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SOCIOLOGIA - PROBLEMAS E PRATICAS N° 24, 1907, pp, 165-181 Um olhar sociolégico sobre o alojamento Tsabel Guerra Resumo: © artigo apresenta ¢ discute as diferentes abordagens da “questo do alojamento”: ecol6gica, neo-clissica, weberiana, marxista e na dptica dos “modos de vida". A diversidade das abordagens da “questo do alojamento” so exemplo da sua natureza complexa e problematica, relacionando-se com a diversidade dos quadros conceptuais ¢ correntes de pensamento, no caso, niio apenas da sociologia urbana, mas também de outras disciplinas nomea- damente da economia e da psicologia, Explorara-se as abordagens relaciona- das com 06 processos de apropriagio do alojamento concluindo-se da inexis- (éncia de olhares integrados e de um método de ajuda a programagio © a concepgio do espago habitado que apoie o trabalho profissional de sociélo- g0s neste campo. Palavras-chave: Alojamento; Sociologia urbana: Apropriagtio do espago 1. A quest&o do alojamento e as estruturas espaciais urbanas A diversidade das abordagens da questao do alajamento sio exemplo da sua natureza complexa e probleméatica. A habitagdo é um bem hetero- géneo, duravel e essencial 4 sobrevivéncia quotidiana, constituindo um indicador indirecto das desigualdades sociais na cidade. E também um elemento essencial a estruturagdo urbana e uma fonte de conflito e de negociacdo entre instituigdes e agentes envolvidos na sua producio, con- sumo e apropriagio Evidentemente que a diversidade das abordagens sobre a questdo do alojamento se relacionam com a diversidade dos quadros conceptuais e das escolas e correntes de pensamento, no caso, nao apenas da sociologia urbana, mas também de outras disciplinas nomeadamente da economia e da psicologia. A questao da habitagdo é, hoje, um campo de estudo multidisciplinar e de confronto de diversas teorias. Os seus diferentes enfoques reflectem 166 Isabel Guerra no apenas a enfatizagio de determinados actores e problematicas, mas também diferentes interpretagdes do seu papel social e da sua influéncia na estruturagdo das relages sociais. Em termos globais, assiste-se a uma complexa e curiosa complementaridade das dimensdes de andlise valorizadas pelas diferentes abordagens, pese embora o cldssico antagonismo entre as teorias marxis- tas e nado marxistas, Ha uma clara distingéo entre as abordagens ecoldgi- cas e neo-classicas que colocam o seu enfoque nas condigées de equilfbrio do mercado e as perspectivas marxistas que analisam o alojamento a luz da luta de classes e da sua desigualdade social. Tradicionalmente, opdem-se as abordagens centradas na produgéo social do espago, no caso, com enfoque na produgado do alojamento as abordagens da apropriag&o social do espago mais compreensivas. Keith Basset e John Short (1980) apresentam cinco abordagens da questo do alojamento cujo recurso as diferentes teorias sociais orienta os centros de interesse Quadro 1: Principais abordagens da questo do alojamento ‘Abordagem Teoria social ‘Areas de interesse Autores mais significativos 1. Beolégica Ecologia humana Modelos espaciais Burgess (1925) de estrutiras residenciais 2, Neo-cléssica Economia neo-clissica Maximizagio da vtilidade, Alonso (1964) escolha do consumidor 3, Instituejonal + organizativa Sociologia weberiana Constrangimentos de acesso Pahl (1975) (managerial) + do contfito Poder dos diversos grupos; orm (1973) de localizagtio contlito Saunders (1981) 4, Macxista Materialismo histérico —_ alojamento como um Harvey (1973) bem de consuma, Castells (974) Teprodugdo da forga de trabalho 5. Modos de vida Interaccionismo Formas ¢ usos de Leftovre simbélico apropriagdo do espago (1959,1970) Psicologia arnbiental Chombart de Lauwe (1959) Fonte: Actuatizado a partir de Keith Basset ¢ John Short. 1980. Um olhar sociolégico sobre 0 alojamento 167 O que caracteriza a andlise ecolégica é a assumpgao de uma relagéo natural entre o meio ambiente e o comportamento humano. Apesar das mediagSes que foram sendo sucessivamente introduzidas nessa relagao, 0 modelo ecoldgico caracteriza-se pela naturalidade de entendimento da evolugdo da cidade na relagao do homem com o ambiente. Do ponto de vista empirico, a andlise ecolégica consistiu fundamen- talmente na observagdo dos modelos de localizagao e de diferenciagio residencial (modelo de Burgess; ecologia factorial, etc), Uma maior pre- ocupacado pela descrigfio mais do que pela interpretagao, origina um modelo com dificuldades em interpretar os processos de diferenciagao no acesso & habitagdo, bem como a complexidade e diversidade das suas formas de produgao. Fica-nos, no entanto, como contributo uma sofisti- cacao das técnicas de tratamento na andlise da cidade e das dreas sociais através da andlise factorial, e uma critica ao naturalismo das formas de apropriagao da cidade. Inversamente, os tedricos neoclassicos pretenderam desenvolver uma teoria explicativa das estruturas espaciais e da localizagao residencial. A sua importancia advém do facto de enfatizarem as preferéncias das fami- lias e da procura de habitagao, introduzindo um factor de racionalidade econémica e sociolégica nas formas de produgao e apropriagiio do espa- 0. De forma simplista, a economia neo-cléssica vé a sociedade como uma série de individuos cuja natureza e forma de comportamentos sao previsiveis. A realizagio das preferéncias dos individuos organiza a eco- nomia e a sociedade. Neste dominio, considera fundamentalmente dois tipos de actores: as familias ¢ as empresas. As familias querem alojamen- tos que maximizem os seus interesses ¢ as empresas colocam no mercado terra e casa em quantidades e proporgGes que Ihes permitam maximizar os lucros. A distribuigéo do valor e lucro entre os trés factores de produgdo - terra, capital e trabalho - € explicada pela teoria da produtividade margi- nal, De acordo com essa teoria, cada um destes elementos sera utilizado até que o seu custo supere o valor da sua producdo. Em condigées de equilfbrio, cada um pagara em fungdo da sua contribuicao. Neste contexto, as teorias neo-classicas partem de 4 principios: — a produgao de bens e servigos reflecte as preferéncias dos consu- midores; — as familias e as empresas detém uma informagao perfeita sobre 0 mercado; -— com base na informagio perfeita, as famélias maximizam os seus interesses e as empresas os seus lucros; ee eee ee eee 168 Isabel Guerra — a praducao é flexivel dado que os factores de produgao podem ser intermutdveis. O modelo mais conhecido de interpretagiio dos custos de localizagao do alojamento é conhecido como 0 modelo de trade-off da localizagiio residencial. Este modelo parte do pressuposto da existéncia de uma rela- cdo directa entre o consumo do espago e o prego da distancia, ou seja, 0 consumidor tende a fazer uma relacdo entre o custo do centro em aloja- mento e em distancia, bem como os seus rendimentos, jogando com esses factores na escolha da localizagio. Nesta perspectiva, é possfvel analisar quer a procura, quer o valor da renda como resultado dessa trilogia - distancia, rendimentos, prego -, explicando-se a procura pela relagao custo da casa, transporte ¢ saldrio. O proprio raciocfnio neo-classico vem introduzir, mais tarde, neste modelo perspectivas de apreciacdo das caracterfsticas do sitio e da casa e 0 comportamento do consumidor complexificando 0 modelo ini- cial, As abordagens weberianas introduzem na légica da procura, a ldgica da oferta. As criticas que fazem ao modelo neo-classico iniciam-se na contestacio da capacidade de escolha dos sujeitos em funcdo dos rendi- mentos j4 que agem no contexto de outros constrangimentos do mercado de habitagao. Assim, estas abordagens introduzem a dimensio do conflito pelo uso da terra e da casa o que lhes darao o epiteto de teorias conflituais da localizagio. As teorias weberianas estiio sobretudo centradas na natureza das re- lagdes sociais associadas as relagdes de propriedade do alojamento, e nas consequéncias dessas relagdes de propriedade na consciéncia dos actore: O primeiro grande contributo para as questées da conceptualizagio urbana foram inicialmente de John Rex (1967), através do conceito de classes de alojamento apresentado na sua obra Race, Community and Conflit. O alojamento € ai apresentado como um bem existente no mer- cado que, tal como os outros bens, é um factor de diferenciagaéo das classes sociais e um potencial pélo de conflito que é atribuido a: tipos de alojamentos disponiveis; — modos de acesso ou tipos de posse legalmente reconhecidas; — formas de distribuigado do alojamento (mercado livre; mercado bu- rocratico, etc). As classes de alojamento sfo assim definidas como ...grupos diferen- cialmente posicionados relativamente aos meios de alojamento. A maior parte dos estudos weberianos organizativos polarizam-se na identificagdo dos agentes (piblicos, semi-ptiblicos e privados) com poder na distribuigdo dos escassos recursos urbanos (nomeadamente a habita- Um olhar sociolégico sobre o alojamento 169 fio) e a efifatizar o seu papel na construgdo dos constrangimentos de acesso as casas. As abordagens weberianas trouxeram problematicas interessantes ao estudo do alojamento. Uma primeira problematica decorre ainda das teorizagdes de John Rex, que relaciona os tipos de alojamento ¢ as formas da sua distribuigdo, permitindo estudar a segregagao residencial como factor estruturante das cidades. Uma segunda dimensdo muito explorada tem sido a da relagao entre o tipo de acesso ao alojamento e a consciéncia e praticas dos agentes noutros dominios do social. Discutiu-se jongamente o efeito destas diferentes formas de acesso ao alojamento (e a sua propri- edade) e as formas de comportamento social e politico, nomeadamente no que se refere consciéncia politica dos actores'. Para as abordagens marxistas a questo do alojamento é uma questio central ha longo tempo na formagao social capitalista dando conta do cardcter contraditério e complexe do funcionamento do sistema. Contra- ditério porque a produgio do alojamento é, simultaneamente, um factor de produgao (muito significativo para a esfera produtiva) e um elemento essencial 4 reprodugao da forga de trabalho. A socializagdo crescente das condigées gerais de reprodugio levou a que parte dos equipamentos colectivos fossem socializados (satide, edu- cacao, transportes, etc). No entanto, o ajojamento mantém-se, ainda hoje, na maioria dos pafses, um bem sujeito aos mecanismos de mercado. Os aspectos contraditérias do alojamento inserem-se na légica con- tradit6ria do modo de produgao capitalista - 0 processo de acumulagiio sé se mantém com a venda de produtos, mesmo quando estes tém um valor de uso mais do que um valor de troca. Em termos abstractos, a base do sistema capitalista € a produgao, troca € consumo dos bens pelos produtores e consumidores individuai A partida o principal critério de acesso a esses bens ¢ a capacidade in- dividual para pagar. No entanto, no estddio actual do desenvolvimento do modo de produgo, assiste-se a um grau de socializagio crescente dos factores produtivos. Ao nivel do Capital, a socializacio dos meios de produgao permite melhorar a produtividade, mas, simultaneamente, tam- bém facilita a organizagdo politica e contestatdria do factor trabalho. Ao nivel do factor trabalho, 0 acesso ao alojamento permite melhores condi- gGes de vida, mas também reforga e intensifica a exploragdo da forga de trabalho. A anialise das actividades de produgio ¢ de consumo remete-nos, na leitura marxista, para a oposigdo de classes entre capital e trabalho, mas também para a fragmentaciio interclasses. E se é um facto que a principal capacidade de acesso aos bens de consumo ¢ a capacidade para pagar, 170 Isabel Guerra ainda hoje existe um mediador face a certos bens que permite, em certos casos, a socializagio do consumo, Esse consumo socializado, permitido pelo Estado, assenta numa dada definigdo da necessidade (historicamente datada) e que se opée & capacidade de pagar Em certos sectores da economia, 0 alargamento de bens e servigos socializados, que a intervengao publica permite é considerada benéfica para os sectores privados. Em sintese, para os autores marxistas, a contradigao central que esta na base da crise do alojamento assenta na socializagaéo crescente dos meios de reprodugdo, concomitantemente & sua apropriagao privada. O alojamento é, simultaneamente, um factor de troca (mercadoria) e um factor de uso (essencial & reprodugdo da forga de trabalho) valores con- traditérios na légica do actual modelo de produgio. Assim, para entender a complexidade da crise do alojamento, é essen- cial detectar os principais agentes que intervém no processo, os seus interesses e conflitos: conflito de interesses entre capita) produtivo ¢ proprietario fundidrio; sector da construgao civil; promotores imobilidri- as; 0 Estado, etc, A crise do alojamento €, pois, uma crise estrutural que sé sera resol- vida numa sociedade onde as necessidades basicas e os bens e servigos que as satisfazem estejam socializados. 2. Os processos de apropriacgio do alojamento As abordagens anteriores tenderam a valorizar a dimensio sistémica, relacionada com as condigdes de produgdo do alojamento. De facto, as abordagens mais relacionadas com os processos de apropriagao do aloja- mento nao tém sido objecto privilegiado de andlise do ponto de vista da sociologia urbana. A maioria dos contributos para este campo de andlise advém de outras disciplinas sociais, nomeadamente, a psicologia comportamental, a antropologia, a semistica, etc. No Ambito mais restrito sociolégico, ha que assinalar os trabalhos pioneiros de H. Lefebvre(1959, 1970) e de Chombart de Lauwe (1959), sobre Famtlia e Habitagdo. O primeiro mais centrado sobre 0 dominio simbélico e ideolégico e o segundo sobre os constrangimentos sociais, A propria definigéo da nogiio “apropriag&o do espago” € pouco clara, recobrindo dominios variados. Seja qual for a perspectiva em que é uti- lizada. parece significar, nfo apenas um processo de uso funcional ou instrumental do alojamento, mas recobrir um dom{fnio diversificado de praticas: culturais, simbdlicas, afectivas, etc. Um olhar sociolégico sobre o alojamento 171 Os contributos tedricos recenseados permitem-nos identificar trés grandes nfveis de abordagens, ainda no integradas, de andlise das formas de apropriagao dos alojamentos: a) uma abordagem sobretudo de ordem sociolégica no quadro dos modos de vida e formas de apropriagdo do alojamento, que se desdobra hoje na relagdo entre as transformagées sdcio-demograficas e familiares e as expectativas e formas de apropriacao do alojamento; : b) a apropriag&o psico-sociolégica com recurso as varidveis estruturantes da psicologia social; c) a apropriacao simbdlica, campo cada vez mais auténomo e inter- disciplinar das ciéncias sociais. Estas abordagens valorizam determinadas dimensdes dos processos de apropriagao do alojamento que nao estaéo obviamente separadas, mas um facto de que nao dispomos, hoje, de wm modelo integrado de inter- pretagéo dos processo de apropriagéo do alojamento que estruture os diferentes contributos, Esse modelo teria de ser necessariamente interdis- ciplinar, aprofundando ¢ integrando contributos preciosos de pesquisas que decorrem desde o infcio do segundo quartel do nosso século. 2.1 A abordagem sociolégica dos processos de apropriagio do alojamento O dominio das teorias marxistas de andlise da cidade e do alojamento NOs anos sessenta e setenta na Europa, relacionando a cidade com a re- producio da forga de trabalho, deixou pouco espago de manobra a wma definig&o sociolégica que considerasse os actores sociais na sua funcao de apropriagao. Estes estavam demasiado “alienados” e “coisificados” devido as relagdes de exploragdo da forga de trabalho, para que fosse possfvel valorizar as dimensdes mais subjectivas e psico-sociais que a andlise dos processos de apropriagao do espago exigiam. A transigao tedrica parece ser facilitada pelo conceito de Daniel Bertaux de reprodu- ¢ao antroponémica e, posteriormente, pela reconceptualizagao ligada as abordagens dos modos de vida que valorizavam 0 alojamento como um espaco essencial a estruturagéo da vida quotidiana® Do ponto de vista pratico, as preocupagdes sociolégicas sobre 0 alo- jamento surgem das demandas de arquitectos mais sensiveis, preocupados com as disfung6es geradas pelos seus modelos de habitat, de edificios e/ ou de urbanizagGes caracterfsticas dos arios 60 e 70. A tradigao dos arquitectos era a de considerar que nada se sabe sobre as pessoas que vao habitar as casas e que eles (como profissionais) teriam 172 Isabel Guerra uma func%o pedagégica, concebendo casas modernas que ensinem as pessoas a habitar. Se as pessoas nado se apropriam adequadamente das casa, entao é importante que outros técnicos, assistentes sociais, socidlo- gos, etc, ensinem a utilizar os espagos concebidos. Assim, criticava-se algumas “priticas barbaras” e “pouco civiliza- das”, como manter uma grande separagio entre os espagos mais ptiblicos e privados da casa (exemplo, da entrada directa para a sala), comer na cozinha, ou pintar a casa de cores que ndo 0 branco, ou colocar azulejos nas fachadas, etc. Os socidlogos esforgaram-se por demonstrar’, nos anos 60, gue os moradores sabiam 0 que queriam, mas que existia um deficit de espacos . de comunicagao" - vejam-se as experiéncias de participacdo em Franca e em Portugal com o processo SAAL. Depressa os arquitectos menos experientes ficaram frustrados, porque os socidlogos nfo eram capazes de |hes fornecer respostas exactas € suficientemente operativas como pretendiam. Os “pobres” socidlogos sofriam desse mal de pertencer a ciéncias nio exactas e complexas cheias de causalidades nao lineares (Léger, 1994). De facto, as pesquisas e os projectos de intervengio-acgao vieram demonstrar as dificuldades das ciéncias sociais em clarificar a relagado entre a arquitectura e 0 espaco (i.e., entre 0 comportamento e as formas espaciais), Se o saber dos socidlogos sobre os modos de vida ¢ 0 habitar no se impés como um adquirido, € porque a sociologia trabalha com realidades complexas, de causalidades no lineares e sempre em mudan- ca. Perante o trabalho multidisciplinar, poucos socidlogos de terreno parecem conseguir lidar satisfatoriamente com 0 stress que advém da relagao complexa entre a andlise de uma realidade multifacetada e disper- sa, € a necessidade de dar respostas operacionais. Simultaneamente, € dificil néo cair numa andlise linear e simplista, mantendo um estatuto profissional paritdrio com outras profissdes ditas “mais operacionais”. No entanto, a abordagem dos processos de apropriagao do alojamento tem vindo a ser definida em torno de trés eixos fundamentais: i) a fungdo do espago do alojamento na estruturagéo dos modos de vida ; ii) as formas de usos e apropriacdo do espago de habitar; iii) os factores de satisfagdo residencial. A maioria das pesquisas, pelo menos em Portugal, articula estes trés nfveis mesmo quando valoriza um dos vectores. No contexto actual € quase impossivel sintetizar as diversas aborda- gens, conceitos e autores dada a sua dispersio e sobretudo o cardcter empftico da maioria das pesquisas, que nao apresentam de forma sistemé- tica os seus quadros de referéncia’, Um olhar sociolégico sobre o alojamento 173 Modos de vida e habitat: diferentes concepgdes das determinagdes de classe nos modos de habitar Em 1945, Lefebvre ao propor o estudo da vida quotidiana, numa oposigao entre esta e o modo de produgao, vislumbrava ja a dimensdo da andlise das prdticas como uma dimensio indispensdvel de mudanga so- cial, que se opunha aos conceitos de alienagio do homem coisificado. Hoje, para simplificar, podemos dizer que as diferentes concepgdes na andlise dos modos de vida opdem-se no lugar (e importancia) que atribuem ao trabalho, as categorias sécio-profissionais, e as sociais, Como escreve Léger (1994) a tendéncia é para que 0 sucesso dos modos de vida yenham da desgraga do modo de producio. Encontramos, por um lado, os pés-marxistas que reconhecem o papel determinante do trabalho na estruturacdo dos modos de vida‘, e, por outro lado, os que distinguem os grupos nominais definidos pela homogeneidade das praticas culturais e sociais (estilos de vida). De forma muito siraplista, poder-se-ia dizer que, pelo menos na lite- ratura francesa se encontra, hoje ainda, uma grande oposigao tedrica na anélise dos modos de vida e dos processos de apropriag’o do alojamento, entre os autores que recuperam e completam as categarias socio- profissionais e aqueles que as substituem por categorias socioculturais. A fungdo de Habitar como necessidade de reprodugo da forca de tra- batho, de reprodugao cultural e de protecgao Esta dimensio de andlise das formas de apropriagdo tem raiz na filo- sofia, substituindo a apropriagdo dos espagos pela poética dos espacgos & defendendo que a relacdo com a casa é uma relacZo com o mundo me- diada pela experiéncia, pela simbologia e pelo psiquismo - 0 entusiasmo pelo s6to, 0 medo da cave, o cheiro da cozinha (Heidegger, Bachelard, Lefébvre). E Lefébvre que primeiramente define a relagdo com os objectos fa- miliares, as relagdes de vizinhanga, e o habitar como uma relagdo de apropriagdo. Depois de Bachelard todas as concepg6es se opdem a carta de Atenas @ a@uma certa viséo marxista, Habitar é visto como investir afectos. ima- gindrios, reais e irreais, conscientes e inconscientes. A fungao de habitar é pensada essencialmente a partir de duas dimen- sdes, a satisfagio de uma necessidade e resultado de um modelo cultural. A definigio de Michel Conan inclui estas dimensdes, j4 que para o autor habitar é um comportamento pelo qual os homens dio sentido ao 174 Isabel Guerra espago onde vivem, sentido que, simultaneamente, os protege, reforga a permanéncia da sua identidade e Jhes permite fazer face as mudangas adaptando a sua personalidade sem entrar em ruptura com a sua unidade’. Um grande ntimero de pesquisas parte da identificagio das Necessi- dades a que o alojamento responde: * Habitar como Necessidade nfo apenas da reprodugdo de forga de trabalho, mas como a identifica Chombart de Lauwe, de espaco, de urbanizagdéo integrada e de apropriagéo do espago; de individualizagao no interior do alojamento; de repouso, bem-estar, protecgao; ete; + Habitar como Necessidade resultado da interiorizag%o e experi- mentagdo de modelos culturais, onde o Habitar como Necessidade psicolégica de proteccdo é essencial*. A multidimensionalidade das necessidades contraria as normas uni- versais e complexifica as dimensdes de anilise. Grande parte das pesquisas sociolégicas sobre apropriagao do aloja- ‘mento estruturam-se em torno de dois questionamentos fundamentais. O primeiro refere-se ao impacto das alteragdes demograficas na procura do alojamento e na evoluc&o das caracterfsticas da oferta. O segundo ques- tiona a estruturago do modo de vida e as suas articulagdes com as ne- cessidades e formas de apropriagao ao nivel do alojamento. Na primeira dimensao, encontramos uma atengao espacial as dindmhicas demograficas de individuos e familias, bem como a evolucdo das caracterfsticas da oferta habitacional. Na segunda dimensio, analisa-se a diversidade das praticas sociais de uso e apropriagao do alojamento, a luz da estruturagao dos modos de vida das familias e individuos e dos seus processos de mobilidade social. E também ja relativamente facil detectar as dimensGes de andlise mais comuns nas pesquisas sociolégicas sobre as formas de apropriagdo do alojamento. Estas poder-se-do organizar da seguinte forma: Niveis de apropriagéo Apropriagao (colectiva ou individual) do espago publico e dos espa- ¢0s centrais; apropriagio comum do espaco de vizinhanga; apropria- cao privada do alojamento. Dimensées de apropriagdo Dimensiao de uso (0 pratico); dimensao de significacao e/ou represen- tacdo (estatutdria e/ou estética); dimensfo imaginaria (0 fechamento/ abertura). Um olhar sociolégico sobre 0 alojamento 175 Uma das pesquisas que utiliza uma conceptualizagdo alargada foi realizada em Portugal para o Observatério de Habitagao da Cidade de Lisboa (CET, 1993), Eis a grelha analftica. GRELHA DE ANALIGE DAS FORMAS OF APREPRIAGAO DO ESPAGO E SATISFACAO RESIDENCIAL 00 BRSEMVATORIO De MABITAGR® DE LISOOK, C258 aPROPRIAGRO DO ESPACO | EsamiseagaoResioenciat, | a faa Figura 1: Grelha de andlise das formas de apropriagio do espaco e satisfagao residencial do Observatério de Habitagao de Lisboa, 1993 2. 2. A abordagem da psicologia ambiental Devido a3 fragilidade dos modelos de andlise sociolégica e a multidisciplinaridade do objecto, muitos investigadores vao recolher & psicologia, nomeadamente a psicologia ambiental e 4 andlise transaccional parte dos seus modelos de andlise das formas de uso e apropriagaio do alojamento. Na abordagem da psicologia ambiental, parte-se do pressuposto de que a casa é um repositério de processos culturais e psicolégicos funda- mentais e pretende-se averiguar os significados da casa para os morado- tes, 0 papel do alojamento na estruturagao das relagdes familiares, ou o pape! do alojamento no relacionamento com a vizinhanga, etc. Duas perspectivas sio de valorizar nas abordagens da psicologia ambiental no que se refere A problematica das formas de apropriagdo do alojamento. So por, um lado, os estudos sobre satisfagdo residencial e, Por outro, as pesquisas que se debrugam sobre a relagdo entre 0 meio (no caso 0 habitat) e 0 comportamento, 176 Isabel Guerra A perspectiva transaccional A perspectiva transaccional tem sido considerada como uma das pers- pectivas mais fecundas para a andlise das formas de apropriagao do alo- jamento, Esta perspectiva, aplicada ao estudos dos processos de apropriagao do alojamento, parte de dois pressupostos que estruturam a casa como uma unidade transaccional. O primeiro pressuposto é de que existe uma indissolivel articulagdo entre as pessoas € O seu meio-ambiente; o segun- do pressuposto é de que as dimensGes temporais sdo dimensdes inerentes a essa relagao, O alojamento deve assim ser concebido numa dindmica confluente de pessoas, lugares e processos psicolégicos. Nesta dimensiio, retoma-se Rapoport (1978), que define o meio am- biente como uma relagdo complexa e uma organizagio sistematica entre espago, tempo, significagdo e comunicagao. FuTuRO pessoas, lugares. Fonte:trving Altman, ¢ ait, Hore environonents, 1408.p.44 Figura 2: A casa como processo de comunicagao Valorizam-se as dimenses de apropriagdo, enraizamento e identida- de que advém de formas de apropriagao positiva da casa e considera-se que essa apropriagio positiva € indispensdvel para 0 equilibrio psicolégi- co, familiar e social. Apropriagiio, enraizamento e identidade so conceitos que referenciam a ideia de que as pessoas investem significados e afectos nos lugares com que se relacionam. Assim, significa controlar 0 espago/tempo, ser fami- liar a..., investir significados, afectos, ter sentido de pertenca, etc. A casa é também um factor de identidade, jd que a casa é um sistema complexo que nos orienta as relagSes com os lugares, com 0 espago e com Um olhar sociol6gico sobre © alojamento 17 a Sociedade, Detém, também, fortes lagos cognitivos e afectivos, que permi- tem a integraga’o do “eu” nao apenas como um problema de representagio da auto-imagem mas, sobretudo, num significado que atribufmos & casa de que nos apropriamos como um trago estruturador da identidade pessoal. A casa funciona, assim, também como elo de ligag&o/comunicagao com 08 outros, com os lugares e com 0 passado, e, nesse sentido, o espago insere- se num percurso pessoal fazendo parte de uma histéria de vida. A avaliagdo da satisfagdo residencial € um tema particularmente re~ corrente nas pesquisas, substituindo mesmo o conceito de apropriagdo residencial nos estudos anglo-sax6nicos. Geralmente, esto presentes trés dimensdes de andlise na nogio de satisfacdo residencial (alias comuns na investigagio em psicologia social): a afectiva, a cognitiva e a comportamental No entanto, encontram-se diversas metodologias e objectos na sua operacionalizagao empirica. Os estudos sobre satisfagao residencial as- sentam fundamentalmente em dois modelos bdsicos: 0 modelo de Marans e Spreckelmeyer 1981 (designado modelo conceptual basico) e 0 modelo de Weidemann e Anderson, 1985 (designado modelo conceptual integra- do) (Freitas,1993). Estes modelos afirmam, explicitamente, uma relagaéo causal entre os atributos do meio ambiente ¢ o comportamento do individuo, postulando que a satisfagaio depende da percepgao e avaliagdo dos diferentes atribu- tos do meio ambiente, tais como as caracterfsticas do alojamento, a lim- peza, a seguranga, caracterfsticas dos outros moradores, etc. As criticas que sao remetidas para esta relagao entre satisfagio e propriedades do habitat advém precisamente dessa causalidade unidireccional, que torna o modelo tao linear. Weidemann e Anderson (1985) tentaram introduzir-lhe a transaccionalidade pluridimensional e uma maior operacionalidade de forma a abranger a compreensio das mitiltiplas dimens6es do fendmeno de habitar (arquitect6nica, técnica, politica, econdémica, social, psicoldgica, cultural, etc) Os estudos realizados até ao momento vio identificando uma grande variedade de dimensdes que fundamentam a satisfagao residencial: di- mensao, localizagdo, densidade, vizinhanga, etc. M. Jodo Freitas (1993) organiza essas varidveis em trés conjuntos: 1. Perspectiva da dimensao (Lee, 1981, Lee e Guest, 1983), na qual o grau de satisfagao € afectado negativamente pelo aumento populacional e densidade da respectiva drea residencial; 2. Perspectiva composicional (Gans, 1952; Fischer, 1976), na qual a satisfagdo residencial é explicada de acordo com as caracteristicas dos agregados domésticos; 178 Isabel Guerra [MODELO CONCEPTUAL BASICO (Marans © Spreckelmeyer, 1984) ATRIBUTOS PERGEPQAO E ‘SATISFAGAD ‘OBJECTVOS ANALIAGAD GERALCOM |_| GOMPORTAENTO | FDO MEIO DOS ATRIBUTOS OME] AMBIENTE (OSJECTIOS AMBIENTE D0 ME]O AMBIENTE MODELO CONCEPTUAL INTEGRADO (eigemann e Anderson, 1685) (CABACTERISTICAS PE: be IrENGoes | eeuarvavene OMEIO AMBIENTE Figura 3: Modelos conceptuais bisico e integrado 3. Perspectiva da qualidade de vida (Campbell e al. 1976, Marans e Rodgers, 1974, Fernandez e Kulit, 1981; Lee, 1981), na qual a satisfagdo residencial 6 explicada em fungdo da influéncia das condigées do ambiente (seguranga, poluigio, proximidade de vizi- nhos, etc) e também da comparagio entre a situagao actual dos individuos e as suas aspiragdes futuras. As relagdes entre 0 meio € o comportamento (environment-behavior relations - EBR) Os estudos EBR pretendem responder basicamente a estas questdes: que caracteristicas de pessoas e de grupos influenciam as formas como built environment é estruturado? Quais sao os efeitos do built environment no comportamento humano, no bem-estar e qualidade de vida, etc? Como corolario, que mecanismos ligam as pessoas e 0 seu meio envolvente e quais as interacgdes? Um olhar sociolégico sobre 0 alojamento 179 Muito destes estudos realizam-se ern articulagdo com a perspectiva anterior e decorrem da investigag4o sobre a satisfagdo residencial, Outros trabalhos pretendem identificar as varidveis que influenciam as razdes de escolha de determinados locais e modelos habitacionais (no interior de naturais constrangimentos) para responder as caracteristicas da procura. Sintese das abordagens da apropriacao do alojamento A andlise das formas de apropriacdo do alojamento tem-se tornada uma das problematicas centrais da sociologia urbana nas Ultimas duas décadas, suscitando o interesse quer das entidades ptiblicas, quer das entidades privadas. O interesse das entidades ptiblicas relaciona-se, sobretudo, com a necessidade de entender 0 comportamento dos diferentes grupos sociais, mas muito particularmente os grupos de menores rendimentos, caracteris- ticos de bairros de realojamento; cujo mal-estar é cada vez mais evidente. O interesse das entidades privadas advém, fundementalmente, do reco- nhecimento da existéncia de fortes dinamicas demogrdficas, familiares & cuiturais, e da necessidade do seu entendimento para tornar possivel ofe- recer um produto majs adequado, centrado nas necessidades e expectati- vas dos varios grupos sociais? Uns e outros, pretendem dar resposta ndo apenas as formas como se usam e se apropriam os alojamentos, mas também & sua articulagdo como pratica especifica no conjunto das restantes praticas sociais, i.e., interro- gam-se sobre 0 reconhecimento do papel das formas de uso e apropriagao do alojamento na estruturagéo dos modos de vida. Pretende-se ainda afe- rir dos efeitos que determinadas formas de uso ¢ apropriagéo do aloja- mento tém nos comportamentos sociais e nas formas de organizagio colectiva. As pesquisas realizadas até agora petmitem concluir que a apropria- ¢4o do alojamento nao é um simples processo funcional, recobrindo uma grande diversidade de praticas de uso, de apropriagfo cultural, simbélica e afectiva Jean-Frangois Léger (1994) sintetiza em duas ideias centrais as con- clusGes basicas que se poderao retirar de uma andlise das pesquisas dos Ultimos anos sobre as formas de apropriagado do alojamento. A primeira é de que os diferentes sistemas conceptuais disponiveis no mercado das ideias foram elaborados a partir da observagdo das préticas, mas nenhum produziu um método de ajuda & programagiio e & concepgio do espacgo habitado suficientemente fecundo e operacional. 180 Isabel Guerra Uma segunda constatagao, referencia as varidveis que surgem como mais pertinentes nas pesquisas realizadas. Os modos de vida - no seu sentido genérico e neste contexto - poderao ser entendidos na referéncia a algumas categorias fundamentais, como a categoria profissional (desde que se considere a evolugao de certas profissées), 0 sexo e a idade. No entanto, nesta tematica torna-se indispensdvel tomar como unidade de observacao a familia o que vem complexificar quer a problemdtica, quer as metodologias de andlise de que dispomos actualmente. Notas 1 Veja-se 0 estudo de Saunders (1981) sobre o interesse na subida ou deseida da taxa de juros € sobre a propriedade do alojamento que € opde proprietérios a inquilinos, etc Apesar do predomfnio da influéncia marxista € preciso nfo esquecer que a relagio entre modos de vida e habitat tem pelo menos 30 anos de pesquisas onde se salientam os trabalhos realizadas por Chombart de Lauwe (1959), Henri Lefebvre (1959, 1970), etc. 3 Em Portugal, embora tenha havido alguma contribuigdo dos socidlogos para alguns proces sos de consttugdo os seus traballios no tiveram o impacto paiblico que no resto da Buropa, nomeadamente em Franga, Inglaterra, Holanda, ete. 4 Voja-se, por exemplo. a inacreditavel experiéneia de participagio e comunicagao entre técnicos e populagzo que foi o processo do SAAL s6 possivel devido a uma cultura politica de participagio que entio grassava 0 pafs e que foi infelizmente de pouca duragio. 5. Nao se entenda este comentario como uma eritica, Dada a rapida mudanga de paradigmas € fundamental avangar a pesquisa empirica de forma a poder re-conceptualizar a partir do real em mudanga. E , no entanto, preciso reconhecer a necessidade de modelos conceptuais tnais estruturados para avangar, 6 Segundo Jean-Michel Léger (1994), nos primeiras encontramps: a) Pierre Bourdieu - para quem os estilos de vida so determinados pela pertenga de classe e 0 capital cultural nao € apenas 0 capital escolar; b) os investigadores do Instituto de Sociologia Urbana de Paris (Antoine e Nicole Haumont) que distinguem os modelos culturais e os modos de vida; ¢) Francis Godard que, com Danie! Bertaux, Michel Pingon e outros tinham proposto a nogiio de reprocugao antroponémica para ultrapassar © conceit marxista de reprodugao da forga de trabalho; d) Jacqueline Palmade, cuja tipologia das condutas das formas de habitar associa varidveis sociolégicas (situagio de classe) ¢ psicanaliticas (autonomia selativa do eu), Entre os segundos encontramos Bernard Cathelat inventor dos socio-estilos. Citado por Léger, idem, 1994, p. 22. 8 Lembre-se as pesquisas exemplates de Jacqueline Palmade que integra as dimensdes psi- coldgicas, psico-sociolégicas ¢ soviolégicas e culturais. Dimensdes psicolégicas de projec- gio espacializada da relay objectal com os pais ¢ sobretudo, com a mae que protege & alimenta. Esta projecco estaria na origem da identificagao com o aiojamento como um lugar de protecgao contra as fontes de tensdo; lugar sagrado de anulagdo do sentimento de importincia e compensagio da alienagio pelo trabalho. Dimensdes psico-sociolégicas & soviolégicas que fazem da casa um abrigo contraditério que leva ao reforgo das clivagens, nas actividades ¢ representagies dos individuos entre tabalho e alojamento 4 compen- sagiio da alienago profissional num espago de apropriagio afectivo-simbdlico. 9 Diga-se, de passagem, que em Portugal, infelizmente nem entidades piblicas nem privadas se tém mostrado interessadas em financiar pesquisas sobre estas temiticas. ny Um olhar sociolégico sobre o alojamento 181 Bibliografia ALCALA, L.C. (1995), La Cuestin Residencial: Bases Para una Sociologia del Habitar, Fundamentos, Madrid; ALTMAN, Irwin © WERNER, Carol M., (1985), Home Environments, Nova York, Plenum Pres BASSET, K. ¢ Short J. (1980), Housing and Residential Structure, Alternat Routledge & Kegan Paul, Londres, Boston e Henley; BONVALET, Catherine, (1988), Transformations de la Famille et Habitat, Travaux et Documents, n° 120, Paris, PUF-INED; CATHELAT. 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