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15 —— LiNGUAS DE FOGO A revolugdo pentecostal no protestantismo Oma carismatico é 0 elemento do cristianismo de mais répido ‘rescimento hoje. © pentecostalismo, em suas virias formas, hoje, é © maior grupo ctistio, afora 0 catolicismo que supera em mimero a soma total de todas as outras formas de protestantismo, Embora a estimativa ‘numérica de sua forga nio seja confidvel, o movimento cresceu do zero, em 1900, para, pelo menos, meio bilhao de pessoas, em 2000. Sua origem his- ‘rica ¢ suas crencas fundamentais localizam-no firmemente nos limites do Protestantismo, Contudo, seu espantoso crescimento, vitalidade espiritual © capacidade de se adaprar& situagao local estéo forgando o protestantismo «Fever seu centro ¢ seus limites. O crescimento numérico do pentecostalis ‘mo, principalmente entre o pobre urbano e 0 socialmente marginalizado da Asia, Aftica e América do Sul estd transformando o protestantismo. Alguns poucos exemplos podem ajudar o leitor que nao esté familia- Fizado com a escala ¢a relevancia desse movimento a adquitir um senso do impacto sismico cumulativo que ele esté exercendo no mundo do ctistianis. mo.! A Igreja do Evangelho Pleno de Yoido é uma igreja pentecostal sediada no distrito de Yoido, em Seul, Coreia do Sul. Quando a igreja comegou, em 1958, nas favelas de Seul, em tendas que tinham pertencido ao exército, ela enfatizava 0 impacto transformador do evangelho, por meio da capacita do Espirito Santo, em face das condigées social ¢ ccondmica adversas da A REVOLUGAO PROTESTANTE deprimida Coreia do pés-guerra. Hoje, a membresia da igreja chega a 700 mil, Sew principal local de udoragao comporta 25 mil pessoas, mas ainda assim a igreja tem de manter miltiplos cultos aos domingos. ‘A cidade de Lagos, na ex-coldnia inglesa no oeste afticano da Nigéria, & amplamente reconhecida como a capital pentecostal do mundo ~ a des peito do fato de o pentecostalismo nessa nagdo tragar sua origem a projetos pequenos realizados na década de 1970, Hoje, 0 Taberndculo da Fé acomoda 50 mil adoradores em seu auditério que se assemelha a um estidio. A Igreja ide Deus dos Cristios Redimidos possui, hoje, quatro mil pardquias em toda a Nigéria. © movimento alcangou tal proeminéncia que as denominagoes protestantes tradicionais da regido, agora, incorporam elementos carismt- tos em sua adoragio. As formas da adorago anglicana, um canto moderadas, Gu predominaram durante a 6poca colonial stio simplesmente sendo subs ticuidas pelas formas de adoragao que enfatizam as rafzs culturais africanas ¢.0 poder transformador do Espirito Sanco. Eneio, 0 que é essa nova forma de protestantismo? De onde ela vern? Por que ela provou ser tio atraente? Que desafios la representa para as for mas mais tradicionais de vida ¢ pensamento protestantes? E mais importante de tudo, quaissio as implicagdes dela para o fucuro do protestancismo? N te capitulo, refletimos a respeito dessescemas. (0 CRESCIMENTO DO PENTECOSTALISMO NORTE-AMERICANO Sustenta-se tradicionalmente que a origem do movimento pentecostal foi nos Estados Unidos. Embora as raizes do movimento sejam particularmente encontradas na tradigfo de santidade, 0 movimento assumiu sua forma distin tiva na primeira década do século 20, em especial, por meio da influéncia do pregador afro-americano William J. Seymout. Seymout nasceu em Centerville, Louisiana, em 1870, ¢ era filko dos exescravos Simon ¢ Phyllis Seymour. Depois de trabalhar por um periodo como cartegador para a empresa ferrovidria em Indianépolis, em 1900, Seymour mudou-se para Cincinnati, onde se juntou ao grupo Evening Light Saints (Santos da Luz Vespertina), um grupo cristio conhecido por sua reologia de santidade radical, incluindo a doutrina da “segunda béngao plena de santficagio”, do pré-milenarismo e da promessa de reavivamento mundial, por intermédio do Espirito Santo, antes do arrebatamento, Em 1903, Seymour mudou-se para Houston, Texas, onde se juntou a uma ppequena igrea de santidade, pastoreada por uma mulher negra, Lucy Far- row, que o pds em contato com Charles Fox Parham. Em 1905, Seymour, 700 nda sia, des- etos oda aeja sti das, abs- cm? for inte Linauas pe Foco ao ouvir a descrigao de Parham do falar em Iinguas, comegou a anunciar a palavra baseado na igreja que fundou, a Missio de Fé Apostdlica, na rua Azusa, em Los Angeles. O pentecostalismo, principalmente (mas nao exclusivamente) a partir dessa base na Califérnia, logo se espalhou pelos Estados Unidos. O movi- mento tinha apelo, em especial, para o marginalizado social, especialmente por meio do importante conceito de Seymour de uma eclesiologia extética ¢ igualitdria.’ Parec brancos ¢ de afro que, em geral, 0 movimento atrala grupos cristios de meric 1s € eta abragado por eles. O movimento era considerado excéntrico, até mesmo perigoso, pela cultura norte-americana como um todo, conforme as manchetes dos jornais de Los Angeles, de abril de 1906, deixam claro: “Esté surgindo uma nova seita de fandticos” e “Cena espantosa na noite passada na rua Azusa” jornalismo popular da época do reavivamento da rua Azusa dei xou claro a antipatia que sentia pelo movimento, em razéo do preconceito racial ¢ teolégico: “Negros € poucos brancos compéem a congregaci ea noite & abominavel para a vizinhanga por causa dos uives dos adoradores que ficam horas oscilando para frente e para trds em atitude exasperante de oragao e siiplica”. © papel-chave desempenhado pelas mulheres no re avivamento nao estava alinhado com as normas culturais da época ¢, mais uma ver, atraiu cobertura negativa da midia.' Mais rele nce, para muitos, as experiéncias carismaticas relatadas pareciam representar um novo ata. que do “entusiasmo” que o protestantismo da corrente principal via com nta desconfianga, acompanhada de ndo pouco desdém cultural, desde 0 século 18. Também é importante considerar que Charles Parham nao tinha in tengdo de adotar a inclusfo racial proclamada e praticada por Seymour ¢ pela congregagio da rua Azusa. Em um movimento initil e contraprody cente, Parham, que ficou particularmente inquieto pelo compromisso do grupo com a comunhio inter-racial, tentou assumir 0 controle do fend. meno da rua Azusa.® Depois, Parham, entre ourras coisas, foi em frente « censinava que 0s protestantes anglo-saxées bran privilegiados das tribos perdidas de Israel e fal da Ku Klux Klan, Ele nunca se reconciliou com Seymour e, no fim, morreu s eram os descendentes a em cermos apaixonados em descrédito. Embora o pentecostalismo possa ser considerado tradicionalista em sua teologia crista, ele difere radicalmente de outros agrupamentos cristios em sua énfase no falar em linguas ¢ em suas formas de adoracio, Estas A REVOLUGAO PROTESTANTE sao firmemente vivenciais ¢ envolvem profetismo, curas ¢ exorcismo, A vege de mundo pentecostal inlui elementos que se relacionam fécil © ns- veralmente com as religides populares ¢ folcléricas de multas regioes do mundo, em especial, da Africa ¢ da América Latina, como cexpulsio de deménios (pritica que tende a fazer os teblogos académicos ocidentas se tipico ito, nas identi- amplo s, Cali- ennett, inguas. siscopal 1, logo com. ro que aumento tma de estava € pres- scostais Igumas Linauas DE FoGo denominagoes que em outras ~ a Convencio Batista do Sul, por exemple, rio foi muito afetada pelo movimento carismético, De igual importancia é into carismatico comecou a se desenvolver na Igreja Catélica Romana, © movimento Renovagio Carismatica Catélica comegou ‘em Pittsburgh, Pensih versidade de Duquesne No influente estudo do desenvolvimento dos movimentos earismati 6 fato de que o movin ia, em 1967, entre alunos e corpo docente da Uni cos nos Estados Unidos durante 0 século 20, Peter Wagner, historiador da igteja, diferenciou trés “ondas’ do movimento.” A primeira onda tomou a forma do pentecostalismo clissico, que surgiu no inicio da década de 1900 «ese caracteriza pela énfase no falar em linguas, A segunda onda aconteceu nas décadas de 1960 1970, principalmente nas denominagées da corrente principal 2 medida que elas se apropriaram da pritica da cura espiritual ¢ dde oucras priticas carisméticas. Essa segunda onda transformou a percepcao publica do movimento ¢ comecou a mové-lo da periferia da vida religiosa nnorte-americana para o centro dela A terceira onda, exemplificada por John Wimber, enfatizava os “si uma nova onda de poder sobrenatural foi liberada sobre as igrejas para capacitar a cura, a vida vitoriosa e a derrota dos poderes espirituais malignos. A ideia de “batalha espicitual” — ou seja, batalha spiritual crista comtea os espiritos aise maravilhas’, Por intermédio do Espirito, argumentava el malignos — desempenhava um papel particularmente importante no pen samento de Wimber.'° Essa terceira onda causou bastante controvérsia durante seu periodo inicial na década de 1980. Wimber e Wagner deram um curso popularmen- te conhecido como “Sinais ¢ Maravilhas” no Seminério Teoldgico Filler de 1982 a 1986, quando a faculdade e 0 curador pressionaram pela suspensio do curso por um ano; mas, um ano depois, 0 curso foi restabelecido com um perfil notadamente inferior. Wimber foi em frente cliderou a Associagio Vi neyard, uma das mais relevantes agéncias globais em desenvolvimento dessa abordagem para a vida crista Usar 6 termo “pentecostal” para descrever, agora, todos esses movi mentos tornow-se problematico. O termo, em geral, € usado hoje para se referir & familia de igrejas ~ como as Assembleias de Deus ~ que enfatizam especificamente o falar em linguas. O termo ico”, atualmente, é uusado para se refetit aos movimentos das igrejas da cortente principal baseados “carism: nas ideias € nas experiéncias do movimento pentecostal. A renovacao caris matica nas igrejas da corrente principal levou a novos e informais estilos de A REVOLUGAO PROTESTANTE adoragao, a uma explosio de “miisicas de adoragio”, a um novo interesse para a dindmica de adoragio € a uma crescente insatisfasio com 0 tradicio nalismo de adoragio litingica formal. (© movimento pentecostal ~ que, agora, deve também incluir os gru: pos carismaticos das igrejas da corrente principal ~ mudou bastante desde a Segunda Guerra Mundial, A mudanga mais dbvia é 0 aumento macigo do mndimero de seus membros. Hoje, estima-se que haja mais de 500 milhdes de pentecostais no mundo, com uma distribuigio geogréfica bem ampla, Esse movimento que, conforme alguns concordam, reve origem principalmente ra cultura afro-americana, agora, enrafza-se na América do Sul, na Asia, na Aitica e na Europa. Mas hé outras mudangas mais sutis no movimento que reflevem sua notivel habilidade em se ajustar as dindmicas ¢ ds realidades so ciais de seus ambientes cada vez mais divérsos. A auséncia de uma autorida- de centralizada no pentecostalismo removeu a inflexibilidade que atrapalha tanto as tentativas protestantes da corrente principal de ajustar o evangelho i cultura nativa nfo pertencente ao Ocidente Algumas divergéncias relevances apareceram no movimento, em es pecial, entre carismaticos que trabalham nas denominagGes protestantes da corrente principal ¢ aqueles que trabalham em contextos especificamente pentecostais. Os primciros, com as teologias ¢ os sacramentos de suas “deno- minagdes-mae" 3s quais podem, com frequéncia, apoiar-se sio mais de- senvolvidos nessas dteas que suas contrapartes pentecostais, Os pentecostais, por sua ver, tendem a adorar atitudes intuitivas e pragmaticas em relagio & igteja, acteditando que as estruturas ¢ as formas dela sio capazes de infinita \daptacio por meio da orientagio do Espitico Sanco. A origem norte-ameticana do movimento leva alguns a sugerir que, no fim, © sucesso dele est ligado ao poder ed influéncia norte-americanos. Hi alguma verdade nessa observacao no fato de que 0 pentecostalismo nor te-americano exetce imensa influéncia ao dar origem a outros movimentos, mundiais. Concudo, dois comentérios de adverténcia cabem aqui. Primeiro, cs pentecostais norte-americanos nao estio proximos da esfera de governo, do poder nem de influéncia de sua nagio, Até 1960 ~ por volta da época em que o “estabelecimento” global do pentecostalismo estava bem encaminhado —o movimento era visto como situado as margens da sociedade norte-americana e, de fato, destituido de credibilidade cultural, de respeitabilidade académica, de poder econdmico ou de influéncia politica Segundo, © pentecostalismo desenvolveu formas adaptadas a seus no vos ambientes globais, com a lideranga passando rapidamente para pastores tradicio- iros gru e desde a racigo do ithoes de pla. Esse valmente Asia, na ento que fades so- tutorida- utrapalha angelho sem es- antes da camente s“deno- clagio A infinita tir q -anos, 0 nor mentos imeirg, oca em inhado lemica, 1us no- asrores | | AS DE FOGO. nativos. O caso da Coreia do Sul ¢ instrutivo. Em 1952, a Assembleia de Deus enviou seu primeiro missiondrio, Abner Chesnut, para a Coreia do Sul A Assembleia de Deus coreana foi organizada em 1953 ¢ abriu sua primeira Escola Biblica no ano seguinte. Paul Yonggi Cho — que deu continuidade a esse movimento ¢ fundou a Igreja do Evangelho Pleno Yoido ~ foi um dos Primeiros alunos da escola. A forma de pentecostalismo que Cho desen- volveu foi claramente influenciada pelo presbiterianismo (forma predomi ante de cristianismo na Coreia) e pelas tradigdes de adorasio oriundas das tradigbes de reavivamento ¢ de santidade. Contudo, esse pentecostalismo, inquestionayelmente, era coreano, adaprado ao seu contexto local, em ver de ‘manter as formas daqueles que o plantaram li A propagagéo do pentecostalismo nao se deve principalmente & pro. jegdo da influéncia norte-americana, mas A capacidade do que foi projetado Para se enraizar em novas situagdes. O ministro Carlos Alberto Annacondia, convertido em Buenos Aires, em 1979, por intermédio do ministério do evangelista panamenho Manuel A. Ruiz, indica como se desenvolveu um Pentecostalismo essencialmente latino-americano pela propag. formasio por meio da aco de agéncias nativas. O reavivamento que varreu as comunidades protestantes argentinas em 1982, principalmente por inter médio do ministério de Annacondia, foi totalmente autéctone ¢ suplantou © antigo evangelho missiondrio com um novo e vibrante pacote de ctengas ealeance social Ainda hd outra resposta quie pode ser apresentada contra a acusagao de que 0 pentecostalismo ¢ essencialmente uma exportacio norte-ameri cana. Essa resposta envolve estudo atento da origem do movimento que revela que a histéria dele é muito mais complexa do que se consideta. A seguir, com ramos algumas percepsoes surgidas da nova busca pela or gem do pentecostalis ANOVA BUSCA PELA ORIGEM DO PENTECOSTALISMO, O relato tradicional da origem do pentecostalismo, recém-apresentado neste capitulo, tende a ta-lo como um fendmeno norte-americano que se pe agou gradualmente por todo o mundo, em parte, pela transfer@ncia ativa ¢ «em parte, pela difusio passiva. Nessa percepgao, a rua Azusa foi a Jerusalém a Partirda qual a mensagem do dom do Espirito concedido por Deus su para as nagées. Sem diivida, hé alguma verdade nesse relato: 26 denominacic Pentecostais retrocedem sua origem histéric. rua Azusa. Nao obstante esse relato muitissimo influenciador (em especial, nos Estados Unidos) ¢ ‘A REVOLUGAO PROTESTANTE cada vez mais reconhecido como incompleto & luz do abundante material que esté, agora, sendo descoberto pelos historiadores. Mais relevante ainda, a teoria tradicional exige um modelo de desen: volvimento pentecostal que, em esséncia, & 0 da adaptagio do modelo nor- te-americano para outros contextos. A questio que 0 historiador ¢ forgado a considerar é por que ¢ como o modelo norte-americano foi mudado para se ajustar a outras localidades. E se 0 fendmeno tiver miltiplas origens, a maioria das quais de fora dos Estados Unidos? E se 0 pentecostalismo ja cstivesse presente na India (para apresentar uma possibilidade) antes de na rua Azusa ¢ tivesse desenvolvido sua prépria trajetéria independente naquela regio?" ‘A explosio do interesse académico pelo pentecostalismo que surgiu nos iltimos vinte anos comegou a langar luz na complexa origem do movi mento que forga a revisio do modelo tradicional.” Estudos importantes da otigem do movimento na Argentina, Chile, Gana, Coreia, Filipinas, Africa do Sul e sul da {ndia forgou os historiadores a fazer revisdes essenciais nos paradigmas anteriores. Agora, a origem histrica do pentecostalismo parece ‘do complexa quanto a da prépria Reforma protestante original. Um nimero de movimentos contemporineos com crengas e expectativas compartilhadas relativamente reconheciveis surgi na primeira década do século 20, mas sem nenhuma indicagio evidente de causalidade reciproca. (© quadro que, agora, comega a se tornar claro é que uma série de jpentecostalismos” locais surgiu na primeira década do século 20. O reavi vamento, de 1906, da rua Azusa foi um deles. Em Pyongyang, hoje Core! do Norte, ocorreu o reavivamento de 1903; 0 reavivamento de 1905-7, da missio Mukti, de Pandita Ramabai, foi em Poona, [ndia; 0 reavivamento na Manchiiria, na China, aconteceu em 1908; na cidade de Valparaiso, no Chile, houve um reavivamento em 1909; os reavivamentos que irrompe: ram na Costa do Marfim, na Costa Dourada ¢ em Kru, Libéria, em 1914; € reavivamentos ocorridos na Noruega, China, Venezuela ¢ em outros lugares. Cada um desses reavivamentos apresentava caracteristicas pente costais, embora nao haja clara conexao entre eles. O que, hoje, podemos reconhecer como pentecostalismo estava bem estabelecido na India, antes que alguém de la tivesse ouvido falar de Charles Parham, da rua Azusa ou de William Seymour." O paralelo com a emergente compreensio académica da origem do protestantismo no inicio do século 16 € impressionante. Mais uma vez, si0 reconhecidas miiltiplas origens para 0 movimento & medida que aumenta a te material > de desen- odelo nor + 6 forgado adado para origens, a stalismo jé ) antes de ependente que surgiu 1 do movi- ortantes da nas, Africa inciais nos mo parece m ntimero vartilhadas 0 20, mas 1a série de ‘ivamento araiso, no irrompe- em 1914; m outros "as pente- podemos dia, antes Anusa ou srigem do aver, S30 uumenta a | | Linauas DE FoGo cevidéncia histBrica para a histéria fundamental e a heterogeneidade intelec tual do movimento — cujas manifestag6es, todavia, compartilham base em comum suficiente para permitir colaboragi0, negociacao e apoio miituos. E ‘0s mesmos mecanismos que levaram & consolidacdo ¢ & relevante ~ mas no. total ~ convergéncia de reformas individuais que propagaram “a Reforma” Jevaram & colaboracio ¢ até mesmo & convergéncia desses emergentes pente- costalismos. Talvez.0 modelo norte-americano tenha exercido mais influéncia que outros na estruturagao do pensamento, estrutura ¢ expectativas do emer- gente movimento ~ mas nao se pode dizer que o modelo norte-americano éa causa ou a fonte do movimento. A medida que esse quadro mais complexo emerge, os historiadores pentecostais comecam a interpreté-lo em termos da providencial difusio, tem esséncia, dos mesmos dons divinos em todo 0 mundo em um periodo de tempo relativamente pequeno."* Todavia, para 0 nosso propésito, esse quadro cada ver mais complexo ¢ cheio de nuangas permite apresentar um ponto criticamente importante: o tema da “diversidade com unidade” es- tava presente desde a origem do movimento. Nao foi um desenvolvimento posterior que resultou de um movimento essencialmente norte-americano forgado a reconsiderar suas estratégias, objetivos e abordagens & luz de seu encontro com situagdes no norte-americanas. Antes, isso foi essencial para ‘© surgimento histérico do fendmeno que, hoje, chamamos de “pentecosta- lismo”, mas que nao compartithavam o nome nem o senso de identidade até as pessoas comegarem a comparar os registros, com frequéncia, estimuladas pela fama dos eventos da rua Azusa PENTECOSTALISMO: SUAS CARACTERISTICAS DEFINIDORAS Em muitos aspectos, 0 pentecostalismo aceita os temas basicos da teolo- gia protestante, mas com um acréscimo relevante que leva 4 modificagio da énfase doutrinal em alguns pontos ¢ a diferentes padrées de adoracio. O termo “pentecostal” origina-se da festa judaica de Pentecostes, durante a qual, conforme o registro do Novo Testamento, os apéstolos “ficaram cheios do Espirito Santo ¢ comegaram a falar noutras linguas” (At 2.4). A teologia protestante tradicional considerava esse fendmeno tinico da eta apostélica; nessa percepcio, o fendmeno, adaptado e necessério para a pri- meira fase de expansio da igreja, nao era requisito nem estava ativo desde essa época, A defesa dessa posigio “cessacionista” tinha suas dificuldades, a co megar pelo fato de que qualquer aplicagao consistente desse argumento A REVOLUGAO PROTESTANTE smeasava tornar grandes segées do Novo Testamento inrelevantes para 0 protestantismo moderno. Claro que, na pratica, esse argumento hunca foi Uesenvolvido. Quando todos os acréscimos teolégicos sto tirados do ar- sgumento, ele reduz-se a0 mesmo simples ponto: o Espirito Santo néo € Nivenciado na igreja hoje como o foi pelos apéstolos no Pentecostes. A relevincia dos eventos de Topeka, Kansas, em janeiro de 1901, e, depois, da rua Azusa, em Los Angeles, em 1906, é que cles sugerem que as coisas podem ter mudado. E se elas mudaram, preciso fazer muita revisio teol6- gica. Vemos aqui um exemplo cléssico do que Thomas Kuhn, historiador da ciéncia, descreveu de forma excelente como “mudanga de paradigm” no desenvolvimento das ciéncias naturais — 0 aparecimento de novas abor- dagens quando a capacidade das antigasteorias de explicar novas experién- cias ¢ observagbes € falha ou imperfeita (Os tragos que caracterizam ¢ distinguem o pentecostalismo de todas as outras formas de cristianismo é sua insisténcia ¢ énfase no encontro imediato com Deus por intermédio do Espirito Santo ¢ a subsequente transformagio dos individuos. Embora os pentecostais ¢ outros carismaticos nem sempre concordem sobre como melhor enunciar teologicamente esse entendimento do papel do Espirito Santo, eles comparttham a expectativa de determinados pade6es de acio divina, © “evangelho pleno”, insistem os pentecostais, deve ‘dluir o dom do falar em Kinguas. Contudo, hi mais a ser dito sobre essa caracteristica do pentecostalismo que essa breve declaragao pode sugerit. O pentecostalismo no acredita apenas no falar em linguas, cle fornece um ontexto social que reforga o senso de expectativa de que o falar em linguas contecerd, criando, por meio disso, as estrucuras sociais que sustentam ¢ es tendem o fendmeno." As comunidades pentecostais incorporam essa expec tativa social, e esta fornece um importante suporte contra a critica externa do fendmeno como “anormal” ou “imprépric’. Jo, o que exatamente € esse dom? O Novo Testamento traga uma distingio entre xenolalia ("alarm Lingua estrangeitas") ¢ glsollia (“falar em linguas”), Muitos dos primeiros pentecostais, como Charles Parham, in- sistiam que fora concedido aos erentes 0 poder de falar em linguas estran gciras; porém, a maioria deles, depois, passou a adotar a percepgio de que 0 Fspitito causa o falar em inguas para a eificagio pessoal. A pereepcdo pen- tecostal clissica passou a ser que esse fendmeno é consequéncia da presenga do Espirito nos crentes." ‘Assim, o que é exatamente o “falar em Iinguas"? Ao tentar responder a essa pergunta,é til agar uma distingio entre a descrigéo do fendmeno auma (‘falar estran- queo 0 pen- esenga sonder smeno Linuas DE FOGO sua interpretagio teoldgica. © fendmeno, em geral, assume a forma de tuma intensa experiencia religiosa expressa na fala extética, tipicamente du- rante 0 perfodo de adoracio ou da oracio puiblica, e ¢ percebido como algo de grande sentido pessoal para o adorador individual. A “fa corresponde & lingua nao conhecida e, em geral, é ininteligivel para obser vadores externos."* Os tedlogos carismaticos interpretam que esse fendmeno corresponde a experiéncia das comunidades cristas ptimitivas, conforme re gistrado no Novo Testamento ¢, para 0s corintios. Ele é visto como um sinal da presenga viva de Deus nos individuos, oferecendo reafirmagig da salvacio ¢ diregio dos individuos ¢ da ” em questa em especial, na correspondéncia de Paulo comunidade como um todo. A expressio “batismo no Espirito” tornou-se especialmente impor ¢ para o pentecostalismo. Fla refere-se a uma ungio, dom ou béngio divina especial subsequente & conversio, fato demonstrado pelo falar em lin ‘guas, O protestantismo clissico sustenta que todos os recursos necessitios sio fornecidos ao cristio no batismo ou na conversio, A continuidade do pentecostalismo com a tradicéo de santidade fica clara neste ponto: segoes do 1a “segunda béncao” na qual os crentes recebem ungio especial de Deus que os capacita a evar uma vida vitoriosa, tiun fando sobre o pecado e a tentagio. © movimento de santidade reconhecia 0 aprimoramento pés-conversio da espiritualidade pessoal do individuo, com frequéncia, descrito como a “segunda béngio’ Nas décadas de 1880 ¢ 1890, alguns escritores, como A. J. Gordon ¢ Reuben A. Tor davia, concebia-se esse batismo principalmente como a capacitagio do in. movimento reconhecem ; comegaram a falar de “batismo do Espirito Santo”. To dividuo por meio do crescimento da habitacio pessoal do Espirito Santo. Observa-se um excelente exemplo desse fendmeno no ministétio do reno- mado evangelista Dwight L. Moody, que vivenciou essa forma de renovagio pessoal em 1870, Nao obstante ~ ¢ isso ¢ de suma importancia ~ nao houve nenhum indicio de que essa “segun to", levou ao falar em linguas. A “segunda bénga0”, ou “batismo no Espirito a béngao", ou “batismo no Espirito San Santo”, dizia respeito & capacitagao ¢ ao encorajamente. Em 1901, Parham fez a primeira sugestio de haver ligagio teolégica entre “bs ismo no Espirito Santo” ¢ o “falar em linguas” e, desde essa épo- a, essa ligagio permanece tipica do pentecostalismo. Os aperfeigoamentos introduzidos desde essa época incluem a distingio entre o falar em lingua: como um sinal universal ¢ como um dom especifico, Nessa petcepgio de falar em ling todo crente verdadeiro é as como um sinal de seu A REVOLUGAO PROTESTANTE batismo no Espirito, e alguns tém o dom de poder usar esse sinal na ado: ragio publica. A evidéncia dessa “segunda béngio” é a habilidade de falar em linguas. Isso tem importantes implicagGes para a compreensio da identida- de e da relevincia de Jesus Cristo no pensamento pentecostal. Enquanto © protestantismo tradicional tende a pensar que Cristo assegurou o per: dao dos pecados passados e a vida eterna por meio de sua morte na cruz, © pentecostalismo desenvolve uma compreensio quidrupla da relevan: cia de Cristo, muitas vezes, mencionada como evangelho “quadrangu- lar”, seguindo a abordagem desenvolvida por Aimee Semple McPherson (1890-1944), lider pentecostal norte-americana. Enquanto pregava na Califérnia, em 1922, cla teve uma visto baseada em quatro simbolos — cruz, coroa, pomba ¢ célice, Ela entendeu que estes simbolizavam os temas centrais do evangelismo € foi capacicada pelo Espitito Santo; as- sim, usou esses simbolos como o fundamento teoldgico para sua Igreja Internacional do Evangelho Quadrangulat." A interpretagio “quadrangular” do evangelismo enfatiza o que Cris- to faz atualmente na vida dos crentes. Aimee Semple McPherson, embo- a retenha 0 ensinamento protestante tradicional das dimensdes passada ¢ furura da salvagio - 0 perdio dos pecados passados ¢ a esperanga de ressurreigdo futura, ressaltou o impacto transformador de Cristo sobre os individuos ¢ as comunidades aqui ¢ agora. Nessa abordagem, Jesus Cristo éentendido como: 1. Salvador — aquele que liberta os individuos de seus pecados 2. Médico ~ aquele que liberta da doenga e do poder de Satands 3, Batizante no Espirito ~ aquele que capacita a pessoa comum a teste munhar do evangelho até os confins da terra. 4, Rei que vird — aquele que esta preparando 0 caminho na igreja pata seu retorno futuro ¢m gloria, Embora as crengas basicas do evangelho quadrangular ndo sejam uuniversalmente reconhecidas no pentecostalismo, elas ilustram uma das caracteristicas mais relevantes do movimento ~ a afirmagio de que Jesus Cristo pode ser vivenciado no momento atual e tem 0 poder de curar ¢ de transformar pessoas ¢ comunidades em tudo que precisam ¢ no momento em que precisam, esse sinal na ado. habilidade de falar Ensio da identida (ecostal. Enquanto B assegurou o per gaa morte na cruz irupla da relevin patho “quadrangu emple McPherson jmanto pregava na FE quatro simbolos bsimbolizavam os {spirito Santo; as © para sua Igreja ffariza 0 que Cris MePherson, embo Himensdes passada a esperanga de fe Cristo sobre os gem, Jesus Cristo pecados, de Satands. sa comum a teste- ho na igreja para fagular nao sejam flustram uma das igdo de que Jesus dder de curar e de ime no momento Lincuas pe roco O arto bo reNrecostaLisMo Por que o pentecostalsmo ¢ tio atraente, em especial, para os que se acham a imargem da sociedade? A melhor resposta parece ser sua énfase na capacitagio «spiritual pessoal por meio da qual a posicfo do luo nao é determina- 4a por sua localizasao socioldgica nem por sua capacidade intelectual, as por stu dom concedido pelo Espirito Santo. Essa mudanga radical nox pla- nos de referencia por meio dos quaiso individuo é avaliado esté firmemante cvidente no igualtarismo da eclesiologia de Seymour da rua Azusa (mas nto deve-se ar, no ministério de Topeka de Parham) Esse ndo ¢ um ponto de pouca importincia. Roberto Beckford, es ‘udioso pentecostal inglés negro, sustent nguas na rua Az no Espirito, Era uma expressio d fava que o fendmeno igualitarisea fepresentava mais que qualquer batismo lo compromisso da comunidade com a “transformagao social radical”, que a pés em continuidade direta com © ‘gualitarismo demonstrado pela comunidade de fé do Novo Testamento, resultante de sua experiéncia do Espirito Santo.” Deus fala pa deiro cristo © por intermédio dele. Embora sido perdido em muitas seccoes do ‘mento de varias formas de elitismo, do falar em © verda- esse étbos igualicério tenha Pentecostalismo, por meio do surgi ele permanece um ideal que desafia ¢ atral em quase igual medida. © equivalente pentecostal ao “sacerdécio de todos 08 crentes” da de todos os crentes” primeira gerasao de protestantes seria o “profetismo Junto com \déne em diresio ao igualitarismo ~ ¢ pos 40 fundamental para ele ~ 0 pentecostalismo insiste ma acessibilidade universal ao divino, O vivenciat a Deus nao estd restrito a elite espiritual; ele ndo depende da exceléncia intelectual hem académica; nem & algo inatingivel no presente, postergado para o Encontro com Deus apds a morte nas regides celestiais. O pentecentalis mo, como de santidade, re minadas formas de pietismo ou seccdes da tradigdo de a a realidade desse vivenciar a Deus sua importéncia art 9 crescimento espiritual ¢ a reflexio teoldgica. A “fé viva" (empres tando a linguagem da tradigao pietista) nao diz respeito & integridade doutrinal nem a precisio teoldgica, mas ao vivenciar a Deus como uma realidade viva na alma do crente. No entanto, essa acessibilidade aplica-se objetivo d: a0 sentido tanto quanto a0 a vida espiritual. O pentecostalismo usa a linguagem e a forma de comunicagio que 0 capacitam a transpor as diferencasculturais com grande ef- ciéncia, Walter Hollenweger, um dos mais célebres historiadores do movimento, A REVOLUGAO PROTESTANTE aponta a importincia desse uso de meio de comunicagio imediatamente acessfvel para o sucesso do movimento: [0 pentecostalismo] ¢ uma teligiéo oral Ele nfo ¢ definido pela linguagem abs trata que, por exemplo, catactetiza os presbiterianos ou catdlicos. O pentecos talismo € transmitido em hist6rias, tstemunhos ¢ cangdes. A linguagem oral € ‘uma linguagem muito mais global que a das universidades ou das igrjas dene minacionais. A tradigdo oral ¢ flexivel e pode se adapear a vitias circunstincias, {oul Voe8, quando se torna pentecostal, fala sobre como foi curado ou como sua vida mudou. Isso € algo sobre 0 que os pentecostais conversam muito, em parte, porque as pessoas esto interessadas em ouvir esse tipo de coisa. Hoje, 0 pentecostalismo trata de todos os aspectos da vida, incluindo a parte do pen: samento. Mais formas de cristanismo da corrente principal tratam primeiro a parte do pensumento, ¢ essa parte, com frequéncia, afeta o resto da vida ~ mas Exsas reflexdes levaram uma geragio anterior de pentecostais a des- confiar do estudo académico a vestir seu anti-intelectualismo como uma insignia de honra, Contudo, o crescente senso de confianga no movimento leva-o a se tornar mais interessado em questdes técnicas de interpretagdo biblica, em teologia sistematica ¢ em questées culturais mais abrangentes. Os pentecostais estio cada ver mais conscientes do potencial de sua tradigdo para tratar com questoes interpretativas que levaram o protestantismo norte-americano a um beco sem saida no inicio do século 19." Resta observar se esse envolvimento intelectual e cultural emborard a capacidade do pentecostalismo de se atualizar em novos con: A IMEDIACAO DE DEUS: 0 PENTECOSTALISMO E © TRANSCENDENTE Em um capitulo anterior, comentamos que a énfase do protestantismo tra- dicional no conhecimento indireto de Deus, mediado por intermédio da leitura da Biblia, levou a “dessacralizagio” ~ a criagio de uma culeura sem senso nem expectativa de ter a presenga de Deus em seu meio. Esse ponto € enfatizado por uma série de socidlogos — entre eles, Max Weber, Charles Taylor e Stephen Toulmin ~ que, de diferentes maneiras, mostram que © protestantismo foi o meio pelo qual uma sociedade que, originalmente possula um forte senso do sagrado, ficou “desencantada’. O resultado ine- vitavel disso foi a secularizagao ~ a eliminagzo final de Deus do mundo. liatamente sagem abs- > pentecos agem oral é tejas deno- sunstincias. = Hoje, 0 ste do pen- primeito a vida ~ mas ais a des- no como, janga no cnicas de culturais entes do tivas que no inicio cultural wos con nédio da tura sem se ponto Charles m que o ralmente ado ine mundo. i Lincuas pe roco Como Francis Fukuyama comenta, em sua obra O fim da historia eo uhimo ‘homem (1992), “o agente geralmente aceito para essa seculatizagio do Ock, dente era o protestantismo”,” Historicamente, esd claro que a principal determinante para 0 apa recimento do atefsmo como uma séria forga cultural é a perda do divino por parte da cultura. A auséncia de toda expectativa de direto com o divino por meio da natureza ou da experincia pes raja inevitavelmente a crenga em um mundo sem Deus — que vive etsi Deus non daretur (“como se Deus nio exis formas cléssicas de protestancismo, ao limitar 0 conheci senso do encontro oal enco- 0 tipo de cultura stisse”), Algumas imento de Deus a0 due pode ser conhecido sobre as palavras e a vontade de Deus, na verdade, puseram um impedimento de Deus. 4 qualquer conhecimento ou experiéncia direta Na verdade, algumas secoes do protestantismo, simo influenciadas pelo racionalismo do Ih enfatizar a “correcio teolégica”, muitas vezes muitis- luminismo, continuam até hoje a fessaltando a abrangente importancia de ter as idcias corretas sobre Deus. Essas nogées corretas sobre Deus tém de sen determinadas pela leitura da Biblia, entendi estudo doutrinal. Assim, a fé torna-se um declarado em termos de crengas a respeito la principalmente como um livro de conhecimento indireto de Deus, de Deus que, por mais corretas 4c possam ser até 0 ponto em que aleangam,transmitem a impressio de que o cristanismo é um pouco mais que teorizagio abstrata sobre um Deus cuja vontade ¢ revelada na Biblia, Esse ¢ um petigo bem reconhecido no protestantismo da corrente 1 ¢ foi, em part, tratado por meio do surgimento do pietismo. James Henley Thronwell (1812-62), eélebre escritor presitetiano norte-armeriea, ‘no, ndo tinha dlivida sobre 0 perigo das abord: listas ou intelectuais da Biblia: lagens excessivamente raciona. ls no forececscopo para 0 papel do sentiment cristo; nunea se volta para reverenciar lowar ou adorat. ExpBe a verlade, nae rua, em sua relidide ob ietva sem nenhuma referencia as condigbessubjetivas a quais, soba influéncia do Espirito essa verdade foi calculada para produit. Ea digestio a seen © Proposigbes ~ perfetas na forma, mas fia e sem vida como um esqueleto. Essa abordagem da teologia a divorcia do reino isso, da realidade da vida crista didria, em cs acham a andlise intelectual natural nem ficil da experiéncia ~ e, por special, entre os crentes que nio A REVOLUGAO PROTESTANTE E exacamente isso que Harvey Cox descreve como “cteates orientados pelo texto” ~ ou seja, os proestantes que acreditam que Deus s6 pode set acessado (e, assim, em limitada extensdo, na forma de ideias retigiosas abscra- tas) por meio da leitura da Biblia ou do ouvir sermio expositivo. Para Cox, 6 pentecostalismo celebra o ressurgimento da “espiritualidade primitiva” ¢ recusa-se totalmente a permitir que a experiéncia de Deus fique limitada 20 mundo ratefeito das ideias. Deus € vivenciado e conhecido como uma teali- dade pessoal, transformadorae viva. O contraste com o pentecostalismo nesse ponto nao podia ser maior. A énfase do pentecostalismo na experincia direta ¢ imediata de Deus evita as formas, antes, secas ¢ intelectuais do cristianismo que muitos acham sem atrativos ¢ ininteligiveis. Dal, a relevincia do pentecostalismo fazer enor- mes investidas nas areas da classe trabalhadora da América Latina, Aftica ¢ Asia pelo fato de que consegue transmitir um senso do divino ¢ suas im- plicagées sem a necessidade de livros de oragio nem de outras paraferndlias, tradicionais da cultura protestante, © pentecostalismo evita a aridez da teologia dogmética e a substitui pela renovagio pessoal do crente por meio do Espirito ~ algo que pode ser narrado e proclamado, em vez de dissecado ¢ analisado logicamente O pentecostalismo declara que é possivel 0 encontro direto e pessoal com Deus por meio do poder do Espirito Santo, Deus é para ser conhecido de forma imediata ¢ direta, nao indiretamente por meio do estudo de um texto. Enquanto o protestantismo tradicional € cauteloso em permitir algu- ma experincia imediata de Deus, 0 pentecostalismo a celebra ¢ a torna a marca do cristio vivo. Deus tem impacto na totalidade da existéncia e nao estd confinado ~ como em algumas tradigées protestantes tradicionais ~ a0 mundo da mente. Entio, por que isso ¢ to importan Essas observagies precisam ser contrapostas a um dos desenvolvimentos mais marcantes acontecido glo- balmente na esteira da Segunda Guerra Mundial — a propagagio do mar- xxismo. As ideias marxistas, embora impostas pela forga em muitas partes da Europa Oriental ¢ da Asia central, provaram ser inspiradoras para muitos grupos da América Latina, Africa e Asia que estavam desiludidos com a ‘ordem social existente e a queriam mudar radicalmente, © marxismo ofe- recia uma visio de mundo que prometia trans! a sociedade ~ uma visio de mundo sem Deus. Na América Latina, marxismo logo conquistou terreno, com Cuba emergindo como padrio revolucionirio. No Brasil, o marxismo adaptou-se tados de ser bstra- Cox, iva" e da ao reali- taior. evita sem nor- frica im- Alias 2 da neio ado Lincuas De Foco. a situagdo local, e tedricos, como Caio Prado (1907-90), apresentavam a Percepsao socioecondmica do marxismo como o remédio para os males nacionais. Alguns catdlicos proeminentes da re . reconhecendo a im- Portancia de lidar com as questées sociais censuradas pelo movimento, desenvolveram a “teologia da libertacio" que enfatizava a percepcéo do evangelho como transformador social.” Contudo, a teologia da libertacio ‘io era atraente, Parte de seu problema estava no fato de que oferecia tuma percepgio de transformacio social em que o individuo parecia no ter nenhum papel especifico. © pentecostalismo, em contundente contraste, ‘oferece uma percepsio de transformagio pecsoal na qual o individuo acertg a propria vida, a seguir, a da familia e, depois, move-se para questées so. ciais mais amplas © Pentecostalismo cria uma forte expectativa de encontro pessoal, di- feto ¢ tansformador com Deus na adoracéo da igrejae na experiéncia pes: soal. A transformacio pessoa, subsequentemente, leva & preocupagio social A crenga em Deus, longe de ser opressiva ou enganadora (como o marxismo Sustenta), élibertadora e transformadora. Como se pode duvidar da existén. cia de Deus quando ele ¢ uma realidade tao poderosa na vida das pessoas? Como se pode duvidar da relevincia de Deus quando ele inspira as pessoas a cuidar do pobre, a curar o doente ea trabalhar pelo destituido? © resultado desse movimento € notavel. O pentecostalismo esté substituinds o mamis. ‘mo como 0 consolo ¢ a inspiracio do pobre urbano. Ainda que esse desenvolvimento seja importante, 0 ponto relevante nesta seco ¢ a “re-sacralizacio" da vida didria pelo pentecostalismo, Um Deus permanentemente ausente logo pode se tornar um Deus morto, Se 4 ‘xistencia de Deus tiver pouco ou nenhum impacto nas experiéncias da vida dlidria, © negécio de viver bem pode set conduzido sem fazer referéncia 4 Deus. O pentecostalismo, ao abrir de novo a possibilidade de uma realidade transcendente, praticamente isolada pelo modernismo, injeta a presenca de Deus na vida dittia — por meio da acio social, politica e do evangelism Assim, 0 surgimento do pentecostalismo representa um desafio pata as formas de protestantismo mais intelectualizadas. Ele incitaas a reconsiderar seu intelectualismo excessivo ¢ a descobrit os reinos proibidos da imagina So, da emogio, da narrativae da experiéncia, Esse tipo de empobrecimento vivencial e transcendente da fé, em parte, deve-se a tendéncias anteriores em ses6es do protestantismo, que estio abertas 4 refutagdo eh corresio, © em Parte, deve-se & excessivainfluéncia exercida pelo modernismo no movimen- ‘como ui todo, que esd sujcto tanto ’& erosio histérica quanto & principios A REVOLUGAO PROTESTANTE de rejeigdo. © protestantismo nio esti casado com esse distanciaménto do transcendente; codavia, 0 surgimento do pentecostalismo pode provar ser © estimulo para que ele reconsidere essa questo — para o enriquecimento do movimento como um todo. Afinal, 0 protestantismo é uma obra em pro: gresso, que se sujeita A revisio constante, ¢ esti disposta a corrigit enganos ¢ comadas de direso crradas. Contudo, muitos procestantes da corrente principal sentem que o proprio pentecostalismo pode represen exatamente essa virada engana- da ¢ errada, Por isso, devemos ir em frente e considera algumas tensdes existentes entre os movimentos ¢ as implicagdes destas para o futuro dos dois movimentos ‘TENSOES COM © PROTESTANTISMO TRADICIONAL A rdpida ascensio do pentecostalismo nao acontece sem controvérsia. O mo: vimento inquestionavelmente & uma forma de protestantismo: ele emergitt historicamente da tradigio de santidade nott enfatiza o lugar da Biblia na vida ¢ na tradigao cristis. O pentecostalismo, como todos os grupos protestantes, afirma a autoridade da Biblia com uma forma distintiva € especifica de interpretacio do texto que confere particular importéncia a0 papel do Espirito Sanco na interpretacao da Biblia e tagio do individuo. O pentecostalismo afirma regularmente 0 compromisso rientagao e capaci- de aceitacdo da obra real ¢ atual do Espirito Santo por meio de dons e sinais transmitidos ao crente para o servigo e o testemunho, Esse compromisso dé origem a uma tensio, com frequéncia, caracte zada como “Palavra versus Espirito”. O protestantismo classico sustenta que a vontade e os propésitos de Deus sio revelados apenas por meio do texto escrito da Biblia; o pentecostalismo reconhece o papel de “palaveas de conhe- cimento” para o crente individual, as quais podem ser importantes para a co- munidade como um todo. Para os protestantes tradicionais, essa abordagem parece desvalorizar o lugar da Biblia na vida cristé; para os pentecostais, as abord as limitam a capacidade de Deus tevelar-se aos individuos: por intermédio de seu Espirito. O protestantismo clissico também se sente desconfortdvel com a ideia do pentecostalismo de “batismo no Espirito”, considerada inadequadamente fundamentada na Biblia. Muitos carismiéticos acreditam que o cristéo recebe 0 Espirito Santo na conversio, mas sé recebe a plenitude do Espirito depois, por meio do batismo no Espirito Santo, no qual ele recebe a capacitagio plena para o servigo cristio. Assim, o batismo no Espirito Santo é visto como do do we na- Jos iu gar iva 20 priadas. démicos © € pro- sendido ada fase seme do protes- cia de uo que alismo, entase sdesco- todos ade de wolvi- esas como, auto- mente tecos- ‘sma tes? cor- pen- astra Linavas pe roco Contudo, aqui hi questées mais profundas, cular interesse. Pelo fato de 0 pentecostalismo ter cenério protestante, ele forja suas ideias e abordager de controvérsas, estrig tuma das quais é de parti- sido 0 tiltimo a entrar no nS sem as moldar a partir ese tradigBes passadas, Uma das caractertsticas maig distincivas do pentecostalsmo é seu total desligamento con qualquer nogio de “eristandade”. Ese paradigma de cristandade modelou o pensamento do crist@o ocidental acerca de sua identidade social desde 0 comeco da Idade Média (alguns poderiam argumentar que desde a converse ce imperador romano Constantino) até o fim da Primeira Guerra Mundial." Ele é funda. mentado na nogio de regides geogrificas Que posstuem identidade religiosa ¢ cultural determinadas pela fé crises Embora essa nogio esteja em declinio na Europa Ocidental século 18, 0 protestantismo emergiu desde 0 €m uma época em que essa nogio ain- da era predominance. O protesantsmo nunca esteve inchenegee livre da memaéria que perdura e, com o passar dos anos, adquiriu os habitos de agio de pensamento que refletem sua origem social na fi 48 comunidades protestantes tenham estado inclinadas » aceitar 0 modelo de cristandade quer tenham estado inclinadas a rejeitar ano de fundo de suas reflexdes. Boa parte disso ¢ verdade em relacfo ao lluminismo ¢ ao surgi- mento da modernidade, a qual teve um efeito decisivo na estn do protestantismo e contribuiu muito para as tensbee, confer cérdias sobre como responder 3 pés-modernidade. Waltham fy este foi o constante uturagao Bes © dis. annenberg arguimenta de forma persuasive que boa patte da teologia protestante ocidental foi modelada pelo surgimento das ciéncias nature da critica secular da autoridade.” O Pentecostalismo surgiu nos primeiros anos do século a partir de cerca de 1950, Fle nunc doras sobre 0 que eta “razovel 20 € loresceu 8 esteve sujeito as pressuposicées regula- '" ou “normal” que modelaram as comunidades A REVOLUGAO PROTESTANTE protestantes anteriores. Da perspectiva sociolégica, o pentecostalismo era a religiio do pobre, do marginalizado ¢ do destituido que tinham pouco in- teresse em assuntos de tcologia ou de politica de igreja. O pentecostalismo, sem ter suas ideias ¢ expectativas modeladas pela nogio de ctistandade ¢ pela resposta protestante tradicional a ela, estava livre para desenvolver seus réprios paradigmas pés-cristandade e, com frequéncia, retomou estratégias pré-cristandade sem nem mesmo perceber isso. De forma semelhante, o pentecostalismo adaptou-se a pés-moderni- dade sem ter sido antes modelado pelo modernismo, Seu surgimento em ‘uma jungio cultural permitiu-the adaptar-se como achava melhor & cultura local predominante sem ter de descartar nem modificar um conjunto de pressuposigdes e de atitudes herdadas, as quais os tradicionalistas tendem a considerar normativas. Por isso, o pentecostalismo pode responder com tapidez. € empatia as culturas locais sem ser reprimido por pressuposigdes ocidentais modernistas sobre como isso deve set feito. Conforme observa- ‘mos muitas veres, o pentecostalismo ¢ a religiéo global mais bem adaptada 40 proprio proceso de globalizagao. Observamos aqui uma forma emergente de ctistianismo que pulow © programa de uma geragdo passada ¢ péde construir sua visio de mundo ¢ politicas estratégicas sem referéncia a um periodo da histéria que foi tio importante no Ocidente. Ha uma evidente analogia tecnolégica aqui com © surgimento da tecnologia do telefone celular. Hoje, muitos africanos pos- suem telefone celular sem terem tido, no passado, o sistema de telefonia fixa radicional. A tecnologia simplesmence pulou uma geracio intermedié ria nessa regido. Ninguém precisa ter usado o sistema de telefonia fixa para entender ou usar telefone celular. Os pentecostas, nao vendo necessidade de se envolver com memérias passadas da cristandade nem da modernidade, pas- sam dirctamente para a geracdo seguinte de ideias e abordagens Alguns sugerem que o pentecostalismo foi deliberadamente concebido como uma forma pés-moderna de protestantismo, A evidéncia histérica para isso simplesmente nio ¢ convincente. E muito mais acurado sugerir que o movimento emergiu com um ponto de vista que provou — por acidente, mais ue por designio (emborta os pentecostais, em relagio a isso, poderiam falar em “providéncia divina”) ~ estar excepcionalmente bem adaptado & nova disposigao cultural que estava surgindo no Ocidente no final do século 20 ¢ a disposigio pré-moderna predominante em todo o hemistério sul do globo. Essa adaptabilidade é uma ressondncia da casualidade, nao uma estratégia de adaptacio cuidadosamente claborada. Todavia, para os pentecostais, essa é oeraa 1co in- alismo, dade € atégias sderni- to em aultura wo de sndem com wsigbes sserva pada pulow wundo ‘com $ pos- sfonia redia- «para dese + pas- sbido para jue o mais falar nova We lobo. iade ssa é Linauas DE Foco ‘uma questio da providéncia e do planejamento de Deus ¢ deve ser discernida como tal A ressonincia do pés-modernismo no pentecostalismo é provavel- mente mais bem observada no campo da interpretagio biblica. Os pentecos- tais, embora afirmem as nogdes protestantes tradicionais da acessibilidade da Biblia e do direito de todo crence de interpreté-la, enfatizam as miiltiplas dimensées de sentido que surgem — no por causa da natureza indetermina da do texto, mas por conta da “condugio do Espirito” no verdadeiro sentido do texto, que esse mesmo Espirito inspirou originalmente, Agora, devemos examinar 0 crescimento global e a diversificagao do protestantismo no século 20, proceso no qual o pentecostalismo desempe- hou papel relevante. Nao obstante, apesar de o componente mais nume r080 do movimento protestante global atual ser de longe 0 pentecostalismo, hhé outros participantes c fatores preponderantes que tém feito contribuigbes relevantes para a dinimica do movimento nos anos iniciais do século 21 No préximo capitulo, analisamos algumas dessas tendéncias € suas poss(veis implicagdes para o futuro.

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