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Publicado em www. leiturascatolicas.com Maio/2013 Publicado em www.leiturascatolicas.com Maio/2013 EDICOES PAULINAS ‘rut onsonsat MARIA, DIE MUTTER DES HEREN Benziger Verlag — Einsiedein ‘Traducdo de J. G. Morais ¥ubbo PODE-SE IMPRIMIR 0 Paulo, 25-2-60 Po, Foto Roatta,’ Superior, Prov, Gk Pia Sociedade’ da Siio" Pawo NIHIL onsTaT Beth, Paul, 10-3-58, ‘Mons, Lafayotts ‘Censor IMPRIMA-8 8 4 Paulo Rolim Louroire Blepo dusitiar e Vigunio. Geral Sto Pauls, 293-60. Publicado em www. leiturascatolicas.com Maio/2013 Diroiton reservados & Pin doctedads de £89 Paulo Caixa Postal 107 —~ So Paulo, 980 PREFACIO A “Madonna Sistina” de Rafael constituia o orgu- Iho da cidade de Dresde, Valia a pena visitar a capital da Saxbnia sémente para aitmirar tal imorredoura obra-prima de arte. Quem jé estéve ld, sentado cémo- damente em uma das poltronas dispostas ao longo de pe- quena sala da chamada “Fortaleza”, reservada especial- mente para éste famoso quadro, pode ver, iluminado obli- ente para um determinado efeiin, o produto de uma ete verdadeiramente sublime. Lima pesada cortina verde que se abre pelo meio, nos deixa contemplar 0 maravilkoso mundo do além Maria se edianta das profuniezas dos céus, trazendo nos bracos 0 Salvador. Inumerdveis cabecas de anjos, indis- tintas em uma auréola dowrada, dentee os limpidos véus das nuvens do fundo, contemplam, extasiadas, ie: quan 9 inconcebivel prodigio. A Mae de Deus se adiardalipara © nosso mundo, séria e solene: perante seu olhar pres- orutador se descobre a miséria de téda a humanidade. ela carrega com a mais profunda compairao, na nossa We existéncia privada de luz, 0 Filho de Deus, O seu véu se enfuns, como agitado pelo vento, en- volvendo-a em um amplo arco, Ela caminha com a ir- resistivel forga da sua miss@o divina, e nos traz 0 auzilio de que nis, miserdveis pecadores, tanto necessitaanos. O 5 proprio Menino Jesus nos olha, grave e majestoso, deizan- do transparecer, no seu olhar fulgurante, os raios da di- vindade, nto se distinguindo em seu rosto nada de alegre. doce ou sentir como seria isso possivel? Na alma do divina Infante jd se projeta a sombra sangrenta do Calvario. O seu camino serd ladeado mais de espi nhos do que de fires; a Redencao da humanidade, atola- da no seu grave estado de culpa, vai-lhe custar amarissimo suplicio, 0 derramamento do prépria Sangue e 0 supre- mo sacrificio da existéncia, no pleno meio-dia da vida 4 direita da Dama Celeste vé-se 0 Papa Xisto ajoe- Thado, orando, 0 qual eleva para ela o seu olhar, in: dicanilo com a mio a nossa miséria, A esquerda, pré: stima de Nossa Senhora, acha-se Santa Barbara, de maos postas junto ao peito, irradiante de jitbilo pela certeza que tam de se achar libertada déste mundo tao matt. Olhan- da.nns assim da alto, com ido alegre semblante € espar- gindo tanta graca das pupilas profundas, parece, que nos estd dizendo: “Yende fé, a salvagto esté prézima”. Dois anjinkos pensativos apdiam-se na margem inferior da pintura, em atitude também grave ¢ séria, como se ¢s- tivessem pensando, muito admirados, no amor paterno de ‘que nao deixa perecer os filhos transviados na mise do pecado, ‘magnifico quadro fiza 0 mais importante momento da histéria do mundo: 0 Advento do Salvador, A éste acontecimento, cujo aloance & infinite, Maria S esti inseparavelmente ligada, ne qualidade de Mae do Re- deator, Ela concebex 0 Menino por obra do Espirito do Rierno e 0 traz & humanidade: 0 pecado, a morte ¢ Sa- tanis sit vencidos, O caminho que condus a Deus, for te de toda a verdade, de t6da a beleza, de toda a bondade, nissimne 6 tinica via que nos leva é felicidade'e & vida eterna, esta livre de novo, Deus se curva diante de nés, como um pai amoroso, @ nos permite ainda que nos chamemos seus filhos. Essa estreita alianga com a obra divina da Redencio torna Maria muito cara e preciosa aos nossos coracves Elevernos nosso olhar para ela com jubilosa gratidiio, de- sejosos de conhecé-la cada vez. melhor. Chegados, porém, a ésse_ponto, somos obrigados a constatar, pensando bem que poucas referéncias possuimos sébre ela, pois, de fato, 0 que foi dito a seu respeito na Sagrada Escritura néo dé para encher muitas paginas. Nao obstante isso, grossos volumes foram escritos sébre a vida de Maria, sendo que alguns autores nito hesitaram em seguir fontes incertas, que nao merecem nenhuma confianca. Creio que niéio se presta, por tal modo, um bom servico @ Mae de Deus, que niio tem certamente nenhuma necessidade dos enfe tes da nossa pobre invenctio e da nossa imaginacio. Se o Evangetho néo se expande sobre a vida de Maria, é fora de diwida que, tudo quanto ai esté referido é 0 que de mais alto e, ao mesmo tempo, de mais respeitoso se possa dizer de uma pessoa. Nas paginas que seguem tenciono apresentar aos leitores uma imagem de Maria segundo as fort icas, excluindo tudo 0 que for pura imaginacto, que nito fér suficientemente documentdvel. Maria deve ser vista, no seu proprio ambiente: a his toria, a arqueologia, a geografia, devem ajudar-nos a com- preender melhor a vida da maior, da mais abencoata mulher de todos os tempos. Déste modo a Mae de Deus se aproximard mais de nds, também pelo seu lado humano, in e se tornaré ainda mais cara e familair para cada um de nés. O autor néo tem a pretensao de suprir at grandes la- cunas exisientes ou de esciarecer os misieriosos trechos da vida de Maria, conhecidos ssmente de Deus e dos Anjos. A realidade foi por certo bem diferente do que podemos descrever, nds, homens do século XX, com as cbres da nos- sa fantasia. Por essa razio, algumas suposigdes sto as vézes formuladas ainda aqui e ali, no decorrer da nar- Tacéo, mas estas néo sio de todo desprovidas de funda- mento e serdo indicadas como tais. Que esta tentativa de ampliar uma série de quadros, focalizando Maria através do material auténtico que pu- demos manusear, possa no desgostar a Mae de Jesus e reverter smente para sua gloria. 0 Avrox Publicado em www _leiturascatolicas.com Maio/2013 CAPITULO I AS FONTES Nao podemos deixar de apresentar, logo de inicio, uma. breve descrigfio das fontes recorridas em busca do material necessario A narracZo da vida de Maria, a fim de poder inspirar ao leitor plena confianga nessa narrativa. Tal- vee yenha @le achar falta de algumas passagens tradi nais, mas hi de verificar logo quanto séo_desprovidas de valor _certas informagdes ¢ narrativas especialmente quan= do se trata dos manuscritos apocrifos. TT . 1. Os Evangelhos ‘A principal fonte para a reconstrugio da vida de Ma- ria 6 constitufda pelos quatro Evangelhos. A antiga het sia dos Ebionistas (1) € a hipocrisia moderna (2) nega- ram a autenticidade dos capitulos referentes & infancia de Jesus sustentando que haviam sido insertos maisgtarde; porém, a autenticidade de tais capitulos (Mt. 1 e 2 Le. 1 e 2) nfo pode ser_contestada cientificamente. Os mais antigos manuscritos dos Tivangelhos, sem excegao, 0s con- tém; os mais antigos Padres da Tereja conhecem seu con- telido ¢ déles fizeram largo uso, ¢ até mesmo os mais antigos (1) Epifanio, Haeres. 30, 14 (2) Wellhausen, Im Matthdus — und Luakaskommentar. apécrifos se baseiam sObre ¢les (3). Um autor contem- Pordnco escreve: «Se a critica literdria conseguiu constatar por unanimidade alguma coisa, 6 justamente 0 fato de que a narrativa da infancia (de Jesus) & parte integrante (integral part) do terceiro Evangelho (Machen, The Virgin Birth, New York, 1938, p. 61). Aquéles que negam a divindade de Jesus e a possibilidade do milagre, nao podem aceitar os fatos sobrenaturais, como o nascimento de Je- sus, provindo de uma virgem, as aparig6es dos Anjos, 0 cometa dos Magos, etc. Mas o érro substancial nao es- t4 nas noticias referidas pelos Evangelhos, mas nas opinides de tais criticos, que julgam impossiveis ésses fatos prodigiosos € querem prescrever a Deus aquilo que Ble pode ou nao pode fazer. Os Evangelistas nado tém a intengio de escrever a vi- da da Mae de Jesus: téda a ateng&o déles esta evidente- mente concentrada sébre o Cristo, do qual nanan, de uu modo verdadeiramente minucioso, milagres, padecimentos, morte © ressurreigao, até atingirem o fim que cada um déles se tinha prefixado. Mateus quer de fato demons- trar aos seus compatriotas que Jesus de Navaré ¢ 0 Mes- sigs anunciado pelos Profetas. Marcos reproduz as instri- ses de Sao Pedro ¢ demonstra que Jesus é 0 Filho de DeusiLucas apresenta Jesus como o miscricordioso Sal- vador do ‘mundo, como o médico ¢ o Samaritano das al- mas. Joao finalmente escreve (1, 1-4), Na- quela época, porém, Maria j4 nfo era certamente mais viva, a menos que se supunha. ter ela atingido a idade de 82 ou 85 anos, coisa que ninguém afirma, Mas Tiago, 0 Menor, o denominado ¢irmao» (primo) do Senhor, ¢ Jo%o, o filho adotivo de Maria, viviam ainda. © estavam por isso em condi¢io de narrar a Lucas mui- tos episédios referentes a Maria. Parcce que Lucas tenha também aproveitado para os dois primeiros capitulos uma relago escrita, pois o estilo assemelha-se, de fato, muito mais a0 semitico do que os capftulos seguintes, Os trés hinos («Magnificaty, «Benedictus» e «Cintico de SimeSo») fazem pressupor, de qualquer maneira, uma fonte escrita Além disso, por duas vézes, pelo menos, o autor se apéia no testemunho de Maria: «Maria pelo seu la- do, conservava tédas estas coisas, meditando-as no seu gio» (2, 19. 51), A expresso: «Mas @les no com- preenderam o que Ihes foi dito» (2, 50) indica o mesmo conceito, Quem poderia ser, sengo Maria ‘mesma, capaz de afirmar nao ter compreendido as palavras de Jesus, que tinha ento doze anos cle idade, palavras no entanto- que qualquer leitor acredita compreender? Ela é justamente téo humilde ao ponto de confessar a si mesma que, nas palavras de seu filho: ¢ «A Guerra Judaica» e de outros escritos de menor impor- tancia. A primeira trata, em vinte livros, da histéria do povo hebreu, desde sua origem até a grande sublevacao con- tra os romanos, no ano 66 da era cristi, A outra descre- ve em sete livros, depois de uma introdugio bastante alon- gada, a grande guerra (66-70) que acabou com a destrui- go de Jerusalém e a dispersio do povo judeu. Para a vida de Maria é de muita importfncia o perfodo de Hero- 14 des, 9 Grande, e de seus sucessores: Arquelau e Herodes Antipas. As narrativas de Flavio Josefo nos trazem mui- tos esclarecimentos s6bre os fatos do seu tempo, em que te- ve oportunidade de’ consultar documentos escritos ¢ de ou- vir depoimentos orais sbre acontecimentos que se refleti- ram também sébre a vida de Maria. © Talmude contribui para nos fazer conhecer usos € costumes de Israel, ao tempo de Jesus. A literatura rabi nica, nascida sdmente depois da dispersio da nac&o judai ca, se compraz em descrever os usos ¢ costumes dos tem- pos mais recentes, preferindo temA-los como modelos de vi- da também para o pasado. A vida no decorre porém sob normas e formas iguais para todos: cada individuo tem as suas peculiaridades, 0 que se verifica de modo especial para a vida de Maria: a sua posigao t6da particular no plano divino para a salvagio da humanidade e as suas experiéncias préprias nao podem ser imitadas. A sua ima- gem pode, certamente, ser posta na mais bela moldura, que a pocsia poder ornar A vontade, mas, para nés, 0 que interessa é a imagem, muito mais do que a moldura, por mais preciosa que seja, A vida de cada menina e de cada mulher do seu povo se desenrola em um quadro or- dindrio, mas como desejamos saber 0 que é caracteristi- co e particular de Maria passaremos A expor 0 que se re- fere a tédas as mulheres do seu tempo.e do seu povo sdmen- tena parte que nos pode servir para compreendermos melhor na vida. Quanto aos Padres da Igreja, ¢ dificil obter de seus eseritos alguma informacio segura sébre a histéria da Mie de Deus, além do que vem narrado nos Evangelhos. Se algum déles nos oferece outra coisa mais, € quase sempre tirada dos apécrifos, que constituem uma fonte bastante 15 suspeita, como veremos adiante. © valor do ensinamento no campo da {6 ¢ da disses Padres é muito mais eficaz moral do que no da hist6ria. 3. Os apéerifos Na maior parte das narrativas da vida de’ Maria fo- ram aproveitadas as lendas dos apécrifos, Entende-se por capéerifor» aquéles escritos. elaborados por wma pretense personalidade biblica, que finge saber coisas ignoradas da Historia’ Sagrada, sendo que os autores, muitas vézes he- réticos, nao revelam seu verdadeiro nome. Gom referéneia A vida de Maria bh dois grupos de apéerifos: 0 primeiro se ocupa do nascimento ¢ infancia de Maria e 0 outro grupo trata da sua morte, A «His- téria de Tiago sébre o nascimento de Maria», chamada «Proto-evangelho de Tiago», do século XVI em diante, seja pela sua antiguidade, seja pela habilidade do narrador. a pela sua evidente intengdo de provar a virgindade de Ma- tia, servindo A sua glorificagio, conquistou muito aprégo € exerceu muita influéncia sObre a literatura mariana, influén- cia que ainda perdura até hoje. Também Origenes ee ia Gsse escrito ¢ no seu (1, 2; 2, 2); mas nfo hi nenhuma grande festa dos hebreus com ésse nome O falsificador nfio conhece bem, nem os lugares nem © pais, sendo as suas assergbes extremamente imprecisas. Imagina o povo de Israel como o de uma comunidade rural, que pode ser convocado a reunir-se ao som de uma trom- beta © que também pode ser hospedado por uma sé pes- soa abastada, (1, 1; 6, 2). A verdadeira pobreza da Mae de Deus esta em contradigio com a suposta opuléncia de Joa- quim. José € figurado como um velho vitivo e como tutor de Maria, em contradigio evidentissima com o Evangelho que o chama expressamente de (12). Rejeita expressamente 0 proto-evangelho de ‘Tiago e © declara uma invengiio (comenta) dos heréticos, um de- lirio dos apécrifos (deliramenta apocryphorum) (13), uma extravagincia (somnia) (14), Ha somente quatro Evan- gelhos auténticos, Os cantos fincbres dos apéerifos (nae- niae) deveriam ser de preferéncia cantados aos hereges mortos ¢ nfo aos filhos vivos da Tgreja (15). Se nao achar- 10s fcilmente compreensivel algum trecho do Antigo Tes- tamento, cujo sentido tenha sido interpretado pelos Apés Jos, nfio vale a pena recorrer as tolices e A fantasia dos apécrifos (16). De um modo igualmente claro pronunciou-se 0 Magisté~ rio eclesiastico. O Papa Inocéncio I enumera em primei- ro lugar os escritos canénicos em uma carta a0 Bispo Exu- péric de Tolosa, em 405, e depois acrescenta: «Deves ber que nfio merecem apenas refutagao, mas também con- e entre Gles os seguintes: os evangelhos apécrifos que vao sob 0 nome de Matias, Tiago o Menor ¢ Tomas, com- postos pelos Maniqueus; 0 livro apécrifo sbre a inffncia do Salvador, sbre seu nascimento e sdbre Maria e a parteira; o livro em que vem narrada a morte de Maria (is- to é asua Assungao ao céu). © decreto termina com estas significativas palavras: «Nés consideramos que éstes ¢ outros escritos andlogos nfo merecem apenas ser rejeitados, mas também destrui- dos, por tédas as igrejas cat6licas, apostdlicas, romanas sendo dignos de excomunh’o os seus autores e propaga- dores» (18). © quarto Sinodo de Braga, em Portugal (561) con- denou com a excomunhio os leitores ¢ difusores dos escri- tos apéerifos, 46 ! 93 les sObre os quais j4 falamos: assim, por exemplo, 0 Evan- gelho de Matias (ou pseudo-Mateus) e 0 Liber de nativi- tate Sanctae Mariae, que foi maliciosamente atribuido a S. Jerénimo, o inimigo de todos os apécrifos Até o relato da morte de Maria pertence ao reino exa beranie da mais fértil imaginagio e existe em ws comp’ lages grandemente diversas entre si. Basta Ié-los para convencermo-nos da sua absoluta falta de valor. Apesar disso, a literatura ascética se ressente até hoje © ainda se ressentira talvez no futuro, da negativa influén- cia de tédas essas narrativas Iendarias. Podem-se consul- tar os dois primeiros volumes da «Suma Aurea de Bourassé (uma longa histéria da vida de Maria, escrita em latim) ou mesmo a vida de Maria, de Jamar, e mil outros livros e livrecos. No entanto, sSmente a verdade pode edificar. Publicado em www. leiturascatolicas.com Maio/2013 CAPITULO IT A JUVENTUDE DE MARIA Sao Lucas introduz Maria Santissima na narracgio evan- gélica com as seguintes palavras: «Seis meses depois, 0 An- jo Gabriel foi mandado a uma cidade de Galiléia, chamada ‘Nazaré, a uma virgem, espésa de um homem de nome José, da casa de Davi. O nome da virgem era Maria» (1, 26 ss.). Com breves ¢ simples palavras o terceiro Evangelista nos deixa conhecer que Maria morava em Nazaré, j& casada mas ainda virgem, e que fara favorecida por uma apat do Anjo Gabriel, 0 mesmo que tinha anunciado precedente- mente ao sacerdote Zacarias o nascimento de um filho, 0 precursor do Messias. A mensagem que 0 Anjo transmite a Maria muito importante, nfo sémente para ela, mas também para toda a humanidade. O Evangelista discorre com simplicidade ¢ franqueza sobre coisas verdadeiramente sublimes ¢ nos narra apenas o estritamente necessario com referéncia & virgem cheia de graga. O seu testemunho é portanto valiosissimo. 1. O lugar de nascimento Onde nasceu Maria? Nao o sabemos. A Sagrada Es- critura cala-se a éste respeito. Uma tradigio tardia apre- senta quatro localidades como sendo o lugar onde nasceu 25 Maria: Séforis (que foi durante certo tempo capital da Ga- iléia, situada a cérca de 5 quilémetros de Nazaré), Be- lém, Jerusalém e a propria Nazaré (1); 0 que prova que a antiguidade cristi tinha sObre @sse ponto apenas suposi- ges e nenhuma certeza, Entre as quatro cidades que disputam a honra de ter sido o bergo da Virgem, Jerusalém merece a_preferéncia. De fato, tal opinijio sustentada no pseudo-evangelho de Matias, uma recomposigio do proto-evangelho de Tiago, ¢ também pelo peregrino Teodésio (em 530) (2) © por Anto- 10 de Placéncia (em 570) (3), Sofrénio, patriarca de Je- rusalém de 634 a 638 (4) © So Joio Damasceno (5), 6s quais adotaram também esta opiniio, seguidos por inu- merfiveis autores, até os dias de hoje. No pequeno escrito apécrifo «De nativitate Sanctac Mariaen (1, 1), atribuido a S. Jerénimo e que surgiu em ver disso, no principio do século VII ¢ nada mais é do que uma compilago do proto-evangelho de Tiago, Nazaré vem indicada como o lugar de nascimento da Virgem Maria. Nenhuma informacio suficientemente fidedigna possuimos pa- ra poder afirmar isso, sendo seguro sdmente o fato que Maria vivia em Nazaré quando recebeu o antincio do Anjo. ‘Uma outra indicago nos é dada pelo seguinte fato: 0 neto de Sim&o Macabeu, rei Aristébulo I (105-104), con- quistou aos Ttureus, que eram pagios, a parte meridio- nal do seu territério, a Galiléia, e propds aos habitantes a alternativa de emigrar ou entao aceitar as leis hebraicas (1) Vitti, Ubinam BVM nata sit? 257-64, (2) Geyer, Itinera Hieros. p. 142. (3) Idem,’ ibid. p. 177, (4) Anacreéntica, 20, 81-00 (PG 87 (5) Homilia in natin, BYM, 6 (PC za IV 14 (PG 94, 1157 bum Domini” 10 (1930) 96 e com isso se deixarem circuncidar. Alguns désses preferi- ram abandonar 0 pais e em seguida a ésse movimento alguns Judeus do Sul emigraram para ésse territério, mais rico e mais {értil, Entre os novos colonos estava certamente a fa- milia de que descendiam Maria e José, talvez os seus avés ou bisavés. Se de fato os primeiros que imigraram neste terri- t6rio, vindos de Belém a Nazaré, fOssem apenas os pais de Maria ¢ José, 20 chegarem a Belém teriam por certo encontrado ainda parentes ¢ amigos, junto dos quais teriam recebido boa acolhida, dada a proverbial hospitalidade dos orientais. Ao contrdrio disso, no entanto, nem José nem Maria puderam bater A porta de algum parente betlemita. Ambos cram estrangeiros naquela cidadezinha. ‘Olhemos mais de perto a pequena regio onde trans- correram 05 dias da juventude da mais excelsa ¢ da mais améyel de tédas as criaturas. A Galiléia constitui a regio utaly setenutiivnal da Terra Santa, que sc cstende para o sul, até 0 monte Carmelo; a este, até 0 rio Jordao; ao nor- te, até 0 passo do Leontes (hoje Nahr cl-Kasimijje); ¢ a este quase até o mar. A estreita faixa de terra que corre ao longo da costa nao é considerada como pertencente 3 Galiléia, Uma linha reta tirada de Akko até a extremidade norte do lago de Genezaré, corta a regio em duas partes desiguais: a alta e a baixa Galiléia Da confusa massa dos montes da alta Galiléia se ele- va a cima de todos o Gebel Germak (1198 m) com o Gebel el’Aris (1073 m) ao sul e o Gebel’ Adatir (1006 m) ao norte. Désse grupo central se irradiam, em tédas as dire- gées, cadeias mais baixas de montes e vales. Trilhos in- gremes trepam pelas encostas por entre desmoronamentos ¢ por vézes com degraus escavados nia rocha pela ladeira aci- ma. Ali perto atravessa-se uma pouco densa floresta; mais 27 além avistam-se terrenos recobertos de vinhedos. Velhos ter- ragos obstando a crosio testemumham o diligente es- forgo dos primitivos habitantes da regio. Ne meio das amei- xeiras ¢ na bastidio dos carvalhos sempre verdes, ainda ho- je 0 visitante encontra ruinas de muros, de tOrres, de case~ bres que antigamente existiam sdbre aquelas escarpadas altu- ras, como ninhos de 4guia, e bem assim restos de templos, de sinagogas ¢ de igrejas. A rocha esta t0da perfurada de cis ternas, adegas, lagares ¢ sepulcros. Destacam-se ruinas de t6das as civilizagdes, desde os tempos dos cananeus ao do- minio dos Cruzados. Os monte da baixa Galiléia so menos clevades. © mais notivel dentre les € 0 Tabor (562 m) cujo cimo macigo domina téda a regido, Inumeraveis valados se ramificam pare leste e oste, As aldeias se enraizam pelas encosias, se ‘ostentam sdbre as alturas ou se escondem no fundo dos vales. Oliveiras de cér cinzenta-prateado ce alinham sébre a tom bada dos montes; as figueiras oferecem sombras agradaveis, sob suas amplas ramadas de um tom verde-claro; manguei- ras ¢ carvalhos, pistacias e azevinhos se agrupam juntas. «A terra tem qualquer coisa de repousante, de placido ¢ disten- sivo, uma terna vibragfo das coisas. Aqui ndo se encon- tram abruptas encostas, nem desertos incultos, e Aridos, mas um desenrolar de férteis e ricas campinas, que quase con vidam a serem cultivadasy (6). A Galiléia recebe chuva em maior quantidade do que a Samaria e a Judéia, ¢ dispSe por isso de mais ricos cursos de Agua. O clima é ameno na vizinhanga da costa, mais frio na parte setentrional, quente na depressio do Ingo de ©) © Cf, Schwalm, La vie privée du peuple juif & I'époque de us-Christ,’ Paris 1910p. 122 ss. e também no Dielio- naire de ta Bible I 87-95 “Galiléia. 28 Genezaré (208 m abaixo do nivel do mar), 0s ares so sau- daveis, No tempo de Cristo a regiéo era muito povoada, bem cultivada, rica de campos, de bosques e pastagens, as suas planicies produziam trigo e cevada, 03 seus poma- res saborosos frutos e uvas deliciosas. © clima da Terra Santa é deveras singular, Prépria~ mente s6 ha duas estacies: verdo ¢ inverno, ou também estagio séca € estado chuvosa. As chuvas comegam pelos fins de outubro ou comégo de novembro e as altimas cacm pelo» meados de abril ou mais tarde, contando-se nesta ¢s- tagfio cérca de cingiienta dias de chuva. O vero é quen- te, séco e quase inteiramente’ privado de chuva, pelo que téda a vegetacdo murcha e a regido parece um deserto. A. agricultura deve por isso adaptar-se a estas condicdes cli- maticas; depois das primeiras chuvas de novembro come- ga-se a trabalhar a terra, porque cla se acha entao téda mo- Thada ¢ amolecida; depois da ultima chuva de abril, entre Pascoa e Pentecostes, a ceifa do trigo constitui a parte mais importante da colheita. No calor do vero amadurecem os figos, as olivas ¢ a uva cuja colheita realiza-se depois, em setembro e outubro. lago de Genezaré, com as suas ridentes margens é 0 orgulho da Galiléia. Flavio Josefo assim descreve a peque- na planicie de Genezaré, vizinha A praia ocidental: (14). Sao Jerénimo, além disso, afirma que Gléofas (Jo. 19, 25) 0 pai da outra Maria, a mae de Tiago fe de José (Mt. 27, 56), sendo esta tiltima irma da Mie de Jesus, por tal modo que Cléofas seria também o pai da ania Virgem. Esta opinifo é de fato insustentéivel: disso de- duzimos que também éste doutissimo Padre da Tgreja, que conhecia como ninguém a antiga literatura eclesidstica, nada conhecesse de seguro s6bre os pais de Maria Santissima (15) Se dermos raz3o aos que julgam se achar em Lucas (9, 23-38) a Arvore genealégica de Maria, o seu pai seria entile Eli, Bste nome foi interpretado como observagio de Hilaquim o que nos deu Joaquim. Podemos poupar-nos nie de indicar as outrds respostas'a esta pergunta, porque as fontes nfo sio suficientes para esclarecer a ques- oportunam {i} Contra Paustum Manich, XXII 9 (PL 42, $71). Tih) Advaraus Helutd. c. 7. , 35 to (16). Os nomes de Joaquim ¢ Ana estio sblidamente radicados hoje no animo do povo cristio e 6 priticamente indiferente conhecer 0s nomes que possuiam em vida os pais de Maria. Piles poderiam ter sido chamados de um modo ou de outro; a santa Igreja, a tinica que pode elevar & honra dos altares determinadas pessoas, nos assegura que ambos eram santos. les pertenciam Aquele grupo de pessoas jus- tas © piedosas, que como o velho Simedo (Le. 2, 27) e que eserviam a Deus noite ¢ dia com jejuns e oragdess, como a profetisa Ana (Le. 2, 37). Valia também para éles o elogio que 0 Evangelista dispen- sou aos pais do Batista: «Eram ambos justos diante de Deus; observavam de modo irrepreensivel todos 0s mandamentos ¢ t6- das as disposigies do Senhors (Le. 1, 6). Ambos so vene- rados pela Igreja de um modo particular, S. Joaquim a 16 de agésto ¢ S. Ana a 26 de julho. O ano do nascimento O ano do nascimento de Maria pode ser calculado apenas aproximadamente, tomando-se em geral, como ponto de par- tida 0 nascimento de Cristo, nao obstante éte nfo estar ain- da definitivamente ligado de modo seguro, & historia geral. B certo que contamos nossos anos da data do nascimento de Cristo, mas 0 monge Dionisio, o Pequeno, que introduziu esta contagem (no ano 525 d. C.) enganou-se de diversos anos no céleulo (17), Est provado que Jesus nasceu algum tempo antes da morte de Herodes 0 Grande (18). No verao do ano 5a. C., (16) Hentzenauer, De genealoaia Jesu Christi Roma 1922 “La- (17) Holzmeister, Chronologia vitae Christi, Roma 1933 p. 3 ss. (18) Holzmeister, op. cit. p. 15-25. 36 efrea de 1 ano e meio antes de sua morte, Herodes se trans- portou aos banhos de Galiroé em busca de cura para uma grave moléstia que © afligia. Ele nao voltou mais a Jerusa- Jém, mas faleceu em Jericé no ano 4 a, C., pouco tempo an- tes da Pascoa, Os Magos porém encontraram ainda o rei em Jerusalém e de 14 vio a Belém. Herodes espera em vio o regresso déles ¢ di ent4o a sanguinaria ordem de matar todos ‘0s meninos de menos de dois anos de idade, Esta determi- nagko da idade, éle a computou «de conformidade com o tempo sobre © qual se tinha diligentemente informado com 08 Magos» (Mt. 2, 16). Este tempo é 0 periodo em que apareceu a estréla (Mt. 2, 7). Se pusermos a vinda dos Magos na primeira metade do ano 5 a. G. ¢ supusermes que a estréla miraculosa the ti vesse aparecido contemporaneamente ao nascimento de Je- sus, eérca de um ano ¢ meio antes da chegada déles, alcan- garemos a segunda metade do ano 7 a €. © espaco de tempo que corre entre a chegada dos Magos ¢ a morte de Herodes pode ainda ser alongado. Hoje, depois de acurados estudos © céleulos, coloca-se 0 nascimento de Cristo entre ‘os anos 9 e 7 a. C. («antes de Gristo» pelo cAlculo errado de Dionisio, 0 Pequeno) Poder-se-ia hasear tal célculo também sobre o recensea- mento popular que foi feito sob Quirino, governador da Siria, uma vez que tal recenseamento motivara a vinda do casal a Belém, onde nasceu Jesus. Mas as fontes que falam de tal recenseamento nao séo ainda suficientes para permitir um céleulo mais exate. Maria devia ter ento quinze anos de idade! A mocinha braiea era considerada menor até que completasse 12 anos de Wade. A época normal do noivado ia do duodécimo até duedéelme © meio ano de idade, Acontecia além disso 37 que o tempo de noivado fésse, na maioria das v@zes, um pou- co mais Jongo do que doze meses e assim a jovem contraia o matrim6nio dos 13 anos e meio aos 14 anos de idade. Quan- do a jovem atingia a idade nabil — 12 anos e meio — era considerado obrigat6rio arranjar-lIhe, 0 mais depressa pos- sivel, um marido, conforme ensinavam os rabinos posterio- res (19). Com referéncia a @ste ponto, 6 de se notar que 0 desenvolvimento fisico se operava precocemente, muito tem- po antes do que nas nossas regiées. Naturalmente podia ain- da dar-se 0 caso de serem retardadas, seja 0 noivado como a ceriménia nupcial prdpriamente dita, Podemos entio admi- tir que Maria tivesse nascido entre 0 25° © 0 23° ano a. C., segundo 0 nosso cdmputo, nfo havendo possibilidade de se fixar com maior precisio esta data, Quanto ao dia do nascimento, falta-nos qualquer refe- réncia. A Igreja o festeja desde muito tempo a 8 de sctembro, Deus age em sil@ncio, ao passo que os homens amam o barulho e desejam desvendar qualquer segrédo. Enquanto Herodes parecia estar no dpice do seu pode- rio e da sua fortuna, Deus langava as bases de um segundo reino muito maior e que se estenderia por todo 0 mundo. Ble escolheu para mie do Rei déste novo reino aquela que, preparada no coragio e na alma pelo Espirito Santo, se tornaria em habitacio digna do Seu “nico Filho. Para isso se verificou, no seu caso, o primeiro e grande milagre: foi preservada da triste heranga dos filhos de Adao, do pe- cado original. O pecado jamais péde atingi-la, a frigida geada da culpa nfo tostou esta espléndida flor divina, nenhu- ma sombra jamais ofuscou a sua alma, nenhuma mancha conspurcou-lhe a espléndida pureza. Nela se encontra reali- fii sx semauasray (19) Strack-Billerbeck, Kommentar 2. N. Test. aus Talmud und Midrasch Il p. 573 5. 38 vada perfeitamente a idéia do homem, como existia na mente divina. Nenhuma culpa impediu a liberalidade do Criador de usar a plenitude de sua graga. O Artista divino encon- trou em si préprio o material mais adaptado e precioso pa- ra criar uma obra-prima, que nao teve nem tera jamais igual entre os milhdes de homens, exceto o Homem Deus, Jesus Cristo. 4. O nome de Maria Aquela que pela primeira vez recebeu o nome de «Ma- ria» foi a irmA do grande Moisés (Bx. 15, 20 ss.). No texto hebraico, com a prontincia do VI século d. C. soa Mirjam, mas na tradugio em lingua grega do HI século a, ©, «Mariéma, que é indubitivelmente a forma mais anti- ga. No Novo Testamento é atribuido a 6 mulheres diver- sas por 53 vézes; 25 vézes na forma — (meu grande Mestre) E pena que usemos sdmente a forma grega apocopada do nome de Maria, ¢ nao a forma primitiva da sua lingua ma- tera: (21). Zorel quer fazer derivar 0 nome do egipciano «meri», fem. «merit», que significa ¢amada ou «favorita. A prontincia do ¢ da forma feminina desaparece muito depressa na Kingua do Egito. A segunda parte que constitui o nome: «jam», poderia ser uma forma secundéria de Jahu (p. ex. Abijjam - Abijjahu; Ajj- jam-Aijjahu). Na lingua do Bgito como também na | ca, s4o muitas vézes conexados o nome de uma divindade ¢ rai (20) No Oriente significava “Bela”; ef. Bardenhewer, Der na~ me Maria, Estudos Bfblicos ‘Il, Friburgo 1895. 1) Roangile selon s. Ene, p. 27. 40 a forma emeri(t)s. De_fato, assim se encontram: Meri(t)-Ra, Meri(t)-Aton, como nomes masculinos. Assim, 0 nome de «Maria» poderia significar camada de Jahvé>, «a favorita de Jahvés, ea predileta de Deus», € famoso, porque era o da irmi de Moisés e de Aario. Uma Princesa egip- cia, filha de um Fara6, Bitja, tomou-se mulher de um hebrew de nome Mered; uma de suas filhas se ‘chama (Magnificat). 5. A educagio No citado proto-evangelho de Tiago narra-se (c. 7) que Maria foi Jevada para o Templo de Jerusalém com a idade de 3 anos, tendo subido sdzinha os degraus do altar e se posto a dangar sébre o terceiro degrau, Confirmando a histéria, acrescenta que a Virgem permaneceu no Templo até aos 1+ anos recebendo ali uma educagho especial ao passo que os Anjos Ihe traziam didriamente o alimento de que se nutria ‘Tudo isso pertence ao dominio da poesia ¢ na introducho jé demonstramos a absoluta falia de valor dos tais escritos apé- erifos, No Templo de Jerusalém nao havia escola para me- Usaremos forma “Maria” e somente onde o texto Areao omprega conservaremos essa forma para sermos fidls ao. texto, é (D Zorell, Novi Testamenti Lexicon graecum, “Maria” ninas; 0s livros do Antigo Testamento nada dizem a respeito désse problema. Uma tal institui¢io teria sido uma novida- de da maxima importancia na antiguidade e teria certamen- te deixado tragos de sua existéncia nos livros sacros ou pelo menos no Talmude. Ao contrario disso, nfo se encontra a menor indicaglio de haver alguma parte das acomodagées do edificio reservada como alojamento para as virgens do Templo, nem na tepresentagio ideal do ‘Templo feita por Ezequiel (40-48) ou na descrigio do ‘Templo de Salomao no 3° Livro dos Reis (6-8) ou na descrigfo da planta do Tem- plo de Herodes, feita por Flavio Josefo (Guerra judaica, vy, 5). ‘As trés passagens do Antigo ‘Testamento geralmente ci- tadas para aprovar a existéncia de uma escola de virgens no Templo séo na verdade completamente estranhas ao as- sunto, A primeira diz que Moisés (Px. 38, 8) fz uma bacia de bronze e a sua base, com os espelhos oferecidos pelas mulheres que diante da porta do taberné- culo. A expressio «velavam» foi transladada na antiga tra- dugio grega por nesteisasai (23) (mulheres jejuadoras) No Targum de Onkelos a expresso vem explicada como sendo «mulheres que vinham orar diante da porta do taber- néculo». No ‘Targum Jerusalmi consta que havia «senho- ras bem educadas, que vinham orar diante da porta do taber- néculo. Blas se detinham para o sacrificio da sua purifica- gio, louvando e agradecendo a Deus» (24). Foram pre- cisos muitos milhares dos referidos espelhos de bronze para a fundigio da imensa bacia, Como teriam podido forne- cer tal massa de metal uma ou duas diizias de virgens? A mesma coisa pode-se dizer com referéncia a uma outra (23) Lendo em hebraico “Samoth”, em vez de “Sobeoth.” (24) Strack-Billerbeck, op. eit. 11, 141. — 42 passagem do primeiro livro dos Reis (2, 22) onde sio no- vamente mencionadas as mulheres (nashim) «que velavam diante da porta do taberndenlo», mas a palavra nfshim no significa cvirgens» mas sim mulheres casadas, Trata-se certamente de espdsas de sacerdotes ou levitas, que se ocupavam no Atrio. externo com diversas tarefas do servico divino. Uma passagem do segundo livro dos Macabeus (3, 18- -21) € considerada de capital importancia para os patroci- nadores da tese que combatemos. Nesta passagem se fala de um certo Heliodoro que desejava saquear, por ordem do rei da Sitia, 0 tesouro do Templo, onde tinham depositado suas economias muitas pessoas que julgavam mais seguro o lugar sagrado. Ao ter noticia da iminente rapina a inteira cidade se agitou, «até a gente se revezava em massa, fora das casas, para fazer oragées pitblicas, porque local sa~ cro eslava para sofrer um ultrage. E as mulheres se api- nhavam pelas ruas, com a faixa da peniténcia trangada no peito, ao passo que as criancas, fechadas em casa, corriam a olhar dos portées, e dos muros, outras através das gra- des das janelas, e tédas estendiam as mios aos céus, su- plicando». As meninas da cidade j& em idade nébil cram trancadas em casa (25) e severamente proihidas, segundo o costume tradicional, de sair sem licenca; assim, aquelas que habitavam nas casas situadas nas ruas que davam aces- so A praca do Templo, tomavam parte na agitac&o geral mesmo ficando em casa. A tradugo latina acrescentou, além da expresso elas corriam a olhar dos portées», a frase orriam para Oniasy (o sumo sacerdote). A variante é 1Onea, mas ainda assim nao se fala na presenga de virgens no templo. (8) Cl Hilon, In Placeum U1. 43 ‘A data do nascimento de Maria cai entre 0 25° ¢ 0 22° ano antes de Cristo. No ano 20-19 Herodes comecou a reconstrugio do novo Templo, depois de haver tudo pre- parado com minucioso cuidado; féz encomenda de 1.000 car- ros para o transporte da pedra, alistou 10,000 canteiros ¢ reuniu tudo 0 que fosse preciso para a obra. Mandou ain- da instruir nos oficios de canteiro e carpinteiro a 1.000 sa- cerdotes, que deviam porém permanecer vestidos com os hi- bitos sacerdotais, porque sdmente aos sacerdotes era permiti- do entrar no Santo dos Santos, para demoli-lo ¢ reconstrui-lo ‘outra vez, © Templo foi construido com pedras brancas qua- dradas e de grandes dimensées, que mediam, como escreve Flivio Josefo, exagerando sem diivida, 22 pés de comprimen- to, 8 de altura e 12 de largura (26). O Santudrio ou Templo foi concluido em um ano e meio. Para a terminacao do pér- tico ¢ dos edificios que cireundavam o patio interno ocorreram 8 anos (27). A intcira construgio se arrastou ainda por de- cénios. Quarenta e seis anos foram empregados na constru- io désse Templo», diziam mais tarde os Judeus a Jesus, (Prov. 1, 8). A educagho da filha cra a principal obrigacao da mae; por ela a filha aprendia tudo quanto lhe era neces- sério na vida: cozinhar, moer nos pequenos moinhos de mio que as mulheres hebréias usavam, assar o pio, fiar, tecer, coser, lenhar, buscar Sigua, cuidar da casa, criar os animais domésticos, cultivar o jardim ¢ trabalhar nos cam- pos. A populagdo da aldeia mantinha um padrfo de vida muito modesto. Maria acostumou-se muito cedo ao trabalho © certamente no foi poupada pelos pais. O fatigante traba- tho em casa e nos campos, a alimentagao frugal e as roupas dipeias a tomaram forte e capaz de suportar mais tarde esta- fantes viagens, Mais y dizia sem razio: Quem inicia a propria fi- , € como o homem que the ensina coisas inconve- er, Heortologie p. 155 ss. nientes> (29); mas esta nao era certamente a opiniio dos pais sensatos, Da casta Susana foi dito: «Os seus pais eram justos ¢ adestravam sua filha na lei de Moisés» (Dan. 13, 3) A Tora ordenava (Dt. 31, 9-13) que a todos; ho- mens, mulheres ¢ criangas acima de sete anos, fosse ex- plicada a lei, © servigo divino regular, que se realizava semanalmente na sinagoga e no qual tomavam parte também as mulheres (Le. 13, 10ss.), era j4 por si uma boa escola de religiiio, Todos 0s stbados era lido um capitulo dos li- vros de Moisés ¢ um outro dos Profetas. A Tora era com- pulsada téda no curso de trés anos; mais tarde foi o seu estudo reduzido a um s6 ano. Escritos especiais e pouco massudos eram lidos todos os anos em dias especiais: 0 Can- tico dos CAnticos, pela Pascoa; a histéria de Rute pelos Pen- tecostes, as comoventes Jamentagdes de Jeremias eram lidas no grande dia de luto nacional, que recordava a destrui- g&io de Jerusalém pelos caldens; 0 Felesiastes, na festa dos Taberndculos, 0 livrinho de Ester, na festa do Purim. A explicagio ou a prédica vinham em seguida ¢ encerravam a Jeitura, tirando-lIhe conclusées, sendo geralmente encarrega- dios desta parte homens bastante elogiientes. Jesus aprovei- tou-se mais tarde dessas ocasiées para expor a prépria doutri- na (Mt. 4, 23; Mc. 1, 39; Le. 4, 16; 13, 10) ¢ assim fez também §. Paulo (At. 13, 15; 14, 1; 17, 175 19, 8 ete). De pois recitavam uma oragaoem comum ¢ cantavam os antigos hhinos sacros, os salmos, que assim se tornaram conhecidos do povo. Maria estava familiarizada com ésses cAnticos, tan- to assim que no «Magnificat» se encontram muitas referén- cias a éles ¢ reminiseGneias de trechos dos Salmos. O maior mérito das sinagogas ¢ 0 de ter feito conhe- cer aos Hebreus a religi&o dos seus pais e de haver reaviva- (29) Sota Il, 4; Jewish Bneyelopedia V, 43 b. 46, do ¢ alimentado no povo um profundo sentimento religioso. Ali se ensinava a apreciar e a dar real valor & beleza e a sabedoria dos livros sacros (30), imunizando por @ste modo 0 povo também dos engodos das idolatrias dos paises. v nhos. Nao se podia inflingir a um israelita castigo mais duro do que expulsiclo da sinagoga (Jo. 9, 22; 12, 42; 16, 2) _ Também Nazaré tinha a sua sinagoga € certamente os pais de Maria eram assiduos freqiientadores dela. Junta- mente com éles Maria teria tido ocasiio de participar do servigo divino aos sibados; tera escutado muitas vézes a gran- de promessa do futuro Salvador; figura de mulheres fa- mosas sero com freqiiéncia evocadas A sua imaginagio: mi- Iheres como Rute, Ana, Judite, Ester, terfio suscitado o seu espanto e a sua admiragio. O limpide cristal da sua alma, imune do pecado, acolheu em téda a sua plenitude luz espiritual da Sagrada Eseritura. «A sua sabedoria nfo entra em uma alma maligna, nem habivard num corpo en- tregue ao pecado» (Sab. 1, 4), (Sab, 6, 13). Até a vida familiar era espiritualizada ¢ elevada pela flo; oravam de fato em diversos momentos durante o dia; tomavam parte nas grandes peregrinagées a0 Templo de Jerusalém e festejavam em casa as ocorrentes festivida- des do ano, recitando também em casa, o Shtma* («Escuta») © ® soragiio das 18 béncaos». Ambas cram ainda geral- wie wiadas até os tempos de Cristo. Todo Isracilita adulto, do sexo masculino devia rezar Wriemente, pela manhi e¢ & tarde o Sh'ma‘, que era ‘tom comum nas boas familias e era constituido de TF Moe 14, 0, carta aoe espartanos. 47 trés passagens da Sagrada Escritura, isto é, Dt. 6, 4-9; 11, 13-21; Nunir 15, 37-41: «Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é 0 tinico Se- nhor, Amards ao Senhor teu Deus de todo o teu cora- eGo e de téda a tua alma ¢ com tédas as tuas forgas. Es- tas palavras que eu hoje te recomendo estejam gravadas no teu coragiio; e tu as ensinards aos teus filhos e as medita- rs, sentado em tua casa ¢ andando pelo caminho, e estando no leito e ao levantar-te. E as atar4s & tua m3o como um sinal ¢ elas estario como um frontal diante de teus olhos e as escreverds sobre os umbrais ¢ sobre as portas de tua casa>. «Se vés portanto obedecerdes aos meus mandamen- tos, que eu hoje vos prescrevo, de amar o Senhor vosso Deus, e de O servir de todo 0 vosso coragio ¢ de téda a vossa alma, darei A vossa terra as chuvas de que cla tem necessidade, as tempords e as serédias, para que reco- Thais trign, vinha azeite, farei ainda brotar feno no campo para 0 vosso gado © tereis assim do que comer & saciedade. Tende cnidado que 0 vosso coragio nao seja seduzido, e que vos aparteis do Senhor ¢ sirvais a deuses estranhos e os adoreis, e que o Senhor irado feche o céu € nfo caiam as chuvas, nem a terra dé os seus frutos e v6s dentro de pouco tempo sejais exterminados da excelente terra que o Senhor esta para vos dar. Ponde nos vossos coragées € nas vossas almas estas minhas palavras ¢ tra: suspensas nas vossas mos como um sinal colocai-as dian- te de vossos olhos. Ensinai vossos filhos a meditd-las, quando estiverdes sentados em vassas casas ou caminhardes € quando vos deitardes ¢ levantardes. Escrevé-la-eis. sobre 05 portais ¢ as portas da vossa casa, para que vossos dias (05 voss0s filhos se multipliquem na terra que o Senhor ju- rou a vossos pais de Ihes dar, enquanto o céu estiver sobre 48 aterras. O Senhor disse a Moisés: Fala aos filhos de Is- rael e dize-Ihes que, no futuro, caloquem borlas nas extre- midades de seus mantos e preguem a borla de cada ponta com um cordio azul. Este serd o seu ornamento, para que, vendo-o, recordem-se de todos os mandamentos do Se- nhor ¢ nao errem, seguindo apenas seus coragdes e seus olhos aos quais esto acostumados a se prostitu{rem, mas pondo-os em prética, sero santos diante de Deus. Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos tirei do Egito, para ser 0 vosso Deus». © Sh°ma 6 uma afirmagio de {6 no ‘inico © verdadei ro Deus. Se bem que sdmente os homens tivessem a obri- ago de recité-lo pela manh ¢ A noite, Maria no se teria por certo dispensada de fazé-lo (31). Desta oragio foi ex- (aldo o sh'mone esreh, ou oragio das 18 béncios, dita mplesmente Tefila, «a oragio», usada ainda no tempo de Cristo. Raban Gamaliel II a reorganizou pelo ano 90 d. C. © aumentou a 12% scntenca disigila cuntra os cristhos e os hereges. As duas seguintes foram reduzidas por éste mo- tivo, a uma s6 (32), que passamos a transcrever em par- te, para dar alguns exemplos da longa oragiio que Maria devia rezar trés vézes a0 dia: 1. «Sejas tu exaltado, 6 Senhor nosso Deus e Deus los nossos pais Abraio, Isac e Jacé, Deus grande, forte € terrivel; Deus altissimo, criador do céu e da terra, nosso eieudo € escudo dos nossos pais, nossa esperanca por tédas. ‘ages, Sejas tu exaltado, 6 Senhor, escudo de Abraao. ‘Tu és um Herdi, humilde © poderoso: tu és Forte, stle que julga os violentos, o Eterno, que faz ressuscitar on mort le que ordena aos ventos de soprarem ¢ a gea- Hi) Biraek-tittorbe CH) Mem iV, attain, op. eit. TV 189-207, Mae do Renna 49. da de cair, aquéle que mantém os vivos e vivifica os mor- tos, que faz suscitar as ocorréncias necessirias para todos os acontecimentos. Sejas tu exaltado, 6 Senhor dos vivos ¢ dos mortos 3. Tu 6 santo e terrivel € 0 teu nome e nenhum Deus é mais poderoso do que tu; sejas tu exaltado, 6 Se- nhor Santo Deus, 4, Décnos o teu conhecimento e a compreensio da tua Iei (Tora), Sejas exaltado, 6 Senhor, que das a sa- bedoria. 7. Olha a nossa miséria e guia nossas agdes ¢ salva- (Ecl. 7, 26 s.). As filhas dos ricos e dos notaveis eram obrigadas a ficar fm casa ¢ como no tinham nenhum trabalho a fazer, ocupavam-se quase sdmente com os seus vestidos (Is. 3) © por causa do écio e da preguica caiam no vicio; raramente Ihes era concedida permissio de se apresen- tarem em publico ¢ as de familia nobre ainda menos do que as outras (33). Narra Filon (34) que o governador Flaco mandou soldados a procura de armas no quarteirio judeu de Ale- xandria, e aconteceu ali que «as mulheres reclusas que nun- 4 tinham saido fora du pativ inter» & as meninas man- fidas nos seus quartos, e que evitavarn o simples olhar dos homens ¢ dos servos de suas proprias casas, foram obriga- das a se mostrar nfo s6 diante de estranhos mas também perante os soldados, que hes incutiam grande pavory, Uma t&o severa clausura das mogas e das mulheres nflo era evidentemente possivel de ser observada também pela gente dos campos, como podemos constatar muito claramente pelas préprias narrativas do Novo Testamento. As filhas j& em idade de se casarem eram vigiadas ainda rigidamente, Uma passagem do Eclesiastes (42, 9-14) wma idéia exata dos usos daqueles tempos: WY) Pre 7, 10-12; 2 Mac. 3, 19; Cant. 8, 5; ef. Kortleitner, Arehaeologla Biblica 191 , y. 580, CT Flocoun M1, ed. Mangey, p. 530, 51 . (Gantico dos CAnticos 4, 1-5) Olhos meigos, escuros, luminosos, cabelos negrissimos, denies brancos, labios purpurinos, uma béca graciosa, ainda em flor, faces ligeiramente rosadas, um colo delicadamente Moedelado, selos bem feitos: assim era imaginada uma bela Joven, 0% cabelos louros, avermelhados, os olhos castanhos © a graciosa figura de Davi, 0 fundador do tronco genea- Idgico ao qual Maria pertencia, foram assaz louvados (1 Rs. 16, 12). Os cabelos louros entre os israelitas eram uma ra- idade ¢ provinham talvez de uma mistura de sangue hitita, que corresse nas veias de Davi. Os hititas pertenceram a ra- Ga indo-germanica ¢ grupos bastante numerosos déles, ain- da viviam na regio. Urias era um hitita ¢ talvez a sua mulher Betsabé também o fésse, a que se tornou mais tarde mulher de Davi, mae de Salomao e antepassada de Maria. Jesus era alto © media, segundo o Santo Sudario que ha em Turim, cérea de 1,81-1,82 m, 0 que ja 6 uma estatura imponente. O rosto é singularmente nobre ¢ mi- jestoso e como o recebeu sémente de Maria 0 seu corpo, Certamente devia se assemelhar muito a ela, Os contornos exteriores, a cér ¢ a forma c a figura de uma pessoa nao constituem sé por si a beleza, uma bela alma faz res- plandecer a beleza do corpo. O pecado, o terrivel desteui- dor nfo tinha estragado Maria, que fra preservada do pe- cado original e que jamais havia cometida uma. culpa pes- soal, Assim, a sua mente manteve sempre a primitiva agu- deza, a vontade conservou a resolucio das almas fortes, a sua indole a mais bela delicadeza ¢ a mais rica profundi- dade de fnimo. © continuo recolhimento em Deus, 0 bio discernimento dos designios de Deus na natureza ¢ na revelagiio, 0 recato ¢ a screnidade do seu estado virginal, deveriam conferir-the um encanto todo especial. A retidao da sua alma, a plenitude dos dons da graga ¢ da nature- #4 concentrados nela, irradiavam através de seu corpo, com w brilhante luminosidade, envolvendo- maj se mas de uma fasein: tade que no tinham igual Publicado em www.leiturascatolicas.com Maio/2013 7. A entrega de si propria a Deus De todo o periodo da juventude de Maria, antes da Anunciacao sio conhecidos sdmente dois fatos, os quais pa~ recem, 4 primeira vista, contraditérios entre si: © seu pro- posito de se conservar virgem e 0 matriménio com José. Maria, piedosa e bem cuidada pelos seus santos pais, crescia como uma flor, aprendendo, trabalhando e oran- do, no calmo ambiente da casa patema. Sua alma sem- pre aberta a tndo quanto era bom, belo ¢ grande. Nenhu- ma desordem do coracio turvava-Ihe a singela felicidade, penluma culpa empanava-Ihe o Iimpide espélho da alma Unida 2 Deus e fiel 20 cumprimento dos designios déle, cres- cia e se fortalecia no amor do Pai celeste, ao paso que ce tomava mais insistente nela o pensamento de dar-lhe uma satisfacio especial ¢ um sinal luminoso de amor. Nas suas meditages deteve-se sObre uma coisa que teria sido 0 seu particular patriménio espiritual, de que nao tinha nenhum modélo, nem mesmo nos livros sacros do seu povo, « que nfio podia Ihe ter sido inspirado senZio pelo Espirito Santo: oferecer-se a si propria em sacrificio a Deus, prometendo-Ihe uuma perfeita virgindade por téda a vida. Sdmente assim poderemos compreender as palavras com que manifestou 20 Anjo a sua diivida: «Como poderd ser isso, se eu niio co- nhego homem?» Ela renunciara As alegrias maternas, 3 rea- lizago de um desejo natural, que arde em téda a alma fe- Maria pronuncia essas palavras sendo j4 desposada, pols que (Prov. 19, 13). < se origina © provér- enta é como: um ten. que gota a portanto preciso fazer conti. que ). A moga ficava noiva aos doze anos e meio ¢ permanecia em casa de seus pais ainda por um ano; depois, entre treze e meio e quatorze anos de idade ia para casa do marido a fim de iniciar sua vida con- jugal propriamente dita (2). O homem era livre na escolha da noiva, mas pratica- mente dependia do pai; do mesmo modo também a jovem sdmente com o consentimento do pai se casava (CAnt. 8, 8 Gén, 24, 58). Na maioria das vézes, porém, o matri- ménio era combinado pelos pais sem levar em consideracio alguma o parecer dos jovens diretamente interessados no negécio, Estes deviam simplesmente conformar-se ¢ tanto como a outra conseguiam apenas raramente, ¢ de fugida, u avistar-se antes do casamento, ‘A estima e a importincia das relagdes de parentesco deviam ser reforgadas, buscando-se alianga com familias ri. cas ¢ poderosas, Rabi SimeZo ben Gamaliel conta que as mogas de Jerusalém no seu tempo (ano de 140), costumavam, duas vézes 20 ano, sair cantando ¢ bailando pelos campos, onde diziam aos jovens: «Nao reparai na graca e na bele- ya, mas na familia, antes de tudo» (3). O pedido de casamento devia ser feito ao pai da noi- va, © pai do noivo ou mesmo um amigo (Jo. 3, 29) devia entabolar as negociagées. Se o pedido fésse aceito © a mo- a dava o seu consentimento, quando podia externar a sua vontade, estabelecia-se o preco mohar, 0 enxoval e o dote du noiva, O espéso devia pagar, ou descontar depois ao fol, © prego da compra. HA trinta anos passados 0 prego Wy ins espOsa na Palestina era calculado de 500 até 1.500 Tihiewoure, © podia ser pago em dinheiro ou em bens. WH Week Wiitlerbeck op. cit. 1 p. 373 ss. TH) idem, p. 977, a, . pela sedugdo de uma don- wela 50 siclos de prata (eérea de 160 frances; cf. Dt. 22, 28 8.); © que devia set © preco minimo Por uma noiva (4). Depois seguiam-se os esponsais, Gérea de um ano depois realizava-se 0 matriménio, que gra celebrado como uma espécie def festa popular; para a ‘tial Dosslvelmente se convidava mutta. enter sentio que 0 momento principal da ceriménia consistin ng conduglo da sspéta para a casa do marido (5), Na easa de espisa fi. chest ets do n0iv0 © do. seu séquito, © logo que éle chegava na vizinhanga, a espésa enviava ao nen enconizo um Me Ween ue: > scompuntiavaii, tends ‘mao drmpadlas acesas, como na pardbola das des ‘ingens (Mt, 25, 1-13). spés0, a0 som de misica, cAnticos e Be Nae Farsi abanedae oft vinha tapsportacla em cadeirinha apropriada, ou enti sobre um ten Sisczado, | © hangcets de niipcias con. cluia a festa que podia durar até 7 dias, se as posses do espGs0 0 permitissem. Na celebragio do matrimdae hebrai- co nio se fala de uma ceriménia religiosa, Quando se trata- va de gente pobre, as o ‘olsas se passavam sob um tom mais modesto, Maria e José nfo pertenciam a classe abastaca mas no se deve exngerar quanto A sun pobrem, ‘José, como DEF ower, Matrimonium in Palestina, “Verbum Domini" M (1922) 'p, 243. Shade 240 10 We. matrimonio te Sansto) © 1 aes 9, S741, : 62 ‘icie tento e o da Sc Cer ce canara ts tao a Bee wie ue inobo wae velho, em cuja casa habitava Re cor $ Maria ajudava hos trabalhos da lavoura. ee cchernis catio Masia'¢ Joss (hearer Te Be potent oo ean Get que wens cd, 1 ier outro, verificou-se a veracidade do provér- > que em qualqu: Gone scasamn gu se talhas. : ic iz. «c to e mortalha, no céu se as Tria tata, prtviamente. esclhido © preparado see Beiithaigecit, sadin taribém’cscolheu © seu pal ae ee a camprie missio muito delicada no plano da Re: FEES Desde 0 princi os dois ge fis dda a vida, aprenderam e i téda a vida, ap i ; en Gone oe rediprocamente sempre novas virtudes © quali: Gade ogsieas dos seus carats, mituo arms cou € se aprofundou, unidos como estavam eres ee José foi um verdadeiro e real ‘A unio de {riménio, porque: ‘ Le 4 {José € chamado «Pai de Cristo» (Le. 2, 9948; 9 29 , Pp ‘ ae Ba i ial que consti- rato matrimonial que 0 fhatnonio,, © toatriménio & extipulado 63 ambém por Santo Agos tinko, © grande disefpulo de 8, Ambrésio. Recordemos duns Passagens suas muito importantes: (7), € em outro lugar demonstra que ‘na. unizo de José com Maria subsistiam todos os bens tmatrimonini «Cada um dos bens do matrimdnio se encontra nos pais de Gristo: a prole, a fidelidade ¢ a consagragio sacramental, A prole, més a encontramos no proprio N.S. Jesus Crist ia de adultério; a consagracao sacra. ‘mental no fato de que nfo houve separago algumay (8) 2. A grata mensagem No matriménio virginal de Maria sobreveio um acon- faumento inaudite, que Lucas nos conta do seguinte imo. do: @5ei meses depois (do. amiincio a Zacaries) 9 Ane a uma virgem espisa de um ho- Meet chamado José, da casa de Davi, O nome da vin fen tre Muatia & © Anjo tendo entrado © se aproximado dela, the disse: — Ave, 6 cheia de graga, o Senor fun, Ugo! Bendita é& tu entre as mulheres! — Perturbada ao Suvir seas palavras, mio atinava com o seu significado, Mas © Anjo Ihe disse: — Néo temas, Maria, pois. achas- (e Sraga dlante de Deus, is que conceheris no teu ven. re @ daris A luz um filho que seré. chamado Jesus; le seri grande ¢ chamado Filho do Altissimo eo Se- {) & Ambréslo, De institutione virginis, 6, 41, (2) Sermo 60 (PL. 38, 345), (8) De nuptits et coneupiscentia 1, 1 (PL 44, 420). 64 nhor Deus Ihe dard o trono de seu pai Davi ¢ nee namente da casa de Jacé © 0 seu reino wea ee Maria ento perguntou ao Anjo: — ene ae nfo conheco variio? — Respondeu-lhe o ee © Espirito Santo desceré sébre ti © 0 po cele te cobrira com a sua sombra, E por isso, BS Ee que nasceré de ti seré chamado Filho 2 eh ae a os coamnda miedl J Gi ao sais 8, el d Gril ji 5 Porque maa inpoaiel © Des, — Eno Maia apn feu —— Bis aqui a escrava do Senhor; faga-se em mim de es con ee palavra. — Eo Anjo afastou-se dela» Le. 1, 26-35). q © Evangelista Mateus escreve no mesmo ees ves palavras, mas de grande significado: «Jacé tet ae 6, espdso de Maria, da qual nasceu Jesus, case eC k to... © nascimento de Jesus deu-se assim: Mari ip mie, desposada com José ¢ antes de coabitarem, aur gravida por obra do Espirito Santos. E José vs ne em sonho por um Anjo: Evangelista Joo escreve: «Bo Verbo se fe i them ¢ habitou entre nés> (Jo. 1, 14), aquéle ver 3 ce era no principio, que era junto de Deus e que era op prio Deus (v. 3). : : Deus chegou & humilde Maria Besos te oo a. C, Essa representa a mais mianifestagio de Deus & humanidade ¢ ee “® Igreja nos exorta a venerd-la wes vezes ao dia fio do «Angelus». Em Nazaré ninguém pres- Acontecimento que estava para se verifi- 65 Mie to Hentoe ¢ar € que tornaria famosa para todo o tempo futuro a pequena povoacio. aac. by thunciacio realizou-se apés a conclusio das _niip- cias: Maria ja era entio legalmente a espésa de José. Isso se dedu: 1. Da palavra de Maria e Maria é chamada «sua amu. hers (Me. 1, 2024). E ha ainda esta expresso: «sua mae (de Jesus) era desposada com José>. Duas pessoas que so apenas noivos nfo sto chamados @uiparando-a a eter em sua casas. A expressio se escla- fee por si, sem ser preciso forcé-la, quando pensamos que Maria se entreteve por trés meses junto de Isabel, lon- Wf portanto, do José; © que a ésses trés meses € preciso ‘erescentar ainda o tempo passado desde a Anunciacao WE a partida em visita a Isabel. A Anunciagio devia ter-se antes da Péscoa, entre a Péscoa e Pentecostes & colheita da cevada e do trigo, na qual Maria tra- sem poder ausentar-se nesse periode de trabalho jemens Heuze em “Divus Thomas TW) Gh o artivo ao re. Plac.” 51 (1948) 46-58. 67 muito intenso. ‘Ter-se-iam passado assim um més e meio ou dois antes que ela pudesse partir. Por ocasiio de Pen. ecostes teria além disso podido fazer a viagem a Jerusalém em companhia de peregrinos © conhecidos e ter asim aju- da © proteg&o durante a viagem. Ao voltar ia estava, Srivida de cinco meses ¢ a sua mudanga exterior jé de- via dar na vista. José hesiton portanto em tomi-la de no- vo consigo, até que Ihe foi explicado 0 mistério da sua concepeao miraculosa. Maria recebeu portanto grata men- sagem como mulher de José, legalmente desposada c pro- vavelmente nos primeiros meses do seu. matriménio. Maria ja devia por certo saber o nome do mensageiro de Deus, do Anjo Gabriel, pelo livro de Daniel. Ble apa- recera de fato a Daniel para explicar-the a visio simbé- Tica do cameiro e do bode referente 4 guerra de Alexan- dre Magno contra o rei dos Persas, Dario III. Danie! conta assim: «Ora, acontecen que, enquanto eu, Daniel olhava a visio ¢ buscava compreendala, cis que ve Ievan- fot diante de mim um vulto com aspecto de homem, © ouvi uma voz humana vinda da margem do Ulai ¢ que, Sritando, disse: — Explica, Gabriel, a aparicio a éste um! — E éle veio ao local em que me achava e quando chegou, fiquei apavorado ¢ cai de brucos por terra, mas (Me tocoume ¢ me féz ficar novamente de pé> (Dan, 8, 15-18). ‘Uma segunda ver Gabriel apareceu ao profeta, quando @ste orava, pedindo cleméncia para o seu povo. ¢lnes Peradamente aquéle homem, Gabriel, que eu havia visto: pri- meiro na visto, voando rapidamente tocou-me, na hora da oblagio da tardes (Dan. 9, 21). Foi entiio que Ihe co- muni¢ou a famosa profecia das 70 semanas que deviam passar antes da vinda do Salvador. 68 Publicado em www leiturascatolicas.com Q Maio/2013 rere Daniel nos conta ainda uma terceira aparicfio de An- Jos, na qual se trata certamente do mesmo Anjo Gabriel a «Enquanto estava na margem do grande rio, isto é, do Ti- fre, abria os meus olhos e olhava, ¢ eis um homem, vestido de uma timica de linho présa aos rins por um cin- to de ouro purissimo, de ouro de Ufaz: 0 seu corpo era como topazio (10), 0 seu rosto como um relampago 8 seus olhos pareciam uma Vmpada ardente; os seus bra- i gos € todo o resto do seu corpo, até os pés, eram seme- q Ihantes ao bronze reluzente, e 0 som das suas palavras era E sémente eu, Da- niel, tive esta visio, e os homens que estavam comigo nao a Viram, mas um grande pavor cain sdbre éles e fugiram pa- 4 lugares ocultos. Tendo eu pois ficado sdzinho, vi esta visio € nao ficou vigor em mim e mndou-se 0 meu sem- blante © cai desfalecido. E ouvi o som das suas palavras © ouvindo-o, javia de brugos s6bre a terra, todo espavo- vido, com o rosto colado A terray (Van. 10, 4-9). Ao sacerdote Zacarias apareceu um Anjo do Senhor Ho Santudrio do Templo, & direita do altar do incenso. Paoarias encheuw-se de temor Aquela vista, mas o Anjo o Wangililizou: «Nao temas, Zacarias> e anunciou-lhe o nas- " timento de um fitho, o precursor de. Jesus. Zacarias du- Yideu que isso pudesse acontecer, por causa da idade mui- 1 Avangada da sua espésa, © ento o Anjo respondeu-the: Mi sou Gabriel, que estou diante de Deus, ¢ fai manda- A falar contigo e anunciar-te esta hoa novay (Le. Do mesmo modo tinha-se apresentado 2 familia # © anjo Rafael, «um dos sete Anjos que apresen- di majestade do Santo (Deus) as oragées dos Mob 12, 15). No Apocalipse @sses sete Anjos Hebe, Lextkon “Tarsis", 69 s#o mencionados mais de uma vez. Jofio satida os fiéis Por parte de Deus eterno © cpor parte dos scte espirites que esto diante do seu trono (Ape. 1, 4), os quais rece. ae Sete trombetas para anunciarem os juizos de Deus oe A ee os @ as sete extras que o Cor- F s, tem na mio (3, 1). Sao os olhos do Cordeiro, os que sio enviados por téda a terra (5, 6) __ Gabriel & indieado como o Anjo da Encaragio da Segunda Pessoa da Santissima Trindade, pois que éle a- Profeta Daniel 0 tempo do Messias, a Zaca- jor ¢ a Maria o seu nascimento. Se- gundo Jenda judaica, Gabriel participou no sepul- tamento de Moisés (11) e destruiu o exercito de Sena queribe, que assediava Jerusalém (12). Entre os Mafomisias, Gabriel € muito venerado, por- que teria aparecido a Mafoma, em 610, sobre o monte Hira, e Ihe teria comunicade algumas pascagens do AL corto (13), aparecendo-Ihe uma segunda vez para no- vas revelagdes. Também nos apécrifos se encontram re- feréncias a @sse Anjo, como por exemplo, no livro de Henoque. © Anjo Gabriel apareceu a Maria sob a figura de homem. Entrou no lugar onde se achava a Virgem, Iie gar que é até hoje venerado: uma cova, espécie de gru- ta, escavada em parede rochosa, diante da qual fora cons- trufda a casa e onde, para se poder ver distintamente, era preciso acender luz, mesmo de dia. O Anjo a sate da com as palavras de uso: «A paz seja contigos, mas essa saudacao nfo foi literalmente tradurida pelo Evange- lista que escrevia em grego, nem mais tarde pela tradu- G1) Targum (2) Te (18) Cf, Dt. 34, 16. im in 2 Per, 92, 21 ura 96, 1-5, 70 ‘¢fio latina, que usa a palavra «Avex, que passou para o fdioma falado dos povos europeus: «Aver, isto ¢, salve! Depois Gabriel se exprime com uma alocugio nova, até en- \ tio ainda nfo usada em parte alguma: , isto é cheia de graga, como nés hoje nos & | Pimimos. A graca € 0 sinal do favor © do amor divino. Bla nos torna participantes da esséncia e da vida divina, tanto quanto é possivel a uma criatura humana, elevan- 4 do-nos & dignidade de filhos de Deus. Maria tinha recebido a abundancia e a plenitude da | raga pela preservagio do pecado original. A essa pri- meira graga ela soube corresponder, cooperando fielmente com ela, Nenhum pecado jamais obscureceu 0 esplendor ¢ encanto da sua alma purfssima; todo o seu ser estava im- | pregnado de graca e de beleza, de grandeza e de dignida- | de. © mensageiro de Deus, cheio de admiragio, reconhe- eu tudo isso como espfrito puro que estA sempre diante de Deus, possuia uma profunda compreensio dos valores @pirituais ¢ sobrenaturais, tendo por isso grande importin- tela 0 seu louvor, que se reveste do mais alto significado. Pile fala, além disso, em nome de Deus — 0 eterno verda- eiro e veridico — a mais pura das criaturas de Deus. © Senhor é contigo», acrescenta Gabriel; uma expres- sho que no pode deixar de causar satisfacao. Maria com- jeende entGo, com infalivel certeza, que é ela co-partici- pante de um amor e de uma solicitude téda particular parte de Deus © a constatagio disso lhe infunde uma We de alegria na alma, uma onda de felicidade pa- ea © Senhor esta junto dela como presena beati- como luz que ensina, como férca que sustenta, W Willa perfeitissimo. Ble é o contetido dos seus pen- © impulso dos seus esforgos, a meta do seu ca- ie minho, a delicia de sua alma imensamente rica, conforme ela propria mais tarde se exprimiré: «A minha alma en- grandece o Senhor, e meu espirito se rejubila em Deus, meu Salvador», © Anjo encerra a sua saudagao com as palavras: «Ben- dita é tu entre as mulheress, Nao é bem seguro que es sas palavras pertencam ao texto original, sendo causa des- sa ditvida o fato de nfo figurarem elas nos dois antiquis- simos c6dices B ¢ S ¢ a algumes outras importantes provas textuais (cf. as anotagdes criticas da edicéo Merk). Com essas mesmas palavras comega a saudacio de Isabel (Le 1, 42). Tu és a mulher mais distinta, aquela que, entre t6das, merece ser mais louvada. Nenhuma te iguala; tra- zes a béngio de Deus para todo o mundo. Maria cale-se @ essa saudagio tio insdlita refletindo- grande embaraco no seul rosto. Podem ter valor para cla tais elogios? A sua humildade ¢ a sua modéstia nfo conseguem explicar-the © significado © 0 objetivo dessa saudagin. Fntia o Anjo yeio em auxilio do seu embarago: chamarés Jesus. O nome «Jesus» é de alti simo significado: «Deus ¢ a salvagio»; 0 Filho de Maria € Deus © traz a redengdo ¢ a salvacio a todos 0s homens. Aquéle que pela primeira vex trouxe tal nome foi Josué, condutor do povo, o sucessor de Moisés. No tempo de J sus era @ste nome dado com freqiiéncia aos meninos. O escritor judeu Flavio Josefo nomeia seis personalidades que © traziam e entre essas diversos Sumos Sacerdotes. Paulo se refere, elogiando-o, a certo Jesus, chamado justo, seu companheiro fiel durante seu encarceramento em Roma (Col. 4, 11). Lucas registra wm Jesus entre os antepas- sados do Salvador (3, 29). A antiga forma Jehoshiia, com o passar do tempo se transformou em Jeshfia e dessa ‘ilti- ma os Gregos tiraram a forma , nome que chegou até nés © se nos tornou tao caro. Ble sera grande ¢ chamar-se-4 . Essas palavras se relacionam com a pro- messa que foi feita ao patriarca Davi (2 Rs. 7, 12-16; Ts. 9, 7). Maria ouve com calma essas grandes promessas € considera atentamente as palavras do Anjo; nao duvida absolutamente sobre a possibilidade da sua realizac&o, co- mo f@ Zacarias, mas faz uma observagao de grande impor- tncia: como seri compativel éste amtincio com a escolha (A) SS, 0 Papa Pio XIE usou a expressio “x humilde € igno- radu donzela de Nazaré.” apés a proclamagéo do dogma da Assungfo de Maria S$. ao eéu. (Oss. Rom. de 2-1X-50) 73 do estado de vingindade? «Como poder acontecer isso, se eu nfo conhego homem?> perguntou bumil- demente. © estado todo especial que ela tinha fir memente abracado parece um obstdculo intranspontvel pa- ra 2 realizagio do plano divino, Gabriel lhe dé porém, com afabilidade, 0 necessirio esclarecimento; suas palavras séo ricas do mais profundo e fundamental significado para a compreensio da verdade sdbre a pessoa de Cristo, Elas acentuam e mais uma yez explicam que o Filho de Maria é ao mesmo tempo real e verdadeiro Filho de Deus. A natureza humana e a divina sio unidas em Cristo em uma e inica pessoa. O Anjo diz ainda mais: nfo 6 necess4rio um homem para a tua concepgio. «O Espirito Santo vird sdbre tie a poténcia do Altissima te cobriré com a sua sombray, A expressio «cobriré com a sombra>, acha-se no texto grego do Antigo Testamento ¢ ine dica a morada de Deus na nuvem misteriosa, que descia © envolvia uv Tabersdcule. . Tsaias (7, 14) disse: «Bis que a virgem dard & ux um filho ¢ lhe pord o nome de Emanuel». Baste foi o sig- no misterioso para a casa real de Davi, e tonou-se agora © signo para tdda a humanidade: © que «i den foi esta? mulher 76 a a) A regio montanhosa» recebe uma determinacio mais precisa, quando Lucas se refere as noticias dos aconte- cimentos surpreendentes verficaros na cata de Zacarias © que «se espalharam por tédas as montanhas da JudGiay (Le. 1, 65), por onde se pode deduzir que ndo era muito ex- tensa esta regido da Judéia, Segundo o livro de Josué, parece tratar-se de monta- nhas situadas muito ao sul: «Josué percorreu téda a re- gidio, o «nortex, a zona do sul, a planicie e Asedote. Devas- sou de Cadeshame a Gaza e téda a terra de Gosen até Gabfio (Jos. 10, 40 s.) ‘ No livro de Jeremias (32, 44) lé-se: «Os campos serio comprados a dinheiro e registrados em eseritura ¢ por-se~ alhes-& 0 sélo © tomar-se-fo testemunhas, na terra de Ben- jamim e nos arredores de Jerusalém, nas cidades de Juda, € nas cidades das montanhas, ¢ nas cidades das planicies © nas cidades que estéo 20 meio-dia porque farei voltar os seus cativos, diz 0 Senhors. © profeta, ao anunciar 0 re- témo dos cativos de Babilonia, enumera wm por um os distritos de Jud, distingue «a regiio montanhosa» do dis- trite de Jerusalém. Quando Plinio (15) escreveu que Je- fusalém est situada na ¢Orines, Gle certamente se en- Banou. No tempo de Herodes a Judéia estava dividida em 10 toparquias (distritos) ou cireunserigées enumeradas tam- bbém por Flavio Josefo, que nfo fala na Orine mas sim na Tduméia, que 6 a parte setentrional do antigo reino de Eom. A parte meridional nfo pertencia ao reino de He- odes, mas ao reino dos nabateus; @ste tltimo distrito da Iduméia incluia também a cidade de Hebron, pre como nos tempos de Josué ¢ deve ser jdentificada com a regio montanhosa (a Orine de Plinio). Flavio Josefo mente (15) Hist. Nat. ¥ 14, 70. considera Jerusalém como um distrito a parte (16), vizi- nho ao da Iduméia ¢ narra mais adiante que Simio Bar- -Giora, condutor dum bando, passou a cometer rap agem nos arzedores do castelo de Masada( situado 0 sudoeste do Mar Morto) ¢ justamente na «regifio mont nhosa» depredou as aldeias desta mesma regio, atreven- do-se por fim a fazer incursées na plantcie 20 sul, O dis. trito por Gle devastado era a Acrahatena e téda a regio até a Iduméia. Na aldeia de Naim (a sudoeste de Hebron @le levantou fortificagées, © escondeu o seu botim nas ca- vernas do despenhadeiro Faran (17). Fiea assim esclarecida 2 posigio da «regio montanhosay, chamada assim também na lingua falada pelos rabes que habitam ainda hoje aquela terra: ¢Tudo aquilo que esta situado de Bir-es-Seba para o nordeste, na lingua dos indigenas é chamado el Gebel (a montanha), sendo o restante territério considera do como planicie. As massas rochosas vio se alteando sem acidentes, da planfcie que esta a 210 m acima do nivel do mar, junto de Bir es-Seb4 para nordeste, até atingirem a altitude de mais de 1.000 metros. Esta regifio nfo € acessivel pelo lado de oeste © su- doeste, mas somente pelo sul, ou melhor, pelo sudoeste, po- de ser atingida, através de ingremes ladeiras (18). (Is. 60, 1-3). Mas Jerusalém vin na modesta peregrina apenas uma simples mulher comum da Galiléia, regiéio tao pouco estimada, uma mulher daquela Nazaré, objeto de zom- baria. No patio do Templo reservado as mulheres, Maria ora por longo tempo com fervor; a sua alma sente-se como na sta propria casa, rejubila-se e exulta, suplica e implora. ‘Talvez tenha-se encontrado ali com Zacarias, que como sa- cerdote, ali se achava certamente, pela ocorréncia da festa de Pentecostes, © péde assim fazer-lhe afetuosa companhia para o prosseguimento da longa ¢ fatigosa viagem. a familia de Zacarias estivesse em Ain Karim, bastaria uma hora e meia de caminho para encontré-la; mas se, em vex dissc estivesse em Jatta, seriam precisos cérca de dois dias para percorrer os 46 km de estrada que ligava us duay ci- dades, Finalmente chegou Maria ao térmo da sua viagem, en- trou em casa de Zacarias e saudou Tsabel (Le. 1, 40). O precioso texto desta saudagio nfo nos foi transmitido; ge- ralmente os orientais usam como praxe repetir a férmula da saudagio, quando respondem. Assim, Maria teria po- dido dizer: «O Senhor te abengoe e A crianga que es peras!», ¢ Isabel teria respondido alegremente: «. Os maometanos da Palestina safidam-se hoje com 0 es ssalim alék (a paz seja contigo). Estendem ainda a mao direta. para, a terra, depois tocam com ela 0 coracho, os lé- bios e a fronte ¢ se beijam finalmente sobre as faces (22). 86 ‘Também no tempo de Jesus estava em uso o beijo da sau- dacio (23). _ Gom a sua saudagéo Maria féz estremecer de jibilo a crianga no ventre de Isabel ¢ esta, cheia do Espirito Santo, disse em alta voz: «Bendita é tu entre as mulheres e hen- dito € 0 fruto do teu ventre! E de onde me é concedida esta graga, de vir ter comigo a Mae do meu Senhor? Porque logo que a voz da tua saudagio chegou aos meus ouvidos, a crianga exulton de alegria no meu ventre, Bem- -aventurada és tu que créste, porque se realizario tédas as coisas que te foram ditas da parte do Senkor» (Le. 1, 41-45) Maria por certo devia ter experimentado um sentimen- to de admiragio infinita. Isabel jA sabia entéo tudo, co- nhecia 0 seu divino segrédo, sabia que diante dela estava a ditosa MZe do Senhor, do onipotente Deus. A expresso Mie do meu Senhor> nfo é uma forma de simples cor- tesia, mas uma verdade para sér literalmente accita. Maria nada mais tem que acrescentar nem explicar, pois o Espirito Santo ja t@z até mesmo o futuro precursor do seu divino Filho dar, a seu modo, um sinal de jabilo e de admiracao. Da sua alma irrompe entio, num férvido ‘cintico, 0 jé- hilo recaleado por tanto tempo: . geragio em geracio «O Magnificat € a feliz’ conclusio dos livros do Anti- go Testamento e o mais feliz inicio da poesia do Novo» (24) Tim ritmo solene o movimenta; atenuado da antiga forma hebraica do paralelismo. Maria agradece’ a Deus pelos grandes beneficios que Ihe fé2, porque Ble rege o mundo com justica e cumpre as promessas feitas a0 seu pove. O @fintico nos permite penetrar profundamente nos pensamen- tos de Maria, no mundo dos salmos, em que cla vive e pen- sa, habituando-se a ouvi-los como todos 0s fikis, no servico divino das sinagogas ¢ nutrindo-se déles ji de ha muitos anos. A espiritualidade dos Salmos ¢ dos Profetas penctrou to profundamente nela que o seu canto de jiibilo se toma involuntariamente revestido das velhas ¢ consagradas for- mas, Indicar passo a passo onde isso se verifica seria um estudo dos mais atraentes. Muitos passos sfio comuns ao elintien de Ana, a venturosa mae do profeta Samuel. (24) Zorell, em “Verbum Domini”, 2 (1922) 194-198. 88 muito significativo e comovente que Maria, em pri- ‘meiro lugar, pensa em Deus e se alegra néle, que é a fon- te de todo o bem, o Santo, 0 Onipotente, 0 Misericordioso. Ble nao faz distingao de pessoa e aborrece téda sapiéncia orgulhosa ¢ téda vaidade. Ele exalta os humildes, os modestos, os débeis e vem ‘em socorro dos pobres. Ble mantém as promessas feitas ao seu povo: 0 Messias, hd tanto tempo esperado veio afinal. Maria nfo deseja nada para si, deixa que seja éle a dar-lhe o que tinha determinado de dar-lhe. O contetido do c&ntico de Maria, que é também uma oracio, é um amoroso elogio © um agradecimento cheio de jébilo. Maria permaneceu junto de Isabel por trés méses, cer tamente até © nascimento de Jodo. Depois de haver servi do com grande humildade ¢ dedicacio, nas hotas mais di- ficeis, a sua parenta, j4 de idade avancada, ela regressou & sua terra natal. Percorreu novamente o longo caminho pelo qual vicra c que agora no verdo sc tornara bem mais qucnte; mas prosseguia intimamente feliz pela béngio que tinha leva- do & casa de Zacarias e pela agio do Espirito Santo, que havia sapientemente preparado Isabel, antes de sua che. gada. A Deus portanto confiou com infantil e total con- fianca todo 0 seu futuro. 4. A diivida de José Maria chegou muito fatigada a Nazaré: Ela estivera au- sentc muito tempo, ¢ como nio havia partido logo apés a Amunciagéo, j4 devia estar no quinto més de gravidez, E mal apenas voltou para a casa, olhares mais perscrutadores notavam a mudanca que se tinha operado nela eo inter- pretavam cada qual a seu modo, alguns até com malicia, sendo que os olhos das mulheres observam sempre: com mais 89 agudeza, Talvez algum parente ou algum conhecido, sem suspeitar de nada, se tivesse congratulado com José, pelo auspicioso.acontecimento que logo o tornaria pai, no entanto 0 enchia de dolorosa confusio. sivel que Maria estivesse esperando crianca? Bile’ sabia do ideal de Maria, tinha-o aprovado e havia conséntido em viver com ela na observancia de perfeita castidade, Maria entio seria culpada? Isso Ihe parecia impossivel ¢ nao se’ coa- dunava absolutamente com o seu carter e com a conduta ela mantida até entdo, Tratar-se-ia talvez de uma vio- ncia que fésse praticada com ela durante a viagem? Nes. te caso nifo seria ela culpada perante a lei que punia com @ pena de morte dnicamente o violentador (Dt. 22, 25-27); mas se ela f6sse também ctimplice, incorria entio em todo © tigor da lei e era castigada com a lapidacio (Dt. 22, 20 ts.) mediante acusacio do marido. No caso poréi de. ser falsa esta acusagao e ficar provada a inocéncia da mulher, @ marido ser agoitade © deverd pagar av pai da mulher 100 siclos de prata, no podendo repudid-la durante todo o tempo de sua vida (Dt. 22, 13-19). Depois de ter refletido maduramente sdbre 0 “assunto, José tomon a deliberacfo de nfio tomar novamente Maria consigo, mas deixé-la secretamente, 0 que corresponde a enviar-lhe 0 libelo de reptidio, sem declarar 0 motivo. No entanto Maria se mantinha em uma atitude mui Teservada, talvez porque nfo se julgasse autorizada a falar, sem uma autorizacio do alto, permitindo a revelagéo do Seu segrédo. O Espirito Santo, havia. estlarecido, tudo a Tsabel, sem que f0sse necessario a Maria dizer qualquer coi Sa. assim também iluminaria José, como e quando julgasse ‘portuno fazer. Neste confiado silencio transparece tda a maravilhosa f6rga do seu espirito, mas que Como era pos- «Se alguém nfo. peca 90 Publicado em www. leiturascatolicas.com Maio/2013 1% ‘no seu falar, éste 6 um homem perfeitos (Tg. 3, 2). Ma- tia esperava confiante, até que Deus revelasse 0 enigma ao fhomem justo que era José, ¢ Deus assim o féz, de fato, con- forme narra Mateus: «O nascimento de Jesus Gristo acon- teceu desta sorte: Estando Maria, sua mie, desposada com José, achou-se ter concebido por obra do Espirito San- to, antes de coabitarem. E José, seu espdso, sendo justo ¢ ndo a querendo difamar, resolven deixd-la secretamente. Ora, andando @le com isto no pensamento, cis que um Anjo do Senhor he apareceu em sonhos, dizendo: José, filho de Davi, nfo temas receber Maria, tua esp6sa, porque é obra do Espirito Santo o que nela foi concebido. E dara a luz um filho, ao qual porés o nome de Jesus, porque Ple sal- yard o seu povo dos seus pecados. — E tudo isso aconte- ceu a fim de que se cumprisse 0 que. foi dito pelo Senhor por meio do-Profeta: His que a Virgem concebera e dara 2 luz um filho ¢ o chamario Emanuel, que quer dizer: Deus conosco (Is. 7, 14). — E José, despertando-se, #€2 como the tinha mandado 0 Anjo do Senhor, e recebeu Maria sua espésa. E nio a conhecia, até que deu & luz seu filho primogénito, e o chamou Jesus» (Mt. 1, 18-25) José foi assim libertado de uma grande tribulagio ¢ suas’ diividas foram miraculosamente resolvidas; Ale pode de novo olhar serenamente para Maria, com o mais profundo ‘espeito tomou-a consigo, dispensarido-lhe os mais amorosos ‘cuidados e tornando-se 0 seu mais fiel companheiro por téda a vida. Assim defendeu Deus a honra da mae do seu Filho © Maria péde finalmente dizer tudo a José, confiando-lhe o-seu ‘seurédo e contando-lhe como se tinham passado exatamente 48 coisas, enchendo-se: ambos de adiniragio por tudo o que acontecera assim to miraculosamente. ¢ juntos louvavam o Ficaram no entarito calados para com todos plano divine. Oo 08 outros © mantiveram por trés longos decénios o mais 1ic Boroso siléncio sObre 0 grande mistério, 5. A virgindade de Maria No faltou quem se atrevesse a ofender a Ma Sustentando que ela tivesse tido relagées conjugais com. José ¢ haja dado & luz outros filhos, apés a sua milagrosa concep- #0 por obra do’ Espirito Santo, e no obstante a sua ex. traordindria confissio: «Eu nfo conhego homem. Por éste modo 6 também negada a Sao José a capacidade de conser. War © mais profundo respeito pela Mae do Filho de Deus do Salvador da humanidade. Uma exegese racionalista de, fatendendo a t6das as refutagdes, se obstina a sustentar ain. da hoje aquilo que no seu tempo afirmava Helvidio, cujas caluniosas imputagées foram no entanto cabalmente conies. tadas por So Jerénimo. _ Contra a perpétua virgindade de Maria apresentam-se habitualmente trés objecées: 1. A passagem de Mateus 1, 25: Ble nfo a conhecia até que deu’a luz um filho>. ‘Ora, a preposigio «atéy, tanto na lingua’do Antigo como na do ‘Novo Testamento, sie. nifica somente que alguma coisa nio’acontecen senso a un certo momento, sem afitmar porém que tenh depois, Para demonstrar isso examinemos tos do mesmo Mat que, enquanto niio p; de Jesus, io a um acontecido alguns outros tex ust «Em verdade, em verdade vos digo ‘ war © o6u ea terra, nfo desaparecers da Tet um 86 jota ou uma virgula até/que seja tudo cute Prido> (5, 18). INiio existird mais a lei de Deus depois do fin do mundo? «Ble niio quebraré a cana rachada e no apaga- na mecha que fumega até que faga triunfar a justicas (12, 92 20). Seria preciso entender entéo, contra todo o bom. sen- so, que depois do triunfo seria partida a cana ¢ apagada a mecha? «Em verdade vos digo que entre aquéles aqui pre- sentes, hé alguns que nao morrerao até que vejam vir o Fi Iho do Homem do seu reino» (16, 28). Naturalmente, nfio tendo morrido antes, muito menos depois da sua vinda mor- rerio. Em Mateus a focugio até que ou até quando foi por nés encontrada c@rea de 17 vézes, sendo que 7 destas com o sig- nificado acima referido. Nao ¢ justa portanto a conclusio de que no texto citado (Mt. 1, 25), queria éle dizer que acon- tecen depois 0 que féra negado antes. Mateus quer apenas frisar bem 0 fato que Jesus nfo foi gerado de pai humano. 2. Uma outra‘objecio foi levantada ‘por causa da se- guinte passagem de Lucas 2, 7: «E deu cla a luz o seu filho primogénitor. Se Jesus 6 chamado . O ano 25 corresponde ao ano 25 do imperador Augusto, como se verificou pelo confronto com outros epitafios da mesma necrépole (26). Q. primo- génito, filo de Arsinoé era entdo ao mesmo tempo também. © filho Ynico (unigénito). Assim também o nico filho de Maria pode ser chamado apareee sob diversas formas, em grafias diversas; um Fiabi (Fabeiti) 6 pai do sumo sacerdote Jesns (em exercicio nas proximida~ des do ano 30 a 24 a. C.) © do sumo sscerdote Ismael T (15-16 d.G.). Haverd neste caso um lago de parentesco? Alfm déstes nao se conhecem outras pessoas de tal nome. 3. So também atribuidos a Maria, como sendo seus fi- meu corpo eri (a5) Gr nos “Annales du Service des Antiquité Vig, (1922) © transerita em “Bibliea”, 11 (1930) (0) Ch Brey, La signification du terme “protétocos” daprés Inseription juive, em “Biblica,” 11 (1980) 873-990. 4 hos, os chamados (que fica também ¢cunhada>) da Mae de Jesus; assim, os sdrmios de Jesus» nada mais sto do que primos irmaos de Je- sus, € © mesmo se pode dizer das . A mie déste & como j4 vimos, Maria a mulher de Cléofas. Alfeu e Giéofas, portanto, devem ser dois nomes diversos da mesma pessoa. © usd de nome duplo era muito comum entre outros contemporaneos; por exemplo: Joao-Mar- 08, Barsaba-Justo, Saulo-Paulo, Simio-Cefas-Pedro. O se- gundo nome era geralmente usado por ser ma ges com o mundo grego «Alfew» 6 um nome aramaico, Halfaj, do verbo halaf, «tomar o lugar», «seguir»; 0 particfpio do verbo 6 ha'fi ¢ signifiea ¢ Halifa; 0 sucessor do profeta Muhammed»). i proviivel portanto que Cléofas fosse © primogénito dos irmios, com todos os direitos e de: verey relatives ao seu estado; Sdo José era um irmio mais jovem, como 0 seu préprio nome indica: Joseph-el quer di- is facil nas ree 96 ver Deus dix (um irmiv)». Clopas € ncme grego, sig- nificando constam no Egito de muitos papiros, nos anos 61-62 até 257-268 4, G,, mas tais registros se faziam também antes, como se pode verificar por um papiro do ano 42 (de Augusto), isto 6 de 11-12. d. CG. éste o papiro de Ossirinco em Fajjtim (33) Lucas chama éste recenseamento «o primeiroy, para dis tinguf-lo daquele que ver mencionado nos Atos dos Apést los (5, 37) © que se realizou no ano 6-7 d. C. (34). No ano 104 d. C, saiu um decreto do governador do Egito referente 4 um outro recenseamento nos mesmos térmos do que relata o Evangelista, «Gaio Vibio Maximo, governador do Egito anuncia: De- vendo-se realizar 0 recenseamento, ordenamos a todos aqué- les que, por qualquer motivo, se acham fora do seu distrito, que voltem A casa paterna, para encerramento do censo ¢ para e dedicarem A cultura dos campos que thes incum- bem...» (35) Possuimos ainda um interessante fragmento dos tempos do imperador Claudio (41-54) a respeito de um depoimento Vita dit August, 2, nfell and. Hant, Oathynchas Papurf, 1. itren, op. city Ty p. 181. Deissman, Pi ieht vom Ostem, ‘Tiibigen 19: sob juramento, referente aos habitantes de uma casa. fi do ano 47-48 d. C. e diz: «Ao pretor Dérion ... a0 escriba do imperador © a Didimo e aos empregados do recenseamento Para os campos ¢ para as aldeias, da parte de ‘Thermou- thari, filha de Thoon, com seu amo Apol6nio, filho de Sotade Habitantes na minha casa na rua meridional. . Thermou- traion, liberta do dito Sotade, com cérca de 60 anos, esta. tura regular, cér morena escura, rosto oblongo, e uma cica- catriz no joelho. Ao todo trés pessoas, Eu, a dita Ther- moutharion com seu amo Apolénio, juro por Cléndio César Augusto Imperador Germinico, que dei com verdade e preci- “lo a presente declaragio © que nenhuma outra pessoa habita na minha casa, nem estrangeiros, nem Alexandrinos, nem Egipcios além dos supraditos nomeados. Se digo a verda- de, tudo me va bem; se juro falso, (que me va) o contrario No % ano de Tibério Cléudio César Augusto Imperador Germénico, no més de Paofi (36). Que coisa dariamos para poder ler o ato original da de- claragio de Maria ¢ de José feito no cariério de Belém, com as respectivas descrigdes das pessoas ¢ dos seus iragos fisio- ndmicos! b) A viagem a Belém 4B José foi também da Galiléia, da cidade de Nazaré, Judéia, A cidade de Davi, que se era da casa e familia de Davi shamava Belém, porque i para se recensear juntamente fom Maria, sua espésa, que estava grivitlay (Le. 2. 4 ss.) A Viagem devia ter sido muito fatigante para Maria, tanto Mais que muita gente se achava em caminho pelo mesmo Mati © BeUPAVA os pontos de pousada, o que obrigava por (1) Grentent Hunt, op. cit, 11, 215, 101 vézes os viajantes a se contentarem com um misero abrigo, prosseguindo por pequenas etapas didrias sua jornada para 6 sul. Muito felizes se sentiam intimamente os dois viandan- tes; 0 Filho do Altissimo estava ja proximo © devia vir & luz para abengoar a todos os filhos de Adio. A estagio es- tava ja adiantada, 0 fim do ano se aproximava ¢ a tempo- vada das chuvas comegava. Nao faltavam todavia, mesmo nos meses de novembro ¢ devembro, dias bonitos; quando porém chovia, as estradas se tornavam impraticveis, Como era de esperar de crentes fervorosos, éles no deixaram certamente de fazer suas oragées no ‘Templo de Jerusalém, de onde, apés duas horas de caminho (8 km) teriam chegado a Belém. Vencida que foi uma suave colina, apareceu-lhes diante dos olhos a meta de sua viagem: a terra natal de José. Nas prosimidades da tumba de Raquel, que, segundo a tradi¢io, dera ali A luz a Benjamim, e no mesmo lugar Jacé erigiu-Ihe um monumento sobre 0 seu sepulero (Gan. 35, 16 $s.), 08 v jantes se desviaram para a esquerda da estrada Jerusalém- “Hebron ¢ em pouco tempo chegaram a Belém. ©) © lugar onde nasceu Jesus © antigo nome da cidadevinha era Efra (Gén. 35, 16; 48, 7; Sl. 131, 6), mas comumente era chamada Efrata, que é porém a forma toponimica, assim como Rama era chamada Ramata, a pétria de Samuel, Era portanto 0 bergo de Davi, cujo av6 Booz tinha contrafdo um abengoado matri- ménio com Ruteyia moabita, que assim se tornou av de Davi (Rut. 1, 1.19; 4, 13-22), Aqui o jovem pastor Davi foi descoberto por Samuel e ungido rei, Na longinqua des- cendéncia de Davi se encadeavam uma por de recorda- ges gloriosas da Histéria Sacra, cujo despertar agora fazia hater alegremente 0 coragio de Maria. Estava agora préxi- 102 mo o momento em que deveria dar ao mundo o maior dos descendentes de Davi. — Oh! se Belém tivesse imaginado quanto a tornariam famosa estas duas humildes pessoas, té- -las-ia acolhido e hospedado de modo bem diverso. Té-las-ia acompanhado em triunfo ¢ teria posto A disposicio da Mae do seu maior Filho a melhor casa. «Belém é hoje uma pequena cidade de 7.000 habitantes, situada a 777 m sébre o nivel do mar, um pouco mais ele- vada do que a altitude média de Jerusalém, sbre duas co- linas; a da parte oriental, menos elevada do que a outra, com duas encostas mais suaves. Ao norte € ao sul abrem-se vales pitorescos. Nos pomares, protegides por muros de pedra séca, crescem figueiras, romfzeiras, amendoeiras ¢ oliveiras. Aqui © ali se alteiam pequenas térres de guarda (37). Be- lém produz vinho e mel saborosissimos; os habitantes s4o la- boriosos, mas turbulentos; as mulheres belas e bem educa- das, as criangas inteligentes e simpaticas. O clima é quase igual ao de Jerusalém, salvo quanto aos ventos que ali sopram com mais violéncia. O conjunto da paisagem é dos mais graciosos. A noite, quando nfo se escuta senao o canto de al- guns pastéres, ou o tilintar das campainhas dos rebanhos que passam pelas encostas das colinas, tudo induz 4 meditagées pie- dosas © a gente acha perfeitamente natural que Davi, jovem pastorzinho tenha encontrado uma riquissima veia de inspira- gio para os seus Salmos, ao admirar natureza tio bela (38). os No tempo de Cristo, Belém era uma localidade insig- nificante. Lucas (2, 4) chama-a «cidades, mas Joao (7, 42) 4 classifica como (Aqui nasceu de Maria Virgem Jesus Cristo) (45). 40) Fp, 46, 10, entre as cartas de S. Jerdnimo (PL 29, 490). 41) ch Fonch, De antro nativitatis bethlemitico, “Verbum mini” 12 (1932) 11-15 © 48-53. Segundo as mais re- contos descobertas, a atval Basilica foi construida pelo Imperator Justiniano 1 (527-565), no sitio da primitiva, Hin por Constantino, 107 d) O nascimento de Jesus 4, estando ali, aconteceu completarem-se os dias em que devia dar A luz, E deu & luz seu filho primogénito, € © enfaixou e reclinou numa manjedoura; porque nao havia lugar para éles na estalagem» (Le. 2, 6 s.). O mais impor- tante acontecimento da histéria, a partir do qual comecamos contar 0s anos e os séculos, ¢ assim narrado pelo Evange- lista com a maxima simplicidade A Segunda Pessoa divina aparece s6bre a terra ¢ tor. na-se em tudo semelhante a nés, excluido o pecado. A oni poténcia se reveste da debilidade de um menino, a Sapitncia de Deus desce até a nossa ignorancia, 0 Infinito se encerra nos limites do espago e do tempo, o Santo se cobre com a veste do pecador. Maria 6 a feliz Mediancira déste mila- Bre; nela «o Verbo se féz carne, e habiton entre nés; ¢ nés contemplamos a sua gloria. Gléria como de Unigénito do Pai, cheio de graga ¢ de verdade da sua plenitude temus reeebido gracas sdbre gracas, pois se de Moisés nos foi dada a Lei, por Jesus Cristo foi trazida a graca ¢ a verdade» (Jo. 1, 14-17). Ble é 0 predileto do Pai (Jo. 3, 353 5, 20; 17, 2: etc,), 0 esplendor da sua gléria e a imagem da sua substin- cia, aquéle que tudo sustém com a sua palavra poderosa, aguéle que nos purifica do pecado ¢ se assenta a direita da Majestade (de Deus) (Hebr. 1, 3) Um jibilo infinito devia encher a Mie bem-aventurada quando viu ao seu lado o seu pequeno filho, quando veve que exe para Gle oy primeiros gestos maternos, eayol- P P vendo-o em panos, preparando ¢ cobrindo a manjedoura, 0 improvisado bergo onde o reclinou, depois de 0 ter acon- chegado a seie © eoberto de beijos ¢ caricias. Nenhum adju- t6rio Ihe foi preciso, além da discreta assisténcia do seu cas- 108 tissimo espéso. O parto nfo a tinha privado de fOrcas e nada Jhe havia retirado do seu esplendor virginal. ©) Os pastéres Deus Pai, todo-poderoso que é, féz no entanto anunciar © nascimento do seu Unigénito por um modo inteiramente singular, que nos faz involuntiriamente pensar nas palavras ditas por Jesus, quando seus discipulos regressaram da pri- meira missio a que os enviara: (47). Abba Gorjon de Sidon (em 180?) decla- rava em nome de Abba Scha’ul (em 150): «Nao fagas de teu filho um tocador de asnos, um condutor de camelos. um barbeiro, um marinheiro, um pastor ou um comerciante; pois que 0 officio déles é um officio de ladrées» (48) A mie enche a bélsa do jovem pastor com pio, queijo ¢ fruta séea; em um odre éle leva Agua para beber e tras con sigo também uma comprida vara ou um curto bastao de madei ra de carvalho com uma grossa e redonda cabega guarne cida de pregos, que constitui uma arma contra os ladvée © contra os Iébos ferozes. Uma funda completa o seu eq pamento, Com o exercicio, os pastéres se tornam habilissi~ mos atiradores, capazes de atirar com preciso uma pedra diante de uma ovelha, que quer se afastar do rebanho. Nos livros dos Juizes se fazem referencias a Gles, como mestres no manejo da funda: «Cada um déles, com a sua funda era capaz de atirar uma pedra num fio de cabelo sem errars (49) A vida ao ar livre, sob qualquer temperatura, no calor do dia ow no frio da noite, robustecia 0 pastor € 0 mantinha (AD) SL 23,15 ef. Strack-Billerbeck, op. cit. I 113. (48) Strack-Bitlerbaek, op. eft. H, p. 114. (49) Te. 20, 165 ef. Less, Der Hirtenjunge David im Kampf yeger Goliath p. 168 110 sho ¢ resistente, O alimento frugal 0 tornava s6brio, os perigos davam témpera a sua coragem, que Ihes era neces- sdria para enfrentar os numerosos ladrées que abundavam na regio. Tinham ainda que repelir 0 ataque dos animais ferozes, No tempo de Cristo se fazia ainda na Terra Santa a caca do ledo, mas evidentemente era um caso raro pois @te animal nao vem quase mais mencionado no Novo Tes- tamento, Sfo Pedro, em uma de suas cartas (1 5, 8-9) com- para o deménio a um ledo que vai rugindo em busca de al- guém para devorar. Nas paribolas de Jesus nfo é jamais ci- tado, nem o urso igualmente; Jesus nomeia apenas o Idbo, como o principal inimigo das ovelhas. # preciso lembrar também o leopardo; ao autor foi mostrado em 1913, em Je- rusalém um leopardo embalsamado que havia sido morto pouco antes por pastdres de ovelhas, nos arredores da cidade. A hiena, que se alimenta de carnica © 0 covarde chacal nfo representavam nenhum perigo para os pastéres. Jesus demonstrou mais tarde uma verdadeira predile- Ho pelos pastéres; éstes homens simples, corajosos, solitarios © compreenderam melhor do que os membros das classes elevadas do seu povo, néo obstante, todo o poderio € cign- cia déstes. Ble tirou da vida dos pastéres as mais belas imagens das suas pardbolas (cA ovelha desgarradas, ordenou a Sio Pedro, Certamente suas palavras traduzem reminiscéncias da infancia quando, com téda probabilidade, condu pasto ovelhas ¢ cabras, os animais domésticos que constituiam 4 pequena riqueza da pobre gente que habitava as mon- tanhas de Nazaré. sis que apareceu junto déles um Anjo do Senhor, ¢ # claridade de Deus os cercou, e tiveram grande médo. Po- © Anjo thes disse: nao temais, porque eu vos anuncio qt uma grande alegria, que tera todo © povo. couvos na cidade de Davi um Salvador, que é 0 Cristo E cis © sinal que vos dou: Encontrareis um menino envolto em anos e deitado numa manjedoura, — E stibitamente apa- rece, junto ao Anjo uma multidio da milicia celeste, lon- vando a Deus e dizendo: Gléria a Deus nas alturas © pay na terra aos homiens de boa vontade (Le. 2, 9-14). Nesse canto de Jouvor vinha anunciada a missio do recémnascido: Ble deve restabelecer 0 culto do verdadeiro Deus, reconciliando-o com os homens ¢ obtendo para éles 0 perdo dos pecados e lancando de novo as bases da nossa felicidade por meio da Graca. A Graga no é imposta pela forca, mas pressupde a livre aceitaciio pelo homem; ela sig- nifica (2, 19). f) A cireuncisio Olto dias apés o nascimento do menino foi feita a cir- cuncisio, como era prescrita na lei (Lev. 12, 3). Nesta oca- sido, ao pequeno foi dado o nome dé Jesus, conforme havia ordenado 6 Anjo Gabriel quando apareceu a Maria e em sonho a José (Le. 1, 31 e Mt. 1, 21). Pela circuncisio o re- cém-nascido vinha a fazer parte do seu povo, ficava purifica- do e santificado e podia assim tomar parte no servic divino. Esta ceriménia constituia o sinal de uniao entré Deus ¢ 0 seu povo (Gén. 17, 10-14). Nos tempos de Cristo havia ho- mens adestrados e adstritos & mica missfio de cireuncidar, para nio por em perigo a vida dos meninos. Era de uso tam- bém uma festa de familia, que foi celebrada, mas muito modestamente, pela pobreza de Maria e de José. Os c dados com a ferida do menino, que se tornava dolorosa, a no terceiro dia (Gén. 34, 25). ficava’ a cargo da mie. @) A apresentacio no ‘Templo ‘Pranscorridos apenas 0 quarenta dias que a lei pres- orev para a purificacio da Mae, levaram-no a Jerusalém § + Marin, Mite do Senhor 113

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