You are on page 1of 56
Oy ee ; digo | Tacos desde mer ss Blt «Disa Lge de int Cal, 23 Vin Naas“ 100 Sica Ses 58490 ‘e-mail: escrturas@escrturas.com br fice: warwescrturas.com.be Coardengso era imundo Gadelba Coonemagio ears Inds Iwashita TEA/USP) ajo Gefcn DeniteBitencoure irsie deni Femando Uermatn Samuki Ver Andrade | Impreoe RR Donnelley Amésica Latina Dados Intecncionss de Caslogisio na Pubicaso (CIP) (Cian Brain do Lino, SP, Bri) Aguas doce no Brasil: capil colo, woe coserasi / ogee rlzadores Aldo ds Cunha Rebougas, Benedito Brags, Joe alia Tad 2d. ~Sio Pal: Excrituas Eton, 2002. 1. Agua doce. 2. Agua Doce -Beologia 1 Rebougas, Aldo da Cunha. I. Braga, Bedi IHL Tans os alia 02-4871 CD - 3339100981 Iadices para ctdlogo semi: 1. Braid: Agus Docs Rensos squscos: Emnomia 3339100881 Impresso no Brasil Printed in Brasil Lljua e Saneamentr Una Vieio Fealteia Introducdo Como resultado da Conferéncia de Mar del Plata, ealizada em 1977, 0 perfodo 1981-1990 foi declarado como a “Década Internacional do Abas- tecimento de Agua e Saneamento”, visando pro- porcionar “abastecimento adequado de égua segura € saneamento apropriado para todos, até 0 ano 1990". Com o objetivo de implantar rapidamerite 0 programa, os Paises Membros da ONU foram soli- Citados a preparar seus planos de agio ¢ de inves- timentos no setor, ¢ estabelecer as préprias metas em fungio das condigées e disponibilidades locais. Desde o inicio, se tornow evidente que os obj vos estebelecidas pelos pafses em estigio de desen- volvimento ou mesmo aqueles em estigio de répida industializagio, seriam incapazes de ser atingidos Ivanildo Hespanhol na Década da Agua. Ainda hoje, praticamente dez ‘anos apés 0 encerramento do programa, constata-se que serio necessérias vérias décadas para que os deficits de abastecimento de Agua ¢ sancarsento sejam __ eliminados, principalmente no que tange 0 stor rural de palses em estdgio de desenvolvimento. Acevolugio, em nivel global, (Aftica, Asia e regido do Pacifico, parte oeste da Asia, América Latina e tegido do Caribe) da cobertura de égua e saneamen- to no perfodo 1990-1994", demonstra estagnacio no setor de abastecimento de égua urbano ¢ um crescimento relative no setor rural (Tabela 1). Indi- ca, entretanto, inequivocamente, que o saneamento bésico foi totalmente neglicenciado durante 0 periodo. Valores jd bastante pequenos de cobertura (67% © 20%, de saneamento urbano ¢ rural, “abela 1 -Abasteimento de ua e saneamento & nivel global, Evolugio no periodo 1990-1994" 1990 (populasio em miles) 1994 (populagio em milhées) Setor Total Servida 9% servida oral Servida 9% servida urbano 1389 114582 1594 1315 2 Agua ral 2682 134250 2789 1953 70 total 4071 2487 6h 4383 3.268 3) | urbano 1389 936 o 1.594 1.005 a Sancamento rural 268253620 2789 505 18 total 4071 147236 4383 1510 34 1 “Water Supply and Sanitation Sector Monitoring Report, Sector satus as of 31 December 1994", World Health Organization! Unie States Children’s Fund Joint Monitoring Programme, WHO/EOS/96.15, WHO, Geneve, 1996, 2 Ider, 249 : Aquos Deces 00 Brasi sespectivarnente) foram reduzidos para valores ainda menores (65% € 18%, respectivamente.) Na América Latina e regio do Caribe a é relativamente melhor do que no resto do mundo (Tabela 2). Ainda é poréin, bastante alarmante @ constatagao de que a cobertura de saneamento, no ‘setor rural, se reduziu significativamente no periodo. E preocupante, também, a substancial redugio de cobertura no setor urbano, quie decresceu de 90% para 88% em termos de abastecimento de agua e de 83% para 73% em termos de saneamento. Essa cendéncia mostra o estado de desagregagio das dreas urbanas na América Latina, principalmente nos grandes conglomerados populacionais. Explica tam- ibém a expansio da endemia de célera que atinge, atualmente, toda a América Latina e que parece escapar, cada vex mais, 20 controle das autoridades sanitdrias. A situagio brasileira © Brasil nao apresenta, infelizmente, condigdes de destaque, mesmo entre os paises da América Latina ¢ regiéo, do Caribe (Tabela 3). © abaste- cimento de gua no setor urbano cobre apenas 85%, enguanto que Belize e Cuba atingem 96%, Chile 949%, México 91%, Guiana, 90% e Colombia 88%. No setor rural a populagio abastecida com dgua potivel, no Brasil, é de 31%, indice superior apenas 0s da Bolivia com 22%, Haiti 23%, Peru, 24% Nicarégua, com 27%. A situagéo brasileira é, centretanto, extremamente critica no que concerne a ‘cobertura de saneamento, No setor urbano, a por- centagem arendida é de apenas 55%, superior ape- nas aos indices do Haiti, com 42%, da Nicarégua, com 349 ¢ de Belize, com 23%. Na area rural a cobertura brasileira € de apenas 3%, indice inferior aos do Peru, com 10%, ¢ do Haiti, com 16%. Demogrifico de 1991 (Tabela 4}, as so mareadamente Centro-Oeste, Dados fornecidos pelo mesmo censo atestam, também, que as maiores caréncias siewam- se nas faixas de renda mais baixas, conforme mostrado na Tabela 5, Ainda que extremamente preocupantes, esses dados no refletem a realidade dos servigos efetiva- ‘mente-prestados, uma vez que nao levam em conta ‘0 abastecimento intermitente e as comrespondentes implicagdes sociais e de satide publica, parcicular- mente nas areas perféricas e bairos de baixa renda, assim como a baixa qualidade da dgua distribufda. Os dados nao reflecem, também, o elevado nivel de detetioracao dos sistemas de abastecimento de égua € coleta de esgotos, 0 reconhecimento ¢ 0 respeito 0s direizos dos usuarios, ea generalizada desconsi- deragéo & preservacio € & conservagio dos recursos hidricos, utlizados como manancias. ‘Estimativas efecuadas pelo Departamento de Sar rneamento da Secretaria de Politica Usbana, Minis- 1étio do Planejamento ¢ Orgamento, demonstram {que serio necessarios, até 0 ano 2010, investimentos superiores a quarenta bilhdes de reais, ou seja, mais de + dois bilhes por ano nesse perfodo, para proporcionar apenas’ populagio urbana do Brasil atendimento completo em abastecimento de agua e saneamento Agua e saneamento na Agenda 21 A Agenda 21 — 0 plano de metas em termos de ambiente ¢ desenvolvimento para 0 século XI - produzida pela Conferéncia sobre Desenvolvimento “Tabela 2 - Abastecimento de dgua e saneamento - América Latina e Caribe. Evolugao no periodo 1990-1994" 1990 (populagio em milhses) 1994 (populacio em milhées) Setor Teal Servida 9 servida ‘Total © Servida% servida urbano 314282 90 348306 88 Agva unl 1600 6S 2 7056 otal 40 679 3 36 urbane 34 2628 38D Saneamento rural 60 2 33 wm 2 oR total 440 3049 7 6 3 Idem. 4 Ministério do. Planejamento ¢ Ongamento, Secretaria de Politica Urbana, Departamento de Saneamento, "Saneamento: ‘Moderniaacio e Patcetia com o Setor Privado”, Série Moderizacio do Setor Saneamento no. 9, Brasilia, D.E, 1977. 250 Tabels 3 - Abas Pals 210 1994 6.853 1992 146.825 1981 13.600 1992 33.985, 1993 3.192 1992 10.960 1994 7543 1993 10.980 1993 5517 1993 808 1992 7.035 1994 5.493, 1994 90.027 1993 4255 1994 2941 1992 22.886 1993 Venemela 19.502 1990 (0% popalagao arendide) Tabela 4 - Cobertura de servigos de gua e coletas de esgotos por regio Sexvigo Brasil N Agua 86,34 677 Esgotos 49,01 172 FONTE IBGE, 1991 ¢ Ambiente, (CNUMAD-92, Rio de Janeiro, junho de 1992), voltou a insistir na urgéncia com que égua ¢ sancamento devem ser considerados pelos Paises Membros das Nagies Unidas. © capitulo 18 -"Protegio da qualidade ¢ abastecimento de gua: aplicagio de métodos integrados para o desenvolvimento gestio dos recursos hidricos”, considera, na drea programética B - “Abastecimento de dgua € saneamento”, que “aproximadamente 80% de todas as doengas de origem hidrica e mais que um tergo das mortes em paises em desenvolvimento, sfo causadas pelo con- sumo de égua contaminada e que, em média, um décimo do tempo produtivo de cada pessoa € sacrfi- cado a essas doengas’. Salienta, também, que “em paises em desenvolvimento, excretas humanos € exgotos sio importantes fatores de deterioragio da qualidade da dgua, e que a introdugio de tecno- logias adaptadas para a construgio de sistemas de tratamento de esgotos traria melhorias significativas, em termes de sade publica e meio ambiente”. Urbana Rural Total 96 82a ai ees) 7%, 22 55 586 8° bl 72 55 3 44 9437 BS 82 NA NA BB 4876 6 ee a tee te 96 8598 i ce) gee Cea 7 eee 00) cas 78) oe 7 gy. ot) ec. 7 3755 ie cs) 90 45 eves 00 eaell ieee 9s 2 6 Slee oS S153 6S, pi G28 Ce 3 Cy Gl lee ea NA NA 83 NA NA 86 4% 60 2 ow 44 Cle Ce) NE SE s co 78,26 9353 90,62 79,71 13,22 7045 17,85 33.27 Propée, entre outras, as seguintes atividades, visan- doa melhoria do atendimento ea protecio da satide piiblica dos consumidores: Tabela 5 - Porcentagem de demanda atendida por faixa de renda. Faixa de renda Abastecimento Coleta de dedgua—ssgoto 022 slécos minimos 68 a mais de 10 slsios minimos 99 a1 PONTE 1868, 1991 « estabelecer dreas de protegio para mananciais dé gua utilizados para abastecimento publico; + coletar, tratar e dispor excretas e esgotos através de sistemas adequados, tanto em éreas urbanas como rurais; * construir ¢ expandir, onde necessirio, sistemas de tratamento de esgotos sistemas de drenagems; + dar maior atengio as dreas rurais ¢ peri-urbanas; 5 Who, op. cit 251 ‘Aguas Dooes 1 Brasil Também no Capitulo 21- *“Gestio ambient mente adequada de residuos liguides ¢ sélidos’, € abordada a necessidade de ampliar os sistemas de coleta, tratamento e disp. F de residvos tq e sélidos, Na area programatica C - “Promogio do tratamento e disposigio ambientalmente adequada de residuos” € ressaltado que “menos do que 10% dos resfduos urbanos recebem alguma forma de tra- tamento € apenas uma pequena porcio do trata- ‘mento proporcionade esté de acordo com qualquer padrio aceitdvel, Deve ser dada prioridade ao trata ‘mento de esgoros ¢ excreta, devido aos riscos satide humana que representam”. A area programatica C - “Ampliagio da cobertura dos servigos de saneamen- to”, essalta que é grande o miimero de criangas que morrem diariamente de doengas associadas a esgotos. Os impactos so particularmente severos entre as populagées pobres de Areas urbanas. Entreranto, os impactos da gestio inadequada de efluentes sobre 0 ambiente e a sade, se estendem além das conurbagées desprotegidas, resultando na contaminasio do at, solo e gua em reas extensas. Ampliar e melhorar a coletae disposigio de residuos €acio fundamental para se exercer 0 controle dessa forma de poluicio”. O Capitulo 6 -"Protesdo ¢ promogio da Satide ‘Humana’, na area programatica A - “Atendimento 20s cuidados bisicos de satide, priscipalmente nas reas rurais”, salienta que atencio especial deve ser dada 3 implementagio de... “politicas amplas e sus- tentiveis para assegurar 4gua potavel e saneamen- to...” Na érea programdtica B - “Controle de doencas transmissive” € resaltado que “...sio indispensé- veis medidas de controle de doencas transmissiveis, ‘especialmente no setor de Agua e saneamento. Essas doengas incluem célera, doengas diarréicas em geral, leishmaniose, maléria€ esquistosomose”. Abastecimento e tratamento de 4gua Em paises industralizados do Hemisfério Norte, as tarifas praticadas no suprimento continuo de égua dde-boa qualidade sio substancialmente pequenas em relagio is rendas médias auferidas pela populacio. Nesse sentido, a gestio da satide publica nao neces- sita ser considerada de maneira critica no que tange 0s aspectos econémicos envolvidos, podendo a 4gua ser fornecida num nivel de qualidade no qual os riscos de doencas so mantidos a valores minimos. Nos paises em estigio de desenvolviarento ¢, mesmo em grandes regiées menos favorecidas de paises em franco estigio de expansio industrial, ais como Brasif ea findla, 2 situagio ¢ basrance diferente uma ver que * © 0 povo é,yeralmente muito pobre para pagar pelo abastecimento domiciliar de 4gua segura: «as agéncias de financiamento que proporcionam fandos para os sistemas de distribuigio requerem cevidéncias dos beneficios de saiide publica, que sero auferidos, uma vez que nfo podem esperar por retornos econémicos significativos; — ~ 605 fundos disponiveis nfo sio, geralmente, sufici- centes para proporcionar abastecimento adequado, redundando em sistemas de distribuigao que nao atendem aos requisitos minimos de qualidade de ‘gua distribuida, ou em sistemas de distribuigao intermientes, Se as decis6es para otimizar os fandos disponiveis nfo forem adequadas, incorre- se na situagio em que apenas uma parte privile- giada da populacio recebe 4gua de boa qualidade, enquanto que a vasta maioria nao ¢ atendida, ou recebe atendimento precios + as doengas transmitidas pela égua so muito mais ‘nuumerosas, mais importantes e mais diversificadas do que nos paises temperados, tornando muito mais complexos os efeitos proporcionados por uma distribuigio inadequada. Nos paises onde jé ocorse desenvolvimento in- dustrial significative, a condicéo de proporcionar digua segura is populaSes de grande centros produ- tivos, se tornou ainda mais critica, face 4 pol dos mananciais de égua potavel por resfduos indus- ttiais, Nesses paises, a clevada periculosidade da poluigio quimica, adiciona aos riscos devidos aos ‘organisms patogénicos, os rscos de doencas créni- «as, associados & miriade inconspicua de compostos altamente téxicos, hoje presentes em mananciais de gua potivel Por ésta raxfo, os tomadores de decisio ¢ os en- genheiros sanitaristas, devem tet um conhecimento bastante claro das doengas e riscos associados, € as conseqiiéncias que provocam, a curto ¢ a longo prazo, sobre a satide publica dos consumidores. A interagio entre égua e savide ja tinha sido vizualizada por diversos sabios do mundo antigo. E remarcivel, por exemplo, a acurdcia de Sécrates, 6 Bradley, D.J," Health Aspects of Water Supplies in Tropical Countries", in:* Water, Wastes and Health in Hot Climates”, Ed, Richard Feachem, Mickael Me Garry and Duncan Mara, John Wiley 8 Sons, 1977. 252 telacionando a deficiénci hipererofia da glandula 1 papo. Diversos cédigos seligiosos antiges recomen- davam priticas higignicas, muitas das quais si. ainda, consideradas apropriadas " cio ou © celébre estudo epidemiolégico de John Snow, analisando a epidemia de odlera ocorrida em Londres em 1854, foi a primeira contribuicio cientifica para a comprechsio do relacionamento Agua-doenca. ‘Um niimero superior a 700 mortes ocorreu na Rua James Parish, em um periodo de aproximadamente 17 semanas. O estudo detalhado de Snow de- ‘monstrou que a maior parte das vitimas tinha cole tado 4gua na bomba do poco situado na Rua Broad ¢, posteriormente, que um vazamento da linha de esgotos que passava junto ao poco, drenava a casa de nuimero 40 da mesma rua, local identificado como © da ocorréncia do primeiro caso de oélera. Remar- cavelmente, 0 estudo epidemiolégico de John Snow antecipou a teoria de Pasteur, da propagacio de doencas através de micrdbios, em uma década ea de Koch, da identificagio dos organismos causadores de doengas, em trés décadas. Algumas décadas depois, ou seja, em 1892, uma séria epidemia de célera ocorreu em Hamburgo ‘Altona, duas cidades contiguas da Alemanha, que captavam gua no Rio Elba para abastecimento publico. Nesta erupcao, Koch conseguiu isolar 0 Cholera vibrio das &guas do rio. Os esgotos de ambas as cidades, eram, igualmente, despejados, sem ne- ‘nhum tratamento, em pontos diversos do mesmo tio, ‘As Sguas capradas pela municipalidade de Alto- na, situada a jusante de Hamburgo, eram, pelo fato de serem mais poluidas, ratadas através de filtros lentos de arcia, 0 que nao era feito em Hamburgo. Em um perfodo inferior a um més,18.000 habi- tantes de Hamburgo contrairam a doenga ¢ 8.000 morreram. A taxa de mortalidade em Hamburgo foi de 13,4/1.000 ¢ em Altona de apenas 2,3/1.000. Quase todos os casos que ocorreram em Altona foram associados a pessoas que viviam na sea lim tofe entre as duas cidades, mas que se abasteciam através do sistema de distribuigio de Hamburgo. Subseqlientemente aos estudos epidemiolégicos de Snow, Budd demonstrou a disseminacio da febre Lifbide através de sistemas de distribuigo de gua e, quase no final do século XIX, um tipo diferente de ‘Agua e Sansamenio Bésico - Uma Viséo Reaista, 0 de organismos parogénicos com a -monstrado por Mason, em relagio 3 fla- riose e por Ross em relagio & maléria, Eles verificas ram que ambas 2s infeeg6es io transmitidas por ‘mosquitos, cujas larvas vive e so dependences da gua. Quase paralclamente, verificou-se, também, que a oncocercose e a esquistosomose dependem de invertebrados de agua doce para a sua propagacio. Essas infeogbes, que sfo transmitidas por insetos, caramujos, ou qualquer outro organismo de sangue frio, ou que podem se desenvolver no solo, represen- tam um fator de risco ainda maior em paises tropi- cais, onde a temperatura clevada favorece os estégios de desenvolvimento fora do -hospedeiro humano, dos quais cles necessitam para adquirir formas infectivas. Outro agravante das caracteristcas desses paises, inclusive o Brasil, é a pobreaa dos habitantes das 2onas rurais e areas periféricas dos grandes cen- tos urbanos, que nao tém condigées para pagar por sistemas adequados de gua poivel © binémio clima-pobreza, prevalecente em grande parte do cerritdrio brasileiro, principalmente nas regides Norte e Nordeste, leva a considerar que E necessério adotar uma visio bastante ampla para abordar o problema de doengas associadas gua ea possiveis solugdes que necessitam ser implementadas. Doengas infecciosas e tratamento de agua ‘As doeneas infecciosas associadas & 4gua podem ser classficadas de acordo com os modos de pro- pagagio. Esta classificagio é a mais utilizada por engenheiros sanitaristas, pelo fato de permitir uma avaliagio direta dos efeitos das melhorias, ou ages corretivas que sio implementadas. Esta clasificacio engloba quatro categorias bisicas: 1) com suporte na 4gua ~ quando os organismos patogénicos sao carreados passivamente na 4gua que é consumida por uma pessoa (ou animal), causando infeccio. Exemplos tipicos sio 0 célera e a febre tifvide (cujos agentes etioligicos sio o Vibrio cholera ea Salmonella typhi, respectivamente), que tém dose infectiva bastante baixae sfo facilmence transmi- tidas através de sistemas de distribuicdo de dgua. 7 Me unkin, FE,"Waer and Human Heals", National Demonsation Wate Project, U.S. Agency for International Developmen, ‘Contract n® AIDIDSAN.C.0053, Kaowledge Synthede Project, Environmental Health Information Activity, USA. 1983, 8 Snow; J, “On the Mode of Communication of Cholera", Joba Churchill, London, 1849 253 ST eee js Dees 20 Brest! ‘As medidas preventivas preconizadas sio a Ihoria da qualidade da Agua siravés, principal- mente, de desinfeceao adequada, ¢ evitar que consumidores utilizem fontes opcionais de dgua, que posssam estar contaminadas, 2) associadas i higiene — infecgbes causadas por fal- ta de gua ¢ que podem ser controladas com disponibilidade de dgua e melhoria de hibiros de igiene. Sao caracteristicas as doengas de pele tas como a tinha e a sarna e as dos olhos tais como o traco- ‘ma. Incluem-se, também, algumas doencas diar- réicas, como a disinteria bacilar (Shigella spp.) © controle ¢ proporcionado através da provisio de quantidade suficiente de égua para banho, lavagem de mios ¢ de utenslios de cozinha. A quantidade deve ser proporcionada em adicio & gua disponivel para bebida. O mero acesso disponibilidade de agua ¢ ensinamento de preceitos bésicos de higiene pessoal reduzem a transmissio de doencas incluidas nessa clase. Nao se pode, entretanto, adorar 0 argumento fax lacioso de que quantidade de gua é importante € que qualidade significa pouco. Como econo- micamerite ¢, inevitavelmente, apenas um siste- ima de abastecimento de dgua por comunidade vidvel, este deve prover tanto agua para fins poté- vveis como agua para higiene pessoal. Uma dgua que ¢ microbiologicamente segura stisfaz a ambas as condicées, o que, mesmo com grandes quanti- dades de égua insegura, nfo se consegue satisazer, 3) de contato com a agua (ou com base na égua) — infecgses transmitidas por um animal inver- tebrado aquatico que vive na égua, ou que passa uma parte de seu ciclo de vida em moluscos aqusticos ou outros animais aquéticos, podendo causar infeccio através de contaro com a pele. Essas infecg6es no sfo passivamente transmiti- das de pessoa a pessoa, através da 4gua. As larvas ou ovos que atingem a Agua no sio imediata- ‘mente infectantes 20 homem, mas sio imediata- ‘mente infectantes a espécies invertebradas espe- cificas, principalmente moluscos ¢ crustéceos. As larvas se desenvolvem nesses hospedeiros.in- termedidrios que, apés um periodo de dias ou semanas, expelem outros tipos de larvas na égua. Essas so imediatamente infectantes ao homem No Brasil, assim ¢omo em muitos outros paises, a inais brportance das infees gua €a esquistosomose. Existem tés espécies de esquiscosmas: Schistoxoma manoni, Schistosoma haematobium, ¢ Schistosoma japonicum, ocorren- do respectivamente na Africa, América do Sul € ‘América Central, inclusive na regio do Caribe, na Africa, no Oriente Médio, na Asia Oriental ¢ nas Filipinas. © S. haematobium infesta 0s vasos sangitineos ao redor da bexiga, enquanto os outros invadem o sistema venoso dos intestinos. ‘A doenga resulta nfo propriamente dos vermes adultos que se desenvolvem, mas de seus ovos € da reagio do paciente a eles. Os ovos que nfo escapam através da urina ou das fezes, produzem micro-nédulos inflamatérios nas _visceras. Muitos se transportam dos intestines para 0 figado, onde se desenvolvem granulomas seme- Ihantes. Os vermes adultos vive por muitos anos e as femeas produzem centenas ou mesmo milhares (no caso do S. japonicum) de ovos por dia. Os ovos expelidos por uina pessoa infectada produzem, na agua, larvas ciliadas (miracidios) que perecem se nao encontrarem, dentro de um decerminado perfodo, um molusco especifico (como of do género Biomphalaria, preferidos pelo S. mansoni). Uma ver infectado, o molusco produz um segundo tipo de larvas (cercirias), que so capazes de invadir o homem através da penetragio de sua pele molhada, ou submersa, nas dguas que as contém. ‘A experiéncia vivida em vérios pafses demons- ‘rou que a implementacio de sistemas de distri- buigdo de dgua porivel reduz, consideravel- mente, a incidéncia da esquistosomose. O abas- tecimento de égua deve, entretamto, set acompa- nnhado de outras agGes nfo estruturais, entre as quais 2 conscientizagio dos grupos de risco, de educagio sanitéria, particularmente sobre as caracteristcas de transmissio da doenga, de iso- lamento de agudes e reservatérios contaminados de provisio de medicamentos quimioterdpicos. Drogas modernas tais como o Praziquantel, a Oxamniquine ¢ 0 Metrifonate tém apresentado resultados significativos, sem a ocorréncia de efeitos colaterais que caracterizavam os medica- -mentos utilizados anteriormente *. 9 WHO, "Control of Tropical Diseases - Schistosomiasis”, World Health Organization, Geneva, 1993. 254 4) associadas a vecores desenvolvidos ne dgua - in- feeges transmitidas por organismos patoge- nicos, através de inseros desenvolvidos na égua ‘ou que gicam nas proximidades da dgua. No Brasil, as infeegSes associadas a verores de- senvolvides na gua séo a malitia, a febre amarela e a dengue. A malitia, maleita ou paludismo é uma infecgio intermitente aguda ¢ cronica, provocada por tum protozoitio do género Plasmodium que contém aproximadamente cingtienta espécies. Dessas, as que transmitem maléria a0 homem séo 0 P Faleiparum, (0 mais comum e 0 mais perigoso), oP Vivas, oP Ovale eo P Malariae. Os mosqui- 10s do género Anopheles (380 espécies das quais, 60 sio capazes de uansmitir a doensa) sio os tinicos transmissores de maldria ao homem'"’. Os protozodrios sio transmitidos de pessoa a pessoa, através da picada da fémea do mosquito. Muito pouco, além de controlar o desenvol- vimento de mosquitos através da aplicagio de inscticidas, de drenar dreas inundadas e de evitar a saturagio de terrenos agricolas por irrigacéo cxcessiva, pode ser exercido por engenheitos sanitaristas, para o controle da maldria [As ages basicas para 0 combate as endemias so a proviso de dignéstico nos estados iniciais da doenga e a aplicacio de medicamentos do grupo cloroquina, que si0 efetivos e de custo bastante baixo, ‘A febre amarcla, uma infecfo aguda transmitida por um virus, & prevalecente nas regiGes tropicais ¢ subtropicais, principalmente na América do Sul ¢ Africa, Ocorrem dois cendries de transmissio do. virus da febre amarela: a febre urbana ou clissica, na qual a transmissio € feita pessoa a pessoa, através do mosquito Aédes aegypti, © 2 febre amarela silvestre, na qual 0 homem se infecta acidentalmente, em um ciclo florestal, no qual 0 mamifero hospedeiro é geralmente um ‘macaco € © mosquito transmissor, qualquer uma das diversas espécies florestais. A dengue, infecso aguda com caracteristicas semelhantes as da gripe é, também, provocada por um virus, o qual é transmicido também pelo ~ Uma Viszo Restle micas na India, Japao, Sul ico e América do Sul--Em areas com prevaléncia acentuada de dengue, pode ocorrer a dengue hemorrigica, que, getalmente leva a indices elevados de mor- talidade. A dengue hemorrigica é, possivelmen- te, causada pela superimposigio de uma cepa do virus em uma pessoa que jé possua anticorpos de uma outra cepa, provocando danos @ medula ssea e conseqiiente reducio da capacidade de coagulacio sangilinea, “Tanto a febre amarela como a dengue podem ser efetivamente controladas, principalmente nas dreas urbanas, evitando-se a retencio de égua em ‘vasos, pneus, vasilhames, etc., que proporcionam locais apropriados para o desenvolvimento do Aides aegypti. Nas éeas rurais a provisio de égua potivel também reduz significativamente os casos de febre amarcla e dengue, pelo fato de evitar contatos diretos com éreas de proliferagdo de mosquitos. As vacinas de virus vivos, atual- mente existentes, so bastante efetivas no contro- le da febre amarela, uma ver que proporcionam imunidade ativa, sem a ocorréncia de doenga linicamente detecrivel. A provisio de digua segura e de sistemas, mesmo simplificados, de sancamento bisico, reduzem dra- maticamente a incidéncia das doengas infecciosas acima discutidas: Os trabalhos de Edwin Chadwick na Inglacerra € de Lemuel Shattuck nos Estados Unidos ¢ de ou- ‘ros, motivaram, em seus respectivos paises, através da implementagio de servigos de égua e saneamen- to, verdadeiras revolugSes saniciias, na segunda metade do século XIX. As doencas, associadas a sa- neamento precitio ea ambientes insalubres e densa- mente habitados, decafram em niimero, mesmo sem o concurso da medicina curativa, imunizacbes ‘ou quaisquer outras intervengGes planejadas. Para Iclamente, verificou-se um considerivel aumento na esperanga de vida 20 nascer!""* ‘Apesar disso, 0 esforgo desenvolvido hé quase 150 anos nesses dois paises no encontrou vontade politica e decisio institucional para ser r na maioria dos pafses em desenvolvimento, ou mesmo entre os em adiantado estado de industrializacio, 10 WHO, “Control of Tropical Diseases - Malaria”, World Health Organization, Geneva, 1993, 11 McKeown, T, and Record, R.G., "Reasons forthe Decline of Morality in England and Wales during the Nineteenth Century", Population Studi 12 Wain, H., , 16(2), pp.94-112, 1962. ‘Story of Preventive Medicine, Chatles C. Thomas, Springfield, vol Il, 407 pp., 1970. inclusive no Brasil. A Tabela 6° mostra as taxas de morbidade e mortalidade associados 8s doencas transmitidas pela 4gua. Os daidos apresentados sao, de uma maneira geral, subestimades, uma vez que se basciam em iniormagbes enviadas pelos prdprios Paises Membros das Nagées Unidas, & Organizagio ‘Mundial da Satie, Essas doengas no devem, como jd mencionado, ser atribuidas exclusivamente 20 consumo de agua nfo potdvel. Com excecao da oncocercose (também conhecida como dracuncu- liasis ou cegueira dos rios, causada pelo Dracunculus ‘medinensis, ou verre da Guiné ¢ prevalecente na India, Paquistio e diversos paises da Africa) que € transmitida exclusivamente pela égua, a propagacio pode ser eferuada através de outrasrotas de infeccio. Em nivel mundial, 0 controle da transmissio de doengas infecciosas em sistemas de abastecimento de gua, publicos ou privados, € efetuado através da desinfeog3o com cloro. Em paises nos quais os toma- dores de decisio sio conscientes dos problemas de satide publica associados a abastecimento de égua, estabeleceu-se 0 dilema entre prover gua micro- biologicamente pura e a crescente preocupacio com 0s efeitas dos subproduros da cloragio. Na tlkima edicio de suas diretrizes para a qualidade da agua potivel, publicada em 1989, a Organizagio Mun- dial da Satide relaciona ¢ estabelece valores diretrizes miximos, vinte ¢ trés subprodutos da desinfeccio com cloro, entre os quais 0 2-4-6-triclorofenol, 0 bromodicloromerano ¢ 0 cloroférmio, compostos classificados como tihalometanos ¢ comprovada- mente carcinogénicos. A concentragio dos subpro- dutos da desinfeccio, pode ser efeivamente contro- Jada pela eliminacio do potencial de formacio de trihalometanos através da utilizagio de sistemas de carvio ativado granular, ou efetuando-se a operagio unitéria de coagulagio através da aplicagio de sulfaro de aluminio associado a polimeros catidnicos de ele- vvado peso molecular a valores de pH entre 4,5 ¢ 6,5. No que concerne & remogao de patogénicos, a desinfeccao € inquestionavelmente a operaciéo uni- ‘dria mais importante no tratamenco de éguas para abastecimento piiblico'. Apesar de que se disponha atualmente de diversas outras récnicas de desin- feecio, algumas das quais consideravelmente sofis- ticadas, ainda se considera, em nivel mundial, a apli- caso de dloro e seus produces, como a metodologia de desinieccio mais adequada, tanto dos pontos de vista téenico ¢ econémico-financeiro, como sob aspecto cultural ‘A Figura 1 evidencia, qualitativamente, 0s riscos associados &‘desinfecgio da gual”. Os riscos re- lativos as doengas transmissiveis, de origem hidrica, Go elevados quando a cloragio nio € eferuada, caindo para indices muito baikos quando as con- centragies de cloro aplicadas so adequadas. Este € uum fato suportado pela experiéncia auferida durante mais de um século, Note-se que os riscos, tanto microbiolégicos como os provocados pela formacio de sub-produros da clorasio podem ser reduzidos praticando-se uma cloragio controlada, isto é, reduzindo-se as dosagens de cloro aplicada & agua e aumentando-se 0 tempo de contacto, de maneira que © produto dosagem x tempo de contato se ‘mantenha constante, Doengas crénicas e tratamento de dgua O desenvolvimento da tecnologia de tratamento de 4guas, ocorrido na segunda metade deste século, levou & aceitacdo indiscriminada da idéia de que os mananciais que recebem efluentes industtiais contendo micro-poluentes sintéticos, orginicos inorganicos, poderiam ser convenientemente trata- dos, permitindo a producio de uma dgua absoluta- mente segura. Independentemente dos niveis de poluicéo desses mananciais, acreditava-se que os processas e operagées unitirias de coagulacio-flocu- lagao, sedimentacio, filtragio e desinfeccio, seriam suficientes para tornar a dgua segura para abasteci- mento doméstico, eliminando os agentes etiol causadores das doengas contagiosas transmitidas pela agua, que eram, naquela época, a principal preocupagio de saide publica associada ao abaste- cimento piblico. Entretanto, como conseqiiéncia da revolucio ‘quimica, que logo apés a Segunda Guerra Mundial, 13 Galal-Gorches, H., “Disinfection of Drinking-water: Balan Drinking-water Quality", Pavaya and Bangkok, 14-17 June, 1 Microbial and Chemical Risks’, Proceedings ofthe “Seminar on GS Sisk lars et na gna Rqoe SG 1 ee mg Pr! rien tenet St i Me 15 Hespanhol, I, “Remosio de Compostos Orginicos de Aguas de Consumo Humano”, Revista DAE 123, pp-41- 48, Sao Paul, 1979. set he ecient oe ate a cee ete ye erate teens eee ee Cearé, 1984, 17 Monts, J.C. *Conference Summary, in: Water Chlorination-Environmental Impacts and Heakh Efccs, vol2, Ede, Joe, RL. Gorche H., Hamilton, D.H., Ann Harbor Science, Ana Harbor, Michigan, 1978. 256 Nivel ideal de dloragio Nivel atual de cloragio 2 Saneamanto Basico Uma Visto Realista Risco quimico Risco microbiolégico Dosagem de doroaplicada a dgua introduziu na sociedade, no ambiente ¢ nos corpos cde dgua superficiais subterrineos milhares de com- ppostos orginicos sintéticos, surgiram os riscos de doengas crénicas, associados 8s concentragées mi to baixas de micropoluentes, organicos e inorgéni- 0s, que no sio absoluramente removidos através de sistemas convencionais de tratamento, como os acima mencionados, Em 1960, Hueper” advertiu:* E ébvio que, com © aumento répido da urbanizagio © indus- ttializacdo... € a crescente demanda dos recursos hidricos disponiveis em lagos, rios e iguas sub- terrtneas, 0s tiscos de cincer, oriundos do consumo de 4gua contaminada, crescerio consideravelmente ro futuro préximo”. A reacio da sociedade face a esa nova ameaga & satide piiblica, foi, no inicio, bastante lenta. Ainda hoje, infelizmente, muitos paises nijo tomaram consciéncia da gravidade que os micropolucntes orginicos representam para a satide piblica dos consumidores de sistemas piblicos de Agua. Apenas em 1962, com a publicacéo do livro de Rachel Carlson, Silent Spring®, chamando a atencio para a presenga de compostos orginicos sintéticos 18 Idem Figura 1 ~ Ricose beneficos da eloragio da dgua®, nos mananciais de agua potivel ¢ seus efeitos crénicos sobre a satide publica (ver Box) é que os cientistas e*tomadores de decisio comegaram a analisar as possiveis conseqiiéncias ¢ as medidas adicionais que deveriam ser tomadas, para evitar efeitos danosos saiide publica de consumidores de gua captada em mananciais, que recebem efluentes industriais, . ‘Tabela 6 - Taxas globais de morbidade das principais doengas relacionadas & égua”™ Doengas Niimero por ano Casos de doengas__ Mortes Celera” (1993) 297.000 4971 Febre Tide 500.000 25.000 Giardiase 500.000 Baixo Amebiase 48.000.000 110.000 Doengas diaréicas __1.600.000.000 3.200.000 (idades = 5) Oncocercose ** 2.600.000 : Esquistosomose 200.000.000 200,000 += Ne anode 19 Fram reports 595.00 css « 19.298 mores, por cera * Dados telatvos a um periodo de comunicagt. 19 Husper, WCC, "Cancer Hazards from Natural and Ariificial Water Pollutants, Proceedings of the Conference on Physiological Aspects of Water Quality, U.S. Public Health Service, Washingron, D.C., 1960, 20 Carson, R, “Silent Spring”, A Fawcett Premier Book, Fawcett Publications, Inc, Greenwich, Conn., 1962 21 Gabal ~ Gorches, H. op. cit 257 ques Doras 0 Bras A adverténcia d Desde que se iniciou a fabricagio de substinci {que a natureza nunca inventon, o problema da puri- ficagio da agua se tornou complexo e aumentaraim 0s perigos associados & sua utlizagio. A producso dos Compostos sintéticos em larga escala comegou em 1940. Desde entéo um terrivel dilivio de polucntes quimicos é, diariamente, despejado em nossos corpos de dgua. Quando intimamente misturados com cesgotos domésticos ¢ outros tipos de efluentes, esses compostos quimicos desafiam a derecgéo através dos . métodos normalmente utilizados em estagées de tratamento, A maioria deles to estével que no pode ser decomposta através de processos convencio- ras, Freqiientemente eles ndo podem nem mesmo set identificados. prdprio Congresso Americano, “preocupado com a presenga de contaminantes orginicos na agua potivel e a etrdtica — ¢ freqiientemente ineficiente ~ superviséo governamental dos servigos piiblicos de abastecimento de égua” aprovou, em 1974, 0 Safe Drinking Water Act, através da Lei Publica 93-523. Esta legislago requereu que a Agéncia de Protesio Ambiental Americana (USEPA), adorasse uma regulamentagio provisdria, baseada nna estabelecida em 1962 pelo United States Public Health Service e que essa regulamentagio fosse “completamente revisada, apés uma detalhada avaliagdo, pela Academia National de Ciéncias, dos niveis de exposicio humana e das caracte- risticas toxicolégicas dos contaminantes presentes na agua distribuida 2 populagio”.® Padres provisdrios para 4gua pordvel foram estabelecidos em 1975 ¢ revises foram. efetuadas em 1976, 1979, 1980 1986. Toda'vez que evidéncias cientificas ou estudos epidemioldgicos espectficos se tornam disponiveis, em relagio a um deter- minado paidmetto, uma nova revisio € efetuada ¢ os valores numéricos correspondentes so conve- nientemente modificados. Por exemplo, baseado Rachel Carson, 1962* Ein rios, esta incrivel variedade de poluences se combina para produzir sedimentos que os enge- ‘nhciros sanicaristas, em desespero, s6 podem designar como ‘borra de graxa repulsiva’. © Professor Rolf Eliassen, do Instituto de Tecnologia de Massachusers, testemunhou, perante um comité do Congresso, sobre a impossibilidade de prever o eftito combinado desses produtos quimicos, ou de identificar as caracteristicas da matéria organica resultante de sua mistura.”Nés no sabemos do que se trata’, disse 0 Professor Eliassen. “Qual é o efeito sobre as pessoas? Nés nao sabemos’ em dois estudos sobre os efeitos do arsénio sobre a satide publica *, a USEPA estd considerando a redugio da concentracio méxima de arsénio, petmitida em 4gua potivel, de 0,050 mg/l para 0,020 mg/l. A wvaliacio eferuada pela Academia National de Citncias, publicada em 1980,% pés em evidéncia, ‘no apenas os elevadys riscos associados aos micro- ppoluentes orginicos, mas também, a quase absolura ineficdcia dos sistemas de monitoramento utilizados para garantir que 4guas extraidas de manancias po- luidos por efluentes de grandes parques industrias, possam ser utilizadas como fontes de égua potével ‘Uma das mais importantes conclusées da Academia foi que apenas 10%, em peso, dos compostos orginicos presentes na 4gua potével, foram identifi cados até o presente ¢, entre esses, apenas alguns tiveram suas caracteristicas toxicolégicas determina- as. Como conseqiiéncia dessa inseguranca, vem ocorrendo um aumento significativo do nimero de parimetros necessérios para regulamentagio, Em 1925, 0 Servigo de Saiide Publica dos Estados Unidos regulamentava um ntimero iriferior a 10 pacimetros. Em 1974, quando a vigilincia da quali- dade da égua potivel foi atribufda a USEPA, esse niimero jé era superior a 20 ¢ hoje esta préximo a 22 Carson, R. op. cit 23 AVAVA.- American Water Works Association, "Water Quality and Tieatment - A Handbook of Community Water Supplies, Ed. Frederick We Pontius, 4th ed, McGraw-Hill, In, New York, 1990, 24 Pontius, EW, Chen, C-J., and Brown, K.G., “Health Implications of Arsenic in Drinking Wate’, J. AWWA, vol. 86(9), September 1944 25 Pontus, EW. “Crafting « New Arsenic Rule’, J. AWWA, vol. 86(9), September, 1994, 26 Nasional Research Counel, "Drinking Water and Healt, vol.2, pp. 252-253, National Academy Press, Washinton D.C., 1980. 258 Agua ¢ Seneamao Basico — Ura Visto Realisia 125 100 ce Niimero de parimetros regulamentadores 25 kt 1920 1940 1960 1980 ~ 2000 anos Figura 2- Nimero de partmeros para dua potvelregulamentados pelo govern des EUA 130 (Figura 2)". A tendéncia provavel € que, em toro do ano 2020, aprosimadamente 200 parime- «tos estarfo sendo regulamentados, 0 que no asse- gurard, absolutamente, que se dispors de uma 4gua ‘Go segura como aquela disponivel em 1925, que era caracterizada por uma quantidade irrisdria de parimetros. Os diversos efeitos adversos que podem ser causados pela presenga de pequenas doses de compostos quimicos na agua podem ser resuimidos nos seguintes : téxicos. causando efeitos danosos a quaisquer sistemas biolégicos,injuriando seriamente qualquer fansio bioldgica, ou produzindo a morte. ses efeitos podem resultar de condicBes agudas (cxposigio de curto prazo a uma dosagem elevada), condigdes crénicas (exposicio de longo temo a doses ‘muito baixas), ow condiges suberdnicas (doses e perfodos de exposigio intermedirios); neurotésicos: exercendo um efeito destrutivo ou t6xico no tecido nervoso. carcinogénicos: causando ou induzindo crescimento descontrolado de células andmales, vindo a provocar tumores malignos; mutagénicos. causando alteragbes heredivatias do material genético das células; teratoghnicos: causando deformacées congénitas no hereditérias (defeitos de nascimento) em feros. ‘Mistura de compostos téxicos A anilise dos efeitos de céntenas de micropo- lucntes orgiinicos sobre a satide dos consumidores 27 EPA- Environmental Protection Agency, “Guidelines for Water Reuse" Technology Transfer Manual no, EPA/625/R-92/004, ‘Washington, D.C., September 1992. 259 Aguas Doses no Bras de dgua , em geral, feita cada um deles acuasse individualmente, Eneretanto, a exposigio simultnea 2 dois ou mais elementos ou composios quimicos pode produzir inceragées que diferem quantitativa © qualicativamente das respostas biolégicas previstas para cada um dos produtos atuando independentemente. Quando a resposta é maior do que a prevista por adicio das respostas individuais, 0 que normalmente acontece, a interagio & chamada sinérgica ¢, se € meno, a interagio é chamada antagénica*, ‘A extensio do problema aumenta consideravel- ‘mente com a complexidade da mistura. Por exem- plo, na combinacéo de n compostos téxicos, 0 nie eto de interag6es possiveis pode ser calculado pela seguinte expresio: = a) ae al Se m é igual a 10, isto é, se a mistura contém apenas 10 compostos, exstem ("2) = 45 interagdes possiveis entre dois farores, (12) ~ 120 interagbes possiveis entre 3 farores, (°2) = 210 entre 4 Stores, (19) = 252 enuee 5 fatores, (12) = 210 de 6 fatores, (°9) = 120 entre 7 fatores, (12) = 45 entre 8 fatores, (12) = 10 entre 9 e apenas uma com 10 fatores, ou seja, um total de 1.013 inseragSes. O mesmo resultado pode ser obtido fazendo-se, na equacio acima, a somatéria com n=10 ¢ variando i de 2.a 10. Cada um desses compostos, representando a combinagdo sinérgica dos 10 elementos original- mente presentes, provoca efeitos superiores & soma- t6ria dos efeitos provocados pelos elementos indivi- duais que integram cada uma das combinagées. Em termos de avaliagio dos riscos associados, a situagao se torna, evidentemente, extremamente complexa, uma ver. que seria praticamente impos- sivel identificar ¢ estimar os efeitos woxicos de 1.013 compostos. Verifica-se portanto, que a identificagao dos poucos compostos ¢ elementos conhecidos ¢ os. que integram as legislagbes relativas & qualidade da ‘gua pocivel no é garantia suficiente de qualidade, ‘mesmo se esses compostos se apresentarem em. concentragbes iguais ou inferiores as permitidas, A falta de estudos toxicolégicos ea complexidade das misturas podem complicar ou impedit a aplica- Binades, Esse condigéo conduz2 uxilzagio dos dados de toxider intrinsecas a cada componente da riscura pera ados levando 2 avalages com menor confbilidade Um metodo que facilita a estimativa de riscos associados a misturas consiste em agrupar 0s com- postas de acordo com as caracteristicas dos efeitos que exercem sobre a satide humana. Dentro desse ctitério destacam-se quatro tipos de agrupamento: 0s contaminantes sistémicos, os contaminantes carcinogénicos, que provocam mutagio do material genético (DNA) de células somaticas, provocando cancer, os que apresentam a mesma resposta biols- ¢giea © 0s contaminantes que podem ser agrupados de acordo com sua similaridade e Existem, evidentemente, compostos que podem, simultaneamente, pertencer a mais de um dos qua- ‘ro grupos acima. Os hidrocarbonetos halogenados voliteis, freqiientemente encontrados na 4gua potivel, tais como 0 tetracloreto de carbono, 0 ti- cloroetileno eo 1,2-dicloroetano, podem ser inclul- dos tanto no grupo dos compostos carcinogénicos como no grupo dos compostos clorados, que pos- suem similaridade estrutural. Da mesma maneita, 6s compostos organo-fosforados e 0s carbamatos podem ‘ser incluides no grupo dos compostos carcinogénicos (e também dos teratogénicos) e no grupo dos contaminantes que apresentam efeitos ‘As caracteristicas sinérgicas bésicas de alguns desses grupamentos sio as seguintes: Efeito sinérgico dos contaminantes sistémicos ‘Contaminantes sistémicos so os compostos qui- micos que atacam érgios especificos ou que causam danos 20 sistema nervoso periférico, provocando, em cada caso, sempre a mesma resposta téxica. Por exemplo, compostos contendo mercirio € cidmio provocam alteragdes das fung5es renais, causando necrose dos rins. O Indice de Risco (IR), associado & mistura de k ‘compostos téxicos pertencentes a um mesmo grupo sistémico pode ser expresso como: . Re DA 28 Foran, J.A.Fink, LE., “Regulating Toxic Substances in Surface Wate,17 pp, Lewis Publishers, 1993. 260 Onde J; € a concentragio do presente na mistura ¢ AL; é 2 concent admisssivel. Quando IR&1 a mistura deve ser con- siderada da mesma maneira do que quando a con- centragio de um determinado composto é ultrapas- sada, isto é é superior & concentragio maxima admissivel (o que na verdade, ocorre quando k= 1). Se diversos grupos sistémicos esto presentes, cada um deles provocando uma resposta espectfica, isto é, afetando drgios diferentes, 0 indice de risco deve incluir a somatéria dos efeitos de cada um dos grupos, ou seja: = Ry =D IR; onde IRy representa 0 indice de risco total e mo nuimero de grupos sistémicos, cada um dos quais implicando em respostas especificas associadas a indices de riscos IR;, Da mesma maneira, se [Ry 21, deve-se proceder 4 tratamentos adequados para climinar os compostos correspondentes, até que s¢ obtenha IRysI. Efeitos sinérgicos da mistura de compostos carcinogénicos ‘A dgua de abastecimento pode conter uma gran- de variedade de compostos potencialmente carcino- génicos a seres humanos, entre os quais o benzeno, ‘0 cloreto de vinila, o tetraclorero de carbono, 0 1-2- dicloroetano, 0 tricloroetleno, 0 cloroférmio e ou- tros trihalometanos e um grande mimero de com- postos organicos voldteis. © potencial para a exposicio simultinea a mais de um composto carcinogenico é marcante em éguas, oriundas de mananciais que recebem residuos in- dustrais, Nesse caso especifico, os riscos associados devem ser considerados aditivos. Por exemplo, quando se assume como aceitével um nivel de risco de ocorréncia de cincer igual a 1x10" (isto é a concentragio. do poluente pode causar um caso adicional de cincer a cada 100.000 pessoas expos- tas), € 0 risco associado & exposicéo simultinea de dois compostos carcinogénicos € assumido como aditivo, a8 concentragbes permitidas de cada um deles € determinada através da formula” : 0 Pealeta ‘onde C, ¢ Cy sfo as concentragées dos compostos carcinogénicos 1 ¢ 2 medidas na 4gua ¢ Cry ¢ Cro slo as concentragGes méximas petmitidas, para os _mesmos compostos, associadas fos tiscos de 1x10°. O imul- tanea de mais de dois compostos carcinogénicos, devendo a somatéria, ser sempre inferior & unidade, A utlizagéo do eritério aditivo reduz considera- velmente as concentragées permitidas de compostos carcinogénicos, em relagio as concentragbes petmitidas quando ocorre exposiglo de cada um eles, isoladamente. Por exemplo, a concentracio permitida de dois compostos com 0 mesmo potencial cancerigeno, ocorrendo simultaneamente, setia exatamente a metade para cada um deles, do {qué seria se ambos ocorressem isoladamente, Diversos estados americanos, entre os quais os de ‘Wiscosin, Minnesota e Nova Torque jé incluem, em suas legislagées, critérios para estimar 0 efeito sinérgico de compostos carcinogénicos. Né estado de Nova Torque, a aplicagio do mo- delo de doses aditivas € utlizado para regular as concentracées de Aldicarbe ¢ Carbofuran, com- postos normalmente presentes na agua potével local € cujas concentragdes maximas permitidas sdo, res- pectivamente, 7 € 15 ug/l, quando encontrados iso- Tadamente, As concentragées permitidas em con- junto sio determinadas através da equacio” + a, Oo ot 7 15 onde Ca ¢ Cg séo as concentragies detectadas de Aldicarbe e Carbofuran. Se Ts1, nenhuma agio é tomada, Porém, se T=1 devem ser instaladas unidades de carvao ativado para a remocio desses ‘compostos, até que obtenha T's}. Nessa situacio, ‘eustos adicionais de tratamento sfo alocados as diistrias que introduzem os poluentes no manancial correspondente. 29 US. Environmental Protection Agency, “Technical Suport Document for Water Quality-based Toxies Controf". EPA/505/2-90- (001, 145 pp Washingt, D.C. 1991 30 National Research Council, “Drinking Water and Health”, vo. 9: Selected Isues in Risk Assessment”, Safe Drinking Water Com- mittee, Board on Environmental Studies and Toxicology, Commision on Life Sciences, 268 pp., National Academy Press ‘Washingvon, D.C., 1989. Agues Doces no Brasil Efeitos sinérgicos de co: apresentam 2 mesma resposta biolSgica > © conceito de “similaridade”, formulado por ‘Weiss’, em associagio a aditivos utilizades em ali- mentos, tem sido empregado para efetuar estima- tivas numéricas de toxider de diversas substincias ‘encontradas na agua, Esse conceito reflete a exten- so com que diversos agentes atuam..em conjunto, sobre determinados érgios, provocando sempre, respostas similares. Os compostos organo-fosfora- dos ¢ 0s carbamatos, por exemple, sio classificados como compostos anticolinesterase. Quando encon- trados na agua “porével”, mesmo em doses muito pequenas, estimulam os nervos colinérgicos (pro- durores de acetilcolina) dos sistemas nervosos centrale periférico, provocando sempre as mesmas respostas biolégicas de diversos érgios e fungbes (ver Box). Goo resposta compostes podem provocar quando simul neamente presentes na égua, A presenca de poucos agentes com baixa similaridade de efeitos leva a uma resposta t6xica menor ¢ vice-versa, Na Figura 3 0 eixo dos x representa © ntimero de compostos quimicos presentes na mistura € 0 eixo dos y, 0 ntimero de composts que apresentem “similari- dade” de acuagio t6xica sobre érgios ow sistemas especificos. O eixo dos 2 mostra a toxidez acurnu- Jada, a qual cfesce exponencialmente com 0 aumen- to de compostos com “similaridade’. A necessidade de atualizar 0 conceito de tratamento de 4gua no Brasil No Brasil, a grande maioria das estagOes de trata- -mento de dgua emprega a metodologia genericamente Toxider dos compostos anticolinesterase" ‘A Acetilcolina é um neurotransmissor encontrado, com ceria freqiiéncia, em diversas partes do sisterna nervoso humano. Concentracées elevadas de Acetl- colina provocam efeitos téxicas nos muisculos lisos, no coragio enas glandulas exécrinas. Niveis téxicos no sistema nervoso central também provocam tensio, ansiedade, insonia, dores de cabeca, insabilidade emo- ional, pesadelos, apatia, confusio e esquecimento generalizado, Outros eftitos incluem reducio do bati- ‘mento e possvel parada cardiaca e contragées muscu- lares, que em estégio avancado podem levar& paraisia. ‘A entima Acetilcolinescerase, naturalmente sinte- tizada no sistema nervoso central, regula a producio da Acetilcolina, provocando, através de um mecanis- mo de hidrélise, a sua decomposigio, quando ‘ocorrem niveis elevados. Diversos compostos quimicos, muito dos quais fartamente encontrados em mananciais de 4gua potivel e classficados como anticolinesteraes, tm a propriedade dupla de estimular a produgio de aceticolina e de destrur a acetleolinesterase, causan- do, nos dois casos, o aumento das concentragés da ace- tilcolina, até que niveis téxicos sejam atingidos. Entre esses, 0s mais comuns sio 05 compostos organo- fosforados eos carbamatos (ésteres do dcido carbimico), amplamente utlizados na formulagio de pesicidas. TToxinas produzides por algas cianoficeas (presen- tes em quantidades clevadas, no reservatro Billings, inclusive no brago do Taquaceruba), também pos- suem efeito anticolinesterase. Todos os efeitos acima relacionados podem ser provocades por uma tinica dose de qualquer agente anticolinesterase que consiga atravessar a barrcira sangue-cerébro ¢ tenha acesso a0 sistema nervoso central, atuando como sinapse do sistema nervoso periférico, Doses tinicas, muito pequenas, podem ser toleradas sem o aparecimento de efeitos, mas a ‘exposicio repetida, mesmo de concentragbes muito reduzidas, provocam uma inibigio cumulativa de Acetileolinesterase, levando a concentracoes t6xicas de Acetilolina, Se uma pessoa sobrevive a um ataque agudo por um composto anticolinesterase a recuperagao. ‘completa. Encretanto, seqielas crdnicas envolvendo o sistema nervoso central (tis como esquecimento, pesadelos, ¢ aterag6es encefalogrificas) podem per- sistir por longos perfodos de tempo. 31 Weis, B, “Emerging Challenges to Behaviotial Toxicology”, in: Neurobehavirial Toxicology, Ed. Z. Annau, John Hopkins ‘University Pres, Baltimore, 1986, 32 National Research Condl op. ct. 262 convencional”. A Reso- de 18 de junho de 1986 (qie estabelece a cassificagio das dguas no territério nacional), cambém refere-se a “tratamento conven- ional”, sem no entanto acrescentar qualquer defi- niglo ou significado da expressio. Na prética da engenharia sanicéria nacional se convencionou chamar de “tratamento convencio- nal” 0s sistemas constituidos das operagies e proces- s0s unitérios de coagulacio floculagio, sedimen- tacho, fltragio, desinfeccéo com cloro € equilibrio de carbonatos. Sistemas com essas caracteristicas sio utilizados para a remogio de cos, particulas suspensas, prin- cipalmente as coloidais, que conferem turbidez as Aguas e, através da desinfecrZo, de organismos pato- génicos, caracterizados em fungio do grupo colifor- ‘me. Uma porcentagem muito pequena de substin- cias orginicas naturais ou sintéticas, associadas a “Toxider acumulada particulas que conferem carbider, podem ser remo- vidas através de adsoredo aos flocos formados du- rante as operacées de coagulacio-floculacéo. Alguns metais pesados, tais como o ferro ¢ ¢ manganés, que apresentem pequena solubilidade aos niveis de pH normalmente utilizados, sio também removidos, embora em porcentagens pequenas. Entretanto, nio se pode admitir, absolutamente, que esses sistemas convencionais de tratamento sejam capazes de remover porcentagens significa- tivas de metais pesados compostos organicos sinté- ticos e alguns narurais, como por exemplo os dcidos htimicos ¢ fillvicos. Elementos exiremamente t6xicos tais como 0 merciio, 0 cidmio ¢ o chumbo apresentam solubi- lidade minima a valores de pH bastante altos, (em torno de 9,0) e s6 podem ser removidos em sistemas cspecialmente projetados para essa finalidade. Da mesma maneira, néo s4o removidos os micro- Figura 3 -Eftte da “imilaridade” na taxides de misturas de composts rxicos:” 33 Idem. 263 ques Dooes no Bras poluentes organicos sintéticos, ta fosforados € organo-clorados, compostos benzé- nicos, fendlicos, ésteres do acido ftalico, aromaticos polinucleares, e outros, notadamente presentes em” rmananciais que oebem efluentes industriais, Torna-se mandatério, portanto, se 0 objetivo € fornecer 4gua segura a0s consumidores dos sistemas publicos de distribuico, que o conceito de “trata- mento convencional” seja adaptado as verdadeiras caracteristicas da maioria dos mananciais hoje disponiveis O caso da Regio Metropolitana de Séo Paulo merece, dentro desse contexto, uma consideracéo especial. Mananciais como a Represa Billings, que, durante aproximadamente 60 anos recebeu os cefluentes domésticos e industriais de praticamente toda a bacia do Alto Tieté, € que abastece, entre ‘outras, a regio de Santo André, Sao Bernardo e Séo Caetano - ABC (através do rio Grande, hoje isolado da Billings, mas ainda extremamente poluido, principalmente por metais pesados), alguns municipios da Baixada Santista (que recebem os efluentes da Billings através da Usina Henry Borden € tio Cubatio) ¢, infelizmente, dentro de futuro préximo, toda a regido abastecida pelas estagées de tratamento do Alto da Boa Vista e Theodoro Ramos (através da ligaggo do brago do Taquacetuba 20 reservatério do Guarapiranga), continuam a ser considerados como mananciais protegidos, isto é ‘como aqueles que nfo recebem nem mesmo efluen- tes domésticos. Reservatérios com essas caracteristicas, na qual devem também ser inclufdos os reservatérios do Guarapiranga (que recebe, além de concentragées macicas de sulfato de cobre para o controle de algas, clevadas cargas de efluentes domésticos)¢ o sistema Baixo Cotia (que recebe os efluentes do parque industrial localizado 20 longo’ do rio Cotia, principalmente na drea de influéncia da Rodovia «Raposo Tavares, € elevada descarga de esgotos do- mésticos, uma das quais, a apenas algumas centenas de metros do ponto de captacio da estacio de trata- mento), néo podem mais tetas suas éguas tratadas através de sistemas concebidos apenas para a remo- G40 de cor, turbider e organismos coliformes. EstagSes de tratamento de égua captando éguas de mananciais com esse perfil poluidor devern, a proce de 1) colunas de carvio ativado gra pectivos sistemas de regenerag3o, ou, preferi- velmente, com sistemas de carvio biologica- mente -ativados, visando 4 remogio de micropoluentes orgdnicos, principalmente os ;nillar, com os res- nfo polares, com elevados pesos moleculares, ¢ © potencial de formagao de trihalometanos. E importante salientar que 2 aplicagdo direra de carvao ativado em pé, como efetuado em algumas estagSes de tratamento de agua no é recomendada, devido & baixa eficitncia que proporciona. Além disso, essa pritica sé é recomendével para aplicagbes intermitentes, quando ocorrem manifestacées esporidicas de composts orginicos ou compostos que provocam sabores ou odores as 4guas; 2) sistemas de precipitagéo quimica para a remocéo de metais pesados através de hidréxido de célcio ou pelo processo de sulfetos soliveis (utilizando NaHS) ou sulfetos insohiveis (com FeS). Os * metais pesados que se apresentam na gua com parciculas entre 1 a 10 e com pesos moieculares entre 100 e 200 podem ser, também, eficien- ‘temente removidos através de osmose reversa €, possivelmente, através de ultrafiltragio; A pritica de osmose reversa, com 0 advento das membranas de poliamida, que, hé alguns anos, substituiram as membranas de acetato de celulo- se é, atualmente, bastante atrativa, uma vez. que possibilita rejeigio salina préxima a 99%, com press6es inferiores a um décimo das utilizadas anteriormente.* Esses sistemas de tatamentos complementares io indicados apenas como referéncia. A escolha de sistemas adequados assim como 0 estabelecimento de critérios de projeto adequados devem ser efe- “tuados através de: 1) caracterizagio exaustiva do manancial, efecuada por entidade reconhecida ¢ independente do produtor. Os parimetros a ser analisados deverio ser estabelecidos em fungio das caracter(sticas cocupacionais da bacia, principalmente no que se refere & atividade industrial e agricola. Pelo fato de nfo fornecerem informagio adequada sobre 34 Wilf, M., “History of Development of Reverse Osmosis Technology for Water Desalination", Hydronautics, Membrane Technology Conference, San Diego, 1295, 264 sub-rogados Total ou 0 Carbono Total Halogenado) pod: set incluidos apenas como referéncia, mas néo como indicadores da qualidade das éguas. Deverdo ser tomadas, durante pelo menos um periodo hidrolégico completo, _amostras compostas na superficie ¢ profundidade da coluna liquida e nos sedimentos; 2) conserugéo € operagio de um sistema piloto composto das operacées ¢ processos unitérios de tratamento, considerados necessrios, em fungéo da caraccerizacao das éguas do manancial. A operacéo das unidades piloto fornecerd as caracteristicas do efluente final, 0 qual deverd ser compativel com a qualidade de agua préestabele- ida. Nao sendo compativel, devern ser modifi- cadas as caracter(sticas operacionais do sistema elou acrescentadas novas operagGes € processos unitérios até que se obtenha agua segura para abastecimento humano, Os dados levantados no sistema piloto proporcionario, também, elemen- ‘tos para a estimativa dos custos de operacéo © ma- tiutengio da estagdo de tratamento em escala real. Como néo se dispée ainda, no Brasil, de legisla- Glo adequada para estimar efeitos sinérgico de mictopoluentes orginicos, sugere-se que os efeitos. téxicos desses compostos sejara consi- derados como aditivos, conforme especificado no item relativo & mistura de compostos carci- nogenicoss, 3) monitoramento continuo do manancial e do fluence tratado na estagio projetada de acordo com os critérios e parimetros de projeto, obtidos na operacio da unidade piloto. Essa vigilincia permanente deverd ser efetuada por Srgio au- ténomo e independente, com competéncia legal para atuar sobre o produtot quando os padroes de qualidade nio estiverem sendo atendidos. ‘Vigilincia sanitdria da qualidade da dgua © controle da qualidade de qualquer produto, inclusive de aguas de abastecimento piiblico deve, necessariamente, ser efetuado através de dois instru- mentos. O primeiro deles, caracterizado como “con- trole operacional”, é efetuado pelo préprio produror ¢ visa & adaptacio sucessiva do processo produtivo para 0 atendimento de padrées de qualidade pré- estabelecidos. No caso da producio ¢ distibuigao de gua potdvel, as companhias estaduais ou munici- Agua ¢ Senearento Basico ~ Una Visdo Reslista eus préprios labor tem a finalidade de adaptar as ‘operagées © processos unitdrios que compdem as suas estagGes de tratamento A variacao constante das guas brutas dos mananciais que operam, para 0 continuo arendimento dos padroes fixados pela Por- taria 36/GM, do Ministério da Satide, que estabele- ce 0s padrées de potabilidade de égua para abasteci- mento piblico no territério nacional. O segundo instrumento designado “controle legal” deve ser eferuado por uma entidade absolutamente distinta, aurnoma ¢ independente que, com laboratdrios € corpo técnico préprio, efetue, rotineiramente, a atividade de monicoramento, e que possa verificar se 0 produtor es efetiva e consistentemnente atenden- do aos padtdes estabelecidos pela legislagao corres- pondente. Em se tratando de dguas de abastecimen- to publico, objeto intimamente associado a satide dos consumidozes, principalmente das classes menos favorecidas, 0 6rgio que exerce o controle legal, de- verd ter competéncia para atuar sobre o produror de Agua potdvel, impondo as sangbes cabiveis ¢ exigin- do, na forma da lei, as medidas consideradas adequa- das para o atendimento dos padries estabelecidos. Na grande, maioria dos palses, com excecio de alguns poucos onde jé foram institucionalizadas as agéncias de protesio ambiental, 0 controle legal da qualidade de agua para consumo humano, ou como se convencionoui chamar no Brasil, a vigilancia sani- téria da dgua potivel, € atribuigio inaliendvel dos Ministérios de Satide ou, por delegagio, das Secre- tarias Estaduais de Saide. No Brasil, infelizmente a vigilincia da 4gua potével distribuida nao ¢ efetuada adequadamente, acarrerando uma clevada inseguran- ca com relagio a sua potabilidade, particularmente quando os mananciaisrecebem efluentes industriais € as dguas sio tratadas através de sistemas convencionais. ‘Nesse sentido merece, uma vez mais, relatar 0 que ocorre na Regio Meteropolitana de S4o Paulo: A Lei Estadual n° 118, de 29.06.73, que autorizou a. constituiggo da CETESB, conferiu-lhe a atribuigao de “efetuar 0 controle da qualidade das éguas destinadas a0 abastecimento puiblico e outros us0s, assim como o das 4gua residudrias” (art. 2, inciso 2). Sendo a CETESB uma companhia de economia mista, a prestagio de servigos de controle de quali- dade, ndo poderia ser eferuada graciosamente, 0 que redundou no estabelecimento de um pagamento, como forma compensatéria dos servigos de controle da qualidade da égua produzida pela SABESP discribufda na Regiio Metropolitana de Sao Paulo. 265 Aguas Boves na Bras Esta situagi absolutamente esdruxula, sendo imoral, nna qual a entidade fiscalizada pagava a entidade fis- calizadora pela fiscalizagio efewada, perdurou du- range um certo perfodo, até serem incuidos, no ‘orcamento da prépria CETESB, recursos adequados para efetuar o controle da 4gua distribuida, isentan- do-se a SABESP do pagamento correspondent. Apesat de possuir competéncia técnica para tanto, a CETESB deixou de efetuar 0 controle legal dentro dos ctitérios de continuidade acima men- cionados, passando este a ser feito pelo préprio producor da dgua, ou seja, a SABESR, gerando uma situagio absolutamente insustentivel, tanto do onto de vista insticucional, como em termos de protecio da satide piblica dos consumidores da dgua diseribuida & populacio da Regio. Cabe mencionar, ainda, que a Resolugio SS 178 de 26.06.1996 da Vigilancia Sanitiria do Estado de Sio Paulo, estabelece os procedimentos do programa de vigilincia da qualidade para consumo humano no procedimencas incluldos nessa 0s sistemas _de abastecimento puiblicos de dgua potivel 2 fis respectivos cadastra- mentos junto a Vigilincia Sanitéria do Estado, ccolugio, orientam apresentar scus proprios planos mensais ¢ semestrais de amostrigem e cfetuar, eles préprios, o controle da qualidade da égua que produzem. Institucionaliza-se, portanto, dessa mancira, dem- to do préprio estado, a pritica, jd bastante difund- ida no Brasil, de se outorgar 20 produtor de égua potivel, a competéncia legal, para que cle pzSprio exerga a vigilincia saniciia da gua que produ. Coleta ¢ tratamente de esgotos e excretas Em 1950, a primeira reunido do grupo de espe~ ialistas em saneamento ambiental da Organizagéo Miindial da Satde®, definiu saneamento ambiental Organisms ptogtaics em epoos ou exces y yoy Moscas ‘gua supericial e Resfduossildos = =} [ Agricultura e agiicubura ‘Agua superficial e subserrinea Figura 4- Rotas de aruminto de orgeniomos pargénicosenconradesem egos ¢ excreta * 35 WHO, “Expere Committee on Environmental Sanitation: Report on the First Session’, WHO Technical Report Series, n®10, Geneva, 1950. 36 Franceys, R. Pickford, J. and Reed, R. "A guide tothe development of on site sanitation”. World Health Organization, Geneva, 1992. 268 Seen nnn c ccc nee SUEEEInNEEInrsneNIenneeemmenensmmemmmeemiand coma a provisio de si dos seguintes servigos: “abastecimento de égua potivel, disposigdo de excretas e exgotos, coleta de lixo, controle de vetores transmissores de doengas, drenagem urbana, habitacio salubre, suprimento de alimentos, condigdes atmosféricasadequadas e segu- tanga no ambiente de trabalho. ” Essa conceituaao, foi, com o tempo, crescendo em complexidade, Hoje, a definigio nao estaria completa se no int cluisse protec contra a radiacao, a ameaca dos produtos quimicos sintéticos ¢ a degradagio social, principalmente nos paises em estégio de desen- volvimento, Nesse sentido, saneamento ambiental, ‘ou saneamento bésico, como se convencionou chamar no Brasil e em outros paises do continente americano, ¢ um conceito dinimico, que deve ser continuamente adaptado a0 meio’ ambiente real, estabelecendo as caracteristicas ambientais minimas, que possibile qualidade de vida adequada para © trabalho © o desenvolvimento social. controle adequados Nio ¢ possivel, nem desejavel, separar as doencas relacionadas com a égua daquelas afetadas pela falta de saneamento bisico adequado. E cvidente que diversas doengas incluidas nas caiegorias “com suporte na égua’, “de higiene” e “de contato com a ‘gua’, relacionadas anceriormente, dependem do accesso de esgotos ou excretas humanas & agua, de maneira que a linha de transmissio pode ser interrompida através da disposigio adequada de excreta ¢ efluentes liquidos assim como a a protesdo dos mananciais utilizados para abastecimento. Algumas infeogdes, tais como as provocadas por hhelmintos (Ascaris humbricoides, Necator americans, Angylastomus duodenalis, e.), que podem penetrat 4 pele em contato com solos timidos, nfo sao rotal- ‘mente controladas através de provisio de égua pots vel, 56 podem ser removidas através de instalagbes sanitérias adequadas. As possiveis rotas de trans- missio so mostradas na Figura 4.” Opgies tecnoldgicas De uma maneira genérica, 0 mimero de possi- bilidades de tratamento € praticamente ilimitado. Cada caso requer uma avaliagio especifica, que leve roposiggo de sistemas que scjam vidvels dos ntos de vista técnica e econémico-financeiro e mn culturalmente aceicos. © primeiro aspecto a ser analisado ¢ associado is possibilidades de veiculagéo hideica ou “a seco” e se @ tatamento ou disposicgéo deve ser eferuado no Proprio local, ou seja, centralzado, Essa escolha depende das caracteristicas do sistema de abaste- cimento de gua local (e, portanto, do consumo per capita) e da densidade populacional da tea consi- derada. A Figura 5* mostra que os sistemas de dis posicio ou tratamento centraizados sio economica- mente vidveis apenas em éreas de densidade popula- ional elevada, enquanto que os de disposigdo local, tanto “a seco” como de veiculacio hidrica sio com- ativeis com dreas rurais ou dreas periféricas de baixa densidade populacional. No Brasil, mesmo em dreas de renda relativamente baixa, mas com densidade populacional compativel, empregam-se os sistemas de veiculacio hidrica, com tratamento centializado. Os sistemas “a seco”, de disposigao de excretas cen- talizados, nfo sfo culturalmente aceitos no Brasil So, porém, largamente aceitos em Taiwan, Coréia € algumas Areas do Japao, onde as excretas sfo utili- zados como fertiizantes agricolas” O sistema condominial de coleta de esgotos domésticos (ver Box), desenvelvido pelo Enge- aciro José Carlos de Melo*, € um exemplo de adaptagio criativa de sistemas convencionais, per- mitindo expandir a cobertura a dreas menos privile- giadas. Esse sistema teve a sua implantagio iniciada em Recife, na década de 80, expandindo-se rapida- mente a diversas cidades da Nordeste brasileiro e, posteriormente a outros locais, entre 0s quais 0 estado de Santa Catarina ¢ a Baixada Fluminense no estado do Rio de Janeiro, Além de apresentar custos muito menores do que os tradicionais, o sistema condominial € fortemente fundamentado na participaggo comunicéria, na qual os proprietérios dos lotes se encarregam da manutengio dos cole- cores prediais e da vigiléncia do uso adequado do sistema, impedindo, por exemplo, que resfduos sélidos sejam langados nas bacias sanitdrias, 37 Idem, 38 Veenstra, S., Aluerts, GJ. and Bijsma, M., “Technology Selection’, ch ement Principles, Eds. R-Helmer and 1. Herp ative Council, World Health Organization, E&EN Spon, London, 1997, of Water Quality Mi Supply & Sanication Cal rr 3, in:*Water Pollution ControlA Guide to the use ol, United Nations Environment Programme, Watet 39 Mara, D.D., Cairneross,S., "Guidelines forthe Safe Use of Wastewater and Excrea in Agriculture and Aguaculrte-Measures for Public Health Protection’, World Heath Organization, United Natons Environment Programme, Geneva, 1989, 40 Mdo, CR, "0 Sistema Condominial", Revista Engenharia Sanita, n°, 24(2), pp. 237-238, 1985, 267 "me gues Does ne Brasil desefio do seneamento utbano Os desafios de saide ambiental que 0 saneamen- to urbano de paises em desenvolvimento enfrentam, aumentaram em complexidade, face 20s conceitas de desenvolvimento sustentado impostos pela sociedade, a partir de meados da década de 80. A “agenda antiga’, que previa a provisio de servicos de saneamento adequados para todas as residéncias, foi substirufda pela “agenda nova’ que exige a gestio sustentada dos efluentes urbanos ¢ a protegio da qualidade de recursos hidricos vitais para as geraces atual ¢ futuras". Nesse sentido 0 conceito de si- rneamento bésico deve ser ampliado para 0 conceito ‘mais amplo de saneamento ambiental, evicando-se, em adicio & provisio de sistemas adequados de coleta ¢ disposigio de esgotos e excretas, a contami- nacio de corpos de dgua e manguezais pelo lanca- mento de residuos liquidos e sélidos, a contamina ‘gio do lengol fredtico devido & auséncia de sistemas de coleta de esgotos € disposigio inadequada de residuos sélidos € 0 assoreamento ¢ a redugio do Urbano Densidade populacional (habiha) Poco Bomba manual fuxo de-escoamento cm canais de drenagem, pelo fangamento de residuos em terrenos beldios ¢ mar- gens de cursos de égua. O saneamento deve, portan: desvincular-se de sua conoragio arual de m: executor de obras publicas ¢ sé consttuir em aio integrada direcionada 2 preservagio da qualidade ambiental. * O nivel a que cada uma das “agendas” vém sendo aplicadas depende do estigio de desenvolvimento local, como mostrado na Tabela 7", embora se possa constatar que ambas as “agendas” coexistem na iaioria das cidades de paises em desenvolvimento e ‘mesmo em algumas cidades modermas do mundo industrializado. ‘A cidade de Buenos Aires, por exemplo, situada ‘em um pals de renda per capita média, rata apenas 296 de seus esgotos, e nao controla adequadamente a descarga de efluentes industriais no sistema de coleta piiblico, permitindo a introducio de poluen- tes quimicos que afetam os sistemas de tratamento € aumentam os riscos téxicos dos corpos receptores. Veiculagio hidiea centralizada Chafariz Conecsio domiciliar Figura 5 - Esratdyas para oleae diposicto de egos e excretas® 41 Bartone, C.R., “Financing Wastewater Management”, chapter 7, in: Water Pllution Control - A Guide to che use of Water Qua~ ligy Management ipks, Eds. Helmer, R. and Hespanhol, 1, United Nations Environment Programme, Water Supply &¢ Sani- tation Collaborative Council, World Health Organization, E&EN Spon, London 1987. 42 Bartone, CR, Bernste Jn Leitmann, J. And Eigen J, "Toward Environmental Suategies for Cities: Policy Considerations for Urban Environmental Management in Developing Counties", Urban Management Programme Policy Paper no.18, The Wosld Bank, Washington, D.C., 1994, 43 Veenstra, Ss Alaerts,G. J. and Bylma, M. op. cit. 268 ‘A Regido Metropolitana de S40 Paulo, que ini- ciow na década de 80, a implementagio do Sistema Sanegran ~ Saneamento da Grande Séo Paulo, constitufdo basicamente de coletores tronco, inter- cepradores, emissitios e trés grandes estagbes de tratamento (Barueri, ABC ¢ Suzano) ainda sofre, por falta de gestio adequada, dos mesmos proble- mas que as demais capitais e grandes cidades da ‘América Latina, A construcio da estacio de craca- mento do ABC, por exemplo, uma das unidades qua 6 Saneemento Basico ~ Une Viséo Realista previstas no Sistema Sanegran, teve um acaso de aproximadamente 20 anos, 0 que custou algumas dezenas de milhées de délares de prejuizo, devido, principalmente, & obsolescéncia das estruturas Inicialmente construfdas. Mesmo com a entrada em operacio, das estacées Parque Novo Mundo ¢ Sio Miguel, integrantes do Projeto Tieté em implemen- tacio, a capacidade de tratamento de esgotos na Regio Metropolitana de Siv"Paulo, ficars limitada a uns meros 45%. Cabe considerar, ainda, que apro- O sistema condominial de coleta de esgotos domésticos™ O sistema condominial é constituido por coletores de diamerros reduzidos (de 50 2 100 milimetcos) assentados & pequena profundidade. Os coletores pre~ diais se constiruem na base do “condominio” passan- do pelo fundo dos lotes, onde se conectam diretamen- teas latinas. O custo total dos sistemas condominiai E equivalente a 20 2 30% do custo dos sistemas con- vencionais, no qual os coletores prediais séo inde- pendentes ¢ se conectam aos coletores secunditios, que passam pela frente dos lores. ‘As familias podem escolher entre permanecer no sistema tradicional, ou se integrar a0. sistema condominial. Ocorrendo a integragio, a familia paga uma taxa de ligagio, que pode ser financiada pela companhia local, ¢ uma pequena tarifa mensal. No sistema tradicional a familia paga 0 custo inicial do coletor predial, mais a parcela correspondente ao cole- tor secundétio € uma tarifa mensil. Nesse caso os custos sio apreximadamente trés vezes maiores do que 0s do sistema condominial. Cada familia € responsivel pela manutengio dos coletores prediais, enquanto que a municipalidade se responsabiliza pelos coletores secundarios e coletores tronco. A reducio de custos operacionais proporcio- nada, redunda om tarifas substancialmente reduzidas para os proprietitios dos loves que integram o sistema condominial. Cer ondiio 44 Md, J.CR, op. cit. 269 Aguoe Bocas no Brasil ximadamente 15% dos esgotos gerados na regite ainda nao so coletados e que as dguas do rio Pinhei- 105, que cruzam uma das reas mais nobres de S: Paulo, se inantero com aproximadamente 90 % de esgotos até o ano 2003, se nfo ocorrerem oustos ‘atrasos no desenvolvimento do Projeto Tieté. © panorama demonstra, inequivocamente, em- bora néo se tenha absoluramente satisfeito a “velha agenda’, que nenhuma considerago, mesmo con- ceitual, foi extendida & “nova". Nenhuma agio foi romada até 0 presente com relacio ao controle do nivel trdfico dos reservatbrios da Regito Metropo- litana de Sao Paulo ¢ no médio Tieté. Os reserva- trios das Usinas Hidrelétricas de Barra Bonita ¢ Barisi, que recebem todo 0 impacto dos esgotos gerados na Regiio Metropolitana de So Paulo, atingiram niveis urdficos elevadissimos, tornando suas éguas imprdprias para abastccimento piiblico, lazer e pesca comercial. Além disso, grande parte dos mananciais da Regio Metropolitana de So Paulo, continuam recebendo esgotos ¢ lixo domésticos Com a suspensio do bombeamento do rio Pinhei- ros em Pedreira, a Represa Billings cessou de receber esgotos industriais, mas 0 adensamento urbano as ‘Tabla 7 - Tipologia Econémica-Ambiental do Sancamento Urbano. ren de residuas Je adequado, © a Represa de Guarapirangs, No Sistema Baixe Cotia, a situagdo ambiental é extre- mamente grave devide & descarga conjunta de esgo- tos domésticos ¢ industrais de toxicidade elevada. suas margens e a corr liauides e sélidos c mesmo océrrendo 1, sern con! Evidencia-se, portanto, 0 contraste entre o nivel de renda da regio (que se situa entre média alta e alta) ¢ das tarifas de dgua e esgoto praticadas (equi- valentes as dos paises industrializedos), € 0 nivel pre- cério da tipologia sanitéria-ambiental oferecida 4 sua populacio. Retiso de agua A Agenda 21 dedicou importincia especial ao reiso, recomendando aos paises participantes da CNUMAD, a implementagio de politicas de gestao dirigidas para 0 uso € reciclagem de efluentes, integrando protecio da saide piiblica de grupos de risco, com préticas ambientais adequadas. ‘No Capitulo 21- “Gestéo ambientalmente ade- quada de residuos Liquidos e sélidos", Area Progra- mitica B- “Maximizando 0 retio ¢ a reciclagem Problemas de Pass de renda_—-—Paises de renda_——Paises de renda ‘ates de renda saneamento urbano basa (= US$ 650 média baixa média alta alta per capita) (USS 650-2500 (US$ 2.500-6.500 (= USS 6.500 per capita) per capita) per capita) Acesso aos Cobertura baixa, Acesso minimo ——-Cobereura Cobertura servigos de principalmente na is éreas pobres_——_geralmente adequada saneamento drea urbana mais urbanas| aceitives nivel bisico pobre clevado de coleta de esgotos ‘Teatamento de Praticamente Poucas estagdes Aumentando a Blevados niveis ~ cesgotos sem nenhum detratamento, _capacidade de de tratamento; tratamento ‘com operasso grandes deficiente investimentos cfetuados nos ‘ikimos 30 anos” Contre da Problemas de Problemas Preocupagio poluigio das saxide devido a severos de bisica com Aguas sancamento said, devido’ _—poluigio devido-——_amenidades e inadequado ¢ descarga de ao nivel baixo de substncias presenga de fluentes ‘tratamento de txicas sgotos nas russ domésticos «esgotos domésticos « industrais 45 Barone, C, R. Bersein, J, Leitmann, J. And Eigen J op. ct. 270 ambientalmente objecivos bésicos: “vitalizar e ampliar os sistemas na- cionais de reso ¢ reciclagem de residuos”, € “tomnar disponiveis informagies, tecnologia ¢ instruments de gestio apropriados para encorajar © <0 ‘operacional, sistemas de reciclagem e uso de guas residudrias”. dequadas", estabeleceu, come [A pritica de uso de éguas residudtias também é associada, ¢ suportiva, as scguintes dreas programé- ticas incluidas nos capftulas 14 - “Promovendo a agricultura sustentada e 0 desenvolvimento rural”, € 1B - “Protegio da qualidade das fontes de éguas de abastecimento - Aplicagdo de métodos adequados para o desenvolvimento, gesto e uso dos recursos hidricos”, visendo & disponibilidade de égua “para a producio sustentada de alimentos e desenvolvimen- to rural sustentado” e “para a protegéo dos recursos hidricos, qualidade da agua e dos ecossistemas aqué- ticos”. Embora nia exista, no Brasil, nenhuma le do relativa, e nenhuma mengio tenha sido feita sobre o tema na nova Politica Nacional de Recursos Hidricos (Lei n° 9.433 de 8 de janeiro de 1997), j& se dispe de uma primeira demonstracio de vontade politica, direcionada para 2 institucionalizagéo do reso. A *Conferéncia Intérparlamentar sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente” realizada em Brasilia, em dezembro de 1992, recomendou, sob 0 item Conservagio € Gestio de Recursos para 0 Desenvolvimento” (Pardgrafo 64/B), que se envi- dasse esforcos, em nivel nacional, para “instituciona- lizar a reciclagem e retiso sempre que possivel promover o tratamento € a disposicao de esgotos, de ‘manera a.ndo poluir 0 meio ambiente”. ‘Necessidade de retiso Nas regides dridas e semi-dridas,a 4gua se tornou tum fator limitante para o desenvolvimento urbano, industrial e agricola, Planejadores ¢ entidades ges- toras de recursos hidricos procuram, continuada- ‘mente, novas fontes de recursos para complementar a pequena disponibilidade hidrica ainda disponivel. No poligono das secas do nosso Nordeste, a dimenséo do problema € ressaltada por um anseio, ‘que j existe hd 75 anos, para a transposigio do rio ‘Sao Francisco, visando ao atendimento da demanda dos estados nio siparianos da regifo semi-irida, gue e Sencamento Basico — Uma Visio Reatista situados 20 norte ¢a lee de gua bacia de drenagem, Diversos paises do Oriente Média, onde a precipita- ‘Go média oscila entre 100 ¢ 200 mm por ano, dependem de alguns paucos ios perenes e péquenos reservatéfios de 4gua subterrinez, geralmente loca- lizados em regibes montanhosas, de dificil acesso..A 4gua potdvel é proporcionada através de sistemas de dessalinagio da égua do mar e, devido & impos- sibilidade de manter uma agricultura ierigada, mais cde 50% da demanda de alimentos sfo saiseirosatra- vés da importagio de produtos alimenticios bisicos. O fendmeno da escasser nao é encretanto, auri- buto exclusivo das regiées dridas semi-dridas. Mui- 1a regides com recursos hidricos abundantes, mas insuficientes para atender a demandas excessiva- ‘mente elevadas, também experimentam conflitos de uusos e sofrem restrigées de consumo, que afetam 0 desenvolvimento econémico e 2 qualidade de vida. A Bacia do Alto Tieté, que abriga uma populagdo superior a 15 milhées de habitantes e um dos maiores complexos industriis do mundo, disp, pela sua condicio caracteristica de manancial de cabeceira, vaz6es insuficientes para a demanda dg Regio Metropolitana de Sio Paulo ¢ municipios circunvizinhos. Esta condigio tem levado & busca incessante de recursos hidricos complementares de bacias vizinhas, que trazem, como conseqiiéncia direta, aumentos consideriveis de custo, além dos cevidentes problemas legais ¢ politico-institucionais associados. Esta prética tende a se tornar cada vez ais restritiva, face & conscientizagao popular, arre- gimentacao de entidades de classe e a0 desenvol- ‘vimento institucional dos comités de bacias afetadas pela perda de recursos hidricos valiosos. Nessas condig6es, 0 conceito de “substituigao de fontes”, se mostra como a alternativa mais plausivel para satisfuzer a demandas menos restitivas, libe- tando as aguas de melhor qualidade para usos mais nobres, como o abastecimento doméstico. Em 1985, ‘© Conselho Econdmico e Social das NagGes Unidas, estabeleceu uma politica de gestio para reas ca- rentes de recursos hidricos, que suporta este con- cceito: “a nio ser que exista grande disponibilidade, nenhuma égua de boa qualidade deve ser utilizada para usos que toleram 4guas de qualidade inferior" ‘As dguas de qualidade inferior, tais como esgo- 10s, particularmente os de origem doméstica, éguas 46 United Nations. “Water for Indusctial Use", Economic and Social Council, Report E/3058STECA/50, United Nations, New ‘York, 1958. ‘guas Doses no Brasi de drenagem agricola e éguas salobras, dever, sem. pre que possivel, ser consideradas como fontes alte _nativas para usos menos restritivos. Q uso de tecno- nvolvimente dessas logias apropriadas para o des fontes, se constitui hoje, em conjunggo com a me- Ihoria da eficigncia do uso ¢ 0 controle da demanda, na estratégia basica para a solugio do problema da falta universal de 4gua. Formas potenciais de retiso Através do ciclo hidrolégico a agua se constitui «em um recurso renovavel. Quando reciclada através de sistemas naturais, é um recurso limpo e seguro que é, através da atividade antrépica, deteriorada em niveis diferentes de poluigio. Entretanto, uma vez poluida, a agua pode ser recuperada e reusada para fins benéficos diversos. A qualidade da égua uti zada e 0 objeto expecifico do reiso, estabecerao os niveis de tratamento recomendados, os critérios de seguranca a serem adotados e os custos de capital ¢ de operacio e manutencio associados. As possibi- lidades e formas potenciais de resiso dependem, evi- dentemente, de caracteristicas, condigées e fatores locais, tais como decisio politica, esquemas institu- cionais, disponibilidade técnica e fatores econdmi- maticamente os tipos bdsicos de usos po exgoros tratados, que podem ser mpemenss, Usos urbanos No setor urbano, 0 potencial de retiso. de efluentes é muito amplo e diversficado. Entretanto, uusos que demadam gua com qualidade elevada, requerem sitemas de tratamento e de controle avan- cados, podendo levar a custos incompativeis com os beneficios correspondentes. De uma maneira geral, exgotos tratados podem, no comexto urbano, ser utilizados para fins potiveis ¢ no potiveis. ‘Usos urbanos para fins potiveis ‘A presenga de organismos patogénicos ¢ de compostos orginicos sintéticos na grande maioria dos efluentes disponiveis para reso, principalmente naqueles oriundos de estagbes de tratamento de exgotos de grandes conurbagées, com pélos indus: tiais expressivos, classifica 0 reso potivel como uma alternativa associada a riscos muito elevados, tornando-o praticamente inaceitével. Além disso, os ccustos dos sistemas de tratamento avangados que igo doméstins gts india i Urtanos | | Receaio | | Aqticulure Indi Nio ef | Pee Joc] | Oxtroe Natagio_ ‘Ski aquitco, Pesca kanoagem l |Dessedentacio| Pomares e Forragem, Colors Calturas de alimentos vinhas | farce | inert | lings crs Figura 6 - Tipo de reisa.* 47 Hispanhol, 1,"Eagoros como Reoutso Hidrico- Pare Iz Dimensoe Plas, Insirucionis, Leas, Eonémicofnanciras € Sécio-clturai", Engenharia Insinuo de Engenharia de Si Palo, n°523, ano 35, Sto Palo, 1957 48 dem, 272 necessérios, levariam & inviabilidade eco- nceira do abast havendo, ainda, face as consideragées anteriormente sto ptlica, nio efetuadas, garantia de protesso adequada da satide publica dos consumidores, Entretanto, caso seja imprescindivel implemen- tar rei urbano para fins potéveis, devem ser obe- decidos os seguintes critérios basicos: ‘Utilizar apenas sistemas de retiso indireto ‘A Organizagio Mundial da Satide nfo teco- menda o retso direto, vizualizado como a conecgio direta dos efluentes de uma estacio de tratamento de esgotos a uma estagio de rratamento de dguas ¢, em seguida, ao sistema de distribuigio. Como retiso indireto, compreende-se a diluigio dos esgotos, apés tratamento, em um corpo hidrico (ago, reservatério ou agiiffero subterrineo), no qual, apés tempos de decencio relativamente lon- gos, € cfecuada a captacio, seguida de tratamento adequado e posterior distribuicao. © conceito de reiiso indircto implica, evidentemente, que 0 corpo receptor intermediirio, seja um corpo hidrico nao poluido, para, através de diluigGo adequada, reduzir a carga poluidora a niveis aceitéveis. A prética do reiiso para fins poréveis, como vem se pretendendo efetuar em Séo Paulo, na qual égua altamente po- Juida por efluentes, tanto domésticos como indus- triais, é revertida, sem nenhum tratamento, para ‘outro manancial, também extensivamente poluido por esgotos domésticos e por elevadas concentracées de cobre, utilizados para controle de algas, no se classifica, portanto, como redo indireto. Utilizar exclusivamente esgotos domésticos Devido a impossibilidade de identificar adequa- damente a enorme quantidade de compostos de alto risco, particularmente micropgluentes orginicos, presentes em efluentes Iiquidos industriais, manan- ciais que recebem, ou receberam, durante perfodos prolongados, esses efluentes, sio, a priori, desqua- lificados para a prética de retiso para fins pordveis. O rei, para fins pocveis, s6 pode ser praticado, ten- do como matéria-prima basica, esgotos exclusiva- mente domésticos. Na Repiblica da Namibia, por exemplo, que vem tratando esgotos exclusivamente domésticos ¢ Saneemenio Basico ~ Uma Visa para fins potdveis, os esgotos i separada © lctados em red independentes intensivo € efetuado pel2 municipalidade, para vicar a descarga, mesmo acidental, de eficences induscriais ou compostos quimicos de qualquer espécie, “no sistema de coleta de esgotos domésticos”, re. Além disso, um controle Empregar barreiras multiplas nos sistemas de tratamento, Os elevados tiscos associados @ utilizagao de es- gotos, mesmo domésticos, para fins pociveis, exi gem cuidados extremos para assegurar protecéo efetiva e permanente dos consumidores. Os sistemas de tratamento a serem implementados, deve ter tunidades de tfatamento suplementares, além da- quelas teoricamente necessétias. E recomendavel, quando possivel, reter os esgotos jd tratados em aqiif- feros subterrineos, por periodos prolongados, antes de se encaminhar a 4gua para abastecimento piiblico. ‘No caso da Republica da Namibia, acima referi- do, esgotos exclusivamente domésticos, coletados na cidade de Windhoek, sio inicialmente tratados na Gammams Sewage Treatment Works, que consta de grades, caixas de areia, decantadores primarios e sis- tema de lodos ativados, seguido de lagoas de matu- acto, O efhiente da estacéo de Gammams ¢ enca- minhado & Goreangab Reclamation Plant, para a fase de potabilizagao dos efluentes domésticos tratados. Esta estagio consta de pré-ozonizagao, coagulacao- floculagio em primeiro estagio, flotagao com ar issolvido, adsorgio em carvao ativado em p, com gulagdo-floculagio em segundo estigio, sedimenta- ‘Glo, filtros répidos de areia, ozonizagio, de-aeracio € reciclagem de ozona, adsorgao em carvao ativado granular, cloracio 20 breakpoint, corregio de pH com cal ¢ armazenamento da 4gua potivel em lencol fredtico, por longos perlodos, de onde é, posterior- mente, removida através de pocos ¢ introduzida no sistema de abastecimento publico de Windhoek, Esse sistema vem operando desde outubro de 1968, 0s estudos epidemiol presente, demonstraram que as doengas transmis- siveis prevalecentes no pals (doengas diartticas € Hepatite A) no sao associadas & 4gua reciclada, que abastece a cidade. 49 Van der Merwe, B, Peers, .Menge, J." Namibia Case Study”, in; Health, Agriculeural and Environmental Aspects of Wastewater land Exereta Use, Report of a Joint WHOVFAO/UNEP/UNCHS Regional Worlshop, Harare, Zimbabwe, World Health =port P ‘Organization, Geneva, 1994, 273 Agu2s Doees no Srasil Adguitie aceitagao publica e assumir responsabilidades pelo empreendimente. (Os programas de rezio para fins pociveis devem ser, desde a fase de pl 0, mative de ample divulgagio e discussio com todos os setores da po- pulacdo concernente, Para a implementacio, deve haver aceitago publica da proposta de reviso. Por ‘outro lado, as responsabilidades técnica, financeira e moral, que cabem as entidades encarregadas do planejamento, implementacio € gestio do sistema de reviso, devern ser explicitamente reconhecidas e assumidas. ‘Usos urbanes para fins no pordveis Os usos urbanos no potéveis envolvem riscos menores € devem ser considerados como a primeira copsao de reso na area urbana. Entretanto, cuidados especiais devem ser tomados quando ocortre contaro direto do publico com gramados de parques, jar- dins, hors, reas curisticas e campos de esporte. Os maiores potenciais de resiso sfo os que empregam exgotos tratados para: « itrigaggo de parques ¢ jardins puiblicos, centros es- portivos, campos de futebol, quadras de golf, jar- dins de escolas ¢ universidades, gramados, drvores € arbustos decorativos a0 longo de avenidas & rodovias: « inrigagao de reas ajardinadas ao redor de edificios piblicos, residenciais e industrais « reserva de protegio contra incéndios; * sistemas decorativos aquéticas tais como fontes ¢ chafarizes, espelhos e quedas dégua; © descarga sanitiria em banheiros puiblicos e em edificios comerciais ¢ industriais; ¢ lavagem de trens ¢ 6nibus piiblicos. Os problemas associados a0 reso urbano no potivel sio, principalmente, os'custos elevados de sistemas duplos de distribuigio, dificuldades opera- cionais ¢riscos potenciais de ocorréncia de conex6es ccruzadas. Os‘custos, entretanto, devem ser conside- rados em relagio aos beneficios de conservar 4gua potivel e de, eventualmente, adiar ou eliminar a ne~ cessidade de desenvolvimento de novos manancizis, para abastecimento puiblico. Diversos pai industrializados da potdvel, Entre esses, o lapio vem utilizando efluentes secundérios pare diversas finalidades. Em Fukuoka, uma cidade com aproxi- madamente 1,2 milhdes de habitantes, situada no sudoeste do Japao, diversos setores operam com rede dupla de distribuigéo de gua, uma das quais com esgotas domésticos cratados em nivel tercidrio (lodos ativados, desinfec¢o com cloro em primeiro stigio,fltragio, ozonizagio, desinfeocao com cloro em segundo estagio), para uso em descarga de eoietes cm edifcios residenciais. Esse efluente tratado, é tam- bém utlizado para oucros fins, incluindo irrigacio de drvores em 4reas urbanas, para lavagem de gases, € alguns usos industriais, tais como resfriamento ¢ desodorizagio”. Diversas outras cidades do Japio, entre as quais Oita, Aomori e Téquio, estio fazendo uso de esgoros tratados ou de outras 4guas de baixa qualidade, para fins urbanos nao poriveis, propor- ionando uma economia significativa dos escassos recursos hidricos localmente disponiveis "=". Usos industriais Os eustos elevados da 4gua industrial associados as demandas crescentes, tém levado as induistrias a avaliar as possibilidades internas de retio € a consi- derar ofertas de companbias de sancamento para a compra de efluentes tatados, a pregos inferiores aos da agua porével dos sistemas publicos de abaste- cimento. A “égua de usilidade” produzida através de tratamento de efluentes secundirios e distribuida por adutoras que servem um agrupamento signifi- cativo de indstrias, se constitui, atualmente, em ‘um grande atrativo para abastecimento industrial a ccustos razodveis. Em algumas areas da Regito ‘Metropolitana de Séo Paulo o custo da égua posta a

You might also like