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ACABALAE A LENDA De Tims PAG. 10E9 A Cabala e a Lenda de Hiram Autor: Joao Anatalino Fonte’: https://g00.gl/I]3S8e Tépicos: cabala, Cain, cainita, gnose, Hiram, Hiram Abiff; Lenda de Hiram, judaismo, Mito do Sacrificado, Mito Solar, Rei de Tire, Sacrificio da Completacio, Templo de Salomao, Tubalcaim, Zohar E“ as seitas que mais influenciaram nas tradi: 6 ‘as encontramos os judeus denominados cainitas, tidos por muitos autores macons como os verdadeiros criadores da Lenda de Hiram. Os cainitas constituiram diver- sas seitas misticas, preenchidas principalmente por judeus cabalistas, que procuravam compatibilizar antigas tradiges judaicas com ensinamentos cristaos, especialmente aque- les veiculados pelos chamados cristaos gnésticos. A denominagio “cainita” vem do fato de eles considerarem-se descendentes diretos de Adao, através de Cain, de cuja geragao saiu Tubalcain, mestre artesio, hébil trabalhador de martelo e fundidor de obras de bronze, segundo a Bfbliat. 0s cainitas desenvolveram uma tradigao, segundo a qual Cain era filho adulterino de Eva com um anjo rebelde de nome Samael. Essa tradi o, que faz parte do Sepher-ha-Zho- ar, o livro base da Cabala judaica, atribui a estirpe de Cain uma familia de deménios, entre 08 quais figuram as irmés de Tubalcain, Noema e Lilith, famosas deménios fémeas da tra- digo cabalistica. © personagem que os magons conhecem por Hiram é de dificil caracterizagao. Nas crénicas bfblicas ele é citado duas vezes: em Reis 13, ele é referido como sendo um israeli- ta da tribo de Naftali, perito fundidor de obras de bronze; mas j4 nas CrOnicas (Paralip6- menos), ele é referido como sendo filho de uma mulher da tribo de Dan, perito, nao sé em fundicao de metais, como também na confeccao de obras de madeira, tecelagem , escultu- raete. Dessa forma, Hiram aparece na Biblia como profissional ligado & tradigao dos fundi dores, dos metalitrgicos, dos “sopradores”, (como eram conhecidos, na Idade Média, os * Este link abriré a postagem no Dos Alicerces, onde a fonte original poderé ser consultada, 1 Génesis, 4:22. dosalicerces.wordpress.com ACABALA E A LENDA DE HIRAM PAG. 2 DE9 trabalhadores de forja), informacao essa que o remete a Tubalcain, ¢ por via direta & Cain, o filo amaldigoado de Adao. Robert Ambelain se refere ainda a tradigao que faz de Séfora, a esposa de Moisés, uma cainita, pois que ela era filha de Jetro de Madian, lider de um importante centro de fimdigao de metais, localizado no odsis que leva aquele nome. Dessa fonte cainita Moisés teria recebido os ensinamentos secretos idticos) que nao se encontram expostos na Tord, mas que foram repassados por tradigao oral aos sacerdotes levitas e conservados pe- los essénios, que por sua vez os legaram aos cainitas cristaos. E estes, em consequéncia, os desenvolveram no corpo doutrindrio que se convencionou chamar de Cabala, cujo conteti- do esté exposto no Zhoar. A esse respeito, diz o texto de Ambel Hiram, por seu pai Ur, descende de Tubaleain, ¢ por ele, em linha di- reta, de Cain e Samael, Este, na tradigdo judaica, & 0 Anjo Rebelde, 0 Ten- tador, 0 Anjo da Morte e por morte ritual a Magonaria sacraliza o profano (.). Desa estranha tradigdio nascew un costume, o de denominar “vale” o lugar onde se reunissem certs altos graus da Maconaria (..). No século XVIII wm grupo (de magons) tomou 0 nome de * Filhos do Vale”. Num dos altos grauis magénicos, onde os membros se retinem num “vale”, o presi- dente da Loja leva o nome de * sapientissimo Athersatha” (..). Esse nome, traduzide do hebraico, significa “Prodigioso fundidor do deus forte”: Portanto, a lenda de Hiram, que teria, segundo Ambelain, sido introduzida na Mago- naria através dos “magons aceitos”, entre os quais haviam imimeros judeus, é de clara inspiragao gnéstica-cabalistica. Da mesma forma que ela é uma adaptagao do drama asivi- co, as analogias que mais tarde se fizeram entre ela ¢ a Paixdo de Cristo so frutos da li- cenciosidade interpretativa que as alegorias desse tipo permitem aos espiritos de imagi- nacao fértil. E esse talvez tenha sido o objetivo de seus formuladores, j4 que, no fundo dessa lenda, 0 que remanesce mesmo € 0 culto ao sol, conexo ao mito do sacrificado®, 2 Robert Ambelain, Op. cit, p. 84-85, (carece de correciio) 3 O mito do sacrificado é uma tradigao cultivada por todos os povos antigos que desenvelveram religiées solares. 0 “sacrificado”, no caso, € 0 proprio sol, que “morre” todos os dias e renasce no dia seguinte. E sgracas ao seu calor e sua luz, a vida na terra também tém os seus ciclos regenerativos. Em fungao dessa crenga, acreditava-se que todo perfodo de tempo deveria ser agradecido aos deuses através de um sacri- ficio de sangue, para que a terra prodigalizasse ao povo o beneficio de grandes colheitas, Essa era a renga que estava na raiz. dos chamados Mistérios Antigos. De outra forma, todos os grandes empreen- dimentos também tinham que ter um “sacrificado” para que essa obra fosse levada & bom termo. dosalicerces.wordpress.com ACABALA E A LENDA DE HIRAM PAG. 3 DED £ importante, entretanto, ter em mente que tais concepgGes s6 sao aceitaveis do ponto de vista filosdfico, do praticante do livre-pensamento, que se acredita ser 0 masom. Na verdade, o misticismo é uma forma alternativa de se explicar 0 mundo. Se suas con- cepgGes so avessas as doutrinas oficiais, ndo ha que se ver af qualquer motivo de escan- dalo. As concepgdes extraidas pelos cainitas sobre os textos biblicos sto apenas 0 ponto de vista que um grupo de pensadores heterodoxos desenvolveu sobre alguns temas polémi cos que aparecem nos textos sagrados, e que, até hoje, nao encontraram consenso entre 60s estudiosos. Do ponto de vista meramente académico merecem ser analisadas com o mesmo respeito, e cuidado, que aquelas veiculadas pelos doutrinadores ortodoxos'. Em nosso livro "Conhecendo a Arte Real” discorreremos com mais profundidade so- bre o contetido da Lenda de Hiram e a sua influén gndstica, bem como sua origem caba- listica’, Por ora é suficiente lembrar que a maioria das tradigdes dos antigos povos associa o despertar da consciéncia humana, a aquisig4o do conhecimento e os primeiros rudimen- tos de ciéncia a uma “rebelio” que afastou o homem dos deuses. Na Biblia essa “rebeliaio” est4, de certa forma, conectada com a familia de Cain. Dela, por descendéncia direta, sairi am os personagens Jubal, Jabel e Tubalcain, que na tradigao magénica estdo conectados com o Drama de Hiram. As associagdes que se podem fazer entre esses personagens e o simbolismo da Loja de Companheiros correm por conta do conhecimento ¢ da intuigao dos irmaos, mas a partir dessas informagées ja é possivel pressentir uma explicagao para a estranha trama que envolve o arquiteto do Templo do Rei Salomao. No momento oportu- no voltaremos a esse assunto. Alenda cainita que liga a familia de Hiram, fundidor, & Tubalcain, nome bastante co- nhecido dos magons nas Lojas Simbélicas, em sfntese, diz o seguinte: saloméo, ao receber de Deus a incumbéncia para construir 0 Templo, entyou em acordo com o rei de Tiro, que se comprometet a the enviar todo 0 material necessévio, bem com os téenicos requeridos para a construcio, pois em Israel nao havia profissionais capazes de realizar tal trabalho. En- tre os profissionais enviados por Hiram, rei de Tira, estava Hiram, 0 cons- 4 E também origindria dos cabalistas cainitas a exclamagao Huzz, Huzz, Huzz, que no Rito Escocés costu- ma ser utilizada na abertura eno encerramento dos trabalhos em Loja. Essa exclamagao (aportuguesada para Huzé, Huzé, Huzé) também era utilizada pelos Cavaleiros Templirios, na recepsao de seus graos- mestres. A palavra é derivada do hebraico hoschea, que significa libertador. 5 Publicado pela Editora Madras, 2006, Atualmente esta esgotado. Estamos preparando uma segunda edi- «0 para 2017, dosalicerces.wordpress.com ACABALA E A LENDA DE HIRAM PAG. 4 DES 6 A Bibi trutor, também perito em fundigao. Na ocasido em que fundia as colunas do Templo, trés israelitas invejosas, descontentes pelo fato do Templo do Senher estar sendo construide por um estrangeiro, embora Hiram fosse de origem israelita, sabotaram 0 molde que iria servir para a fundigao. Hi- ram, descobrindo a sabotagem, denunciou-a ao rei Salomdo, que, no en- tanto, ndo tomou nenhuma providéncia. No dia da fundicao, 0 mar de bronze escorreu pela multiddo que a assist, matando uma grande parte dela. Hiram foi acusado de negligéncia e abandonou o canteiro de obras. Refiugiando-se no deserto, foi tomado por uma visio. Um gigantesco ho- ‘mem barbado surgiu & sua frente: disse ser o espirito de todas os que tra~ batham e sofrem nas maos dos paderesas. Convidou-o a segui-lo. Hiram acompankou 0 misteriaso personagem, que o conduzin ds entranhas da terra, até o lugar onde habitava Enoque, pai de todas os homens de cién- cia, que no Egito se chamava Hermes. Foi entdo que Hiram descobrin os segredos com os quais foi construt: daa cultura da humanidade. Enoque, ou Hermes, ensinou-lhe todos os se~ agredos da arte de construir; apresentou-lhe também Maviel, ocarpinteiro, gue ensinow a humanidade a trabathar a madeira, Matusael que eriou a arte da eserita, Jabel que criow a arte da tecelagem, Jubal que inventou a rmiisica ¢ os instrumentos musicais e Tubalcain, aquele que ensinou aos homens a arte de curtir poles, a tecer a ld, a arte de fundir e transformar os metais, e foi pai daqueles que trabalham a forja e controlam o fogo. E depois Enoque, ou Hermes, disse a Hiram como 0 mundo foi feito: “Dois dewses criaram 0 universo”, disse Enoque: “Adonai, senhor da ‘matéria e Iblis, senhor do espirito”, Adonai criou o homem a partir do bar- ro da terra e Iblis insuflou-lhe no peito o espirito. 0 homem, que era belo € inteligente como wm deus, despertou em Lilith, deusa irma de Iblis, uma intensa paixao. Esta, em consequéncia, tornou-se amante do homem Adio. 0s dewses haviam feito wna companheira para Addo, tirada da sua coste- la, chamada Eva. Por vinganca, pelo fato de Adao ter se amasiado com sua irmd Lilith, Ibles seducziu Eva e gerou-lhe um fill, que foi Cain’. Ao saber que Cain era filho ilegitimo de Eva com Iblis, Ado 0 expulsou. Cain sepa~ row-se de sua familia celeste e dew inicio & familia terrestre. Abel, 0 outro fillo de Addo com Eva manteve-se fie ds origens, razdo pela qual o confi- to instalou-se na terra. Foi assim que acorrew a separacao entre as estruturas do céu e da terra, evocadas pela tradigio egipcia, e a expulsao do homem do paraiso terrestre, referida na Biblia, Hiram foi entdo apresentado a Cain, que fez amargas queixas contra os deuses, especialmente Adonai. Reivindicou para sia origem da ciéncia e do conhecimento e disse ser essa a razio pela qual Adonai recusou seus sacrifices, aceitando, no entanto, os de Abel. “adonai’, diz Cain, “detesta a ciéncia e o conhecimento, porgue eles tor- nam o homem insubmiisso ao seu poder”. Como os homens eresceram ¢ ‘multiplicaram-se sobre a terra, Adonai, ciumento e temeroso qite os ho- ‘mens escapassem do sew controle, resolvew destrui-los mandando que as déguas cobrissem a terra e afogasse todos seus habitantes. Mas Naé, instru {do por Maviel, o carpinteiro, frustrou os planos de Adonai construindo também se refere a essa tradigo quando fala nas belas filhas dos homens, por quem os deuses se apaixonaram e geraram filhos, os audazes “nefilins”. dosalicerces.wordpress.com ACABALA E A LENDA DE HIRAM PAG. 5 DED wma arcana qual ele salvou-se a si ¢ a sua familia, dando continuidade & familia terrestre. Por conta dessa origem lucifei na da arte metaltirgica, a Biblia diz que Deus “proibi- ra a utilizagao de ferramentas de ferro no interior do canteiro de obras do templo”. 0 “tabu do ferro” sempre acompanhou a cultura heb ca na forma de uma grande aversio pela metalurgia. Uma explicagao histdrica para essa aversio talvez esteja no fato de que, durante os anos de ocupacao da Palestina pelos filisteus, os israelitas foram proibidos de praticar qualquer oficio ligado & fundigao de metais. Era uma proibicao que objetivava im- pedir que os filhos de Israel se armassem ¢ promovessem uma revolugao. $6 no tempo de Davi essa proibicao foi levantada ¢ os israelitas puderam fundir e fabricar espadas. A tradigao cabalista vai mais longe nessa lenda. De acordo com algumas interpreta- Ges rabinicas, constantes do Zohar, a arte da metalurgia esta conectada como lado mau e rebelde da familia humana, ligada ao nome de Tubalcain. £, portanto, uma arte luciferina, de inspirag4o malévola. Um povo consagrado ao Senhor no poderia praticé-la*, $6 assim possivel entender o temor das técnicas de metalurgia que acompanha a antiga cultura hebraica. Veja-se, inclusive, que todas as experiéncias daquele povo com essa arte esto conectadas com alguma tragédia: Aarao com seu bezerro de ouro, Moisés com a serpente de bronze, Hiram com o mar de bronze etc. Dessa forma também é possi- vel explicar a utilizagao do nome de Tubalcain como senha na transpo ao do compa- nheiro para o mestre’. O Mestre Hiram nas “Velhas Regras” A Lenda de Hiram acabou sendo um denominador comum entre todas as praticas magOnicas. Hiram arquiteto é o detentor dos grandes segredos inicidticos. Ele ¢ 0 constru- tor do Templo de Salomao, cuja estrutura reflete o proprio universo. Sua morte represen- ta a transigao do profano para o sagrado, do técnico para o cientifico, do reino grosseiro 7 _AFranco-Maconatia, Op. cit, p. 81-86, (carece de corregao) Veja-se que na mitologia grega, o deus que cumpre esse papel, é Vulcano, tide pelos gregos como o deus éa forja, controlador do fogo, 0 arquétipo do deus Vuleano, que habita o interior da terra, estd conecta~ do com tradigées lucferinas. 9 Pois © companheiro, na tradigo da Maconaria, € aquele que assassina o Mestre Hiram para obter 0 se- agredo do grau de mestre. dosalicerces.wordpress.com ACABALA E A LENDA DE HIRAM PAG. 6 DE9 da matéria para o reino sutil do espirito, Pelo fendmeno da simbiose, o companheiro re- belde, que vivia no dominio inferior da consciéncia, se reconcilia com o substrato superi- or do espirito, ¢ adquire, agora da forma correta (e nao pela violencia), a sua passagem de grau. Esse foi o contetido da lenda desenvolvida para o catecismo magénico das “Velhas ido como sendo filho do rei Regras” (Old Charges). Nas Old Charges o nome de Hiram é de Tiro, cujo nome também ¢ Hiram. Tanto no Manuscrito Cooke quanto no Downland, essa informagao é referida. Horne acredita que isso & resultado de uma interpretagao equivocada da palavra Hiram Abi, que significa “Hiram, meu pai”. As referéncias a Hiram, entretanto, aparecem em varias outras Old Charges, e em algumas delas, ele é citado como sendo “principe magom”®. As referéncias a Hiram nas “Velhas Regras”, entretanto, s4o muito contraditérias. Em alguns desses an 10s manuscritos, o mestre arquiteto do templo de Salomado chega a ser confundido com o rei Nenrode, construtor da Torre de Babel. Por isso é que as infor- mages mais confiaveis sobre a identidade do Mestre Hiram ainda sao aquelas veiculadas pela Biblia e por historiadores como Flavio Josefo, por exemple. Com excegao do fato de que nos textos sagrados ele nao aparece como arquiteto, mas como fundidor de bronze, todo o contetido da lenda pode ser encontrado nas croni- cas biblicas: em Reis 13:7 lemos que Salomo “Escollieu obreiros em todo Israel, e ordenou que fossem trinta mil homens. E ele os mandava ao Libano, dez mil a cada més, de sorte que ficavam dois meses em suas casas ¢ Adoniram era o encarregado do cumprimento dessa ordem. E teve Salomo setenta mil que acarretavam. as cargas, e oitenta mil cabou- queiros nos montes; fora os aparelhadores de cada obra, em niimero de trés mil e trezen- tos, que davam as ordens aos que trabalhavam. E 0 rei mandou que tirassem pedras gran- des, pedras de prego para os alicerces do Templo, e que as facejassem. E lavraram-nas os canteiros de Salomao e os canteiros de Hirao; e os de Giblios, porém, aparelhavam as ma- deiras e as pedras para edificar a casa”, 10 No Manuscrito Melrose n* 2 de 1674 ¢ no Manuscrito Harris de 1789. 11. Reis 13-17. Os giblios, ou giblitas, eram os trabalhadores das pedreiras de Biblos, cidade fenicia que fica- va cerca de 120 quilémetros ao norte de Tiro. Essa cidade é conhecida hoje como Gebal. Nos Primeiros Catecismos Maginicos, os giblitas eram considerados como sendo os verdadeiros pedreiros, razéo pela qual o Manuscrito Wilkinson, uma Old Charge utilizada por algumas Lojas inglesas do inicio do século XVIII, continha o seguinte trolhamento para o iniciandos “P, Qual é o nome do pedreiro?”. “R. Giblita”, Segundo Horne, essa palavra ainda hoje é utilizada em ceriménias de iniciacao em Lojas inglesas e ame~ dosalicerces.wordpress.com ACABALA E A LENDA DE HIRAM PAG. 7 DES Os giblitas, no entanto, eram considerados estrangeiros. Como estrangeiros nao po- deriam compartilhar dos segredos dos mestres até que recebessem a devida elevagao. Era uma elevagao que nao se alcangava meramente cumprindo um intersticio de tempo como companheiro, ou simplesmente aprendendo 0 segredo dos planos de construgao, que eram arte especulativa, Nisso estava envolvida principalmente uma questao religiosa, € essa questo era a proibigto de que um segredo de natureza sagrada fosse revelado a pes- soas que ainda nao tinham obtido o devido merecimento. Era preciso encontrar uma for- mula que superasse esse impasse, permitindo que 0 companheiro pedreiro, estrangeiro do no seleto ¢ para as tradig&es hebraicas, pudesse romper essa barreira para ser admi culo dos mestres. Nao sendo as: na chamada Escola de Arquitetura de Salomao, que a imaginagao de Anderson colocou nos canteiros de obras do Templo do Rei Salomao acabaria se transfor- mando numa alegoria sem sentido. A solugao foi o sacrificio ritualistico do Mestre que como jé dissemos, é a porta de entrada nos Mistérios Mag@nicos. Com essa alegot Anderson introduziu na tradigao magénica dois arquétipos de grande significado histéri co, psicoldgico e religioso, que sao o mito solar, que est ua origem do mito do herdi sacri- ficado e o sacrificio da completacao. A finalidade desse sacrificio é francamente escatolé- gica, como veremos, O mito do herdi sacrificado ‘Todo magom que tena sido elevado ao mestrado na Arte Real jé fez a sua marcha ritual em volta do esquife do Mestre Hiram Abiff, 0 arquiteto do Templo do Rei Salomao, assassinado pelos trés companheiros ambiciosos que queriam abreviar o prazo de seu aprendizado e obter os graus mais elevados sem o devido mérito. A alegoria da morte de Hiram é wma clara alusdo ao mito do sacrificado. Ele est conectado, de um lado ao simbo- lismo da ressurreigao e de outro lado ao mito solar. Pois nas antigas religides solares, como vimos, o sol, principio da vida, morria todos os dias para ressuscitar no dia seguinte, apés passar uma noite em meio ds trevas. dosalicerces.wordpress.com ACABALA E A LENDA DE HIRAM PAG. 8 DED Assim como toda a teatralizacao dos Antigos Mistérios, fosse na Grécia ou no Egito, ou em qualquer outra civilizagao que praticasse esses festivais, mais do que uma simples homenagem aos deuses protetores da natureza, esses rituais simbolizavam a jornada do espirito humano em busca da Luz que lhe daria a ressurreigao. £ nesse sentido que a mar- cha dos Irmaos em volta do esquife de Hiram, sempre no sentido do Ocidente para o Ori- ente, nada mais & que uma imitagao desse antigo ritual, que espelha a ansiedade do nosso inconsciente em encontrar o seu “herdi” sacrificado (ou seja, o sol), para nele realizar a sua ressurreigao, Pois o sol, em todas essas religides, era o doador da vida. Ele fertilizava a terra e fazia renascer a semente morta. Destarte, toda a mistica desses antigos ritwais ti ha essa finalidade: 0 encontro com a luz que Ihe proporcionaria a capacidade de ressur- O sacrificio da completagao Conectado com esse simbolismo, os antigos povos, em suas tradigdes inicidticas rela- cionadas com grandes obi S arquiteténicas, desenvolveram 0 chamado “sacrificio da completacao”. Esse sacrificio consistia em oferecer ao deus a quem era dedicado o edi um sacri jo de sangue, que podia ser o holocausto dos inimigos aprisionados em guerra ou pessoas escolhidas entre prdprio povo. Muitas vezes essa escolha recaia sobre mulhe- res virgens (as vest ) ou jovens guerreiros, realizadores de grandes feitos na guerra. Acreditava-se que assim os deuses patronos dos poderes da terra se agradariam daquele povo, prodigalizando-Ihes fartura de colheitas e proteg4o contra os inimigos”. Esse tema remonta a antigas lendas, cultivadas pelos povos do Levante, segundo 0 qual nenhuma grande empreitada poderia obter bom resultado se nao fosse abengoada pelos deuses. E essa bengao era sempre obtida através de um sacrificio de sangue. Esse costume era praticado até pelos israelitas, como prova o texto biblico ao informar que Sa- lomo, ao terminar a construcao do Templo “sacrificou rebanho e gado, que de tao nume- roso, nem se podia contar nem numerar"™. 12 Veja-se o relato biblico em Juizes 11:30-31, na qual o juiz Jefté sacrifica a prépria filha em razio de um voto feito & Jeovd. 13 Reis 1855. dosalicerces.wordpress.com ACABALA E A LENDA DE HIRAM PAG. 9 DED Dessa forma, na Maconaria, o Drama de Hiram tem uma dupla finalidade inicidtica: de uma lado presta sua referéncia ao culto solar, sendo Hiram, nessa mistica, o proprio sol que & homenageado; de outro lado, cultua o heréi sacrificado, pois & nele que se consuma a obra magénica. E dessa forma, a principal alegoria do ensinamento mag@nico assume o seu verda- deiro e real significado. dosalicerces.wordpress.com

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