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ey oydiaa wz a u0007] Kapapueyy :ovsetap100) OBR] BNA ee ors es Gini te 4 “SIIAIA SA vee a Z "A Margot de Suse: 197 = 9119-904 — Sto Pin OE tn Hbingo esate is Mio ¢ Anat PS ek eras. sae aie ie eo ie oii Paso SF. thal Se Desemavimente doa Gree Wi Raber Cc Elie Viena Races i es rie TT, “¢ a ee pecan caries modes ae pesar de a gran de matoria dos Drasileios viverem fas cidades, 0 universo Urbano ainda € bastante esconhecido pela sociedude e tunbyém pe- Insinamuigves naconais As tagcas feepion ves que nos aingem difeta of incireaamense, ‘como enchentes, desibamentos de moro, ‘rescimento geométrico de favela, indices altos ce acdentes de tego, polaigho do ar € dos ros, epidemias, entre ovtras, pat ‘pam do ceridiano da Sociedade, embora els no se dé conta do fio que ligt todos esses Fatos-eque es na base do processo de crs CGunenio whano brasleo, Neste Bim de sé clo, problema ambiental dx mecca, as ‘eiangas desamparadas e a violoncia bana assuthem proporgbes gigantescas € ocupam todas as agendas, Aapesar do tempo resrio, cee ent siasmada a tarcfa proposta pelo professor Wandedey Loconte’ e pela Atual Ecorse cesceever um lero, destinado ans ovens ean iniciantes, sobre um assunto que me ocups hi trinta anos. £ gatficante tera opoeun age de pantcipar do esforo de desvendar a ideatdade da sociedade brasileira, espe CGalmante fora do elroitn dos especiales “ae lwo busca ampliar a consciéncia sobve 0 proassso de cresdiaento ban no Brasil, wentando desvendar os interesses confftantes que esto presenies na Iuta pelo fexpago. Pretende-se mestar que © quicko ‘ubano brasleso & resuante de determina tis elagbes socials que exeliem grande par. te dh populagio do direto & mondia © 2 cidade © teato se descavolve em ts pares, conforme a proposa desta colegio ‘A primeira € um relate sucinto, por tanvo esquemitico, sabre a historia da mo. ‘evolu de dots fatores —apropaacao da Espago & debate Se tera e apropriagio da siqueza gerada pelo tra- balho — a explicagao para as caractessticas gue as Gade assumi- sam, em especial a pair do final do século IX Aogunda, que peloniea umn enfoxuetes sico, mosta, de forma resid, quis 0 0 princpaisineresses envolvidos 1 hia pelo espago e como eles se aticulam com o Bs: ‘do na formalagao e gesio da politica deb Diigo e das polticas urbana ‘A terceita pare conta a historia de ‘um movimento popular urbano. Desereve- se como os moradores da regio de Interlagos, em Sio Paulo, lutarsm pela methoria dos tanspones e pela regulatiza- ‘0 dos loteamentos clandestinos eam que roravam, A histria mostra o erescimento dda conscitneia e da identidade dos mors ores, a partir das reivindicagoes expec: ‘eas © pontuais. Esse movimento dein ddores se dia pani de 1975, quando atores sociais — moradores,sindicalistas, eigio 808, intelectuais — se redescobrem como Suyjitos politicos e imicam a presse pa fim do regime militar no Bri ‘Comecei minha milvinca nos charms dos movimentos urbanos, parieipanda da cexperiéncia que € desea a Parte 3 do Ui ‘10, Desde entto, década de 70, meu tempo {em sido dividdo entre essa mivinca que bbusea feralecer as iniciativas democrticas ‘socials; a atividade académica de easino © pesquisa na Facnldade de Arguiteurs e Ur Danismo da Universidade de S80 Paulo, conde dou aula desde 1974 € onde fiz mestrado e doutorado;¢, fnalmente,aativi- dade profissonal, através da qual dow consuitoria a inémeras prefeimnas, 0 que ane levou a ocupr cargo de serena ds nite 199 © Iza Erundina professores das sac Paulo, que an Dedico este | Bruno Maricato Vill nha Viridiana Maricato Dedico também livro 20 meu wo mew Aiko | ela ¢} minha sobri- PARTE 1 —ASPECTOS DA HISTORIA DA HABITACAO E DAS CIDADES Noprasi, —/ ‘As cidades no periodo colonial. 8 Ciclo do ouro: 0 barroco ea expansio do tert6t0 sesso 2 Século XIX — mudangas que preparam a urbanizacto so IB Da méo-de-obra escrava para 0 trabalhador livre v A terra se torna mercadori ..... av Café, industrializngao © urbanizagho un 24% Repiiblica — arrancada para o Brasil Urb aN joss . 26° Ordem ¢ progresso: reformas urbanas ...27 A construcio da segregacio territorial... 30 © problema da habitagio . Caréncia habitacional e mercado ‘Anos 50: classe média, apartamento ¢ automével PARTE 2— LUTA SOCIAL EESPAGO URBANO A cidade como produto da sociedade .... 42 Interesses ¢ conflitos presentes no espago urbano Habitagio: uma mercadoria especial ..... 46 SPH/BNH — Sistema Financeiro da Habitagao ¢ Banco Nacional da Habitagao eT Globalizagio e metrépoles — a desigualdade se aprofunda.... PARTE 3 — UM CASO DE MOVIMENTO. ‘SOCIAL URBANO; A LUTA DOS MORADORES DA REGIAO DE INTERLAGOS Estudo de caso, 56 0 Movimento do Onibus 56 Movimento pela regulariza dos loteamentos clandestinos «0.0.0 62 © povo, em movimento, reivindica 10d0 sn = 70 ‘Novos tempos, novas difculdades .... 73 Para debater o tema .. Bibliografia comentada Bibliografia sronde ap sazcinpoud soy 0p 'sojnops sound sou: coum lect eenaneonconerenennennntenemsonmcenet | Jefuojoo oporiad OU Sopep}o SVE ‘quanto nas aldeias era frequente a fala de alimentos. Em Salvador e no Recife, cidades por onde se dava 0 escoamen- to do agicar, entretanto, a situagdo era diferente, © Nordeste era a regio mais ‘urbanizada do pais no século XVII. E notivel — pode-se dizer abso- Jota —a impontineia da Igreja Catélica nos dois primeiros séculos € meio da colonizagio. Uma estreita relagio en- tre Estado e Igreja garantia a ele legitimagao do dominio sobre as tetas escobertas ¢ a ela a exclusividade so- bre a vida espiritual (frequentemente no Go espiritual) desses territGrios. A crcio dos nicleos urbanos vie nba sempre acompanhada da conste- ao da capela, que ocupava lugar de destaque. © pequeno niicleo de casas a0 sedor da eapela (também chamado de patriménio) poderia evoluir para 3 situago de parcguia ou fregueséa, para depois se tornar ura vila Ce mais rarn- mente cidade), que deveria apresentar luma matriz ou capelt ampliada, além dda Casa da Camara e Cadeia, Essa mit- danga de status envolvia caracteristicas juridieo-institucionais em que o papel a Tgreja e © do Estado se confundize, “A.acministacio urbana era da com | peténcia do poder local, AS Cimaras Municipals eram controladas principal- mente pelos proprietirios rurais que ‘ocupavam os cargos de vercadon-Ti- | presentowa asfixia de todo sim modo, de habltar a de ver @ | des Borden qui muitos habitos in papers Palo ee | siseiss ses lontzadores portugus i eae ‘ereligiosos soriam loinados. | rnham direto 2 volo os "homens bons", ‘© que significava: de cor branca, pro” prietirios de escravos e de tera dentes na cidade, dle religiio eatdlica ‘que no se-dedicassem a nenhum ofi- io manual—eonsiderado desprezivel, ‘Como parte integrante da monar- quia portuguesa, o destino das terras, dos bens e mesmo dos siditos da cold- la pertencia & Coroa. Os “homens Dons" ou colonos eram representantes {da Coroa ¢ tinham postanto influéacia sobre o destino das pessoas ¢ das coi sss, Havia uma perfeita ariculago en- tre a familia patriarcal, que funcionava ‘como uma unidacle econdmica, € 0 Es- lado absolutista. Mais do que atiaves de contrato formal, 0 poder se exercia descentralizadamente, via autoridade patriarcal e patrimonialista, ou seja, por Aaqueles que possuiam escravos e temas, Estas eram concessio da Coroa, que podlia retomé-las a qualquer momento, ‘Os colonos que aqui viviam te" solviam problentas administrativos;in- vestiam seus proprios recursos na aber- fura de estradas'e em melhorias de que as vilas necessitassem, decidiam con Altos, investiam om eonstaicdes religio- sas;enfim, seus interesses confundiam= se Com 05 interesses locas: Esses fatos marcaram fortemente a formagio do poder local no Brasil, a0 longo das séculos. eoine referencia Genral e absotuta,.| ‘Os recursos naturals, a onsanizagaa rita 0 popntacao que | “nila sia fora ences nea ie: | Tanente atersaladon [or i 1 ga ds elise om re Lagat ppulacio ndizena, rar sme- Pescara ae Haas it [tans do to da petra eas ase Jeeua acres | (Genavizagao, desratgas as rele [serbia Cu ncas; dos costumes, dos naitos, digena meine, dia (oca) ea alicia’ (aba) | Soirsdas com: fla te palmetra ‘ui apa a8 cat foram rejeltadas fom V sew nso colettia; nfensivc.aos tatores. religiasos e mionaisdos colonizadores: | A.nionadia coletioa era considerada I pecanisirasa. em sex lugar os feu [ lasconstrainam casas separadas, nas. [ Mulssoes destinadas a carequizar ea splendor Aigo: peel mie dridems‘o-uiia bier igo das cats nas mi negava a forma de orga ida | Haba onde as dcas se ligt | “jis vesesem Formadecirauo: te: | Silat nun esp cles cia A nou organizago esac Sieaes ‘erelaedos de ‘mais edifices, alls do combo — ge | ee de ‘bens também era. _desconbecrda para aiucts save: | laces Para tins. os bars waters “prin coterie ioa se esi Be necesidades spl sbret fete ut ecul be ere Ciclo do ouro: obarroco ea expansio do tertitério tuspectos da evolugio urbana an- terior a0 século XIX, i que €a par tie dele que 0 tema da urbanizaglo ga- ‘nla mais imponancis e exige mais aten- ‘lo. Ao longo dos dois primeiras sécu- los coloniais, o surgimento de povondos ‘no Brasil ficou restrto 8 cosa Atlantica, ssendo cles quase sempre de dimensbes ‘modestas, Com exoecio de Salvador, ca pital da colénia, ¢ de Olinda © Recife; i} ‘ames registrar rupidamente alguns zo petiodo do dominio holandés, quan do passaram por um interessante pro- cesso de urbanizagio comandado por ‘Mauricio de Nassau, foi somente com o ciclo do ouro que a vida urbana gantiou algum destaque. Com a queda do acticar ¢ a-as- censio da exploracio do ovo, as ci- dades ‘antes concentradas io’ itoral, ‘com excegio de S80 Paulo, comecam “awavangar para-o inceriogy A capttanss de Sto Paulo foi dividida, exiando-se as de Minas Gerais e Mato Grosso. ‘eizo da dintimica econémica desloca- ‘se para 0 Centro-Sul ea capital écrans- fetida para o Rio de Janeiro (1763), por ‘onde se di 0 esconmento do ouro, Asatividades de minerago, a caca a0 indo para a escravizagio € a ex: pansio da pecu‘ria tragaram roras (em especial através das entradas e bandei- as), em toro das quais muilas vilas se formaram, ampliando 0 terrtério da | cisco Lisboa, o Aleljadinho, expresso colénia para além dos limites estabele- cidos pelo Tratado de Tordesilhas. Uma. sociedade mais diversi- ficada, ligadaa.atividades urbanas, desenvolve-se nos centros ligados 2 exploragio aurifera® pequeno artesa- ato, presiacio de servigos, pequeno ‘comércio e comércio ambulante, ad: ministragao civil’ militar —, além da populagae pobre livre ¢, naturalinen- te, dos escravos, antes quase restritos, a atividade rural. Algumas vilas ¢ cidades mais des- vacadas apresentaram significaiva sae nifestagio artstica e cultural, merecen- do desiaque 2 obra de Antonio Fran- 0 chafariz ea lgrea de Sa0 Francisco, lcalizados om Ouro Preto. ado exemple Ua arte barroce no Bras fenjo apogen se dew com 0 ‘tale do rena, nokivel do harrooo no Bev Durante todo o-perfdo: colonial apenas as cdades ma ore ‘ham algum ciemento me nuae Os. neamento basico nunca fot preocapa: 30 da Cocoa portugues. Em geval a gua. era recohida por eserves, aguadeiros que abasteciam a moradias [As fezes ram transporadas por esc ‘ose despejadas nos cusos deg. As Claes Ipadas a0 cielo do gro const tuiam excegoes, Em Tirgdentes, Sio Joao del-Rei¢ Ouro Pre, entio Vila Ric, foram consinidas pontes com a | uitizagao” de ‘pedras trabalhadas ‘com Bas fesmero incomum, akém-de. algumas obras de inf-estracura a ‘Ouro Preto apresentava — e ain- a hoje apresenta — um grande ni mero de chafarizes que merecerara tra- lamento artistico. Era neles que 0s es cravos iam buscar a dgua necessiria para as residéncias. A rede de dgua que 6s alimentava era constituida de dutos de chumbo, barro cozido ou pedra-sa- ao, que também foi utlizada nas edifi- cages. Devido a sua consisténcia mais macia, a pedra-sabio permite um tra- batho de cantaria semelhante ao de es- ‘cultura em madeira. O requinte se es- tendia a construgio de igrejas, edificios administrativos ¢ residéncias. “Ayauistnicia ce-normas urbani ‘cas para as cidades brasileiras alimen- ol multas texes sobre'a.desordem ou 0 desalinhamento das ruas € casario, cujo: desenvolvimento se fazia “malemolenie” ou “preguigosamente?, 40 sabor do acaso: Asicidades de colonizagio-espa- hola, segundo esses autores, apre= sentavam uma ordem na definigao de Prigas, no arruamento ena disposi Glo do eassrio que as cidades brasile fas no dispunham. As ordens religio- sas tinham normas para suas edifica oes; a Coroa, nao. ‘Uma tentativa no muito bem-su- cedida de fixar normas para a ocupa- <0 do solo nos territérios de dominio portugues fos instituida durante a uni das Coroas de Espanha ¢ Portugal (1540/1640), com as chamadas Orde nagSes Filipinas, ‘Apenas entre 1750'¢ 1777, entre- tanto, fol insituida uma politica de ur anizaglo, com incentive 2 criagio de vikis que’ deverkim seguir as mestias ‘guéS; ssa politica, liderada pelo mar- qués de Pombsl, primeiro-ministro por tugués da época de D. José I, fazia ps te de um esforgo de busca de maior cficicia administrativa por meio da cen tralizagio, met que Portugal ainda ri conseguifa dar a0 yoverno da colénia, Essa nova legislago recomendava um. sistema ifrio em que nuas € pragas de~ vveriam se organizar em forma de-xa- ddrez, instituindo também normas para fs Ioces, quadras e fachadas, que n0 deveriam mais apresentar janelas com treliga (iuxarabi@). A reconstrugio de Lisboa, apds um grande terremoto, ‘guido de incéndio, em 1755, serviu de modelo para diversas cidades brasi- leiras. A existéncia de um contingente de escravos ¢ libertos ociosos em ra- 20 do declinio da produgio aurifera permitiu as autoridades publicas da- quela regiao utllizd-los nessas obras, dando nova feigi0 aos centros uria- Nas cidades maiores — Salvador, Olinda/Recife, Rio de Janeiro, Belém, Silo Lufs do Maranhao e,em menor es: cala, Paraiba, Santos e Vitoria — foram construidas obras pablicas, monumen- tais edificios piblicos"e religiosos, « vos edificios comerciais. ‘Os conjuntos arquitetOnicos cons- truidos sob a inspiragzo do urbanismo barroco, presentes’em Salvador (ais Dourado ¢ cais da Amarra), Rio de Ja neiro (Patio do Carmo, atual Praga XV), Vila de Aledintara, no Maranhao (praca principal), além dos conjuntos de edi- ficios assobradados de Belém ¢ Sto Luis do Maranblo, so uma mostra impor- tante da mudanga do cariter da tae shana. Se antes ane= as os edificis do clero, do Estado & da anstocraca aprese! ‘mentalidade, a ascensio da burguesia Vista panordmica do Largo do Paco (Ij), obra de Leandro Joaquin. mercantil mostrava que conjuntos ur banos (no apenas ediffcios isolados, de uso comercial ou residencial, pode- ram apresentar essa qualidade. GESSrar. | Vo “fini da secatlo XVII Jot marca [do pela artse'dos regimes absolutis- Vlas na Burdpa:-0 idedirio tiberal se [opuniba a Fstado. centralizado | interenlon Otiberalismo'se baseou tio litre niercado, 0 pensamento Sfustnauto, na razdo, no conbecimen-. [ 2-A imicitioa idividualo 0 diret- [lee representagae fanto parte das siouas: Constilticoes promulgadas com a Indepindéncia Americana 1(1776)-¢ a Revolucdo Francesa® 11789) Nesse pintodo, a tiglaterra 1d hava tnictado sua Revolugo x= 1 seria, com a ascent da rie I a races de prods can Ld industriatizacao e as cidades No fim do século XVII; 0 Brisil comtava com aproximadamente 3 mi- Indes de habitantes, dos quais apenas 5,79 moravamn nas cidades, TA snigeiea nl subiceacned a Avcidadas Wend produgao ite) dsiral, passartamm por. verdadelre:| revitauola, a comegar pelo,intonso | crescimento deniaaréfico decorren: | eda forga de trabalho que viniha db | ‘campo. As Felagbes ermergeites de | _propriedacie da terra na parla daca | ‘ital iihstrial oeasionariin @ ise | prensa de.camponieses: gue, dispon eis: rumaram paraas cudades, cons. | tintindo forea de tabalho abundar: sepia a indistria nascente. 0 Bra- ‘il eherta a rela entre proprieda de da ternanidusiializagdairbiant. | ‘Bapdo, cons algiomas semelbancas e | la difarorene ave Ais x64 Ios depois. 1 Século XIX — mudancas que preparam a urbanizacio em 1808;:désembarca no Rio de Ja- -meiro, fugindo de Napoleao, a fa- ‘iia real; acompanhada por mais sde-10 mil pessoas. Boris Fausto des- ‘creve 0 séquito de acompanhantes: mi- nistros, conselbeiros,juizes da Cone Su- prema, funciondrios do Tesouro, alto lero, exército, marinha, tesouro real, arquivos, miquinas impressoras, biblio teeas e Oulras pessoas e objets com fungdes menos objetivas. A acomoda- ‘Gio de tanta gente no Rio de Janeiro foi problemitica. As melhores edi- ficagdes foram desocupadas para rece- ber a familia real, Suas poras eram marcadas com as letras PR, que signi- ficavam Principe Regente, Ov, na ver- 10 dos cariocas, “prédio roubado”, ot “ponha-se na rua". © impacto sobre a vida da col6- nia, e-em especial sobre a cidade do Rio de Janeito, foi muito fore. co- megar pela aberrura dos portos, que twouxe © fim das restrigdes que visa- vam proteger as mercadorias aqui twazidas por Portugal (Guja fabricagao cra proibida). A: producao industrial também fot finalmente liberada, com- pendo-se 0 estatuto colonial. Emnbora a pressio dos produtos ingleses sobre “o-mercado brasileiro tenbia constituido [ahve fator de inibigao da producto ma: -nufarureira local, iniciou-se a partir da ‘© desenvolvimento de varios campos da atividade produtiva, como a meta huggia ¢ a mineragio. A ciéncia moder ‘na, que ciusou impacto na Europa no século XVI, chegou 20 Brasil somente no século XIX, com a vinda da familia real. O ensino superior, até endo prot bido, foi instinuida. Criaram-se escolas de Medieinana Bahia € no Rio de Ja- rnciro, academias de Direito em Olinda Sto Paulo, Organizaram-se expedi ‘$6es cientificas a pantie de 1817, suprin- do finalmente a lacuna de documenta clo exisente sobrea sociedade, a fauna © flora brasileira. A engenbaria ga- ‘nha grande impulso devido & muda ‘cada coldnia, transformada em Reino Unido, ¢ devido também as grandes conquistas tecnologicas da época — méquina a vapor, méquina de rovia, avanco da metalurgia, etc. 4 imprensa nacional, antes profi- sinha e inaugura-se 0 Banco do Brasil “Teatro, biblioteca, academias teraria & ca também sto inaugurados. A {dade do Rio de Janeiro, enquanto sede do reino, é 0 local principal para aco- ther as prineipais iniciavas. #4 um no- tvel: desenvolvimento: das artes: Em 1816 & criada'a Academia de BelassAr- tes; que recebe a Miso Francesa, com posta de pintores, escutores; misicos aruitetos estrangeiros: A populagio carioca passa de 50 mil para 100 mil huabitantes. A cidade ganha mais vida e sediversifica. Em compensacto, foi pre- iso arcar com os altos dustos di man tengo de um até entio inéito aparato administativo © burocritico, além de ‘uma multdio de ociosos: ‘A amplagio do consumo para a smanutengio da realeza io foi acompa- nhada do aumento proporcional da produgio, A combinagao da ereseente Inflagio com o endividamento externo iria acompanhar a histéria do pais a partir de entio. A Inglaterra, que ders proceco militar 2 wansferéneia da familia’ real ppomiguesa, passou a controlar, agora Ge peno e diretamente, .comércio bra- -sileio, A Revelugio Industrial m0 po- dia conviver com os monopslios mer antl € a Inglaterra se coloca con- tea qualquer tipo de restigio & comer- cializacio de seus produtos. Pelo mes- rho motivo ela vai Se opar A manuen- ho da miorde-obra eserava Eenesse comtexto que se dew no Brasil a passage de colina pare pas independent, processo esse que m0 eavolveu grandes ruptura. A primeira CConstnuigo braei evklencia a per smanéncia da elite como dona do poder ¢. conseqiente inviabilizagio das uto- pias de igualdade, lbordade e frater nidade. 0 direto de woro'eraconcicio- nado a posse de una renda minima est bbclecda pela Constnigio, hem como 0 dircito para ser eleito. Os direitos indvie ‘dasis exam flzades pela condigio pa ‘cimonial, A liberdade de expressio sgalconvivia com assasinatosimpunes oma imensa massa de escravos eto quem inka passes, 4 cago da Guarda Nacional, em 1831, ampliaré ainda mais © poder dos grandes produ- tores ruras, que passaram a ser chama- dos de “corondis’, tendo praticamente poder de vide e de more sobre a pop: lagi, Apesar dso tudo, a Constiuigio de 1824 reconheceu a legalidade de al- gumas priticas correntes:extinguiu as corporagies de oficio e também a proi bigho de os aresios se elegerem paras Clinaras Municip Tim 1822, 6 Brasil tiaha doze aG- cleos classiicados como cidades. Ainda aque mao se tenha passido por rupturis importantes, foi durante 0 periodo im- petial que comecaram 2 ser géstadas ss mudancas fundamentals responsic veis pelo deslanche do processo de ui banizagio no Bras, As disputas po cas que se eXenderam por todo.6 Ta pério (1822 a 1889), culmiiando com 2 Lei de Terras (850), a aboligao da escravidiio (888) ea proclamagao da Republica (1889), compoem wn con junto de medidas e acontecimentes que Viabiizariam as condigtes para @ fn- dusirializagdafurbanizacdo no final daquele século. As sesisncias 2s mu: dangas foram muito expressivas, ¢ es ‘as resultaram de acondos que busca- vam acomodar interesses clominantes novos € antigos. ‘Valea pena eller um pouco mais detidamente sobre esses dots fitos — 0 fimda escraviiio com a emergéacia do trabalho live e a insitucionalizacio da terra como propriedade privada— para melhor compreender um processo que ‘esti na raiz do desenvolvimento urbano. Da mio-de-obra escrava pata 0 trabalhador livre (acres imposstvel. en; tender a cidade colonial ou impe- fal sem 0 trabalho escravo, Os es- ‘ravos, dentre muitas outas functes, el rminavam os dejetos (camegando bars cheios de fezes, que no Rio de Janeiro, por exemplo, etam jogados nas praias): abasteciam a5 casis de gua, wma vez ‘quea canalizagio era inexistente,abaste- Gam de lenhs a cozinha, climinavam 0 liso, Tanto 0 transporte de mercaclorias como o de pessoas a cidade eram feos por escravos, Gilberto Freyrefazreferén- a as obesas matronassenhorials que utlizavam os escravos para os menores ‘movimentos ¢ chegivam a. entrar nas igrejas carregadas em suas items. A co- municagio era em grande parte feita pe los meninos de recado, Até mesmo no ‘comércio e nos servicos urbanos, 0s Pro pretirios buscavam extiralguma ren- da de seus escravos, que eram alugacdos fou prestavam servigos em estabeleck ‘mentos para tl fim: cométcio, harbearix ce pequenas cirurgias, sapataria ou outras atividades aresinais, eatéa prostituigio. Estes foram denominados escravos de importa ‘oulo XIX, em evs ganho, especialme: sas podiam ser encontrado ventienuo rofreseos, quitutes, futas, ete et “Amio-de-obraescrava tinbamuitas _outras hingdes, A constnigio de edificios c¢ demas obras do periodo colonial ott {mperialfoibaseada notrabalho docscra _vo, com exceciode viles ou cidacles mais “pobres, como Sto Paulo, que utlizavam, nas construgdes,2 forea de trabalho ind= ‘gena, por falta de recursos paraa compe de eseravos africanos. Até mesmo na Guerra do Paraguai 08 escravos foram ‘enviados (com promessas de recompen- sais como a alfortia, caso retornassem vi- 3 oo) para comporastropas comands por brancos mais endinheirados. Nio era, portanto, apenas no lati- {indo rural que o trabalho escravo cons- situfa © motor da colonia € mals tarde do Império. As cldades também exam _movidas por esse tipo de trabalho, Sa impontincia vai além disso: 0 escravo cconstituia também tina espécie de “ca- pital. Até 1850, a term no servia como ‘objeto de hipoteca para a realizagio de ‘empréstimos, mas os escravos, sim. Hles team fonte de renda €, poranto, de in vesimento, B imporante lembrar que até essa epoca a terra nllo merece ta tamento juridico mais elaborado no Bra- sil, 1850 aconteceu apenas quando o tek fico de afticanos foi proibido por lei [Nao obstante a proibicio em 1851, a lei no surtiu efeito e 0 comércio de ne- ‘2705 continuow ilegalmente, e até com 4 participagio de autoridades publi- ‘cas, Foi s6 em 1850 que nova lei 20 mesmo sentido foi aprovada, passan- do a ser cumprida, apesar das resis téncias. Nao por coincidéncia, uma se~ ‘mana separa essa Jei e outra que tri tava da propriedacde da terra. Esta con tinua sendo um privilégio das parce- Jas mais reas. que podiam adquitita, pois a propriedade haseada na ocu (pago Gu na costo pr feita através do antigo sistema de sesmarias, nto mais € pesmitida. Os es | ‘cravos sto substituidos pela terra como condigao para o exercicio do poder e © controle da produgio. Juridicamente, 0 escravo negro ert | considerado coisa, € nao pessoa, Mesmo a lgref, especialmente 2 Companhia de Jesus, que fez forte aposigio & escra- viza¢io dos indios, mio foi conta a eseravizagio dos negros. © pelourinho, local onde os escravos eram castigados publicamente, era o simbolo formal da ‘auonomia municipal. Diversas carasr6 ‘gis, que concederam autonomia munt- Gipal as wits brasileirs, fixaram entre outras indicagbes a indispensavel cons- truco do pelourinho. Simbolo da auto- omia administativa, era também sim- bolo da autoridade edo poxiercalcadona ‘viokéneia do trabalho compulsério, sem ‘oquala colonia coscolonas ou “homens bons", representantes da Coma no muni ot ors -npoud ap ossaoosd 0 tH09 winqaze ‘01 | -ueuod ‘2 suoq sop orSnposd 2 unuraso v ewoo openonAE ps Zemuiban orn eeresod | -BULJO} 96 BIO) VE ‘Oulos ueaeuo‘ouny ‘yeuo!seu no jeu | my soxzup’ ap opuauaoatsegD 0 and soquonnd | | CEs Lae ee ET | iedeee ae a tere dos prom dah cacteristico da propriedade | | tetris seraboida, + absolta, €citado por Augiste Conte: Nas doutritias da lereja Cattlica, jd em 1850, nas sua aplicatcad, | 1, apropriedade prada da terra fias- “como firma: de restric ao airetto. 1 V side uum tratamento consercador de propriedade indie Saual wate deo | 1 (2846, 1864, 1891) peara.vam trate aperias no sicul XX, ia Furopa. A. | | “tiento que revela maior senstbilida- "fuga social” passa a se sobrepor- | [_ de social (Pio XIfen 1946 edalerat . io direto absolusy tndivldial me | Mestre en 2961), 5 dcaba sendo relatintzado gris a0 © canceito de ‘furicdo octal da aumento do poder de luta dos tra 1 propredad’ queen ote telbadrs es cade erent As mesmas regras que vigiam para a concessto de sesmarias em Portugal foram wansferidas para 0 Brasil-Col6- tla. 14 observamos que a monarquia portuguesa conservou sob seu contro- leas terras ¢ as atividades economicas, ambas dependentes de concessio, Acconcessio de terras era feta me- A concessto da auronomla nun pal era acompanhada da concessio de terra para 0 uso coletivo e expansio da vila ou cidade que era sede do munici- pio. © rassia, como era chamado esse ppatriméaio manicipal composto por uma pporglo de tera contigua a vila ou cid de, destinava-se a fomecer lenha para 0 dante uma cliusula que permitiaretor- | fogo, madeim para as constudes, pas no A Coroa, caso algguma exigéncia nto fosse satisfeta (ccupar, produzir ¢ pa- to partos animais que pertencessem aos moradores locais. A Camara Municipal e gar 08 tributos), © que relativizava © | os administradores locaistinham a com. condicionava essa concessto, peténcia de doar terras — as datas — a A abundincia de temas desocupa- | quem as solictasse, a fm de morar ou chs no Brasil, conmudo, dispensou o rigor 1a aplicacao das regras que regulavam as prodiuzr, Essas datas eram granuitas, com a condisio de ocupagio, produgto e pa ‘concesscs. Olaifindio resultantedacon- | gamento de dizimo, Tal pritica se pres cessiode sesmarias foi fundamental paca | a cl Coro poruguesa © de- tou 20 exercicio arbtririo do poder dos bburocratas e grandes proprietirios. No- ‘pois para o Império brasileiro, mas que | vamente aqui se constata a falta de fron ‘contava mais que a tera era cxpacidade de ocupitl € nela produzin dada pelo trabalho escravo. Assim, a propricdade de ‘escravos era Ho imporante quanto a ter- mou mais. A dependéncia dos peque- _n0s proprictécios em relacio ao laifindio era indiscutivel, principalmente na comertlizacto da su prodo, Lam ror nal vidhade municipal se tarabem autondlade mia, cont suse da Naciowal, lepoistomone | Je na scupagae dt texts popu teiras entre 0 pablico e © privado, relax (Glo que marca toda a nossa histeia. ‘© sistema de concessio de ses imstias continuou a vigorar até 1822, ‘quando o pais se toma independente de Pongal. José Bonificio de Andrada e Silva, ministro do Império, jusiicou sua ssuspensio baseado nas conseqtiéncias da nie do descontro- mmutas, agricultura estagnada devido a0 tntifindko, que, somado ese, era responsive pelo straso ds tenia na ro- dugio rural, Fra intengio de José Bonificia, que defend a demarcagio € vvends de propriedades menores, defnir {uma ordenagio para a questo da rere. Tia definigto, todavia, como a questo | dimiodeobm ese, mio‘ simples | ‘vera motivo de disputs entre os deter: tones do poder durante maton nos De 1822 a 1850, com 2 indefinigto do Estado em rlacio ocupacio date ra, ese di de forma apa e indi riminada. Enesse period que se €on- Solida de to 0 latifindio brasileiro — coma expulsio de pequenos possirs, {que anics tinham o habsto de oeupar teras virgens —~¢ sun subsuisio por poderosos propeetitios ruais. A demo- fda tramitagzo do projeto deli que iia Gefnirregras para a comercialiach0 © propriedace da ter se devia a0 medio Ei atifundros em mio ver “sas ter fos confirmadas: Rejetaram também 0 iimposto tenttorial que consava na pri mei rodagio do anteprojeto de Ie visto de Terras ¢ Colonizagio, de 1843. Na verdade, do projet liberal que pre tendia utlzar asters devolutas (eras cdo Estado) para com sva vend inan- tsar uma colonizagto branes Gaara de caropets), haseada na peqena pro- priedade, poueo sobrov, senio uma pomposa e avangad exposicto de mo- thos fundamentaa nas vatdes do pro- resco das relagdes capitals. Sio howe muito espago para & colonizagio combinada a pequuens pro- iedade, como iria vingar apenas no | § is de mcles | das ciladase des nas passa a bee Sul do pais. As experiéneias de nucleos colonials com imigrantes europeus, le- vada a cabo pelo Império brasileiro, | ‘A predominar essa forma de éolonizas (20, x hist6ria subsequiente do pats se fia outta, Mas os imigrantes erain dese. jados principalmente como smiio-de- obra para o latifindio. © fief acesso a propriedade da tera inviabilizaia a dis- ponibilidade da forca de/trabalho que ira substimir os eseravos| especialmen- te nas fazendas de café. Por isso foram imantidos os obsticulos a0 acesso a ter ra, ¢ essas experiéncias de colonizacio acabaram bastante Timitadas. A demucacio das ters devolutas cencontrou resiséncias. no poder local, dominado pelos “corondis", que respon. dderam com imprecisées 2s solictagdes do govemo central sobre a situagao das terras. Um vasto patriménio do Estado, turbano ¢ rural, passou ento para a es fera privada, & antiga forma conqueira de acesso 2 terra — concessiio arbi sa ou ocupacio pura e simples — pas- saria a ser considerada crime a partir de ‘entio, Uma parte da populagio branca livre ficara sem terra, dependente dos Jatifundirios para sua sobrevivencia, ‘A promulgagao da Lei das Terras reve, contudo, maior impacto sobre a cordenagio das ruas ¢ casarios nos nt cleos urbanos, fi que ela distingue, pela primeira ver na historia do pais, o que solo palico ¢ 0 que é solo privat, Exige-se uma demarcagio mais preci- sa das espagos que si0 propriedade privada: a dimensio € a demarcagio dos lotes € mais bem definida. Exige ‘se tambési a fixaclo mais slgorosa dos limites entre 0 espago pablico € 0 pri- vado — 0 alinhamento das fachadas, cer a um tragado mais preciso. ‘A generalizacio da comps e ven- Viabilzou a fandacio de viras cide: | da da tera mo se implantot, pore, "sen Sip ieopoldo una per | ieatamente aps 3 aprovagio ale ss em 1824), Bento Gongalves © | an te reeg suri Marx lembri ue aré 1911 a Cimara de Sio 1875), todas elas no Rio Grande do Sul, | Paulo apresentou inciaix: aforamento (concessto) de terras mu Apenas em 1917, com 0 Cédi- a proibicto dessa pritica, ela em algumas cidades de grande crescimento. Em outras, como divida, 0 pagamento de dividendo e a remesta de lucros das empresas geiras comprometem a economi pais, perigosamente embasada em pot cos produtos agricolas exportiveis & apresentando, desde meados do século DX, deficits erbaicos e instabilidade sso ‘ificultava ainda mais implementapio arrancada para 0 Brasil urbano i, poranto, sob o dominio abso- Iuto do café que o erescimento ure bano/industrial se inicia, geran- do uma sociedade mais diversficada, ‘com 0 aparecimento da classe média formada por profissionais liberas, jor nalista, militares, Esse segmento social Iutou peta ampliagio do ensino (ape- sar de limitarse ainda a uma minora), tendo sido fundamental para a expan so das noges dos dincitos que acomu- ppanharam a nova etapa da histéria pol tica do pais: juta por maior representa- LUvidade politica dos cidadtos, diteitos | €¢ garantias indviduais, descemtcaizagio | federativa, etc. A rigor, a base politica continuava sendo consttuida pela mes- | ‘ma elite agriria, ainda aos intermedia- | tos urbanos, que havia séculos domi- | nav pals. Mas parte dela tinha incor- | porado os valores positivistas de co ‘nhecimento técnico & racionalidade, re- | Midos no slogar que seria adorado | pela Republica: Ordem e Progresso. GReptiblica— Com # Constituigio republicana Gaspirada nit americana), pela primei- ra vez 0 voro ¢ direro e universal (N20 se menciona a mulher com dlreito 20 voto porque estava implicko que ela ‘nfo votara). Estado e Igrea s20 sepa- rados, € 0 registro eivl de nascies esa de do, 90 al do su | To XIK, 80% clos tabalhadores bras 105 estavam no campo, 13% no setor de servigos (a maior parte em empre- 08 domésticos) 786 na indisria, 0 que di uma dimensio de como sctor rural ainda era dominant ‘Mas indistria nascente aos pou- 0s se expande, ¢ as cidades io sio sais apenas o local das atividades ad~ rministrativas, comerciais, financeiras, cculturais, Elas comegam a ser também o local da producio, Os imigrantes que rio se dirgiram para a zona rural (ou ela fogiram para evitar 0 tatamento antes dispensilo aos escravos), 0S es cravos libertos e os trabalhadores bran- 08 livres foram a0s poucos se const- tuindo em uma massa urbana, que, por sua vez, passov a demandar produtos industriais para sua sobrevivencia, -Atabela a seguir mostra que, dex cegio de Recife, algumas grandes ci- dads apresentaram erescimento inten- s0 no final do século XIX, em especial So Paulo e Rio de Janeiro. © Esudo de Sto Pavlo seria o mats bem-sucedido na tarefs liderada pelos cafeicultores de atrir a mio-de-obra imigrante, Entre 1887 ¢ 1900 nele en- traram 599426 pessoas, que vink principaimente da Europa. A cidade de Sio Paulo cresceu 3% entre 1872 ‘1886, 886 entre 1886 e 1890 © 1490 en- tre 1890 e 1900. O processo imigmat6rio 1a Ho intense que, em 1920, a maio- tia absoluta da populagio da cidade de Sio Paulo era italiana. ‘No Ito de Janeiro, para onde acor- reram muitos dos eseravos libertos das fazendas decadentes, a populacio qua- se dobrou entre 1872 ¢ 1890, O eresci- sto urhano acarretou uma deman da por moridia, transporte © demas SERVIGOS URDUNUS ale CANAL ES, 1861, 21 929 pessoas, de uma popula- Fone sudro Baiico ds Bra de 1912 We fe fanees DIS gio de 191 002, viviam em cortigos. Em 1838, esse nimeto foi para 46 680. A de pobreza, 2 auséncia | de saneamento bsisico, o desemprego, 2 fome, 0: altos indices de criminal | de, as epicdemias, a insalubridade © 0 ccongestionamento habitacional nos cor- | tios era vistos de forma bem dlversa pelas diferentes classes sociais, como Imostram tanto os jornais de traballa- ores quanto 0s documentos oficias. | Estes tlimos se referiam a0s comigos e | ceasas de cbmodos como degradantes € imorais, e ameagas & ordem péblica. ‘A contribuicio dos imigrantes para a histéria do pais, apesar de concen tradlos regionalmente, visa a ser muito | grand, A construgio de edifcios, por exemplo, sofre profundas mudangas gragas 20s trabalhadores especializads. No comeco do século, os operitios da | Construglo civil estavam entre os a | ‘exitamente 0 oposto do que ocomeria 1 final do século XX. Masa maior con- | tribvigao talvez estivesse no seu esvinculamento da relagio de favor e subordinaglo que marcara a forga de trabalho no Brasil. As greves operirias do comego do século XX moscraram ‘que o Brasil ¢ ‘s20 colonial que iriam conviver com a ove ordem. As relagdes de tballio guardavam molto da antiga ordem se- nshorial, Algumas conquistas wabalhis> tas iriam se dar somente em 1935, mais, de vinte anos apés as primeiras greves {que as mouwvaram, A habitaglo passa a ser uma das principais demandas liga- das a melhoria da condigio de vida, permanecendo sem solugao até os dias de hoje. HOrdem e progresso: | reformas urbanas do refletr uma nova ordem n0- ‘vos tempos, procurou construir vuma fachada urbana para se legitimar perante os paises capitalistas centmais através de valores como ordem, civil- zag, estabilidade, Era preciso apagar as resquiios esrvisas do pass ss wvanas se incluiam ss diversas medidas destinadas @ izados, informados € bem-pagos, | A ‘mentalidade republicana, aspiran- ‘mantendo, porém, resquicios da situa- | simboluar exst nova tase 16ria ¢a auair os capitis exteros que | ta dh cidade, Uma politica higinista st 2 expansto do café requeria. Bas im | neadora tumlxém foi empreendida neste plicaram mudancas rdiais,sobretudo | periodo, com determinagio e mucléncis ta cidade do Rio de Jancito: Se as cbras de ampliagto do sista vie + ampliagio da capacidade do pono, | © atingiam apenss uma pane ds popu- © maior e mais importme do Bras | Msto pobre que era expuls, a eimpa- Sige enutante nie compong: | ba ds vacina ating todos, For erm va navios de maior pore; 3 que osandiaseea Oswaldo Criz cha: fiou uma campanha governamental + ampliaglo da capacidade de arma- | {4 uma ampantia Rovernamental Eetaneno dos pons e mera | ae de vce eo _ Esse foi o pretexto para que a popu- + ampliago do sistema vitro dest= | jero dacilade denontonee endo cco nado 2 ciculaglo de mercadorss, | soxomtenttnanto com nas steno de 408 entroncamentos fertovidrios 20 | emia e aon es povemones dey Porto, (Essa crculacio era bastante | Paula, uc representa a elise ga diel peas extras e conges | Caer, ke metas onmdas pce Yionadas ruas do Rio de Janeio.) | Guperago da economia Dreicins tne © presidente Rodrigues Alves in- | sofent uma banca em 1858), pore. dlicou para preeiio do Distnto Federal | séncia dos banueiasinglesese alemes (cidade do Rio de Janeiro) o engenhe | — ensugtmento da liquide, equlrio 10 Francisco Passos, em 29 de dezem- | fiscal, novos impostos—, acarrearam a. bro de 1902 mento do descinprego e, conselente- © prefeto eve posleres ditatorals | mente, cts dftculdades para 2 s0brevi Claconsitucionais na época) para dest= | véncia da massa pone. Por oabiag da propring, demoli, contratar, constui, | campanha da vacinagaoe sineamento do scm possbiliade de comtestagio por | Rio, a popula se rovalione se pep. parte de qualquer cidado que se sen- | rou eam paus e peda para enlrentar as {ssc atingido, Foram consrulos 120/n0- | forgas do gowerno. 10s grandes edifices no Iae 3 garde 590 peédiosvelhos em apenas Vite meses. As fam lias pobres eram despejadas sem complacéncia dos con? 508 ou “caboras-de-porcos casas evjos cémodos eran repartidos. por varias fa lias) localizados nas areas contr © pido crescimento populacional uibano sem 0 Scompanhameno de sevigos de saneamentofoia causa de epidemias — esters, feboe smarela— que tomavaim con | i | | | i i i 4 ‘A Revolta da Vacina, que transfor- ‘mou as ruas do Rio de Janeiro em paleo de batalhas durante virios dis, foi re primida duramente, Nao apenas seus deres, mas também grande parte da mas- sa ‘sobrante” das mus da cidade (le sempregados, pedintes, pessoas sem documentos) foram banidos para 0 Acre ‘A reforma urbana do Rio de Janeiro, ‘chamada de“Regeneragio"foia mais ime pomtante ein mizio de a cidade sor na Gpo- ‘caa capital federal. Outras cicades, contu- Jo, seguiram 0 mesmo caminho, que foi inspirtdo na reformer de Paris, executada pelourbanista ario de Haussmann, sobo comando de Napoledo Ml, entre 1850 ¢ 1870. Manaus, Beléen, ono Alegre Curia, Santos, So Pao, passa peas bras qbe conjugaram saneamorio com cemibeiecamentocsegregagdo terri. saneamertotnha como objetivo lem das | meas propramente higieisas, afar das reas censrais ox pobres, mendigas negyos,untamente com seu estilo de vida. Eo emmbelezamento consists em chy a es- ‘ss reas um tratamento esi6tco e paisae _gisico que pressupunlua a inesistincia da pobreza. Asolugto do problem de mora- diada massa trabolhadora pobre entretan- to, ni ane | HA construcio da segregacdo territorial iri se consolidar durante todo 0 S6- culo XX no Brasil: a moderniza io excludlente, ou seja, 0 investimen- to nas direas que constituetn 0 censcio da cidade hegeménica ou oficial, com 4 conseqiente segregusio e diferen io acentuada na oaupagio do solo cena distibuigto dos equipamentos uc- banos. Se na cidade imperial os eserivos viviam junto a seus propricérios, a eda de da Repiiblica separa 0 trabalho do ‘cio, Espulsa os negros ¢ brancos po- bres para as periftias, para os subse bios, para ox morro ont pasa a wezeas Os edificios, lois e servigos a cidade republicana escondem 0 taba. tho das eozinhas, das oficinas. A cida de oculta 0 uabalho e sepreya 0 taba Inador. Trats-se de uma nova concep- io urbana para uma nova sociedade, com uma nova disciplina espacial, é «xe cultural, como nota o historiador Nicolau Seveenko, um equivoco pensar que essas smudancas se restringiram aos aspectos eoldgicos, formais, culturas. Na base de toda a transformago estava © pro- ‘eesso que toma as edliicagdes uma mer cadotia capitalist, apropriada de fe | navgura-se assim o urbanismo que cciais. A propriedade privada da terra cera a primeira condigio para que al- ‘guém pudesse ter acesso a essa merca- doria. Mas ela no era suficiente. ‘Uma complexa legislagio que es- tabelece normas para a construcio de edificios comes a ser instituida, Os codigos de posturas municipais, que egulamentam construciio ¢ reformma de cedifcios, com exigéncias de plantas, responsivel pela obra, posse legal do terreno, etc, terio um papel fundamen- tal na estruturagio do mercado imobilii- rio. Dessa forma, estavam excluidos os ‘que nilo reuniam condigbes para cons- tir (0 que exigia posse legal da terra, capital financeiro, conhecimento técni- 0, ete.) nem recursos para comprar uma mercadoria assim definida legal mente. A atividade empresarial imobi- ligria € regulamentada nos primeiros dias da Repablica Os cédigos de posturas de Sio Paulo (4886) ¢ do Rio de Janeiro 1889) tomam proibitiva a construgao de cor- tigos nas freas centrais, que proliferam cenlo nos subtrbios ji existentes, a0 ado da pratiea da autoconstuugie da moradia. As favelas, que ico marca realidad urbana do Rio de Janeiro des- de o comego até o final do nosso: fo, instalanvse, inicialmente, nos mor- 105 mais proximos do centro, Aextensio do transporte ferrovi- sio foi fundamental para viabilizar 0 a5- sentamento residencial da populagio ‘rabalhadora pobre nos subirbios do Rio de Janeiro ou de Sio Paulo. Os transpoites, somados As obras de infra- ‘esirutura — energia, gua, esgotos —, ‘combinaram-se com a consolidacao do loteamento residencial, que poderia se destinar 20s ricos ou aos pobres. © prego da terra € ra, Em meio 2 caréncia generalizada e & sendo locais onde se concentram a povimentagio, os transporte, 24 Seexguon 4 eae cles 2 poe gas eos fing, exabelece-se sum Gira panda dierenea de pregos. Esse fatofverece os propretios dat eas ena Como pate desse valor vem dos imestmentos pableosaplicados mas obras urbanas, € fundamental, para os proprio de tera para 9 Fasceate capital imoblio, 0 conto: Te sobre 08 recursos publics. Na Comirisio das obras fbanas colt va, as empty que comegam 2 Subst profisionais auGnomos taniam, Feqbentemente, 0 finan tment ics uma arc pela Gil paso, ras pronimas dee Sas importantes decisis sobre 4 Droduxao do espago tebano. Hv Sie ep proprainos de tera e ine tei, epis inobiitog, consruo tan parkmeravese governsntes € 35 Concesionirias de serigos publcas Contelaas por capa ean. 80 problema da habitacio problema da habitagio como questo social, como vemos, emerge no final do século XIX com 0 acentuado crescimento trbano, © fim da mio-de-obra escrava resule tou em madangas acentuadas na con diglo da moradia, Ja lembramos que fs escravos substitulam a rede de es- ‘potas, a rede de aguas, a coleta de lis: dos alimentos, produziam o sablo, as | resiuencia, wisi welts, € ainda tnham a “Ron solodase, transporte, te, Os efi de ceo pavimentos Cakura equWalente 4 ura | Edificio atval de dex andares), construdos em Recife e Salvador no Século XVIL, ndo terianrfiielosamen- to viivel sem o tnbalho escravo" No primelro piso Reava 0 comérco; 0 | Segundo, 0 escrtrio ¢ a8 acomoda- Pes part caelrosvajates no tered fo e nos demals andazes cram dist- Duldas as atvidadesfaliares, ea co | zits, que expiaotanspore de agua, Tena para 0 fogio, alimentos, ef | cava no limo andar, como nos ios: tra 0 historador Nestor Goulart Reis. ‘A moradia colonial era chamada de “fogo™,seguindo a tadiglo por gues, para qual ofogo (Fogo) era 0 Tocal central dt vida falar. No Bras, dlvid 20 clima mais quente, 0 fogo € texpulso para fora Je cast. A cozinha fol locals inicalmente no exterior to quinal ov alpendre. Na casa pobre, Com povcos comodos, onde as vires fngBes se sobrepunham tloni, o> mer cozinhar) © no havin escravos, © fogofeava no interior da esa A-evolugio dessa tadiglo deter: rminou a existacia de duas coritis pas hahlagbes de classe média ou mais abastada, uma dent de casa e outs pur os Serigos mais sujs © demorie Gos, fora de casa. Mesmo apés 4 aboligi, a abun- dca oferta de wabalho manteve a traiso da empregada doméstiea— da Glasse mia pi ema. Esa a raz de tama carter inpar verve nas moralas burguesis e pequeno-bur esas no Bras a sejaraglo ene 4 E ida. encial e a de servico, além do Vigo, socal intima. Sempre que posst- vel, 2 mordia protects int ontar se adequar a essas divisdes, embora 0 nie ‘mero de pessoas por cémodo constinua uum obsticulo a esse mimetismo, ‘MG a chegada da fara real 20 Brasil, a técnicas € 09 materiais nist cos predominavam nas construgées, com exceeto, & claro, de pare das edi ficos religiosos ow insttucionnis. A tai pa de pili (iéenica de construgo com bar socadio em formas de mace), 0 axdobe (bloco de ara crua, pala e ¢s- ttume) ow o paverpique Gmagio ou ¢gtiola de madeira preenehida com bar 10) se combinavam 8 telha de basto ou 2 pala © sape nas construgbes mais simples. Pera e cal, s6 nas consiruges mais imponantes, Esse quadro comega 4 apresentar alguma mudanga com a abemure dos portos ema 1808, devido & entrada de novos materais no Brasil Nese petiodo € inoduzsido 0 vidro nas construcdes, 0 que virk modificar completamente a condiglo de lumina io no interior das resis A revolugio industrial que se de- senvolvia na Europa jogava no mer- «ado uma quantdace inusitada de no- vos materitis que interessesingleses faviam chegar a0 Brasil. A crescente incorporagio de vidros, tntas, metais € cerimicas 4 construglo permite a | mudanga dos habitos familiares, pois possiblita, por exemplo, estender as iversas atividades até mais tarde, jf ue o interior das casas recelsia mais tz natural. Os quartos se tornam mais arejados e iluminados, pois as janclas, agora em maior mimero, com as no" vvas técnicas construtivas, podem estar mais préximas, Em meados do século XIX s20 in- toduzidos na habitacdo a Agua, o gis, ‘luz. Coma canalizagto da Agua, wten- e siios antes divididos em mais de uma dependéncla — como a latrina, que 2X6 envio feava no quintal, separada da casa, a pia ea banheira —sto reu- nidos num Gnico espago e também i sgados & cozinh, | Aseediicagdes coloniis, que apre- sentavam fachidas estreitas em terre nos mito comprides, com a5 quodas de telhado para a frente e para os fun dos, passaram por mudangas a partir | de meados do século XIX, com recuos bngatonos irontaise trai, Os imi grantes introduziram novos proce mentes na construsio, em especial a clisseminacio do uso do holo, Mas a 2 Primeira Guerra Mondial o Brasil era auto-suiciente apenas em tol cal € ae, no que se efere a materiis de consinigio. ‘A importagio generalizada de materais © componentes da. const 0 chega até 25 modestas monidas po- pulares, mas era nas manses senho- aise burguests que o ecetismo re- sultame dessa pia ia se most no tivel, A construgio acompanhava os costumes emprestades de fora: 0 vo: cabulivio francés, 2 gavernanta ate 2 louga ingles, et. A momentinea escassez de bens industrias dante a Primeite Guerra Mundial obra paisa um esforgo de subttuir os prodtos I sadosa consiragdo,O fim da gucma, en- ietanto, novamentc tar a pressto dos imporados sobre © mercado interno © historador Cacos Lemos lembra aque nese perio tem ino iro 20m mona rae de produto que "Fam de fato revolconara vida domes ino séulo XX: elerodemsticos. Pa meio 0 ridio, apis a Primein Guema, depois 0 rigor, o liquidfcador 0 sspirador, a batedeita, ap6s Segunda ‘Gverra.\ miquira de aver roupas chen We ‘nos anos 50 pouco depois © aparelho que iria centralizar, quase absohstizas, 0 lazer doméstico ¢ a modar muitos dos hi- boos faniares: televisio. A pressio dos chamados bens mo- demos no exclui 2 moradia proletirk Enguanto vive em condigoes minimas de conforto ambiental (saneamento bi sico, salubridade, nimero de morado- ses por comodo, seguranca fisca) na preciria habitagio proletiria urbana, a populacio carente desfruta de cletro- domésticos, que passam a ser produzi- dos no Brasil por multinacionais que aqui se instalam a partir do final dos anos 40, no perfodo conhecido como desenvolvimentista, Embora 2s necessi- dades biisicas populares io estefan asseguradas, o perfil industrial do pais resultante da expansio do capital inte jnacional sobre o mercado interno brasi Jeiro resuleart num cenéirio que combi ‘na 0 modemo ¢ 0 arcaico e que ficari cevidente no interior da casa popular. habitacional e mercado imobilidrio brasileiro para que empresas ca- pitalistas produzissem habitagio popular no inicio do século, isso nto aconteceu, As empresas n2o consegui- tam vencer a concorréneia da produ- fo informal, alimentada pelo. baixo podler aquisitivo da populagao. As em- presas capitalists imobiliiras de maior porte investiram no pareelamento do solo e comercializagio de lotes (quase ‘nunca destinados ao mercado popular), enquanto 0 pequeno capitalista — prin- A pesar de incentives do governo {ado interfere decisvamente na promo- | to da industralzagao através 6a pro- | duct ds infarestutur Co; patrsteo, rodovias, exe) e de subsidios aocapi tal industrial e a0 desenvolvimento Yo mercado interno. Essa mudanca nao se. di, nova mente, com © tot sacificlo dos sexo- es arcticos. Os interesses do Setoragio- cexportador serio reatvamente poupa- ddos —a base fundidcia agrria perma rece intocada, a reforma agricia & ig. norada e o trabalho rural 220 ¢ regula- ‘meatado, como ocorreri com o taba- Iho urbano, na ocasto. | 0 Estado mantém uma postura ambigua entre os intezesses da bur [ucsia agréria c os da burguesia ine dustrial. Ea ambigbidade nao parava A esséncia do populismo consist #4 em reconhecer & questo social, ‘mas dando a ela um tratamento pater” nalista e simblico, que nega a auto- | organizacao dos trabalhadores. A | oposicio e as liderancas operirias sto | esmagadas, mas a massa trabalhado- ‘seria submetida a incensa peopa- ganda do governo e das “benesses* fque este The concede: iastituigao da Previdéncia, promulgacio da CLE — Consolidacio das Leis do Trabalho — fixagao do salirio minimo. Get lio Vargas, que ocupon a Presidéncia da Repiiblica entse 1930 ¢ 1945, 0 paimeiro de seus dois periodos ‘de governo, era conhecide como “pai dos pobres”, (O crescimento utbano se d6, ag0- ra, principalmente pela migragio in- | tema no pais. Partindo do | cidades. primeira vez se reconhecia Cficialmente (com a ajuda das lideran- ‘gas empresariais industriais) que omer- cado privado nao tinha condicdes de resolver o problema da moradia e que ado tinha a responsabilidade de faz@-lo, Os empresitios queriam eli minar a pressio que o aumento’ dos aluguéis fazin no sentido de forcar © ‘aumento dos salrios. Era preciso tam bém dar alguma sesposta aos prote tos dos trabalhadores. Nessa Epoca, © -govemo prope, pratcamente pela pr ‘meira vez, uma politica social de h bitagio, promovida pelos insitutos de Aposentadoria e Pensdes, que em 27 anos (de 1937 a 1969 iriam financiar construgio de 140 mil moradias, a maior parte das quais destinada ao alu uel, Muita publicidade para uma res- posta modesta dos programas pabli- cos de hubitaglo. Os Parques Proleti- tios, destinados transfereneia de favelados, também no lograram mu- dar uma situagio de agravamento das condigdes de moradia, Sa oe Em 1942 foi aprovada uma inter vencio radical no mercado imobilié- rio: a lei de congelamento dos alu- gis, Se ela constinuiu um alivio a curto prazo para © bolso do trabailba- dor, a longo prazo redundou em desestinulo a oferta de novas moni- dias, pots deixava de ser vantajosa ter iméveis como fonte ou comple mentagio de renda, > Em 1946 criou-se a Fundagio da Casa Popular, que em dezoito anos de cexistncia financiou apenas 16 964 mo- radias. Mais promessas, muita ambighi dade e pouca realizagao, Nem o met- ado privado respondia as demandas por moradia, jf que a oferta de habita- ‘lo de aluguel declinava, nem © Bsta- do cumpria sua promessi de resolver © problema. as akernativas encontra- {das pela populago tabalhacorae pela ‘mussa pobre que vinha para as cida- des liberaram capitalistas ¢ Estado da solugio do problema, Um verdadeiro ardil foi 0 que significou o desestimulo | moradia de aluguel e sua substtuigo pela exaltagio ts vittudes da casa pro- ria, que, entretanto, nao era oferecida nem pelo Estado nem pelo mercado. © Toteamento irregular na perife- Fla, ou a pura ¢ simples ocupagio ile- gal de terras (or mangues), € 2 auto: construgio da moradia tomaram-se as ‘oppdes mais importantes para a provi- io de moradia dos migrantes nas gran- des cidades. A substiuigio de transporte sabre trilhos pelo Onihus, nos anos 40, ofere- cou as condigdes para que © parcela- -mento da terra prosperasse sem © acom: panhamento da urbanizacio (pavimen- ‘ago, dgua, esgoto, iluminag30), Basta- va assegurar a chegads do wanspone para que a terra fosse loteada e os lores vee didos. © dnibus era, para isso, bastante flexivel e viabilzou a ocupacao extensi- va, ¢inicialmentsrarefeita, das periferias, urbanas. O trinbmio loteamento ilegal! autoconstrugio/servigo de Onibus foi res ponsivel pela formacio das extensas periferias urbanas durante, no minimo, meio século. HAnos 50: classe média, apartamento € automdvel sustentou o processo de acumula- ‘lo no Brasil, teve por base a in- dstria de bens duriveis (automéveis, smquinas, eletrodomésticas), que com- binava teenologia importada, e avan- cada para os padives brasileiros, com 0 desenvolvinento dos anos 50, que fo | baixos salatios. produgao dds bens dlrveis foi acompanhada d@ apro- fandamento na concentragio th ren- | a, favorecendo a consolidagio © am- | pliacto da classe médta, para a qual se dlrgia 0 mercado mobili privado ‘Torlos os bens duniveis de consumo pri- vado trouxeram uma grande mudanca parva sociedade basi, mas nen deles causou tanto impacto nas cidades quanto‘ automével As trasformages pelas quais passou 2 esinture urbana visando adeqharo ssema vitro a au tomovel foram dramsticas. Eas cons ‘mira maior parte dos orgamentos m= icpais desde entio, Em ver das polt- cs soca, a8 obras viirias tomanim-se Proridade do investimento pablico em todas as cidades brisleras mas impor- tantes, com ras exceges. Gom 0 m0- delo desenvolvimento Brasil cree ‘ce economicamente, ms 25 desigual hades se aprofindam, 1 atividade agroexportadors ou extativo-exportadora nunca deixou de conar para a economia brisileia. © crescimento industrial do periodo 0 3 oda 0 asq0s dee trigica novidade. O modo arcaico de pode int da moradia?~ espace urbano? de favelas?™ jou 0 problema, HEstudo de caso passou em uma regito situada 20 sul do sunicipio de Sto Paulo. Essa regio € chamada de Interlagos por- aque fica entre dois resereatrios de gua | ‘ou dus represas (agos"), a Bilings€ 2 | Guarapiranga. A histtiacomesa n0 ano de 1976 e se refere a fatos e personagens | verdices,embora seus noees verde | ros tenham sidas omitidos. Mas ela po- | deriacomesar em outa data porque his- | ‘iias que contam las seis camo essa ‘nua tm uma data inal precisa, mas | So coninuldad cle um pereuso— pa | ‘iment pets reacoes Conta 8 nyse ga — cus ratzes exo sempre muito | Tonge ¢ eyo final ambem nto se ve. | casos semalhantes, de moradores uurbanos que lutim pala methora da qua lidade de vida, também aconteceram em outas resides da cidade de Si0 Paulo, ou no Rio de Janetro, na Baixada Fluminense, por exemplo, naqucle mes- | mo ano, Alguns anos depois, esse tpo | de reagio popular exaria presente em todas as grandes cidades brasiliras, de~ safiando 6 regime militar que havia daze | anos cerceava a liberdade de manifesta- | io politica no pais (= que vamos relatar aqui se O Movimento do Onibus No ano de 1976, acontecew uma assembléia de moradores da regio de Interlagos, ou mais exatamen- te nos bairtos de Sto José, Grajai € Parelheiros, a qual reuniu aproximada- ‘mente 1500 pessoas diante da Tgreja de B | S0 José. Flas protestavamn contra a pre- earledade dos transpores e buscavam solugdes para o problema vivid no dia- aedia. Foi um acoatecimento inéito, Erim raras as pessoas ali presentes que haviam partcipado de experiéncia se- melhante. © softimento que eada um viva indvidualmente todos os dias para poder chegar ao trabalho ganhara uma ova dimensto. © problema era colet- vo. Se antes cada pessoa tinha de en- freniarsoltaiamente 0 chefe e 0 des- conto por chegaratrasado 20 trabalho, agora estava caro que a culpa no ert de ead um, Nao era justo também pa gar as tarifas mais alas das kombis que faziam lotagoes, passando pelos pontos

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