You are on page 1of 194
Teo) 2.9 4.07% de 30 de dasembro de r9oiiee* elaiads wm 90. de wutabre de ; PROGRAMA CULTURAL DO CONSELHO (adigho @ reedi- ‘de obra) : “inglés de Sova” Taleo “HISTORIA, BO PAR Colegho oe “Boric de Guajaré™. OBRAS PUBLICADAS PELO CONSELHO : J "“GRACA ARANHA E OQ MODERNISMO NO PARA", de ‘euteria de Conseiheire De Campos Ribeiro — GRAFISA = Park, 1969, RUAS DE SELEM — SIGNIFICADQ HISTORICO DE SUAS. DENOMINACOES”, de Ernesto Cruz ~ Cia. Gri fico LUX = Rio de Joneirb, 1970. “PAULING DE BRITO — Seleto @ Documentério” — em dois volumes — (Obra comemorative do cinqlententrio do more do eminente Poetc e Prosador, ocontecimento eelebrode em Belém 0 16 de seiembro de 1969). Cia. Grifico LUX, Rio de Joneira, 1970. “UM CULTO RELIGIOSO QUE ATRAVESSA OS Sé- CULOS — NOSSA SENHORA DE NAZARETH”, de. Jote Alfredo de Mendonga (publicecke péstuma vob a coor: dergete a Corlon A. da Mendongel, GrificaFellngole EdinBra, Pars, 1970. “PARAENSES ILUSTRES", de Raymundo Cyrlaco Alves do Covha — GRAFISA —‘Paré, 1970 (reedigho de J, 8, dos Sontos & Cio, Editéres, Pard, 1900), “ANTOLOGIA AMAZONICA™, de J. Eusthquvio de ‘Azeredo ~ GRAFISA — Parh, 1970 (ceedigho de Livratia Corieca, Eainbra, Belém, 1918) “OBRAS DE DOMINGOS ANTONIO RAIOL” — Baro ‘45 Gvoiork — GRAFISA, Pork, 1970 (veedicho, em um +6 volume, dos cinco seguintes obras de Roiol) ; “ABERTURA DO AMAZONAS" ~ Tip, do Jor not do Amazonas, Pork, 1867; “O BRASIL POLITICO” — Tip, de Dibrio do Comércio, Park, 1858; “JUIZO CRITICO SOBRE AS OBRAS DE FELIPE PATRON'” — Revista do institute. Y6rieo, ‘Alico @ Emogritico de Vol, 39 forcieuio, Imprensa Oficial, Belém, UM CAPITULO DE HISTORIA COLONIAL PARA’ — Revista de Estudos - de Dibro Oficial, Belém, Ta94) eet re RVISOES DO CREPOSCULO” — “A Revista” — fot te, oe Mae ee “A HISTORIA DA BIBLIOTECA & ARQUIVO DO "PARA", de Ernesto Cruse BAN. ‘ste “WULTOS NOTAVEIS DO PARA” (Poraenses, Sabre” So aren Roe “MOSICA E MOSICOS DO PARA”, de Vicente — GRAFIGA, Pork, 1970. “as ite = Ack ese io) ORAMCA PALANGOLA. EOITORA, Port, moio/iuiho-1971. BSAA smi GRAFICA FALANGOLA EDITORA, < GRAFICA FALANGOLA EDITORA, Ports nev.8/der ©1971. avulsos: 1 LL GE QUTOMAY = evra, — 1a. = (Cont 0 1.2 Encontro Nacional dos Gonsethos de Cultura realizado no Rio de Janeiro, de BSS Bs I oh comico oo Conge |. Imprena Oficial do Estodo, Pork, abrii/1968. 1 CONSELNO ESTADUAL DE CULTURA" — Revista = ‘edicha, aumenioda. Imprensa Oficial de Estado & ret soromore’ oo 1968. “REGIMENTO INTERNO DO CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA” — Imprensa Oficial de Estodo, Park. 1969. PUBLICACOES PELO GOVERN DO ESTADO, NAS OFICINAS DA IMPRENSA OFICIAL, COM A AUDIENCIA BO CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA: SERMOES E DISCURSOS DE DOM MARIO DE M RANDA VILAS BOAS”. Pars, 1970, 48, IMPERIOSO, TRINOMIC DA PAZ MUNDIAL | Dignt doda Humana, Justiga, Desenvoivimenta’’ — Conferdn- cla de Prof. Dr. Aldebaro Cavaleire de Mocedo Kiouwtou na "Cosa do Park”, na Guonabars, Pars, 1970. “TUPAIULANDIA — Histéria de Santarém”, de Paule Rodrigues dos Santos. Park, 1971. “BOI BUMBA". de Bruno de Menexes (reedicho). A SAIR GA APROVADAS PELO CONSELHO) ; #0 RISO FAZ BOM SANGUE", de José Maria Hesketh ISTORIA DO INSTITUT DE EDUCACAD DO PARA”, de Altomir de Souza. M“TUPAIULANDIA — Histérie de Sentorém™, de Poulo Rodrigues dov Santos (2:° volume). PURLICAGAO EM CONVENIO ENTRE A UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARA, CONSELHO FEDERAL DE CULTURA 1 CONSELMO ESTADUAL DE CULTURA DO PARA: HISTORIA DO PODER LEGISLATIVO BO ESTADO DO PARA", de Emmasio Cruz, em dois volumes. Imprensa Unevertineria, Pars, 1970. Condory. RPONTAMENTOS PARA A 40 WEBLO. ‘ORAS COMPLETAS DE DOMINGOS SOARES FER A PENNA™ VERRA IMATURAY, de Alfredo Lodislau (reedigho). COLEGAO “HISTORIA DO PARA” SERIE “ARTHUR VIANNA” ERNESTO Cruz AS EDIFICACOES DE BELEM 1783-1911 CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA BELEM - PARA 1971 Ernesto Cruz Do Instituto Historico e Geografico do Para (Presidente nos pe- riodos de 1963/66, 1966/69, 1969/72; Instituto Histérico e Geo- grafico Brasileiro, Instituto Histérico e Geografico de Mato Grosso, Instituto Geogrdfico e Histérico da Bahia, Instituto de Cultura Hispanica (Espanha-Madri); Grupo Bolivariano de Cuba, Academia Paraense de Letras, Aendemia Paulista de Le- tras, Conselho Estadual de Cultura (Para); Historiador da Clda- de de Belém e Diretor da Biblioteca e Arquivo Publicos do Para. AS EDIFICACOES DE BELEM CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA BELEM - PARA Lott A noticia, por todos os titulos auspiciosa, do apa- recimento desta obra, divulgou-a o proprio autor, emi- nente Historiador Ernesto Horacio da Cruz, por ocasiéo do solene langamento de seu ultimo livro — “RUAS DE BELEM - Significado Histérico de suas Denominagées” — realizado, sob os aplausos consagradores de respei- tavel auditério e com o calor afetivo do gue mais re- presentativo existe no seio da colonia paraense na Guanabara, em memordvel reuniao de 25 de novembro de 1970, no Salo Nobre do Plendrio do Egrégio Conse- Iho Federal de Cultura. Fé-lo o zeloso e infatigavel pesquisador paraense, com incontida emoc4o, nfo ape- nas pela circunstincia, deveras significativa aos seus intimos sentimentos, de quem assistia, com a entrega do seu trabalho, & festejada messe do Conselho nascente — primeiro “trago de afirmativa e vigorosa vitalidade” a testemunhar o ardor com que se propunha na perse- cugéio de seus superiores objetivos mas de quem, sem se quedar vitorioso, logo anunciava, pronto para subseqiiente publicacio, o substancieso estudo com que, lhe agigantando o porte, complementava, nas suas dire- trizes, 0 empolgante assunto da obra anterior. E fé-lo, menos como arroubo de oratéria do que pelo irrefredvel juibilo de guem, ufano de si mesmo e da Instituigaéo a que pertence, escapava a clarinada de uma nova aurora com estas palavras de agudo sentimento : _.“Para atender aquéles que me pediam esclareci- mentos, procurei estudar, através dos documentos ma- nuscritos do Arquivo Municipal, as aberturas das ruas da minha cidade natal, tendo, porém, a preocupagéo de conhecer 0 significado histérico de cada uma. Foi éste um trabalho exaustivo, arduo, constante, como bem sabem todos os senhores eminentes Conse- lheiros déste Colegiado, principalmente o meu prezado amigo Dr, Arthur Cezar Ferreira Reis, companheiro constante de pesquisas na Biblioteca e Arquivo Publicos do Pard, e que tem revelado as mais importantes pegas dos Arquivos da Amaz6nia, desde os agitados tempos da penetragio e do dominio dos Reis da Espanha e de Portugal ... Faco agora uma revelagéo que guardei para esta oportunidade ; Ja esta escrito, em condigGes de ser i 10, editado, Que serd o pentiltimo da presente série, em que pana Tevelar a evolugao da capital paraense. ee nome; “AS EDIFICACOES DE BELEM - 1783 - ___Nesta obra darei os nomes de todos os i rios das casas de sobrado, casas térreas, barnes ae xadas, telheiros e palhogas, numeradas ou nao; edifi- cios publicos e igrejas, com a indicagéio das ruas onde ticavam localizados. Um século do registro das trans- formacGes feitas na arquitetura de Belém. Registro historico da vida paraense, acompanhando as reformas introduzidas através do tempo nas edificagdes residen- ciais e nos prédios de propriedade da Uniao, do Estado e Municipio” ... _, Teremos, assim, um detalhe a mais na Historia das edificagdes da cidade de Belém, nesse longo periodo. Bom espaco de tempo para julgarmos do progresso ar- quitetOnico da capital do Estado do Para, da mudanga constante e nem sempre feliz ou apropriada das deno- minagoes das ruas e abertura de novos caminhos, como tem ocorrido, e quanto a CAmara Municipal ou a Prefei- tura de Belém pagaram para as indispensdveis desapro- priacGées. Este € o meu préximo objetivo, minha vontade, assim Deus permita”... “Semear tem sido a minha preocupacao. As 4rvo- res cresceram. Mas néo sei se 0 sabor dos frutos tem sido igual para os que os provaram. Esta duvida nao me desanima”. Em verdade nada ha arrefecido o 4nimo de Ermesto Cruz, ao curso de sua util e laboriosa jornada. Quanto a essa diivida, por improcedente e sem sentido para lhe interceptar o roteiro das dadivosas iniciativas, melhor que tudo fala, pela sua alta valia, o inesgotavel acervo com que tem enriquecido a bibliografia paraense, e onde se tém abeberado, invariavelmente, quantos se empe- nham, nos labirintos da pesquisa, em desvendar as mintcias de nosso glorioso passado, Nao é, pois, sem justeza, que Correa Pinto o contempla, septuagenario, mas criatura dindmica, que nao teve nem tem horas ociosas, “com o pensamento hicido e fecundo, com toda a pujanca de suas aptiddes criadoras, evocando acon- tecimentos € personalidades, dias de gloria e de luto, fases de grandeza e decadéncia da sua regifio”, ao Ihe exalcar, em pagina esplendente, as “RUAS DE BELEM” como obra que “o eleva a condicgaéo de um guia sereno e seguro para as geracdes interessadas em conhecer a Historia do Paré e da Amazénia”. Ao Conselho Estadual de Cultura do Pard, particu- larmente, néo deu apenas o livro com que assinalou a triunfal arrancada de suas promogoes editoriais, ésse mesmo “Ruas de Belém” que néo é um simples roteiro subsididrio de cunho turistico, nem tampouco um mero repositério de nomenclatura metropolitana — como jé 0 proclamei — mas produto de acurada andélise, de percu- ciente investigagao, a refletir tenaz tarefa, de fundas rai- zes, e€ que se destina, aos que ora desfrutam do convivio de tao acolhedora capital como as suas vindouras legiGes de habitantes, propiciar, com riqueza de detalhes, a ex- plicacio autorizada do exato sentido histérico da de nominagfo das ruas de seu largo tracado urbanistico (Cia. Grafica Lux, Rio, 1970). Enfeixou, em feliz escérco, “A Historia da Biblioteca e Arquivo Ptiblicos do Para”, editado em optisculo pela Imprensa Oficial do Estado e constante do pronunciamento que féz, por ocasifio da solenidade comemorativa do Centenario de fundacéio dessa Casa de Cultura, realizada, nesta capi- tal, a 25 de marco de 1971. Ensejou também, como au- tor da proposicao, o privilégio da iniciativa pertinente ao tombamento, como monumento paisagistico, do nos- so Ver-o-Péso, que lembra a presenga dos colonizadores da Amazonia na atrecadacao dos impostos devidos & Coroa e mais tarde & Municipalidade, gragas ao que, para honra do Estado, vemo-lo integrado ao Patr Historico e Artistico Nacional. Escreveu, igualmente, a “Historia do Poder Legislativo do Estado do Para” — publicac&o feita em convénio entre a Universidade Fe- deral do Para, o Conselho Federal de Cultura e 0 Go- yérno do Estado, representado por éste Colegiado (Vols. 1 e 2, Imprensa Universitaria, Para, 1970) — bem como, sob os auspicios da Secretaria de Estado da Viagio e Obras Publicas, nas oficinas da Imprensa Oficial, em 1969, “As Obras Publicas do Para”, em dois volumes, trabalho de f6lego, que condensa i cum rip revelador da acdo administrative do Estade de Para Be aay ae ea ie erth istrativa do Estado do Para Aos horizontes culturais da Amazénia ae iy e do Brasil eee we Roca’ sey Lendas e Contos Indigenas; ate las Igacabas (Contos, Mitos e Folclore da wane ee ‘Nocdes de Histéria do Para”; “Nos Basti- fee Cabanagem”; “A Agua de Belém”; “Came- fae ore geo-humanos”; “Baiao - aspectos de sua i acdo”; ‘Igarapé-Miri - fases de sua formacao His- rica”; “Igrejas e Sobrados do Maranhao (Sao Luis e Alcantara) ”: “Procissao dos Séculos” — Vultos e Epi- sdédios da Historia do Pard; “Igrejas de Belém”; “A Es- trada de Ferro de Braganga — Visao Social, Econémica e Politica”; “O Romance Histérico”; “Temas da Histé- ria do Para”; “Belém — Aspectos geo-sociais do muni- cipio”; “Monumentos de Belém”; “Histéria da Associa- gao Comercial do Para”; “Histéria do Clube do Remo” (1905 a 1969); “Historia do Para” — 1.° e 2.° volumes; “Acao do Dr. José Vieira Couto de Magalhaes no Go- yérno da Provincia do Para, 1864-1866”; “Colonizagao do Para”, além de outros estudos, teses e monografias. postos a lume em diferentes épocas. : a essa expressiva bagagem que junta Ernesto Cruz, agora, “As Edificagdes de Belém”, que o Conselho Estadual de Cultura do Pard edita certo de que “repre- sentard um marco importante na contribuigéo em que se esta esforgando por dar ao desenvolvimento intelec- tual da nossa terra”, como vaticina a ilustrada Conse- jheira Maria Annunciada Chaves, muito feliz, incontes- tavelmente, ao ressaltar em seu brilhante Parecer, evocando Otavio Mendonca, gue se “as ruas de uma cidade encerram licdo permanente sobre sua histéria”, tanto mais fascinante “quanto mais antigo e opulento vai se tornando ésse passado”, tudo o que dé a essas ruas sua feigéo prépria e vai marcando, em camadas — sucessivas, a marcha do tempo, reveste-se de singularis- - simo valor histérico. CLOVIS SILVA DE MORAIS REGO Presidente do Conselho Estadual de Cultura do a es volume ¢ uma continuacdo de "RUAS DE BELEM”, editado em 1970, pelo Conselho Estadual de Cultura. Inicialmente tivemos a preocupacéo de expor aos leitores 0 significado his- torico das ruas da capital paraense, desde as denominacoes primitivas as atuais. ‘A obra, entretanto, nao estarla razoavelmente perfeita, se nio fizessemos, igualmente, embora sem completa-la neste volume, 0 esboco das edificagbes urbanas e suburbanas, seus diferentes estilos ¢ preferéncias dos proprietarios, no decorrer dos tempos. Iniciamos @ste novo capitulo com as preciosas informacdes do notével na~ turalista baiano Alexandre Rodrigues Ferreira, @ partir do ano de 1783. Depois ‘outros naturalistas e metodistas que estiveram no Para foram consultados, atra- ‘ves dos livros que nos deixaram com delalhes preciosos de Belem, suas casas de moradia, usos, ruas, avenidas, arborizacéo, @ outras interessantes mindcias, que nos facilitaram a tarefa de conhecer a cidade de Belém, tal como era, até os ‘ltimos anos do século XIX. Resolvemos ir mais adiante, neste estafante trabalho de pesquisa @ reve: lagao. Encontramos nos Relatérios do Intendente Municipal, senador Antonio José de Lemos, @ nos jornais da época, o que nos faltava para completa aquéle periodo e dar coméco a0 capitulo relative 20s dois primeiros decénios do século XX. Fomos amontoando conheci seus aspectos arquiteténicos, @ mentos sbbre noves sistemas de residéncias nos dos servigos ligados 20 interésse publico. Percorremos, assim, os trechos mals importantes dos sistemas de viagao, limpeza, iluminagao, abastecimento de agua potavel, embelezamento da capital através da sua arborizaggo, Tuas. travessas, pracas, jardins © detallies outros, todos ligadas, porém, & vida social @ administrativa de Belém. Anotamos com o merecide destaque @ relacdo dos proprietérios das casas de sobrado, térreas, telheiros, palhogas existentes na cidade até principios de 1880. 0 cansago. impediu-nos de ir até os dias atuais, 0 que faremos logo que nos seja possivel continuar @ estafante pesquisa. ‘Assim completaremos o ferceiro € ‘ltimo volume desta série de estudos sobre @ terra onde nascemos. Com éste esclarecimento submetemo-nos 3 justiga e benevoléncia de quantos nos souberem compreender. ERNESTO CRUZ pouco higiénicas. De chao bé sempre com altura suficiente para ao domicilio, traduziam, get rigdo das casas de moradia e dos estabeleci- een aa Cores, existentes em Belém, na segunda ee tade do século XVIII, é feita pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, na sua “MISCELANEA HISTORIL- CA PARA SERVIR DE EXPLICAGAO DO PROSPECTO PARA” oe ae este preciosa, honesta, magnifica, instrutiva, e com as minticias indispensdveis, do ano de 1783, quando estéve 0 sAbio baiano na capital paraense, observando a cidade em todos os seus 4ngulos. O depoimento que nos deixou é preciso € de ‘uma franqueza digna de registro, pois nada escapou & sua argiicia e andlise. E. ‘Vamos reproduzir as informagOes que tenham liga- Gao com éste estudo que nos propuzemos realizar. eae pote Belém estava dividida em dois bairros denominados da CIDADE e da CAMPINA. A cidade em si era plana, sendo as ruas mais estreitas do que largas, na maior parte irregulares, sem nenhum calgamento. sendo o seu fundo de tijuco, e com as dguas do inverno se transfor. maya num pantanal. Informa o naturalista que a rua mais larga aberta até o ano de 1784, era a da CADEIA no bairro da CAM- PINA, mas essa mesmo néo era tirada “a cordio desde o Largo do Palacio, até o das Mercés”, ndo tinha regu. laridade nem dimenséo oficial. Predominava nesta drea 0 barro e a areia, por isso mesmo nfo era tao pantanosa como a da CIDADE. Ti. ape e eae Cotlives, pouco sensiveis, no entanto. Somente a rua chamada do PALXAO, que foi depois denominada FORMOSA e & agora TREZE DE MAIO ERA CALCADA, porém de tal modo, com tao grande irregularidade, —“que antes nio o fora — acrescenta 0 dr. Alexandre Rodrigues Ferreira —, pela mortificagéo que rier nos pés os que a passeiam”. ao havia pedra no centro da cidade, para que as ieee Pudessem ser calgadas, e os edificios ‘evan tidal ‘orém, perto existia uma pedreira “de pedra areienta eral mineralizada de ferro, que transportam nas canoas para as obras de CASAS QUE AQUI FAZEM” ® — 12 Referia-se 0 naturalista 4 PEDREIRA DO GUAMA? E bem possivel, pois a area que ficava na proximi- dade do rio, tinha o nome de PEDREIRA, mencionado pelo historiador Domingos Antonio Raiol, Barfio de Gua- jard, nos “MOTINS POL{TICOS”, E esclarecia, em seguida, 0 grande naturalista : “O comum das casas em um e outro bairro, é serem térreas, porque suposto se levantarem algum pouco do nivel da terra, poucas sao as- soalhadas, e muito poucas se guarnecerem de paredes de PEDRA E CAL”. Ai esté uma informagéo importante, porque o pres- suposto € o da construgao, no século XVII, das casas de pedra e cal, como afirmam os cronistas baseados na tradicdo oral, e confirmada no exame do material em- pregado na erecao dos mais antigos edificios de Belém. Quando se examinam as casas, principalmente as levantadas no bairro da CIDADE ou seja a CIDADE VE: LHA, a concluséo a que chegam os técnicos, é a da exis- téncia de paredes fortes, feitas de cal e pedra, com a liga de andiroba. Continua Rodrigues Ferreira na sua preciosa infor- magao : “a maior parte das paredes é de frontal, e 0 método de as levantar consiste em levantarem ESTEIOS, que de ordinario sio de ACAPU, ou de SEPIPIRA, cujas & i fincam na terra com a cautela sdmente de as nao aguga- rem; em vez de PREGAREM OS CAIBROS que atravessam para fazerem 0 ENGRADAMENTO, ATAM-NOS com o TIMBO-TITIGA, e sem adu- barem o tijuco, nem mais vézes fazerem uso da colher, e trelha, mesmo & mao vao embugando o frontal, ..”. oa Depois déste trabalho inicial do levantamento esteic an pregamento dos caibros, € adubamento das pa- redes com tijuco, estava @ casa de pé. Faltava caiar conjunto, e isto era feito com cal, produzido eee dugio das eonchas chamadas sernambis, do ye “MINAS DILATADAS entre @ Vila Vigosa Cruz de Camuta, e 0 canal de Limoeiro”. —12 Sobre éste processo elucidava mais : “podem reduzir, como ja reduziu o capitaéo Luiz Pereira da Cunha as ostras, e sunambis de que também hé minas em Garutapera abaixo da. costa de Caité, ou com a TABATINGA, E as mesmas conchas sirnambis, ha tam- pém minas no rio CANATICU na Ilha Grande de Joanes, e nos Trios MARACANA e MARAPA- NY, abaixo do rio CURUGA”. 'Temos assim a indicagao precisa do método usado para a construcio das casas no século XVIII, e o do material empregado para aquéle fim. N&o escapou ao observador éste detalhe: para —“resguardarem das chuvas o lugar imediato aos ali- cerces, que nao tem, GUARNECEM-NO DE UMA SA- PATA de pedra e cal, revestida de tijolo”. Prosseguindo nas suas observac6es anota mais éste costume daquela época “Muito poucas séo no dia de hoje as CASAS COBERTAS DE PALHA dentro da cidade. Mas o comum das que tém TELHA, é o serem de TELHA VA. Sendo a terra tao timida, como é, vé-se bem que em vez de LEVANTAREM AS CASAS, e resguardarem da umidade as paredes eo chao, os MAZOMBOS (1) as fazem baixas, & rents mn Heoue ajudando a encarcerar mais chamadas GURUPEMAS (2), de um TE- cIDO DE FOLHA tio miudo, que apenas se dis tingue o vulto de quem esta detras delas; para isso mesmo as tecem, usam delas os MAZOM- oa como as rotulas em Portugal, porque RE- c nae QUE SE LHES VEJAM AS MULHERES Ee FILHAS, e que se Ihes DEVASSEM as ca- ee aliés néo hd mais do que REDES nas he oe casas (aposentos) interiores, poucos els € ésses de gostos e usos esquisitos”. a ) Filho de portugués com africana, Grande dicionario etmo~ \gico da Lingua (@) ‘Também chamadas. THE ao leco Ae lei —4 daquel ; ralista de MODERNAS, as mel proprietarios : a de Manoel } situada & esquina do largo das | de Sousa Azevedo, — vulf te ch NHO; a de Joio Manoel Rodr Goncalves, no principio da rua da CONSELHEIRO JOAO ALFREDO), e 2 de de Matos, no fim désse mesmo 10, Das mais antigas, Ferreira, as sofriveis eram a de d« Vigario Geral, a do coronel de Sousa Feio. Havia um teatro em Belém, lugar onde foi mais tarde cipal, tendo servido igualmente para. de Justiga e da Assembléia Legislativa, como estadual, E onde funciona a Pr pal de Belém. Désse teatro, dizia o sébio baiano, fundo, ao menos pro} & gran mento da casa, que era deixava de ter suas vistas de algum Outro esclarecimento que serve P preocupagdes dos moradores, XVIHL, era o de nfo haver que bebiam, era a que enterrado na areia, no c ou PAUL D’AGUA existente me, depois denominada VERNADOR JOSE Telo de Menezes, de} a agua descoberta onde DE AGUA. tante obra, sim foi construida uma nova casa com a mesma Reeanated de MAE DE AGUA, inaugurada solene- mente no ano de 1783. ‘ ‘ A frente da construgao foi aposta a seguinte le- bonis vencidos feliamente pela indiatria da arene das as grandes dificuldades da natureza, que em MAIS DE UM SECULO se julgaram insupe- raveis, o Senado da Camara d’esta Cidade a expensas proprias, féz construir a presente MAE DE AGUA nativa para uso e beneficio ge- ral do publico dela: sendo Governador e Capi tao General do Estado o Ilmo. Exmo. Snr. José de Nadpoles Telo de Menezes; Presidente do mesmo Senado o sr. Juiz de Fora José Pedro Fialho de Mendonca; e Vereadores o Tenente Coronel Manoel Joaquim Pereira de Souza Feyo, o ajudante Jerénimo Manoel de Carvalho, Luiz Vargo Rolim, e Procurador, Joao do Amaral Coutinho, ano de 1783”. A dgua era de md qualidade. Tinha um sabor amargo. A populacdo procurava beber a do rio, e dos igarapés mais préximos, sofrendo as consequéncias das impurezas. ae os ae ae nem sempre a dgua era melhor cavacoes foram feitas A Ocura are saciar a séde dos moradores, prea a Os mais procurados os sit IS vent Santo Anténio, que estava seentaane Sneae a mos de profundidade, com dois palmos de dgua ee Parte do mar dispunha de igual quantidade fino da Horta do Seminério, que também este eo © i : stava sdbre ¢ fouls pera F Gucio palmos, desde a superficie da ter borda do man se © do Parque mais afastado da Bi eo Gee. palmos de fundo, inclui- Shim 20 meio palmos dela; 0 da cacy Govern® stave it ‘ . r. Ouvidor ‘ada no sitio mais elevado da eldade, tinha de fundo Tais observagdes foram feitas dr. Alexandre Rodrigues Ferreira, no dia 23 ae dares de 1784, quando os habitantes se queixavam da, falta das chuvas, embora fOsse 0 tempo delas, como ainda 6 comum na cidade de Belém, Afirmava ainda aquele naturalista que: “.,.tanto mais perto da terra se descobre a gua, mais pantanoso é o lugar para detrds da cidade. Enquanto se nao entulharem uns, e sangrarem-se outros alagadicos, fazendo-se os cortes que necessitam para a expedicao das aguas estagnadas, viverao sujeitos os habitan- tes &s enfermidades que procedem do ar cor- rupto nas aguas encharcadas e assim conser- vado dentro das matas”. A respeito do clima de Belém, avanga o sdbio baiano este comentério que se generalizou pelo Brasil a fora, sobre a hora certa de CAIR A CHUVA na capital para- ense. Diz éle: “_O clima, sustentam os velhos que esta mu- dado; antigamente, dizem éles, que TODOS OS DIAS SEM FALTA PELAS DUAS HORAS DA TARDE era certa a trovoada, de sorte que era estilo corrente entre os negociantes avisarem- se inutuamente, que em PASSANDO A TRO. VOADA se encontrariam neste, ou naquele lu- gar”. Se houve, realmente o hortrio certo da chuva, foi modificado com o decorrer do tempo, A chuva cai, de manhf, a tarde e & noite, sem hora certa, com trovoada ou sem ela, Mas a fama permanece. EF ainda ha gente aue per- gunta a hora infalivel da chuva, em Belém! No ano de 1783 a populagéo era estimada —“em 11,000 e tantas almas, entre brancos, indios e pretos de ambos os sexos, e desde a idade de um até sete anos, e até a de mais de noventa, Os fogos (moradias) chega- vam ao ntimero de 1.422; e o comprimento da cidade desde Santo Antonio até 0 Carmo nfo passava de um quarto de légua; a sua largura tomada desde a praia —17 pela rua do LANDI (agora PADRE PRUDENCIO) don- tro até a aldeia nova vird a ter metade do comprimen. to”. Vem a seguir éste interessante registro : “...0s filhos de branco e preto, sio mulatos; de branco e india, mamelucos; de indio e preta, cafuzos; os de preto e mulata, mesticos; os de mulato e india, caribocas”, Estas as informagdes colhidas nos APONTAMEN- TOS de Alexandre Rodrigues Ferreira, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, que copiamos. O dr. Manoel de Melo Cardoso Barata nos seus “APONTAMENTOS PARA AS EFEMERIDES PARA- ENSES”, revela 0 edificio que chamou do Passinho mas, era, realmente conhecido por PALACINHO, que existia em 1784, no angulo da rua da CADEIA com a travessa do PASSINHO (agora CAMPOS SALES), ccns- truido de pedra e cal. Acrescenta mais a casa do negociante Jerénimo do Porto (Jerénimo José do Vale Guimaraes), casado com a secre dona Catarina Maria de Loureiro. sua residéncia possuia dois pavime: 28, trufda na rua da CADEIA, canto ds craves ae MER- CES (hoje FRUTUOSO GUIMARAES). Fora esta cat tuosa casa mandada edificar Pelo negociante Manuel Raimundo Alves da Cunha, —“por planta ¢ ries i pein dosé Landi". Com a morte da Jerinim Aa ‘orto, passou a casa para o seu filho Jerénimo Cons. tantino do Vale Guimaraes, e depois — segundo ainds informa, o historiador Manoel Barata, ao ei Cee “4 ee to vale Guimaries e suas irmas. ae E naturalista Alexandr 7 ‘ phe a ae nos seus APONTAMEN TOS es oe + contudo, os interessantes detalhes | 1 aut pb « s as EFEMERIDES PARAENSES” ance o autor da: nee Vas ee caer Comandante do 5.° de arti- , s ‘em de Guerra, i fi 2 Delegacia Fiscal do Tesouro Nastunal pee IL HERCULES FLORENCE “VIAGEM FLUVIAL DO TIETE AO AMAZONAS DE 1825 A 1829” Traducio do Visconde de TAUNAY 1826 © naturalista Hercules Florence nasceu em Nice a 29 de fevereiro de 1804, viveu em Sao Paulo por cérca de meio século, falecendo em Campinas a 27 de marco de 1879. Séo informacgédes de Afonso de F. Taunay, no prefacio da primeira edicio da obra “VIAGEM FLU- VIAL DO TIETE AO AMAZONAS — de 1825 a 1829”, publicada em 1941. Chegou Florence a Belém no dia 16 de setembro de 1826, sendo hospede do general Joao Paulo dos Santos Barreto, entao comandante das armas da Provincia. Observando a capital paraense, o mogo naturalista confessou, de inicio que a cidade era bonita; que estava dividida em dois bairros, o da CIDADE e o da CAMPINA, achando-se naquele reunidos alguns vastos edificios, acrescentando que na principal praca da referida area ficava o Palacio da presidéncia, —“tida em conta do melhor de todo o Brasil”. A direita do palacio viam-se os restos de um grande teatro, caido em ruinas. Pos- teriormente, 0s alicerces foram aproveitados, e também algumas paredes levantadas de pedra e cal, e ali cons truido o Palacete Municipal, onde passou a funcionar a Camara, a Justiga, e em seguida a Assembléia Legis- lativa. Era chamado de PALACETE AZUL, por causa da cor das paredes externas, mudada depois para a tona- lidade rosea, Funciona ali, na atualidade, a Prefeitura Municipal de Belém e a Camara Municipal, A Assem- bléia Legislativa, o Tribunal de Justiga e 0 Poder a gislativo, ja tém novas e imponentes instalacées, Palacios construidos especialmente pelo goveinador Alacid da Silva Nunes, projetados pelo engenheiro José Maria Barbosa, Secretario de Estado de Viagio e Obras Publicas. A esquerda da praca onde ficavam as ruinas do tea- tro, estava erguida a Catedral, —‘no fundo de um largo de menores dimens6es (da SE e depois D. FREI CAETA- NO BRANDAO), belo templo do mesmo estilo e tama- nho que o de Sao Francisco de Paula no Rio de Janeiro”. — a1 Nessa praca — prossegue informando Hercule~ Florence, ficavam também : « 1a igreja da MISERICORDIA, 0 palicio do bispo, antigo colégio de jesuitas, oO hospital e um fortim banhado pelas aguas do rio (o do CASTELO). Seguindo uma rua bem reta que da Catedral se dirige para 0 poente, chega-se ao Arsenal de Marinha, onde vi no estaleiro uma fragata de 54”. Ha no livro do naturalista francés uma revelagao interessante sébre o Palacio do Govérno, assunto ja anteriormente exposto por outro naturalista que visitou Belém, no século XTX. Escreve Florence na sua obra: “Contaram-me que o ilustre Marqués de Pom- bal concebera s6bre os destinos do Brasil e particularmente da provincia do Parad, o plano extraordindrio que jamais preocupara 0 pensa- Mento de um homem de Estado, plano qu realizado nao encontraria igual na histdria se- nao a célebre retirada dos hebreus do Egito Como se sabe, a corte de Espanha nunca po dera ver com bons olhos aquela nac&io portu guésa, pequena em dimenséo, mas de an’mo sempre firme em nfo se sujeitar como tinhem feito as suas treze irmas ibéricas. Quando o gabinete do Escurial nao ameacava diretamen- te a independéncia lusitana, suscitava aos esta- distas de Lisboa mil inquietagées, ora com questitinculas na Europa, ora com dtividas sé bre limites na América. Talvez, também ja previsse 0 ministro gue o Brasil, mais anos ™menos anos, se tornaria independente. Por tudo isso IMAGINARA O PLANO DE ENTRE- GAR A ESPANHA O TERRITORIO DE POR- TUGAL recebendo toda a porc&o espanhola da — 22 America meridional, TRANSPORTANDO A NA- CAO PORTUGUESA em massa para o Brasil. Formar-se-ia no continente europeu um Impé- tio, constituindo-se outro de extraordindria grandeza no NOvo Mundo, colocado todo de- baixo do cetro da casa de Braganga. Na esperanga de fundar 0 mais vasto Império do mundo e querendo levantar-Ihe a capital & margem do maior rio da terra, tinha 0 Minis- tro _escolhido a CIDADE DO GRAO-PARA em razéio de sua colocagao s6bre o Amazonas, cujo curso de milhares de léguas é caminho franco e aberto para os Andes, tornando-se os seus grandes tributdrios outros tantos bragos de comunicacgio com a América Meridional”. O naturalista conclui a sua fantdstica explanagao sdbre a instalagio do vasto Império portugués na Amé- rica, e que teria como capital a cidade de BELEM, sem- pre chamada pelos demais naturalistas e visitantes de PARA ou GRAO-PARA, com éste trecho : “Li uma MEMORIA escrita, na qual vinha uma exposigio désse giganteseo plano. Quimérico ou nao, diz o autor, a @le deve a provincia do Para os progressos que féz no govérno do Mar- qués de Pombal, vendo sua capital enriquecida de GRANDES EDIF{CIOS, tais como o Palacio do Govérno, o teatro, o arsenal, etc. Nesse tempo também se construiu a fortaleza de Ma- capa, mudando-se, talvez para tornar mais pgr- tuguésa a regio téda, os NOMES DAS CIDA- DES E POVOACOES de indigenas, que eram, para outros de cardter perfeitamente lusitano, tais como Santarém, Obidos, Alter do Chiao, Almeirim, etc.”, A incumbéncia da mudanga dos nomes das locali- dades onde predominavam as denominag6es indigenas, coube ao governador Francisco Xavier de Mendonca Furtado, irmio do Marqués de Pombal. — 23 Pearcaenrs do Bein oe ae nae z sil, e a instalagao um grande Império na América, que teria como capital a cidade de BELEM, foi, talvez, ee eae, oe ieee do terran 6a justificaria, simplesmente com a troca de terras e 0 transporte, em massa, da populagdo portuguésa para c _ Este o derradeiro capitulo do livro de Hercules Florence, a propésito da capital paraense, por éle visi tada, no ano de 1826. Decorridos 56 anos da presenca de Alexandre Ro- drigues Ferreira em Belém, Antonio Ladisliu Monteiro Baena apresentava na sua importante obra intitulada “ENSAIO COROGRAFICO SOBRE A PROVINCIA DO PARA”, uma nova feicao da cidade, mais desenvolvida, com edificios apropriados a instalagao dos servigos publicos, novas casas residenciais, que desde o ano de 1804 passaram a ser numeradas, o que nao existia ao tempo do naturalista baiano, Para conhecer ésse aspecto de Belém em 1839, ou para ser mais exato, em 21 de marco de 1833, quando Baena acabou de escrever a referida obra, vamos acom- panhar o historiador e gedgrafo através das suas pa- ginas, Trata-se de um depoimento valioso, de esclareci- mentos indispensdveis a quem deseja acompanhar 0 adiantamento da capital paraense no decorrer do tempo. Principiamos, pois, com estas informag6es, até en- tao nao reveladas pelos autores ja citados : “Consta a cidade de 35 ruas de largura conve- niente em umas, e minguadas em outras; dez sao por ora meros caminhos recém-abertos, dos quais alguns estéo sendo de rarissimo uso pela sua ma qualidade, e pelos algares procedi- dos das enxurradas; e vinte e cinco sfio orladas de EDIFICIOS na maior parte POLIDAMENTE CONSTRUIDOS E SIMPLES; muitos de UM ANDAR e POUCOS DE DOIS; as mesmas ruas imperfeitamente alinhadas, muitas destituidas de CALCADAS, e outras mal empedradas, po- rém TODAS ASSINALADAS desde 1804 com uma inscric¢ho ALVA EM CAMPO NEGRO ¢o respectivo nome nas esquinas, e 0s EDIFICIOS distintos pelo NOMERO ESCRITO NA VERGA DA PORTA & semelhanga das denominacdes das ruas, as quais sfio as seguintes: do ACOUGUE, da BOA VISTA, do NORTE, de SAO BOAVEN- TURA, estas trés estéio na frente maritima; rua do ESP{RITO SANTO, dos CAVALEIROS, co ALJUBE, da ATALAIA, LONGA, da ALFAMA, = it da BARROCA, dos FERREIROS, de SANTO ‘AMARO, do BOM JARDIM, NOVA DO PIRY, SAO JOSE, dos MERCADORES, FORMOSA, de- SANTA ANA, das FLORES, do BAILIQUE, da CRUZ DAS ALMAS, dos QUARENTA E OITO, — de BELEM —esta rua ainda em projeto—, de SANTO ANTONIO, das MERCES, de SAO VI- — CENTE, do PAU D'AGUA, de SAO VICENTE DE FORA, NOVA DO PRINCIPE, NOVA DA GLORIA, NOVA DA PRINCEZA, dos MARTI RES. As ruas comunicam-se por 31 TRAVESSAS, das quais so 18 sio CONTORNADAS DE CASAS. Fis os nomes de todas: da RESIDENCIA, de AGUA DE FLOR, dos CAVALEIROS, da VALA, da QUEIMADA, das CANELEIRAS, SSENAL, do PELOURINHO, do BAILI- QUE, de CAETANO RUFINO, do ESPIRITO TO, de SANTO ANTONIO, dos MIRAN- das GAIVOTAS, do ACOUGUE, da MISE- das FLORES, de SAO VICENTE. da OLARIA, da GLORIA, da PRAIA, an el TRELA e de SAO MATEUS, na qual se extre- mam as duas Freguesias, principalmente a da CAMPINA do lado oriental, e do lado ocidental Os largos so 12, cinco grandes e sete enc ANTO ANTON: de SANTA ANA, o das MERC Oe ae Poe © do ROSARIO, o de SAO JOAO, o do GARMO, © aquéles sio'o da POLVORA, 'o dos ne a 0 de PALACIO, o da SE e 0 de SAO el ntre os quais o da POLVORA 6 o maior. ps lepois déste o de PALACIO, cuja drea foi de- ea. pelo General José da Serra, 0 qual aie im comprou 0 ALAGADICO por onde _ pa esteiro ou pegueno igarapé, que do nirava No PIRY pelo sitio, em que hoje — AVER DO PESO (Ver-o-péso) racas de largura e 85 de compri. — 28 Faz, em seguida, ampla explanagao sObre as igrejas, dando a denominagdo de cada uma, que nao mudou, mencionando, igualmente, a Capelinha da travessa do PASSINHO, atual CAMPOS SALES, pertencente aos herdeiros do seu fundador Ambrosio Henriques. Ha referéncia a Capela entao existente no primeiro pavimento do Palacio do Govérno. Baena nfio menciona os ORATORIOS citados por Alexandre Rodrigues Ferreira, construidos em Belém, e por éste vistos, no ano de 1793-1794, bem possivel que decorrido quase meio século depois da permanéncia do saébio baiano na capital para- ense, aquéles ORATORIOS nao mais permanecessem nos lugares indicados. Prova é a construgao de Am- broésio Henrique, e da Capela dos PASSOS, anexa aquela residéncia do abastado capitalista, Nao tinha, pois, mais razio da permanéncia do ORATORIO da travessa do PASSINHO. A populagio de Belém, no ano de 1833, era esta: Freguesia da Sé— Moradores livres . 3.024 Escravos 2.942 5.966 Freguesia da Campina— Moradores livres . 3,748 Soe 2.775 6.523 Escravos . 12.489 Déste total eram moradores livres 6.772 e escra- vos 5.717, Nasceu o naturalista Henry Walter Bates em Lei- cester no dia 8 de fevereiro de 1825, e faleceu no ano d> 1892, com 67 anos de idade. Chegou a Belém no dia 28 de maio de 1848, tendo permanecido na AmazOnia até 2 de junho de 1859. Da sua permanéncia nesta cidade de Belém, deixou- nos impressio magnifica, nas paginas da obra gue e3- creveu sobre a capital paraense. Disse : “A temperatura informe, a vegetag&o perene, a frescura da estagao séca, quando o calor do sol 6 amenizado pelas brisas marinhas, e a mo- deragio das chuvyas periddicas fazem do seu clima um dos mais agradaveis da face da terra”. Encerrou no seu livro, em dois volumes, sob 0 ti- tulo de “O NATURALISTA NO RIO AMAZONAS” pre- ciosas informagées. Destacaremos as que dizem res- peito as casas residenciais de Belém, naquela primeira metade do século XIX. ‘Ao desembarcar observou que o aspecto da cidade ao amanhecer, era dos mais apraziveis. Acrescentou que ela estava —“construida em uma faixa de terra bai- xa, apenas com uma pequena elevagio rochosa na sua extremidade sul, de modo que, vista do rio, nao se mos- tra como um anfiteatro”. Grafa em seguida a impressio que teve vendo 0 casario BRANGO, com os seus telhados vermelhos, as torres e os zimbdérios das igrejas e conventos, as Copas das palmeiras que dominavam as construgdes, conjunto éste destacado na claridade do céu azul, davam —“uma impressio de leveza e de alegria das mais gentis”. A tarde desapareceria aquéle azul claro do céu, tor- nando-se éste de um cinzento escuro, prenuncio do aguaceiro que desabou, fortemente, deixando o natura- lista préso na residéncia do sr. Miller, que deu hospe- dagem, até encontrar nova moradia. — 33 Percorreu em seguida as —“poucas ruas perto do Porto, de EDIFICIOS ALTOS, tristonhos, com aspecto de conventos, habitados principalmente por negociantes em grosso @ a varejo e nas quais se viam perambulando soldados indolentes, metidos em velhas fardas e levan- do cuidadosamente ao ombro os mosquetées; padres, hegros carregando & cabega talhas de barro vermelho, indias de aspecto tristonho, com os filhos nus escancha- dos nos quadris, e varias outras amostras da vida mul- ticor do lugar...” Referia-se Bates ao atual Boulevar CASTILHOS FRANCA, onde foram construidos os edificios altos de Sobrado, de acérdo com a determinacao legal, que so permitia o levantamento de casas naquela drea, de frente para o mar, com esta caracteristica Os soldados deviam ser os da guarda da Alfandega ali situada, aproveitando o antigo Convento dos M2-ce- darios Calcados. Esta feito em outro capitulo o registro déstes so- brados com os nomes dos respectivos proprietdrios, e a numeracao gue tinham na época. Agora 6 Bates que informa, depois de percorrer ou- tras ruas : “AS casas eram tédas de um sé pavimento, de aspecto miserdvel e irregular, com as janelas sem vidros, tendo a substitui-los GRADEADOS DE MADEIRA (3). Do lado de fora das por- tas viam-se grupos tomando fresco; pessoas de todos os tons de pele, Europeus, Negros e in- a mas principalmente uma mistura do? O costume de sentarem-se as familias nas portas das suas casas, permaneceu por largo tempo. Era co- Mum ver-se grupos, usando cadeiras simples ou de em- balo, principalmente em noites de luar, em conversa i » Que Se prolongava até tarde, gozando do clima privilegiado que envolvia Belém, (3) Eram as chamadas URUPEMAS, mencionadas por Alexan- dre Rodrigues Ferreira, que anotou o uso das mesmas em 1783 - 1784. — 34 Esse habito foi, também, mencionado por outros naturalistas. Atualmente apenas nas ruas do suburbio enconira- mos alguns moradores, & porta das residéncias, conver- sando em grupos, como naqueles idos, de que nos fala Bates. Mas éste prossegue : “Havia nesses grupos algumas mulheres boni- tas, com as roupas em desalinho, mas com brincos rieamente trabalhados e com colares de grandes contas de ouro, Tinham negros olhos expressivos e cabeleiras notavelmente densas. DESLEIXO”, : sven Alude Bates as cércas de madeira que se} jardins cheios de mato, aquelas quebradas e os restos do que fora um cercado espalhados em t6rno. Raps, Os animais — fOssem porcos, cabras ou gall magras andavam na Tua e nos jardins. i Destaca, porém, a beleza da vegetacao, das Ses sas MANGUEIRAS entre as habitacoes _ rope ce laranjeiras em flor, limoeiros—” grande quant arvores frutiferas. Hai win cat 0 te sino do. alvores Ervclerss z fornecimento de m er o plas nas ROCINHAS, que possuiam dreas des para isso. ; eee PEOHaI que colecionamos, Pa ea rnais da primeira e segunda metade do peau 4 costar ° Ont ae interessados de variadas aE oe tia ene © habito dos proprietdrios das ROCINHAS de manterem estas bem ee pe colherem os melhores frutos, os mais cobigados, elévo e consumo. 5 moar retericele de Bates a0 agaiselro, ore ei ‘oucetr, 5 a tee OE A can sObre os te- ae ‘ tiados aa yvarandas em quase todos os quintais”; as — 35 érvores que produziam a fruta-pfio; as 3 5 saj outras drvores cujas frutas saborosas ne et De inicio, ou seja logo depois da sua chegada io, ua C) lém, Bates informa que nao se acostumou com on pase Cs ees o canto estridulo dos grilos, e: ‘oaxar e martelar dos sapos dos alagadicos pri ximog blk casa peace ae mais alto do ae ie entao vido —“jun lo-se aos demai um alarido quase ensurdecedor”. canasiadie bi ee nunca cessava completamente, dia e ata o transcorrer dc tempo acostumou-se ao barulh Sa penals moradores da cidade. a lo regressou a Inglaterra — Hénci oe dos dias estivais no campo me pares {ho eect ‘ confessa © naturalista — como o ruido confuso : ons 0: eine chegada ao Pard. Miriades de a am entéo nos bi ii a Bees eerie taane®, josques sombrios e até pelas Segue-se uma descricA i onhy “se U 1 icdo da capital, com: ceu nos primeiros dias da excursao cientifica ce Belém. ais ae de discorrer sObre o terreno, embora baixo Be @ sua extensio, mas levemente ondulado, de modo a dar alternativa as zonas de terra séca e alagada descreve a drea onde tinha a sua moradia ; : “Nossa residéncia estava na idade 4 ry arte i mais proxima do Guam, & bates (Beni des- ee areas baixas e alagadicas que ai se esten- lem s6bre uma parte dos suburbios, Estes sao eonindos por estradas BEM MACADAMIZA- Das das quais a principal é a estrada das INGUBEIRAS (4), de cérca de uma milha de Pepeupeni. i uma magnifica avenida de paineiras L bax Monguba E B CEIBA), fee ‘nae cujos troncos rapidamente diminuem de dia- ee ano acima do solo e cujas flores, antes desabrochar, parecem bolas a : ean vermelhas nas — 36 Fala das fontes ptblicas onde negras barulhentas lavavam roupas. Depois de haver deixado a rocinha do sr. Miller, passou 0 cientista a residir em outro sitio que alugou na entio chamada ALDEIA DE NAZARE, agora praca JUSTO GCHERMONT, Vejamos, entao, através da sua propria narrativa, como era aquele sitio. O proprietario da casa onde passou a morar era um portugués chamado Danin, dono de uma Olaria na boca do UNA, Era fabricante de te- lhas e€ tijolos. A nova residéncia de Bates era —“um edificio qua- drado, com quatro salas do mesmo tamanho. O quin- tal, que parecia recentemente roubado a floresta, era plantado de arvores frutiferas e de pequenos trechos com rogas de café e mandioca. Entrava-se por um portao de ferro, que dava para uma praca GRAMADA, em torno da qual estavam as POUCAS CASAS e MU- AMBOS cobertos de palha, que entao formavam a al- de alista éste interessante escla- Acrescentava o natur io em que ficava a sua casa : recimento guanto a0 Angul “OQ edificio mais importante era a CAPELA DE NOSSA SENHORA DE NAZARE, que se ergula defronte de nossa casa”. Ficamos sabendo, entio, que a ROCINHA do sr. Danin, onde o cientista viveu por algum tempo ficava situada no velho ARRAIAL DE NAZARB, lado oposto a Capela daquele tempo, Basilica dos nossos dias. Outras importantes revelagOes escreveu 0 autor de “Q NATURALISTA NO RIO AMAZONAS” em sua mag- nifica obra. Vejamos estas : “Tnstalamo-nos entio para alguns meses de trabalho regular. Tinhamos a FLORESTA de trés lados; estava-se NO fim da estagio chuvo- sa; as aves, em sua maioria, tinham acabado a muda, e cada dia 0s jnsetos aumentavam em niimero e variedade, Atras da ROCINHA, a0 — 37 dias de exploragio, encontrei fen Me ap veredas na floresta, que levavam A estrada do UNA, A meio caminho ficava a casa onde os célebres viajantes SPIX e MAR- TITUS tinham residido em 1819, durante a sua estada no Para”. Revelando aspectos da vida religiosa paraense, diz que os dias santos eram tio numerosos, perturbando o funcionamento do comércio e industria, que em 1852 0 govérno foi obrigado a reduzi-los, obtendo a necessaria permissao de Roma para abolir alguns de menor impor- tancia. Refere-se ao Cirio e a festa de Nossa Senhora de Nazaré, e também a de CORPUS-CRISTI, celebrada no largo da TRINDADE, todo iluminado em volta com ba- lées_venesianos. E menciona éste detalhe : “Em um dos lados (do largo) erguia-se belo pavilhfio cujas colunas eram formadas por pal- meiras em leque, a MAURITIA FLEXUOSA trazidas da floresta com estipes e capitéis inteiras e fixas no solo. O coreto era ilumina- do com limpadas de céres e forrado de pano branco e vermelho. Ai se sentavam as damas, nem t6das de puro sangue caucdsio, mas apre- sentando bela amostra da formosura e elegan- cia do Para” De Belém foi oO eminente naturalista para o interior paraense. Relacionou copioso material colhido nessa €poca, para os seus estudos. Revela a sua estada em Cameta, na baia do Marajo, em Obidos e Manaus. : Mais trabalho cientifico do que outro q i u yualquer tipo de pacemaneo, sObre a vida social da Amaz6nia ‘ ‘ou, no entanto, s6bre a cidade de Belém, ume ee pacottante, honesta e fiel. eee racas & sua obra conseguimos divisar a pee do século XTX. dias como era. Fielmente. Sem os retoque: pudessem aformosear, nem ao ae ; areca venice, com os resmungos dos ho- — 88 ALFRED RUSSEL WALLACE “VIAGENS PELO AMAZONAS E RIO NEGRO” 1848 O naturalista Alfred Russel Wallace, nasceu a 8 de janeiro de 1823, em Usk, localidade de Monmonthshire. Desejando visitar uma regio tropical, veio para o Para, desembarcando em Belém no dia 28 de maio de 1848, com apenas 25 anos de idade. AS suas primeiras impress6es sObre a cidade, dizem respeito ao aspecto da capital paraense, vista do rio “que é 9 melhor ponto de observagio, nao é mais es- tranho que 0 de Calais, ou de Boulogne”. Destacou as casas pintadas de branco, algumas igrejas e alguns edificios piiblicos NOTAVEIS, com as suas altas torres e ctipulas, Deixou-nos esta informaco interessante e preciosa, para ser conhecido o desenvolvimento arquiteténico da cidade, desde a presenga de Alexandre Rodrigues Fer- reira, em 1783 a 1848 ou seja mais de meio século : “As platibandas e cornijas das casas revestem- se de pequenas plantas, e nos altos das paredes e nichos das igrejas véem-se musgos, relvas e mesmo arbustos ou 4rvyores de pequeno porte. trans! uma ROCINHA ou casa de campo, de proprie- dade do sr. Miller, e situada a cérca de meia milha da cidade, gentilmente posta & nossa disposigio, até que, com mais vagar, mos encontrar outra mais proxima. Nao ha aqui GAMAS nem COLCHOES, usando- se em seu lugar as REDES, trangadas de fio de algodio, que oferecem pom cémodo para sé dormir e que sao mage oe conv! r causa da sua pol " ye rédes, algumas cadeiras, constituem todo o nosso mobiliirio mais indispensdvel”. As casas nado tinham FORRO; as igrejas e os edifi- cios ptiblicos eram bem vistosos, muito embora 0s oe tragos que apresentavam pelas — 41 —“als retoques extravagantes, que neles tém sido ice os tem prejudicado, afetando-os”, Nao deixa Wallace de referir-se 4s Tuas e pracas, achando-as pitorescas, ndo s6 por causa —‘das bonitas CASAS e IGREJAS, que as contornam, quer por causa das elegantes palmeiras, oue juntamente com as bana- neiras, se ENCONTRAM POR TODA PARTE”. Para o naturalista as casas de Belém, mais pare- ciam CASAS DE CAMPO do que mesmo VIVENDAS de uma grande cidade Referia-se As ROCINHAS espalhadas em diversos bairros e ruas da capital paraense. Esse era 0 costume da época e, uma das caracteristicas da cidade. As ROCINHAS predominavam, constituindo o con- forto que, principalmente os estrangeiros, ingléses e americanos pretendiam encontrar. Mas, como eram as casas comuns? Responde Wallace : “., drregulares ¢ baixas, e, na sua maior parte, de alicerces construidos de uma PEDRA FER- RUGINOSA. muito comum nos arredores da cidade, e paredes embocadas”. ; E 14 vinha a confirmacéo do que Alexandre Ferreira vira, ainda no século XVIII e anotara corretamente nos seus manuscritos : “...€S janelas nfo tinham vidracas, e no lugar destas, na parte mais baixa, sao TAPADAS com um engradado de PANO, suspenso na parte de cima, de modo que 0 fundo é movel, e pode-se obter um répido golpe de vista para os lados, numa e noutra direcao, por detras dos quais vimos muitas vézes, surgirem uns olhos negros, que resplandeciam quando passdvamos”. ‘ Observamos, por esta interessant haviam sido substituidas as URUPEMAS de catce” por engradado de PANO, Permaneciam, assim, as se- nhoras e suas filhas, resguardadas dos olhares e provo- —-2 cagdes dos homens, muito embora diga o naturalista Wallace que conseguiu divisar uns olhos negros, através da fazenda que tentava evitar aquéle vislumbre, das ponitas moradoras das casas térreas de Belém... Outra noticia digna de registro: as cOres AMARE- LA e AZUL, eram geralmente empregadas : “na decoragao das pilastras, portas e jane- Jas das casas e das igrejas, sendo estas cons- truidas obedecendo a um adulterado e pitores- co estilo italiano”. Outro detalhe indispensdvel a quem deseja saber 0 lugar onde mais estavam construidas as afamadas RO- CINHAS do século XIX, é éste: “adiante das ruas da cidade, caminhos abertos naqueles tempos, existia uma grande drea cor- tada de estradas e de travessas, que se cruza- vam umas com as outras em Angulos retos, es- tavam as ROCINHAS, havendo uma, duas ou mais, em cada QUARTEIRAO”, Agora a descrigao dessas famosas CASAS DE CAM- PO tao apreciadas pelos seus moradores : E a populagao da cidade que ocupava as casas tér- Teas, os sobrados e as ROCINHAS? Temos, daquele ano de 1848, éste esclarecimento : “Véem-se 0 inglés, de faces coradas, parecendo tao bem adaptado como nos climas frios de sua terra natal; 0 americano pdlido, o portugués tngueiro, os brasileiros corpulentos, os sorri- dentes negros. 0s indios indolentes, de corpo em geral bem conformado, e entre éstes umas cem sombras e misturas, que exigem vista es- perta para as diferencar”. Agora o vestudrio dos moradores de Belém : “Os habitantes brancos trajam-se geralmente com muito esmero, usando vestuarios de fino e alvo linho, conservando-os sempre muito lim- Pos, Alguns usam casacas pretas e gtavatas e, quan- do assim trajados, com o termémetro a 85 ou 90 gréus, 4 sombra, parecem incémodamente vestidos. oO vestudrio dos homens, se negros ou indios, consiste simplesmente em um par de calcas de tecido branco ou listrado, ao qual, as vézes, acrescentam uma camisa do mesmo tecido. As mulheres e mogas, nos dias de mais pompa, costumam trajar de preferéncia VESTIDOS BRANCOS, o que produz um agradavel efeito ‘ Pelo contraste de suas peles pardas ou de um negro lustroso. Nestas ocasides é que um es- Ae ane espantado ao observar € colares, u: - aes, muitas das quais Rhee As senhoras, nas noites de juar, isto até noite, » as 8 hi es » Costumavam passear pelas Tuas centrais ¢ de on at os moradores das , b S, 0 mente, ficavam sentados nas portas da rua, com a ca- beca descoberta e em de camisa, até 9 ou 10 horas da noite, despreocuy do clima, da brisa e do orvalho, que tanto os estrangeiros receavam. Depois de certo tempo Wallace mudou-se para outra ROCINHA edificada no arraial de NAZARE. Era de um sé pavimento, com quatro grandes quartos, rodeada por uma larga varanda. No quintal havia guantidade de drvores frutiferas, tais como: laranjeiras, sapotilheiras, abricozeiros e um grande cafezal. Tudo tipico das ROCINHAS tao agra- daveis, de Belém do século XIX. subtrbio, em trajes leves, cabelos ao vento, enquanto ROCINHAS, brasileiros, e 5 shillings, importaéncia essa considerada muito ele- vada para a cidade. da Os negros que moravam nas cercanias NHA cuidavam da plantagao de café, de mandiéca e das arvores frutiferas. Aqui findamos com a narrativa de Alfred & Wallace, companheiro de Bates, na sua f Para, pois, depois de um grande p cia em Belém, ambos, xiana, Marajé, rios Alegre, Barra do Rio Javita, rios e po 25,000 habitantes, Naquele primeiro ¢ igrejas, o Convento das a Alfandega, e o Palacio como um dos melhores | As ruas da capital tinham br seguir. : Viam-se muitas CASAS D nitas —“verdadeiros paldcios ANTIGAS, do tempo em que o Brasil, e o Para deveria ser uma. Mas ficou horrorizado ern ram em Pernambuco, como seni Conta o gue Ihe sucedeu: — “Quando transpus a p parecia exatamente um 4 tuguéses, ou cortigos do Rio. § cheiro repelente me ¢ nduseas. Fora ésse, cidade, pelo menos n O dr. Robert Avé-Lallemant descreve, entao, a im- io que Ihe causaram as ruas pacatas da cidade. Por causa do calor equatorial, e todo 0 movimento e esférgo desnecessarios, até chegar ——“ao campo para @ chamada ROCINHA”, Ali tudo se transformava num vasto parque. Da em seguida esta informacgéo que nao escapou aos demais naturalistas : “As vicosas BANANEIRAS ensombram lindas casas de campo E mais mangueiras, laran- jeiras, cafeeiros e tudo o mais que a vicosa ve- getacio tropical pode apresentar: tudo isso se AGLOMERA EM REDOR DAS BONITAS CA- SAS DE CAMPO, nas quais 0 paraense procura escapar a canicula tropical”. Esta outra revelagio é bem interessante “As casas de campo (ROCINHAS) ¢ a vegeta Gao alcancam téda a sua beleza, SOBRETUDO NAS PROXIMIDADES DA IGREJA DE NA- ZARE. Uma pequena igreja, com uma praca relvada, celebra todos os anos a grande festa comemorativa do milagroso salvamento dum naufragio e das angustias da morte, realizado pela Mae de Deus. A cidade inteira acorre a essa festa e diverte se, esvaindo-se em suor 0s europeus, sob 0 ca lor tropical. i vi oes DE CAMPO DE MELHOR GOSTO rocinhas) e reintegrei~ is perfeita ct Rete gaticn, grei-me na mais perfeita cul E logo ali perto a cottage de Mr. Hendersc Mr. Henderson é um comerciante inglés, aime disse adeus & caprichosa Fortuna e a Merctirio para homenagear 0 mundo das Hamadriades”. Foi num caminho que levava & fl loresta situada nas genes da igreja de Nazaré, que o antigo cone ciante britanico construiu a sua casa, completando-a — 50 com moéveis ingléses e uma biblioteca onde avolumcu livros filosdficos, cientificos, religiosos, Vivia isolado, na sua casa, num ambiente de cultura que satisfazia todas as suas ambig0es. O ar. Robert seguiu viagem pelos municipios para- enses, anotando as impressOes que lhe causaram. Foi até Manaus e regressou a Belém. Visitou a colonia de NOSSA SENHORA DO 6, na ilha das Oncas, onde a pertindcia do sr. José do © de Almeida conse- guira, com a ajuda de muitos colonos, dar animagio e condigdes @ sua propriedade. © médico alemfo s6 se entusiasmou com es aspec- tos da natureza que a colonia oferecia. ‘Tudo o mais é burla, afirmava com aquela exponta- neidade e franqueza que observamos na sua obra. — 51 O porto de Belém, Desenho da época, D. P, Kidder e J. C, . — “O BRASIL E OS BRASILETROS” — (Esbé¢o. Historieo e Deseritivo — 1857 - 1862, 2° volume), ‘sta 6 uma amp! em dois volumes, Do s mu et u Jas com gelosias sao mais freq a. com VIDRAGAS, porem algumas « tam ésses dois complementos, dando-se rencia as GELOSIAS (rotula de janela da qual pode alguem ver sem ser visto, pelos colonizadores portuguéses, inici te) na estacao seca. e Em lugar de alcOvas pequenas, escuras @ yentiladas, e camas pouco asseadas para mir, existem aqui rédes, suspensas, presi ganchos que se veem em todos os cantos d grandes salas, € atravessadas em t6da a@ tensaio das varandas. A Algumas residéncias possuem ésses d vos em niimero suficiente para se fixarem des para CINCOENTA ou SESSENTA p & noite, sem 0 menor TRANSTORNO”. 3 Informa 0 missiondério Kidder, que os descendentes: dos portuguéses e africanos, nao diferiam, realmente, dos demais que habitavam outras provincias brasileiras, mas No Par, 0 seu ntimero nao era grande. Em com= pensacdo, predominava a raga indigena. Nao sOmente 0s indios de puro sangue, como aquéles resultantes da mistura com brancos e pretos. O dr. J. C. Fletcher deixou, também, nesta mesma obra as suas interessan= tes observacdes. Cita por exemplo, o grande niimero de CASAS NOVAS construidas em 1867, desde a drea da Alfandega a0 Forte do Castelo. _ Naquele tempo, em substituigio & réde dos velhos veiculos portuguéses, vinico meio de transporte, @m Belém, estavam em uso, cérca de 50 carros —fabrica- dos em Newark e Boston— para a condugio dos mora- dores e visitantes da cidade, até & estrada de NAZARE, pela quantia de 25 réis por passageiro. A respeito déste progresso, anota Fletcher : “Se senhoras antigamente faziam seus passeio pptias carregadas numa LITEIRA, hoje |, passei hum carro puxad uma relha de CAVALOS CINZENTOS”. Outros detalhes interessantes, nao relacionados com os objetivos desta obra, mas informativos dos costumes. do tempo, sio éstes : “Hé geralmente, muitas canoas aglomeradas, em volta da PONTA DA PEDRA (nao era PON- TA e sim PONTE), a principal praca de desem- barque. Essas, juntamente com uma multi- dao de indios apressados de 14 para cd, falando os dialetos misturados do Amazonas, sao ca- racteristicos do Parad. Aqui, se podem ver car- regagoes de castanhas do Pard, cacau, bauni- Tha, abacaxis, salsaparrilhas, canela, tapioca, balsamo de copafha (azeite) em potes, peixes sécos em pacotes, e cestas de frutas de infinita variedade, tanto maduras como verdes. Ha também, ai, papagaios, araras, e outras aves, de brilhantes plumagens, e, 4s vézes, macacos e serpentes, juntamente com SAPATOS DE BOR- RACHA, gue séo geralmente levados ao merca- do suspensos em longas varas para evitar o contato de uns com os outros. Esses sapatos antigamente chegavam em imensas quantida- des; mas, atualmente, a borracha é principal- mente trazida ao mercado sob a forma de pequenas placas”. Da ponte de pedra passou 0 comércio, citado pelo dr. J. C. Fletcher, para a déca do Ver-o-péso, como era feito desde o tempo colonial, quando t6da a produgio paraense passava pela Casa do Ver-o-péso, para 0 paga- mento devido de impostos, que beneficiava a Camara Municipal, ajudando-a no trabalho do calgamento, con- sérto de ruas da cidade, valas e esgotamento dos pan- tanos. igA i ‘AUL A distribuigio da dgua dos alagadigos do P. D’AGUA, para os moradores, na propria residéncia dés- tes, foi outro detalhe em que se deteve o missionirio. Assim trata 0 assunto : “Embora alguns cavalos trotées, e quasi esque- léticos, possam ainda ser vistos, caindo ao péso — 63 UATRO PIPAS D’AGUA, melhores oo para o Pard. O emprégo de m D ZENTOS carros d’égua, PUXADOS POR 6 um acontecimento que deve ser regist como um progresso da civilizagdo, e qi tra quantas melhorias as ruas macad Ao passo que a cidade defronta 0 TiO, 6S Seus) fundos sio rodeados por uma estrada sOmbriay que dificilmente se encontraria tio béla 6m qualquer outro ponto do Brasil. Aestrada das MANGABEIRAS (MONGUBER RAS, refere Bates na sua Obra) 6 um logradous ro gue se estende desde perto do Arsenal de Marinha, nas margens do rio, até o Largo Ga POLVORA, na extremidade oriental da cidade F cortada por avenidas, que vao desde o Largo: do PALACIO até 0 Largo do QUARTEL, O seu nome se deriva das mangabeiras (mone gubeiras) que a sombreiam de cada lado. A casca dessas drvores sombrias, 6 de cOr cine zento claro, regularmente estriada de verde; @ Seu produto é um algodio bruto, que pode ser usado para diferentes fins; 0 seu aspecto 6, a0 mesmo tempo. elegante e majestoso. Fora do atual recinto da cidade, pode o Vise tante mergulhar numa DENSA FLORESTA, @ tornar-se inteiramente alheio a qualquer indi- cagio de habitacdo humana préxima”, Este caminho ari Solitério sem casas pare dar mostras de Civilizacdo, ‘decomstel Segunda metade do sé que Fletcher anotou ane lugar aos eae Afirma éle que o est) is Tangeiro devia evitar perder 0 seu caminh e r pe ficuldades, iPS &st8va sujeito a aborrecimentos e diz " “ Passava a contar a histéria ouvida dos — 64 naturais, SObre pessoas que ficaram desnorteadas na espessura das florestas, muito embora a peguena di-- tancia da cidade, nado podendo encontrar o caminho do regresso. Varias pessoas —repetia o missiondrio o que ouvira dos moradores— morreram dessa forma. Nas caminhadas habituais pela cidade viu e anctou tomarem o costume de homens, mulheres e criangas banho no rio, completamente nus. Pertenciam 4s clas- ses inferiores, e nenhum constrangimento sentiam, quando eram vistos. Fizemos citagées diretas dos dois volumes intitu- lados “O BRASIL E OS BRASILEIROS”, para nao tirar © sab6r das observagdes dos seus autores, Acredita mos ser éste 0 meio mais facil e honesto de expor 0 conceito dos naturalistas e metodistas que estamos ci- tando. Assim daremos com as minticias indispensdveis o que escreveram ao tempo em que estiveram na cida- de de Belém. O que registraram, observaram, analisa- ram, expusemos sem retoques. eontinuaremos assim, para evitar possiveis adul- teracdes, que nao nos seriam perdoadas. Palmeira trepadeira (Jacitara) Chécara do Sr. Pimenta Bueno, Para Desenho da senhora Elizabeth Agassiz. Luiz Agassiz e Elizabeth Agassiz — “VIAGEM AO BRASIL — 1865 - 1866”. O sr. José Antonio Pimenta Bueno fol, depois MARQUES DE SAO VICENTE. —_— O casal Agassiz chegou a Belém no dia 11 de agésto de 1865. Violento temporal caido na hora em que o ne fundeava no porto impediu o desembarque ime- ato. Avisado da chegada do eminente naturalista e de sua espOsa e colaboradora, 0 comerciante José Anténio Pimenta Bueno, que foi depois agraciado com o titulo de Marqués de Sao Vicente, ofereceu-lhes a sua residén- cia, por todo o tempo da permanéncia de ambos em Belém. Manha cedo duas embarcacGes for: buscé-los a bordo, Dirigiram-se em seguida aos edificios onde es- tavam instalados os escritérios e armazens do sr. Pi- menta Bueno. Mandou éste, com a gentileza que 0 ca- racterizava, preparar varias salas grandes, para servi- rem de laboratério e depdsito. Nos quartos do andar superior ficaram alojados os companheiros dos Agassiz, que tinham a tarefa de ajudd-los na sua missao cienti- fica. Feito isso o sr. Pimenta Bueno levou-os de carro para a sua ROCINHA, situada a duas milhas do bairro comercial, na estrada de NAZARE, Confessa a senhora Elizabeth que foram recebidos na magnifica residéncia, com a extrema bondade. O sr, Agassiz saiu logo depois da chegada, em com- panhia do major Coutinho, para comegar os trabalhos de laboratério. A espOsa ficou na ROCINHA, E afirma no seu didrio, que havia passado manha encantadora, com as senhoras da casa, que lhe fizeram conhecer —“a famo- sa bebida extraida dos frutos da palmeira acai”. Pro- vou-o, mas afirmou que © gdsto era enjoativo, embora desse um —“prato muito delicado quando se lhe ajunta —71 um pouco de acucar e farinha d’égua”. Na manha se- guinte despertaram cedo e foram correr a cidade. Co- meca ent a primeira descricéo do que viram de mais importante nesse contato inicial com a capital paraense. A estrada de NAZARE estava plantada numa exten- sAo de duas ou trés milhas de —“belas arvores em que predominam.as MANGUEIRAS. Num dos lados da estrada elevava-se 0 esqueleto de uma casa —, ruina ou construcfio inacabada em aban- dono?, pergunta a senhora Elizabeth, acrescentando : “Q que seja nao tem mais do que os muros, abertos nos lugares das portas e janelas. Mas a natureza completou o edificio: cobriu-o com um belo teto de verdura, atapetou-lhe Os mu- Tos com plantas engrinaldadas em volta dos vaos arruinados, transformou 0 interior vazio num jardim de sua escolha, e a casa deserta, na falta de outros habitantes, serve pelo menos de abrigo aos passarinhos. E um quadro admi- ravel e sempre que passo em frente déle desejo possuir 0 seu esb6co”. A senhora Agassiz era uma habil desenhista. Foi ela que ilustrou tédo o livro do casal, e escreveu, atra- vés das notas do marido o texto da obra. Nove dias depois da chegada, o casal viajava a bor- do do vapor ICAMIABA, subindo o rio Amazonas. A 4 de fevereiro de 1866, estava de rey r Fi gresso a Be- lém. Dias depois (23 do mesmo més) saiu A rua uma procissao religiosa, rey ‘tan, pacts presentando a cena da paixfio de Escreveu a senhora Agassiz no seu diario ; “Uma estatua de tamanho natural, ese tando o Salvador curvado ao péso aa; c criancinhas vestidas de anjos, vao na _frent acompanhadas de numerosas pessoas das mandades religiosas Tuminaram- em Ae os aa Spee 5 ore pve : Oa ee todas he thee enchem-se de pessoas vestidas de luto, e toda essa gente espera para ver pas sar a higubre procissio”. : conceitos sobre a estrada de NAZARE nao nos serene os Agassiz revelacio sobre 0 eo quiteténico da cidade. Apenas @ referéncia sObre | uma das me- ROCINHA do sr. Pimenta Bueno que era ] jhores residéncias de Belém, daqueles dias. i ‘i absorveu O trabalho feito foi mais cientifico, 0 que absOlt todas as atencdes do casal, principalmente do sr. Luiz. i ssa, OS ¥ como a propria senhora Elizabeth confessa, 0S seus passeios eram feitos na proximidade da casa onde residia. h Dai nfo ser possivel encontrar detalhes ql aa ee javamos sObre as casas de moradia re té ano de 1866. Mat O didrio “O LIBERAL DO PARA”, edic fevereiro de 1869, sob o titulo —“Cémara cipal publicou uma interessante reportagem, em que 0 assun- | to tratado era a edificagio urbana da época. Por se tratar, realmente, de valiosa contribuigéo ai estudo da evolugao de Belém através do tempo, aproveitar a parte mais sugestiva ali exposta. “ie 4 eG Confessava 0 cronista que de ha dez anos aquele dia, a edificacio particular havia melhorado muito. Tanto assim que nao foram edificadas casas com pouca altura —“ com portas e janelas téo pequenas, que nao permitiam a luz nem ventilagéo bastante, a salubridade = de seus moradores”. E afirmava ainda que a higiene, a elegancia tetOnica, ambos haviam ganho com ésses tos. Jé nfo se viam —continuava o observador désses detalhes— "AS ENORMES SOLEIRAS QUE INVADIAM — OS ESPACOS DESTINADOS AO TRANSITO id E 3 E prosseguia esclarecendo que nfo s6 na forr via ganho a edificagfio dos prédios, mas —“taml 1 natureza mesmo da edificagio tem havido pro, 0" Passava, entéo, a enumeré-los : “Ainda nfo had muitos anos a 1 poucas excegdes se encontram, ainda mesmo nos bairros mais afastados do coragao da ci- dade”. Coneluia o jornal as suas observacdes, afirmando que, embora muito se tivesse feito, ainda restava algo a fazer, especialmente —“quanto &@ proporgio que de- yem guardar entre si as diferentes partes que entram na construgaec de uma casa, e € disto que depende especi almente o aspecto elegante ou desengongado que ofe- rece uma casa”. Aconselhava a Camara, para evitar os defeitos nota- dos na edificagdo urbana, a criagdo de tipos invariaveis quanto —“as proporgdes relativas de suas diferentes partes, podendo variar no entanto na ORNAMENTA- GAO, no estilo de arquitetura”. Para isso taria es- tabelecer trés tipos de casas. E enumerava-as : “O primeiro para prédios nobres, isto 6, que além do rés do chfio tem outros andares; 0 segundo para as casas gue entre nés sao cha- madas BARRACAS; e o terceiro para casas tér- reas”, Para obter ésse resultado, lembrava a seguinte pro vidéncia: em certas ruas s6 poderem ser edificados prédios nobres; em outras, as casas abarracadas; nas restantes, além das casas do primeiro e segundo tipo as do terceiro. Era permitida naquela época a edificagiio de casas, com VINTE e as vézes menos palmos de frente. Pedia 0 jornalista que isto nao fosse mais permiti- do, @ que se estudasse uma Postura Municipal, obri gando 0 proprietério do terreno a adquirir mais alguns palmos de terreno ou a vender os que possuisse. E terminava afirmando que: bretudo sem contemplacgées em favor dés' ont i te ou douse correligionério politico, em poucos nossa capital seria uma i ae reece ip) das mais belas \ “Com medidas acertadas, perseveranca, e so- Coe — 18 | Estes pormenores sdbre a edificacio urbana de Belém, naquela segunda metade do século XTX, os na- turalistas e metodistas que estiveram na capital para- ense durante aquéle tempo, nao registraram nos seus livros Os servicos de limpeza da cidade eram feitos por ar- rematagao, quando os interessados ofereciam os scus préstimos e pregos e a Camara Municipal de Belém es- tudava as propostas, aceitando as mais razoaveis e ga- rantidas, Ganhas as arrematacdes os interessados procura- vam trabalhadores para realizd-las, usando para isso a imprensa local, onde estampavam os antincios oferecen- do emprégo, mediante ajuste prévio, segundo o costume da época, Temos uma dessas publicagées, datada de 30 de margo de 1869, e assinada pelo sr. Severino Euzébio Cardoso, assim redigida : “PRECISA-SE DE TRABALHADORES livres, ou escravos, para serem empregados na con- servagao de limpeza das pragas, estradas, ruas e travessas desta capital; as pessoas que qui- serem fazer ésse servigo queiram procurar na casa de sua residéncia no arraial de NAZARE, ou na casa da Camara Municipal, das 9 horas da manha ao meio-dia, para tratarem do ajuste. Para, 23 de margo de 1869. Severino Euzébio Cardoso”. ¥ necessdrio esclarecer que os escravos s6 Se em- pregavam na prestagio de servicos estranhos aos dos seus proprietdrios, mediante acordo com éstes. Se o ajuste era conveniente, lucrativo, o senhor do escravo cedia-o, recebendo em troca os proventos do trabalho do negro. 5 Assim faziam néo sé com os homens, mas, igual- mente com as mulheres cativas. i O 5.” e tiltimo volume dos “MOTINS POLITICOS” composto na IMPRENSA TAVARES CARDOSO & CIA., estabelecida & travessa de SAO MATEUS (agora PADRE EUTIQUIO) nimeros 29 a 31, foi langado no ano de 1890 Vamos destacar desta erudita obra o relato sObre o primitivo arraial de NAZARE, que Raiol chamou de —lindo bairro da cidade de Belém. Era no tempo da cabanagem (1835) —‘simples si- tio, solitdrio e sombreado de drvores agrestes”. Formava um “quadrilatero de setenta e quatro bra- cas de comprimento”, transformado numa pequena praga “com uma ermida no centro, dedicada a Nossa Senhora de Nazaré, cuja imagem era primitivamente venerada em uma espécie de armario, enfeitado dentro da humilde casa de um homem pardo chamado Placido, um dos peucos moradores daquele sitio, e nesse arma- rio iam alguns devotos rezar e dep6r as suas oferendas em certos dias da semana”. Escreveu 0 Baraio de Guajard: “A espacosa estrada que ora se dirige Aquele bairro, aformoseada de SUNTUOSAS CHACA- RAS e alamedas, distinguia-se outr’ora pelos arbustos que a marginavam, interrompidos apenas por ALGUMAS CASAS BATXAS e CA- BANAS construidas de palha, Havia uma outra estrada mandada abrir pelo general José Narciso de Menezes: partia do PAUL D’AGUA, e vinha terminar na estrada de NAZARE no lugar chamado LARGO DA ME- MORIA que ainda hoje existe (a denominagio ja foi mudada). A estrada foi de névo aberta e segue hoje até a praga de SAO BRAZ. Este melhoramento de~ vemo-lo 20 presidente Jerénimo Franciscc Coelho, que em 1849, transformou-a em apra- ziveis SITIOS; e para perpstuar a memoria désse ilustre cidadao, a Camara Municipal deu-Ihe a denominacgéo do seu prdéprio nome. ¥ hoje a bela estrada (avenida) de SAO JERO- NIMO (mudada para Governador José Mal- cher), toda arborizada, com jardins e parques, ostentando MAGNIFICOS PREDIOS que alve- jam por entre copadas mangueiras de um e ou- tro lado. Era dantes um caminho estreito sem quase serventia para o trfnsito publico: desembocava na praca PEDRO SEGUNDO (agora da REPUBLICA ou seja 0 LARGO DA POLVORA) como a de NAZARE. Esta porém continuava além do arraial em linha reta, e ra- mificava em varias diregdes, dando comunica- ¢ao a muitos sitios como & PEDREIRA e ao MURUTUCU, donde tinham saido os faccio- sos (refere-se aOs cabanos) em marcha para NAZARE”. AS casas construidas desde a ponte do Forte do Castelo 4 escada do Porto do Sal, no bairro chamado da CIDADE (atual CIDADE VELHA), faziam fundo para o Guajard, —“sem rua alguma que lhes desse co- municacfo pelo litoral”. Este descuido da Camara Municipal de Belém néo proporcionava estimulo a edificacfio particular. O novo cais em construgéo causava atropélos ao comércio, atravancava o litoral cheio de trapiches ¢ Pontes e facilitava a permanéncia de CASAS DE MA- DEIRA, sem uniformidade, nem higiene, impedindo o embelezamento daquela Area. _ Outros detalhes mencionados pelo Barfio de Gua- Jara, relativos as ruas, casas, alagadicos e florestas cir- cundando pontos da cidade, ja foram expos ginas anteriores, : Seen ee Seria fastidioso repeti-las. XI CARYL P. HASKINS “AMAZONIA QUE EU VI” EDIGAO SEM DATA No preficio desta obra estd escrito que o fim do livro 6 —“apresentar 0 quadro geral do vale do Amazo- nas, a mais poderosa bacia fluvial do mundo, e das par- tes do antigo continente americano por éle banhadas”. O autor conseguiu o seu objetivo, com muita eru- digo e conhecimento do tema que abordou. Considera Belém do Pard, a maior de tédas as ci- dades amazdénicas. E acrescenta, & pagina numero 156 : “Entreposto de toda a AmazOnia, capital do Estado do Para, sede de bispado, cidade de quase trezentas e cincoenta mil almas, Belém ocupa a posigaéo de comando do vasto mundo amazénico. De tudo o que o Amazonas tem a fornecer para pericia humana, de tudo 0 que se tornou util no passado ou pode produzir no futuro, encontra-se o reflexo em Belém, cujo progresso reproduz exatamente o desenvolvi- mento de téda a poderosa arena”. E passa a informar que alguns dos melhores edifi- cios datam de antes da era da borracha, tais como : “ .\certas estruturas governamentais e muni- cipais que foram estabelecidas por iniciativa do MINISTRO DE FERRO — Pombal”. Adiante enumera-as, sem contudo revelar base his- térica para a citagdo; o Teatro da Paz, na praga da Republica, muitos dos conventos a outros fins nos anos posteriores, mas acrescenta que grande AR- QUITETURA da cidade, data dos anos da bor periodo em que éle Haskins estéve no Amazonas. Ha manifesto engano déste autor. Nem o Teatro da Paz nem os conventos foram obra ou iniciativa do Marqués de Pombal. O primeiro data do século XIX. Quanto aos con- ventos lembramos éstes detalhes : 0 do Carmo foi ereto em 1626; o de Nossa Senhora das Mercés, data de 1640; a primitiva construgio do Hospicio do Una, dos religio- sos da Ordem de Santo Anténio, de Lisb6a, vem do ano de 1626, Dai a conclusdo certa de que nio dependeu a cons- trucéo désses conventos da interferéncia do Marqués de Pombal, A verdade 6 que o irmfo do poderoso Ministro do Rei D. José I, o senhor D, Francisco Xavier de Mendonca Furtado foi um grande administrador da Capitania do Para. O seu trabalho diligente e patridtico no sentido da Sua obediéncia 4 Patria e ao Rei, foi magnifico, notavel, digno de todos os encdmios. Mas nem por iniciativa prépria nem sob recomen- dagao de Pombal, contribuiu para a realizacio das obras citadas, um engano do ilustre cientista Caryl P. Haskins mas as suas informagées sébre Belém foram estas. Registramos 0 conceito, por se tratar de um obser- vador estrangeiro, de muito mérito e de elevada ido- neidade. — 88 XII ANTONIO JOSE DE LEMOS “O MUNICIPIO DE BELEM” RELATORIOS DE 1897 A 1908 1897 — 1902 Sob o titulo EDIFICACAO URBANA o Intendente Municipal de Belém, sr. AntOnio José de Lemos diz, que em nenhum outro ramo de atividade, a cidade se man- tinha adstrita 4 rotina, como na construgaéo urbana. Apontava como causadores do atrasado sistema de edificagdes no Para o capitalista, que ordinariamente, pouco se importava com a “aparéncia dos prédios”, de- sejando-os a baixo preco para —“auferir a maior taxa de juro sébre o dinheiro gasto”, e o mestre de obras, 0 construtor, sempre individuo —-“de uma ignorancia pal- mar, até das primeiras regras de arquitetura, ou some- nos interésse liga & questao da FACHADA”. Anotava mais éste detalhe : “|. .seu escopo € construir & pressa, aprovei- tando maior quantidade de tempo e materiais, a fim de colhér maior saldo sdbre o total do contrato. E assim, do conséreio déstes dese- jos econémicos do proprietdrio e do constru- tor, advém 0 ATRASADO SISTEMA DE EDI- FICAGAO. Nio bastasse 0 consagrado méu gosto e a feia aparéncia das casas, quase todas ACANHADAS E BAIXAS, mesmo nas _princi- pais vias publicas, Isto quanto aos FRONTISPICIOS. Interna- mente, os prédios sio bem mais dignos de critica, Tragados por um s6 plano comum, possuem & célebre PUXADA, cuja disposicéo é quasi inva- riavelmente a mesma, na mondtona sucesso dos varios aposentos. Raro nos € dado encontrar na capital e subur- bios uma casa diferente déste plano feio e anti- higiénico”. — ol ‘As PUXADAS construidas principalmente nos su- biirbios, como esclarece o Intendente Antonio Lemos neste seu primeiro Relatdrio, era uma casa ampla, com um corredor largo construido de um dos lados, bons e cOmodos, e geralmente com extenso quintal plantado de arvores frutiferas. Era a PUXADA levantada com relativa distancia do port&éo que deitava para a rua, deixando margem sufi- ciente para o jardim. Essa drea, porém, nem sempre era ajardinada. Podia ésse sistema de habitagao ter os defeitos que 0 sr. Lemos aponta. Mas era confortavel, dai a prefe- réncia dos moradores e modicidade dos aluguéis Substituiram, guardadas as devidas proporgées, as ROCINHAS que, aos poucos iam desaparecendo, por descuido dos seus proprietdrios, falta de recursos finan- ree para manté-las ou imposicéo do progresso ur- ano, Umas foram vendidas diretamente a diversos com- pradores, mas grande parte levadas & Hasta ptiblica aos leil6es que, nem sempre alcancavam o justo preco pretendido pelos seus proprictarios. 7 Quase que, em tédas as ruas do UMARIZAL, prin- cipalmente as PUXADAS, eram em grande ntimero. A edificacio preferida. A luta da Intendéncia Municipal contra as casas pequenas e as PUXADAS continuou. A propdsito das obras que iam ser feitas nas tra vessas QUINZE DE AGOSTO (chamada atualmente ave- nida PRESIDENTE VARGAS) e FERREIRA PENA (ago- ta ASSIS DE VASCONCELOS), declarou o Intendente de Belém, que ja havia autorizado a demolicio de pré- dios adquiridos pela municipalidade, cujos escombros tinham sido Temovidos; mas embora a frea estivesse limpa, todavia contava ainda com prédios —“quase to- dos exiguos, velhos, feios, cuja supressio era urgente, pois estavam todos em clamoroso contraste com a be- Tbe praga da REPUBLICA”. Capitulo que merece atencao, pois revel iniciado contra a construcdo e 0 Hk das DARACAR te margens do bairro do MARCO DA LEGUA, podemos ler. naquele mesmo RELATORIO. . i — 92 Anos antes era a antiga estrada de BRAGANCA de- pois avenida TITO FRANCO e agora avenida ALMIRAN- TE BARROSO, um “extenso e cerrado matagal”. Havia dificuldade para melhores edificagdes devido a deficiéncia de transporte. As poucas CHACARAS ali existentes —‘sé eram habitadas durante a estacio séca e por pessoas que, a0 transferirem-se para aquéle ponto, como gue resignada- mente alienavam seus direitos ao uso e gOzo dos bene- ficios da civilizagao”. Mas, trés anos depois, aquela avenida e suas tra- vessas foram “ornadas de intimeros prédios e bonitas chacaras, algumas das quais de extraordindrio valor intrinseco e estimativo”. Para isso contribuiu a regularizagio do servigo de transporte, e ampliacio do comércio, na ampla e con- fortavel avenida, As BARRACAS foram desaparecendo. Para tanto contribuiu a Lei Municipal n° 275 de 30 de junho de 1900, com o seguinte texto : “Artigo 1..—Fica proibida a construgao de bar- racas de tetha ou zinco, & avenida Tito Franco, entre a praca Floriano Peixoto e o Marco da Légua. Artigo 2..—Entre cada construgio mediaré um espago nunea inferior a dois metros, para que se estabeleca de permeio franca circulagio do ar. Artigo 3..—Nenhum prédio poderd receber 0 vigamento a menos de um metro de altura s6- bre o nivel ordindrio do solo, sendo toda a base provida de abertura pelos quatro lados para a perfeita ventilagio dos pordées. Artigo 4.°—Na linha da cornija, entre o f6rro superior e 0 telhado, correra externamente uma ordem de ventiladores, devendo haver também io lado interno aberturas que comuniquem ee dos aposentos para o interior do forro. Artig 5. Intendente fixard um prazo equi- fanse mas improrrogdvel, para a remogiio das barraeas que atualmente existem na referida avenida.

You might also like