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NUNES, Jeaquunny joc. Cornel de Farmaco Hohner Pra puso tad. Bolten humana Claruca, bditirgs, 1967. p 03-18 Introducado Origem e evolugio do portugués; elementos de que se compée 1. 0 latim entre as linguas indo-curopeias. — ti hoje ponto dofinitivemente assonte © incontroverto, que a ling tnguesa no passa de transformapao, lenta e sucestiva, 1 através dos séealos, de wma que tomara o seu nome da regiso onde se desenvolvera, o Lécio, a qual por sua ver era também transformagio do outra, falada por um povo sem assento ou habitagio a ciéncia ainda nao conseguin doterminar. Deste povo, conhecido pelo nome de dria ow ariano (!), sairam diferontes tribos, as quais, disseminando-se pola Europa e parts da Asia, levaram consigo, a par das orengas ¢ civilizagao da mi comum, @ Hagua que tiuham aprendido no bergo. Poi esta, a que se convencionou dar 0 nomo de tndo-ewropen © onjo aparcci- mento so porde na noite dos tempos, quo, continuando talvez as modificagdes j& oporadas no primitive territério, dou origem as vrias Iogaas donde provém quaso todas as actualmente em uso na ‘Europa e muitas na Asia (2). Bm igor esta denominagio 26 partones aos povos que falarein 0 (0 indoweuropen fra eeoutomente descoborto na indopondentes, provém todas ‘niea © arménio, afora 0 toeari Dos sete primeiros, tornados lings 4 GRAMATICA HISTORICA PORTUGUESA Entre aquelas uma sabreasai pola sua sorte © destino ver- dadeiramente notéveis—a latina, Falada a principio por um poro dimiauto © de costumes bérbaros, teve ela o raro condi de, transpondo 0 paqueno territério onde era usada, suplantar as Moguas no s6 da Tvilia, mas também de grande parte do Sal © Contro da Enropa e@ ainda do Norte da Afri soguindo sempre de vitéria om como 4 pero quo 2 falara, até so tomar a iinica dominante numa extensio enorme ao terreno. A sorte préspera quo a acompauhon om vida do poro romano no so extinguiu com o desaparocimento do domiaio deste, mas, a0 contrério, seguindo-a sempre, fez quo ela, transpondo os mares, fosso implantar-so ainda nas restantes partes do mundo, sendo hoje a que abrango mais vasto territério, 2. Latim vulgar ¢ literério,— Nesta lingua, do destino ta brithante, temos do distinguir duas feigies principais: a popular ou falada e a Titeréria ou escrita, Aquela ora a usada pela plebe, isto 6, polas pessoas incultas ¢ analfabotas, esta a que nés conbece- wos pelos eapléadides monumentos que constitnem a literatura latina. Ainda ontre uma e outra dove-se enumorar a que as pessoas idas emprogavam em familia, wa conversagao entre parentes, amigos © conhecidos, como sucode ainda hoje, que so distingue a fala das pessoas inteiramente desprovidas de cultura das que © 0 so, as quais usam do vocabulério mais extenso esco- Iido © do frase mais limada 0 correcta, ainda que nfo tanto cai dada ¢ polida como quando escrevom, especialmente com intenco literdria, A existéncia das diferentes feigdes quo o latim tomava, quando falado pela gente rude ou polas pessoas ilustradas entro si, 6-nos actualmente faladas ma Burops, com excepeio do turco, do_grupo_uralo-inés edo basco, Para mais alguns asclarecimentoe vejirae 0 livrivho de valgar’ Bayo Into-germaniscke Sprachwissenchaft de Meringer (coleepio Gisch: para_maior desenvolvimento da matéria consulte A, Millet, Introduction 4G Lélude comparative des langues indo-européennce; ai 9 encontrar uma cxtonan bibliografia do quo hé de melhor publicado aeerea do assunto, INTRODUGKO 5 atestada pelos escritores, quo dfo A primeira o nome de sermo vulgaris ¢ & segunda o de consuetudo ou sermo catidianus ; infeliz- mente nenhut meio nos transmitiu a tradipio, quer oral, quer eserita, por onde hoje possamos surpreender a mansira como s¢ diferengavem na prontincia aquelas duas classes de pestoas; apenas pelos escritos som pretensdes litoririas, como si0 os diplomas on inscrigies, pelas correcpdes encontradas nas obras dos gramaticos somos informados de que tal palavra tomava na boca do povo forma diferento da usada pela lingua literdria. ff claro que nos primitives tempos, quando a sociedade romana ora constituiia apenas por indi- viduos sem oultura intelectual, aquelas divergéacias nao existiam, todos emprogavam a mesma fala—6 a fase arcaica. Decorreram, poréa, 08 ancs ¢ Roma foi estondendo o sen dominio, conqnistando Pores, tomando cidades © pondo-se ao mesmo tempo em contacto com civilizagSes mais adiantadas, as quais foram a poueo © pouco modifi- cando 0 seu cardcter, rude ¢ grosseiro, A. mesma transformapao reali- zow-so na lingua, quo foi gradualmente perdendo a antiga rusticidade © adquirindo maneiras cada vox mais corteses, © do dura © fspera tornou-se suave ¢ barmoniosa, mere? das diligéacias empregadas nosta sentido por Livio Aadronico, Pactvio, Névio e principalmente aio, a quem cabo justamente o titulo de criador da agua literdria. Os esior- 08 destes pootas, combinados com os dos qua se Ihe ram que, polos meados do século 1, antes de Cristo, fosse um diamante facetado, polido ¢ brilbante o que tinba sido um svixo bruto, cheio do arcstas © escabrosidades. Aquela Ifogua revolta ¢ movimontaday como a plebo que a falara, sem dique que obstasse as suas quaso iécias transformagbes (1), viu-se do repento detida na sua evolugéo; & antiga mobilidado sucedeu tal on qual fitides; 0 quo até ai fore instavel tornou-se defiaitivo; o vocabuldrio enriqueceu-so; a exprossiio soguiu regras certas; nama palarra, a fala, ristica e imprépria para traduzir © que passasse da osfera animal, a antiga grossaria adquiriu Aentro om pouco sonoridade, elegiacia @ nobreta tais que para ela o () Tals © tantas tinham sido as alterapies por quo havin passado a Hague que j Cicero e Horécio confessuvam depois no entenderem am gue tinbam ido escritos os antigos documentos. 6 ORAMATICA HISTORICA PORTUGUESA reproduzit conseps5es sublimos, as mais elovadas imagens posticas, era ficil tarofa. W claro quo a Grécia, quo, no dizer do Horécio, do avassa- Jada se tormou avassaladora (), contribuiu mais quo uenbuma outra das nap5es com que os Romanos so tinham posto em con- faclo para esta tamanha revolugao; a Ieitura dos seus poetas irow naturalmonte 0 desejo da imitagio @ 0 conhecimento, cada vex mais difandido, do grogo, foi um auxiliar valioso para © aporfeigoamento da lingua; de tal maneira aquele influin nesta, que por fim 0 seu Iéxico, a sua versifleagio © sintaxe eram em grande parte gregos. Mas, onquanto assim se aperfeigoava a antiga Iiagua, que, comparada com a moderna, poderia parecer diforente desta, 0 povo continuava a usar a fala arcaiea, alterando-a de continuo, embora no to radicalmonto agora como dantes, om vista do sou contacto com o sermo eotidéanus, que, sendo empregado pelas 1mesmas pessoas quo so sorviam da Tingua literéria, Ihe impunha tal ou qual barroira. Extinto, pordm, 0 sermo cofidianus, a quando da irrupe20 dos bérbaros, com 0 desaparecimento da classe que o félava e@ com ela da caltura intelectual, aquela arreira desaparecon @ as tondéncias modificadoras, até ai mais ou monos represedas por aquele no sermo vulgaris, agora com- pletamente livres @ desembaragadas, ostentaram-se em toda a sua janga, e como os que falavam a nova lingua eram quase todos og quo faziam parte do vasto império, foi ela que por fim trinnfou, Bra natural que as modificagdes que, desde longa data, so vinham operando no Iatim vulgar tivessem por objecto especialmente a fonética, porquanto so os sons que ua lingua mais sujeitos estao a sor alterados. Muitas dossas moditicagdes tinbam-se dado ji, quando os primeiros pootas trataram do eriar a Mogua literéria Assim haviam permutado com outras © até desaparecido muitas vogais que jé de sua natareza soavam fracamente, isto 6, 6m cuja @) Graccia capta expit ferwm viotorem, Bpist. 1, 1, 156, INTRODUGKO 7 promitucia a vor #0 detinha a metade do tempo que noutras, por- quanto, sendo o acento a principio, segundo parece, do intensidado, 6 esforgo maior com que era proferida a silaba inivial de qualquer ‘vocdbalo devia naturalmente fazer quo as seguintes fossem pronun~ ciadas com forga muito menor, por assim dizer, quate de raspio, de ‘modo que as suas vogais chogavam ao ouvido muito atenuadas, quaso inaudiveis, sobretudo quando as precadiam fonewas que podiam encos- tar-se aos que vinham logo atrés doles ou elas préprias impediam a formapdo de grupos consonaaticos (Lau(ijtus, cau()tus, wi(a)las, dox(iJtor, inf(e)ra, sup(a)ra, etc.). As radugdes a vogais, quo tinham sofride 03 ditongos ai, ef, of, eu, ou, ajuntavam-so ainda as dos ae ¢ ce em ee também de ax em o om muitos casos (of. coda, lotus, Clodius, etc. ao lado do cauda, lautus, Claudius, ote); das consoantes, sem falar no d final, que cafra om seguida a vogal longa, algumas foram também modificadas; assim 0 b © 0 v, que dautes so distingaiam na promiincia, vieram a confundir-s0; 0 # 8 om finais tinham tomado um som tio surdo que por fim do ouvir-s6, rosultando do af o desaparecimonto do género neutro, pela confusio entro ele © o masculino; o ¢ impuro, isto é, inicial de palayra e seguido de consoanto, tomon um ¢ de apoio; 0 me om, quando postos antes do Iabiais do mesmo grau ou de dentais, ou dei- xaram de sor proferides on pelo menos tornaram-se bastante fracos. ‘A flexio verbal sofeu também grandes transformagdes, porquanto certos tompos desaparceoram © em Ingar deles surgiram outros; nalguns alterou-so a mancira da sua formagio © até muitos vorbos mudaram de conjagagio. O desaparecimento da distingtio entro 0 masculino e 0 noutro fez que o plural destes s¢ confundisse com o8 nomes do toma em -a; outros mudaram de declinagio; até esta, em consequéacia do mencionado enfraquecimento do s © m finais, ficou bastante reduzida no mimero dos sous casos; a8 diferengas que oxi tiam nas desinéacine casuais de cartas palavras, como om mul tus, alius, alter, otc., desaparecoram. A tendéncia para a uniformidads, quo 6 uma das feigdes mais caracteristicas do latim vulgar, mos- tra-so na ampliagio que ele for do suixo fer avs advérbios derivados do adjectives de temas em -a ou -0, ressuscitando assim um processo antigo. A vitalidade dessa nova Iiagua, om contraposigio com @ rigi 8 GRAMATICA HISTORICA PORTUGUESA dlez © severidade da oficial, rovela-so na preferducia que dé aos sudxos -monia, -monium, -montum, -ola, na criagio do muitos Adjectives em -ilis, -bilis, -aster, -dius na detivagio do vor- bos, tirados de adjectivos om -ficus (pacificare, mortificaro) ¢ -idus (frigidare, candidare), Tondo sempro om vista a cla- a Magua vulgar evita os modos de dizer complicados que tornar obseuro 0 pensamento. Por isso, enquanto a lingua ia se serve muitas vezes de oragdes infiuitivas, principal mento com os, verbos que sigaifieam sentir © declarar, a popular Prefere, como mais clara, a conjancional (intogrante); pelo mesmo motivo faz pessoais certos verbos impessonis, como poenitet ¢ cntros. Continuando um velho proceso, omite 0 substantive, quando este facilmente so subentende, dizendo sinistra, tertiana, persicum, ote, om vex de manus sinistra, febris tortiana, malum persicum, etc, Na adopedo de palavras estrangeiras, que 0 contacto com outros povos o forga a admitir, 0 Intim popalar adaptaras & sua fonética, sem se preocupar com as formas que do ai resultarfo @, como ainda hoje faz 0 povo, se conheca alguns sons que com esses s9 paregam, trata de os assimilar pelo pro- costo conbecido pelo nome do elémologia popular. Foi assim que na boca do povo, por exemplo, 0 nome antigo da Escécia, Coloddon, isto 6, pais coberto do ospessas florestas, so transfor. mou em Caledénia, como quem dissesso terra célida. Sentindo apecial predilecsio pelas palarras cheias © sonoras, alooga por moio de sufixos os antigos termos, dizendo, por exemplo, *calca- neare, *ilicinus, *coratio, sperantia, *talparia, articulus em ver de caleaneum, ilex, cor, spas, talpa, artus; choga & Iangar mao de modos de diser perifrasticos, como matutino tempore, hac hora em lugar de mane ¢ nune, Pela moma anf, 208 vorbos simples prefere os compostos, com frequéncia fal que se chega a porder a ideia acesséria que distinguia estes daqueles, como sucede especialmente com os incoativos « fre- quentativos; 0 sufixo adverbial -ter 6 substituido polo substan * choga até a adicionar a adjectivos ja no grau com Parativo o sufixo que Ihe 6 préprio, embora a sua tendéncia mais pronunciade neste pouto soja a formagko perifréstica; nem INTRODUGKO 9 mesmo hesita em justapor duay ou mais proposigoos, Na sintoxe amplia cada vex mais o emprego da preposigto a substituir os casos, substitaipzo que por fim a confusto @ de af a porda das dosinéucias casuais tornam cada ver mais necesséria. O emprego das metéforas, de uso tao frequente na boca do povo, toma maior incremento, dando a linguagom uma feipio mais viva original (), Tal ora a Itugua falada pola plebo romana. B, como os comerciantes, soldados @ todos quantos Roma onviava a coloni- tar 0 sou cada vez mais vasto império, na sua grando maioria, fam das camadas populares, foi também ossa a lingua quo so impos aos povos vencidos, no do uma maneira brutal © deepé- ‘ica, mas suave © lentamente. Com efeito, Roma por meio duma politica extremamente abil atrafa a si os povos conquistados, ja doixando-Thes as suas franquias, jé, com a organizagao dos muni- sipios, dando-Thes ainda libordade maior do que antes gozavam, © por fim, igualando-os em direitos e regalias a todos os cida- dios romanos, cumulava-os do houras @ dignidades. Demais as Vinguas que esses poros falavam—na sua maioria variedades do alta —estavam aparentadas com o latim e deste modo mais facil s0 tornava a sua implantagio, As modificagses, porém, quo, como vimos, s tinham operado no sermo vulgaris nfo cossa- vam de progredir; embora monores desde que ele so achara om contacto com 0 sermo cotidianus, 14 iam contndo prosseguindo pouco © pouco a sua marcha demolidora. Era natural que essa marcha forse mais acolerada fora da metrépole, onde o convi com romanos cultos devia ser muitfssimo menor; quase que exclu- sivamente entregue a si, a fala popular continuava a altorar.so de dia para dia, Acrescente-se a isto 0 contacto didrio com possoas que, tendo embora abragado a lingua dos vencedores, conservaram fatalmente a autiga promincia, dando aos novos (1) Sobre esto assunto of, 0 exselente livriaho do 0, Weite Carakteristik der lateinischen Spracke (também tradusido em {rancbs por Antoine, sob o titulo ‘Les Carastéres de la Langue Latine, Paris, 1896 Klincksisck) de quo prineipal- mente mo servi, 10 GRAMATICA HISTORICA PORTUGUESA sons a mosma entonago com que costumavam proferir os seus, © ainda a influéncia do moio © outras causas 0 chogar-so-6 a comproonder como foi quo uma Ingua quo, nao divergindo a prinefpio na sua esséneia desde o Mar Negro ao Atlantico ¢ do s9 achara, pelos séeulos vir ou vin, fraceionada om tantas, jé a este tempo porfsitamonte distintas, quantos eram os Estados entao constituidos, Mas, a par dessas linguas, como as divergéncias se davam quase de cidade para cidade, eram om grande miimero os seus dialectos, Numas partes, um vooabulo alcangara maior voga do que noutras; aqui ora uma expresstio que cafa para dar lugar outra, formada pelo processo de deri- vagio; eaquanto além so usava um modo de dizer desconhocido nuutras regides, mais para li, porque as transformagies fonéticas toravam uns voesbulos semelhantes a outros 0 isso era motivo de obscuridade, recorria-se & sinonfmia, indo ressuscitar outros ja mortos on com os seus elementos fazendo novas eriagbos. Bis, pois, 0 que deu a cada lingua a sua feipfo especial, tornando-2s complotamente diferentes umas das outras, @ como da lingua ‘iniea, falada no vasto império romano, ou do romango safram as latinas, que sto, a principiar no Oriente © a vir torminar no Ovidente, para s6 enamorar as mais importantes dontre las: © romeno 01 valéguio, de que s8 servem 08 povos quo habitam a Davia inferior do Dandbio, 0 étaliano, em uso na peninsula do mesmo noma, 0 ladino, que se ouve na Sufga oriental (cantao dos Grisdes), © provengat © frances, falados pelos habitantos da antiga Gilia, 6 finalmonto 0 porfugués e espanhol, em que se expti- ‘mem os povos que demoram na peninsula ibérica. 3, Baitto latin e latém bévbaro.—Com 0 desaparecimento da nobroza romana pela irrupgdo dos bérbaros 0, como consequéacia, das oscolas © cultura intolectual, reeebeu o latim literdrio, um golpe, que podemos chamar mortal; quaso agonizante, acolheu-se aos mosteiros onde foi recebido ¢ tratado com carinho. Embora nao com a perfeigio do um Cieero, continuon a ser escrito; o3 preceitos da sua gramdtica no deixaram de obsorvar-s0; a0 que no so podia eximir, era a sofrer a infludncia das ideias novas para as quais procisava de criar termos, quo necessdriamente ia pedir as aguas faladas. Mas, ao lado deste } inTRODUGKO uu lati, a que se dé 0 nomo de Baixo © que, em toda a Iade Média e ainda depois foi a Iingua oficial da ciéacia, omprogavam os tabeliées, nos documentos que redigiam, outro inteiramente difo- rento, que desconhecia quase por completo as regras gramaticais, 20 pasando de férmulas latinas estropiadas, de mistura com vocdbulos que cles iam procurar as Hoguas do quo so sorviam nas suas relagBes quotidianas, omprogando-os quer na sua forma viva, quer dando-Ihes aspecto latino, fi este latim bdrbaro, de que o3 cartérios nos ministram bastante testomunho nos contratos, testamentos, doagies © outros documentos, do grande importncia pelo conbecimento que nos subministra da existéncia da lingua vulgar, como adiante se vord. 4. O portugues entre as linguas romanioas, — Como sucede 4 mor parte dos povos conquistados pelos Romanos, também ot Hispanos trocaram as suas antigas Ifaguas pola dos conquistadorcs, com o3 quais so acharam em contacto logo nos comeros da segunda guorra pinica, isto 6 no terceiro século antes de Cristo, Roma, a quom Anfbal declarara guerra, tomando Saganto contra as convengd2 assontes entro ela e Cartago, aprosson-se a enviar tropas A peninsnts, as quais, ora voncidas, ora voucodoras, conseguiram por fim expulsar dela os Cartagineses o implantar ai o sex dominio, Saperiores om civilizagio aos Hispanos, nfo tardaram os Romanos em atral-los a si, fazende-Ibes abragar os seus usos ¢ costumes e por iltimo a sua lingua, por forma tal que, passado tempo, # romanizngo da Hispania era to complota quo até a lingua litordria encontrava em muitos dos sous filhos excelentes cultoros. As imimeras inscripdes achadas om toda a peniusula, a enorme abundancia de restos de antigas constru- ges romanas, das quais muitas rivalizam em luxo com as doscober- tas na Itilia, sto prova irrefragévol desta completa romanizagio, que alias nos 6 atestada por Bstrablo, gedgrafo grego quo viveu no pri- meiro sécalo da era cristi, o qual, falando dos Tardetanos 9 outros poros das margens do Bétis (Gundalquivir), diz que oles adoptaram do todo os costumes romanos, chegando até a esquecer a propria Iin- goa (), 6 natural que e influducia romana se tivesse feito sentir () Googeafia, ar, 11,15. 12 GRAMATICA HISTORICA PORTUGUESA primeito nos contros mais povaados; das cidados estendor-se-ia depois s aldeias © de aqui iria a pouco @ poco penetrando nos campos montanhas, que por fim se deixariam também submeter. 4) Sogundo o tostomunho do autores gregos © romanos © indieagios subministradas pelo onoméstico, vérias Hoguas s0 falaram na peniasula, mas delas as mais importantes eram cer- tamonto o basco, que a alguns se afigura como a lingua dos mais antigos habitadores, © 0 cela, nalguns dos sous numeros0s dialectos, linguas estas sem lags algum de parentesco que as prenda, 4) Foi cortamente devido a afiuidade quo dissomos existir entre © latim © 0 celta quo os homens que o falavam nao tiveram dificul dade do maior om adoptar a lingua dos eonquistadores ; j& nao suce- den 0 mesmo ao basco, que continuon a resistir ainda demina em parte, embora diminuta, da Espanha e Franga. Quanto ao latim, travido para a Hispfaia pelos Romanos, nenhuma diferenga esson- cial existia ontro elo © 0 falado nas demais regides, quando muito apresentava leves altoragdes na sua fonética, como parece edntir-so da comparagdo do algumas formas acusadas hojo pelas duas prineipais Iinguas da ponfasula —o castelhano © 0 portugu’s — com as que Ihe correspondem noutros idiomas ¢ 0 latim classico, © possnia certos vocdbalos, desconhecidos dos outros povos sujeitos & dominapio romana, 0 quo alidés mais ou monos acontecia nos rostan- tes paises. Alguas dostes voedbulos, quo podoremos classificar de dialectais, encontramo-los j4 nos escritoras clissicos, que os citam como peculiares & Hispinia, outros sio-nos subministradoe por inscri- 9008 dos séoulos quinto @ sexto, encontradas em territério sitando quor dontro dos limites da Lasitfinia, Sanio Isidoro, bispo de Sorilha, que Originos (Btymologiag), grande enciclopédia na qual rouniu dife- rentes noticias a respeito do coisas divinas @ humanas, ciéncias exac- tas, ete.; sao, entre outros, por oxomplo: aera, astrosus, barca, bostar, caballus, cama, eapanma, lancea, lausiae, lorandram, mantum, paramus, sarna, serra 40, viveram @ ainda vivem nos dois citados idiomas. Destes vocd- alos © doutros que nao perdararam a maioria era comuim a toda ow | t | INTRODUGKO 13 quase: toda a Romania, segundo se déduz da eua ropresentagao na mor parte da lingua de origem latina, mas alguns hé também que se devem ter por oxclusivamente hispano-lusitanos, visto que sé na penfusula subsistem; decerto existiam j& como restos talver dos seus mais antigos habitantes, quando’ ela foi submetida pelos Romanos, quo 08 adoptaram, conforme tinham procedido com muitos de outras egies. ) Mas, s0 a lingua, trazida poles vencedores o por estes feita babilmonte adoptar pelos vencidos, seu imposigdes, nem constren- gimentos, era na sua esséueia a mesma quo eo falava no vaeto territério por eles conquistado, na fobética cobrotudo divergia do regito para regido, até mesmo de cidade para cidade; do af os numerosos dialectos em quo o hispano-tomano so cindiu. Destes tem para nés particular interesse un que &e usava nas margene do rio Minho ¢ ao qual podemos dar 0 nome de galécio-pertuguds, pois foi dele que mere? das diferencas quo mais tarde vieram alterar a sua homogeneidade, primitivamente quase completa, se originaram depois as duas Iinguas faledas om toda a faixa ocidental da peninsula — o galego © 0 portuguée, No resto desta fhixa devia ter-se desenvolvide outro dialecto, provivelmente muito semelhante aquele, dada a sua proveniéncia comam —o latim vulgar» a pequena distancia a ambos so achavam um do outro, mas uo qual, é de erer, existiriam diferengas de que nfo podemos fazer juieo, a falta do testemunbos cartos @ positives. O convivio com os arabes, que nalguns, os mezi- rabes ou mogdrabes, era 20 fatimo que chegavam a adoptar 03 costu- mes daqueles, deve naturalmonte tor exercido alguma inflaénei sua linguagem, mas que gran ossa influsocia atingiu & imposct hoje calcular; quando muito podemos ayspaita-la através dos nomes subministrados pela toponimia e algun’ termos que s9 nos deparam ‘om cortas falas das provincias da Hstrimadura, Alentejo © Algarve. Mais tarde, pela reconquiste do Sul, feita por homens do Norte, 0 romango qué estes falaram, quo era o galego-portugués, absorven of idootificou-s0 com o ali om uso, resultando dessa fusio para todo 0 territério, conhecido pelo nome de Portvgal, no reinado de Afonso III, uma Tiogua Gniea, na qual nfo obstante continuariam a existir a8 pequenas divergéncias que ainda Boje so observam o dio ori- 14 GRAMATICA HISTORICA PORTUGUESA gem aos varios dialectos em que actualmente se divide a lingua portuguosa (!. E impossivel fixar a data do aparocimento do idioma do que hoje nos servimos ¢ tem sido instrumento de uma brilhante litora- ura; to-pouco se pode determinar a época precisa em que os eons do latim popular 0 transformaram nos portuguoses que Ihes corres- pondom; essa transformapio nao surgin de repente, mas foi-se opo- rando Ientamente; como qualquer ser vivo que, antes de atingir a forma quo o distiague dos outros, passa por fases diversas, que Ihe vio alterando as foigdes, as linguas, antes do se fixarem, sofrem suceasivas 0 constantes modificagdas. Assim, por exemplo, entre os Yooébulos latinos factu- ¢ falce- 0 os actuais feito e fouce devem admitir-so 03 intormédioe * faito © * fauce. Igualmente pessoa, v. g. nao surgiu de um jacto do porsona-; esta palavra na boca da plebo romana soava *pessona-, dani pela rossonancia especial comuni- cada & vogal pela nasal seguinte, passou a pessoa e desta forma 2 1, donde trés estédios para o mesmo vocdbulo, sem que se possa dcterminar quando um desapareceu, para dar Ingar a0 outro, Mas que & nossa lingua jd existia no séeulo rx, provam-no os documentos }@ dessa data afastada nos rostam. Eseritos embora em latim bér- © com muitas férmulas comans a outras nagdes, como nao deixar de suceder, tratando-so de usos idénticas, aparccem . além ds vocébules que o notério evidentemente latinizou, como dubladox, pumare, etc, muitos com feipao © cunho portu- gnoses. $6 do século xu em diante 6 que comegam a aparceer documentos escritos por completo on quate por complete om por- tagads, som quo todavia se pusesse totalmente de parte o latim bir- (}) Porque uns existem no continente e outros vivem nas iIhas epossessdes noctaguesas, classiicam-se estes dialectos em continentai, insulares e wltrama- ‘rinos pertencem aos primeitas os seguintes: interammense, transmonlano, beirdo © merilional, aos quais 6e compreendem, como os seus nomes indieam, of falarss ‘to Minho © Donte, Trés-os-Montos, Beirae © maie provfaciss de Portugel; fazem paite dos segundos estes: aciriano © madeirense; e entram no niimero dos tor- cniros 05 que ostdo om uso a0 Brasil, fadia Portag Maoss, ofc. Para mais esclacesimentos, rejarse Leite de Vaseoncelot, Dialectologie Portupaise, pigs, 28 a BL » 155 a 202. INTRODUGAO 15 aro, que ainda persistin por muito tempo. Quase pela mesma época, a poosia sobrotudo apodera-se da lingua falada pelo povo 0 cleva-a & dignidade de literéria. Como j& sucedera om Roma com o latim, segundo vimos atrés, o portuguds desde entio cinde-se ¢ toma duas feigées, que cada vor so vio afastando mais, a popular ea literdria ou culla, as quais tém chegado até nés, Fixando-o pola oscrita, a literatura voio nfo 46 om parte por um dique as transformagdes fonéticas, que necessariamente continuariam a operat-so com a mesma forga que antes, mas sobretudo darlhe earictor mais alatinado, porquanto além de proscrever muitos vocabulos de antiga formagio popular, que substituiu por outros de formago uova o inteiramente artificial, introduzin também bastantes eultos. Aqui, como 1é fora, @ leitura dos livros latinos, especialmente os do caricter religioso, nunca cessou; dessa loitura havia do forposamente ressentir- Mngua. Com efsito, precisando do tradusir para vulgar ou romance como onto so dizia, algumas dessas obras, o8 respectivos tradutores, fou porque a fala popular Thos nao oferecia equivalente 20 tormo latino, ou por prurido do erudipdo, trasiadavam-no para portugaés, dando-Ihe feigéo nacional, quo todavia nto passava de artificial. B que essas tradugdes estavam muito om voga na Idade Média, dé-nos disso tostomunho ol-rei D. Durte, que no son Leal Consetheiro chega & formular as rogras para bem traduzir. ff a estes vooibulos, que as versées do latim por meio da Ieitura introdoziram na lingua priaci- palmente nos séculos xiv 0 xv, quo 80 dé o nome de cultos. A par estas, oatros hi, ox semi-cultos, que, postos a correr pelos literatos ‘om época mais antiga, foram recebidos pelo povo quo Thes for. softer modiflcagdes que os aproximam dos que constituem a base da lingua, 03 populares, quo sho aqueles que, recebides directamente dos roma- raze também romango; parece-me, porn, que ‘ota forma precedeu a indicada acima, a ajeizar da sua ororrtucia na conclasto de uma Regra de 8, Bento, insorta no cédice aleobaccase v.° 73 (antigo 326), no sdeulo xv, enquanto nume cdpin da mesma, mas feta sem 292, antigo 981, fole. 47 v) lé-se romance de Vasconcelos, Lipiea de Fitologia. Portuguesa, (2) Em sentido idbatico us sabre esto voctbalo pig. 14, nota & 14 GRAMATICA HISTORICA PORTUGUESA gem aos varios dialectos em que actualmente se divide a lingua portuguesa (!. E impossivel fixar a data do aparocimento do idioma do que hoje nos servimos ¢ tem sido instrumento de uma brilhante litora- ura; to-pouco se pode determinar a époea precisa em quo os sons do latim popular 0 transformaram nos portuguoses que Ihes corres- pondom; essa transformap%o no surgin de repente, mas foi-s0 opo- rando Ientamente; como qualquer ser vivo que, antes de atingir a forma quo o distiague dos outros, passa por fases diversas, que Ihe vio alterando as foigdes, as linguas, antes do se fixarem, sofrem suceasivas 0 constantes modificaydas. Assim, por exemplo, entre os Vooébulos Iatinos factu- ¢ falce- 0 os actuais feito e fouce devem aimitir-so 08 intormédioe * faito o * fauce. Igualmente pessoa, ¥. g. nao surgiu de wm jacto do porsona-; esta palavra na boca da plebo romana soava *pessona-, daqui psla rossonancia especial comuni- cada & vogal pela nasal seguinte, passou a pessoa e desta forma 2 1, dondo trés estédios para o mesmo vocdbulo, sem que se possa doterminar quando um desapareceu, para dar Ingar a0 outro. Mas que & nossa lingua jd existia no séeulo rx, provam-no os documontos © dessa data afastada nos rostam. Eseritos embora em latim bér- vo © com muitas férmulas comaas a outras napdes, como nao podia deixar de suceder, tratando-so de usoa idénticos, aparcoom neles j além do vocébulos que o notério evidentemente latinizou, como dubladox, pumare, etc, muitos com feipao © cunho portu- gnoses. $6 do século xu em diante 6 que comegam a aparceer documentos escritos por completo on quase por completo em por- tagaés, som quo todavia se pusosse totalmente de parte o latin bir- (}) Porque uns existem no continente e outros vivem nas lIhas epossessdes poctuguesas, classiicam-se estes dialectos em continentai, insulares e ullrama- portencem aos primeitas os seguintes: interammense, transmonlano, beirdo © meritional, aos quais 6e compreendem, como os seus nomes indieam, of falares io Dinko © Douto, Tris-os-Montos, Buiras 0 mnie proviaciae de Portugal; fazem parte dos segundos estes: aevriano » madeivense; e entram no miimero dos tor- cairos 05 que ostdo om uso a0 Brasil, fadia Portag Maoas, ofc. Para ais esclacesimentos, rejarse Leite de Vasconcelos, Dialectologie Portuga pags, 28 a 31 o 155 a 202. INTRODUGAO 15 aro, que ainda persistin por muito tempo. Quase pela mesma época, a poosia sobrotudo apodera-se da Iingua falada pelo povo 0 cleva-a & dignidade de literéria. Como j& sucedera om Roma com o latim, segundo vimos atrés, o portuguds desde entio cinde-se ¢ toma duas feigées, que cada vor so vio afastando mais, a popular @ a literdria ou culla, as quais tém chegado até nés, Fixando-o pola oscrita, a literatura voio nfo s6 om parte por um dique as transformagdes fonéticas, que necessariamente continuariam a operat-so com a mesma forga que antes, mas sobretudo dar-lhe earictor mais alatinado, porquanto além de proscrever muitos vocabulos de antiga formagio popular, que substituiu por outros de formago uova o inteiramente artificial, introduzin também bastantes eultos. Aqui, como 1é fora, @ leitura dos livros latinos, especialmente os de caricter religioso, nunca cessou; dessa loitura havia do forposamente ressentir- Mngua. Com efsito, precisando do tradusir para vulgar ou romance como onto se dizia, algumas dessas obras, o8 respectivos tradutores, fou porque a fala popular Thos nao oferecia equivalente 20 tormo latino, ou por prurido do erudipao, trasladavam-no para portugaés, dando-Ihe feigéo nacional, quo todavia nto passava de artifcial. H que essas traduges estavam muito om voga na Idade Média, dé-nos disso tostomunho el-rei D. Duarte, que no son Leal Consetheiro chega # formular as rogras para bem traduzir. ff a estes vooibulos, que as versées do latim por meio da leitura introduziram na lingua priaci- palmente nos séculos xiv 0 xv, quo 80 dé o nome de cultos. A par estas, outros hi, ox semi-cultos, que, postos a correr pelos literatos om época mais antiga, foram recebidos pelo povo que Thes for. softer modifloagdes que os aproximam dos que constituem a base da lingua, 03 populares, quo sho aqueles que, tecebides directamente dos roma- reo também yomango; parece-me, porsn que ‘ta forma precedeu a indicada acima, a ajeizar da sua otorrtucia na conclasto de uma Regra de 8, Bento, insorta no cédice aleobaccase v.° 73 (antigo 326), tno séeulo xv, enquanto numa cdpin da mesma, mas feta sem 292, antigo 981, fols. 47 v) lé-s0 romance Leite de Vasconcelos, Ligiea de Hitologia Portugucea, (2) Bm sentido identi sabre esto voctbalo pig. 14, nota & 16 GRAMATICA HISTORICA PORTUGUESA nos, foram ovolucionando espontanea ¢ gradualmente. Assim, compa- wide, por exemplo, noite, pessoa, chaga, peanha, ete., com nocturno; personificar, praga, pedestal, ete., reconbecemos logo & primeira fa que foi diferente a mancira do sou tratamento e quo na sua ovolugéo soguirain caminho diverso, donde Ihes resulton a diferenga ‘que neles se nota, por vezas tal que nom sempre 6 visivel logo & primeira inspocpio 0 lago que os prendo, como sueede, v. g.a quelha © (nchar, que apareatemento nfo mostram relagGo alguma com canal e plantar. A semelhanga com os populares que muitos dos semi-cultos apresentam no seu tratemento provém de haverem sido transformados pela mesma entidade, 0 poro, mas om épocas diversas 1m que portanto os habitos e proeessos fonéticos nem sempre eram idénticos, alids ndo so teriam dado neles as diferongas que acusam, por oxemplo, arletho, maka, velho, eomparados com artigo, migoa, cabido, Bm razio da sua proveniéacia viria, povo ou literatos, é que muitos rocdbulos aprosentam duas, alguns mesmo trés formas diferentes, dendo assim origem aos chamados divergenies ou alétro- ‘705 (!). Bstio neste caso vee, vico, @ vicio, relka, regra régua, além do outros muitos, os quais correspondem a uma inica forma latina, que para os citados 6 witin- @ regula. 4) Os fenémenoa que rosumidamente acabamos de mencionar ao a lingua duas fases que, embora s» nio distingam essoncialmente uma da otra, aprosentam coutudo earactores suficientes para 90 esta- bolecer separagtio entre elas; sd0: a aveaio, que so estonde do séewlo x11 acs meados do século xvr, 6 a moderna quo, prineipiando entdo, continua nos nossos dias. Mas, porque a Mngua, antes de ser fixada pola oserita, {4 existia, segundo vimos, poderemos admitir outras auas fases antoriores Aquolas, a saber: a pré-histériea, que abrango todo © perfodo da formagio da lingua no qual esta se nos nio revela, (1) De didag, diferente » spéeag, direegio, mansira etz.; a cates cbamam 0s franceses em goral dowblets e os alomes scheideformen ; opbam-stles os om- ergentes, quo sio 08 que sob uma viniea forma sbrangem Dubos, tais sdo: fiar de *fdare e filare, dom de donum ¢ ambos tratel com al wvolvimento no Boietim da. Segunda Clasie, vol. aa Aradomin do 08, INTRODUGAO 7 © a proto-historiea, que vai desde o sévulo rx até ao xu, espago de ‘tempo este no qual a6 a conhecemos pelos eseritos em latim bér- baro (. 5. Outros elementos componentes do portugués. — So consul- tarmos um diciondrio da lingua e porcorrermos um a um os voeébulos, que o compéem, reconhoceremos que, embora os do proveniéacia lati quer do introduglo popular, quer de eulta, ou herdados por simpl ‘evolugao ou formados postoriormente pelos processos da composi ¢ dorivagzo, sojam om nimero muito maior © constituam, por assim dizer, 0 méicleo da nossa linguagem, como quo a sua substancia, outros hd do proveniéncias estranhas, que as ralagées com outros povoa nos forgaram a admitir, dando-Ihes foros de domésticos, desde os tempos mais remotos. A par dos vocdbulos latinos, que o estado desta lingua, nunca de todo posto de parte, ¢ a influéocia dos ectesidsticas, que eram os que com ele mais familiarizados estavam, introduziam na Hiogaa por meio da vista, com os livros, para o diminuto mimoro dos que sabiam Jer, ou do ouvido, com as prédicas © rezas nos templos, 6 isto deado a formagio do idioma at§ hojo com maior ou menor pujanga, © contacto com povos de procedéncias divers, como os germanos 0 drabes na Tdade Média, som falar de outros que como francoses, ospanb6is, ote., falavam linguas irmis, @ mais tarde, por ocasiio, do perfodo ure da nossa colonizago, com indfgonas do Africa, América @ Asia, levou-nos a adopter muitos dos seus voedbulos. Era natural que todos estes, quando rece- idos pelo ouvido, ficassem sujeitos as mesmas transformagies porgue tinham pasado os elementos latinos, quando transmitidos por corrente popular, através um mimeo maior on menor de gera- 9008, descontando todavia as épocas da sua introdugéo, ¢ de feito assim aconteceu, porquanto os elementos estranhos que mais cdo ontraram a fazor parte da nossa linguagom acusam igual ‘ratamento. (2) Segaimos aqui a divisto proposta por Leite do Vasconcelos (ef, Ligdes de Pilologia: Portuguesa, pigs. 16 o 181-188), por nos par iramento aeui- ‘avel, com 4 condigto, porém, de considerarmes, como ele dis, eintoiramente for- ‘mite e tramsitoria a oxpressin proto-histarico 0 pré-kistorieos, 18 GRAMATICA HISTORICA PORTUGUESA como atrés dissemos, 6 0 latim na sua forma valgar que constitui, por assim dizer, o substratum do nosso idioma; foi ele que, passando por contfauas transformagoes, produziu a fala de que hoje nog servimos, a qual na sua essGacia é a mesma qua ha vinte séculos so ouvia na boca da plebs de Roma. Sio essas transformagoes que vas estudar, tomando como ponto de partida os sons latinos e acom- panhando-os nas suas evolug6es sucossivas, mas lentas, até comuni- carom feigio 6 cuaho especiais ao que a principio nio passava do um aos muitos dialectos om que, como jé havia sucodido ao velho indo- -europeu, veio com 0 decorror do tempo a fraecionar-eo o latim, dan- do-the todas as eatacteristicas do lingua independonte © bem distinta das restantes de prove \d€atica, embora Ihe deixassem ficar cortos tragos fisiondmices, reveladores da comunidade do origem. FONETICA ou ESTUDO DOS SONS

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