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2 No pracente oe renatiocia, Iowurgincia @ ltam por un fespazo soci. 8 npaizer fav-ehicana v0 Gouasora et Vanover tuepeat para cga \ceame rarvtoron no et the dow sutras. “Ralipen (Gaur Negra or Ali 0 Ateca Laan (areas Sig Jon Mitac, 1973) Won. 01 Nagd o a Morte (Pendpote, Eater Voren, wre, 2 esiche 19700 escla 108g, exons 42 FEVISTA USF urante virios séculas 0 mercantilismo ¢ 0 coloni: Tismocuropeusocasionarame seencarregaram da transferén- cia de grandes contingentes humanos de varias regides da Africanegraparias Améticas. Povos em sua maioria da Cos- ta Ocidental, escravizados © embarcados nos portos do Golfo du Guiné - El Min Popo, Badagri, U constituiram a base finea do Brasil. ‘Apesar das relagdes séciv-juridicas \postas pela escravidio © mesmo depois Cho Ii conjunto das relagdes sociais, patti mente no que se tefere & participa poder estatal, os afticanos © seus deseen- dentes souberam transplantar, numa coe- xisténeia dialética, singular conjunto civilizatdrio que permeou toda a sociedade brasileiraem bem organizadasassociagdes. Atravésdessesagrupamentos, sejapela similaridade dos sistemas religiosos nas famosas “comunidades-terreiro"(1) da Bahia, seja claborando o mais amplo leque devariiveislitiirgicas(2) ousdcio-lidicas(3) + resultados de diversidades Etnicas ¢ de processosadcio-histéricos regionais-, todo O territériv e w form brasileira fica profurdamente marcados. por instituigdes que transportam e recriam a riquissima heranga africana. Nestas comunidades foram midicados: costumes, hicrarquias, literatura, arte, mi- tologia, comportamento, valores ¢ agies que, mesmo dinamicamente reclaborados na ditispora, correspondem aos diversos reinos ¢ regides de onde procederam, O complexo cultural nago no Brasil remonta suas origens as egies que correspondem hojeaosudoeste e centroda Nigériaeao sul ecentrodaRepiblicade Benin(ex-Daomé). ‘Comprecnde nagiesconhecidascomoEy6, Eybi, Egbado, ljoxs, lebu, Ketu, Sabé, laba Incorpora tragos dos fons, adjas, huedas, jeguns, malis ¢ outros, conhecidos no Brasil com o nome genérico de jejes(). O comércio intenso entre a Bahia ¢ a Costa manteve os nagds do Brasil em con- lato permanente com suas terrasde origem. Tal como na Africa Ocicental, a reli impregnow todas suas atividades, regulan- doeinfluenciandoseu viver cotidiano,con- servando um sentido profundo de eomuni- dade, preservandoe recriandoomaisespeci- fico de suas rufzes culturais. Na didspora,o espaco geogrificoda Africa genitoraeseus conte dos materiaise espirituais foram res- tituidos em bem organizadas associagSes, os egbe, as comunidades-terreiro, Neles se comlinuae renova aadoragio das entidades sagradas,a tradigio dos orisaeadosances- trais ilusires, os egua. A teligitio tradicio- nal, condutora de continuidade institucio- nal, gerou 6 estabelecimento das comuni- dades. Os “terreiros" ou egbe foram, con- tinuam sendo, centros organizadores da fi- xagio, elaboragio ¢ transmissio cultural, niicleos ¢ pélos de irradiagio de todo um complexo sistema simbélico. PACTO SEMANTICO ‘Comunicagio ¢ grupo social sfo ter- mos intercambiiveis. Todo grupo, toda elnia, associugio ou comunidade para se tuircomo tal deve estabelecer mods: », Qualquer que sejaa indo Ie ea complexidade dessa comunicagio - gestus, sons, exclamagoes, ritmos, cores, formas- constitui-senumalinguagem. Essa Hinguagem compreende uma rede designos cujos intercimbios ou tekagdes simbélicas configuram uma entidade. Essa rede sim- bilica se legitima pelo consenso dos inte- ghantes do grupo; cu sou, nds somos, Maso verbo ser € um verbo vazio. Ele se realiza através dos atributos aceitos pelas aliangas quelegitimamo consenso:cusounagd, nds somos baiunas, cic, O grupo social expressa assim sua vontadede ser desta oudaquelamaneira, O conscnsosimbdlico permite que o grupose diga asi mesmo. A rede de aliangas no é linear. A eficdcia simbdlica é resultado de uum processo capaz de incorporar ¢ promo- ‘ver v intercdimbio das diversas aliangas de todos os que constituem o grupo, claboran- do seu dizer plural, Através da linguagem se estabelece 0 pacto semdntico do grupo. Mas © pacto do grupo se inscreve numa realidade mais ampla. Ele deve elaborar as contradigées ¢ polémicas em relacio aos outros segmentos dat sociedade, criando a partir de sua identidade estratégias de con- tatos ¢ relagdes, Assim o pacto semintico, le,estd ameagado, desde 0 exterior, pelos outros discursose interesses que tratam de impor se ¢, nO Seu interior, quando o discurso do gnupo é silenciado ou fragmentado na sua rede de aliangas perturbando a fixagio « transmissio adequada de scus signos, de seu dizerplural turbando seu auto-reconhe- cimento. ‘Todos 05 recursos devem ser mobil zados para oestreitamentoe fortalecimento dasaliangasintemas, particularmentequan- do se trata de grupos ameagados de couptagio ou de repressio, Scus integran- tes deve reconhecer-se coma sujcitos so- claispertencentes a uma comunidade capa: realmente de dizer-se a si mesma, Ocontexto colonial ou neocolonial se caracteriza pela fragmentsigiio do pacto se mintico, pelo seu exva: folclarizagiv. A agia descolonizador, a0 conteirio, restitui a i lec os conted- dos proprios. Integra por uma dec é radical de perceber as especificidades esiruturadomis da linguagem que permite, a recomposigao do pucto semintico © 0 manejo do proceso histirico. Recompore conscientizar ocomplexo pacto semiintico nagd, sua memria € con- Linuidade, é objetivo prioritirio deste trabs- Iho. Ele se inscreve ne: descolonizadont, na teimo eghe, de contin redede signos, aliancas, e promovendo sua realizagiio em todos os plinos. DISCURSO SIMBOLICO: TEXTOS LITURGICOS NAGOS Nas comunidades-terreiro nayos, 0 discurso simbalico se realiza fundamental mente pela pritica littingica. A lingua, seveiculapelantividade individual grups pelo conjunto de cerimdnias € rites pibl cos ¢ privades. Desse organismo simb 60, VIVO estuante, desticaremosuni de seus componentes, a expresso verbal. EI articula com os demmtis elementos rituais € 86 poder’ ser compreendida em fungio do tudo. Dana, ritmo, cor, objeto, conta, ges- to, folha, penteado, som, textose atticulana Pparasignificarosagrado, Canticos, invocs Goes, louvacdes, recitsidos, textos mitic onaculares, hist rias, paribolas, sonidos instrumentos de comunicagio que, através de sua forma significante, contribuem a manifestar e transmili¢ a complexa t simbalica em cujo bojo 0 pacto ser se realiza, Afirmam alguns eruditos que sem a palavea a mente morreria, pois guardamtos informagées da mesma mancira como a célula guarda energia, Talvez soja sob esse aspecto que os descendentes africanos na difspora fizeram do patrimGnio oral de su linguagem um de seus instrumentos mais persistentes. Referéncia fundamental, a palavra, poder ¢ enetgia, apoderando 0 existir em todo seu &mbito infinito, ulirapassa gera- goes, conduzindo, transmitindo e transcen- dendoscu tempo de origem. A palavra pro- ia confere existéncia a um plural uni- blico neo-africano que se reeria dialeticamente nas comunidades-terreiro nagés da Bahia. A lingua nagé falda cotidianamente na Bahia até uns 30 anos ates, no apenas pagds mas ainda como lingua franca entre todos osafricanose seus descendentes (5), se trarisforntou num rico palriméniomiticac litirgico. Perdida a tin gua como veiculo cotidiano de comunica- 40, cla se reconstitui numa poderosa ins gtagem cujo repertério de nomes, voeibu- los, Irises, textos ecinticosseriados contri bucm fortemente aatualizar nas comunida des-terrciro a visio-de mundo, as condutas, herdadas de seus lores africanos. O sentido de cada ppalavra foi praticamemte perdi ras, quan do pronunciadas agiio requerida, sua seivintica adkquite o significado derivado de sua fungio, da sua participagio funda- mental no enunciado do pacto, da rede de signos e aliangas do grupo. A linguagem nayd esti a servigo ¢ € conseqiiéncia do singular organismo sim- bolico que contribui aexpressar. Para ete to de podermos abranger todos os niveis que mobiliza, trataremos de aproximar as caracteristicas de seu discurso(6), 1, A palavra proferida: sistema inicitico Um dos aspects definitérios do uni- verso simbolico sagrado nays € 0 fato de constituir um sistema inicidtica. Ele éad- quirido, fixado, desenvolvidec transmitido namedida cm queé vividourravés da expe> ridncia, analogias € mitos revivides. A apreensio do conhecimento, das informagoes do codigo grupal, 96 tem sig- nificado quando incorporade de mado ati- vo, de modo diniimico, a nivel de relagdes: interpessoués concretas. Duas pessoas pelo jas para que haja comu- win emana deum individua atingirum outro. Eladeve ser pronun da, carreyadade som, transmitida de boca Para haver transmissao, a presen> 1a, € indispensivel. A inter-rela- #2 0 Ratnasy Varnhagen ‘aporta que" esse o33ae {arto wecravan aren fam mane 9 puruapata Tenaendo'ee unt eon 8 ou ow em nag 4 Arnau de oetacarmos at ‘gumidade do aucun nag’ ‘Smet ao aecwres ote Tirtties tancamerean ‘muarade com 0 Oe Oa REVISTA USF 43 RETAATO OF WAC ANINHA, DE Uenid BRAGA Gr haps e's ake pe 4? = 2 aa EVISTA USP gio dindimica pessoal constitui caructeristi~ cafundamentul dosistema iniciditico.Osom, a.comunicagio, a transmissio do conheci- mento nio se adquirem por leitura, por ra~ ciacinio légico, apenas a nivel consciente intelectual, A palavra carrega a experién- cia, o halito, a histéria pessoal, os gestos, a respiragio, dos mais antigos aos mais no- ‘vos, de geragio a geragio. Proferida, a linguagem est indis- soluvelmente ligadaaosgestos,expressbes, cin corporal, A linguagem pro- ‘um instrumento a scrvigo da estrus 1-se constantemente.Cada por ser pronunciada € Gnica. Pro- ‘nunciada preenche uma funcioc desapare- ce. Osimbolo semintico, ao realizar-se em palavras, se renova; cada repetigio € um renascimento. No sistema litdrgico nagd, a palavea ¢ importante na medida em que € som, simbolo proferido, pronunciado. Im- plica sempre uma presenga que se expressa ¢ transmite procurando atingir um interlocutor, Na transmissio inicidtica que sé pode realizar-se através da comunicagio partici- pante, a palavra adquire toda sua poderosa gama de significados ao ser proferida. 2, A palavra atuante: transmissao de ase A transmissio do si sagrado recorre a umm que deve se refazer constantemente. A pa- Javraé resultantede interagdodinamica. Ela é produto da interagiio em varios niveis: individual, social ¢ cGsmico. No individual, expressa e exterioriza tum processo de interagio ¢ sintese do qual participam todos os elementos que consti- twem uma pessoa. A emissiodosom é pon to culminante do proceso de polarizagio ‘ou comunicagio interna(7). No nivel social a expressio verbal co- munica cinterage de pessoaa pessoa, trans- mitindo a experiéncia de um a outro ou a virios integrantes doegbe, de uma geragio a outra, dos antepassados a geragdes do presente, No nivel césmico ela contribui a pro- maver a relagio dos membros dos exbe com as entidades sagradas miticas, pode- Tes representantes ¢ patronos dos elemen- tos que constituem © universo, 0s orisa © érunmale. A palavea pronunciada é um re- sullado provocado pela interagiio de cle- mentos genitores. Ela aparece como um tereciroelemento. A aparigiodo som-pala- vra como tereeiro elemento nascido da interagio origina movimento. A palavea é aluante porque traz consigo ¢ expressa movimento, A patavra proferida, atuante, mobiliza ¢ carrega um poder de realizacio Aenergia mitica ¢ existencial de quem esti proferindo. E esse poder de mobilizagio participa de todas as. dimensdes que com- poem a prixis humana. Ele esté presente, penetra © atua em cada caminho do devir existencial. Os integrantes docghe, através da experiéncia impregnando cada passo do cotidiano em uma interagio direta e paula- tina, recebem, fixam ¢ desenvolvem esse poder milico ¢ simbélico, sacralizado, que Abes permite integrar-see identificar-se com. os signus c clementos do sistema que cles mestnosajudamadinami: poder de realizacio, carregando a cnergia mitica estruturador, assegura a propriaexisténcia comunitiria processando a alianga, a cor frente consangiiineaentre osiniciados, entre passado, presente € futuro, renovando o pacto semntico grupal, Esse poder conhe- ido como ase € 0 principio que tora pos- sivel a comunicagio, 0 processo vital do eghe(8). Oase, como todo poder, pode dix minut ou fortificar-se. Es des estio diretamente rel sua condugio alravés das atividades ¢ eon- dutas rituais. Ouse se adquire, se reeebe, se enrique ce pela experiéncia mistica, interpessoal € ritual, alcancando os niveis mais profundos do corpoe da mente, pelos elementos sim= bélicos, pelo sangue, frutos, ervus, gestose pelas palivras proferidas € atuantes. Pronunciadas no momento preciso in- due . A invocagio se apoia nese poder din’imico do som, Os textos proferi dos, cantados, recitados, estia investidos dese pater, 3. A palavra transcendente O simbolo é uma realidade que | cende, Umn biizio, uma pull, uma conta, um ritmo, transcende seu conteddo fora do tempo ¢ do expago, Selecionade e aceito pelo consenso do grupo inicial para repre= sentaruma necessidade, ut € E subjactneia, se projeta fora do ter culado pelas geragdes, se constitui em um signo de comunicagio, em uma referencia (que singulariza: emuanando do pucto inaw- gual, lrnscende no tempo. A palavra, os textos se aposteram du existir ent todo seu Ambito infinito. A finitude do participante doeybe se transcende nessa capacidade de receber ¢ veicular intencionalmente, para além de sua propria vida, oexistirinfinitoe transcendente de signos, de textos, plenos. de ase, de poder ¢ energia miticos, estruturidores de identidude. 4, A palavra confere existéncia. Os orisa e irunmale, © possessao, Aspalavias curregadas de use si for- gas profundas, Elis tém o poder de tornar presente a linguagem abstrato-conceitual e emocional claborada desde as origens pe= losantecessores. Elis tém 0 poder detomae presentes os fatos passados, de restaurar e renovar a Vida. Indutoras de agio, estimu- Jam 0 proceso iniciatico; através da agio. ilcontribuemare-conduzire tecriar todo. osistemacognitivoemocionaldoggby, tanto ‘em relagio ao cosmos como & realidade humana. Pronunciadas no contexto ¢ lugar ade- ma forga de trazer Consiga os seres ¢ entidades milicos ¢ sa- gradas, Os orisa, nos “terreiros” nagd, 840 as entidades sagradas agrupadas em pantedes, modelose prinefpios reguladores dos fendmenos cdsmicas, sociais ¢ indivi- dusts Imente entidades ou val gundo a mais fiel mancira africana. Aspalavrasconferem existéncis no ato. de nomearalgo conhecide que esti presen- Ieaosujeito, O wtode conhecer, aoserenun- ciido, confere existéncia ao nomeado. A Jinguagem proferida atuante, carregada de axe, confere existéncia is entidades, princi- pios ¢ signos do LINGUAGEM NAGO: ARKHE, ETHOS E EIDOS A Tinguagem nago nas comunidades- terreiro tem nuanceamentosen to além do que podem explicitar as palavras es- ctitas, Nossos habitos 16- gico-analiticossio insufi- ientes, dicotomizantes € até deturpantes quando debrugades a examinar € recodificar as relugdes de unt organismo jitico. A linguagem nio se limita a espelhar o modo iby. Asua des- » pode ¢ deve ser a possivel. Ainda assim) reunit-se-ia um nd- mervimensoe minucioso de informagdes factuais que s6 teri tido se aproximadas em su nifestas ¢ latentes. As relagdes manifestas hos proporcionam 0 ethos, 0 discurse significante, o cnunciado da linguagem, a fi estétics lo. ou modo de ‘curso subjacente, 2 ontopostica emocional REVISTA USP 45 1104 rats, meseno bt eon mais undicionale Ge ‘onigemnagd eanemtambam [snaua comunidad deecen: ‘nian miscigarados, & ub {sa ragS berdada Goma: ow eemauando.otwreco 8 taunss Saas, A Versace: ‘Ses.zda Mee Jews. ES tera Goce, 178 10 dana Eben “A Exerenato Cra ra Gunza Mage Abies rae Braaters'sn 0M doe ‘Sireoe Conse Canson £3 sor Vozen 197% 46 REVISTA USF recriadora, o cidos que, latcnte, carrega 0 poder do ase, o poder da energin mitica, 0 poder de estruturagio ¢ realizagio. O di curso latente da linguagem grupal, invis vel, transporta © conhecimento vivido, emocio, aafelividade, as elaboragdes mai profundusdasnecessidadese fantas tenciais, E através do ¢idos que os poderes miticos. se presentificam, simbolizados ¢ accitos pelo consenso do eghe. Assint, 0 simbolo equivale a uma caréncia, a uma Fepresentagao que s6.a vivéncia incospora- da é capaz de apreender. ‘0s principios inaugurais, aarkhe, qve imprimem sentido ¢ forga, diregiv presenga a linguagem. A nogio de arkle redine numa unidade indiscemivelosentido de principio-comego-origem € o de princi- pio-poucr-comando. Q sentido arkle no deve ser entendido apenas como algo que aponta a anterioridade € a antigdidade. O conceito de arkhe, nas comunidades iniciciticas, envolvea idéiade prineipioinau- gural, constitutive, recriador de toda at ex- iéncia, “Arkhe nao deve ser entendida nostilgicaa um passado (rural, niio-tecnoldgico, selvagem) mas também ‘significando futuro na medida em que se entende como o vazio que se subtral is te- tutivas puramente racionais deapreensiio” (0 grifo € nosso). A arkhe se projeta na cnergia mitica que, articulando em um todo os inémeros componentes mutiveis do cotidiano, os direciona c os refere a valores incondicio~ nais, trinscendentes. Esses valores renova na continuidade a linguagem nago. Nesse sentido, a arkle projetada se constitui no nvicleo propulsor do egbe. ‘A linguagem proferida, atuada, recitas da, cantada, reflete no apenas o sistema historico-cultural a nivel deapreensao raci- ‘onal, mas reflete fundamentalmente o see transcendente do egby. Sua esséncia arcai- ca, principio inaugural e construtive cons- titui sua natureza ¢ seu sentido, Sendoo discurso nag abertoc plural, imbélicas sio miltiptas ¢ as TRADUTORE, TRADITORE A linguagem da comunidade-terreiro nagd é um discurso sobre a experigncia do sagrado. Nos cinticos € textos pronuncia- dos viio se revelando todos os entes € acon- tecimentos passados ¢ presentes, 0 conjun- restituidoras de principios arcaicos. A cx- petiéncia da linguagem indizivel na me- dida em que s6 poder serapreendida por si propria na relagao interpessoal viv: porada em situagio inicidtica, Assim, além das dificuldades.de tradu- zir para uma lingua ocidental, em palavras portuguesas, num esforgo analitico, os sig- nificudos K6gicos dos textos, € mesmo que conseguissemos imprimir & lingua eserita toda a emogio postica do canto origi transcrigiose frustrariaimemediavelmente porestar destituida do vigor existencial, do contetide emocional do reconhecido. Sci linguagem manifesta éa represen nbolica das. caarkhe 60 vazioquese subtraias tentativas puramente racionais,comoprojetar na versiotraduzida Cc escrita essassubjacéncias latentes inaces- siveis, 0 poder e a energia mitica, meméria ¢ alento existenciais? Atradugioe aescrita da literatura ritu- al nagd aprescntam dificuldades transponiveis, mas ainda outras, sobretudo_ as que dizem respeito a sua eficicia semin- tica, totalmente intransponiveis. Accultura nag@, ¢ isto provém de tudo que antecede, nfio é uma cultura de dicotomias; no destréi ou disseca scus objetos para reveli-los; rodeia-os, aborda- 08 por todos 0s dingulos possiveis, explica- 0s por paribolss, por analogias, por rela- g8es, funcionalmente. Daf a riqueza de in- vocagics, milos, lendas ¢ histérias. Daf o cariter altamente analdgico ¢ simbélico de seus clementos. A Iransmissio do conheci- mento sendo inicial, no nivel da vivéncia daidentificagio, necessariamente scexpres- sa através de formas altamente plisticas ¢ dindmicas. O elemento verbal dos textos, escrito, desprovido de som, de respiragio, despojado da relagaio interpessoal, ¢apenas sua imagem mumificada( 10). Os textos devidamente referenciados nos trazem a informagao factual, historico- cultural do universo nagd. Os textos em situagio litrgica t@m uma finalidade e uma fungio. E a expressio estética, a forma mutnifesta que conduz ¢ significa as milli plas relagdes do homem com seu meio éti co, social ¢ edsmico. Esse riquissimo patriménio forma pare te da cultura da comunidade-terreiro que envolve descendentes de origem nago, em segunda, terceira, quarta e quinta gera- gio(11). Forma e finalidade permitem agrupar ostextos. Foge a nossos propssitos analisar osdiversasestilose géncros, Um dos auto res se dedicou & coleta ¢ documentagio das: histérias ¢ lendas que desde sua infiineia escutou dos mais antigos(12). Constituem: virios volumes, nos quais os contos pro- ‘vin dos ita, histérias dos textos onieula- res do sistema erinelilgun(13). Os contos ‘emanam e verbalizam os sentides das con- figuragdes que adquirem 16 biizios ao s remlangadospelosacerdote. Aoconsultar- s¢ 0 oriculo, os biizios, de acorda com o niimero de unidades que caem sobre 0 scu ladocdncavoouconvexo, resultamem uma configuragio-signo peculiar cujo sentido resposta ¢ dado alravés de textos-paribo- las. Os Odie siv as 16 combinagies possi- veis; cada Odie toma um nome especifico, ilustrando uma detenninada drea da teolo~ gia e da visio de mundo nagd. Cada Odee ‘contém histérias conhecidas comy os di- versos “caminhos” do Out. Nessas hist6- rias, mesmo verbalizadas em lingua portu- gueso(14), a Hinguagem nagd se projeta. A ‘Visio de mundo se faz presente. O estilo, 0 ethos esti presente. Reformulada na diaspora, a linguagem permanece( 15). Elas contém quase sempre uma for- mula, uma eantiga ou um conjunto de ver= sosern nagd que em forma condensadlt, vezes enigmiitica, m nosentidede toda a histéria, A paribola que se relata ¢ conta serve para desenvolvere aclarar esse sentido, Junto a este considerivel acervo de hist6rias, 0 exbe preserva ¢ reformula um riquissimo patrimOnio de invocagdes - os ofo ¢ ayajo, formulas coadjuvantes de ago -, de saucagGes e momes atributives - os oriké em forma de palavra, frase ou poe ma-, de textos adequados para osancest -osiwin -, séries de cantigas para determi- hadas cerimOnias - cantigas de pade, axexe, Aire, ebo, ete. « ¢ toda classe de textos li dosaatividadesritualisticas,aacontecimen- tos excepcionais, até lendas ¢ paribolas de outros sistemas cullurais que, readaptados e“reafricanizados”, passaram a imegrar 0 acervo. © conhecimento que reinstaura a se- mantica daarkhe nao € armazenado, “con- gelado”, em eseritos ¢ arquivos. E pert po. Osarquivossio vivos,constituidospelos individuos mais dadeiro conhecimentoadquirido, reiteramos mais uma vez, na relagdo inicidtica con- creta. A introdugio de uma comunicagio scritacriaproblemasque debilitam os pré- prios fundumentos das relagdes dinimicas do pactosemintico, Introduz raides natrans+ miss%o da linguagem, quese constituem no componente bisico da frustracio das di- ficuldades intransponfveis de que faliva- mos quando nos referiamos a tradugi documentagio responsive de patrim nad. Mas se a especial qualidade da expe- riéncia humana € absolutamente intraduzivel.os objetose seres que a supor- im podem ser aproximados. Por conse- guinte, este trubalho se propde explicitar determinados componentes de nossa expe- riGncia enquanto suportes desse complexo pacto semintico sagrado. Trata-se de uma aproximagio ‘heuristica, a partir da avaliagao da experi- ‘éncia num con-viver comprometide ¢ res- ponsivel ¢ dos sentidos atribuidos pelos ‘proprios integrantes do grupo(16). Ostextos que foramselecionadoscons- tituem simultineamente vefculo de uma concepgiio de mundo ¢ suporte de experi- éncia, fontes de referencia e signos da me- méria nagé que sé se reveste de continuida- de nas alfangas e no consenso comunitiio. IYA-MI-AGBA, NOSSAS MAES ANCESTRAIS poder feminino nas comunidades- terreiro nagos é poderoso e profundamente venerado. Ele magnifica o poder de expan- Ele € capaz niio apenas de assegura continuidade fisica, mas de plantar seme~ ur os modus e valores do eghy. Grindes possuidoras ¢ transmi poder representa a continuidade de toda a exis(éncia, As grandes mies, as Iya, sedes+ nos, poderes miticos sagrados; tambémsio cultuadas € invocadas como ancestrais, re- presentando as mais destacadas figuras fe mininas de Hinhagens ¢ comunidades. ‘Os mitos nos permitem inferir que to- dos os orixa femininos sio representagdes coletivas das Jyu-mi-luawa, nossas mies poderosa Osun, grands protetora da gestagio, € Iyaemi-Akoko, mie ancestral suprema. E Olori Iya-agha Aje Eleye, chele supremo de nossas mies ancestrais possuidoras de paissaros. 12 Decnooresee ML don Sarton Yor Tal Guat so Faia vo catsslce Yor Ponape, Hecrgeo toda, 2 waho 1654 Sevader EctoraLwra: fia Moaerna: Contos Nepret {de Gara Pode June, ES Go RD. 1001 Prete Se Jorge Amado # Bonen ie Canoe, Ant Opd Aftoyd Fic de Janae, Ego Inet futo Sranietra de Estudos ‘Awe Aaldcoa, 100 Nota da Prot Roger Bante, Gentes ‘da Naga Rion Janae. ES foG RO. 1069 Orenrrce Ga Carta: Porous Ona vad Enact, Satvacor, Ego Covameroda tun 1908 Dee Janeiro. Ectiors Coseor YB0" Deventer daw crags alanwcommaade Oba iy 13.0 sinter cnet tn oo ‘niger nag® weld Quane Oe apareceno no Brasil ve cramer marron Sse (io erecta, tia com 0 ‘Seon #0 robe leno permeie sere oe en son eve 6 waar Ia wena wr Correads trvertamerte. @ eereugin que wun Netusies ¢bem dtncsao es pacuinate race Core. ‘dade ergata cumaon Bango. Onum. Nana, Otatvaiye, conaiserado © ‘re dou bite 14 Vide nota 2 18°(0r comos de) Mate Did, ‘Gececerades Ik don Sartor rg Oras Evefunde,, telngote oe Okan cabeca de 10008 08 ‘mnceetimnnapS notorweo ib Aptoule REVISTA USP a7 4B REVISTA USP Nana, patrona da lama, matéria-prima davida, éOmg Atioro oke Of descenlen- te do grande pissaro Atioro da cidade de Ola. Yemanja, Oya, Ewa, ete,, todassio ly suas descendentes no aiye, associadasae poder dos passares. A grande sacerdotisa responsiivel ¢ fundadorado culto de Sango, na Bahia, fya-Naso, € proclama- da com devogio: Iya-Naso Oyo Akala malo Oledunare. lya-Naso d’Qyo vene- rivel passaro Akala de Olodumare. ‘Aimagem de passarosse identificacom ado peixe que acquire um significado se~ methante ao do passaro, do mesmo modo que as penase as escamus, pedagos do cor- po matcmo, representam por igual simbo- Jos de fecundidade ¢ do poder de gestagio das fya-mi. z Na Bahia, Osun ¢ Yemanija estio tam- bém associadas As sereias, morando ent determinados lugares do mar. Einteressan- te notar que sereia, mulher-peixe, € a reformulagao de um antigo simbolo grego, animal fabuloso metade mulher, metade pissare, com busto de mulher, patas de ga- 0, com penas frondosas formando longus asas, vivendosobre penhas- 0s, solitirio no meio das figuas. Opdssaro representante de /ya-mitam- bém figura em varias contos na qualidade de ancestral protetor(17). O culto das /ya-mi estava organizado na Sociedade Gelede. Pouco sabemos hoje sobre sua organizagao e fungdes. A altima sacerdotisa suprema foi Qmonike, que ti- nha © nome catélico de Maria Jilia Figueiredo, iniciadapelamaisantiga/yalase dolle-Iyu-Naso,aveneradaOba-Tosiacujo canto remeteremos adiante. Omgnike tinha 0 titulo de Tyalode- Erelu, 0 que constitui em si mesmo um i teressante fragmento de informagiv. Naoé nosso propdsito aqui examinar a organiza- gio social da comunidade-terreiro, Assina- Laremos apenas que a alta bicrarquia sacer- dotal esté composta por ponderdvel nime- ro de mulheres cujos titulos © papéis reinstauram ¢ represcntam noggbe o poder ancestral feminino, A lya-l'ase ¢ lyalorisa, a lya-kekere, Iya-d'agan, [ya-efun lya-Tebese, lya moro constituem as [ya-agha, as mies respeita- dase veneriveis, zeladoras e transmissoras de ase que por morte integram a poderosa corrente mitica da comunidade, Os espiritos dessas importantes sacer- doi 0 cultuados no terreiro, em luga- res ¢ representagbes especialmente prepa- Fadas, ao lado dos Esa, espiritos de grandes -vullos masculinos, no fle-Ibo-Aku, casa de adoragio aos mortos, onde se encontram pocnisdaree ancestrais fundadorese todos: ‘95 antepassados da comunidade, Por sua omganizagio complexa ¢ sua Teputagio, trés sio 0s principais terreiros, que expandem e representam a continuida- de nagé na Bahia. Todos cles derivam do mais antigo ggbe, ofle-lya-Naso, primeiro culto piblico conhecido de Sango, que ¢s- tava situado na Barroquinha. Transferido para Engenho Velho onde existe até hoje, dele derivaram olf Ososi conhecidocomo Gantoise, enfim, oAse OpoAfonjaem Sio Gongalo do Retiro. E precisamente nestas comunidades que nas grandes ocasioes ¢ ciclos rituals vocudas as fya fundada- ras, Em cerimdnias plenas de emogio, a comunidade ajoclhada, em sinal de home- nagem e profundo respeito, eleva sua voz invocando as Iya-agba, seus feilos, sua infinitude. Um longo pocma, composte de uma série de cantigas, celebra nas comunidades a primeira /yalase do mais antigo terreire da Bahia: Marcelina da Silva, Oba-Tosi, sacerdotisa de Sango, filha da legendiria dyaliso Odanadana, da tradicional Vinh: gem dos Asipa cujo oriki Asipa Borogum Elese Kan Gonga€invocado depois de cin- co gerugdes por seus descendentes © por todos os integrantes dos eebe tradicionais. Essa homenagem se estende 1 todas as [ye fundadoras e transmissoras da arkle nago. O canto expande seu ase, os vinculos se fenovam ¢ renascem( 18), 1 1. yao boguide, 2. Oma Afonja 0 bogunde. 3. E ma be ru ja, 4. Iya asa o. ima be arisa, Aye b’ode. 2 1. Iya iya of 2. Moni eba 3 Bori ata, 6. Keg Babut 7. Dugh dughe Aludo fire, 8. Iyer ope Vaiye, 9. Iya ape Vaiye. 10. Egbomi se ba. M1 lya ope Paiye. 1..Qing yw laghe fe, 2.Ome Iya laghe te. 3. ing jo Iya 0, 4. Oni e ome Afonja, S.Awa det Léreedaipeyno. 2.Omo evn Vaiye. 3.Erogda ig gyno. 4. E wre! 5. Ewa on'tola mo mise... 1.Omo Iya de a oxe ni aime! 2..0g Iya de a oge ni aime! 3. Awa ose ni aia, 4.Awa ose ni aime, 5.Omo lya de a ose ni aimat L.Awa de tere tere, 2. Awa de aiyo, 3. Lesi emi gmo Alagogo, ANTICO PROSOPON Usa00 NO. CULTO "A MAES. ANCESTRAIS EM SALVADOR -BAMIA 4. Oba alapa ni ku borit 5, Boro mu ekun aseke, 6. Ekun ole chun aje, 7. Bie gangan. B.Adeo! 7. 1, Kosi mi fara e awa ret 2. Kosi mi fara e awa ret 3. Awu kasa i fara e la ibe si bo, 4, Idan toba fara a ng a ta Io den, 5. Kosi mi fara ¢ awa ret 8. 1. Kosi mi fara alejo. 2. Ara wara kosi mi fara A tradugio em portugués tenta uma aproximagio, Destituidos de suas nuances melédicas, da variedade superposigées ritmicas e, ainda mais, desse algo essen que a escrita retira, os versos tefletem pali- damente a emogio e conviegio com que sido evocados. MWA tamoea iyaiane Oda toy Eugtnia 1. A guerra trouxe a Mic, 2, Filha de Xango que chegou com a guerra, tenovadoe (erage gwacho REVISTA USP 49 6. 3. Mas nao tema a batalha, 4. Pois a Mie perdcu o medo, 5. Roguemos aos Orixis, 6, Para que a alegria se expanda no mundo, 1. Oh, Mic, Mie, 2. Afirmo tua existéncia. 3, Boa satide ¢ longa vida! 4. On. Miie, Mie, 5. Cabega que nos cobre 6, Com coisas boas! 7. Assim como Xangd imortaliza 0 re- Kimpago no ar, 8. Mic, estaremos sempre gratos a0 mundo (por vossa existéncia), 9), Mie, estaremos sempre gratos wo mundo (por vossa existéncin). 10.Am is ancid fez o sacrificio {er {odos nds), , ESLATEMIOS Sempre pratos 10 ans (por vossa existénela). 1. O fitho (descendente) da Mic pode- rosa, 2. 0 filho (descendent) da Mic pode- ros, 3. Ofilhoéaimagem (a continuagio) dit 1. A morte Vos traga no renascimento. paz, 2. Mas o filho é a continuagio dos pais nesta vida. 3. A morte vos traga paz no renascimento. 4. Noy abengoe! 5. Venham veroque os filhas fuzem por cla! 1. Os fithos, os descendentes da Mie estio aquit 2. Os fillios, os descendentes da Mie esti aquil -s siiv bem conhecidos por todos, . Eles siio bem conhecidos por todos, Os filhos, os descendentes da M: esti aqui! 1. Chegamos eestamosaqui comdiver- timento. 2. Estamos aqui com muita alegria, 3. Somos os adoradores ¢ filhos de Xangd, 4. Poderoso Rei onipotente! 5. A pantera nio pode ser facilmente cagada, 6. Ela pode também comer. 7. Ela tem poderosos dentes, 8. Chegamas estamos aqui! 1. Nada hd no mundo que possa contra mim, aqui estamos! 2 i no mundo que possa contra mim, aqui estamos! 3. Nunca deixaremos de ofertar € rogar en Nossos altsres por mossa gente. 4, Podem usar o poder que quiserem. 5. Nada hi no mundo que nos atinja, aqui estamos! 1. Nada hi que possa contra mim, nem mesmo dos estrangeitos. 2.Todosunidosnummesmo corpo, nada hi no mundo que possa contra min Os versus so cluros ¢ expressivos: a afirmagéio da continuidade, quase linear. J4 a tragédia da passayem transatlintica. Foi a guerra que rouxe a yw fundadora do eghe. Mas com clenclaveioSango,origadofoga,Alaafin, reideOyo, dinastia, origem,ancestralidade, arkke, Lembremos que a lya Oba-Tosi era Oni-Sango. Recebiae personi € 0 principio estruturador social ¢ polit que carrega. O ase, poderde realizacio, plantado, os origa cultuados, as relagdes Egbomi Se bo A mic venerada, a mais antiga, fez 0 sacrificio, as oferendasiniciais ¢ iniciaticas que abrirant os caminhos. Assim como Sango se imottaliza revivendoemcada tro- vio, assim também o poder de expansio da: mic inaugural co poder dindsticode Sango Se represeniam e revivem em seus descen- es reafirmam seu existir, lores da fya, cles se investem da onipoténeia de Sango e de seu poder de Mantendo a comunioagio co com veri ural ou deanna hood, SO REVISTAUSF dude, essencialmente se todos se mantém Ara wara kosi mi fara As [ya-agha sio a origem, de onde emanam principios, signos, mas serio seus descendentes, os iniciados integrantes do egbg, que sustentam ¢ |hes conferem pre- senga. MEMORIA E CONTINUIDADE Anteriommente fiz podertranscendente dal Asuacapacidadede apr seu fimbito infinito e de projet tempo. A expressiio asesy revel e afirma a esséncia dessa permanente renovacio/ renascimento nago. Quando morre um in- tegrinte dogybe, para possibilitar sua pas- sugem para o além e reacomodar avs Lagos da comunidade, & celebrada uma série de ritos mortuiirios, cujo ciclo completo se denominaasese(19),Aomesmotempod pede-se do mortoe se reverencia i todos os asese, os primeiros ancestrais, 0 comego, a origem do universo, de linhagens, de fami Jigs, de um “terrein 1. Agese asese a! Axese Axese of Axese, mo juba Asese, agese of 2. Agexe o kui Agha of Asese, Asese o! 3. Agese, eru ku Agha of Axese, Asese d 1. Ayese, oh Asese Agesg, eu lhe apresento meus humildes respcitos, oh! 2. Asese, eu venero € said os mais Antigos, oh! Asese, oh Asese 3. Asese, a escrava(20) satida os mais Antigas, oh! Asese, oh! Asese. Cada integrante do eebe, por ter side portadore recriador dos principios inaugu- rais, 20 falecer, se converte em um axese. Quanto mais alto.o grau de iniciagio, mui experiéneia e conhecimentos fixados ¢ re- ase, o poder ¢ energia mitica da comunida- de, Iya mi, As Baba mi, Agese! Olorun un mi Asese a of Kintoo bo orisa ae. Minha mie € minha origemt Meu pai € minha origem! Olonun é minha origem! Conseqiientemente, adorarei minhas origens antes de qualquer outro origa (cnle sagrado). Asese stio todos osseres, entidades que Tepresentam os principios estruturadores, permitindo o peculiar ser do grupo. No co mego de tod ceriménia ou ciclo ritual se silva: MoJuba Ghogho asexe tinu ara Satido ¢ venero a todos os wsexe, nossas origens, contidos em nosso corpo comunitirio, As origense sua permanente recria permitem o existir dt comunidade. Bibi bibi lo bi wa Nascimento do nuscimento que nos traz oexistir, Ba comunicagio, a fingaagem atuan- te, transcendente, plena de poder, corrente vivague, dramutizads em rit, confers exis- téncia na difispora ao pacto neo-africano em um dificil e pertinaz coexistir, dialético € plural no conglomenado brasileiro. Apesardasdificuldades histé tentilivas de fragmentacioe folclorizagio, ascomunidadesseexpandem. Compete aos allos iniciados organizar 9 vor colctiva deser. Paraorganizar, é necessirio ler uma concepeis de mundo € um vigor mitico capazes de promover ¢ articular a expel ¢ us exigéncias da vida cotidi- ‘ana com a esséneia arcaica do egbe (21). E fundamental que a comunidade aprofunde suas aliancas internas ¢ alargue os cami- nhos para afirmur seus espagos proprios na idade nacional & qual dialética ¢ indissoluvelmente integra e singulariza, se das: 1 tar 20 A paiawra excrevo 6 vaasa ‘po wantda da star a saw: 2 sectupuloua de aguer 21.£ neceuuieio ealiontat teneradumante a Woertien Mepis com invooucoe Iirpicas. mesmo que nas conhege tere ‘ce itagra na comunidades uanscerdunin de Sango Nic ‘Sealant pan ot ahs acer ‘Sotes nip ha dda Que ‘meuparaco # compere ‘acer verbal # mponane Extorcornemeserisoskore ‘auzaion conteuamonis, som ‘tizanso nets nae. ‘ha « etganzaccen ier ‘corm Apromegiada ua. ‘maa de contatoa # vagens ‘ansatinocas eam eee tivo REVISTA USP ST

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