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SASAONIS ¢ fe jpjUsWIDyIOdW0>5-oAUB0> Didbsay We oedseonpeodisd os saJ0pozIUDSiO) 98upy ‘q pupuag SUBSD|DW SeDAON jeouDWW DIDN7] é OU|PAIDD ap auiSay aja210) vil_ autos Insticuro Estadual de Diabetes © Endoctinologia Luiz Capriglione (IEDE). Doutora em Sade Mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Terapeuta Certificada pela Federagio Brasileira de Terapias Cognitvas (FBT), Emil: monica@duchesne.com-br ‘Nathlia Feliciano Soares. Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janciro (UFR). Colaboradora no Niclo de Estudos e Pesquisa Inerdisciplinaes em Psicorrapia ¢ Reinsergio Social (NEPIPReS/PPGDP/IP/UER)). Email: feiciano.nathalie@gmail.com Paula Ventura. Professor Associada do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFR)) ¢ do programa de pés-graduagio do Instituto de Psiquiaria (IPUB) «da UFRJ, Coordenadora da equipe de Terapia Cognitivo-Comportamental do Laboratério Tnvegrado de Pesquisa em Estrese do IPUB, UFRJ. Email: paularventura@gmai.com Rafael Thomaz da Costa is dourorando em Sade Mental pelo Programa de Pis Gradua- ‘eo em Paiquiatia eSatide Mental Insituto de Piquiasria/ Universidade Federal do Rio de Janeiea (PROPSAM/ IPUB! UFR)). Profesor convidade do PROPSAM/ IPUBY UFR) Pesquisador vnculado 20 Laboratrio de Pinico e Respiasio (LabPRY IPUBIUFR)), Coor- denador do Nicleo Integrado de Pesquisa em Psicorerapia na Abordagem Cognitivo-com- portamenral (NIPPACC! IPUBY UFR)). Email: felthomazengailcom ‘Raphael Fischer. Universidade Esticio de Si (UNESA). Email raphaelfischerp@gmil.com Raquel Avila Kepler Alves. Graduada peo Insitute de Psicologia da Universidade Feder do Rio de Janeiro (UFR). Especializanda em Terapia Cognitiva pelo Centro de Terapia (Cognitiva Veda. Raquel Ayres de Almeida. Douiors em Psicologia, Universidade Salgado de Oliveira (ONIVERSO), Faculdade Arthur Si Earp Neco (FASE). Emil: quelayres@egmalcom Sacha Alvarenga Flavio Blanco, Especalianda em Terapia cognitve-comporamenta pric clinica baseada em evidéncias. Especalizanda em Terapia Cognitvo-comportamentais na Infincia «© Adoleseéncia, Clinica particular. Email sachaslvarenga@botmailcom Thiago Carls Pinheiro. Insituro de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janciro (WFR). Colaborador no Niceo de Estudos ¢ Pesquisas Inerdsciplinares em Picorerapia € Reinsereio Social (NEPIPReS/PPGPI/IP/UFR)). Email: thiagocarlospinheiro@gmai.com ‘Thiago Rodeigues de Santana Dias Inu de Piso da Unive Federal do Rio de Janeiro (UFR), Colaboraor no Nickeo de Estudos e Pesquisas Interdcipinares em Poesia ¢Reinsero Sac (NEPIPReS/PPCP/P/LIFR)). Email hisgiiainsighrgmal com Uirundison da Silva Ciara. Psiclogo do Nike de Sade Mental da Prefiara Municipal ‘de Macaé RJ. Especialista em Dependéncias Quimicas e Comportamentais pela Universidade ‘Gama Filho (UGE/RJ). Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janciro (UFR). Pctlogo da Prfetra Municipal de Nova lguayu. Email uirndiggmall com Sumario Apresentagao . Marcele Regine de Carvalho, Lucia Emmanoe! Novaes Malagris e Bernard Rangé Introdugao A psicoeducacao na Terapia Cognitivo-Comportamental .. Marcele Regine de Carvalho, Lucia Emmanoel Novaes Malagris e Bernard Rangé Parre I Transtornos psicolégicos segundo es critérios do DSM-5 1 Transtorno de panico.......... 30 Marcele Regine de Carvalho e Thiago Rodrigues de Santane Dias 2 Transtorno de ansiedade generalizada. 42 Fernanda Corréa Coutinho e Mariana Almeida de Abreu 3. Transtorno de estresse pés-traumatico 56 Paula Ventura x Sumario 4 Transtorno obsessivo-compulsivo e Luana Dumans Laurito e Jacqueline Espinola da Paixéo 5 Fobias especificas . Mariana Almeida Abreu, Raquel Avila Kepler Alves e Marcele Regine de Carvalho 6 Transtorno de ansiedade social .. Maria Amélia Penido e Diana Soledad do Lago Camera 7 Abuso de substancias.. Ana Carolina Robbe Mathias e Mariana Almeida de Abreu 8 Depressao.. ses UO) Rafael Thomaz da Costa 9 Transtorno bipolar do humor .. eevee UR Rafael Thomaz da Costa e Jacqueline Espinola da Paixdo 10 Transtornos alimentares .......0. a sesseen 134 Monica Duchesne e Thiago Rodrigues de Santa Dias 11 Esquizofrenia... Heitor Pontes Hirata e Jacqueline | Espinola a Paixdo 147 12 Transtornos de controle dos impulses... 156 Heitor Pontes Hirata e Fernanda Maia Dias 13 bistungdes sexuais. Bi Siceduaancsteen DE Antonio Carvalho, Aline Sardinha e Diana Soledade do Lago Camera 14 Tabagismo... «UT Virandilson Camara ‘sumario xi Parte It Condicdes de satide 15 Hipertensao arterial... 188 Lucia Emmanoel Novaes Malagris @ Diego do Santos Goncalves Pacheco 16 Diabetes mellitus... a . 198 Raquel Ayres de Almeid e Diana Sofedade do Lago Camera 17 Cancer. sevsesensenees 210 Fernanda Martins Pereira a Gabriel Talask 18 Doencas dermatolégicas .... 1 224 Cristiane oe Figueiredo Vasconcelos Rocrigues 19 Fibromialgia .. wvecvaee BO Maria Amélia Penido e Thiago Rodrigues de Santana Dias 20 Estresse acm 245 Lucia Emmanoel ‘Novaes Malagris e Fernanda Maia Dias Parre Ill Dificuldades comuns tratadas em psicoterapia 21 Adesao ao tratamento. srssereeenes 258, Raquel Ayres de Almeida e Thiago Carlos Pinnite 22 Raiva.. corset .- 267 Lucia Emmanoel Novaes Malagris¢ Thiago Carlos Pinnetro 23 Procrastinacdo...... sesessnsanies 2m7 Rafael Thomaz da Costa e Gabriel Talask 24 Perfeccionismo ... 291 Marco Aurélio Mendes e Gabriel Talask xii_Sumério 25 Citime patoldgico....... Marcele Regine de Carvatho @ Sacha Alvarenga Flavio Blanco . 303 26 Conflitos conjugais.. - 313 Raphael Fischer e Nathélia Feliciano Soares Pare IV Habilidades basicas Uteis no contexto clinico 27 Habilidades socials. r a 822 Maria Amélia Penido © Thiago Carlos Pinheiro 28 Respiracdo diafragmatica e relaxamento ... . 332 Aline Arias Wolff e Fernanda Maia Dias 29 Mindfulness Bernard P. Rangé 2342 Apresentacao Marcele Regine de Carvalho Lucia Emmanoel Novaes Malagris Bernard Rangé ‘A ideia da publicagéo de um livro especifico sobre psicoeducagao em tetapia cognitivo-comportamental (TCC) surgiu 2 partir da experiéncia dos organizadores em psicologia clinica na abordagem e em supervisio de atendi- mentos psicolégicos em clinica-escola da Universidade Federal do Rio de Janciro (UFRJ). As queixas que surgem nos diversos contextos clinicos sio bastante semelhantes e, em geral, observa-se a necessidade de esclarecer 40 cliente sobre as mesmas para a adesio ¢ efetividade do tratamento. A TCC conta, em seu arcabougo de intervenées, com uma importante estratégia que €a psicoeducagao. Essa modalidade de intervencio tem sido testada e aprova- da para diversos tipos de queixas ¢, associd-la as demais intervengées especifi- cas da abordagem para cada caso, favorece bastante 0 alcance dos objetivos terapéuticos. No encanto, nem sempre se encontra material apropriado a0 cliente, de modo que a linguagem seja acessvel e, de fato, atenda as demandas do caso. Muitas vezes, hd a necessidade de o terapeuta adaptar textos de livros dirigidos aos profissionais, ajustando as informagées para 0 pliblico leigo, 0 que exige tempo ¢ nem sempre se rorna adequado aos objetivos pretendidos Outeas vezes so usados materiais que nao foram elaboracios especificamente para a visio da TCC sobre a queixa em quest2o e dao uma visto geral que no abrange 0 modelo cognitivo-comportamental. Portanto, a existéncia de um liveo com textos de psicoedueacio baseado na TCC e voltado para uma varie~ dade de queixas, pode ser bastante ttl. Este liveo busca abarcar as principais queixas que chegam aos psicotera- peutas cognitivo-comportamentais, abrangendo transtornos psicoldgicos se- 14 Apresentacéo gundo os critérios do DSM-5, condigies de saiide e dificuldades comuns tra~ tadas frequentemente em psicoterapia e que podem estar presentes nos crité- rios diagndsticos de determinados transtornos ou nio. Além disso, o livro oferece material sobre alguns tipos de habilidades basicas que podem ajudar terapeutas e clientes em préticas que se revelam \iteis no tratamento de varios ttanstomnos e queixas. Os autores dos capitulos sio profissionais especializa- dos nas teméticas sobre as quais se debrugaram para confeccio do material e contaram com a parceria de estudantes de graduagio e de pés-graduacio, membros do Niicleo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Psicoterapia ¢Reinsergio Social (NEPIPReS) do Programa de Pés-Graduacdo em Psicologia (PPGP) da UFRJ ¢ da Liga Discente de TCC da Associagio de Terapias Cognitivas do Estado do Rio de Janeiro (ATC-Rio), que, com sua experiéncia como estagisrios em clinica-escola no caso dos primeiros ou, em consultdrios, no caso dos segundos, puderam dar interessante contribuigio. Temos consciéncia de que, provavelmente, nenhum material de psicoedu- cagio seja esclarecedor para todos os tipos de clientes © queixas, mas acredita- ‘mos que seja possivel ampliar 0 campo de aco desta modalidade de interven- ‘cho. Sendo assim, o livro Pricoeducayio em Terapia Cognitiva-Comportamental foi pensado como uma contribuicio para rerapeuras e seus clientes, contando com material préprio para cada um, No que se refere 20 terapeuta, 0 livto con- a.com o mesmo texto que seri dirigido ao cliente, mas com dicas e sugest6es para 0 terapeura, lercando para necessidades bisicas do tratamento para 0 tipo de queixa especifica. O material elaborado para o cliente seré disponibilizado para.o mesmo por meio de um aplicativo; no entanto, o terapeuta poderd aju- Psieveducagdo em Terapia Cognitivo-Comportamental_ 103 uusam substincias sem que isso se torne um problema para sua vida. Por ‘exemplo, tomar um chope numa sexta-feira com os amigos depois de uma semana de trabalho érduo ou uma taca de vinho em um jantar. O uuso de drogas passa a se tornar um problema quando a pessoa comega usar a droga como iinico recurso para obter prazer e alivio de sentimentos ou sintomas ruins. No inicio isso pode parecer uma estratégia eficiente, mas, com 0 tempo, a pessoa passa a adorar apenas essa estratégia, € come- ‘gam a surgir os problemas em decorréncia do uso abusivo. Inicia-se, en- to, um circulo vicioso: a pessoa usa a droga para se sentir melhor, conse- quentemente, isso gera problemas ¢ ela usa novamente. Problema / Figura 7.2 Circulo vicioso do uso de substancias. Como posse lidar com 0 | abuso de substancias? Como jé enfatizado, a Terapia Cognitivo-Comportamental con- sidera que a maneira como as pessoas interpretam as situag6es & 0 104 Abuso de substancias gue influencia 0 modo como elas sentem ¢ se comportam. Desse modo, acredita-se que os dependentes de substincias acham que 0 uso de drogas traz uma sensago de alivio imediato para seus proble- mas, frustragGes ou sentimentos negativos, fazendo do uso uma estra- tégia compensatéria. A psicoterapia tem, entdo, como objetivo auxiliar voce a modifi- car seus pensamentos para que, dessa forma, possa reduzir seus estados emocionais desconfortaveis e comportamentos prejudiciais. A redugio da intensidade ¢ da frequéncia do desejo de consumir a substdncia serd também consequéncia do enfraquecimento das ideias erréneas que se tem sobre 0 uso. A modificago da visio que tem sobre si mes- mo pode ajudar vocé a enearar o¢ obstdculos como problemas a screm resolvidos, em vez de problemas que devem ser esquecidos através do uso da substancia, Durante o tratamento, o terapeuta auxiliard com técnicas para 0 manejo de sua fissura, rais como: enxergar as vantagens ¢ desvantagens do uso, lidar com problemas e emogbes desagradaveis sem precisar re correr & substancia ¢ ajudar a organizar nova rotina com atividades prazerosas que nao incluam o uso, Além disso, durante o tratamento a partir da Terapia Cognitivo-Comportamental, o terapeuta ird utilizar diversas estratégias para ajudar a promover motivacdo para mudar seu comportamento € a lidar com eventuais recafdas. Algumas s4o descri- cas a segui Motivagio: vocé iri identificar as motivagées que o levam a mu- dar seu comportamento de uso de substincias. Existem motivagées externas, como a vontade da familia ou o perigo de perder o emprego, ¢ motivagées internas, como valores e necessidades pessoais (Miller, 2013). Muitas pessoas com problemas com uso de subscancias buscam ‘tratamento por conta da vontade dos outros, mas é de extrema impor- tincia que, no inicio do tratamento, voc? consiga reconhecer motivos préprios que justifiquem uma mudanga na sua relacio com a substan- cia. Essa tatefa néo € necessariamente simples, mas o terapcuta terd ferramentas para ajudé-lo. Psicoeducaggo em Terapia Cognitive-Comportamental_105 Dica ao terapeuta Uma forma de encontrar as motivagbes intemas ¢ ideticar os valores dos clientes, Os valores comumente mais citedes séo familia, sadde e trabalho. Os valores so muito pessoaise dever ser muito bem pensados per cada um. Apbs @idenificagso dos mesmes, 6 pecide que o clente refita de que forma o seu corportarento de abuso de subst2ncias feta cada valor icentiicado, Anilise de vantagens e desvantagens: muitas veres as pessoas no tém consciéncia de quando um comportamento est sendo exagerado ¢, ao agir desta forma, acabam gerando prejuizos. Fazer um quadro das van- tagens e desvantagens do seu comportamento ajudari vocé a entender Auais sio 0s prejuizos causados por este. Isso pode ajudar a visualizar rea- listicamente o que vem acontecendo com wocs e, consequentemente, voce se sentird mais confiante a avaliar ¢ mudar seu comportamento. Dica ao terapeuta [A técnica de andlise de vantagens e desvantagens pode ser feita coma um quadro cvisido fem quatro partes: vantegens em usar, desvantagens em usar, vantagens em néo usar e esvantagens em néo usar a substéncia. Assim, podem ser explorados consequencias © «anos tanto dos momentos de abuso da Substancia como dos momentos em que ocliente rio usa a substancia. Esta técnica também importante porque revela 0 que deve ser ‘tapalhado com a cliente, por exemple, so cliente enxerga como vantagem usar maconha para relaxr,técnicas de relaxarento podem ser incluidas no tratamento para auxli-o tar situagées relacionadas ao risco de usar a substincia para evitar uma recaida. Algumas atividades no seu cotidiano lembraréo episédios de uso, Entio, no inicio do tratamento, voce terd a tendéncia a evitar 106 _Abuso de substancias coisas que fazia antes, pois elas podem gerar a vontade de usar a subs- tancia. Porém, com 0 tempo, as evitagdes poderio nao ser possiveis, © até limitadoras. Desse modo, é essencial que vocé prossiga realizando atividades importantes para o seu bem-estar. Ser importante que vocé desenvolva formas de lidar com situagies desafiadoras sem fazer uso da substincia, a fim de que as mesmas deixem de ser risco para voce ‘Ags poucos voce vai recuperar a confianga para valorizar aquilo que std acostumado a fazer. Cartio de enfrentamento: é um cartio que o terapeuta i ajudi-lo a elaborar com dicas e sugest6es que possam ser lidas e praticadas quan- do vocé se encontrar em meio a uma situacao de risco. E importante que este cartéo seja pequeno e caiba no bulse ow ma carteira, para que vocé possa evar sempre aonde for. f @ ‘Sera que eu posso conseguir? Ao procurar um tratamento para abuso de substincias, € comum que as pessoas relatem que jé tentaram mudar diversas veres, mas nao conseguiram. Em muitos destes casos, contam que desistiram do tra- tamento apés uma recaida, como se fosse um selo de fracasso, indi cando a impossibilidade de mudar. Qualquer mudanga de habito re- vela-se dificil, ¢ 0 processo de mudar o uso problemético de drogas é particularmente complexo e cheio de nuances. Infelizmente, no cami- nho em diregio a melhora, as pessoas acabam fazendo uso da droga, muiitas vezes de forma pontual (0 que chamamos de lapso), outras re- tornando ao padrio antigo de uso da substancia (0 que chamamos de recaida). Durante o tratamento, este uso nio é considerado um fracas 50, mas sim um tropeco. A partir de um tropeco desses, é possivel en- tender os motivos que levaram a pessoa a usar a droga e, desta forma, . (<3) Ree — Psicoeducagao em Terapia Cognitive-Comportamental_107 cliente e terapeuta juntos poderio tragar caminhos novos a fim de que ‘9 uso nao ocorra novamente. Isso nao quer dizer que 0 tropeso & aguardado, mas se ele acontecer sera um motivo para uma aprendiza- ‘gem pessoal endo um fracasso. Na verdade, todo 0 processo de mu- danga de um comportamento indevido de uso de drogas para um esti- Jo de vida mais saudavel & doloroso e dificil. Mas, a0 mesmo tempo, € interessante, enriquecedor e proporciona muitas descobertas e surpre- sas, grande parte destas muito agradiveis! Durante todo o processo, 0 ‘terapeuta estard junto com vocé, entendendo ajudando nas suas difi- ‘culdades, reconhecendo € valorizando seus ganhos! Que tal comecar? importante que o terapeuta ensine os clientes a reestutuar seus pensaments negativos ‘sobre os lapsos, para que ndo seam vitos como fracasso ou como indicagéo de falta de forca de vortade. A psicoeducaczo sobre o process de recalda e sobre a probabildade de ‘corr um iaps0 prepara o cliente para lidar melhor com o process. ( 0 que eu aprendi e como a \' osso passar para acao? 108 Abuso de substancias Bibliografia sugerida para consulta do terapeuta Beck, A. T, Weight, E, Newman, Cy & Lise, B. (1993). Cognitive therapy of sub- aance abuse. New York: The Guilford Press. Kapp, B, Luz E., & Baldisserto, G. V. (2001). Terapia cognitiva no tratamento da dependéncia quimica. In B. Rangé (org) Pehorripiaccoguitve-comportamentais Ue ‘idlogo com a psiquiatria (pp. 332-350), Porto Alegre: Armed Marlatt, G. A. 8 Donovan, D. M. (2009) Prevengio de recaida: Estratégias de manu- tengio no tratamento de comportamentos adictivos (2. ed.) Porto Alege: Aremed. American Psychiatry Association. (2014). Diagnostic and statistical manual of mental disorders - DSM-5 (Sth.ed.). Washingron: American Paychiatric Association, Beck, A. T, Wright, E, Newman, Co. & Liese, B, (1993). Cagnitive therapy of su- stance abuse, New York: The Guilford Pres. Hofmann, S. G, (2014). Superando os problemas com dleool. In S. G. Hofmann. Introducio i teria cognitive-comportamen- Mathias, A. C. R. 8& Cruz, M. S, (2007) Benefcios de ténicas cognitivo-comporta _mentais em terapia de grupo para o uso in- Aevido de ileool e drogas.fornal Brasileiro de Priguiatria, Rio de Jancito, 56.2), 140-142). Rang, B. & Marlare, G.A. (2008), Terapia cognitive comporeamenral de trancnmnon de abuso de dloole drogas, Reva Brasileira de Priguatria, Rio de Jancito, 30, 8-95. Rollnick,S., Mille, W. R., 8 Butler, C.C. (2009). Fnneviia motinacional no cidade da swide: Kjudando pacientes 2 mudar © ‘comportamento. Porto Alegre: Artmed. tal contempentnes (pp. 135-149). Porto Ale- sre: Arumed. Knapp, P.& Bicea, C, (1997), Abordagem copuitve-comportamenal ds comport mentos adietvos. In A. V. Cordoli (org) Psicaterpias: Nbordagens acuais (pp. 405- 416), Porto Alegre: Aremed. Knapp, P 8 Berloe, J. M. (1994). Preven to de recaide: Um manual para pessoas ‘com problemas pelo uso de ieool e outras furomsnca ©=———> _COMPORTAMENTO Ss lnrererare Figura 8.1 Modelo cognitivo de Beck Fonte: Beck (1997, p.32), Psicosduca¢ao em Terapia Cognitivo-Comportemental_113 Quando uma pessoa vivencia um quadro depressive, tem uma maior tendéncia de avaliar as situagées de uma forma negativista e pes- simista, em geral irrealista, Nesse caso, vivencia-se emogoes desconfor- taveis desnecessariamente e tende-se a expressar comportamentos desa- daptativos que podem trazer prejuizos. Os modos distorcidos de pensar costumam envolver um ou mais dos seguintes temas: * Interpretagdes sobre os acontecimentos: E comum que o individuo com depressio tenha reagoes de itrita- cao diante de uma situagéo adversa que ndo o aborreceria caso nao estivesse deprimido. Além disso, quando algo de ruim acon- tece em um determinado contexto, o individu com depressio tende a pensar que em situacées semelhantes 0 desfecho seria igualmente ruim. A mesma ldgica nao se observa diante de um cenirio onde algo bom acontece, pelo contririo, o individuo que sofre com depressio pode ignorar ou minimizar acontecimentos bons (Seligman, 2007). Interpretag6es sobre a dimenséo tempo: AAs pessoas com maior tendéncia & depressio podem desistit, ou nem tentar enfrentar um desafio, em fungio de acreditar que as causas dos acontecimentos indesejéveis serio permanentes ¢ afe- tardo tudo o que fizerem (Seligman, 2007). Interpretacées negativas sobre a responsabilidade - autoavaliagéo excessivamente ruim: As pessoas com depressio costumam atribuir a si mesmas, de for- ma no adequada, a maior parte da responsabilidade (culpa) pe- Jas coisas ruins que acontecem. Além disso, tendem a repetit in- termamente para si mesmas seus “fracassos”. Veja a seguir alguns exemplos de distorgbes de pensamento comu- ‘mente cometidas por pessoas com depressio (Beck, 1997). 14 Depressio —Conclusio precipitada Apés uma tentativa frustrada de conquistar uma parceira, pensar: “Néo vou conseguir seduzir aquela mulher. Nio fago sucesso com as mulheres” = Generalizagio Apés ter passado por uma situagao de assalto, pensar: “Sair & noi- te é perigoso, melhor ficar em casa”, ~ Menosprezar 0 positivo ‘Apés ter se dedicado nos estudos ¢ ter conseguido uma excelente nota na prova de conclusio do curso, pensar: “Tirei uma nota dex porque a prova estava facil. © professor facilitou. Qualquer tum conseguiria tirar dez nesta prova”. —Exagerando ‘Ao enfrentar um desconforto em fungio uma adversidade momentanea, pensar: “Minha vida € isso. Isso vai durar pra sempre”. ~Pensamento tudo ou nada ‘Ap6s ter tido pouca perda de peso ¢ ter abandonado a dieta, em um momento no qual no cumpriu com o que havia combinado com a nutricionista, pensar: “Os regimes alimentares nunca irio funcionar”. = Visio em foco ‘Apés ouvir uma cobranga da mie, ignorando as varias vezes em que a mie ficou quieca ou mesmo elogiou 20 ver algo bom acon- tecendo, pensar: “Minha mie sempre reclama de tudo”, Aprisionado no pasado Repetindo internamente de forma exagerada e inttil pensamentos sobre 0 passado e deixando de focar em agées priicas que podem favorecer a resolucio de problemas atuais. Pensando que: “Eu de- veria ter me dedicado mais. Deveria ter aceitado ajuda. Deveria ter aproveitado a oportunidade. Sou todo errado mesmo”. | Psicoeducagao em Terapia Cognitivo-Comportamental_115 —‘Trazendo para si toda responsabilidade ‘Apés uma interagio social que nao aconteceu da forma como gosta- ria, pensar que: “Ela nunca fala comigo. Eu sou uma pessoa sem atrativos. Nao tenho carisma”. Ou, apés 0 chefe chamar a atengio de forma imperativa sobre uma tarefa que precisa ser realizada, pen- sar que: “Tenho um patrio que esté sempre de mau humor. Essas coisas s6 acontecem comigo, Eu nio fago nada direito” (Beck, 1997) ATCC pode ajudar na identificagio os pensamentos que geram sentimentos desconfortiveis e comportamentos prejudiciais consequen- tes, além de contribuir para o entendimento das razées pelas quais cos- tumamos pensar da mancira como pensamos. F passivel questiouar os pensamentos a ponto de modifici-los, caso estes néo se sustentem por argumentos l6gicos e fatos observaveis (Hawton, 1997). Ao conseguir desenvolver pensamentos mais realistas frente as si- tuagées vivenciadas, é possivel reduzir a intensidade de sentimentos des- confortiveis, ou mesmo ter sentimentos diferentes ¢, por conseguinte, reagdes comportamentais menos prejudiciais (Hawton 1997) Outro ponto importante a considerar ¢ 0 comprometimento do planejamento de metas futuras em pessoas com pensamentos negativis- tas tipicos da depressio. Por exemplo, é comum, em um modo de pen- sar pessimista/negativista, que a pessoa conclua que estd tudo ruim ¢ que as coisas nao irdo melhorar. Ou seja, acredita que nem valeria & pena tentar alguma ago, ficando numa condigio de completo desem- aro, visto que “nio vai dar certo mesmo”. Quando nfo se ctia expecta- tivas realistas, hd uma tendéncia & apatia, sem que se consiga mobilizar-se para agbes (Seligman, 1990). Pessoas depressivas com tendéncia & ansiedade podem também vi- sualizar algo exageradamente ruim que esté por vir e, desta forma, fica- tem em alerta se preparando para 0 pior. Por este caminho, haverd um gasto de tempo ¢ energia para lidar com ameagas imaginadas; perde-se 0 foco nas possiveis agdes para resolver problemas presentes c ¢ possivel até se criar novos problemas. 116 Depresséo Entéo, o modo de pensar € muito importante em nossas vidas, inclusive no que se refere &s expectativas que temos em relacio ao futu- 10, Expectativas realistas positivas costumam gerar motivacio para a acio, 0 que pode favorecer a concretizasao das mesmas. Como o meu problema pode estar sendo mantido? Explicamos como os pensamentos podem influenciar para gerar ¢ intensificar sentimentos desconfortéveis, mas existem também outras varidveis muito importantes que estéo sempre presentes ¢ interagindo em nossas experiéncias de vida. Quando estamos vivendo uma situa- 40 qualques, podemos ativar pensamentos, reagées fisiolégicas, com- portamentos/atitudes ¢ emocées. Mesmo sem saber ao certo qual ser ativado primeiro, quando qualquer um dos quatro aspectos é ativado, 0s outros trés inevitavelmente também serio. Cements >) Figura 8.2 Modelo de cineo partes para compreender as experincias de vida. Fonte: Greenberger e Padesky (1999, p. 16), Psicoeducagio em Terapia Cognitivo-Comportamental_117 No caso da depressio podemos apresentar um quadro onde estes aspectos de vida se apresentem, por exemplo, da seguinte forma: ‘Amblantes com fatores estessores| contaido de desamparo, esomar eeu mens aa Ambien Bain de near anmisere ome! serotonin, paring a Temenos de stn slr wi, res aren ruse, cup, eF Eargortamenios unions Ite nso seule Figura 8.3 Modelo de cinco partes para compreendér as experéncias de vida. Fonte: adaptada de Greenberg e Padeshy (1999, p.16) Sendo assim, é essencial aprender a lidar com todas estas varidveis, nao sé para haver uma melhora momentanea, mas também para cvitar tecaidas no futuro. Se nao houver intervengses nestes aspectos visando a mudanca destes fatores mantenedores da depressio, o quadro pode se prolongar ¢ se agravar. Entao, se a ativagio de uma das quatro variaveis inevitavelmente ativa as outras trés, a mudanca “positiva” de uma delas também afetard “positivamente” as outras trés * } Como posso lidar com a depressdo? \ a A depressio é um transtorno no qual hé uma baixa de energialdis- posiséo que dificulta a realizagio das tarefas, entretanto é justamente a ado que favorece 0 aumento da motivagio para ativar-se ¢, assim, se manter. Comegar com alguns “pequenos passos”, ut indo a energia e 118 Depressio 1s recursos que tiver & sua disposicio, ¢ essencial. Caso vocé esteja com depressio, pode nao estar com muita energia, mas provavelmente pode ter o suficiente para fazer, por exemplo, uma pequena caminhada a vol- ta do seu prédio ou pegar o telefone para falar com um amigo. Dica ao terapeuta | | € comum o cliente com depressdo, em funcSo do quatro, utlizar-se do discurso de que | | precisa ter eneria para fazer alg, envtaro, € preciso questionaro pensamento para que | | se entenda que, na maior parte dos casos, 0 caminho inverso& mais verdader: & preciso | [_ fips res | No inicio nao exija demasiado de si, possivelmente nao fard tudo aquilo a que se propée. Mas nao tem problema, mantenha o foco nas suas acbes, conduza as coisas uma por ver € um dia de cada ver. Ao rea- lizar uma tarefa, tente se recompensar por cada realizagio bem-sucedi- da, Aos poucos, cada agéo concretizada e energia gasta (aquela que pa- Tecia ndo ter) irao aumentar o seu animo. E essencial que uma pessoa que esteja passando por um episédio depressivo busque ajuda de especialistas na area de saiide mental (psicé- logo c/ou médico psiquiatra), pois estes tém conhecimento para investi- gar a fundo a questio e orientar agdes para superacio da depressio. Com o psicdlogo especializado em TCC, é possivel que vocé apren- da, de forma gradual, estratégias para lidar melhor com os problemas associados & depressio, Estratégias que auxiliam no questionamento das intexpretagées distorcidas e favorecam 2 mudanga dos pensamentos dis- funcionais para mais adaptativos serio essenciais para melhorar a auto- estima, a autoconfianca e aumentar a ativacio comportamental. Além disso, conversas sobre questées existenciais como “quem eu sou”, “qual © sentido de minha vida?", “o que eu quero de fato pra mim?”, “o que eu gostaria de realizar ao longo da vida?” podem ajudar a estabelecer ex- pectativas futuras coerentes ¢ realistas Psicoeducagao em Terapia Gognitive-Comportamental_ 119 O individuo com depresséo pode ter a melhora favorecida se houver suporte social. O terapeuta poderd incentivé-lo a construir relacionamen- tos intimos e de confianga. Interacoes empéticas so, comprovadamente, ‘um excelente “antidepressivo natural”, Dedicar-se a um treino em habili- dades sociais com o seu terapeuta pode aumentar a probabilidade de ha- ver a expressio mais adequada do que sente, pensa ¢ gostaria de atingir, Isso, é claro, poder beneficiar a manutencio de relagées satisfatérias. i Tani oma quan 0 momento para se tata as habliddes sais vara muto | ‘de acoréo com a necessidade e perfil de cada pactente, Por exemple, hd incivduos com tencéncia & depressdo que costumam ser mais passives na interacao com os autos © nd ‘casos onde a iritablidadeesté presente de forma marcante Dica ao terapeuta - A busca por um tratamento farmacolégico pode ser necessiria em alguns casos. Os medicamentos antidepressives podem gerar um efeito ‘benéfico para uma parcela das pessoas que sio acometidas pela depressio, ‘© que, em geral, nfo elimina a necessidade da psicoterapia. O tratamento ‘conjunto tende a ser uma boa opgio para a superagio da depressio, Dica ao terapeuta E essencial que, na avaliacso do cliente que se apresenta deprimido,seiainvestigado enisécio passado de manis ou hipomania. Em caso posto, o cliente aode preencher critrios diagnésticos para transtomo bipolar do humor. Nesta concgao, a0 fazer uso de antidepressivo, 0 ndivduo pode, com malor probablidace, ter uma cielagem de humor ara euoria, o que deve ser odservao com atencio pelo terapeuta e mécico psiquiatra, Além das estratégias citadas, a pessoa com sintomas depressivos de obter beneficios com a utilizagéo de algumas priticas. Ha estu- F 6 igumas p' | 120 Depressio dos recentes que apontam que meditagio, yoga, atividade fisica re- gular, pratica da religiosidade/espiritualidade podem reduzir sintomas de depressio. Q) Seré que eu posso conseguir? Foi visto ao longo deste texto que, mesmo que possa parecer dificil lidar com a depressio, ha alternativas vidveis para superar o problema. (Os cratamentos existentes tém ajudado muitas pessoas que sofrem com a depressio. Quanto maior for a adesio ao tratamento, maior seré a probabilidade de reduzir a frequéncia ¢ intensidade dos sentimentos desconfortiveis, de voltar a viver momentos agradaveis ao perceber no seu dia a dia os acontecimentos positivos e de aprender a lidar com as adversidades de modo construtivo. 0 que eu aprendi e como posso passar para aco? Psicoeducagdo em Terapia Cognitivo-Comportamental_ 121 @ Beck, JS. (1997). Zenapiacogmirne: Teoria ‘epritca. Porto Alegre: Arcmed. Beck, A. (1997). Terapia cogitva da de- _prsio.Porco Alege: Armed ‘Ameccan Prychianie Aseciaion (2014 Paral dg « eats de sera teas (5c), Pow Alege: mel Beck, J.S. (1997). Tempe cogitva Teoria “epritica, orto Alegre: Armed. Beck, A. (1997). Tenspia cognition da de Presi, Porto Alegre: Artmed. Beck, A. (1975). Hopelessness and suicidal Dehavior. Journal of American Medicine Associaton, 234, 1146-1149. Beck, A. (1961), An inventory for mea suring depression. Archives of General chiatry, 4, 961-571 Bibliografia sugerida para consulta do terapeuta Leahy, RL, (2007). Como lidar com as pre- ccupasdes: Sete passos para impedir que elas ppaalisem voe8. Porto Alegre: Artmed. Seligman, M. (2005). Aprenda a ser otimis- 14 (2. ed.) Porto Alegre: Nova Era Greenberger, D. 8 Padesky, C. (1999), ‘mente vencendo 0 humor. Porto Alegre: Art med. Hamilton, M, (1960). Rating sale for de- pression, journal of Neurology, Neurosurgery & Pychiatry, 23, 56-62. Hawton, K. (1997). Terapia. cognitive: comportamentl pare problemas pique? cot: Um guia pritco. Sto Paulo: Martins Fontes. Seligman, M. (2005). Aprende a ser otimis- 1. (2. ed). Porto Alegre: Nova Era, 9 Transtorno bipolar do humor Rafael Thomaz da Costa Jacqueline Espinola da Paixao = | Oque é transtorno bipolar? © transtomno bipolar (TB) é uma doenga crénica, caracterizada pela variagio intensa desproporcional do humor, havendo ou nao algum forte ator estressor presente no momento. Essas variagGes de humor fa- zem a pessoa agit de forma inadequada, havendo prejuizos em uma ow mais éreas de sua vida, Este problema torna as pessoas mais vulnerdveis a estresses emocionais ¢ fisicos. ( inicio desse transtorno geralmente acontece na adolescéncia ou no comego da fase adulta, embora poss, raramente, comecar no inicio da in- fancia ou aos 40, 50 anos. Quem recebe o diagnéstico de transtorno bipo- lar pode ser que apresente, em alguns periodos, um estado de “humor no- mal” — 0 que chamamos de eutimia — ou, em outros, um estado de humor alterado, Dentre os possiveis quadros de humor alterado, uma pessoa com "TB pode manifestar a depresio, a mania/hipomania ou 0 episodio mist {As primeiras ocorréncias dos sintomas podem se dar de forma gr dual ou com crises mais graves, tanto pela fase de mania como pela fase de depreso, ea fiequéncia, a intensidade e 0 tempo de cada epis6dio de humor varia muito de uma pessoa para outra ‘picecdativo para o cliente disponive em Sinopsys AP? Se eee acme: P ou pelo link wirwsinopsys Psicoeducagéo em Terapia Cognitive-Comportamental_ 123 A fase de mania comeca frequentemente com uma sensagio de au- mento intenso de energia, de criatividade e de sociabili mento, é comum haver uma falta de bom senso ¢ maior irritabilidade também, Em estado maniaco, a capacidade de se autocriticar costuma ficar muito reduzida, ¢ a pessoa reage de forma mais impulsiva ou mes- ‘mo com raiva a qualquer um que aponte um problema. Na mania, além de se sentir incomumente euférico ou irritavel (ou parecendo assim para aqueles que o conhecem bem), 0 individuo também pode apresentar pouca necessidade de sono (mesmo tendo grande quanti- dade de energia); pensamento acelerado; dificuldade para focar a atengio, por se dividir em muitas assuntas ao mesmo tempo: um inflado senso de poder, grandiosidade ou importincia; e/ou fazer coisas imprudentes ou te- merosas, sem considerar as possiveis consequéncias (ex.: gastar muito di- tnheiro, aumento da expressio da sexualidade, descuidar da seguranga). Em alguns casos extremos, a pessoa pode até apresentar alucinagoes (ouvindo ‘ou vendo coisas que nao cxistem) ou ilusbes (distorcendo informagées rece- bidas ¢ acreditando em coisas que nao sto verdadeiras) (APA, 2014). © iindividuo com TB também pode apresentar a fase de hipomania, tum quadro menos intenso de euforia. Nesta fase, hd sintomas similares & ‘mania, mas em menor intensidade. Comumente no epis6dio hipomaniaco a pessoa se sente melhor que o usual e mais produtiva, Nestes casos, no ha sintomas psicéticos (alucinagées efou ilusdes). Desta forma, por sentir-se bem ¢ causar problemas menos graves, a fase de hipomania pode, frequen- temente, levar a pessoa a demorar mais para buscar tratamento ou, estando ‘em tratamento, concluir que pode parar a medicacao (Kapcrinski, 2009). Diferentemente das fases maniacas e hipomaniacas, na fase depressi- va grave a pessoa se sente triste, melaneélica ou apética. Perde o interesse por atividades que normalmente gosta e pode apresentar sintomas como: insOnia ou sono excessivo; perda ou excesso de apetite; problemas de con- centragiio; dificuldade para tomar decis6es; sentit-se lento ou inquieto; se sentir sem valor ou culpado, ou com autoestima muito baixa; sensagio de perda de energia, cansago fisico e mental; cfou apresentar pensamentos de morte. Em alguns casos de depresséo severa a pessoa pode apresentar alu- cinacées/ilusées também a necessidade de internacao. ide. Neste mo- 124 Transtomo bipolar do humor Dica ao terapeuta sempre importante erftizar que nos as de hoje a nteragéo imoluntiias6érecomendada {quando lente ests em um quadro de ferte cise, eolecano em sco a propria vida ou a vida de outras pessoas. Hoje as intemagées psiquidtricas sSo menos frequentes e duram menos tempo, em funcdo das campanhas de desinsttxionalizacéo, evolugdo des tratamentos e do entendimento de que, em muitos casos, € mais benéficootratamerto sem a internagéo, ‘Além disco, hé também os quadros mistos, onde ocorrem de forma ‘combinada tanto sintomas da depresséo ¢ da mania/hipomania. Ou scja, a pessoa pode ficar tanto excitada ou agitada como em estado de mania, mas também pode se sentir iritada e deprimida, ao invés de se sentir no topo do mundo. E wm quadro que também gera muito softimento (APA, 2014). O Manual diagnistco ¢ estatistico dos nanstornos mentais (DSM-5), publicado pela Associagéo Psiquidtrica Americana (APA, 2014), descreve quatro tipos de TB: O tipo | é caracterizado por um ou mais episédios manfacos ou mistos, geralmente acompanhados por episédios depress vos; © TB tipo Il se caracteriza por um ou mais episédios depressivos, acompanhados por pelo menos um episédio hipomaniaco; o TB ciclot- mico, que se diferencia por apresentar, por dois anos ou mais, varios pe- riodos de sintomas hipomaniacos que nao satisfazem os critérios para um episédio maniaco e varios perfodos de sintomas depressivos sem que se preencha todos os critérios para um episédio depressivo. OTB nio ocorre por culpa da pessoa, nem é 0 resultado de uma personalidade fraca ou instivel. Ele € uma condi¢io médica tratével, para a qual existem medicamentos especificos e tratamentos psicoteripi- cos que ajudam a maioria das pessoas (Nardi, 2011), Acredita-se que haja um componente genético para que uma pessoa desenvolva 0 TB, pois este tende a acontecer em familias. Além dessa ca- racteristica genética, fatores estressantes que ocorrem ao longo da vida do individuo atuam como “gatilhos", os quais podem influenciar no “desper- tar” de um episédio maniaco ou depressivo, como serd explicado a seguir. Psicoeducagao em Terapia Cognitive-Comportamental 125 2) ‘Como os meus pensamentos influenciam no transtorno bipolar? De acordo com a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), a -nossa interpretagio sobre uma situacao vivida influencia diretamente no _que scntimos, em como agimos ¢ em nossas reagdes corporais. “Figura 9.1 A influéncia dos pensamentos ~ modelo cognitivo de Beck, Fonte: Beck (1997), Entenda que essas nossas avaliagdes, em diferentes momentos ¢ con- “textos, podem ser equivocadas, em especial quando estamos com o nivel -de estresse clevado ou em um momento de crise. Mesmo assim, temos a -tendéncia de lidar com estes pensamentos como se fossem verdades. Exemplos: A Alberto € uma pessoa com boa autoestima; esté em momento da ‘Vida com o nivel de estresse controlado ¢ o humor estavel. stanton renames ess enon, automates ompetaentals ‘ilies ‘Un pos de apreese ouconsmuarme — -——) oP rreatae Aber tabaa em ear eae ome meter are Conta raahando ‘eaimerma snore ae Panepretery “cman eaten ita eres Se psn = sri n Tonics octet econo meat — rome |g Nerhuna sesete Se conto Figura 9.2 Adaptada do modelo cognitive de Beck. Fonte: Beck (1997) 126 Transtorno bipolar do humor B — Bernardo é uma pessoa que rende a avaliar as siruages de uma forma pessimista; estd em um momento da vida com 0 nivel de estresse levado ¢ 0 humor irritével. snus esaerts tases oman, “omer |___ secs acontece comigo! Leet ———— Paralisa; néo consegve: mame onde {secs ei. secon noe: merece | | eseeunsocorsemur | > “tea ierviiote core (asr cates ce estes, umnoveemorHo.e compartment os oiessnere riohas evens de ‘urersoredse ues demses nneroacabirer ‘oe inh aria Tense asutr, espa tga Figura 9.3 Adaptada do modelo cogritivo de Beck. Fonte: Beck (1997) Repare que diante de uma mesma situacdo podemos interpretar de forma diferente. Quando avaliamos de forma distorcida, vivenciamos emogoes desconfortiveis desnecessariamente © tendemos a expressar comportamentos inadequados (Beck, 1997). E possivel que, com dedicagao & terapia, a pessoa consiga enten- der 0 seu padrdo de interpretagao das situagées cotidianas. A TCC pode ajudar na identificagio dos pensamentos que podem estar man- tendo dificuldades, e, no questionamento deles, modificé-los caso néo sejam realistas. O objetivo da terapia é Ihe ajudar a encontrar pensa- mentos alternativos que iro proporcionar menor intensidade de sen- timentos desconfortaveis, ou mesmo o desenvolvimento de sentimen- tos agradaveis, ¢, por conseguinte, reagées comportamentais mais apropriadas frente 4 situacio. Assim, haverd maior chance de manter © nivel de estresse controlado, e isso sera fundamental para manter 0 humor equilibrado por mais tempo (Newman, 2002). Psicoeducagao em Terapia Cognitive-Comportamental_ 127 Como 0 transtorno bipolar pode estar sendo mantido? Todos nés podemos ter momentos de altos ¢ baixos no humor: alegria tristeza, raiva dentre outras emogées sio normais diante de determinados momentos do seu cotidiano. Entretanto, como jé vi- ‘mos anteriormente, no caso do TB a pessoa tem oscilagées de hu- mor fora de proporcéo, ou toralmente desconexas frente aos aconte- cimentos da vida, aferando direramente seus pensamentos, senti- mentos, comportamentos, além de danos significativos tanto na sua satide fisica quanto mental. ‘A Figura 9.4 explica como o complexo ciclo do transtorno bipolar pode ser influenciado por varias variiveis diferentes, seja para se manter 6 humor estével ou para propiciar uma variacao intensa de humor. Um individuo com transtorno bipolar aumenta a probabilidade de ter variagées de humor com maior intensidade ¢ frequéncia se este: —néo fizer uso do medicamento prescrito em dose e horarios cor- retos, ou no fizer ajustes no tratamento farmacolégico quando necessario; —se deparar com farores estressores internos (pensamentos distor- cidos e preocupagées improdutivas) e/ou fatores estressores exter- nos (situagées probleméticas reais ou conflitos); ~mantiver um plano de atividades irregular ou com sobrecargas, com horitios inadequados e maus habitos na rotina de sono- tl — nao teforcar “pilares” essenciais para haver um maior contro- le do nivel de estresse ¢ melhor qualidade de vida, tais como uma alimentagéo sauddvel, momentos de relaxamento/lazer com qualidade, exercicio fisico regular € trabalhar 0 modo de pensar.

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