio ‘A Amazénia, considerada a maior floresta tropical do planeta ea principal fonte de biodiversidade ao nivel mundial, encerra em si mesma um aparente paradoxo. GeotNovs 9, 2004 8 Para muitos a Amazsnia ainda representa “A lenda sombria (...) um inferno verde e impenetrével, protegido pelas doengas trpicais que acometem todos os intrusos. (...) Para uns, a Amazinia € a dltima grande fronteira econdmica do ‘mundo, com riquezas minerais, hidréulicas e vegeiais incalculdveis. Para outros, a vegetagio abundante & mera ilusio que oculta sobs pobres ¢ sujeitos & erasto se as drvores forem abatidas. A exploragio desordenada dessas riquezas minerais € (...) uma colonizagio caética que se traduz no desmatamento em grande escala, em breve transformardo a Amaziniaem um deserto” (Amazonialegal.com, sd. a. Existem varias teorias para explicar a grande biodiversidade da Amazénia, pode tratar-se de refiigios ecol6gicos durante a dikima glaciagdo, ou pelo contri- Fio, de estabilidade ecoldgica prolongada, ou ainda da actividade dos meandros «dos numerosos rios que sustentam o ecossistema em constante mutagdo por suces- sto ecolégica, Seja qual for a causa, a Amazénia spresenta una biodiversidade de tal magnitude que ainda é incompreensivel (Seppinen, 2004 b). Se, por um lado, representa um recurso extremamente importante a escala planetéria, quem no se lembra do slogan: “Amaz6nia: o Pulmfio do Planeta Ter- ra”. Por outro lado, esse mesmo potencial representa uma oportunidade imensa para o crescimento sécio-econémico da regio ¢ do proprio Brasil ‘Assim, se alguns autores referem que, “ainda so muitas as pessoas, nos paises industrializados, que gostariam de pér a Amaz6nia numa redoma € transformé-la numa imensa reserva natural. Alguns partidarios do no-desenvol- vimento da Amazénia dio prioridade absoluta a eonservagio do planeta Terra e chegam a considerar os seres humanos como parasitas, Outros insistem no papel fundamental da floresta amazénica na luta contra o efeito de estufa, e querem que ‘amesma funcione como um gigantesco filtro para que 500 milhies de automéveis, continuem consumindo imoderadamente combustiveis fosseis” (Amazonia- legal.com, s.d. a) Outros dizem que, “la Amazonia no es un recurso utilitario sino que la naturaleza tropical con su biodiversidad tiene un valor intrinseco, es un valor en si. Este cambio en el imaginario esta siendo facilita por el hecho de que muchos, sino todos, los proyectos modemizadores en la Amazonia no han alcanzado sus " Alguns cients salentam o facto de gue s80 05 oceanos os grandes reservatiios de dua (HO) ©, omequcniment, de oxgenio(O) De aaedo com ost mrazsialzpal com, Em 1976, dos cicisan orte-amercans, Robert Goodland c Howard Irvin publica: ult (A Selva Amazinica do infer fo Verde 2 Deserto Vermtho), em ae alecavam par o pris da desig da selva amaznica(.) Pare mutos ecologists a manutengdo da resi amaxmica ¢ wm problema mundial. Segundo esses specials, a Amuoaia deem 1/8 das teers mundiais de dgua dove e ¢cobeta por wna gest tropical responsivel pela renovasao de $0% do axiénio da Tera Ouos clentistas, ne estan, disco dam dessecnfoqe,afmando gue o oxigitio proaiuido pela Horesta€consumido po ela propia. De ‘qualquer mani, a comunidadeeietiea mundial vé com mit peocupagso 0 dexmatameno gue 3 Morea vem softendo. Arvin inglena The colin, po excl, arma que» Amara esta pede ‘dees en cuit bode: Uhegedl, ts den Go mean” (Anemia ama 01. st Bruno Perera Marques ¢ Ricardo Correia Fernandes ‘cbjetivos econémicos, politicos y sociales, y han causado, ademas, un enorme O caso exemplar de um “elefunce brace” ao Bra deve se a constr da central nuclear de Angra os Res, no Estado do Ro de Janeiro, que tve de ser abandonada por se esta ieramente afd, em ‘onsequtrci de sda eonstyiéa numa rea pantanosa * Urn ea claramente inspzada nos primeies modelos da Economia Regional, nomeadamenic de Von ‘Thanen e Christal, en que a Amazin ¢cosiderada uma superficie homogene e onde se podem aplicarsolgtes de planeamento rida € de concegto “eeométrn”. Neste sentido, basta vero exem- plo cana da dotdncae das carcirstcas do aloeralon ai planta % Bruno Pereira Marques ¢ Ricardo Correia Femandes pobres del Nordeste, que era tradicionalmente el foco de pobreza de Brasil...) Lamotivacién oficial del Programa fue “Ia integracién nacional” y la provisién de familias pobres con tierra. (...) Pero el programa no alcanz6 sus objetivos...) Sélo algunas decenas de miles de familias se mudaron a la Amazonia mediante et Programa, y muchos regresaran a sus lugares de origen en pocos attos por Ia per- ‘ida de fertiidad del suelo y problemas como el paludismo” (Seppinen, 2004 a). Porém, 08 projectos de aproveitamento e transformagdo dos recursos natu- nis regionais ndo datam apenas da segunda metade do século XX. A analise da historia econdmica do Brasil revela que j no século XIX comegou um processo de valorizagio produtiva dos recursos naturais da Amazénia, Segundo Fausto, “a ‘Amazénia viveu um sonho transitério de riqueza gragas a borracha. O avango da produgtio que vinha ocorrendo em décadas anteriores tomou grande impulso a partir de 1880. (..) 8 economia da borracha trouxe como consequéncia 0 cresci- ‘mento da populagdo urbana e a melhoria das condigdes de vida de pelo menos ‘uma parte dela, em Belém ¢ Manaus (..). No entanto, essas mudanyas nao leva- ram & diversificaso das actividades econdmicas, capaz de sustentar 0 crescimen- tem uma situagao de crise da borracha. Ea erise veio avassaladora, a partir de 1910, devido basicamente a concorréncia internacional provinda da Asia” (Fausto, 1997: 291, 293). Tendo em conta a realidade descrita, compreende-se, um pouco melhor, 0 dilema que se coloca nos dias de hoje, nl apenas ao Brasil, como a toda a comu- nidade intemacional, quanto a dicotomia entre erescimento econsmico e preser- ‘vapio ambiental (e cultural’), ou seja, anecessidade de obter um Desenvolvimento verdadeiramente “Sustentavel”. No caso da Amazénia ndo nos podemos esquecer que “o seu imenso poten- cial, ainda relativamente desconhecido, constitui um desafio & cigneia mundial eA sociedade brasileira. Reunindo cerca de 1/20 da superficie terrestre, 1/5 da gua dove, 1/5 das florestasIatifoliadss do globo, a Amazéinia, pela sua diversidade biolégica significa, por um lado, um simbolo ecolégico impar e, por outro lado, ua fonte primordial para o desenvolvimento técnice-cientifico, particularmente da biotecnologia” (Becker e Egler, 1993: 251). Conforme temos vindo a referir, a partir dos anos 70, acentuaram-se as trans- formagiies na regido “com a implementago de uma politica desenvolvimentista ‘que, baseada na tentativa de ocupasiio de todo o terrtério nacional, desencadea- +am uma vigorosa migragao(...), para as regides Centro-Oeste e Amazénica. As- sociadas aos incentivos fiscais,criaram-se facilidades de penetrapo, com a abertura 7 No ea conereto da Amazonia, mo 2 pode esquccer que quaker sera proinda, a0 nivel do ‘bert vepetl eda biocveahade tert impacts diecose reas sabre w popups indgenas que ‘em numa sttgfo de cq ecligco om a natucra gus a rela, sendo dela gue fea iments ¢ as plana medias GrotNovs 9, 2004 7 de uma rede rodoviéria como as rodovias da Trarsamazénica, (...) construidas para servir de cixo de colonizagio” (Ross, 1996: 228-229). 3. A Expansao da Agricultura, da Pecuaria e da Silvicultura ‘A expansto daactividade agricolae pecusria foi uma das estratégias do (pseudo) desenvolvimento da A mazénia, que surgiu através da substtugdo das reas florestadas por eulturas de ciclo euro, como o arrz, 0 feija0, 0 milho, ¢ a mandioca. (© ganho de superficie potencialmente cultivivel baseado no uso das quei- ‘madas para limpeza dos terrens conduziu a resultados discutiveis, pelo menos do onto de vista da preservasiio do potencial ecolégico, “as chuvas fortes ¢ prolon- ‘gadas de Verdo causam intensa erosio superficial, eiminando em menos de uma <écada as camadas frteis do solo. As temperaturas elevadas, a grande humidade € 0 regime de precipitagdes so os factores responsiveis pela perda acelerada da fertilidade do solo ¢ pela erosdo, com a consequente baixa da produtividade e a raipida deteriorasio das plantagdes. Deste modo, a floresta amazénica que jé foi devastada em aproximadamente 10% da sua drea em vinte anos, vai-se transfor- ‘mando em extensas pastagens de baixa produtividade e com baixo niimero de ceabesas por hectare” (Ross, 1996: 229-230). ‘Num estudo recente realizado por Chomitz e Thomas, dois economistas do Banco Mundial, também é salientado que a esmagadora maioria dos solos da ‘Amaz6nia tem pouco valor “econdmico”, pelo menos para uso agricola. Uma das principais causas reside no efeito nocivo que o excesso de precipitag30, comum nestas dreas, tem sobre os solos. De facto, em grande parte da “Amazénia Legal” as condigdes edafo-climiticas nio permitem que a agricultura, nomeadamente a {ntensiva, seja uma actividade economicamente vidvel (Chomitz e Thomas, 2001). "Neste sentido, Seppainen refere que, “los resultados de esta combinacién de alta temperatura y alta pluviosidad son méltiples. Primero, implica una gran rapi- dez de los procesos de putrefaccién, lo que la formacién de un mantillo fértil con humus en el suelo. Segundo, el ato nivel de pluviosidad “lava” el suelo de nutrientes. Como consecvencia, en la Amazonia el suelo es sumamente pobre de nutrientes, algo que no deja de sorprender si vernos la vegetacién exuberante de la selva tropical. La clave de la aparente contradiccién esta en que la vegetacién misma sostiene la exhuberancia vegetal. La abundante vegetacién nutre directa- mente numerosas plantas sin la intermediacién del suelo: abundan las plantas epifitas e incluso algunos érboles tienen rafces aéreas que trepan por sus propios troncos. (..)sise talan los drboles en una extensién suficientemente grande, la selva ya no puede regenerarse, pues no encuentra en el suelo los nutrientes para su crecimiento” (Seppinen, 2004 b). 8 Bruno Pereira Marques ¢ Ricardo Correia Fernandes ‘Conforme referem Schneider ef al. (2000), o abandono de terrenos agricolas ‘aumenta na mesma proporgao da pluviosidade, nomeadamente na chamada “zona hhimaida” (zona norte ¢ oeste da “Amazénia Legal” com precipitago superior a 2.200 mm/ano). Segundo os autores, o abandono de terras agricolas ocorre mes- ‘mo em éreas préximas das grandes cidades, onde a procura de produtos agricolas 6 mais elevada, e com bons indices de acessibilidade. Esta situago leva a concluit ‘que nem mesmo estas condigdes favoraveis permitem superar os prejuizos causa- des pelo excesso de precipitagio'. Confirmando esta ideia,o estudo de Chomitz.e ‘Thomas (2001: 8-14) mostra que a probabilidade de uma terra ser reclamada ou titulada e/ow utilizada para a agricultura ou pecuaria diminui progressivamente ‘com 0 aumento da precipitagao. Também Gallup ef al (1999) referem que o clima & um dos factores que ccontribuem para o relativo fracasso da agricultura nas zonas tropicais mais hi das. Deste modo, os autores verificaram que, apesar dos avangos cientificos, areas tropicais hmidas como a Amazénia, continuam a registar valores de produtivida- de relativamente reduzides nas prineipais culturas agricolas (soja, milho, arroz, tubérculos, hortaligas, ete.) e na pecuéria (bovinos e suinos). Contudo, as culturas perenes, como a banana, 0 coco e 0 dend, constituem ‘excepsdes em termos de vulnerabilidade face ao excesso de precipitagiio. O que ‘vem demonstrar que as culturas agricolas autéctones, da América Latina ou mes- ‘mo especificas da Amaziinia, estio melhor adaptadas as condigdes extremas de temperatura ¢ humidade ai existentes. ‘Com efeito, estas éreas s4o caracterizadas por terem bainas tanas de produtivi- dade e de absorgdo de emprego, o que, uma vez mais, sugere que a agricultura nao representa um uso do solo sustentavel, no s6 do ponto de vista ambiental, mas tam- ‘bém do ponto de vista social e econémico, em grande parte da “Amazinia Leval”. Os estudos mais recentes tém defendido que ovtras actividades rurais, como « pecuiria ow a silvicultura, esto melhor adaptadas aos condicionalismos fisicos. Tanbém o turismo, nomeadamente o eco-turismo, poderé assumir um papel im- Portante no futuro como fonte de emprego e de rendimento, desde que salvaguar- dea preservagao do patriménio natural ¢ cultural da regio. ‘No que concerme a pecuéria, Arima e Uhl (1996: 23-24) referem que o sector tem vindo a registar um importante crescimento, nomeadamente entre 0s peque- ‘nos criadores. De facto, enquanto em 1980, as criadores com menos de 200 cabe- gas de gado detinham apenas 28% do total de bovinos do Estado do Paré, em 1985 detinham ja 33%. "Neste sentido, no poderos deixar de refer a expresso de Walter Isa, fandador da Citnca Reson, connie qur“iporava” doses aspcecs“subjectvos”eno-modeavs da elias, ene ot quit (0 da Geogr sc, como a pevpitao, a temperatura 6 elev, 2004 » GeotNon "Na opinifio destes autores, a pecuéria pode representar uma mais-valia econ ‘mica para os pequenos criadores. O luero dos pequenos fazendeiros especializados ‘em pecuria litera por drea de pasto é cerea de trés vezes mais do que o luero dos miédios ¢ grandes criadores especializados na produo de gado bovino para abate Por outro lado, a produtividade do trabalho na pecustia & superior & da agricultura. Para esta situag3o contribuem varios factores: menor risco de perda de pro- dusio; comercializagao e transporte mais faceis; possibilidade de vender os ani- mais em qualquer idade; menor influéncia da inflagdo e da especulago no prego Jdos animais (Arima ¢ Uhl: 23-24). [Em sintese, podemos afirmar que o fomento de criagao de gado desempenha lum papel importante como fonte de diversificago das receitas dos pequenos pro-

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