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4 texto 8 ESTETICA DA RECEPCAO Mirian Hisae Yaegashi Zappone CARACTERIZACAO GERAL E INSERGAO HISTORICA DA ESTETICA DA RECEPCAO (© que fazemos ao ler ou que processos desencadeiam-se quando lemos? Essa é uma pergunta que te6ricos de diversas dreas de conhecimento tm se preocupado em responder. Dos estudos cognitivistas, aos Tingifsticos e até histéricos, a leitura enquanto processo, habilidade ¢ atividade social ou coletiva tem sido vastamente estudada, como comprova firta bibliografia sobre o tema. Emibora a relacio leitura e literatura seja bastante evidente, o campo dos estudos literirios 86 passou a tematizé-la a partir das primeiras décadas do século XX e, de forma mais sistemtica, a partir da década de 1960. Pode-se dizer que esse interesse € tributério, em grande parte, do redimensionamento das nogSes de auctor, de texto © de liter. Com relacio a0 autor, assistiti-se & sua morte nas iltimas décadas: ele morreu enquanto entidade “detentora do sentido” do texto que escrevesEmbora seja o produtor do texto, ou seja, aquele que articula lingiisticamente idéias, sentimentos, posigdes, entende-se, hoje, que ele nio controla (3) sentido(s) que sua produgio pode suscitar. O autor nio é mais considerado © “dono” do sentido do pelos leitores, nem pelos responséveis por editar ou transformar um original em objeto {que vai ser lido. © texto, por sua vez, desvencilhou-se das amarras estruturalistas/funcionalistas que atribufam exclusivamente & textualidade as chaves para a interpretagio de uma obra. A partir de novas abordagens da linguagem (pragmitica, teoria da enuneiagio, andlise do discurso), que passaram a considerar mais enfaticamente a relagao linguagem-sociedade, o texto deixou de ser mera Ofginizagio lingiifstica que “carrega” ou que “transmite” pensamentos, informagdes ou idéias de seu produtor. A linguagem passou a ser entendida, nos estudos lingtifsticos contempordneos, comoyincapaz de traduzir todas as intencOes do falante. Tal concepcio de linguagem influenciow a caracterizagio do texto como estrutura cheia de lacunas ¢ de nio-ditos (Ona, se 0 texto jf nao diz tudo, nem seu autor é o dono de um sentido para cle, o leitor tem sido considerado pega fundamental no proceso de leitura, Seja individualmente, seja coletivamente, 0 on TJEORTA LITERARTA aD leitor é a instincia responsével por atribuir sentido aquilo que Ie. A materialidade do texto, o preto no branco do papel s6 se transformam em sentide quando alguém resolve ler. E, assim, os textos so lidos sempre de acordo com uma dada experiéncia de vida, de leituras anteriores ¢ num certo momento histérico, transformando o leitor em instincia fundamental na construcio do processo de significagio desencadeado pela leitura de textos (sejam eles literfrios ou nao). ~p E é esse leitor, com novo status, o principal elemento da Estética da Recepgio, Embora com -s¢ dizer que o principio geral das vérias vertentes da Estética da Recepgio € recuperar a experiéncia de leitura e apresenti-la como base para se pensar tanto o fenémeno literdrio quanto a propria historia literéria. Em suma, trata-se de uma estética Fundada na experiéncia do leitor (saliente-se que a palavra leitor tem diferentes sentidos para os diversos representantes da estética da recepeio), como se verd com mais detalhes adiante. Como jj se disse, o interesse pela leitura ¢ pela figura do leitor como elementos importantes para se pensar a caracterizagio da literatura & fato bastante novo. Ao comentar sumariamente 0 desenvolvimento da moderna teoria literéria, Eagleton (1989, p. 80) sugere trés grandes fases: a primeira, marcada pelos modelos da critica romantica, que teria vigorado até meados do século XIX, € cuja tonica residia nos estudos biegnfcas do autor, sendo a obra literdria © fruto de uma genialidade, O segundo momento estaria delimitado as primeiras décadas do século XX ¢ seria marcado pela excessiva preocupagio conto texto, como se pode notar nas tendéncias tanto do Formalismo (énfase nas estratégias verbais que faziam de um texto literatura) quanto do New Criticism (Enfase nas relagées entre os tragos lingifsticos ¢ as conseqiiéncias destes no sentido do texto, uso de técnicas de leitura cerrada dos textos). O terceiro momento abarcaria certas tendéncias mais contemporaneas de estudos literdrios que privilegiam a figura do leitor, como a Estética da Recepcio em suas varias vertentes, Como sugere a proposta de desenvolvimento da teoria literaria de Eagleton (1989), cada um dos elementos envolvidos na leitura desempenhou certa influéncia sobre os modelos tedricos que se preocuparam com o estudo da literatura: primeiramente © autor, posteriormente 0 texto ¢, finalmente, o leitor. Essas_mudangas te6ricas, normalmente, so decorrentes do desenvolvimento de modelos filos6ficos que proporcionam novas formas de ver a realidade ¢ 0 mundo, O advento da Estética da Recepgio como um modelo tcérico de leiturvinterpretacio do texto literirio e de elaboragio da historia literdria esta dirctamente relacionado a uma dessas mudangas, cujo centro de irradiagio parece ter sido a Fenomenologia. Em linhas muito gerais ¢ sumérias, a Fenomenologia surgi dos trabalhos desenvolvidos, no comego do século XX, pelo alemio Edmund Husset! (1859-1938). Ele propunha que se repensasse 0 problema da separagio entre sujeito ¢ objeto, consciéncia ¢ mundo, enfocando-se a realidade fenoménica dos objetos ou, em outras palavras, a maneira pela qual os objetos ¢ a realidade sio percebidos pela consciéncia, A base do método fenomenolégico de Husserl consiste em ver todas as realidades como puros fenéntenos, ou seja, a partir do modo como elas se apresentam em nossa mente. A fenomenologia consiste num método filoséfico na medida em que procura questionar as préprias condigées que tornam possivel qualquer forma de conhecimento. © conhecimento é possivel quando se compreende um fendmeno qualquer de maneira total e pura, 0 que pata Husserl significava aprender dele o essencial ¢ o imutivel A chave bisica de ligagio entre a Fenomenologia ¢ a Estética da Recepcio é explicitada por Eagleton: nuancas diferenciadas, pode Sea fenomenologia asseyurava, de um lado, um mundo cognoscivel, por outro estabelecia a centralidade do sujeito humano, Na verdade, ela prometia ser nada menos do que uma ciéncia da propria subjetividade. © mundo € aquilo que postulo, ou que “pretendo” postular: deve ser apreendido em relagio a mim, como uma correlagio de minha consciéncia (EAGLETON,1989, p, 63), Trazendo fais consideragdes para o campo da literatura, um texto seria um puro fendineno se se apreendesse sua esséncia, o que s6 poderia dar-se através da experiéncia de um sujeito, ou seja, de um leitor. Pensando iia experiéncia da leitura, a obra litersria seria aquilo que € dado 3 154 (8) ESTETICA DA RECEPCAO consciéncia do leitor. No sentido dessas consideragSes de Husserl, 0 texto literario nio seria tuma realidade independente de uma consciéncia que o percebesse. Ele sé seria um texto literdrio mediante uma consciéncia que © experienciasse, ¢ tal experiéncia s6 seria propiciada mediante ay atuagio de um leitor. \ ‘Um fendmeno, qualquer que seja, ¢ afetado pela percepgio que dele tem aquele que 0 apreende por meio da consciéncia e, claro, da propria subjetividade, Nesse sentido, ler é, também, criar.o, texto) Por isso, pode-se afirmar que as rafzes da Estética da Recepgio situam-se em prineipios da fenomenologia e que as vertentes da Estética da Recepcio sio uma espécie de fenomenologia direcionada para o leitor. ESTETICA DA RECEPGAO E OUTRAS TEORIAS BASEADAS NO ASPECTO RECEPCIONAL Representando, pois, um dos diversos ramos da moderna teoria literdria, as teorias orientadas para o aspecto recepcional valorizam a figura do leitor, fizendo da leitura ou dos mecanismos ou atividades que ela pressupde uma forma de desvendamento do texto literério ¢ de compreensio da literatura e de sua histéria. Muitos sio os autores que discorreram sobre a literatura a partir do enfogue recepcional: Roman Ingarden, com seu A obra de are literéria, de 1931, Roland Barthes em O. prazer do texto, de 1937, Hans Robert Jauss com A histria da literatura como desafio d teoria literdria, de 1967, Umberto Eco com Leiturs do texto literdrio, de 1979, Wolfgang Iser com O ato da leitura: wma teoria do ofitoesético de 1976, Stanley Fish com Is there a text in this cass? (1980), Robert Escarpit com © seu Sociologia da literauwra, de 1958 e, mais atualmente, trabalhos como A ordem dos lives, de 1992, Prticas de leiturt, de 1985, ¢ outros estudos produzidos por Roget Chartier. (O que esses autores tém em comum, efetivamente, & 0 foco a partir do qual estudam a literatura, de sua recepgio, pois se por um ldo podem ser colocados sob a rubrica de autores de uma toria recepcional, por outro seus pontos de vista sobre 0 que enfocar da recepcio parecem ter suas particularidades. Esses diferentes olhares sobre a recepgio de um texto literério ganharam status de vertentes da Teoria da Recepsic. Deve-se ressaltar que 0 titulo deste capitulo foi escolhide em razao de ser esta a rubrica sob a qual mais freqiientemente se valoriza a figura do leitor, © que a expressio Esética da Reeepeao relaciona-se de modo especifico as idgias formuladas por Hans Robert Jauss, © mais importante representante das teorias orientadas para o aspecto recepcional. Tendo em vista essa informacio, para 6 objetivo deste item, seria melhor pensar em Teorias da Recepgio, ot seja,/aquelas abordagens tedricas que propoem a figura dos receptores/leitores © mesino o ato da leitura como elementos fandamentais para'a caracterizacio do fato literério.| Nesse senitido, podem-se divisar trés linhas de abordagem das Teorias da Recepcio: 1) Jauss (1978; 1994) aparece como um dos autores mais exponenciais e mais significativos entre os {que colocam © leitor ¢ a Ieitura como elementos privilegiados nos estudos literarios. As idéias de Jauss sio particularmente conhecidas sob 2 rubrica de Eviéica da Recepcio. Além de pensar 0 ‘cariter artistico de um texto em razio do efeito que este gera em seus Icitores, Jauss também propde uma nova abordagem da hist6ria lierdria pautada também no aspecto recepcional. Sua proposta de historia literdria articula tanto a recepcio atwal de um texto (aspecto sincrOnico) quanto sua recepgio a0 longo da histéria (aspecto diacrdnico), € ainda a relagio da literatura com 6 processo de construgio da experiéncia de vida do leitor. Jauss reivindica que se tome como principio historiogrifico da literatura © modo como as obras foram Tidas e avaliadas por seus diferentes piblicos na hist6ria 2) Outra vertente da teoria recepcional, o Reader-Response Criticism, desenvolveu-se mais nos dominios norte-americanos, Seus representantes mais difundidos em nosso meio sio Stanley Fish (1980), Jonathan Culler, e seu represcntante alemio, Wolfgang Iser (1999). © que esses te6ricos tém em ‘comum parece ser o fato de pensarem mais especificamente nos gfites que os textos desencadeiam em seu leitor. Contrapondo-se Tadicalmente 3 idéia de que o texto é uma estratura de onde emana um sentido, esses autores considcram que o texto s6 ganha existéncia no momento da leitura eos “resultados” ou “efeitos” dss leitura sio fiandamentais para que se pense seu sentido. 155 a ng Peonts txteniara 3) Também caracterizada como uma teoria recepcional, a Sociologia dé leitwra tem um sotaque eminentemente gaulés, como o provam a maioria de seus representantes, capitaneados por Robert Escarpit (1969), um dos autores pioneiros, a quem se seguiram outros como Roger Chartier (1996; 1999) ¢ Pierre Bourdieu. © texto de R. Escarpit, Sociologia da literainra, de 1958, jé traz as inclicagSes principais da direeio que seguem esses estuddos de recepeio. Para esses autores, © estudo da literatura é feito por via dos elementos que dio base ¢ sustentagio para que ela exista, a saber, o pablico (leitores), o préprio livro ¢ a leitura, Escarpit entende a literatura nio a partir de seus elementos textuais, mas como um tipo de leitura que é feita por gratuidade ¢ que permite a evasio, © que exclui de suas pesquisas 0 aspecto estético. Interessa-se, também, por todos os Gircuitos que envolvem o fivro (sua produgio na esfera do autor, do editor, sua distribuigéo circulagio). Chartier, por sua vez, volta-se mais especificamente & historia do livro ¢ da leitura, privilegiando o aspeeto das “apropriagtis” que os leitores fizeram dos textos, a histéria da leitura, bem como a *materialidade” dos textos enquanto aspecto que exerce influéncia direta sobre a(s) leitura(s) que se pode(m) fazer de um texto, JAUSS: NOVA HISTORIA LITERARIA BASEADA NA ESTETICA DA RECEPCAO frio da moderna teoria literaria deu-se em 1967, quando, na Alemanha, criticou severamente a teoria literétia Ainsergio de Hans Robert Jauss no ce em uma palestra na Universidade de Constang, anterior e contemporanea a cle. Jauss tece vitias consideragdes sobre essa teoria ¢ historiograf liceratias. Embora seja uma forma de historia, a historiografia literaria nfo consegue abarcar 0 aspecto histérico tal como Jauss © compreende, ou seja, diferentemente de um mero encadeamento cronolégico de obras e autores. Vejamos com mais detalhes: Jauss considera que as histérias da literatura em geral, nas suas formas mais habituais, embora tentem fugir desse encadeamento cronolégico de autores ¢ obras, sempre acabam limitando o aspecto histsrico & cronologia, Muitas vezes, acusa ele, tais projetos historiogréficos eram disfargados, tentando-se escamotear © dado cronolégico, pressuposto como hiistorico, através de outras justificativas para o encadeamento de obras ¢ autores. Uma dessas tentativas de escamotear-se esse aspecto cronol6gico foi considerar como “nexo” ou ponto comum ~para a reunio dos textos ora a identidade nacional, ora a continuidade da heranca da Antigiiidade (a semelhanga com os clissicos), tentando-se buscar sempre aquilo que, nos textos literrios, nio se modificava. Entretanto, para Jauss, mesmo levando em conta esses outros fatores, 0 que persistia nesses modelos historiograficos ainda era a ordenagio cronol6gica, considerada como seu aspecto de historicidade. Para Jauss, essas correntes de historiografia enfrentavam um dilema: o da conclusio e do avango da hist6ria, pois, baseando-se nos critérios da mera ordenagio cronolégica, “o historiador da literatura limita-se 4 apresentagio de um passado acabado [...] ¢, apegando-se a0 cinone seguro das ‘obras-primas’, permanece ele o mais das vezes, em sua distancia hist6rica uma ou duas geragies atrasado em relagio a0 estigio mais recente do desenvolvimento da literatura” (AUSS, 1994, p. 8) © que Jauss procura mostrar é que a qualidade ou o valor de uma obra literitia no podem ser medidos out apreciados nem a partir das condigées historicas ou biogréficas de sua origem nem do lugar que ela ocupa no desenvolvimento de um género, Para ele, a qualidade e a categoria estética de tum texto vém “dos critérios de recepcio, do efeito produzido pela obra e de sua fama junto 2 posteridade” (JAUSS, 1994, p. 7) Nesse sentido, sua critica atinge também duas importantes orientagdes dos estudlos literdrios, 0 Formalismo (método imanentista) € 0 Marxismo (sociologia da literatura). Para Jauss, os estudiosos ‘dessas duas linhas teGricas também tentaram formular explicagGes metodol6gicas para esclarecer a sucessio hist6rica das obras litersrias, Ou seja, tentaram formular critérios para considerar um texto como fato literirio ¢, assim, explicar a sucessio histérica. Segundo Jauss, ambas falharam em seu intento, A sociologia da literatura, baseando-se numa concepcio marxista de arte, reduziu, segundo Jauss, a literatura a mero reflexo de estruturas sociais. Assim, para a teoria literdria marxista, o grau 156 iG) Esrérrca 94 necercho de importincia de uma obra cra medido em razio do espelhamento que essa obra fazia da realidade e do processo social. Tratava-se, portanto, de uma estética da representagio, pois tinha como principio a identidade entre a forma do texto e a realidade social a que ele se referia. Uma historia da literatura, segundo esses principios, selecionaria as obras que melhor tivessem representado as estruturas sociais bem como a luta de classes. Para Jauss, essa forma de conceber a entio, se poderia ver a literatura modema que transgredit: ¢ subvertew os procedimentos miméticos (tepresentagio ¢ espelhamento da realidade) ¢ buscou exatamente romper com cles? Essa é uma pergunta a que o método de Jauss procuraré responder, como se werd adiante, © Formalismo, por sua vez, € visto por Jauss como um método que desconsiderou as condicionantes histéricas da literatura, entendendo-a como uma estrutura auténoma, cujo valor, como propde a famosa formula wtlizada por Chklovski, residiria na soma de todos os procedimentos artisticos que a compsem € que seriam capazes de desautomatizar a linguagem (CHKLOVSKi, 1971, p. 41-43). Ora, se o texto litersrio possui uma organizacio estrutural, uma série de procedimentos singulares, ele s6 seré considerado arte se puder ser percebido por alguém. Nesse sentido, também os formalistas levam em consideragio aspecto recepcional, pois o leitor precisa desvelar 0 procedimento, perceber a forma como uma criacio que se contrapSe a modelos ¢ formas ja automatizadas. Ao considera 0 aspecto recepcional, os formalistas tiveram que retornar & questio da historicidade, pois perceber um objeto como diferente ow mesmo como contraposigio a outros modelos implica levar em consideragio outras formas de arte ou de procedimentos anteriores a esse objeto. Nas palavras de Jauss, “a interpretagio deve levar em conta também a sua relagio com outras formas existentes anteriormente a ela, Com iss0, a escola formalista comecou a buscar seu proprio caminho de volta rumo 3 historia” (AUSS, 1994, p. 19) A saida formalista foi elaborar a idéia de sistemas estético-formais que se sucederiam: os textos, canonizados de uma época acabariam sendo automatizados € novas formas desautomatizadas surgiriam, ocupando o lugar das anteriores, de forma sucessiva ‘Embora ambas as teortas (sociol6gica e formalist) tivessem tentado resolver o dilema entre historia e estética, para Jauss nenhuma delas conseguiv. Vejamos um resumo dos posicionamentos dessas duas teorias sobre 6 cardter estético ¢ histérico da literatura e, posteriormente, a proposta de Jauss literatura ocasionou um grande problema: com: (© cariter estétio dos sextos reside nos] O “nexo” ou a relagio historica de uma obra com procedimentas desautomasieados que o texto outa é feito através da sucessio de obras eandnicas pode mizer em oposigfo aos procedimentos| que debam de sé-lo quando surge obras nowas | auromatizads, com formas que desautomatizam a perceptibilidade Teoria das formas antigas, substituindoas, A “evolugio” formalista litera situasse no péndulo entre automatism e inowagio e constrdi-se através ou por micio da cosilagio ene convencionalismo e trigio rnuptura ¢afirmagio de novos modelos, (O catiterestétco dos textos esti em sew poder | A sucessio ou histiria literdtia € obscrvada sob 0 de repradugio da weilidade e do proceso swil. A) nexo ou relagio entre as obras que melhor literatura, enquanto aspeeto da superestrarura,|espelharam a realidace social, valorizando-se, nos refletria a infta-estrutura (condigies politico | textos, o seu cariter mimético, concebido a pati de Teoria —Jeconfmicas de producio) num percurso | uma nogio de verossimilhanga afeita ao Realismo) sociolégica | dialético entre “mostrar” ¢ “ocular”, © que| do sé. XIX. Tal critério de historizagio exclu tod caracterizaria 2 ideologia do texto e eamlsém a} as estétieas que mao se valem do eater mimético, fiangGo ideoldgica que ela cumpre num dado] como, por exemple, o Moderaismo. momento e numa dada sociedade Quadro 1, As teorias sociolégica ¢ formalista ¢ o dilema entre historia ¢ estética [A proposta de Jauss ow a safda para o dilema de como unir em um 6 aspecto a estética ¢ a historia vem da incorporagio de uma dimensio pouco trabalhada pelos estudos literrios até entio: a dos leitores, dos espectadores ou do piiblico, 157 {TJ EORTA LITERARIA oe Considerando-se que, tanto em seu cariter artistico quanto em sua historicidade, a obra literéria é condicionada primordialmente pela relagio dial6gica entre liceratara ¢ leitor, [..] hd de ser possivel, no mbito de uma historia da literatura, embasar nessa mesma relagio 0 neo entre as obras literstias, E isso porque a relagio entre literatura e leitor possui implicagies tanto estéticas quanto histsricas JAUSS, 1994, p. 23) Para Jauss, portanto, na instincia ou na dimensio do piblico ou dos leitores de um texto € que se encontram as bases metodolégicas para que se possam verificar tanto o valor estético de um texto como o nexo que ligaria as obras numa sucessio historica © valor estético de um texto & medido pela] © “nexo” ov o elemento de relagdo entre a recepgio inicial do pablico, que o compara com | sucessio de textos na histéria literdtia & © ourras obras ji lias, petcebe-the as] préprio leitor/piblico. Jauss pensa numa Estética | singularidades © adquire novo parimetro para |cadeia de recepgdes que teria continuidade e da avaliagio de obras faturas (clabora um novo|na qual a compreensio dos primeiros Recepgiio | horizonte de expectativas) leitores itia sendo sobreposta pela recepeio dos piiblicos posteriores. Essa sucessio de recepgdes do texto, por sua ve2, mostratia © significado histérico e o valor estético dos textos. Quadro 2. Valor estético ea recepsio conform Jauss (1994), Depois de apresentar seu ponto de vista sobre como unir histéria ¢ est fundamentar essa nova metodologia de re-escrita da histéria liters teses, onde expde conceitos basicos de sua proposta a, Jauss propée-se a Para tal, langa mio de sete SETE TESES PARA UMA NOVA HISTORIA DA LITERATURA, A primeira tese Jauss procura mostrar em sua primeira tese que a historicidade da literatura no “repousa numa conexio de ‘fitos literarios’ estabelecida post factum, mas no experienciar dindmico da obra literaria por parte de seus Ieitores” (JAUSS, 1994, p. 24). Ao fundamentar seu principio metodplégico para uma historia literdria baseada no leitor, Jauss vé a necessidade de distinguir 0 modo como a histéria positivista vé um texto literdrio e como ele 0 concebe em sua nova metodologia Para a concepgio positivista, o texto litersrio seria um objeto que existiria por si s6, de forma atemporal ¢ que apresentaria para os espectadores, de diferentes momentos, jum mesmo aspect ou significado, Essa idéia de texto aproxima-se da id a de “monumento”, enquanto marco hist6rico e atemporal. Assim, os textos literarios seriam vistos como fatos literérios tal como os fatos histéricos. Para Jauss, no entanto, ha uma grande diferenga entre ambos. Vejamos um exemplo: A guerra de Canudos consiste num fato histérico datado no tempo e que teve suas Premissas € desenvolvimentos posteriores. O texto literdrio, para Jauss, mio pode ser considerado da mesma mania, pois ele nfo existe por si mesmo independente do leitor. Jauss, jentio, desenvolve a nogio de acontecimento literirio: Os sertées, de Euclides da Cunha, s6 se tornam um acontecimento literirio quando um leitor o 1é, observando suas particularidades em relagio a outros textos literarios que ji tenla lido, o que o faz adquitir novos parametros para avaliagio de outras obras que venha a ler posteriormente. Logo, o texto literério no é um fato, _ Rem uma agi, mas um ato de recepgio. Diferentemente do acontecimento hist6rico, Jauss assinala que o acontecimento litersrio s6 tem conseqiigncias se a recepgio de um texto se propagar para puiblicos posteriores ou se for por eles Feromada, ou “na medida em que haja leitores que novamente se apropriem da obra passada, ou autores que desejem imité-la, sobrepujé-la ou refiti-la” (AUSS, 1994, p. 26), 158, “ Ke x) esrérrea 04 necercko A segunda tese A segunda tese de Jauss € na verdade, uma contra-argumentagio possivel critica de que sua proposta metodoligica de historiografia bascada na experiéncia do leitor pudesse resultar numa Ieitura impressionista ou mesmo em algumia espécie de psicologismo. Para contrapor-se a essa possibilidade, Jauss explica que a experiéncia literdria do leitor (0 acontecimento literdrio) pressupde um “saber prévio", que funciona como conjunto de saberes tanto literdrios quanto da prépria vida, “com base no qual o novo de que tomamos conhecimento faz-se experiencivel, ou seja, legivel” (JAUSS, 1994, p. 28). Tentando demarcar o modo como o leitor confere sentido ao texto, Jauss restringe mais o sentido desse conhecimento prévio, entendendo-0 como sistemas histérico-literirios de referencia trazidos tanto pelo leitor quanto evocados pelas obras. Esses sistemas abarcariam as mais diversas convengées litersrias, como certas marcas dos géneros, 6 estilo, certas formas, técnicas narrativas etc. {0 sistema histirico-literirio que cada Ieitor utiliza em cada obra recebe o nome de horizonte de \ expectativa.Tomemos como exemplo uma convengio litersria como a da caracterizagio da heroina romintica, a moga pura, ingénua, idealista em sua concepgio do mundo ¢ do amor, branca ¢ palida, cuja aspiracio de vida € 0 matriménio. Construida pelos romances romanticos, ela se tornou marca dos romances até o Realismo. Entretanto, quando Eca de Queitoz constréi suas herofnas, a Luisa de O primo Basilio ow a Maria Monforte de Os maias, por exemplo, evoca, em seus textos, 0 horizonte de expectativa do romance romantico para depois repudit-lo. Ele 0 faz transformando 0 modelo feminino evocado no horizonte de expectativa de seus textos no avesso do horizonte de expectativa do leitor, através da caracterizagio de heroinas cuja aparéncia assemelha-se 3s das heroinas, romanticas, mas que sio levadas pela luxciria, tornando-se mulheres addilteras, que abandonam o casamento, os filhos € sua posigio social. Assim, 0 autor choca o paiblico acostumado com as heerofnas até entio conhecidas e oferece-Ihe outra configuragio para essas personagens. Aterceira tese Considerando que 0 horizonte de expectativa de uma obra pode ser reconstrufdo ou demarcado, de forma objetiva, Jauss propoe outra nocio, a partir da qual o cariter artistico de um texto pode ser medido: a nogio de distancia estética. Jauss a entende como o afastamiento ow ndo-coincidéncia entre 0 hotizonte de expectativa preexistente do pablico ¢ o horizonte de expectativa suscitado por uma nova obra.) Assim, se a distincia estética entre © horizonte de expectativa do piblico ¢ o da obra é pequena, sc ao horizonte de expectativa do piiblico, ela se aproxima do que ou seja, se a obra atende, a Jauss chama de arte “culindria” ou ligeira. Seria o caso dos best-sellers, dos romances fernininos de banca de jornal, cujas convengées ou sistemas literstios de referéncia nfo se alteram. Ao conttirio, se a distineia estética entre os horizontes de expectativa (do piiblico ¢ da obra) aumenta, sew valor estético tende a ser maior, transformando, normalmente, as peculiaridades desse novo modelo num ovo sistema literirio de referéncia. Note-se aqui que, embora Jauss pretenda afastar-se de uma concep¢io linear da histéria, regulada pela alternincia entre inovacio e ruptura, cle préprio acaba por adotar uma concepcio de tempo e histéria muito semelhante Aquela que critica nos teéricos formalistas ¢ marsistas. A diferenga reside, portanto, no fato de a validagio do cariter estético dos textos ser efetuada pela instincia receptora dos textos ~ 0 leitor. ‘Um caso ilustrativo de grande distincia estética (portanto de obras de valor estético) podem ser os textos dos modernistas brasileiros. Os horizontes de expectativa evocados em obras como Paulitia desvairada (1922), Amar, verbo intransitive (1927), Macunaima (1928) de Mario de Andrade, ou Memérias sentimemtais de Joie Miramar (1924) de Oswald de Andrade ¢ muitas outras, além de afastarem-se do horizonte de expectativa de seu priblico inicial, chegaram a contrarié-lo, a ponto de esse ptiblico ~ formado pelos leitores € pela critica da época — ter-se posicionado acirradamente contra elas, O horizonte de expectativa evocado nos textos modernistas, caracterizado pelo experimetalismo, pela rejeicio a0 academicismo, pela acolhida da linguagem cotidiana, pela valorizagio do prosaico ¢ do humor, pela valorizacio do folclore, do primitivo e pelo interesse pela 159 o(G)tonta urrendera vida cotidiana contrariava € superava o horizonte de expectativa do puiblico da década de 1920, delincado a partir do prosseguimento dos modelos realistas, naturalistas e parnasianos, Como mostra Jauss, no entanto, o novo horizonte proposto pela(s) nova(s) obra(s) forga 0 pablico i tansformagio de seu horizonte de expectativa, de modo que o horizonte antes desconhecido transforma-se em obviedacle, em expectativa familiar e passa a ser, portanto, o sistema histérico-literério de referencia pata leituras posteriores. Assim se det com os textos modernistas, Cujas propostas estéticas, em sua maioria, transformaram-se, para o pablico leitor de literatura, em procedimentos literarios familiares. Aquarta tese Ao tentar fundamentar seu método, Jauss posiciona-se, nessa tese, contra os métodos do objetivismo histérico nos estudos literirios, que imaginam © trabalho de interpretagio como o simples “descortinar do sentido atemporalmente verdadeiro de um texto” JAUSS, 1994, p.37). Por isso, faz uma série de consideracSes sobre como entende que os/sentidos de um texto sio ‘construfdos ao longo da histéria, Para cle, a reconstrugio do horizonte de expectativa de uma obra € tum aspecto fundamental para essa construcio do sentido. Tal reconstrugio € importante, pois ela permite que se conheca a hisi6ria do efeto (conceito emprestado de Georg Gadamer), on seja, 0 modo { como o proprio ato da compreensio esti abarcado pela historia, Expliquemos: para Jauss, a propria {| consciéncia que interpreta um texto (leitor, piblico, criticos) esté envolvida num pracesso hist6 | que afeta o modo como esse texto € lido. | Para explicar melhor a histiria do efito, Jauss tece uma série de consideragdes sobre a leitura de textos do passado. Para ele, sio equivocadas tanto as interpretagdes que levam em conta apenas os eritérios do passado quanto as que Iéem tais textos a partir de critérios do presente (perspectiva sincrOnica). Iss0 porque o proceso de interpretacio € bem mais complexo e deve, segundo Jauss, efetuar uma reconsirago do horizonte de expecativas a partir do qual uma obra foi criada e recebida, Para efetuar essa reconstrugio, Jauss novamente retonva um principio de Gadamer: a aplicagio da légica da pergunta ¢ da resposta a tradicio histérica. Para explicar tal Kigica, Jauss cita uma frase de Collingwood que ajuda a entender o principio da pergunta ¢ da resposta: “s6 se pode entender wm texto quando se compreendew a pergunta para a qual cle Constitui uma resposta” (JAUSS, 1994, p. 37). O texto seria a resposta a perguntas feitas pelo piblico, E como se 0 texto fosse crindo a partir de um conjunto de pressuposicdes de um piblico; por isso, sua compreensio necessitaria de levar em conta esse conjunto de pressuposigdes. Para descobrir a pergunta para a qual determinado texto € a resposta, Jauss assevera ser necessério reconstruir o horizonte de expectativa da obra e do piblico e o processo de comunicacio instaurado entre cles Entretanto, quando um intérprete do presente tenta responder & pergunta para a qual o texto seria uma resposta, a sua compreensio ji representa uum processo de incorporagio das outras interpretagbes feitas durante © processo histérico de recepcio do texto. O juizo estético adequado para Jauss € aquele que desenvolve 0 que ele chama de potencal de sentido da olva, que, por sua vez, nfo estaria apenas no rocesso reprodutivo (a obra lteritia propiciaria 0 reconhecimento, e nisso estaria seu valor), mas no seu Process produtivo (a obra de arte pode também transmitir um conhecimento quando “antecipa caminhos da experigneia fatura, imagina modelos de pensamento e comportamento ainda nio experimentados ou contém uma resposta a novas perguntas” (JAUSS, 1994, p. 39) Partindo dessas quatro teses iniciais, que dio sustentacio a sua estética baseada na recepcio, Jauss desenvolve outras trés teses, nas quiais procura mostrar que a histéria literdria deve levar em conta a compreensio progressiva da literatura ¢ sua fungio produtiva. Esse projeto de historia literéria articula-se em tomo de 3 aspectos: 1) de seu cardter diacrOnico, 2) de seu cardter sincrOnico e 3) da relacio entre literatura e vida pritica Aquinta tese Nessa tese, Jauss descreve como enitende o cariter diacranico de seu projeto de historia literstia. Nio se trata, para ele, simplesmente de ver a histéria literéria como sucessio de obras que tenham 160 KN oG) Estérica on necercho aleancado um apice estético no interior de um sistema, tal como supunham os formalistas, Embora formalista como um av ngo, nfo deixa de observar seu ético sio baseados no mesmo critério: a Janss reconhega o projeto de historia liter principal limite, ou seja, que seus aspectos histérico € inovagio da obra literati. Para Jauss, “as mudangas da série literiria somente perfizem uma seqiiéncia hist6rica quando a oposigio entre a forma velha ¢ a nova di a conhecer, também, a especificidade de sua mediagio” (AUSS, 1994, p. 43), Essa mediagio, por sua vez, significa aquilo que uma obra pode colocar e legar com leituras possiveis para os piblicos posteriores, ou seja, depende de seussigificados vias, | Como se vé, para Jauss, o higar de uma obra na série literaria nao pode ser determinado apenas em razio de sua recepcio inicial, portanto baseando-se apenas no contraste entre 0 novo € 0 velho no momento de sua aparicio. Essa fungio ou lugar depende, também, da historia das recepeded de um texto. Explica que, as vezes, o valor de uma obra nio é percebido no momento de sua recepgio inicial, jf que a distancia estética entre © horizonte de expectativa da obra e 0 do paiblico € muito grande ¢, talvez, seja necessirio um longo processo de recepgio para que a obra venha a ser icompreendida, Logo, para Jauss, a histéria liter‘ria baseada no critério recepeional no € um processo linear, seqiiencial, de obras literérias, mas um conjunto aberto de possibilidades, j4 que sentidos novos, podem ser vistos em textos antigos, 0 q c permite um constante reavaliar dos textos litersrios Asexta tese A sexta tese discorre sobre 0 aspecto sincronico do projeto de Jauss. As obras devem ser lidas a partir de sua histéria de recepgoes, num movimento diacréntico que articula varias fases, mas deve, também, articular a leitura da obra no momento de sew aparecimento: ‘A.contemplagio puramente dincrbica [..] somente alanga a dimensio verdadeiramente histérica quando rompe 0 einone morfaléiaeo, quando conftonta a obs importante do ponto de vista da histéria das formas com os exemple histoicamente fds, comvencionas, do géneroe,além diss, no dei de considerar a relagio dessa obra com © contexto hiteririo mo qual ela, a0 lado de outros géneros, teve de se impor GAUSS, 1994, p. 48), Para J) diacronia ¢ sincronia. Uma dimen recepgdes de um texto (aspecto diacrénico), mas relacionar essas recepgdes ao longo da recepcio da obra num dado momento (sua recepgio inicial). Relacioné-Ia a0 seu momento significaria reconstituir o horizonte de expectativa a partir do qual a obra é recebida “como atual ou inatual, como em consonincia com a moda, como ultrapassada ou perene” (JAUSS, 1994, p. 48). Jauss propde que sejam feitos cortes no antes e depois da diacronia para que se possa perceber |, embora 0s textos literarios (textos produzidos em diferentes tempos histricos) aparegam para o publico como se pertencessem a um sé tempo, sendo, pois, submetidos ao horizonte de expectativa desse pablico, eles foram alvo de recepgSes especificas em certos momentos histéricos 8, a historicidade da literatura se revela exatamente nos pontos de intersecio entre jo efetivamente histérica da literatura deve levar em conta as ML Assétima tese Essa tese é a apresentagio do terceiro aspecto considerado no projeto de historia literaria de Jauss: além de observar os aspectos diacrSnico e sinerénico, tal histéria deve também voltar-se para => 08 efeitos da literatura na vida pritica de seus receptores, ‘Ao abarcar a experiéncia cotidiana do leitor, Jauss pretende que a literatura seja pensada no apenas em termos de seus efeitos estéticos, mas também a partir dos efeitos éticos,, socias, psicoldgicos que possa suscitar] Ela seria, na concepcio desse autor, capaz de romper com a percepcio comut que o leitor tem dos proprios fatos da vida cotidiana quando permite “antecipar possibilidades nao coneretizadas, expandir o espaco limitado do comportamento social rumo a novos P pag deseo: ra” JAUSS, 1994, p. s € objetivos, abrindo, assim, novos caminhos para a experiéncia fa 161 § not Para Jauss, a distancia entre hist6ria € literatura e entre estética e histéria pode ser ciminuida fquando a historia literdria € capaz de abarcar a fungio emancipadora da literatura, que, a0 la e de relacionar-se com el. | transformar percepcSes da vida, é capaz de propor novas formas de vi ESTETICA DA RECEPCAO: LIMITES E AVANCOS Sem daivida, as idéias de Jauss contribuiram significativamente para que se repensasse o cariter | tanto estético quanto historiogrifico da literatura. E, no bojo de sua proposta de um “novo” tipo de“! “historia literdria, Jauss, de certo modo, acaba por propor novas categorias para se pensar o que € a. Titeratura. Ora, se 05 textos sio passives de diferentes recepges porque lidos por pitblicos diferentes.» nPO € No espago, o status cesses textos também se modifica, o que forga certa reformulagio dos critérios que estabelecem 0 que € € 0 que nio é literatura. Para Jauss, esse novos critérios sio estabelecidos através do “experienciar dindmico da obra literéria por parte de seus leitores” ((AUSS, © 1994, p. 24) 1 Entretanto, se se observa 0 aspecto privilegiado por Jauss para propor um novo modo de ver a literatura, ou seja, a recepgio do priblico, sua teoria esbarra cm um problema: a caracterizagio do leitor.:O leitor proposto por Jaussjcertamente nio é um leitor virtual de textos, Trata-se, antes, de um leitor muito espeeffico, com habilidades de leitura refinadas,) pois precisa ter como conhicirnento prévio todo um sistema de teferéncias que abarca desde as diferengas entre © uso estético e pritico da linguagem até 0 conhecimento de géneros, de temiticas, de convengies literdrias, Jauss fala, para de um leitor especializadgye plenamente integrado nas estruturas do, campo i ia de Jauss abarca apenas em parte 0 aspecto social ¢ histérico que pretende ou, em outtas palavras, o cardter social e a questio da historicidade ficam balizados apenas pelo conjunto dos leitores que possuem o horizonte de expectativa por ele pressuposto. Enfim, embora enfatizando um leitor especializado em detrimento de leitores reais, as idéias de Jauss introduzem, de forma mais sistemitica, a discussio sobre o aspecto recepcional dentro dos estudos literdrios, abarcando uma instincia fundamental do circwito autor/obralpiblico sobre o qual a literatura se crige, Por isso, a Estética da Recepgio e suas vertentes providenciam um espago, nio novo, mas mais amplo, para que se pense a literatura como categoria hist6rica e social e, portanto, ¢m continua transformacio. Nesse sentido, sua critica aos modelos tradicionais de historiografia lit ‘ria € plenamente valida e pertinente. REFERENCIAS CHARTIER, R. Prdtcas de lira, S40 Paulo: Estagio Liberdade, 1996, CHARTIER. R, A onfem dos liv: leitores, autores ¢ bibliotecas na Europa entre os séculos XIV ¢ XVI Brasilia: Editora da UnB, 1999. CHKLOVSKI, V, A arte como procedimento. In: TOLEDO, D. O. Teoria da feratuna: formalistas russos. Porto Alegre: Globo, 1971, p. 39-55, EAGLETON, 7. Teoria da tteratwra: uma introdugio, Tradugio Waltensir Dutra 1989, ESCARPIT, R. Sociologia da literatera, Lisboa: Arcddia, 1968. FISH, S. fs there a text in this clas? The authority of interpretive communities, Cambridge: Harvard UP, 1980, ‘io Paulo: Martins Fontes, ISER, W. O ato dt feiura: uma teoria do efeito esttico. Tradugfo Johannes Kretschmer. Sio Paulo: Ed. 34, 1989, JAUSS, H. R.A histSria da leratera como provocagdo a tora teria, S30 Paulo: Atica, 1994, JAUSS, H.R, Pour une esthétique de la écption. Tradugio Claude Millard, Paris: Editons Gallimard, 1978, 162

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