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BIBLIOTECA (J) PARAIBANA José Octavio HISTORIA DA PARAIBA Lutas e. Resisténcia AUNIAO foroRa — BIBLIOTECA PARAIBANA Wi Governo do Estado CICERO DE LUCENA FILHO Secretirio de Edueagio e Cultura SEBASTIAO GUIMARAES VIEIRA Conselho Estadual de Cultura SEBASTIAO GUIMARAES VIEIRA- Presidente FRANCISCO PEREIRA DA SILVA JUNIOR - Vice Adylla Rocha Rabelo Amaury de Araijo Vasconcelos Carlos Alberto Farias Galvio Carlos Anténio Aranha de Macedo Cristovao Carneiro Vieira Elizabeth Figueiredo A, Marinheiro Fernando Ant6nio Teixeira Itapuan Botto Targino José Anténio de Alcantara José Elias Barbosa Borges José Octavio de A, Melo Luiz Gonzaga Rodrigues Rémulo Ferreira de Azevedo Wellington Hermes V. de Aguiar 1994 JOSE OCTAVIO ofr itn Prt UB, cs cars nus Hace «Cage Bl Sse Brae HISTORJA DA PARAIBA: LUTAS E RESISTENCIA Prefacio de ‘Armando Souto Maior ay. 2% y 5a Verso rh Bp cat AUNIAO EDITORA ts om ro aron oe i rsa mn eee. ere ec mex Ag EUOLLEAO BSTATICADA « ti mt sobe mae Nf fm TP no carom nme som omer cr ee i ones mua sag oon td nt pty ove RR AE ceanecexn 4 nsrano perma tee pastas comgu CQNO EPO ta rin de cay TET pesto Rotnous Jost Howcs TORLADON Nd TROCHEIRA Re do 2 Vomit pom ere aan, Ati Dette ee re tg (SA REOLUIO DED» Epeatiae De oh Gn ip ter, con arin ce 0 Rae Ree ‘doe prin exis 70 Es Kena eas Nowy sae eg an gets tah ea Ne ee Bee eat eet te no ‘a Hl May omens ap a Ne Se ‘one Coen ge ‘an Pe de Ss We Sa ao sie Roden e nour a anata Tet deans 100200 Ie Re AB a Ter deerme (STOMIOCRAPL F MsTORu Das aLek des 4 na lane [924 ay) cy = {ory 4 IN 4218/94 sPHC_CP APRESENTACAO A Biblioteca Paraibana é uma iniciativa do Consetho Estadual de Cultura acothida pela Secretaria de Educago e Cultura no Governo Ronaldo Cunha Lima. Seu lancamento é explicado por 1rés objetivos maiores: = restiuir & pesquisa e a leinura contempordneas as obras fundamentais da Literatura, da Histéria, da Geografia e de ‘outras atividas vinculadas ds artes e ds ciéncias paraibanas, ‘eujas titulos se achem esgotados ou fora do mercado; 1 2. ~ resgatar obras que aleancaram o reconhecimento do pilblico € da critica de seu tempo e que ndo animan o interesse co- ‘mercial da iniciativa editorial privada; editar os titulos novas que, aprovados pelo Conselho Esta- ‘dual de Cultura, contribuam de forma inquestiondvel para 0 enriquecimento da colecao. en. A selegdo iniciat dos tinulos a publicar atinge algumas dezenas, mas 6/ste ano, tangando mito de recursos especiais, pOde a SEC estabelecer comnio com a Editora A UNIAO visando a edigdto dos der primeiros volumes. Importante € que se dé comeco a um empreendimento que faz pare da histéria cultural da Paratba, tentado, hé quarenta anos, sob 0 cone de “Colegao Argiuivos Paraibanos” na A UNIAO de Juarez Batis- ‘0,10 Governo José América. Reatamos um esforgo que teve muito tempo para nao esmorecer. Espramos que nao sofra delongas para continuar. Afiraal, a vontade cultiral da Paraiba é que deve ditar as ordens. NG “ia nares Vem 'SECRETABIO DA EDUCAGAO E CULTURA CAPA Milton Nobrega COORDENAGAO EDITORIAL Gonzaga Rodrigues Sumario Este Livro Preficio 3 ki I Capitulo - NAS ORIGENS DA PARAIBA........0.-- Bibliografia Basica Bibliografia Complementar. I1Capitulo - CONSOLIDAGAO E DEFESA DA TERRA « + AS INVASOES HOLANDESAS. Bibliografia Bisica ede Bibliografia Complementar.... IIL Capitulo - INTEGRACAO TERRITORIAL, MONO- POLIO E CRISE DO SECULO XVII AO XVIIL Bibliografia Basica. Bibliografia Complementar IV Capitulo - UM TEMPO DE MUITAS LUTAS... Bibliografia Basica. si Bibliografia Complementar. Y Capitulo - DA REPUBLICA DOS CORONEIS A RE- + VOLUGAO DE 30 OU ASCENSAO E DECLINIO DAS OLIGARQUIAS. Cee Bibliografia Bésica. Bibliografia Complementar. ae VI Capitulo — ESTADO, CRISE SOCIAL, PARTIDOS E INVOLUGAO ECONOMICA NA PARAIBA DE 1930 A 1990. Bibliografia Basica. Bibliografia Complementar.. VIL Capitulo - PARAIBA: SINTESE HISTORICA EB EVOLUGAO CULTURAL... ini Bibliografia Basica Bibliografia Complementar. 244 248 251 265 ESTE LIVRO... ‘Acestéria deste livro principia por solicitago do cronista Gonzaga Rodrigues que, no comego de 1993, desejava espécie de copido da Historia da Paraiba, capaz de habilité-lo ao preparo de Cartilha do Estado, Ao langar-me ao trabalho, logo percebi que me cencontrava preparando Hist6ria da Paraiba, opiniao compartilhada porminha mulher, AmAvel, ecompanheiros do Grupo José Honério aos quais recorri Isso ocorreu porque, evidentemente, j trazia esse projeto, emestadopotencial, dentrode mim, Com efito, desde ingresso, por concurso, no Departamento de Historia da Universidade Federal da Paraiba, em julho de 1976, 0 preparo de livro assim passou a fazer parte de minhas cogitagdes. Para tanto, contribuia nfo apenas incisiva recomendago de José Honério Rodrigues - “aproveite escreva a Historia da Paraiba!” - como a funcionalidade de alguns compéndios que, desde os tempos de Liceu, me sugestionaram. ‘Bem repartides entre a informagio e a didatica, como ‘construgdes capazes de servir a doutos ¢ iniciantes, tais compéndios = as Geografia Geral e do Brasil, de Aroldo Azevedo e Moisés Gikovate, a Histéria do Brasil de Alfredo d'Escragnolle Taunay & Dicamor Moraes, e, sobretudo, a Hisidria Geral para 0 Curso Colegial, de Armando Souto Maior - indicavam-me 0 rumo a seguir. Este também viu-se balisado pelo cardter bibliografico de 9 eo RR eee le ‘Nelson Werneck Sodré em O que se Deve Ler para Conhecer 0 Brasil. De Capistrano de Abreu adviriam as fusio de Geografia ¢ Historia -bastante cara ao setormais representativoda Historiografia Paraibana, de Irenéo Joffily e Lyra Tavares a Emilia de Rodat - ¢ nogio de Historia Cruenta, assinalada, no caso da Paraiba, por “Lutas ¢ Resisténcia” Quando, em maiofjunho de 1993, me dei conta de que estava a escrever Historia da Paraiba, intui que me habilitara & cempreitada por uma série de razées, Uma delas, as notas, artigos, resenhas, livros ¢ monografias a que me dedicara, desde.a segunda ‘metade dos anos sessenta, Uma segunda, o exercicio, entre 1971 € 77, de Coordenagiio do Projeto Minerva, que meassegurou integral conhecimento da Paraiba, Outras, a diregiio dos Seminarios Paraibanos de Cultura Brasileira, que me alargaram os horizontes metodologicos, ¢ a presidéncia da Comisséio Executiva do IV Centenario da Paraiba, entre 1984 ¢ 86. Nunca se produziu tanto sobre a Paraiba quanto por essa época, Desde dona Tércia Benevides, no curso primétio, sempre contei com excelentes professores de Historia, Tal o caso de Anibal Moura, nos cursos ginasial ¢ classico, Maria Thetis Nunes ¢ Deusda Magalhaes Mota, nos cursos da CADES, entre 1959¢ 61, José Pedro Nicodemos, na Faculdade de Filosofia, Claudio Santa Cruz, Afonso Pereira ¢ Hélio Soares, na Faculdade de Direito, Nelson Saldanha, Nilo Pereira, Vaniiteh Chacon ¢ José Antonio Gonsalves de Mello, neto, na Especializagtloem Historia da UFPE, Mare Hoffnagel e Armando Souto Maior, no Mestrado que se seguiu, ¢ Maria Beatriz Nizza, Eddie Stols ¢ Boris Kossoy, no Doutorado da USP. Neste, tive como orientador o experimentado José Sebastiao Witter, que tanto me policiou o estilo ‘Acssas influéneias adicionei a feitura de Curso de Direito, fundamental para vistio de conjunto da sociedade, ¢ a convivencia de scholars como José Hondrio Rodrigues - seguramente o maior de todos! - Roberto Lyra, Carlos Guilherme Mota, Helio Jaguaribe, Odilon Nogueira de Matos, Edgard Carone ¢ Francisco Iglésias. 10 Deste ailtimo reecbi o conselho de néio enveredar por Hist paroquial, visto como a Paraiba deveria diluir-se no regional, no nacional, no universal, Em Histéria da Paratha = Lutas ¢ Resistth cia (1574/1990), procurei trilhar esse caminho, O livro que se segue vai assim dedicado a todos esses, colagas (maiores) ¢ também a trés paraibanos que sempre acredi- taram em mim. Dois deles, a falecida professora sousense Miriam Melo ~ que tanto me ajudou em A Revolugdo Estatizada - Um Estudo sobre a Formagiio do Centralismo em 30 (1984, 92) - €0 inesquecivel poeta Eulajose Dias de Araijo - historiador do baitro do Varadouro, em Jogo Pessoa, A ambos cumpre acrescentar Wilson Seixas, sertanista deescol eomaior pesquisador de Historia da Paraiba, em nossos dias. ‘Como agradecer a minha mulher, Amavel Maria, ja se tommou lugar comum em minhas publicagdes, ressalte-se a colabo~ rago de duas jovens (ex)alunas - Eliane Campelo (Filha) ¢ Carla Mary S. Oliveira. Sea primeira limitou-se & questio das siglas, em primeira (re)leitura rapida e indispensavel, Carla Mary - uma das melhores aquisigdes do Grupo José Honério Rodrigues, nos iltimos tempos, - veio até o fim, incansavel. (Re)datilografia, revisio do original e das provas, discussio da bibliografia - tudo foi com ela. A seu lado, a inigualivel bibliotecria Marilia Guedes Percira velou (como sempre) pela eficacia do seamento biobibliografico do livro. Ser editado na nascente Colegio Paraibana da Secretaria de Educago ¢ Conselho Estadual de Cultura representa honra ‘quase tao grande quanto a de se ver favoravelmente apreciado pelo Seoretario Sebastito Guimaraes Vieira ¢ demais conselheiros do Conselhio Estadual de Cultura Escrever um livro - mesmo de Historia -¢, de certa forma, libertar fantasmas, No caso desta Historia da Paraiba eles estio bem vivos, bastando ao interessado compulsé-la, para reconhect- los, Tal se verifiea porque sempre entendi a Historia como compro= missoe arrebatamento. Nesse particular, penso eajo como grande ‘eronista portugués Diogo do Couto que escrevia 0 Soldado Priti- u co, “comaquela liberdadeedesengano desoldado veterano que nem receia mal pelo que disser nem espera bens pelo que lisonjear”. Jodo Pessoa, maio (miés das flores) de 1994 José Octavio de Arruda Mello | 12 ee ee ee PREFACIO O livro que 0 leitor tem em mitos & 0 fruto de uma constante preacupagao de José Octdvio de Arruda Mello com a evolugéio histérica da Paraiba. Dela resultow, como se poder ver ao longo dos capitulos que o compdem, néioapenas uma descrieio cronologicamente ordenada do factual mas, sobretudo, uma “explicagdio” da historia paraibana. Poder-se-d, aqui e alt, discordar das interpretagdes que permelam 0 necessariamente descritivo mas, de qualquer modo, é obrigat6rio que se reconhega ser esta Histéria da Paraiba uma aguda reflexto. A Historia do Brasil como um todo demonstra que nossa economia nunea ficou a salvo dos abusos e paixdes dos donos do poder. O mercamilismno e o pré-capttalismo, polos da aventura da conquista e da rotina da colonizagdio, moldaram a realidade estaral brasileira, mas nossa extensdo territorial e certas especificidades regionais exigem tratamentos ¢ andlises que ‘fogem, para que se tenha rigor cientifico, de grandes e dbvias ‘generalidades, As tentativas de autoprotegio da economia nor- destina dos avancos predatdrios da politica portuguesa substitt- ida, posteriormente, pela prépria elite nacional, foram fracas € sempre esbarraram em poderosos obsticulos. Isso fica bem claro no texto de José Octvio. Os indios sdo os primeiros atores que aparecem no 13 grande drama histérico paraibano. Sabe-se pouco da Historia indigena e as cifras de sua populagao sto exiremeamente insegie- ras. Os que habitavarn 0 atual territério da Paraiba eram sempre manuseados pelos interesses dos brancos que, ardilosamente, aproveitavam-se de suas diferengas étnicas e rixas ancesirais. A “fuga para novas regi®es, das quats muitas vezes desconheciam os recursos naturais, e suas relagaes com os colonizadores, sempre alternadas de conflitos esimbioses, nilo conseguem esconder uma verdade assinaladla por José Octavio: os verdadeiros naturats da Paraiba foram os potiguares endo os tabajaras, como se tem divulgado com maior ou menor irresponsabilidade. ‘A Historia da Paraiba nao é estangue - preocupagiio metodologica em todo este trabalho e integra-se nos problemas do Nordeste colonial, I um velho indio tupinambé, citado por ‘Abbeville, que nos dé, por volta de 1610, 0 festemunho mais insuspeito dar mentalidade escravista do homem braneo: “Vi a chegada dos pero (portugueses) em Pernambuco e Poti; ¢ comecaram eles como vos mair (franceses) fezeis agora. De inicio, os perd néto faziam send traficar sem pretenderem fixar residéncia, Mais tarde disseram que nos deviamos acostumar a eles e que precisavam construir fortalezas, para se defenderem, ¢ cidades, para morarem conosco, Mais tarde afirmaram que nem eles nem os padres podiam viver sem escravos para os servirem e para eles trabalharem. Mas, nto satisfeitos com os escravos capturados na guerra, quiseram também os fithos dos nossos € escravizando toda a nagdo”. eat estrutura colonial é 0 primetro ato onde José Octavio insere as principais “dramatis personae”. A partir dai assiste-se 0 euidado do Autor em estabelecer wma coalescéncia hisiérica enire a Paraiba e Pernambuco. As vertentes histéricas das capt- tanias de Pernambuco Hamaraca e Paraiba sao faces de uma realidade maior que o Autor vé com clareza e alto sentido eritico, contraponteando sua visao global com dois aspectos particulares da evolugdto histérica da Paraiba: suas Ilutas e resistencias. A a4 dominagaio dios holandeses ¢ analisada no livro como um grande entreato histérico. Nao pretendeu o autor esgotar a Historia da Paraiba - ainda hd muito 0 que se dizer e escrever - e dai honestamente ter preferido levar os seus leitores pela mao a uma bibliografia complementar, comentada livro por livro com judici- sa prudéncia. Nas entrelinhas da obra esté uma sugestao opor- una, qual seja a de que, em fuluro préximo, esereva-se com a articipagdo de vérrios autores e especialistas uma grande Histé~ ria Geral da Paraiba. Nao faliam historiadores disposios a Participar dessa grande tarefa, realizada, até agora embrionariamente e de forma assimétrica pelo respeitado Institu- 10 Historico e Geografico Paraibano eem monografias, disserta- es dle Mestrado e teses de Doutorado de docentes da UPPB e da UEPE. Nessa obra poderdo ser enfocados os diversos dngulos e aspectos do passado paraibano, desde a arte rupesire até sua posigdo no Brasil contemporéneo. Nao disfarca José Octavio ser um apatxonade pela His- toria das mentalidades. Dai sua compulscio em usar fortes adje~ tivos como se desejasse balisar com eles situagBes culturals e idéias. Se algumas generalizacoes poderdo pareceraudaciosas, a fidelidade ds fontes priminias ¢ uma segura bibliograsia dito, entretanto, ao conjuntoa “episteme” que era de se esperar em um intelectual de seu porte. A Histéria da Paraiba de José Octavio de Arruda Mello nndo é obra para ser lida apenas por especialisias. Propositada- mente hei no livro preocupagdes didéticas que o tornam capas de servir de fomte biisica para estudantes de nivel superior da drea das Ciéncias Humanas, Alto nivel de interesse ganham neste livro as paginas dedicadas ao exame dos problemas deflagrados pela passagemdo capitalismo monopolista para o capitalismo competitive. A com- preensiio dos impasses histéricos com que se deparou a Paraiba tem, no discipulo do historiador José Hondrio Rodrigues, momen- tos de ticida andlise quando trata, por ecemplo, da aboligao, que 15 considera ali ter entrado “pela porta da erise”. A aboligao da cseravidao na Paraiba se, por um lado, insere-se na mesma ‘ettologia do processo que a caracteriza em todo o Nordeste, por ‘outro, apresenta singularidades como a forga da filantropia e do ‘humanitarismo, por exemplo, na cidade de Areia, Embora a atividade agricola daquela regio estivesse atacacda pela gomose Gque the devorava os canaviais ~¢ is80, naturalmente, avirrasse interesses escravistas - Areia, dependente como quase todas as outras regides paraibanas de modelo agricola apoiado no brago ‘escravo, teve proporcionalmente um niimero de abolicionistas mator do que qualquer outra cidade do Nordeste. Explica-se, assim, que sua Cémara Municipal criasse um inposto sobre @ tescravidato como forma de apressar a libertagdo dos negros e que ‘o rico dono da Fazenda Otho d’Agua, José Aives de Lima, tutto ‘antes de 13 de maio de 1888, houvesse libertado todos os seus fescravos e para eles deixasse, por festamento, metade de sua (grande fortuna. Registra José Octavio formapie de una ‘frente ‘inica” abolicionista em Areia. Esta singularidade arelense ¢ idevida, em grande parte, datuagao do filésofo, politico ¢ atinista “Manoel da Silva que no jornal O Areiense e em outro, que criow especialmente para isso, fez a opiniao publica voliar-se contra a escraviddo, Manoel da Silva tem a dimensao de um Joaquim ‘Nabuco ou de um José Mariano e sua figura exige urgememente uma completa biografia ‘As cireunstancias politicas e sociais da Paraiba no peri- cdo republicano sao enfocadas por-José Octavio de Arruda Mello ‘como acoexistencta de revolugdes antagonicas. Uma, que ver do ppassado, lenta e cheia de coniradigées, ¢ aura, vinculada vrependéncia de politica paraibana amecanismos federais, embo- ra wma andilise superficial pudesse sugerir aspectos apenas regionais. Ii assim que explica, contraponteando a teorta cont Jaios e acontecimentos, a Paraiba da chamada “Repiblica de ‘Princesa ¢ a presenga de grandes concentragdes da massa urbananas ruas impondo desnorteadas reivindicaoes. Enquanto 16 seas polis en precedes © nome da capital para Jodo Pessoa Hann tly or ie Raped ager quias e dos “coronéis” foi dorpldcns Ne Port tah dp cil deta epaltc Pearce pee tae acl tg oe eendirce erigia-se em entidade regulativa interna da burguesia local. O leitor é aliciado para esta tese com muito engenho e arte. Avia analitica einterpretativadio periodo qu a11990,napenac Jost Oct, bt dosepen ae Intengao: 0 autor quer prender a atengo do letor,renunciando a minicias e detalhes, dando-the desenhos multifacetados, com cores fortes, sobre 0 cangago, desenvolvimento cultural, proble- ‘mas econdmicos, vida e morte dos Partidos, interferéncias fede- rais pies eet sem preocupagaio cronoldgica. intetizando os anos mais recentes, preocupa-se José aaa cole eee ‘posigdes do que com a chamada Historia eventual. Audaciosa- mente, seu titimo capitulo & uma sintese histérica, na qual 0 asquema conceitual parece demonsirar preocupagao quase dolo- rosa da contemporaneidarde do nto contempordneo A Historia é sempre helenicamentetrigica. Prometeica José Octavio tem perfeita consciéncta disso porque sua formagao de historiador & eminentemente critica. Dirdio alguns que é nordestinamente estéico. Provavelmente sim. A todos os seus leitores, o que eaberd, sem nenhuma diivida, apds a leitura desta Historia da Paraiba, & concordar com o filésofo Boécto, quando recomenda que ler é um dos melhores remeédios para os males d existOncia i Recife, margo de 1994 Armando Souto Maior 7 Sumario: 1.1, Pemambuco, Itamaraeé, Paraiba. 1.2. Fracassos ¢ éxito na conquista 1.3, Os tabajaras contra os, potiguaras 1.4. Geografia e sentido de uma cidade 1,5. "Economia © organizagéo politico-adiinistrativa 1,6, Pro- priedade, escravidio, organizagio familiar © Iyreja 1.7. A. | _submissdo dos potiguaras ‘AParaiba nasceu sob osigno de luta que se transformou em resisténcia ¢ vida, Resisténcia - esse o lema que perdurou ao longo de sua Historia. 1.1. Pernambuco, Jtamaraca, Paraiba - Inicialmente, a Paraiba possuia toda drea correspondente a seu atual litoral, _tncorporada & capitania deTtamaraca, onde estacionara a expansio Portuguesa rumo ao norte do Brasil. » _ Avinculagao paraibana a Itamaraca data de 1534, 1534, quando: da instituigdo, por Portugal, do sistema de Capitanias Hereditarias, destinado a assegurar a posse ¢ colonizagao do territério brasileiro, "apenas descoberto em 1500. ‘Ao norte, a principal capitania veio a ser Pernambuco, ‘onde os canaviais © a administragao dé Duarte Coelho Pereira garantiram progresso, simbolizado na importaneia de Olinda, _ possuidora deengenhos, igrejas ealguma feigdo urbana, jé por volta, de 1550. Em Itamaraca, situada entre Pernambuco ¢ a futura Paraiba, a atividade agueareira ensejou o desenvolvimento da vila de Igarassu , dotada de convento e Igreja. Esses tempos fizeram-se dificeis para a color colonizagao inte inten- ada pela Coroa portuguesa. Isso porque, além dos espagos a ‘cupar, defrontou-se com a resisténcia dos indios - sempre eorajo~ a sos na defesa de suas terras e formas de vida -e ain de franceses: Estes, que ndo aceitayam a divisiio do novo mundo entre Portugal e Espanha, estabelecida pelo Tratado de Tordesithas, ‘incursionavam pelo litoral paraibano, desdeo inicio do séeulo XVI Atraia-os.o pau-brasil = madeira nobre, da qual se extraia_tinta, uilizada como corante para tecidos ~ ¢ que o meio oferecia em produtos naturais, Como esses eram obtidos na base da pirataria, ‘sema ocupagdo da terra,oschamados mairs compunham-secom os habitantes da terra, seus aliados. | (> Crcli?” Bastante ligada a Pemambuco € Ttamaraca, a Historia da Paraiba principiou no vale do Rio Tracumhaém, que pertencia a Tamaracd, ¢ hoje se localiza a pequena distincia da cidade ;pemamibueana de Goiana, Deu-se que, por ali, em 1574, transita- ram dois guerreiros potiguaras, provenientes de Olinda, onde, por determinagio do Governador Geral Antonio ‘Salema, recapturaram jovemindigena de quinze anos, filha cacique Iniguagu, que fora ‘artebatada por mameluco das aldeias da serra de Copaoba, ‘A beleza da india, todavia, tanto fascinou o proprietario Diogo Dias que este decidiu ficar com a moga. O rapto irrtou os jndigenas que, insuflados pelos franceses, cairam sobre o engenho de Dias, no Tracunhacm, massacrando seus habitantes,A unica excegfio de um inmio de Diogo. ‘Simultaneamente,. os demais centros de povoamento de Itamaract foram atacados, com os ‘ocupantes refugiando-se na ilha, © panico tomou conta das autoridades portuguesas de Olinda, receosas de que a sublevagao indigena se transmitisse a Pernambuco, Data dai a criagiio, nesse mesmo ano de 1574, da ‘ba, destinada & contengiio dos silvicolas em seu proprio territbrio. © fato de a Paraiba haver sido criada como Capitania Real demonstra, de um lado, a repercussio dos aconte- éimentos de Tracunhaém, e, de outro, a importancia concedida pela Coroa portuguesa a sua ocupagdio, Esse lado episédico da questo. Em termos mais amplos, 2 ised , a (© que os portugueses tencionavam era avancar imo ao norte, supetando o obsticulo representado pela Paraiba, e, ao mesmo tempo, expandir a fronteira dinamica do agiicar, Tanto isso é yordade que, apds a conquista da Paraiba em 1585, soguiu-se a ‘ocupagiio do Rio Grande do Norte (1598) ¢ Ceara (1612). Outros- sim, a conquista da Paraiba assinalou-se, economicamente, pela inplantagao da atividade canavicira ¢ instala¢ao consequente de ‘sngenho de agiicar. 1.2. - Fracassos ¢ éxitos na conguista - Entre a criagio de direito da Capitania da Paraiba (1574) ¢ sua ocupagao de fato (1585), passaram-se onze anos, plenos de lutas, Nessas, se a audiicia ficava com os europeus, senhores de técnicase organizagaio politico-social mais avangadas, a resisténcia pertenceria aos aborigenes, no caso os potiguaras. Foram esses que, nas guerras de _conquista, lataram por suas propriedades comunais, rogas, haveres € familias + Basa defesa da terra, os indios realizaram com brayura. Assim, foram necessdrias imimeras expedigées para que a Paraiba fosse conquistada ¢ tivesse inicio a colonizago propriamente dita A primeita expedi¢ao, de iniciativa do Ouvidor Geral ¢ Provedor-mér da Fazenda, Femio Silva, em 1575, foi tio valente- mente rochagada pela indiada que seus integrantes fugiram pela Costa, em diregtio a ltamaracé, de onde arribaram a Bahia, sede do Govemno Geral. __ Em face da ameaga francesa a0 monopélio do pau-brasil, entaio principal fonte de renda da Coroa portuguesa, verificou-se em 1579 a segunda expedigéio, também malograda. Nela, nem a combatividade de Jodo Tavares - que reaparecer na vitoriosa expedigaio de 1585 - bastou para quebrar a resisténcia nativa. De modo que, apés a construgdo de fortim de madeira, numa das ilhas doestuariodo io Paraiba, os invasores, provenientes de Pernambuco, também retiraram-se para Olinda, derrotados As tentativas de 1580 a 1582rezistrarama participagdiode B Frutuoso Barbosa, abastado comereiante portugues de pau-brasil que obtivera o titulo de capitdo-mor da Paraiba. ¢ foral, para ‘usufruto da terra. Com seus bareos dispersados pelas tempestades, ‘em 1580, Barbosa voltou carga dois anos depois, quando chegou a erigir fortificago na iha da Restinga, préximo a embocadura do Paraiba. Os indios, porém, nfo se renderam, ¢ essa expedicao ‘também resultou derrotada, No campo da luta, Barbosa deixou morto um filho. Em 1584, as lutas pela Paraiba registraram a participagiio dos espanhoisa que, indiretamente, passaraa pertencer 0 Brasil, em raziio da Unido das Coroas de Portugal e Espanha, subordinadas ‘2 um mesmo soberano ~ Felipe Il de Espana, Esse acontocimento, ‘ocorrido em 1580, na Europa, explica a atuagdo, nas peripécias paraibanas de 1584, de dois espanhéis, o almirante Diogo Flores, Valdez ¢ 0 alcaide Francisco Castején, ~~ Ao primeiro coube chefiat Armada que yeio combater os franceses no mar e fechar a embocaduta do Rio Paraiba, batizado de Sao Domingos, pelos mair. Castején encarregou-se do comando de baluarte, erguido nas proximidades do estuério do Rio da Guia, afluente do Paraiba. O fortim, batizado de Sto Felipe e Sto Tiago, ensejou a denominagiio de Forte Velho para a localidade, hoje convertida em centro de turismo, Nio foi desta feita, todavia, que a resisténcia indigena resultaria dominada, Edificada em local inadequado, a fortaleza -viu-secercada pelos potiguaras que, em campo aberto, destrogaram bandeira que se aventurou pelo interior, Quando as desavengas entre 0 capitio-mor Frutuoso Barbosa, portugués, ¢ 0 alcaide Castején, espanhol, se acentuaram, a situagio dos conquistadores tomou-se insustentével, Castején incendiou o forte © jogou a artilharia ao mar, retirando-se para Olinda, onde foi preso pelo ‘ouvidor Martim Leitao, + Em 1585, coube a este iltimo organizar expedigio para ‘conquista, somente entdo consumada, Devido a importncia estra- tégica, a Paraiba fora convertida em capitanta real , isto ¢, 4 diretamente subordinada & Coroa, o que propiciou o emprego de recursos oficiais no empreendimento. * A expedigdo, militarmente chefiada por Joo Tavares, pattiu de Olinda, com aproximadamente mil homens, a cavalo 6 & pé, Entre os primeiros, encontravam-se militares,proprietérios ¢ ssacerdotes, com indios damesticados e escravos negros compondo ‘massa restante. Ainda assim, essa formagdo, de que também fazia parto o insistente Frutuoso Barbosa, s6 conseguiu éxito devido & divisto do campo indigena, 133. - Os tabajaras contra os potiguaras. - A divisto dos primitivos ocupantes da terra positivou-se com a chegada, a Paraiba, entre fins de 1584 e principios de 1585, dos _tabajaras, chefiados pelo cacique Piragibe, 0 Brago de Peixe Primitivamente localizados as margens do Rio Sao Francisco, na Bahia, onde auxiliaram os portugueses, emalgumascampanhas, 03 tabajaras foram vitimas de cilada dos reindis, em seguida a0 que, fugindo, alcangaram as nascentes do Rio Paraiba, no atual munici~ pio de Monteiro, através dos afluentes do Séo Francisco, Subindo o Paraiba, esses indigenas chegaram ao litoral, ‘engajando-se em luta contra os colonizadores, em Itaniaracd. Seu desempenho, todavia, minca agradou os verdadeiros naturais da Paraiba - os potiguaras ! - que os consideravam patemas, ou seja, fiacos. A Paratha ganhou indevidamente a denominagdo de “Terra dos Tabajaras” ‘A Joao Tavares eoubetransformara fraquezaddos tabajaras ‘em forga para os portugueses. Isso foi conseyuido a 5 de agosto de 1585 - data que ficou como a de fundagao da Paraiba ~ mediante ‘tratado de paz, por meio do qual os tabajaras, accitando o dominio "Portugués, concordaram no estabelecimento desses ¢ passaram a Tatar contra seus irmAos potiguaras. Rigorosamente, niio se tratava de ato de paz, mas entreato de guerra. Do ponto de vista indigena, uma traigdo, Em verdade, (8 portugueses aproveitaram-se das difevengas éiicas entre as 25 tribos indigenas para jogar umas contra as outras, ¢ prevalecer. Assit, aids, atuara sempre 0 colonialismo, no Brasil, América, Asia, Africae Oceania, Sema cisio do campo dos naturais da terra, ‘os representantes do Império ndo teriam dominado parte alguma do mundo Celebrado oacordo com os Tabajaras -em local aproxima- do ao atual bairro da Ilha do Bispo cuja denominagao variou de Passeio Geral para Povoagio Indio Piragibe - os portugueses puderam findar a cidade séde da capitania. Isso ocorteu a quatro de novembro de 1585, quando da presenga de Martim Leito, a frente de contingente de soldados, familias, escravos negros, indios aculturados e padres da Companhia de Jesus. 1.4, - Geografia e sentido de uma cidade -Por escotha de Leitio, Jodo Tavares e Frutuoso Barbosa, quepercorrerama cavalo a planicie situada entre o Rio Paraiba e Oceano Atlintico, a nova cidade foi edificada a partir de quatro de novembro de 1585, na parte mais alta da colina, a reduzida distncia do rio, Intitulada Nossa Senhora das Neves, denominagiiologoalterada para Felipéia de Nossa Senhora das Neves, o aglomerado extrairia da Geografia © sentido de sua criasao. ‘Sealocalizagao, na partemais clevada, visava aasseaurar- Ihe defésa, @ proximidade do-rio possibilitaria, através desse, ‘exportagaodos produtos elaborados ou encontrados -agucar, peles, ‘couro, mbar, madeiras © algodao. Incluida no conjunto de trocas da economia mundial, a capitania integraria o sistema econdmico ‘mercantilista, Sua capital, por tratar-se de sede de Capitania Real, ‘j4 nasceu cidade, desconhecendo o estigio.de vila Era evidentemente muito pequena a (Felipéia de) Nossa Senhora das Neves dos primeiros tempos, No outeiro, edificou-se a.eapela de Nossa Senhora das Neves, padroeira da cidade, de onde 1 duas ruas. A primeira, descendo a encosta, assegurava ligagao com os armazéns do Porto da Casaria, para embarque de mercadorias as margens do Sanhaud, um brago do Paraiba, Trata- 6 = se da atual ladeira de Sao Francisco. A segunda, atual Genel ‘Osério, ganhou a denominagao de Rua Nova, onde se instalaraitt Casa da Camara, agougue ¢ cadeia, A abundancia de agua, pedra e cal favoreceu as primeiras edificagdes, quase todas religiosas. A leste da capela de Nossa Senhora das Neves, os franciscanos langaram-se a construgfio da igreja barroca de Si0 Francisco, anexa ao convento de Santo Anténio, son Tuida em 1799,¢ eaindah hojeomais importan- ‘temonumento da capitania. Na Rua Nova, beneditinos levantaram ‘0 mosteiro de So Bento, para muitos uma abadia. Os carmelitas eonstruiram a Igreja/Convento de Nossa Senhora do Carmo, na atual Praca Dom Adauto, ¢ os jesuitas, que {ogo entraram em choque com os franciscanos, instalarao Colégio, igrejacresidéncia na extremidade sul da cidade, local daatual Praga ‘Jodo Pessoa, Quando os viajantes estrangeiros aportarama Paraiba no século XIX esses edificios ainda se apresentavam como os mais importantes e suas torres como referencial artistico e geografico. 15. -Feonomia e organtzagao politico-administrativa « Sediando a capitania, a cidade exerceria fungGo econdmica © militar. A primeira tomou como base engenlo.tealdo Tibiri, instalado em1585, por Martim Leitéio, em colina localizada a ‘esquerda da atual estrada Jofo Pessoa - Santa Rita, Ja a funglo militar fez-se representar por _pontos fortificados destinados ‘garantia da ocupagio. A principal fortificagao teve construgdo iniciada em 1586, no lugar denominado Cabedelo - palavra equivalente a ponta de terra - onde 0 Rio Paraiba se encontra com o mar. Tornava-se essencial fortalecer esse sitio porque quem o controlasse teria avesso a cidade, dezoito quilémetros rio abaixo. Datou dai a instalagao da Fortaleza de Santa Catarina, de Cabedelo, ou ainda do Matos, em homenagem a seu primeiro comandante, Francisco Cardoso do Matos, patrono da praia Ponta do Matos. Essa fortificagdo, de largo significado na Historia da on Paraiba, articulava-secom baluartes que incluiambaterias no Cabo Branco ¢ Camboinha, dois pequenos fortins, cono o de Santo Ant6nio, no interiordo Rio Paraiba, e odo Varadouto, jusante do porto, na atwal ladeira Sao Francisco, ¢ ainda-uma-tranqueira no Tibiri, A munigdo era assegurada pela Casa da Pélvora, a teresira ‘eiais importante das quais tomou o lugar do Forte do Varadouro, em 1710. ‘Além dessas finalidades econdmicas emilitares, anascente Capitania da Paraiba cumpria fungées politico- administrativas & sociais. Isto por Ihe caber articular sociedade em Tormaga “{= A fungo politico-administrativa tinha em vista gar subordinagio da Paraiba, como parte da colénia brasileira, a Portugal, que era a Metrépole, com sede novamente em Lisboa, desde a chamada restauragdo, em 1640, Nela, a figura central era do capitdio-mor com atribuigdes assemelhadas aos atuais gover- adores. Na sequéncia do processo, surgiram capitdes-mores nas vilase comarcas do sertao, esbanjando autoridadeetruculéneia, No inicio, porém, s6 existia um capittio-mor logo denominado de ‘governadore encarregado da defesa da terra, fortalezas, preservacSo das matas, conservagiio dos enggenhios ¢ provimento da burocracia administrativa. "Esta compreendia procuradores da Fazenda, escrivaes, almoxarifes, contadores de Comarca e Oficial de Contas, na area fiscal, e Juizes, Juizes de Fora ¢ Ouyidor-Corregedor, no plano Judiciario. A feigio da administragio colonial, contudo, niio era piiblica, como hoje, mas privada, Os impostos, por exemplo, eram Ieiloados, para arrematagdo dos contratantes. A administragdo colonial girava'em torno do(s) Senado(s) da Camara cujas responsabilidades ultrapassavam, de muito, as is CAmaras de Vereadores dos municipios. Imegradas.pclos cchamados “homens bons ¢ cidadtios de posses”, essas Cémaras também exerciam atribuigdes adminis ‘estabelecerem executarem posturas para o trénsito de carrogas ¢ animais, feiras, mercados, conservagaiode vias pliblicas, pontes.e pinguelas, chafa~ 28 "significa colonizaca Tizes. Dispondo de procurador ¢ tesourciro, Juizes Singular ¢ Ordinario, e escrivo de érfiios, todos eleitos, essas Cimaras nomeavam'os Almotacés, que eram os fiscais municipais, ¢ Juizes de Vintena que, nas aldeias, decidiam pequenas questdes entre os moradores. ‘ ») 1.6. - Propriedade, escravidao, organizagao familiar e Igréja~ Doponto de vista social, ou seja, da composigdo de classes, a capitania da Paraiba, tal como o restante da sociedade brasileira, lameniou-se na grande propriedade territorial, a_chamada sesmaria. a aaa primeira sesmaria paraibana foi concedida ainda no séoulo XVI, quando seu nimero niio passou de cinco, No século XVI, essa cifra cresceu, mas na primeira metade, sua localizagio nfl ultrapassou os vales dos rios Paraiba ¢ Mamanguape, 0 que | Na segunda metade do século XVITe, principalmente no s6culo XVIII essas sesmarias aleangarami 0s pontos mais distantes do teritério paraibano, o que epresentonra expamsto deste, com incorporagio das terras sertane- ‘jas A colonizagao. No século XIX, as sesmarias concedidas aos que desejavam lavrar aterra baixaram de mimero, tanto por o territério {ja se encontrar quase inteiramente ocupado, quanto pela Lei de ‘Terras, de 1850, que extinguiu o sistema sesmarial. Dai em diante, ‘as chamadas terras_deyolutas somente puder: ‘mediante compra, ~ A sesmaria, que originou o latifindio, monocultor com a cana de agiiear no litoral e brejo, e bindmio pecuaria - algodio, no bilizou-se pela ocupaco da Paraiba. O proprieta- tio, todavia, nfo trabalhava diretamente a terra. Desde o inicio ecorreu-se ao brago do negro afrcano, para ca importado, Surgia assim, na zona da mata, onde rios, solo de tipo massapé ¢, ?principalmente, demanda dos mereadosextemos ensejavam partidos de cana c engenho, 0 latifimdio monocultor ¢ escravista, Sua forga dde trabalho residia na eseravaria negra, nio porque 0 iidio fosse 29 © indolente ou inapto ao trabalho, mas porque na escravidao africana residiam os maiores Iucros do sistema econdmico mercantilista, baseade na circulagao de mereadorias, { iedade era também patriarcal ¢ religiosa, Isso porque o grande proprietario, herdando o estatuto romano do pater familias, dispunha de poderes absolutos, nos limites de sua propri- dade, A mulher, filhos, agregados e escravos deviamIhe fidelida- de, Nao raro, castigos fisicos acompanhavam as transgressdes. A mulher teve alguma importancia nesse tipo de organizagdo social ‘mas seus poderes limitavam-se ao interior da casa grande, Quanto ‘aos filhos, casavam mediante recomendaglo paterna, verificando- se muitos casamentos consanguineos para impedir divisio da propriedade. O despotismo patriarcal ampliava os limites da fami- lia, de modo que, ao lado da familia legitima, sobrevinha outra, ifegitima, mediante multiclio de filhos maturais, & Fiadora e guardid dessa sociedade, a Igreja dispunha de bastante prestigio, Habitualmente, a obtengio de sesmarias era »¥ acompanhada do levantamento de eapelas, pelos sesmeiros, como simbolo da posse da terra, No interior das casas grandes ¢ fazendas nfo faltava 0 oratdrio, para o tergo em familia, sendo que também se rezava as refeigées. Nas cid las, as missas faziam-se obrigatorias ¢ o sino das Igrejas regulava a vida dos habitantes. As cleigdes cram paroquiais @, €6d6, as familias da classe dominante adquitiram 0 costume de converter um dos fillios em padre, Sé depois, no século XIX, surgiria o bacharel e, j4 m nosso século, com aascensio da classe média, ofilho militar, também procedente ‘dos engenhos e fazendas. Ressalte-se que o clero regular, de franciscanos, jesuitas, beneditinos ¢ carmelitas, dispunha de propriedades, engenhos © ‘escravos, na sede da capitania e fora dela, com o que participava da coupagiio da terra Como clero secular chegou & Paraiba, em 1595, atemivel Inquisig&o eujo’Tribunal do Santo Oficio perseguia os acusados de praticas diversas das permitidas pela Igreja Catdlica e, prineipal- 30. mente, os judeus. Instalado pelo visitador Heitor Furtado de Mendonga, a primeira visitagdo do Santo Oficio fez-se tdo rigorosa quealcangou o vigario da freguesia de N.S. das Neves. Acusado de ascendéncia arabe e préticas judaizantes, 0 padre Joao Vaz de Salém, homem rico e influent, teve seus bens confiscados. Varios desses reverteriam & ordem beneditina, Na conjungdo de seus elementos materiais e espirituais, a Capitania comegou a progredir. ‘Quando 6s limites mal ultrapassavam a Felipgia de N.S, das Neves, esse progresso deveu-se em parte a Duarte Gomes da Silveira, que oferecia prémios a quem edificasse casas no perimetro urbano, Proprietério de dois engenhos no vale do Paraiba, Silveira fundou a Santa Casa de Misericdrdia que abrangia a Igreja desse nome, localizada, ainda hoje, na antiga rua Direita, que saia da direita do templo, e ainda o Hospital Santana e um cemitéio, Responsavel, nos dias correntes, pelo Hospital Santa Isa- bel, a Santa Casa de Misericérdia fez-se a principal instituigo filantrpicac de assisténcia médica no periodo colonial, quando seu provedor era designado pelo capitdio-mér. Cognominado de “Ado paraibano”, Gomes da Silveira viveu o bastante para presenciar a invasfo dos holandeses pelos quais foi aprisionado, apés ter com eles colaborado, Outras figuras importantes desse inicio de colonizago _foram o frade serifico Vicente do Salvador, testeinunha ocular da Conquista da Paraiba e autor da primeira Histéria do Brasil, bem ‘como 0 cristo novo portugués Ambrésio Fernandes Brando, senhor de engenho na varzea do Paraiba e autor do espléndido livro | Diélogos das Grandezas do Brasit(1618, 1966), considerado uma das melhores fontes para conhecimento da sociedade colonial nordestina. 1.7. A submissdo dos potiguaras - Assentadas as bases da sociedade paraibana, os conquistadores passaram a segunda parte de plano que previa a subjugagio dos potiguaras. at © principal responsavel por essa tarefa foi Feliciano Coelho de Carvalho, capitfio-mor da Paraiba de 1592_a 1600 Contando com proprietérios como Duarte Gomes da Silveira € ‘grupos de indios frecheiros, abajaras, marchow nfo s6 para a barra do rio Mamanguape, onde os potiguaras comerciayam com os franceses, mas sobre a serra da Copaoba ou Cupaoba onde esses indigenas possuiam aldeias ‘Nazona aproximadamente ocupada pelos atuais municipi- ‘es de Caigara, Serra da Raiz, Duas Estradas, Pirpirituba e Belém, a violéncia funcionou em niveis levadissimos, Ferido numa pema, ‘que o deixou alcijado, Feliciano acomite os indios com brutali- dade, bastando dizer-se que numa sé sortida foram mortos eento € vinte, com aprisionamento de oitenta Embora resistissem, sob a lideranga dos caciques Péo Seco ‘eZorababé, os indios terminaram esinagadlos, Eim seguida, enquan- toa maioria era aldeiada, outros emigraram para o Rio Grande do Norte cuja denominagtio passou A de “Terra Potiguar’”, No contato com os colonizadores, os indigenas pereceram As centenas nao s6 passados pelas arias, mas vitimas de enfermidades como variola, sifilis, sarampo e bexiga, inoculadas pelos brancos e para as quais, osnaturais da terrando possuiam defesa. Alguns autores sustentam que tais doengas foram introduidas deliberadamente, o que supse recurso A guerra bacterioldgica, no genocidio que assinalou a colonizagio da Paraiba e do Brasil, desde 0 inicio, Isso também acontecia porque, vivendo em estagio tribal, 8 potiguaras confuundiam-se com a natureza, extraindo da terra o queprecisavam para osustento, Pertencenteao grupo indigena tupi, ‘a nagdo potiguara compunha-se de aproximadamente cem mil hhabitantes que ocupavam todo litoral do Nordeste, de Pernambuco 0 Maranhio. ‘A organizagtio social dos potiguaras fundamentava-se na propriedade comum da terra que pertencia a toda tribo para coleta de arvores nativas e plantagdes de mandioca = da qual extraiam bebida fermentada, o cauim, ¢ também farinha - milho, fetj40, 2 inhame e batata, Esses alimentos cram obtidos em rogaclos, plants dos depois que a terra era destocada, através da chamnda coivara, que consistia na limpa do terreno, mediante queimadas. Os indios também cagavam e pescavam, sempre em comum, assim como derrabavam Arvores para extragdo de madeira e fabricagio de ‘carvio, utilizado para cosimento dos alimentos ¢ rituais denatureza religiosa, sa Entre esses figurava a antropofagia, que equivalia a cele- bragiio para ocasiées especiais - os indios no possuiam came humana na dicta. A antropofagia, mediante a qual se sacrificavam 0s inimigos, derivava da importante fungao social da guerra contra ‘as outras tribos, utilizada em prol da cocsao do grupo. Fetichistas, 0s potiguaras admitiam vago espirito criador de todas as coisas - 0 paidzu - assim como divindades que regiam clementos especificos como as florestas idas de poucas habitagdes cobertas de palha, os tupis consagravam a gerontocracia, isto é, a autoridade dos mais velhos, Por conta disso, caciques como Zorobabé © Piragibe jé eram bastante idosos, quando mantiveram contato com os colonizadores. Absorvida pela tribo, a famil ou seja, de descendéncia estabelecida pela mulher, o que explica a poligenia, forma de estrutura familiar mediante a qual varios homens pertenciam a uma mesma mulher. pr) ‘Andarithos, 0 que os tornava capazes de percorrer longas distincias a pé, os indios praticavam o artesanato, fosse manipulan- do algodiio com que fabricavam tecidos rudimentares, palha para esteiras, onde dormiam, ¢ barro para produgao de objetos de cerdmica. Alguns muniefpios paraibanos de procedéncia indigena revelam essas atividades como ¢ 0 caso de Pirpirituba, vocabulo tupi equivalente a lugar de muito pirpiri, onde se fabricam esteiras. Organizago desse tipo, ainda rudimentar, no constituiria, ameaga aos colonos se estes ndo estivessem interessados em tomar a terra dos indios para, mediante a propriedade privada das era matrilinear, 3B sesmarias, instalar a economia capitalista do agucar, ¢ ainda currais, para apresamento do gado. Como a escravidio indigena durou pouco, sendo logo proibida por ordem régia, a terra constituiu a motivagao da guerra movida contra os silvicolas. Nesse periodo, esta somente terminou ‘em 1599, quando Feliciano Coelho impés, pela forga, a paz aos potiguaras. Estes foram nto, a semelhanga do que ocorren com os tabajaras, aldevados, isto é, agrupados em aldeias submetidas a fiscalizagao militar dos capi de aldeia e controle social dos mnarios religiosos. Algumas dessas aldeias -Jacoca, Taquara, Guia, Almagre, Praia, Guijaribe ou Jaguaribe, Mangue - represen- taram nem de futuros povoados. Outras constituiram missdes ‘como pontos de apoio para a conquista do interior Os indios no ganharam nada com a troca, Privados de liberdade c apartados da natureza, também perderam cultural, nas maos de missionarios religiosos, Hoje, os po’ ‘que foram os senhores da Paraiba, reduziram-se a estreita faixa de terra, nas proximidades do municipio de Baia da Traigio, onde praticam agricultura rudimentare conservam algumas das primiti- vas dangas, como 0 tor 1859, em visita & Paraiba, © Imperador Pedro II concedeu-Ihes sesmaria, diminuida $6 em 1983, em 13.500 hecta- res. Mesmo contra disposigdes de lei, as terras potiguaras foram usurpadas por proprictrios gananeiosos ea Companhia deTecidos Rio Tinto, bem como, mais recentemente, por destilarias de alcool «e veranistas, quando da conversio do antigo aldeiamento indigena da Baia da Traigdo em balneario turistico. Tudo isso aconteceu porque s¢ a Historia da Paraiba corresponde a conquista ¢ ocupagaio da terra, nao é menos verdade que os grupos indigenas tornaram-se as prineipais vitimas desse processo BIBLIOGRAFIA BASICA. 1 -EGLER, Cliudio Antonio Gongalves, eF, MOREIRA, 4 Emilia de Rodat (org.) ct alit - Atlas Geogréfico do Estado da Paraiba, Jodo Pessoa: SEC/UFPB, 1985 Especialmente preparada para oTV Centenarioda Paraiba, essa publicagdo, de primorosa feigdo grafica e visual, combina os elementos geo-histéricos mais representativos da Paraiba, Policromia, fotos, grafieosetabelas fortalecem colocagdes sobre situagéia ¢ localizagao do Estado, mapa rodoviario ¢ limites ‘municipais, ocupagio territorial, quadros naturais. (geologia. mineragdo, relevo, hidrografia, solos, climatologia, vegetagaoc uso do solo) ¢ sécio-econdmico (densidade ¢ evolugéo da populagao, urbanizagao, estrutura urbana, populagao economicamente ativa, agricultura ¢ indiistria ¢ educagao e satide). Destes, “A Ocupagio Territorial”, de responsabilidade dos coordenadores do. Arlas exprimem dindimica espacial que fundamentaa Historia da Paraiba, 2 - Cadernos de Estudos Regionais, ano Ill, n° 2, 1 Pessoa: NDIHR/UFPB, junhode 1980 - Organizado pelo professor Ruston Lemos Barros, a UFPB, essemimero derevista subordinada A temiética “Economia pesqueira do Nordeste” focaliza o estuario do rio Paraiba, na perspectiva das relagdes s6cio-econémicas que propiciaram sua ocupagao. As indicagdes geograficas, atualizadas, incidem sobre a area de primitiva ocupasdo da Paraiba 3 - Histéria da Conquista da Paraiba por um da Com- Panhia de Jesus escrita nos fins do séeulo XVI amandodo Padre Christovam de Gouveia, visitador da Companhia de Jesus, na Provincia do Brasil, Campina Grande: FURNe/UFPB, 1983. Reproduz, a insténcias do paraibano Francisco Gomes ‘Maciel Pinheiro, e sob coordenagdo do editor e professor Francisco Pontes da Silva, edigdlo do Sumario das Armadas que se fizeram, € guerras que se deram na conquista do rio Paraiba; escrito ¢ feito por mandado do muito reverendo padreem Cristo, o padre Christovam de Gouveia, visitador da Companhia de Jesus, de toda a provincia do Brasil. contida no periddico /ris, do Rio de Janeiro, em 1848, Durante algum tempo, Sumario foi atribuido ao jesuita 35 Jerénimo Machado, juizo ratifieado pelo historiador Serafim Leite ‘com José Hondrio Rodrigues se fixando no também jesuita Simao Travassos. ‘Com a forga de testemunho ocular, essa Historia da Conquista da Paraiba, assim rebatizada por Pontes da Silva, serviui de Fonte para o que cronistas como Frei Vicente do Salvador Jaboatio, escreveram sobre os primeiros tempos da Paraiba, Verdadeira “certidtio de batismo” desta, esta para a Historiografia paraibana, como a earta de Pero Vaz de Caminha, cujos elementos naturais perfilha, para sua congénere brasileira. 4 ALMEIDA, Horacio de - Historia da Paraiba, Tomo 1. Jodo Pessoa: Imprensa Universitaria, 1966. Solitario tomo de obra que o autor posteriormente retoma~ ria, para completé-la em dois volumes, esse livro, de orientagiio factual, faz-se particularmente rico, no tocante aos episédios da ‘conquista e inicio da colonizagéo litorénea da Paraiba. O chamado massacre de Tracunhaém, motivado pelo rapto de cunhi potiguar da serra de Copaoba, ¢ que acarretou a criagiio da Capitania da Paraiba, aparece logo no primeito capitulo, '5 - Revista do Instituto Hist6rico ¢ Geogréfico da Paraiba n° 24. Jotio Pessoa: UFPB/IHGP, 1986. ‘A série de estuddos do IV Centenario da Paraiba ensejou a0 Instituto Histérico local publicagtio que constitui verdadeira mini- Historia entre os séculos XVI XVIII. ‘A partir da violéneia como elemento basico da Histéria da Paraiba, desfilam colocagdes antroposociol6gicas, culturais, e¢o- ndmicas, militares, religiosas ¢ historiograficas, acerca dos primei- ros tempos da Paraiba, até artigo comparativo das economias agucareira e pecuaria no século XVIII. Destaque para os estudos “Confrontos e Antagonismos da Historia da Paraiba” e“Formagio da Cidade, Rigqueza dos Engenhos ¢ Inquisisao” como capitulos iniciais de Hist6ria do Povo da Paraiba que 0 saudoso historiador Geraldo Ireneo Jofiily deixou inédita 6-NICODEMOS, José Pedro -“Antecipagées Liberais na Paraiba” in Paraiba, Ontem e Hoje. Jodo Pessoa: Procol, 1975. Os estudos de Capistrano de Abreu sobre o sentido da ‘ocupagao da Paraiba, contidos em Capitulos de Histéria Colonial + 1500/1800 (6" ed., 1976), inspiraram a Pedro Nicodemos confe- réncia cuja tonica reside em derivar a colonizagao paraibana da |_sxpnsi dont cininic doagicar partir dai, o autor deteve-se sobre o privatis formagiio onde, no século XIX, senhores de eink cee bilizariam por rebelides de liberalismo excludente. er Pontilhada de estudos de, entre outros, Hélio Zi Be oeiGa i eall apiece: Emilson Formiga, Deusdedit Leitao, Osias Gomes, Juarez. etic, Wills Leal e Eduardo Martins, toda produgaio de Paraiba, Ontem € Hoje vincula-se @ Historiografia paraibana, com realee ‘para a ‘eonferéncia de Nicodemos, plena de unidade e erudigao, 7 - MELLO, José Octavio de Arruda (Introd. e org.) - A Paratba das Origens A Urbanizasho. Joao Pessoa: UFPB/Funda- go Casa de José Américo, 1983. Datada da fase inicial da Casa de José Américo, essa oletinea eneixasdidos estudos de Humberto Melo, José Amtico CA Compo: vio Racial”), Wellington Aguiar (sobre o cronista holandés Elias Herckman(s)), Claudio Santa Cruz (“A Paraiba Hlolandesa”), Wilson Seixas (acerca da conquista do sert20), José Octavio (Fungo da Igreja do século XVIII e “Urbanizagdo da Sociedade Paraibana”), Fernando Delgado (“As Raizes da Crise”) e Celso ce (“0 surto algodoeiro”). itre todos, ressalte-se ode Humberto Melo =“ Ligdes Politico-Culturais da Paraiba Colonial - ones dio, Propriedade e Regime Familiar” ~em que a Paraiba desponta luz dos fatores que Ihe fundamentaram a existéncia, a saber, a easing plano politico-administrativo, escravidiono ic trabalho, propricdade: cl o ie pe Se no campo espacial, ¢ 8 - AGUIAR, Wellington, e MELLO, José Octavio de 37 ‘Arruda - Uma Cidade de Quatro Séculos - Evolugioe Roteiro, 2" ‘ed, Jodo Pessoa: FUNCEP, 1988. ‘Duas sdlidas introdugées, setenta textos, dezenove depoi- rentos e vinte fotografias compdem esta coletanea que abrange a capital paraibana, nos mais variados aspectos, desde a escolha do sitio e concessio da primeira sesmaria até a violéncia dos anos oitenta, no século atual. Criteriosa selegdo de textos, pluralismo dos depoimentos ¢ unidade de tratamento tematico asseguram autoridade a essa obra, equilibrada entre 0 saudosisimo de Walfiedo Rodriguez ¢ os que subordinam a ocupagio do espago urbano a (novos) critérios Beo- econdmicos € sociais. 9- BARBOSA, cénego Florentino - Menumentos Histo- ricos e Artisticos da Paraiba. J, Pessoa: A Unido Editora, 1953. Especialista no tema, desde artigos escritos para Revista do Instituto Histérico e Geografico da Paraiba, Florentino Barbosa culminou comeste livro: apreciagao da Historiada Paraiba, através dos principais monumentos artisticos. Considerado classi co no género, focaliza a arquitetura religiosa ¢ militar do litoral, desde as igrejas da capital ¢ Fortaleza de Santa Catarina, em Cabedelo, até as capelas do vale do Paraiba, Em ponto mais saliente, as consideragdes sobre o Convento de Santo Anténio ¢ Igreja de Sto Francisco que compreendem quase a terga parte do livro. 10- SCHMALZ, Alfredo Carlos - Aspectos da Paraiba Colonial. Joao Pessoa: URPB, 1966. Esse discurso com que 0 autor tomou posse no Instituto Historico da Paraiba, em 1965, transcende, de muito, as publica~ ‘Ges do género. Tal se verificon no apenas porque Schmalz empreendeu pesquisas na abadia de Olinda, onde se encontram 0 Livro do Tombo e manuseritos do Arquivo do antigo Mosteiro de $%o Bento, como porque a utilizago desse material propiciou reconstituigdo da vida econémico-social da Paraiba nos séculos XV1e XVII, O autor foi um dos primeiros a abordar a instalagdo 38 do Tribunal da Inquisigao na Paraiba, com destaque para as peripécias do vigirio Jogo Vaz Salém que acumulava fungdes espirituais c temporais como, inclusive, comerciante, explorador de pedreira ¢ possuidor de escravos BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 1 - SALVADOR, Frei Vicente de - Historia do Brasil 1500-1627, 6° ed, Sao Paulo: Melhoramentos, 1975. ____2-BORGES, Deodato ¢ BORGES FILHO, Deodato - A Historia da Paraiba em Quadrinhos. Jodo Pessoa: Comissio do IV Contendrio/Grafset, 1985. 3- MONTEIRO, Vila dos Santos Cardoso - Histri Fortaleza de Santa Catarina. Joao Pessoa: UFPE/Inprenes the versitéria, 1972 4 XAVIER, Lauro - “Um pouco da Historia Econémica do Pau Brasil”, in Revista do Instituto Histérico e Geogréfico acta n° 21. J, Pessoa: Imprensa Universitaria da Paraiba, 5- COELHO FILHO, Heronides - A Psiquiatria no Pais ee € outros Ensaios. J. Pessoa: A Unio Cia, Editora, 6 - AGUIAR, Wellington - Cidade de Joao Pessoa - A ‘Meméria do Tempo. J. Pessoa: Grafica ¢ Editora Persona, 1993 7 - NOBREGA, Evandro - Paraiba - Monumentos 1. J. Pessoa: A Unido Cia. Editora, 1982. i __8~ BURITY, Glauce Maria Navarro - A Presenga dos Franciseanos na Paraiba, através do Convento deSanto Ant6nio, Rio de Janeiro: Bloch Editores $.A., 1988. 9- TAVARES, Eurivaldo Caldas - Itinerdrio da P Catélica. J. Pessoa: Comisso do IV Centenirio/Grafset, 1985. 10-SEIXAS, Wilson A Santa Casa de Misericordia da Paraiba - 385 anos. J. Pessoa: Grafica Santa Marta, 1987, 39 I CAPITULO - CONSOLIDAGAO E DEFESA DA ‘TERRA - AS INVASOES HOLANDESAS Sumario: 2.1. Comércio intemacional, mar fechado ¢ ‘mar aberto - os holandeses. 2.2. O apoio judaizante - os tapuias, 2.3, Tentativas de desembarque e controle da capi- tal. 24. (Nova) organizacao politica, social e econdmica - administragao holandesa. 2.5. A resisténcia anti-holandesa- Vidal de Negreiros. 2.6. Os escravos, penetragées holande- sas ¢ triunfo nativista, 2.7. Cultura ¢ contribuigdo holande- sas. No inicio do século XVII, que se estende de 1600 a 1699, a Paraiba experimentava lento, mas seguro, ‘crescimento, Em 1601, 0 mimero de colonos subia a oitocentos, contra catorze mil indios aldeiados pelos franciscanos, Os primeiros Tesponsabilizavam-se por catorze -engenhos de agiicar 05 ultimos Por “grandes rogados de mantimentos”. Em 1612, o§ ‘engenhos, movidos a boi e Agua, enviavam, anualmente, a Permambuco, vinte ‘edois barcos de: agiicar que rénidiam dizimo de quatro contos de réis. A Fortaleza de"Sania Catarina jé se cncontrava artilhada ¢ as dlespesas administrativas repartiam-se entre Igreja, empregados do fisco e milicia. safia de agiicar fazia-se remuneradora gragas as ‘Varzeas ¢ engenhos onde se verificava o concurso de indios ¢ negros éempregados nos partidos de cana e moendas Vinte e dois anos depois, em 1634, 0 pau-brasil das matas de Baia de Traigao ¢ do Mamanguape: era explorado mais intensa- mente, enquanto 0 curso inferior desse rio enchia-se de currais, “Tepresentando fazendas para criagdo de gado. O nimero de ‘enge- nhos subia a dezoito, dos ‘quais apenas dois na area dé Mamanguape, _ Junto aes rios Camaratuba e Miriri, Os demais distribuiamese pelo vale do Paraiba, aproveitando a extensa rede de afluentes deste - ‘Tibiri, Tambid, Inhobim, Gargat -alguns dos. quais navegaveis. Ao sul da capital, junto aos rios Mumbaba e Gramame, ja se localiza. 4B A syeiros,cabras © pares yam aldeias indigenas ¢ criagdo de bots, carn sab cheto e mar aberto - 2d, Coméreio internacional, Cir a d indios € negros, 2 Pe , andeses - Afora indios © nesros eS cpa ‘a cidade de Felipéia de Nossa ‘Senhora das Nev He P vam C2 hos, © sreend ~slantavam cana para os engenhos, compreania nvradores TT enores de canvas © eSTav0s, ae cidades de Santa 11880, OV Paraiba, entre as futuras i Ca ea eens aise PO je itania. vel psa psn ams gaan uo te de ee fo Porta nto 8 ata, de dae nat smi ent Angin ia eae re? secre eo Feo XV 0 Varadouro]8 ee ro ee ‘com balanga, para pesagem de agiicar, evitando: ji acar coexistia com 2 soar -n bpoce, a agovindatriado aga OOH so de gado, da qual, posterionmente se apar=°™ p eriagio , da qual, it Nordeste: ‘atavarse da principal riqueza da eapitania edo nascent itanias diam >ermambuc Ttamaracd ¢ Paraiba ren C on e i as Indias. Nest Coron Portuguesa que todo comercio const mma Pa aria natural que riqueza sess po ca ee eh yrecipil porgt esto pr jitou-se no s aang ae ae surgimento de nagées mais ants ae ae eotraer ein PORES IRD tes ae 1580, estava dificultando Be dos cor 0 1 j srtidos. Famangos ecrisiios novo, judeNsCBMVETIGES iy, ram eses dois grupos qu, equenando os POTTY srestando dinheiro, asseguravam apetr ee eee ‘a comercializagao do agiica oo orque, em yuerra com nicoe financett Ke ~ Cami so en pcan ice ae eae de frequentar 08 portos da Peninst Ibérica, Simultaneamente, em 1612, foi revogada lei anteriormente favordivel ao exercicio do comércio pelos cristios-novos, na cold- nia, ‘Na base de tudo isso residia questo ainda mais delicada, Tratava-se da utilizagdo dos mares por onde circulava a economia comercial do mercantilismo. Enquanto Portugal e Espanha, beneficiarios das disposigdes do Tratadode Tordesilhas, defendiam ‘omare clausum, isto é, 0 mar fe chado, do monopdlio dos mares por suas frotas, nagdes mais dinamicas, como Inglaterra e Holanda, sustentavam a doutrina do mare librum, isto ¢, a liberdade dos nares, 79 ~ Como resultado, ilo XVII registrou intensi- ficagdo da pirataria, por via da qual navegadores a servigo de hhagdes partidarias da liberdade dos mares procuravam contornar 0 ‘monopilio ibérico. Antes mesmo de comegar 0 século, em 1595, 0 corsirio inglés Jaime Lancaster reuniu seus navios altura do Cabo Branco, na Paraiba, para, em seguida, saquear o porto do Recife: ‘Osholandeses possuiam pretenses mais ambiciosas. Ori- sginatios do norte da Europa, onde se dedicavam a pesca, que os conduzia aos mares, transformaram-se, rapidamente, em povo de avangada organizagio econdémica ¢ financeira, rivalizando com suecos e ingleses, Suas pragas de Antuérpia ¢ Amsterdam, plena- mente capitalistas, dispunham de bancos, bolsas de valores € sociedades por agdes montadas sobre capitais particulares. Duas ddessas iltimas, as Companhias das indias Orientais ¢ das indias Ocidlentais, pretendiam estender 0 dominio a todo orbe. 2.2, O-apoio judaizante - os tapuias - Essa expansio que logo conduziria os holandeses ao Nordeste, ent ao uma das regides mais ricas do globo, também interessava, nas terras controladas por portugueses e espanhiis, aos judous Na Paraiba, os chamados marranos, ou sefardins, ja se hraviam estabelecido em bom mimero, como senhores de engenho e Javradores no vale do Paraiba e comerciantes na Felipéia, Acossa- 45 dos pelo Tribunal do Santo Oficio, encaravam com simpatia a presenga dos holandeses que, pertencentes ao ramo calvinista da religido protestante, acenavam com a liberdade de consciéncia, Por meio desta, cada cidadiio disporia do direito de professar a propria crenga religiosa, fora das imposiges da Igreja Catélica Os cristios novos precederam, desta forma, aos holande- ses, no Nordeste ¢ Paraiba Influcntés e letrados, coube-lhes ‘ansmitir informagoes para elaboragio dos planos invasores Nesse sentido, os judeus representavam pega do projeto flamengo de dominagao internacional que incluia o Brasil. Neste, os holande~ ses voltaram suas vistas para vasta regiflo entre o Amazonas ¢ Bahia, o que incluia a Paraiba (Sao) Salvador era, por essa epoca, a capital do Brasil e fez-se 0 primeiro objetivo da invastio holandesa, em 1624. A area ‘compreendia os engenhos de agiicar do Recéneavo cujos habitan- tes, animados pelo bispo Dom Marcos Teixeira, defenderam-se na base da guerrilla, Sem conseguir apossar-se do interior, os invaso- res terminaram eercados na eapital, de onde se retiraram em 1625. “De volta & Europa, suas esquadras tocaram na Baia da Traigdlo, onde procuraram se reabastecer e recuperar os enfermos. Alertadas, as autoridades da Felipdia convergiram para a area de ‘onde os holandeses foram expulsos. Ao reembarear, eonduziram consigoalguns indiostapuias, como Pedro Poti¢ Antonio Paraupaba, que, reeducados nia Holanda, voltariam anos depois como servido- res dos flamengos, Estes contariam com 0 valioso apoio dos tapuias. 2.3. Das tentativas de desembargue e controle da capital = Por trés vezes, os holandeses arremeteram contra.a Paraiba, antes deSubjugar a capital, em 1634. Em todas elas, as lutas se verifica- rama foz dorio Paraiba, juntoaos fortes de Santa CatarinaeSanto Anténio. Na primeira, em dezembro de 1631 poderosa expedigao de dois mil homens, sob o comando do coronel Calenfels, chocou-se 46 fsisténcia que paralizou o avango holandés. As chamadas, as de caju”. proprias da época, a mo Ban Ernie ee 3 ea ara imentavam 6 sofrimento da Como nas demais ex ampo aberto, mediante a tati Feran atacantes ¢ defensores ‘mar-se dos fortins para o ass pedigdcs, as pelejas travaram-se em ea de entrincheiramento a que recon : Os Primeiros, Procurando aproxi- ‘alto, € 8 iiltimos buscando repeli-los 10 lado da defesa avultou frei va. 0s companheiros com um tum balago, Derrotados, fe 0 Recife.antes de terminar 0 ano. 4 volandés contra a Parail més e pace are fevereiro e margo de 1634. A c ae ida pelos navios do almirante Lichthardt, almirante Lichthar desembarque, as ordens ad ea atacante, Ineluia corpo de de experimentado oficial, 0 covonel Pe A ripida retirada dessa formagdo fe que os holandeses est us : stavam, dessa fei Ppipertend a uma finta, isto é avaliando as defiant Bererbri ponte fracos, anes do golpe dessine oP Este ocorreu 6 M novembro, quando Li Stibonneconaram como reorgodzcomonsearine eset a, chefiados teloscoronis Anchofiky ¢ fee seada do pequeno Rio Jaguaribe, © or savas columas- uma dispense ima das quais tomou o Restinga, enquanto outras se deslocaram, por wanto outras se ck leslocaram, por via plan foe Cotarnte também visava 20 isolamento da Fortae Para imped saan nae se renderia falta de viverese unig st coneretizagio,enraram enn como nats 8 irmao mais préximo ~ 0 outro by 47 ira embarcagio a fortaleza, onde ingressou, ja moribundo, com os ‘mantimentos. ‘A suporioridade ttica e militar dos invasores era, porém, ‘io manifesta que nem o heroismo dos defensores logrou one o passo, A 19 de dezembro, capitulou a Fortaleza de Cabedlo, Quatro dias depois, o Forte de Santo Anténio, O eae Pas 4 Felipéia estava livre e, nela, 08 holandeses, subindo o ere ingressaram na véspera do Natal, a 24 de dezembro de 1634. ‘Antes, 6 conde Bagnoulo, que comandava tergo de meret natios napolitanos, retirou-se para o Recife, deixando atrés de a destruigdo ¢ incertezas. A artilharia do forte do asp _ desmantclada, casas ¢ depésitos de mercadorias incendiados, _muifos abitantes da capital fugiram para o interior. Ta comegar 0 dominio tiolandés. 2.4. (Nova) organizagao politica, social e econdmica — eppigetice potace ~ A preocupagéio inicial dos holandeses consistiu emt montar defesas para establizar a conauisia, eat ¢ simpatiadoshabitantes da Paraiba, cujneapitalteveadenominsto rmudada para Frederica Artesia . i rebatizada como Margat * id a atghil rebeliio, os holandeses tanto nl caram a Tprea de So Francisco e 0 convento de Santo AntSnio, tujas portasinstlaram entrncheiramentos ¢ beri, quanto 8% param inacabada Igreja de Sto Bento, na Rua Nova. Alm disso, ‘os eaminhos de acesso & Pelipéia foram empiquetados por tropas freseas, chegndas do Recife. Quando os religiosos fianciscancs tentaram desobedecer as ordens dos novos senhores, foram expu! eC tannin serous antiga administragao, subordinada, porém, ao Diretor ae , ae do inicialmente ocupada pelo conselhciro Servags Carpent Funcionarios denominados escabinos e oscoltetos encarregaram-se de administrar justiga e cobrar impostos. 48. ft Na area econémico-social, os holandeses mantiveram @ avidio. Com esse objetivo, ocuy preliminarmente, Irovincia portuguesa de Angola, na Africa, principal fonte de fornecimento dos cativos. Introdiizindo aperfeigoamentos técnicos ‘como moendas metilicas, no lugar das antigas, feitas de madeira, ‘ofereceram empréstimos aos proprietirios de engenhos, A maior Parte destes, liderados por Duarte Gomes da Silveira, aceitou a oferta. Senhores do mar, aferrados & capital e de olho nas varzeas do interior, uma das primeiras proclamagécs holandesas visava a tranquilizar a classe dominante com cujo apoio contavam. Para tanto, of anistia, liberdade de consciéneia e de culto, manutengao do regime de propredade, proteeiio aos negocios e ‘observancia das leis portuguesas nas pendéncias entre os naturais da terra. ‘Tais recomendagGes surtiram efeito, dai porque nfo foram poucos os que aderiram aos invasores. O padre jesuita Manoel Morais abjurou a fé eristf e embarcou para a Holanda, onde se fez alvinista ¢ casou. A principal colaboragia recebida pelos holandeses proveio dos indios Tapuias enquadrados pelos caciques Pedro Poti © Paraupaba, Fisica ¢ culturalmente diferenciados dos tupis, os tapuias compreendiam o grupo tarairiu que, chefiado pelo cacique Jandui, — denominago possivelmente retirada de outro grupo ‘tapuia — fraternizou comos flamengos cujas fileiras integraram, Em troca, os holandeses chegaram a realizar assembléia de indios para aqual os principais do Ceara ¢ Pemambuco enviaram represéntan= tes a vila de Itapessica, em Pernambuco. Esse um dos expedientes utilizados pelos invasores :atrair 6s habitantes da terra em troca de algumas liberdades, principal ‘mente de organizagdo. Com tal finalidade também fizeram realizar no Recife, em 1640, assembléia com representantes de todas as capitanias. A Paraiba envion delegacdo da qual fazia parte Duarte da Silveira. 49. ‘A aproximagao dos holandeses com 0s tapuias, por eles, conduzidos até a Africa ¢ 0 Chile, levou o viajante alemao Roulox Baro, que esteve a época na Paraiba, a escrever 0 preciso Viagem 40 Pats dos Tapuias, reeditado com tradugao ¢ notas da historia- dora Léda Boechat Rodrigues. Outrossim, a rivalidade entre tapuias e tupis fez com que grupo indo-holandés chefiado por Pedro Poti, as ordens do aventureiro Jacé Rabi, se responsabilizasse pelo chamado massa~ ‘ere do Engenho Cunhau, na Capitania do Rio Grande do Norte, em 1645, Isso ocorreu quando luso-brasileiros ¢ tupis participavam de missacefestangas. O morticinio foi completo, dele somente escapan- do a filha do senhor de engenho André Dias de Figueiredo, sacrificado na ocasiao. 2.5.A resistencia anti-holandesa -- Vidal de Negreiros — niio o aceitaram pat do Paraiba. Nesta, os flamengos nunca conseguiram firmar-se. Ja em 1636, 0 segundo Diretor Geral Ippo Eyssens, tido como arbitrario, foi morto numa emboscada, quando assistia a farinhada no engenho Santo Anténio. O principal responsavel foi o capitdo Francisco Rebello, © Rabellinho. Reagindo, os holandeses procuraram apresentar combate no Tibiri, o que foi evitado pelos luso-brasileiros que preferiram retrair-se ¢ recorrer a ataques rapidos ¢ de surpresa, Era.a guerritha, Por conta desta, os hholandeses nunca se sentiram seguros na Paraiba, salvo durante algum tempo na capital e, mais tarde, no interior da Fortaleza de Santa Catarina. A repressdio holandesa caracterizou-se pela brutalidade. ‘Seus soldados, a maioria dos quais mercenérios, entregaram-se a0 ‘saque enquanto a Companhia das Indias Ocidentais decidiu aumen- tar a contribuigtio dos que niio colaboravam. Alguns engenhos-e propriedades foram confiscados. A pena capital foi igualmente 50. | thea, c, em 1645, 0 Diretor Geral Paul Linge, responsivel por lentos, mandow arrastar pela ci a va bela cidade o corpo de condenado A tensdio somente amainou er y ntre 1638 © 1644, du HMministrago dos diretores Elias Herckman (s)¢Gisberth Wink Por. deN ‘6884 €poca, chegou ao Brasil o conde Mauricio de Nassau, que Paraiba. Os holandeses obti r I iveram, entio, acess, Setspeoneesimianiooccarn,melorraoahecen se oo = Zona por eles dominada, Atento a fome, que atormen- mer: tits, Nase Procurou incentivar 0 cultivo de as an enger cujos proprietarios foram obrigados a e og ao plantio desse vegetal. Alguns autores nisso_ ae rings tenativa de reform agréia, no Brasil, visto ridénciadestinada a imitaramonocul a © proprio Nassau exteve por duns vezes na Pence ae ara dela despedir-se, em 1644, Na primeit : rele bras com ses pes de asia, ot r lulcissimo acucar” paraibano, Determi Ferlito Fortede Cabedelo,amethoriadomolheeedifeagio de alguns armazéns no Varadouro, mas foi rotestant maze aradouro, 86... Protestant aes oo slandees do construram Iraj, menos ainda entre a capital e Cabedelo, como p ¢ ¢ , como posteriormente propagado pela imaginag2o popular. A contibuigo material dos aT da ddizimos desse produto aumentaram em 1641 ¢42. a Espana, em 1640, 0s portugueses eucontrava-oe ae “abaladas, de modo que alguns eee R 3 meee rio indo luso da época, Anténio Vieira, 0 maior: ‘sabio do mut sy ; documento que propunha a preservagio de todo > Nea se holandeses que se absteriam de invadir o restante so Oriente, ao eumeto gankouadenoninastode papel forte, tio convincentes pareciam suas razdes. Na Paraiba, os proprietarios e sr fineionsrios, beneficldios da invasio flamenga, concorde termes. . a aha esse, porém, © caso do jovem André Vidal de ano, filho de proprietarios portugueses, Particl- ;panha anti-holandesa-de 1624, na Bahia, onde sentou da, 4 er’ "Em 1630, encontrava-se em Olinda, quando os flamengos are aram acidade, Novamentons Paraba,entreT684¢36,nunca pactuou conrinvasor que 0 respeitava. De 1636 a 1644 permaneceu em Pose ee dale, tentou mobilizar 0s espiritos em prol ssoneait oinento, tomo a0 Brasil, desenibareandonapras permer OS de Tamandaré, acima da qual, em Santo Ant6nio Baie jung com as tropas pemambueanas de Joo Femandes Ye © Tuta, doravante, iria travar-se em campo sae nel ave aide : 9 ‘Negreiros revelria dons de estategsta Paricipane Oo talhas dos Montes Guararapes, figurou . aac ma rendigdo holandesa, na Campina da Taborda, Ante ‘umente, nfo hesitara.em atsar fogo aos canaviais do proprio Pal Paraiba, ol ‘na Paral ua carreira foi uma sucessao de éxitos. Escolhido para dio contra os holandeses, Jevar a Portugal os resultados da insurreigtio an foi nomeado Governador dos Estados do plelies Gi ba que constituiam territérios independents doen Bae 62, designaram-no Governador de Angola, on an li reise Ao falocer, em 1680, seus restos moras foram 52. ‘opositados na lpreja Matriz de Goiana de onde foram transladados ‘para a Igreja dos Prazeres, nos montes Guararapes, ~ Considerado um dos maiores paraibanos de todos 0s tempos, Vidal de Negreiros fez-se indiscutivel chefe da Guerra de Libertagdo Nacional que a insurreigéo contra os holandeses fepresentou, Com o afastamento dos espanhéis e retraimento dos pportugueses, a contenda ganhou feigo nacionalista, nela se verifi- ‘ead a primitiva formacao da Patria e > 26.05 escravos, penetragdes holandesas e triunfo brasi- __Teiro Hii um refrdo segundo o qual “quando os de cima se havém, ‘05 debaixo se desavém”. Foi 0 que aconteceu com as invasdes holandesas no Nor- este. Como atacantes e defensores nfo se dispusessem a alterar a fordem escravista, os proprios negros aproveitaram as divergéncias ddos dominadores para rebelar-se. Isso explica o surgimento, duran- tea dominagao flamenga, do Quilombo dos Palmares, que, aco: "do pelos bandeirantes de Domingos Jorge Velho, resistiria até as pprimeiras décadas do século XVII Ao contrario do que se supée, os palmarinos nfo se limitaram a Serra da Barriga, no atual Estado de Alagoas. Irradi- ando-se por toda zona da mata nordestina, também constituiram centros de resisténcia e preservagaoda cultura africana, na Paraiba. ‘Nesta, em 1635, os holandeses ja asseguravam aos moradores a ‘manutengio de armas para defesa de “quilombos e alevantados”, 0 {que pressupse a multiplicagao dos miicleos de rebeldia, Asiinstrugées governamentais de 1691, destinadasa acudir ‘Domingos Jorge Velho, eas recomendagdes de 1698 1741 revelam ‘© temor dos possuidores em face da revolta dos despossuidos. Vanguarda destes, os escravos reuniram-se no sitio denominado ‘Cumbe, mas proximidades do Espirito Santo, Esse quilombo, originario das guerras holandesas, somente seria destruido em 1701, ‘Também derivadas das invasées holandesas foram as 33 lote-se que 08 iras tentativas de adentramento pe wn a key Primes go se fixaram no interior. MAS TS VAN ba, ie meio das quails tanto sia st spent ges pr mi pa inks a tra IN 7 ‘Para alguns autores, 9. ae il as nas do Rio Paraiba, | chegou ie esa doRi a ono catat o 0 ME Cait Ao Ca aa Tee 0 Aras sindoo assou-se para aflu 3 e ri e fone ‘0s contrafortes De aioe 2 Jos atuais municipi ‘zona compreendida pel j 0s @ Esperavain minas de ouro e metais presiosp® © we per ie iio et am. O qué iio encontrar essas expedigdes. Isso78 Oa nolan tment dope cada NAY ibindo o ‘ roferido Roulox Baro, subind se rpcentes deste, no atual municiDIO rupos indigenas quinto ¢ ultimo ditetor da ” Paul Linge, adotou providencias da Frederica, ‘como porque chegara 1 econdmica, até bem porque onassent els strato sentimento de amor A terra, | et ee Mo que um dos principals chefes see, Feira, Governador 3 est es Pemambucons Josio Fernandes Vieira, Ge insure aa lista dos Paraiba apés a expulsio dos holandesess ‘encabesa es ‘Companhia. He " va ainsi con ok MS 645, o capil nta rapidez que, em 1645, ek a rae aS das pugnas contra OS ee cm, apa a regio do ‘Tibiri. Dai suas: colunas anya , expulsfio dos Jesuitas e crise geral. i) » Embora devam ser consideradas simples episddios de “oeupacdo da costa, as invasbes holandesas na Paraiba tomaram- "$e importantes em face da crise para que abriram caminho, ~__Verdade que uns poucos se beneficiaram da desarticulagao j econdmica ¢ social trazida pelos flamengos. Tal 0 caso de Joti Fernandes Vicira, chef da Restauragao Pernambueana que se apropriou dos trés antigos engenhos de Ambrésio Fernandes Brando, com o que aumentou para dezesseis o niimeros de suas fabricas deagiicarno Nordeste. Destas, ses situavam-sena Paraiba, Com dez casas ¢ um sobrado na capital paraibana, cujo nome foi novamente trocado, dessa feita para (cidade da) Parahyba, Fernandes Vicira ainda se fazia detentor de varios currais de gado ¢ dois mil escravos, Proprictario de novas sesmarias, obteve da recursos pata manutengiio de cinco companhias dopréprio tergo. Tratava-se de forga empenhada em expedigdes contra indios ainda nao aculturados ¢ negros agrupados em quilombos. 3.1. A extensdio da crise e 0 monopélio - O caso do primeiro govemnador da Paraiba depois do dominio holandés e, em seguida, governador de Angola,era, porém, uma excegéio. Isso porque, no conjunto, a guerra civil empreendida contra os holande- ses resultou tio destruidora que, segundo um historiador, “o valedo 65 Parahyba, outrora povoado ¢ vistoso pelas alegres cores dos canaviais ¢ rogas, esté agora coberto de capoeiras cerradas, silen- ciosas c tristes como a historia do seu passado”” Tanto a Capitania da Paraiba saia devastada do periodo 1634/54, que os governadores que a dirigiram de 1654 a 1667~a saber Joio Femandes Vieira (1655/7), Anténio Dias Cardoso (1657) ¢ Matias de Albuquerque Maranhdio (1657/1663) ~ tiveram ‘como objetivo a recuperagdo da economia agucareira, Isso, porém, foi apenas parcialmente atingido. Em primei- ro lugar, porque novos impostos recairam sobre os paraibanos. Estes, como os demais habitantes do Brasil, viram-se obrigados a financiar indenizago paga aos holandeses pela Paz de Haia (1661) para que estes, expulsos do Brasil, nfo se apossassem das colénias portuguesas no Oriente Para aquisigo desses recursos, a Coroa lusitana também. decidiu aumentar a autoridade sobre o Brasil. Neste, “os homens bons ecidadaios de posses” ndo mais disporiam dos antigos poderes. Como consequéncia, logo vigoraria o regime do monopélio, como se vera, Esse monopolio ja se esbogava nas providéncias adotadas por Portugal durante a segunda metade do século XVII. Em 1665, Carta Régia determinava que o agiicar produzido na Paraiba fosse embarcado diretamente para Portugal,e, em 1670, toda aquela produgao obrigava-se a passar pelo porto do Recife. Em 1687, as ‘Camaras perdiam o direito de estabelecer prego para os assucares, Em 1690, 0 sistema de frotas, destinado a impedir o contrabando ¢ favorecer a cobranga do dizimo, era oficializado, com as restrigdes alcangando o coméreio do pau-brasil, Os navios que seguiam para a Europa tinham agora de fazé-lo em comboios, reunidos na Ponta de Lucena. Isso apés submetidos a severa vistoria. Paralelamente, a eapitania era atingida em fins do século XVII por epidemias de febre amarela, entiio denominada bicha, € colera morbus, Quase ao mesmo tempo, devastadoras cheias do Rio Paraiba prejudicavam engenhos ecanaviais, demodo quea Paraiba 66 ingressaria no século XVIII ~ 0 mai ia ‘mais importante d i im situacéo de desvantagem e.rise. i Historia~ 3.2. —A questo das indios ‘metade do século XVI, amaiorparte da €ra constituida de indios, Estes, segundo as h : Pesquisas maismodemnas, agra om trés asrandes nagSes — tupis, caiis¢ Gaal eee, ipa habitavam a zona mais proxima ao litoral ¢ ce pets pot ars © tabajaras, Os primeiros local n jorte do rio Paraiba, curso d ° s lo rio Mamangua de Copaoba, foram rechagados para o Rio Grande de Nae ma revisdo —Na segunda opulagaoparaibana ainda en OF pacetam ses remanesenes. Quanto ao abajares, ot que ade Be los em Aratagui (Alhandra), Jacoca: (Conde), Piragibe $808), Tibiri (Santa Rita) e Pindaiina (Gramancg fam a Paraiba em 1599, eee a Sane Criginariamente em Bananciras e Cuité, tendo linda Patan ctt#640 08 vales dos tios Curimatai e Train, ¢ ee si2cus, na fronteira do Rio Grande do Norte com 0 Cear ndés, na serra de Cuité, Genipapos, na fronteira do Rio Grande do Norte com o Cearé, Cavalcantis, ue representariam fio dos . Cavale: ‘antis, que representariam facga: da ribeira do Rio do Peixe, no atual municipio de Antenor Navarro, para campinas da serra da Borborema, onde originaram a cidade de Campina Grande, Seja como for, os tarairtis possuem caracteristicas fisicas culturais bastante préprias. Pertencentes a0 gruporacial Laguido, raticavam o endocanibalismo queos levavam a comer os préprios parentes. Nao tendo morada fixa, desenvolviam agricultura rudi- ‘mentar, nos vales dos rios temporérios Jaguaribe, no Ceara, Apodi, no Rio Grande do Norte, e Piranhas, Sabugi e Seridé, na Paraiba. Em oposigao aos tarairiis, com que iio se harmonizavam, ‘os caririshabitavam os vale timicdos dos rios permanentes eregibes altas de clima ameno, 0 que Ihes assegurava plantagdes de milho, feijo ¢ abébora, com manifestagées religiosas relacionadas com ssa atividade. Na Paraiba, os cariris compreendiam, as margens dos rios do Peixe, Paraiba ¢ Pianed, os Chocds ¢ Paratiés, em Monteiro ¢ Teixeira, na fronteira com Pernambuco; Camoiés, na serra desse nome, em Cabaceiras ¢ Boqueitéio; Bodopitis ou Fagundes, nas regides assim denominadas, proximas a Campina Grande; Bultrins nos Cariris de Pilar ¢ Alagoa Nova; eés, nas proximidades de Souza e Conceigilo, ¢ Coremas, na regio assim intitulada, no vale do Pianed, 3.3. Casa da Torre, bandeirantes e Oliveira Ledos, na conquista do serio ~ Do ponto de vista da conquista do sertio da Paraiba ,empreendida entre 1670 ¢ 1730, as aldeias indigenas mais importantes foram aquelas dos cariris, as margens do Paraiba, em Pilar e Boqueirao. Descritas pelo missiondtio capuchinho Marti(nho)m De ‘Nantes, que sobreclas produzits importante Refagdo ,essasmiss6es fincionaram como bases , a partit das quais os Oliveira Lédo alcangaram 0 sertéo. Esta palavra possuia, entio, significado especifico. Corruptela de deseriGio , significando terra deserta, isto é, ignota, desconhecida, o sertéo comegava, originariamente, logo depois da 8. eT | osta, Essa a razio por que se falava em sertio do Tai Beso ‘de Sdo Miguel de Taipu, a apenas vinte ¢ coe gaa Hep Cabial serti da Lagoa do Pad, em Alagoa Grande esertto preted sgt a serra da Borborema, em Area, Sé.na segunda # do século XIX, com os progressos da Geografia e apareci- Aagreste, brejo e cari E desse sertio cuja primitiva colonizaca: i izagdo aqui estam fstnd, Quando Anno de Oia Lio, il ear fPalzaastris dade Vidal deNgreircs,novaledo Paribchegou > indigena cari de Boqueitdo, na serra do Carroié Gis métio daquele ri.em 1670, o serio da capitan - ea fava parcialmente ocupado pela Casa da Torre, folil lo, hee desta nos sertées Pparaibanos dataria de 1663, Be lA coe dda Torre, cuja sede sc localizava as margens do rio (he Fransisco, no serio da Bahia, obtivera adoagio de ana de i a confluéniado Pj, noatual estado de Pemambuco, fox as +, no Rio Grande do Norte. Era, como se vé, imenso fettros rigs do sistema iaifundrio que marcaria 0 sete Pagestine A sua poss habltaran-se nfo bo coranel Francisco ee ie la ~ que, a0 falecer, em 1695, legou © patriménio da i Fe @ esposa, dona Leonor Pereira Marinho — como fiuenes,frciosdaquelepotentado, Ess colons eram aren Pitas de Cine Ro do Fone Sor eo Pans rcixe. Si 5 Propriedades de Dias D'Avila sey, a an Sia plates ent pea nto, das grandes inka de penrago do. Pee pecan Ura, Jongitudinal, isto é, do sul para o norte, Bastin do Rio Sto Francisco, através de afuente dest, pectroa ‘araiba, através da fronteira de Pemambuco, Percorrei Pandkirantes pavlss,bahianos © pemambueatos. essa corrente incorporeu-se o bandeirante pauli mingos Jorge Velho qu, apes eamagaro Quilon Sa a) jou sobre a Paraiba para fazer o mesmo com os indios de 6 ‘Confederagao dos Cariris. O tergo, isto é, a militarizada formagao_ de Jorge Velho, acampou, a certa altura, em Campina Grande, sendo que, da passagem pela Paraiba, restou localidade batizada como Paulista, nas cercanias de Pombal. Osbandeirantes, todavia, nao ocuparam a terra, no sentido de fazé-la render, econdmicamente. Apenasadevassaram, sufocan- do, onde foi o caso, a resisténcia indigena. A ocupagio produtiva, isto é, a colonizagdo do. sertao da Paraiba, coube, alémdos colonos que seguiram os bandeirantes, 4 familia Oliveira Lédo © aos sesmeiros articulados com este cla, Esses dois tiltimos ingressaram ‘nos sertées da Paraiba, Jaiitudinalmente, isto €, no sentido horizontal, de leste para oeste, com a maioria operando por conta propria e alguns sob o patrocinio do Governo, Os responsaveis por ‘expedigées denominadas entradas tornaram-se conhecidos como centradistas. 0s Oliveira Lédo, situados na origem de tantos municipios paraibanos, a partir de Campina Grande, ¢ regio do Cari, tanto Jevaram para o interior seus cabedais como se responsabilizaram por entradas. © patriarca do grupo, Anténio de Oliveira Lédo, estabeleceu vias de penetragio sertanejas, através de duas diregées. A primeira, partindo da missiio de Boqueiro, pelo curso do Paraiba, atéo Rio Taperoa, afluente daquele, eruzou.o pequeno Rio Farinhae, subindoo curso do Espinharas, nas’ ‘vizinhangas de Patos, Jangou-se para nordeste, a fim de, através do Rio Piranhas, alcangat a regiflo do atual municipio de Brejo do Cruz ¢ penetrar no Rio Grande do Norte, cuja zona do Seridé pertencia, entéo, Ajurisdigéo da Paraiba. outro brago da penetragiio de Ant6nio de Oliveira Lédo desviou-se para 0 sul, desde Boqueiri afim de, pelas nascentes do Rio Paraiba, ingressar em territorio pernambucano onde, chegando ‘a0Pajeti,encontrou os colonos da Casada Torreque por ali subiam, rumo ao alto serto da Paraiba ¢ o Ceara. Dois outros Oliveira Lédo, Custodio, irmao de Antonio, ¢ Constantino, filho de Custodio, também participaram da conquista do sertéo da Paraiba. Alguns autores pretendem que, cada um a seu 70 CE EEY_"E='STS"”- mit tempo, haja sido capitfo-mor do sertdo do Piancd e Piranhas, a ‘todavia, exerceu essa fungdo.com maior: ‘veeméncia foi outro i iene ‘sobrinho de Anténio, Teodésio de Oliveira Lédo. ligou-se comissario da ac Miecksscascuucnn a A penetragao. ‘de Teodésio partiu do aldeiamento Cariri, de 4 ‘MO sentido noroeste, ¢, virando para o sul, alcangou o rio faperod, Seguindo om frente, atravessou o planalto da Borboremy até Pau Ferrado, sobre 0 rio Pianed, de onde, infletindo para fas este, aleangou,no vale do rio do Peixe, a localidade Jardim, atual Sousa. Descrevendo largo circulo, penetrou o Seridé norte-io Brandense pela serra de Luiz, Gomes ¢, desviando-se para osul,al- angou a confluéncia do rio Piancé com oPiranas onde, em 1698, fundou 0 arraial de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Piancé, i‘ Esse povoado, do qual deriva a atual cidade de Pombal Constituin 0 principal centro de irradiagéo de povoamento que ompreendeu néo apenas o sero da Paraiba mas errteios do Rio a :do Nortee Coari, Para implanté-lo, TeodSsio dirigiu-se ao Goverador Manel Soars de Alberta junio a quem obexe inha, sal,pélvora ¢ algumas carnes. Tais mantimentos destinavam-se ao chefe da cx] So pris pos, aston pot ls eo EB levado. Matava-se ‘© gado dos currais encontrados pelo inho enquanto 08 indios aculturados, que constituiam o grosso_ 8 Frmago, manintamsecom casa procedimento, comum a entr Ppunha em evidéncia elemento ccondmico cov. naa fad bovino, cavalar, asinino, ovino ¢ caprino (miungas), Remi des cura as soma ogo cod, a gaia esti % se da nova fronteira econémica da Paraiba ~ distinta quela do itoral ~ como. elemento central da chamada “eiviliza- 0 do couro”, assim batizada pelo historiador Capistrano de Abreu. O vaqueiro, encarregado de criar e reunit as reses, tomar. ‘Se-ia seu tipo mais representativo, : n ‘Acessa organizagao econdmica ¢ social competi a ocupa- 40 produtiva do ero do Norse O prooess0 estendeu-se até 0 Piaui, capitania que, desde o inicio, dispés de Geografia propria, bastante larga por dentro e estreita no litoral,reduzido porque sem importincia, O Piaui converteu-se em estagdo terminal das boiadas conduzidas desde So Francisco, o que 0 folclore se encarrregou de glosar: “O meu boi morreu/ Que sera de mim/ Manda busear ‘maninha/ LA no Piaui”’ be ‘Na Paraiba, a feigdo latifundiria dessa zona sertaneja, a certa altura dividida entre a Casa da Torre ¢ os Oliveiras Lédo, motivou protestes do Governador Joao da Maia Gama, Para éste, “nem na India nem em lugar nenhum se vira colono mandando em. ceolono como aqui”. 3.4. A resisiéncia indigena~ a Guerra dos Barbaros~ & presenga de entradistas ¢ bandeirantes, pelo sertio da Paraiba, dispunha de outra motivagao, além de espalharo gado pelos campos: do criatorio, Tratava-se de prear indios, reduzidos ao cativeito, paravendagemno litoral. Entradistase bandeirantes como Teodésio de Oliveira L8do, Domingos Jorge Velho, Domingos Afonso Sertio ¢ Bernardo Vieira de Melo encontravam-se, confessadamente, ‘comprometidos com essa empreitada, Fosse por isso, por defenderem suas terras ou porque recebessem o estimulo dos franceses, ativos na embocadura do Rio Agu, no caso o Piranhas, que muda de nome, no Rio Grande do Norte, os indios decidiram reagir. Essa reagalo, que gerou a chama- dda Guerra dos Barbaros, vigente nos sertdes nordestinos, de 1680 1730, recebeu, igualmente, a denominago de Confederagao dos Cariris, Uma vez mais, a resisténeia fazia-se o tema da Historia da Paraiba. $6 que nfo foram os Cariris os responsaveis por esse rocedimento, mas os Tarairits Propein substancialmente, a dviea colonizadora era mesma do Iitoral, pois tratava-se de “dividir para reinar”, jogando os indigenas uns contra os outros. Como os Tabajaras no litoral, os n ariris fizeram-se aliados dos colonizadores, em face dos quais evantaram-se, com denodo, os Tarairitis. Por outro lado, os ‘bandeirantes de Domingos Jorge Velho conduziram, para osertao da Paraiba escravos negros que, aculturados, depois de aprisionados ‘em Palmares, foram utilizados contra os indigenas que resistiam, Aproveitando a luta, grupos de negros intemaram-se pelos matos, Sendo essa a origem de alguns quilombos sertancjos. O dos Crainas ‘osistiu durante muito tempo, no vale do Pianed | _Trésfases experimentou a Guerra dos Barbaros. A primei- ‘Marebentou na regio norte-riograndense do Agi onde os indigenas Se apresentaram com armas de fogo € munigdes contrabandeadas ‘Polos franceses, A segunda, de maior durago, teve lugar na Paraiba, a0 longo de toda povoagdio de Bom Sucesso do Piancé, ballizada pelo vale do Jucurutu, na fronteira com 0 Rio Grande do Norte, aonorte, vale do Pajeti, nos limites com Pernambuco, ao sul, Sertio do Cariri, na Paraiba, aleste, esertiodo Jaguaribe, no Ceara, Moeste. Expulsos da area, os indios refugiaram-se no Ceara, onde ‘corren a derradeira fase da Guerra dos Barbaros, A crueldade com que essa foi travada fez-se tao acentuada Que, a certa altura, as autoridades lisboetas dirigitam-se ao Gover- hador da Paraiba pedindo explicagdes sobre 0 que ai acontecia Aldeias inteiras estavam scndo incendiadas e seus habitantes, massacrados, sem constituir excegao mulheres ¢ criangas, Quanto 4408 adultos, que se recusavam a escravidao, eram passados pelo fio da espada. Tanto se sucediam as matangas que historiadores Paraibanos a elas atribuiram o retardamento da colonizagao serta~ Ineja, devido a escassez de mao de obra. Outro considerou as taxas de natalidade praticamente nulas no sertao da Paraiba do inicio do séoulo XVII ‘Mesmo assim, 0s indios seguiram resistindo e se responsa- bilizando pelo que o historiador Geraldo Treneo Joffily conceituou onto “a maior guerra anti-colonialista que} se travou em territério brasileiro”. Do lado dos naturais da terra, nunca menos de dez mil indios frexeiros deixaram de estar em ago, Como resultado, até B ‘mesmo os bandeirantes de Domingos Forge Velho chegaram a ser parcialmente derrotados. O Olivera Lédo de nome Constantino esteve a pique de perecer em emboscada, sendo salvo por Jorge Velho. Doladod esséncindiges, notbilizaram-sosjndis is bravos entre os mais bravos, pewas, panatis ¢ paiact Tea os que nifo se internaram nos sertées do Rio Grande do Norte ¢ Ceara foram exterminados. Essa a raziio por que 2 contribuigao do indio a civilizagdo sertaneja, na Paraiba, 6 bem ‘menor que no Ceara, onde artesanato c tipo fisico dotado de cabega chata sfo de procedéncia indigena. ‘Na violéncia empregada contra os indios destacou-se ‘Teodésio de Oliveira Lédo cujas milicias desempenharam o papel de policia de seguranga da época. Em 1710, como rebentasse em Pernambuco a chamada Guerra dos Mascates, entre os senhores de cengenho de Olinda e os comerciantes “mascates” do Recife, 0 Govemnador paraibano Joo da Maia Gama, partidario dos tiltimos, deslocon Teodésio para guamecer a fronteira do litoral paraibano com Pernambuco, Outro caudilho sertanejo, Laiiz Soares, encarre~ ‘g0u-se de protegero lado oposto, na fronteira com 0 Rio Grande do Norte, Os mais implacéveis sertanistas acudiram as rexides do Piranhas ¢ Pianoé durante as batalhas do alto sertio da Paraiba. Um deles, 0 coronel Manoel de Araiijo, deslocou-se com gado ¢ cento ‘ecingfienta homens bem armados, de fazendas do rio So Francisco para a zona ocupada pelos indios Coremas, que eram cariris. A rapida submissdo desses ofereceu aos as a fae) ammais acima, retaguarda que decidiua sorte das armas. te truce foram aubjugados, A oeupagdo do setéo da Paraiba fez-se sangrenta ¢, nele, escaramugas estenderam-se até 1750. 3,5. Economia, vilase cidadesnosertdo-- Uma sociedade violema — Consoante 0 historiador Ireneo Joffily, a sequénci bandeira-curral-fazenda-arraial responsabilizou-se pela formagao 4 a sociedade sertaneja, na Paraiba. "De fato, como os bandeirantes, percorrendo 0 curso dos thos, se deslocassem com seu gado, seguia-se, inevitavelmente, a Concentragao deste em currais, campos cercados dotados de rust cas habitagbes, geralmente de pau a pique. Tratava-sc das primit ‘vas fazendas, localizadas em datas deterra, dotadas de capelas que hes legitimavam a posse. Se a de Nossa Senhora do Rosirio Tepresentou, entre 1701 ¢ 1721, no Arraial do Piranhas, embrido da futura vila e cidade de Pombal, as capelas de Cabacciras, em 1730, Jardim do Rio do Peixe (Souza), em 1732, Piancd, em 1748, Patos, ‘em 1772, Catolé do Rocha ¢ Santa Luzia, em 1773, e Monteiro, em 1800, significaram o elemento gerador dessas cidades. A religido também se tomou um dos pilares da sociedade sertaneja, reunida em torno da capela de scus santos padrociros, ainda hoje festejados como acontece com Santo Anténio, no més de Junho em Piane6, Nossa Senhora da Guia, no més de setembro, em Patos, ¢ Nossa Senhora do Rosario, também todos os anos, em Outubro, em Pombal. Nao raro, como em Santa Luzia,esses oragos ensejaram cruzeiros onde se celebram promessas a devogdes na Parte mais alta da povoagdo, [sto aconteceu porque, por toda parte, 0 terco do missionério seguiu o trabuco do conquistador. Outro clemento formador dos arraiais que se converteram, ‘com 0 tempo, em povoados, vilas e cidades, foram os sitios. Na qualidade de “maior figura patriareal do sertdio da Paraiba”, 0 ‘eapitio-mor José Gomes de Sa possuia fazendas arrendadas a Casa da Torre, como Acaua Riachdo, atuais distritos da regitio de Sousa. A cidade de Conceigao fez-se, originalmente, data de terra Pertencente a Pedro Monteiro, no vale do Piancé, em cujos sertdes, fazendas como Sao Gongalo, Lagoa Tapadae Santo Ant6nio (atual Pianeé), também originaram sedes de distritos ¢ municipios da Paraiba A facil obtengao de terras, incultas ou arrebatadas aos Indios, gerow a grande propricdade pecuaria, bastante pronunciada ho serto, $6 a familia Oliveira Lédo chegou a possuir mais de 1s cinguenta léguas de terras, no interior da Paraiba, © fenémeno, ainda no séoulo XVII, comegou a preocupar as autoridades que estabeleceram providéncias, restringindo o tamanho das sesmarias. Em 1697, Carta Régia limitava-as a és léguas de comprimento © uma de largura, ou seja, onze mil hectares | ‘Nessas glcbas niio apenas se criava gado como também se plantavam generos de subsisténciaalgodio € cana-de-acucar. O lpodio, que somiente Ts SEeuTo XIX se valriznfia nos mercados internacionais, servia para o fabrico de utilidades domésticas panos risticos como madrepoliio. Ja a cana de agiicar ambientou- s¢ nos baixios € aguadas para produgdo de rapadura ~ alimento basico na dieta do sertaneja, O grosso da rapaduraconsumida pela ‘matutada adviria, porém, dos engenhos do brejo com os quais 0 sertao se comunicou, através de primitives caminhos — “os caminhos antigos do povoamento do Brasil”. Alguns desses oruza~ ‘vam localidades cujos nomes nao deixam diividas quanto a Fungo que exerciam — Passagem, nas vizinhangas de Patos, ¢ Travessia dos Quatro Caminhos, futura Taperod, no Cariti ‘Comoos processos desalga da came, proprioscdos pastoreios gaiichoe cearense, demoraramaserintrodiizidosnosertao paraibano, do abate do gado, apos imediato consumo da came, aproveitavarse ‘ocouro, exportado ou destinado a ensaear fumo, no litoral. Dele, 0 sertancjo retirava praticamente tudo — roupas, calgados, utensilios ‘eaté cobertura para as Jatadas, Do gado também provinha o let usadona fabricagao dequeijos edoces, bem como variada culinaria, ro centro da qual se situa(va) a buchada, como prato tipico da regio, No folclore, o bumba-meu-boi €o pastorilencarregaram-se de valorizar o boi, presente a denominagiio de cidades paraibanas como Curral Velho, Santana dos Garrotes ¢ Boi Velho (atual Ouro Velho) ‘A circunstincia de que, eventualmente, 0 vaqueiro se tomasse proprietario, ¢ a constatagao de que a alimentagdo serta~ neja fosse mais abundante que a do litoral, gerou a versao da democratica soviedade sertangja, Trata-se de um mito, isto & 76. esteridtipo repetido pela tradigo, Na zona sertaneja, a concentra so territorial acentuou as distincias de classe, de modo que sua “yocagdio democratica” s6 se torna valida se comparada a zona agucareira, mais senhorial, A disputa pela terra gerou, no sertio, sociedade violenta gue se prolongou no cangago ¢ tas de familia, até bem pouco Visiveis em municipios como Catolé do Rocha, Teixeira, Misericér- dia (atual laporanga) e Pianod, Essas refregas provém da propria conquista, quando a Casa da Torre entrou em choque com 03 Sesmciros ¢ estes, posteriomente, com indios ¢ colonos. © povoamento da regio ficou a cargo dos colonos.que feram mamelucos, resultantes de cruzamento do branco como indio, ais amplo que o cafuso, proveniente de mistura do indio com 0 negro ¢ também ai encontrado, Alguns desses mamelucos sequer falavam 0 portugués. Quando Domingos Jorge Velho passou por Olinda, o bispo local queixou-se ao Rei de Portugal, revelando que ‘aqui esteve um selvagem que nom nossa lingua fala”, Jorge Velho, ge se comunicava na lingua gr, raza consigo um gu, isto epee, centon para falar com isp, aconpabao de st Seguramente 6 mais importante da Histor século XVIII assinalou a integrago da eae: ‘dcupagao do territério. Isso se positivou quando os colonos, sempre Usurpandoas teras indigenas, chegarama Bananeiras, na fronteira do brejo com o Rio Grande do Norte, ¢ a Cuité, na serra, em 1760.Esta iltima regio, arrebatada aos sucutus, foi devassada em busca de sal e aguadas para o gado, dai porque a estrada que por ai emanda o Rio Grande do Norte éconhecida como “estrada do sl” Quando a regiéio de Monteiro foi ocupada em 1800, ¢ Princesa Isabel, nos Cariris de Princesa, viu-se conquistada em 1805, a Paraiba completava a unidade territorial, Nem essa, Contudo, bastou para oferecer progresso ao século XVIII, ja marcado por profinda crise estrutural. 3.6, Monopélio, Companhia de Comércio e perda da n autonomia ~ Essa situago consumou-se na Paraiba da segunda metade do século XVIII, em face do regime de monopélio © da Inquisig0. O primeiro implicou no funcionamento de companhia de Comércio e perda de autonomia da capitania, entre 1755 € 1799. Jia Inquisigdo relacionou-se com a expulsdo dos Jesuitas, como se veri. tise. Foramambos subprodutos da ago do Marquésde' primeiro-ministro de Portugal e praticamente ogovernante, durante oreinado do fraco DomJJosé I, Modernizador enérgicocautoritario, Scbastifio José de Carvalho compreendeu 0 atraso do Reino, em face de paises como Inglaterra, de que Portugal crescentemente dependia, ¢ Holanda Datou dai seu empenho de criar companlhias de comércio, enayegagdo, inspiradas no modelo holandés. Em seguida & consti- tuigdo, na propria metrépole, da Companhia de Vinhas do Ako Douro, o Brasil viu-se contemplado com duas dessas insttuigBes — a Companhia do Comércio do Grao Para ¢ Maranhio, em 1755, ¢ ade Pernambuco ¢ Paraiba, em 1759, Pela ética pombalina, elas visavam a ressuscitar comércio enfraquecido eminado pelo contra- bando. Este era acobertado pelos funciondrios das alffindegas Pportuguesas ‘As companhias constituiam entidades estatais, isto é, patrocinadas pela Coroa. Nesse sentido, cabia-thes, através do sistema de frotas, monopolizar todo comércio com a Paraiba. Esse somente poderia ser exercido pela Companhia que se obrigava, no caso paraibano, a acquirir a produgiio de agticar, couros,madeira, algodiio e peles, comprometendo-se aem contrapartida, abastecer acapitania de vinhos, azeite, manteiga,tecidos, queijos (denomina- dos “co reino”) ¢ bacalhau. 05 resultados dessa orientagao foram desastrosos porque, buscando aumentar os lucros, a Companhia de Comércio de Pemambucoeda Paraiba compravabaratoc vendiacaro, comoque 1 Capitania via-se espoliada por dentro e por fora. De mais a mais, aoadiantar algum dinheiro aos senhores de engenho para estimular B a produto d a Companhia os prejudicava, fosse taxando © prego dessa mercadoria, cobrando juros exorbitantes pelos em préstimos, ou ainda executando, implacavelmente, os devedores inadimplentes, ‘Como consequéncia, a produgio acucareira entrou em colapso, artastando consigo o comércio. Este somente poderia esenvolver-se por Pernambuco, dai porque, até a extingaio da Companhia de Comércio, em 1780), nao havia, na Paraiba, wma so casa de comércio para custear carregamento, adiantamento de despesa.c custeio de navios, Os senhores de engenho experimenta- ‘yam dificuldades porque os implementos de que necessitavam ~ tachos, moendas, alambiques e ferramentas ~ eram forecides a pregos elevadissimos. A Companhia também falhava no forneci- mento de eseravos, Tanto a Companhia de Comércio de Pemambuco ¢ da Paraiba arruinou esta capitania que, segundo um historiador, “na cidade da Paraiba as familias viviam encerradas para ocultar sua Pobreza ¢ as ruas quase desertas e silenciosas”. Para futuro governador Fernando Delgado, “traficantes usuratios de fundos alheios e companhiias de sanguessugas avarentas serdo sempre a peste destas colonias”” Em fins do século XIX, herdeiros e devedo- tes da Companhia ainda se encontravam as voltas com suecssores dos credores. Para favorever a atuago da Comparihia de Comércio de Pemambuco e da Paraiba, a Corda portuguesa estabeleceu a fusio das duas capitanias, em 1756 Com isso a Paraiba era privada de autonomia. Suas rendas transferiram-se para Pernambuco, incum= bido de prover as despesas militares da capitania vizinha, Protestos surgiram imediatamenite, O Senado da Camara, da capital dirigiu-se ao Rei, resumindo as condigées de que a ‘capitania dispunha para manter-se independente, ¢ a inconvenién= cia da subordinagdo. As administragdes das capitanias conjugadas permaneciam separadas, mas, mesmo assim, Jerénimo José de Melo ¢ Castro, que govemnow a Paraiba de 1764 a 1797, reclamou 9 on (ows, pl oN ‘com veeméncia. Ele nfo se conformava em que o capitéo-mor nao dispusesse de poder politico, militar oueconémico para administrar a Capitania, Todas as decis6es partiam de Pernambuco ‘A grande vor que se ergueu contra essas dificuldades foi a de Femando Delgado Freire de Castitho, governador da Paraiba entre 1798 a 1802, Suas opinides, expressadas com clareza e conhecimento de causa, toraram-no uma das maiores figuras da Histéria da Paraiba. Em 1798, Freire de Castilho dirigiu-se ao Ministro Seeretario de Estado dos Negocios da Marinha ¢ Dominios Ultra- ‘marinos para censurar 0 Governo de Pernambuco por providéncias que implicavamino monopélio dos géneros de primeira necessidade. Os pregos destes subiam, astronomicamente, além de que a Junta Perambucana, agambarcando as rendas do vizinho, nfo enyiava recursos de qualquer espécie & Paraiba. ‘Quando, no ano seguinte, a Coroa portuguesa indagou se a Paraiba deveria retomar a autonomia, Freire de Castilho nio se limiton a responder, laconicamente. Sua resposta est contida no relatério © Governador da Capitania Fernando de Castilho presta a metrépole a interessante narragio do estado em que se acha 4 mesma capitania, importante documento de valor hist6rico, De apenas nove paginas, trata-se de um dos mais importantes documentos da Historiografia paraibana. ‘Nele, o governador nada esquecen, desde a Geografia econémica da capitania e feigfio da capital, até os ancoradouros, riquezas potenciais e estrutura administrativa, No plano econémi- 0, insurgiu-se contra a subordinagao do comércio da Paraiba a Pernambuco, que convertera 08 negociantes daquela em meros feitores dos comerciantes dessa, Protestou contra a estagnagao da agricultura ereclamou da inexisténcia de mao de obra escrava para ‘8 engenhos de agticar e fazendas de algodio, ‘Atribuindoa origem desses males ao sistema de monopolio da Companhia de Comércio de Pernambuco e da Paraiba, Castilho sugerin providéneias como intervengio no monopolistica do Esta~ 80. , moderagiio fiscal, restabelecimento do trifico de mereadorias propria colénia e nfo apenas com Portugal, valorizagao do nto local no provimento dos quadros administrativos e reten- 0, na propria capitania, dos capitais ai gerados. Com olhos, igualmente, para a deplorivel situagio dos 0s pilblicos da cidade da Paraiba, Fernando Delgado Freire de tho reclamou de distorgao comum & administragao publica ibana ¢ brasileira, Trata-se da desnecesséria multiplicagao de ,oficios e empregos, repartidos por afilhados e protegidos ‘qualquer qualificagao. es 3.7. Inquisigao, Hexpulsdo dos Jesultas e Crise( Geral — fator_de atraso para a Paraiba, no século XVIII, foi a do que, jexistente, intensificou-se no periodo. Por volta de ela assum maior viruléncia no Brasil onde passou atambém it cripto-jucdeus, descendentes dos primitivos cristios-no- ndas, 9 391 fogos, e populagdo de 52,000 habitantes em toda a Paraiba tomou-se tentadora presa para o Tribunal do i Oficio. Especialistas sustentam haver sido ela a capitania, Conquanto constitusse, o I religio- Ao estendeu seus efeitos ao terreno eeondmicg e social. com nobreza e alto clero, significou a marginalizagaio dos jndustriosos componentes da burguesia isto ¢, judeus, protes- € mogarabes. Estes grupos, emigrando com seus capitais Holanda, Inglaterra, parte da Franca ¢, norte da Europa, anvolveram esses paises, esvaziando Portugal ¢ Espanha, No Brasil, a Inquisi ficou mecanismo do pa ial, ou seja, de transferéncia de riqueza da coldnia para a 81 So Ue metrépole. Isto porque os por ela atingidos tinhlam os bens confis- ceados ¢ incorporados ao patriménio da Corea, Alem domais, como (0s processos inquisitoriais eram secretos, o que propiciava delagdes de todo tipo, gerava-se clima de inseguranga, pouco propicio aos fo prosperava porque a Inquisigdio jham fortunas e emiprestavam dinheiro a desconfiava dos juros. ‘Na Paraiba, o Tribunal do Santo Oficio enquadrou lavra- dores dé cana, negociantes, plantadores de tabaco, mestres de agiicar, médios proprietarios, mercadores, latoviros, calderciros e fazendeiros, todos acusados do praticas judaizantes. A regidio onde mais_atuou 7i_0_val araiba, a mals tica_da_capitani. Expressiio, ademais, de religiosidade supersticiosa e clericalista, a Inquisioetimulavaauffiaglagbese dougie para consructo de Igrojas, trés das quais - So Bento, Slo Francisco ¢ Carmo - Toraiiiconcluidas erestauradas entre 1761 € 1779, Sobapresstio do Santo Oficio, a Paraiba também contribuiu para o dotedo casamen- to dos filhos de Dom Joti V com a familia real da Espanha. Tudo isso acarretava o desvio de recursos das ativic proditivas, “Mais de quarenta pessoas residentes na capitania da Paraiba foram condenadas a carcere perpétuo. Destas, “duas infelizes criaturas” foram queiniadas vivas, fios Autos de Fé de Lisboa. O caso de uma bela judi chamada Branca Dias, senhora deengenho no vale do Gramame, ¢ também eremada na capital portuguesa, ndo passa de lenda, inventada por eseritores anti-clericais alimentada pela Magonaria, Esta batizou com seu nome a principal Joja magénica da capital. Em verdade, Branca Dias nunca existiu ina Paraiba. A verdadeira residiw no engenho Camaragibe, em ‘Pemambuco, onde, falecida em 1591. fol objeto de varias deniincias 20 tribunal do Santo Oficio, Algumas delas post-mortem. ‘A principal vitima da Inguisi¢@o na Paraiba foi o padre ibriel Malagrida, garroteado c queimado vivo em Lisboa, Sacerdote dedicadoa obras de caridade e assisténcia social, ‘0 que o levou a edificar escolas, asilos, orfanaios, igrejas Casas 82. de Recolhimentoe Caridade, no Maranhao, Bahia, Sergipe, Alagoas @ Pernambuco, associou seu nome ao antigo conjunto jesuitico da atual Praga Jo&o Pessoa, na capital do Estado. Ai, Malagrida a a construgao de Seminario anexo 4 Jreja de N.S. da Conceigao ¢ Convento dos Jesuitas, No prédio, que serviu de sede ao Liceu Paraibano, nos séculos XIX ¢ XX,_hoje funciona (novanent a Faculdade de > Direito da Universidade Federal da nagdo de Centro de Ciéneias Juridicas. O sacrificio de Malagrida situou-se dentro de campanha nreendida pelo Marqués de Pombal, contra a Ordem dos Inacianos, m Portugal, Partidario do chamado despotism esclarecido, Pom- fazia-se ilustrado autocrata que pretextou: consowaeio uli a jontra a Casa Real para banir a cor io rcligiosa do Reino, Ja rida, socialmente consequente| era intelectualmente atrasa- ), dado a visdes misticas. Sesuins, Esses acontecimentos repercutiram na Paraiba, sob a ia da expulsio dos ; om TTS. Seus bens, constantes de ida de gado com escra varia hos termos de Mamanguape, , Cariric Iabaiana, sobrados, casas c varios fogos aforados capital, onde s6 0 conyento viu-se avaliado em 12.0008000, am _confiscados. Como resultado ficaram_imediatamente ssistidas as missSes religiosas mantidas pela Companhia de em Alhandra, Jacoca, Taquara, S40 Miguel da Baia da iga0, Mamanguape e Pilar ce ainda, © débil sistema educacional mantido pelos tas, juntamente com beneditinos, franciscanos e carmelitas, desarticulado, Talse verificava porque, embora recolhesse da opiilago recursos derivados da cobranga de subsidio literario instrugdo e bibliotecas, ortugal nunca se preocupoll com lalquer dessas manifestagdes na colénia, Si colonialismo, los mais obtusos de todos os tempos, temia que os brasi jrendendo a ler ¢ pensar, se emancipassem, Livros aqui e: confiscados, Os de fora, principalmente da Franga, retidos na findega, no podiam entrar. Sé rarissimos habitantes da terra 83 wage se ol Durante todo Brasil col jiram entéo estudar, em Coimbra. 42 Coldnia, a Paraiba ai formou dois médicos, sendo o primeira © Feliciano Dourado, em 1639, .dro, apenas.as ordens religiosas, voltadas 3 iequese, io de rudimen- & para. caiequese, preooupavam-se com a tran > de rudir «toe de letra edleulo cesta, jogdes de Teologia eLatim. : Seguidores da chamada ratio studiorum, os padres da Companhia *S de Jesus Fundaram, soba lideranga de Gabriel Malagrida em 1745, © Seminario que, dotado de aulas deLatime Hi es, funcioiiou “como primeiro estabelecimento de ensino geral avee "A exclusdo dos jesuitas desmantelou esse arremedo de educagao, ate} nteer 5 Dentro des: ique somenteem 1783 funcionoua primeirae Aprinieaseals 5 Carta Régia de 1766, A reforma educacion ae ene cr cr funcionou, timidamente, a partir de 1784, Com isso, ‘apenas ein 1822 foram criadas escolas piblicas, em cidades.cvilas daParaiba, Exploradocmantidona obscuridade, o povoparaibano, ‘como o brasileiro, aprendeu a ler sem escolas. A Paraiba experimenaria outros desivores, no sy XVIII, Seeas impiedosas assolaram sen territrio, al712, S ainda em 1724, 1777, 1791, 1792 ¢ 1793, gerando epidemias de fome. Numa dessas, os beneditinos nada puderam fazer por seus i ibiram foram fsoravos, carentes de comida, Os que nfo sucum Tibertados para se alimentarem de “hervas agrestes”. Novas inun ages do Rio Paraiba, como em 1729, devastaram os canaviais ¢ engonhos do vale, émbaragando a produgiio aguearcira. ‘Em consequencia de tudo isso, a capitania prineipiow a contar com produgaoalh ranas tillimasdécadasdosetecentismo Jas as finangas nao melhioraram. Apesar da expansdo territorial, © ‘século XVIII resultou negativo para a Paraiba. Em vordade, ele inicia descesso econdmico-social quese estendeatéhoje, comouma das caracteristicas de nossa Historia. 84 BIBLIOGRAEIA BASICA. 1 - SILVA, Francisco Pontes da e ARAUJO, Fatima , (orgs) = Parahyba, 400 Anos. Joo Pessoa: Comissio do IV Centenario da Paraiba/GrafSet, 1985 Especialmente preparado, como constante do titulo, para ‘05 quatrocentos anos da Paraiba, trata-se de coletnea em que estudos de José Hondrio Rodrigues, Janete Lins Rodrigues, José Octivio de A, Meloe Alex Santos se ocupam, amplamente, dofator espacial. O de Lins Rodrigues, acompanhado de mapas e graficos, corresponde a autora versada em Geografia, a os de Hondrio, ___Ostivio e Santos a Historiografia Géo-Historia. 2- TAVARES, Joo de Lira- Apontamentos para a Historia Territorial da Paraiba, 2° ed, (2 vols.), Mossoré: Fun- dao Guimaraes Duque, 1982 ¢ 1989 = Asemethanga de Irendo Joffily com Sinopse das Sesmarias (1894), Joo de Lyra Tavares compreendeu a importincia das Sesmarias na ocupagao da terra e expanso da capitania, Data dai ‘se levantamento, acompanhado de importante documentagio ‘complementar—a Lei de Terras de 1850, por exemplo,~cestudos José Rodrigues de Carvalho e José Pedro Nicodemos, A reedigdo similada dos dois tomos, origindriamente datados de 1910, pela #20 Mossoroense, ressalta os servigos do publicista norte- randense Vingt-Un Rosado Maia As culturas brasileira ¢ lestina 3= JOFFILY, Irenéo- Notas sobre a Paraiba 2" ed. lia: Thesaurus Editora, 1977 Um dos mais sélidos estudos de toda Historiografia ibana, mereceu reedi¢a0, amplificada por selegdo de crdnicas ilor em jomais da Paraiba ¢ Pernambuco, emagistrais aprescn- € notas do neto Geraldo Irenéo Joffily, constituindo aquela jente um novo livro. Comessamonografia, datada de 1892, Joffily langou-se a reorientagsio da Historiografia paraibana, dbase nos conceitos de espago.esintese temitica. Seu modelo era 85, Capistrano de Abreu, responsivel pelo preficio da primeira ediga0, ‘conservado na segunda. O sertanismo do primeiro Joffily levou-o a colocagdes antolégicas sobre secas, agricultura, ¢cidades evilas da Paraiba, '4- SEIXAS, Wilson ~ Pesquisas paraa Historia do Sertio daParatba, Revista do Instituto Hist6rico e Geografico Paraibano ‘nimero 21. Jodo Pessoa: Imprensa Universitaria da Paraiba, 1975 ‘Unanimemente considerado 0 Capistrano de Abreu das novas geragdes da Historiografia paraibana, Wilson Seixas culmi- now, com esse estudo de trinta ¢ trés paginas, a trajetéria do historiador sertanista, Conjugando fontes primérias do cartério de Pombal com solida bibliografia, o autor de Os Pordeus no vale do Rio do Peixe (1972) estudou, com proficiéncia, a ocupagao do sertiodas Piranhas — cruenta, no seu entender ~a partir da primitiva agiio da Casa da Torre, penetragio dos entradistas ¢ bandeirantes, resisténcia dos indios da Confederagao dos Cariris, funglo ‘geopolitica do Arraial de Nossa Senhora do Bom Sucessodo Piancd {atual cidade de Pombal), ¢ colonos mamelucos que, com sua gadaria, povoaram a regido. Um estudo como poucos 5 - BORGES, José Elias ~ Indigenas da Paraiba (1) — Classificagao Preliminar, Educago ¢ Cultura. 1°12, Joao Pessoa: Sec. 1984. “Antes de incorporar esse mesmo texto 4 segunda edigao da coletinea Paraiba: Conquista, Patrimdnio ¢ Povo ~ Por uma sclegio de autores, (1993), organizada por José Octavio e Gonzaga Rodrigues, José Elias Borges inseriu-o, com mapas ¢ ilustragées, em revista trimestral da Secretaria de Educagéo ¢ Cultura da Paraiba, Trata-se de estudo antropolégice do mais alto nivel Revisionista, Borgesacrescenta aos rés tradicionais grupos indige~ nas paraibanos (Tabajaras, Potiguaras ¢ Cariris) um quarto grupo, ‘0s Tarairiis, Estes, e no os Cariris, € que teriam resistido aos ‘brancos, no sertdo, A Confederagto dos Cariris, desta forma, seria a Confederagdo dos Tarairitis 6~MOONEN, Franz~Os Indios Potiguara da Paraiba. _Jofio Pessoa: NUPPO/UFPB, 1982. pee Um dos mais com petentes antropdlogos da. cultur Paralans, Franz Moonen tem estado a questo indigena, re Mei de pesuisas de campo eateulagio com a questo da era, on oo . Data: dai contribuigdo presente aos Capitulos de. ria da Paraiba (1987) ¢ estudos de discussto da politica da FUNAL e situagai a € situagio da reserva indigena potiguara da Baia da Em Os Indios Potiguara da Par: T Go cis dedeo szulo XV até omen an rsd no pppias sus cartes, comoa violencia aicwebee seit ee - pEaADG, Maximiano Lopes - Historia da a da Paraiba (2 vols.) 2* ed, Jodo Pessoa: Editor Universitiria/UPB, 1977. i 3 Primeira Historia da Paraiba ss chad Maxiniano Machao, data de 1912, mat oma de 1896 (?), foi reeditaa pela Universidade da. Paraiba, ccm ido introdutério de José Octavio. O (novo) prefaciador nela Fessaltou o que interessa aqui, isto 6, oryanizagao politico-adminis- iva do século XVIII e “o corte vertical na sociedade colonial araibana que ai se processa, aparecendo seus costumes, residén- ie hAbitos alimentares, vestuario, posigao da mulher em lade repassada de patriarcalismo, escravidio”. 8— OLIVEIRA, Elza Régis de—- A Paraiba na Crise do jeulo XVIII — Subordinagioe Autonomia (1755-1799), Fortaleza Originariamente dissertagio de mestrado plitude de pesquisa eobjetviade, esse estado de Hea Reis cia. a Paraiba no contexto intemacional onde, desde 0 século Il, verificaya-se 0 declinio de Portugal. Considerando as rela~ deste com o Brasil, Régis de Oliveira ressalta o quadro enrizo-eciale polieo-aministrativ dentro do qual de 1788 ’, a Paraiba perdeu sua autonomia, subordinando-se mambuco. Durante parte desse period, ocorreve fineionamene 87 fi to da Companhia do Comércio de Pernambuco e da Paraiba cuja agao A Paraiba na crise do século X VIII também analisa, tendo ‘como contraponto as marchas e contramarchas do colonialismo portugues. 9 PINTO, Irineu Ferreira ~~ Datas e Notas para a Historia da Paraiba, (2 vols.), 2* ed. Jodo Pessoa: Editora Universitaria/UFPB, 1977, Iudiciosa introdugao de José Pedro Nicodemos enriquece areedig&o desse livro datado de 1916 ¢ de extraordindria utilidade para os pesquisadores da Histéria da Paraiba. Com tenacidade ¢ competéncia, Ferreira Pinto converteu-se no “bebedouro coletivo dda Historia da Paraiba”, pela capacidade de enfeixar a documenta- ‘edo desta em fatos politicos, administrativos, eclesiaticos, econé- micos, sociais e culturais, com base em estatisticas, cartas-régias ¢ relatérios, Entre estes destacam-se os de Femando Delgado, de quem o relatério de 1799 merece referéncias de José Honério Rodrigues em Hist6ria da Historia do Brasil ~ 1° Parte, Historiografia Colonial (1979), 10 ~ COUTINHO, Marcus Odilon Ribeiro - O Livro Proibido do Padre Malagrida, Jodo Pessoa: Unigraf, 1986. Nem a eseassés de fontes impediu Marcus Odilon de prepararestudo referente a0 padre Gabriel Malagrida, fndador do colégio dos Jesuitas, © principal vitima da Inquisigo, na Paraiba. Hostil aomarqués de Pomibal, Odilon toma o partido do missionario italiano em suas andangas pelo Nordeste, Quando da publicagao, esse livro foi objeto de longa eritca pelo jomal A Unitio de 24 ©28 de setembro de 1986. O tema também motivou artigo de Frederick C,H. Garcia — “Gabriel Malagrida, personagem central de uma ‘ragédia francesa” para Correio das Artes, suplemento literdriode A Unifio, a 7 de agosto de 1977. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 1- NANTES, padre Martinho de— Relagao de uma miss&io no Rio Sao Francisco (com tradugiio ¢ comentarios de Barbosa Lima Sobrinho). Sao Paulo; Ed. Nacional; Brasilia: INL, 1979. 2—TAUNAY, Affonso de E. Historia das Bandeiras G vols.), 3* ed. Séo Paulo: Edigdes Melhoramentos/INL, 3.- PORDEUS, Terezinha de Jesus Ramalho - A Segunda Conquista da Paraiba Sertio. Jodo Pessoa: s.r, 1975 mimeo.) 4~ SOARES, Sidney e ANDRADE, Plauto Mesquita de {orgs.)—Enciclopédia dos Municipios Paraibanos. Joao Pessoa: _ Edigées Correio da Paraiba, 1976. 5 - SEIXAS, Wilson - O Velho Arraial de Piranhas (Pombal) Joao Pessoa: Grafica A Imprensa, 1962 } 6~BENJAMIM, Roberto. TRIGUEIRO, Oswaldo Meira = Festa do Rosirio de Pombal. Joo Pessoa: UFPB/Editora Universitaria, fd 1 7-LEAL, José~ Reencontro da Vila (Jodo Pessoa: Grafica A Imprensa, 1961), Assim Eram as Coisas (Jodo Pessoa: Editora A Unido, 1971) e Vale da Travessia (Joo Pessoa: API “Fuitora, 1972), com analise critica de José Octavio “Trés Monografias do historiador José Leal Ramos” no suplemento “especial de O Norte sobre José Leal, 14 de jutho de 1991,p.C-6. 8 ~ NEVES, Joana (org) at alii, Historia de Patos. " Campina Grande: Comiss4o do IV Centendio da Parafba/NDIHR/ Profeitura de Patos, 1985. 9- RIBEIRO JUNIOR, José~ Colonizagao e Monop: _ no Nordeste Brasileiro — A Companhia Geral de Pemambuco & "Paraiba (1759-1780). Sao Paulo: Huciteo, 1976. 10-MELLO, José Baptista de - Evolugao do Ens Paraiba, 2° ed. Jodo Pessoa: Imprensa Oficial, 1956, ona ) IV CAPITULO - UM TEMPO DE MUITAS LUTAS Sumario : 4.1. Ocupagao e integragao do espago paraibano — a fungao do brejo. 4.2. Questdes de classe ¢ ideologia liberal na Revolugao de 1817. 4.3. Gloria e desgraga de um ‘movimento. 4.4, Confederagio do Equador ou o sacrificio de Frei Caneca. 4.5. 1848/9 : O rugido democratico da Praia, 4.6. A Paraiba e a Independéncia do Brasil - Manool Cameiro da Cunha. 4,7. Das lutas da Regéncia & centraliza- | gaode 1850. 4.8. Economia c indicadores sociais na segunda metade do século XIX. 4.9. Movimentos populares = A tebeliodos de baixo. 4.10. A Paraibado lmpério’ Republica Elite Politica, Federago e Imprensa. 4.11. A Aboligilo pela, porta da crise ema PRLIOTROA CENTELD © us Ro io do século XIX, a Paraiba encontrava-sc com 0 11, Ocupacao e integragtio do espago paraibano ~ a fungdo do A zona da mata ou do litoral, assinalada por rios de tragdo para o interior, como o Paraiba e 0 Mamanguape, tucleava plantagdes ¢ engenhos de cana de agiicar. Outros cursos {agua como os afluentes do Paraiba e os de nome Camaratuba e € ane, também exerciam essa fungao, Aexpansioparaa area mais proxima do interior, motivada ela procura de animais de tiro ¢ lenha para os engenhos, implicou greste que, situado entre Pilar e contrafortes da borema, scrviria para economia de subsisténcia. A produgaio de lentos como feijao, milho, fava, batata e jerimum, com base em. 0 de obra livre, constituiu a esséncia da primitiva economia Atras da serra da Borborema, até a fronteira com o Ceard, ontra(va)-se amaior parte do territorio paraibano, localizada no Prr2Enpr OR 420 e119 conde 3 ligaria 0 algodio, empurrado para os mercados internacionais, desde a Segunda Guerra de Indepéndencia dos Estados Unidos (811/12) Nessa vasta regidio também se planta (va)m generos.de = subsisténcia nas vasantes, ocorréncia mais possivel nos vales dos rios do Peixe ¢ Piranhas que no Carri. Neste, 0 elima excessiva- mente séco © solo arido propiciaram 0 gado pé duro, pouco arroubado e de longos chiftes. Em contraposigo aos engenhos do litoral,a fazendatomou-seoeixo da vida social sertan picadas abertasno mato, eis que deestradas somente se poderé falar lo XIX o, um pouco mais tarde, com as obras contra i as s6cas, 6s gies encontravam-se pouco articuladas ¢ pratica: * ‘mente separadas unias das outras. Isso valia principalmente para 0 © fitoral, que compunha tipo de sociedade eseravista, ¢ o sertdo, de S. distincias sociais menos marcadas, Por outro lado, como somente em 1830 a ponte Sanhawd comegaria a funcionar, e ainda assim precariamente, a capital do Estado permanecia mais ligada a zona © Titordnea de Pemambuco ¢ Rio Grande do Norte que ao interior. ‘A tegido que, a partir de fins do século XVII até 0 XIX, exeroeria 0 papel de trago de unio entre as duas Paraibas, isto é, ‘as do agicar litorineo © boi sertangjo, sera o brejo onde essas sociedades se enncontraram, Localizadonas terrastimidas do planalto © da Borborema, entre Areia ¢ Alagoa Nova a sudeste, ¢ Bananeiras, anordeste, obrejo sediou, desde o inicio, a economia aguardenteiro-_ © rapadureira dos pequenos € numerosos engenhos, destinados & fabricagdo de aguardente ¢ rapadura. Com isso a zona também {-tomou-se canavieira, embora com feigio algo diversa a do litoral. Seus proprietarios, mesmo recorrendo ao trabalho escravo, no dispunham do prestigio dos da zona da mata, até porque, no brejo, ,ém vigorava a policultura dos géneros de subsisténcia ¢ produgiio de fumo em corda, ~ A lis da zona brejeita_com o serio da Paraiba processou-se através de Campina Grande, vocacionada, desde as 4 > Gextio) jo-caririzeira. © s do povoamento equivaliam a simples = gens, para a condiglo de empdrio, como animado centro de Proveniente do aldeiamiento arit: de 1697, freguesta Gi vila, coma denominagéo de Vila Nova da Rainha, em 1790, Campina também albergou o chamado ciclo da farina, Por via deste, a mandioca, plantada ¢ processada em suas imediagdes, Aestinou-se ao brejo, para trocas por aguardente ¢ rapadura, e a0 ‘abastecimento das populagdes sertanejas, Esses_produtos eram transportados por tangerinos ou ‘comboiviros eujastropas de Barro passaram a cortar 0 trttéio Paraibano, Como ao rao acampavam & sombra das arvores ‘varias dessas originaram arraiis, vilas e cidades, como Ingh, Chigarae Mlungu noagreste, Umbuzeio, Arociras, Massaranduba Juazeirinho, no cariri, Quixaba, Catingueira e Cajazeiras, no —__Localizada na intercessto dessas rotas, Campina Grande experimentaria rapide progresso, com instalag do Senado da CAmnaraem 18114, criag&o da primeira escolaem 1822, inauguragiio ‘do mercado em 1826 e construgio dos agudes Velho ¢ Novo, em 1830 1831. Em 1876, seu colégioeleitoral contava trnta e quatro Ainda assim pode-se dizer que, ao contrario dos séculos XVI e XVI, onde a supremacia pertenceu ao litoral, ¢ do século ML, hegemoneizado pelo sertio, 0 século XIX assinalou a jomindncia do brejo. Desgarradas de Mamanguape no litoral, idades, como Areia, Bananciras ¢ ainda Alagoa Grande, no da serra, se urbanizaram durante esse século de muitas lutas berais a principio, ¢ populares posteriormente, essas refregas istraram sempre a participagaio, se nao mesmo a li ociedade brejeira. a 4s 4.2. Questdes de classe e ideologia liberal na Revolugdo {1817 —~ As lutas politicas ¢ sociais que sacudiram a Paraiba ho século XIX cavam raizes no século XVIII, quando o agiear Perdew posigtio nos mereados internacionais. Tal se devera, em parte, &concorréncia do produto das Antilhas ai desenvolvido pelos holandeses, a custos mais baixos, e a0 agicar de beterraba que a Europa entdo comegava a produzir. Na Paraiba, a rotina das téenicas agricolas estreitava 0 mereado de trabalho, dai porque, no rastro de desemprego e vagabundagem, quadrilhas de salteadores infestaram a zona fronteiriga ao territério paraibano e, em particular, a regio do Apodi, entre 1721 e 22. Em outubro de 1802, intentou-se, na capital, o funcionamento de Sociedade Pia Agricola, com a finali- dade de levantar fundos para a renovago da agricultura, Seus resultados foram praticamente nulos, Data dai acaréncia de mantimentos de boca, como farinha, 1a zona litordnea do inicio do século XIX. Para os paraibanos isso. derivava nao apenas de sistema de monopélio comercial do século XVII mas da posigio secundaria da capitania, no conjunto da cconomia regional, Dentro desta, era indiscutivel a supremacia do porto do Recife, crescentemente dominado por comereiantes port > gueses ‘As variaveis desse quadro favoreceram movimentos em due, aliada aos liberais-radicais recifenses, a Paraiba levantou-se contra a dominag4o portuguesa, inicialmente, e, numa segunda ~ etapa, contra a hegemonia do porto do Recife, Tal o esquema =~ comum as insurreigdes de 1817, 24 ¢ 48/9 que, dotadas de inspira- © ges nativistas, surgiram no Recife para, penetrando por Itabaiana ~ 0 histérico porto por onde se derramou a influéncia permambu- cana sobre a Paraiba ~ aleangar a regio de Arcia, historicamente ligada a Goiana, ¢ a capital ‘deologicamente, esses movimentos impregnaram-se_do _liberalismo anglo-franco-americano que, a0 longo dos séculos XVII ¢ XVIIL, ofereceram nova conformagae politico-social Inglaterra, Estados Unidos ¢ Franga. Trataya-se da onda iluminista do liberalismo que, desfraldando bandeiras como as da liberdade ¢ igualdade entre os homens, galvanizava, desde a Inconfidéncia Mineira em 1789, as camadas superiores da sociedade brasileira pando 96, Entre estas, achavam-se proprictirios, altos funcionios e comer- tes brasileiros, bem como. Padres, militares ¢ intelectuais — a social de rebelies que nao tardariam. __ Importante diferenga assinalou, todavia, os liberalismos francés ¢ brasileiro. Enquanto aquele, direcionado pela burguesia urbana, experimentava_a pressio das massas_parsienses que Convertiam a Revolugdo Francesa em acontecimento a? slamente wurgues ¢ de sentido econdmico-social ¢ democratico, a variante o esposada por proprietérios rurais, reveleva caracteristi- £48 apenas politicas. No Brasil, no se imaginaya substitu a _ Brande propriedade tertoril eo esoravismo. A transformagio se limitaria ao plano institucional da separagaio de Pe * Senor eater Posigiio do padre ¢ naturalista Arruda Camara, tido como ‘idedlogo dos ‘ontecimentos de 1801 ¢ 1817, Paraibano de Pombal ¢ aluno dos carmelitas em Goiana e niversidade de Montepellier, na Franga, Manoel de Arruda Ca- no seria um liberal. Menos ainda um democratico ou iblicano, mas mero partidario de desporismo esclarecido a nna Europa, recorriam monarquias empenhadas em conciliar 0 velho absolutismo com nascente liberalismo. Os: ‘que assim racioci~ ‘Mam chamam ateneio para o fato de que onaturalista jamais resid m Itambé, 0 que invalida a tese do funcionamento, na fronteira ambucano-paraibana, do Aredpago, como sociedade magéni- eave pela difuséo das idéias liberais. , cia como for, é fora de diividas que essas, diss « partir das lojas ¢ academias existentes i cla Bs ¢broprerios ds duaseaptanas. Ente os primeirs, 0 Padre Jodo Ribeiro, ex-professor do Seminario de Olinda, foco das ‘déias renovacloras, nfo ocultava formagéo enciclopedista etendén- ias fepublicanas, Entre os iltimos,o itabaianense Jodo Luiz Freire Fesponsabilizou-se por colunas que, em 1817, marcharam sobre Pilar ¢ a capital sso acontecia porque, no inicio do séeulo XIX, a fronteira 7 on suid tummies da Paraiba com Pernambuco, ao longo da chamada mata seca, fervilhava de sentimentos libertarios, Em 1801, ai tivera lugar a Conspirago dos Suassunas de que resultou a prisdio dos irmdios Francisco de Paula Cavaleante e Luiz Francisco de Paula, além da fuga de outro para a Inglaterra, Vinculada a interesses franceses no Novo Mundo, essa articulago revelava, tendéncias republica- nas Dezesseis anos depois, em 1817, © movimento far-se-ia bem mais amplo. Conseguindo libertar Pemambuco, a que extio pertencia a futura provineia de Alagoas, e tambéma ParaibaeoRio _a chamada Revolucéo. Permambucana.tentou pagar-se pela Bahia e Cearé. Durante dois meses, os revoluci~ is, constituindo governo naquelas trés primeiras provincias, anteciparam a Independéncia do Brasil, somente concretizada coand a Revolugao deveil-se aprimeira Constitui- ‘40 brasilvira, elaborada por Antonio Carlos Ribeiro de Andrada, ‘que, embora nao tenha vindo a Paraiba, integrou, nominalmente, a Junta Governativa desta. Alguns historiadores taxaram esse movimento de Revolu- ‘slo dos Padres, devido ao grande mimero de religiosos que a integraram, Na Paraiba, as coisas tiveram essa mesma fei explicavel pelo preparo intelectual dos sacerdotes, aptos a assimi- lagdo das idéias liberais, Era esse 0 caso de José da Costa Cime, ‘Antonio Pereira de Albuquerque ¢ Indeio de Brito Baracho, na Capital, Luiz José Corréa de Sa, em Sousa, Virginio Rodrigues Campelo, José Gongalves Ouriques ¢ José Nunes em Campina Grande, José Ferreira Nobre em Pombal, Verissimo Machado Freire em Mamanguape, e Francisco Costa Medeiros no Pilar. Destes, uns poucos desertaram, aderindo & contra-revolugto, 43, Gloriae desgragade um movimento —Vitoriosaascis demargo de 1817, no Recife, a Revolugdo propagou-se & Paraiba. Na Capital, desde 0 inicio do século, Portugal multiplicara corpos detropa e instalagdes militares que foram os primeiros a aderir. No 98 ‘interior, 0 movimenty vitoriou em Santa Rita, Itabaiana, Pilar, Mamanguape, Bananciras, Serra da Raiz, Cabaceitas, Brejo de Ateia, Araruna, S20 Joio do Cariri, Alagoa Nova, Campina Grande, Pombal, Catolé do Rocha, Sousa, e nos aldeiamentos de Baia da Trai¢do, Conde ¢ Alhandra, Desde o inicio, a lider da ins ac 2 lideranga da insurreigao pertenceu Amaro Gomes Coutinho e Estevao José Cameiro da. Cunha, ‘Proprictarios emilitarcs, A ambos coube empossar Governo Provi. | S6tio, constituido por Anténio Carlos Ribeiro de Andrada, cuja Thdicagao era de natureza simbélica, © mais Francisco Xavier Monteiro da Franca, pocta e o primeiro escritor genuinamente Paraibano, Antonio Percira de Albuquerque, que era padre, Inicio Leopoldo de Albuquerque, e Francisco José da Silveira, minciro, de ilgum tempo radicado na Paraiba. = : Apesar do pouco tempo de duragéio, o Governo Revoluci- rio de 1817 adotou providéncias de al iguma consisténcia. Além de extinguir as ouvidorias, suprimir insignias reais ¢ recolher fetiormente concedidas, os revolucionaios boliram os impostos sobre carne frésca, ojas 6 tabernas, estabe- eeram redugdo © igualdade dos direitos de Alffindega com as agdes estrangeiras, perdoaram os criminosos, proibiram prises @ correspondente denuncia ¢ mobilizaram, militarmente, a opulasao livre. As providéncias fiscais, destinadas a reduzir a Bgemonia do Recife, ¢ a dissolugaio das Camaras, tendente a0 Habelecimento de ditadura revolucionéria que enfeixaria og Joderes Executivo, Legislative e Judicidrio, assustaram os revolux jonarios petnambucanos. Para alguns desses, a Revolugtio de 1817 estava avangando demasiado na Paraiba Niotardou, contudo, que omovimento desmoronasse, com bvitéria da contra-revolugao, Esta se impés, a partir do bloqueiodo Norio do Recife, pelos realistas, o que inmpediria a importaglo de mas e munigiio do exterior. Intemamente, a desergiio do senhor de 1 Jodo Alves Sanches Massa, no Espirito Santo, edo mulato stos, no Pilar, criou problemas no abastecimento, mediante a 99, re | interceptago dos comboios de gado ¢ farinha destinados & capital, | (A situagdo agravou-se quando 0 ajudante de ordem da milicia revolucionaria Peregrino de Carvalho ausentou-se com corpo de tropa para sustentar no Rio Grande do Norte o cambale- ‘ante governo revolucionario de André de Albuquerque Maranhio. ‘Ao regressar, j encontrou quadro to desesperador que, & entrada da capital, deparou-se com o pai, Augusto Xavier de Carvalho, | implorando-lhe rendigao. O episédio inspirou, em 1922, quadro do pintor Ant6nio Parreira existenteno Palacio da Redengo. Enquan- to isso, Amaro Coutinho nfo conseguia defender as posigdes do. Tibiri. Na fortaleza de Cabedélo, 0 comandante Mello Moniz vivava a patria e morria trespassado por golpe de espada. ‘No interior, quem nfo se passou para o outro lado sujeitou- se a perseguigdes, prisio ¢ humilhagdes. O caso mais curioso verificou-se no Rio do Peixe onde formagiio revolucionaria, prestes a invadir 0 Ceara, retrocedeu a base de Sousa, aclamando a legalidade ¢ o Rei de Portugal. Brejo de Areia foi uma das vilas a primeiro desertar. A represstio sobreveio sob o comandodo brigadeiro Tomas de Souza Mafia que instalou comissiio militar responsvel por ‘verdadeiro reinado de terror. Prisbes is dezenas, sequestros de bens ce torturas, sob a forma de garroteamento, assinalaram 0 desempe- nnho desse tribunal de excegaio. Num total de trezentos e setenta reus indiciados pelo “crime” de traigiio e lesa-majestade, no Ceara, Rio Grande do Norte, Pernambuco ¢ Paraiba, esta comparecen com conto e dezessete. Destes, cinco foram enforcados no Recife — José Peregrino A. de Carvalho, com apenas dezessete anos ¢ considerado grande martir da Revolugilo Pernambucana, na Paraiba, Amaro Gomes Coutinho, Francisco José da Silveira, Anténio Pereira de Albuquerque € | Inacio Leopoldo de Albuquerque Marankao, ‘Uma vezimais, a Paraibanio se recusara a pagaremsangue ‘0 prego dos ideais de resisténcia ao arbitrio © a espoliagao, 4.4, Confederagao do Equador ou o sacrificio de Fret 100 Caneea ~ A reptessio nfo logrou suprimir os ideais da Revolugio de 1817, Tanto assim que, mesmo concretizados no Grito do Ypiranga, em 1822, reapareceriam, sob novas formas, em 1824 ¢ 1849. Esses movimentos intitularam-se Confederagao do Equador € Revolugao Praicira Em 1824, 0 prestigio do Imperador Pedro Primeiro encon- trava-se abalado, Arbitrério e comprometido com os absolutistas Portugueses, Dom Pedro ndo apenas se afastou dos verdadeiros __esponsiveis pela Independéncia —entre os quais osirméos Andradas, ‘chefiados por José Bonifficio — como os prendera, deportando-os Alm do mais, dissolvendo a Assembléia Constituinte de 1823, promulgou Constituigo outorgada ~ a Carta Magna de 1824 _ Nesta, a sobcrania era considerada como atributo do Principe e nfo do povo, da nagao. s liberais-radicais prontamente reagiram. O foco dessa resisténcia foi mais uma vez Pemambuco com o qual a Paraiba se _encontrava historicamente consorciada. Lé, além dos ideais mago- “nicos e republicanos de 1817, vigorava a pregagao do frei Joaquim ‘do Amor Divino Cancca. Suas ideias inspiravam-se no abade igés Sieyés para o qual era o Terceiro Estado, o povo, a fonte da soberania ¢ do poder. A Paraiba cra entio governada por Felipe Nery, tido como jem intencionado mas suspeito de absolutismo, Seu secretario al, Augusto Xavier de Carvalho, que, independentemente do ificio do filho, Peregrino, (re)encetava vitoriosa carreira poli= era objeto de idénticas acusagdes. Quando Nery pleiteou que Camaras aprovassem a Carta Magna de 1824, cinco das nove ilas em que se dividia a provincia — Vila Nova da Rainha (Campina Grande), Pilar,Brejo de Areia, Monte-Mér (futura Mamanguape) Sao Jodo do Cariri ~ recusaram-se a fazé-lo. Apenas Conde ¢ Alhandra formaram com 0 governo. Em Areia, a oposigdo ganhou feieao insurrecional quando, f cinco de maio povo ¢ tropa aclamaram governo presidido pelo Sargento mor Félix Ant6nio Ferreira de Albuquerque, Do Conselho 101 Provincial faziam parte dois ex-deputados constituintes, um dos quais Joaquim Manoel Cameiro da Cunha, sobre 0 qual a seguir se falara. A partir do Recife, Pernambuco ja se encontrava confla- sarado. O movimento que buscava enraizar-se no Rio Grande do Norte, Ceara e Bahia, possuia essas provincias localizadas a altura da linha do Equador, derivando dai a respectiva denominagao. Sua bandeira, a do atual Estado de Pernambuco, era ada Confederagao do Equador. O Governo Imperial acusou-o de separatista 0 que jamais se tornou claro. Na verdade, a orientago era liberal, federalista e nacionalista, mas nao popular, Mesmo em Frei Cane- a, a questo dos escravos quase nao aparece. Muito menos na Areia de Félix Ant6nio, Este, revelando qualidades de estrategista, buscou fazer jungio com os pemambucanos na regio de Itabaiana, As margens de cujo Riacho das Pedras se travou indecisa batalha, envolvendo trés mil ¢ quinhentos combatentes, As colunas legalistas, ao mando do coro- nel Estevaio Cameito da Cunha, ex-revolucionario de 1817, agora emmudanga de lado, retrairam-se para Pilar eos confederados para Serrinha (atual Juripiranga). ‘Uma vez mais a revolugaio foi decidida em Recife por cujo porto desembarcaram os lepalistas do brigadeiro Lima e Silva, pai dosfuturo Duquede Caxias, Fugindo da capital pernambucana, Frei Caneca transportou-se para a Paraiba onde acompanhou Félix ‘Ant6nio em peripécias pelo interior. Tendo se tecusado a invadir a capital, o caudilho areiense rumou, através de Pemambuco e Rio Grande do Norte, para o sertio do Rio Peixe, sempre combatendo. Seus seguidores se foram dispersando, ‘Ao ingressarem em Missiio Velha, no Cearé, onde foram presos, os revoltosos revelavam-se exaustos e pouco numerosos. Fizeram a cavalo e a pé, o longo eaminho de volta até o Recife. Ao passar pela Vila Nova da Rainha (Campina Grande) pernoitaram no prédio do Senado da CAmara onde se localizava a cadeia 102 Estdico, Frei Caneca alimentou-se de algumas bolachas eum pouco de vinho. Em Goiana, Félix Ant6nio conseguiu fugir, refugiando-se fem fazenda de Mogeiro onde, anos apés, foi assassinado, O Governo Imperial ja havia dectetado a anistia e 0 matador nao Fecebeu a recompensa, Dez anos depois, sua mulher vingou 0 ‘marido, Quanto a frei Caneca foi arcabuzado a 13 de janeiro de 1825, no Recife. Nessa cidade a repressio fez-se particularmente severa. Pemambuco, com que a Paraiba novamente se aliara, pagou caro aos ideais de rebeldia, Irritada com o sentimento revolucionirio da provincia, a Casa de Braganca amputou-Ihe quase dois tergos do territério, Parte dele apartado em seguida & Revolugdo de 1817 constituiria a (nova) provincia de Alagoas. Outro segmento, a comarca de So Francisco, & margem esquerda do rio, seria incorporada a provincia de Minas Gerais e posterior- mente & Bahia onde até hoje permanece, apesar dos (tardios) protestos do escritor Barbosa Lima Sobrinho. 4.3. 1848/9: 0 rugido democrético da Praia ~ Ainda assim, o chamado Leo do Norte niio sossegaria, Voltaria a rugir, pola liberdade, a Federacdo ¢ a Repiiblica, em 1848/9, periodo de importantes acontecimentos na Franga e Europa. Como nesses lugares despontava a democracia social, pleiteando o dircito a0 ‘trabalho, pretendeu-se enxergar na Revolugao Praicira o primeiro ‘movimento socialista da Historia do Brasil. Tala tese do historiador pemambucano Amaro Quintas para quem essa rebelidio foi impule sionada pelo grupo dos cinco mil que possuiamno Didrio Novo seu porta-voz, Comoesse jomnal era editado na rua da Praia, no Recife, seus partidérios ganharam a denominacao de praiciros, estendida 40s liberais pernambucano-paraibanos. Se feigdo social caberia em relagdo Praia recifense, rocoptiva a idéias de socialismo utépico © nacionalizagiio do ‘comércioa retalho, omesmo nao se verificaria na Paraiba ondeclite 103 agriria de proprietarios rurais dela se apropriou, Entre os princi- pais chefes contavam-se Joaquim dos Santos Leal, em Areia, ¢ 0 corone! Jodo Leite, na ribeira do Piancé. DemonstragSes praieiras também sobrevieram em Itabaiana e Bananeiras, 0 filleto do movimemto foi novamente o Recife onde, sob © comando de Pedro Ivo e Nunes Machado, a esquerda dos liberais levantou-se, em face da queda do gabinete de 29 de setembro. A mudanga significava, a nivel de Pemambuco, a substituigo do ‘enérgico presidente liberal Chichorro da Gama por representantes da oligarquia Régo Barros-Cavalcanti, cognominada guabiru. ‘Combates de rua rebentaram em fevercirode 1849, no Recife, tendo neles perecido, de armas na mio, o deputado Nunes Machado, espécie de “Frei Caneca” da Praia. Momentaneamente desorganizados, os praiciros dividi- ram-seem duas colunas. Enquanto uma comandada por Pedro Ivo, seguiu para o sul, a fim de organizar guerrlha, 0 grosso das tropas dirigiu-se para o norte ingressando na Paraiba & altura de Itambé. Dali rumou a Alagoa Grande onde sepultou um dos chefes e, subindoa serra, alcangou Areia cuja localizagiio geografica parecia favorecer a resisténcia, © atemorizado presidente da Paraiba, Jofio Ant6nio de ‘Vasconcelos, havia recomendadio ao Juiz Municipal e Delegado de Policia Maxitiano Lopes Machado que protegesse.a cidade contra s praiciros. Intrépido e rebelde, além de ultraliberal, o doutor Machado fez 0 contririo ~ abriu as portas a0s revolucionérios que se fortificaram sob o comando de chefes do Partido Liberal de Aria. iquetes foram distribuidos pela subida da serra e entrada da cidade, 0 que de pouco adiantou. Melhor organizados, os legalistas do coronel Feliciano Paleo entraram em Areia a 21 de fevereiro de 1849, enquanto os revolucionarios debandavam pela estrada de Pocinhos. Se, militarmente, a Revolugao Praieira, iniciada em 1848, no Recife ¢ encerrada no ano seguinte, em Areia, resultou em 104 fracasso, o mesmo nao se pode dizer de ideario que sobreviveu ¢ frutificou, Na Paraiba, duas figuras muito contribuiram para tanto = Maximiano Machado e Borges da Fonseca. Foragido até a anistia de 1851, 0 doutor Machado entio Iniciar festejada carreira de historiador como preparodo Quadro da Revolta Praieira na Provincia da Parahyba (2° ed.,1983), ‘Trata-se de contundente libelo contra o centralismo imperial ¢ a ‘eombinagao luso-saquarema que, em seu modo de ver, herdara 0 absolutismo de Pedro I. J4 Borges da Fonseca, um dos chefes da Praia, culminava, como guerrilheiro do povo, trajetéria de jomalis- tapanfletirio e agitador de massas em que o amor liberdade se fez constante 4.6. A Paraiba e a Independencia do Brasil — Mare! Carmeiro da Cunha — Os acontecimentos nordestinos de 1801, 17, 24 €48/9 também interessam pelo que significaram no conjunto da evolugao do Brasil ‘No findo, tratava-sede verificara férmula mediante a qual as provincias, e consequentemente a Paraiba, se incorporariam a0 Brasil independeente, isto ¢, se rigidamente subordinadas ao centro, em formagio no Rio de Janeiro, ou se conservando maior autono= mia, Tala fonte, entre 181740, de trés correntes que eram, ao lado dos absolutistas, figis ao trono portugues, 08 constitucionalistas ‘moderados, partidaios da formula de Independéacia com Monar= Quia, e0s liberais exaliados ou radicats, defensores da Federagio eda Repiiblica. Enquanto os primeiros foram cognominados cor ‘cundas ou caramurus, os segundos tomaram-se conhiecidos como chimangos ¢ os iltimos jurujubas ow farroupithas 0 contexto sob o qual o Brasil alcangou a Independéneia em 1822, dai transitando para a Maioridade ¢ o Segundo Reinado, em1840, mediante estagdes que passaram pelo Primeiro Reinado, de 1822 a 1831, ¢ Regéncia, de 1831 a 1840, torou-se ainda mais complicado porque, em dectinio econdmico, o Nordeste, perdendo espago politico, fazia-se sensivel a tenses soviais Mobilizando as 105 camadas mais humildes da populagao, essas também logo chegari- am a Paraiba. No plano social, as classes dominantes, constituidas de grandes proprictrios © representantes do comércio exportador, com seus aliados (altos funcionétios, chefs militares, profissionais liberais, principalmente bacharéis, padres, ete.) ndo desejavam perder o controle da situagao. Sua ideologia sera 0 centralismo, por intermédio do qual a Monarquia unitéria, capaz de agrogar as provincias, legitimaria economicamente a grande propriedade lati- fundiaria, voltada para o comércio de exportagio. Com isso, 0 Trono também sc encarregaria de, pela manutengao da ordem escravista, reprimir, interna e socialmente, as camadas mais humil- des Os stores paraibanos herdeiros da Revolugao de 1817 se inclinavam claramente por essa orientag&o que, 4s vésperas da Independéncia, em 1821, os levava a lutar contra os chamados carambolas, realistas empenhados em embaragar © processo de Independéncia. Seus representantes apoiavam a formula “Indepen- déncia com Monarquia”, de José Bonificio. Este, que chegara a representar os “povos da Parahyba do Norte” junto ao Paco Imperial, louvou publicamente, a2 de julho de 1822, “o bome leal povo da Parahyba”. A alocugio do Patriarca tinha em vista a fidelidade da provincia 20 novo centro de poder nacional, em formagio . A posigdo paraibana afastava-se, nese ponto, de Pemambuco, que, com a Convengaio de Beberibe, inclinava-se por autonomia e separagiio, Numa época de dificeis eomunicagdes, a noticia do Grito do Ipiranga s6 chegou a Paraiba trés semanas depois, 0 que nio impediu o governo deste de, no ano seguinte, enviar tropas contra 6s portugueses que resistiam na Bahia e Piaul, Em1823, as autori- dades paraibanas sufocaram motim recolonizador intentado pelo tenente José de Fonseca Galvlo, 0 Pastorinha. Anistiado, este eapareceu. no ano seguinte, integrando a escolla que conduzia preso Frei Caneca, 106 ‘Ainda em 1823, a Paraiba enviou a Cérte cinco represen antes & Assembléia Constituinte, reunida no Rio de Janeiro. Entre (88es, destacou-se Joaguim Manuel Cameiro da Cunha que, senhor ide engenho no Abiai, integrou, desde o inicio, a corrente radical, de ‘oposigio a Dom Pedro, Considerado um dos mais bravos ¢ exaltados constituintes, ‘Cameiro da Cunha fez causa comum com os Andradas, quando {stes, nacionalistas, se passaram para a oposigao, Por isso, também foi detido quando da dissolugio da Constituinte, no Rio de Janeiro, Antes, Ihe coubera encarnar a resisténcia, ao bater-se pela anistia, a federagio interprovincial ea liberdade religiosa. Atacou projeto queconcedia plenos poderes aos Comandantesde Armas edefendeu a independéncia da Constituinte, na elaboragtio de suas préprias leis, Fez-se favoravel 4 expulsdo dos portugueses que nao haviam aderido a Independéncia e pleiteou para a Paraiba sede de Univer- Sidacle que entio se discutia. Essa Universidade funcionaria no Convento de S40 Bento, na capital. 4.7, Das tutas da Regencia a centralizagao de 1850— A ‘yeeméncia dos discursos de Cameiro da Cunha fez-se propria dos ‘confrontos entre absolutistas,liberais moderados e radicais repu- blicanos. Quando esses conflitos se aprofundaram, os corcundas organizaram-se na ColunadoTrono edo Altar, eos federalistas em sociedades como a Federal da Parahyba do Norte ¢ a Jardineira Carpinteiros de Sao José. Apareceram, por essa época, os primeiros jornais. da Paraiba. A série foi iniciada, em 1826, pela Gazeta do Governo da - Parahybado Norte, Editado cm tipografia anteriormenteadquirida 4208 absolutistas recifenses do jomal O Cruzeiro, destinava-se a publicar atos do governo e defender a Monarquia Constitueional, De linguagem exaltada,os jomiais da época possuiam fel ‘g2o artesanal, circulagdo incerta, existéncia transitéria e nfl dispu= nham de vinculagécs mercantis. Passaram a ser conhecidos como: ‘pasquins. Aténo nome, revelavam os principios por quese batiam, 107 Geen minLTOTROA CENTRA caso de O Repiiblico (1832), O Constitucional Parahybano (1838) ¢ O Verdadeiro Monarchista (1840), ‘A eles ligou-se um dos maiores jomalistas paraibanos de todos os tempos, que foi Borges da Fonseca. Nascido na cidade da Parahyba em 1808, fez.0 curso sccundationo Seminario de Olinda, tendo, em 1823, retornado a Paraiba para estudar Filosofia, Prin- cipion carreira de jomalista aos vinte anos, com a fundagao, em 1828, de seu primeiro jornal, A Gazeta Parahybana, destinado a combater os absolutistas portugueses, ‘Consicerando a liberdade de Imprensa como mae da liber- dade social da qual dependeria a liberdade individual, Ant6nio Borges da Fonseca pertencia esquerda dos liberais, como partidirio de autonomia provincial que significava a Federagao Repiblica. Decidido adversario do Império, drigiu ¢ redigiu vinte ‘ecinco jornais, na Paraiba, Recife e Rio de Janeiro, Destes, osmais Famosos intitularam-se O Repiblico, Publicador Paraibano, Abe- Jha Pernambucana ¢ O Nazareno, alguns dos quais dotados de varias fases, de acordo com o local de circulagao. ‘Também orador e politico, Borges da Fonseca registrou saliente participagaionos eventos ligados & abdicagfode Pedro, em 1831. Nessa ocasiaio, envolveu-se em tumultos de rua, no Rio de Janeiro, ¢ esteve a pique de ser acometido pelos caramurus contra ‘0s quais agulava o populacho. Os movimentos populares da regéneia encontraram-no sempre a postos, o que culminou com lideranga exercida durante a Reyolugdo Praicira, Presoe condenado por varias vezes, bem como dosterrado ¢ anistiado outras tantas, constituiu-se em verdadeiro tribuno do povo pela insisténcia em abragar as causas populares. Seu pensamento incluia desenvolvimento da democracia, defesa dosbrasilciros, nacionalizag3o do comércio a retalho emanumisstio dos eseravos. Anos antes de falecer, em 1872, aproximou-se do Imperador Pedro Ul por consider-lo capaz de concretizar essas reformas panfletarismo de Borges da Fonseca sintonizou coma 108, fermentagao do periodo 1828/42, assinalada pela transigao I Rei- rnado-Regéncia-Maioridade. Nesse intersticio, os anos de 1831.¢32 fizeram-se agitados, principalmente no Recife onde estalaram _movimentos populares conhecidos como setembrizada, novembrada eabrilada. 0 reflexo desses acontecimentos sobre a Paraiba, bem como provincias vizinhas, fez-se imediato, Isso também se verifi- cava em face de motivagdes comuns a essas unidades do Império, como escravidio, precérias condigdes sanitarias, contrabando de pélvora e cobre, circulago de moeda falsificada, desemprego, vagabundagem © formago de quadrilhas pelos arrabaldes das cidades e zonas de fronteira. A pardisso, as prises e aquartelamen- tosda tropa, minada pelo recrutamento compulsério, encontravam- se em deploraveis condigées, o que explica os amotinamentos da soldadesca, comuns setembrizada, novembrada e abrilada. A Provincia da Paraiba encontrava-se tio empobrecida que, em 1831, sua presidéncia conseguiu do colega pernambueano ‘© pagamento do soldo da tropa. Quilombos voitavam a preocupar, sendo que o do Catued, & altura da fronteira permambucana de Goiana, impedia a circulagdo do servigo de correios entre Pernambuco e Paraiba. ‘A24 de maio de 1831, povo ¢ tropa reunidos na capital depuseram 0 Comandante das Armas, varios chefes de corpos ¢ oficiais militares, todos suspeitos de infidelidade @ monarquia constitucional. A 11 de agosto, levante de destacamento da capital obrigou o Governo a intervir, armando a Guarda Municipal e 08 cidadios que dispersaram corpos amotinados pelas vilas do interior € povoados do litoral A.21 de novembro, o Juiz de Paz de Habaiana, sob a alegagdo de que os colunas se haviam insurgido, no Recife, prendew a todos os portugueses da vila. Ato continuo, a Sociedade Federal da Parahyba do Norte enviou emissarios ao interior, pleiteando demissio do presidente da Provincia, Galdino Costa Vilar, © set secretirio, suspeitos de absolutismo, Tratava-se de resposta 40s 109 acontecimentos de outubro, quando, em plena capital, fragio da guamigiio de segunda linha rebelou-se, somente sendo contida por forca publica dos guardas municipais, milicianos e paisanos © alto sertio da Paraiba conflagrou-se om 1832 quando circularamnoticias de que ocorone! Pinto Madeira, chefe de revolta tradicionalista e reacionaria, no Ceara, preparava-se para invadir Sousa. Prontamente, as milicias de Pombal foram postas em pé de guerra. A proclamagio langada pelo Governo paraibano recomen- dava “guerra etema ao hediondo despotismo, a sanguinolenta anarquia e a todos os perturbadores do sosségo publico.” Como, pela dtica dos novos donos do poder, esses perturbadores no se encontravam entre o§ portugueses, mas principalmente entre o chamado povo mito, operiodo compreen- didoentre 1832 ¢ 1850 registrou esforgos no sentido de se completar a centralizagiio da Monarquia. A servigodesta, iniimeros absolutis- tas e liberais bandearam-se para 0 campo conservador. Do ponto de vista institucional, iso explica montagem nas provincias, entreas quais a Paraiba, de Presidéncias indicadas pelo Imperador, Assembléias Legislativas Provinciais,e voto censitario, por meio do qual para se tomar cidadiio com direito a voto, © individuo teria de dispor de renda mensal minima. No plano da ordem pablica, as Policias Militares, tal como na Pataiba, em 1832, substituiram as Guardas Municipais, secundando a criagao, em 1831, pelo Ministro da Justiga Diogo Ant6nio Feijé, da Guarda ‘Nacional. Os comandantes desta, dotados de patentes honorificas de capitdo, major e coronel, sero os proprietarios de terra, implacaveis na preservagao da ordem estabelecida ‘Nasequéncia do processo, o centralismo acentuouese com a Lei de Interpretagdodo Ato Adicional de 1841 que revogou muitas das concessdes & autonomia provincial de sete anos antes. Por meio dela, a policia passava a dispor de atribuigées judiciérias, Os protestos da “era da fumaga” e movimentos como a Praieira resultariam indcuos, de modo que, em 1850, a centraliza- 0 politica do Império encontrava-se concluida. No plano finan- 110 eiro, provincias de renda irrisoria como a Paraiba dependeriam inteiramtente da Corte, Na area social, os custos da nova ordem seriam atirados sobre as costas dos hnumildes, Estes nao tardariam fa reagir, como se vera, 4.8, Economia e indicadores sociais na segunda metade do séeulo XLX — Quando do inicio da segunda metade do século XIX, a Paraiba parecia oferecer sinais de vitalidade. Para uma populagdo de 208.952 habitantes, dos quais 180.479 livres ¢ 28.473 escravos, distribuidos por vinte e cinco freguesias c trés comarcas, arrecadagiio ¢ despesa elevavam-se a 347.109$600 © 280.429$680, em 1856, contra 208.3548731 ¢ 173,077$700, cm 1848, Entre os produtos de exportagio, o agiicar contribuia com 369.087 arrobas, 0 algodio com 187.941 e couros com 4.862. Com fazendas bolandeiras multiplicando-se pelo sertio eo mimero de engenhos de agiicar saltando de com, nas tiltimas décadas do século XVI, para duzentos e trinta, em 1860, o setor econémico acusava, aparentemente, indicios de prosperida~ de. Dizemos aparentemente porque essa prosperidade era ilu- Séria, visto tratar-se de mero crescimento vegetative, Tal se yerificava porque enquanto na Area agucarcira as téenicas de producio, iste é, 0 modo de fabricar o agucar niio se renovava, a cultura do algodaio experimentava crescimento extensivo, ocupan- do mais terras, 0 que geraria problemas sociais no agreste A cana-de-agiicar que, conforme relatério da época, “retrogradava em péssimos tipos”, foi analisada pelo presidente da Provincia Ant6nio Coelho Sa e Albuquerque, em1852. Dirigindo~ sea Assembléia Provincial, essa autoridade salientou que “ela jazia maltratada pelo descuido dos Governos e pelas rotineiras ¢ vieiosas tradigdes herdadas de vossos antepassados”” Esse pensamento coincidia com o de Femando Delgado que, em 1798, lamentara terras ainda preparadas a foice ¢queima= das, moendas movidas por cavalose bois, ainda demadeira eapenas at revestidas de ferro, e bagago de cana nao utilizado nas fornalhas ‘A produtividade dos engenhos fazia-se muito baixa o que Albuquerque tentou enfrentar através de arado de ferro somente enti introduzido na Paraiba, Dez anos depois, em 1862, o presi- dente da Provincia Araijo Lima queixava-se da ma qualifieagio do agiicar e, em 1886, 0 engenheiro Retumba denunciava que “o fabrico de agiicar de cana é uma indhistria que quase esté desapa~ recendo entre nés.” Gragas 4 Revolugio Industrial que sacudia o mundo e investimentos ingleses no Brasil, o século XIX distinguiu-se por transformagdes baseadas na enetgia a vapor, a que se seguiria & cletricidade. Essas transformagées, todavia, quase nao chegavam & Paraiba, onde a utilizagodo vapor somiente dataria de 1882. Como resultado, a Paraiba apenas contaria com um engenho central, ‘como embrido da futura Usina Sto Jofio, em 1888, As usinas também se retardariam, com a primeira delas somente aparecendo em 1927, no vale do Paraiba. Nessa regio, a Usina Cumbe, de 1910, fracassou. Nesse contexto, a economia agucareira s6 permanecen em funcionamento gragas a exploragiio do trabalho escravo, ento acrescida. O fendmeno, presente aos romances do ciclo da cana-de- agiicar do escritor José Lins do Régo ¢ a um caso famoso — 0 do escravo Serafim, condenado a trezentas chicotadas — ocasionou 0 surgimento de novos quilombos, como 0 do Engenho Espirito Santo, em 1852. O suicidio de negros também aumentou e varios escravos viram-se executados na forca, O acontecimento mais importante da economia paraibana do século XIX ficou por conta da progressio do algodo.a por volta de 1830, os viajamtes estrangeiros que visitaram a Paraiba, ‘como o inglés Henry Koster, percebiam a “onda verde dos algodo- ais” descendo do sertio, em busca das terras acatingadas do agreste e vales iimidos da zona da mata, Em consequéncia, 0 vale do Paraiba j era invadido pelo algodio, em Pilar ¢ So Miguel do Taipu. A Paraiba convertia-se em unidade de economia algodoeira, 112 dai porque, em 1922, relatério revelaré que somente a capital ¢ Cabedelo no produziam a malvéicea. Tratava-se, porém, de atividade comprometida pela falta de transporte e dependéncia dos mercados internacionais. Quando ‘da Guerra de Secessio dos Estados Unidos, de 18602 1865, 0 Brasil tomou-se principal fornecedor de algodao 4 Inglaterra ea produgo paraibana cresceu vertiginosamente, O mesmo verificar-se-ia com 4 Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918. Como, porém, logo depois, os preyos dessa matéria prima caiam, temos ai atividade de produgio ciclica, isto é, de beneficios periédieos, incapaz de ‘modificar 0 conjunto da sociedade. Esta evidenciaria, na segunda metade do século XIX, pobreza comprovada por vairios indicadores sociais, Diversos govemnos, por exemplo, nao hesitaram em fechar a poucas escolas existentes, quando das quedas de arrecadagao. Até na capital, unidades de cnsino cerraram as portas, como “ aconteceu com o Colégio das Neves, para mulheres, fundado por Henrique de Beaurepaire Rohan em 1858, edeatividades suspensas por Luiz Antdnio da Silva Nunes, dois anos depois. ‘A segunda metade do século XIX também assinalou-se por _ raves epidemias de febre amarela, desinteria, sarampo ¢ célera- bus, Reduzida a “Agua das chuvas e & diligéncia dos urubus,” a higiene da Provincia era precatia, o que favorecia a penetragio ddas endemias. Dessas, a febre amarela dizimou populagdes do brejo, em 1856 ¢ 62, Com rios infestados de sistosoma, caatinga ¢ brejo faziam-se vitimas indefesas de epidemias que também alcan- ‘gayam a capital, Nesta, até os anos vinte do século seguinte, 08 ‘maceids das praias representavam fonte de propagagiio da malaria, A variola, entio conhecida como bexiga preta ¢ branea, também matava indiscriminadamente, depois de deformar 0 rosto “das vitimas, isoladas cm imundos ranchos nas cercanias das tidades, Nestas, as vacas estercavam nas muas, apos 0 qué 08 detritos cram queimados, como medida profilatica, Esse panorama 86 principiou a alterar-se nos anos vintedo século atual, A Paraiba 113 havia sido atingida por novos males como peste bubénica em 1912 gripe espanhola em 1919 ¢ 20, de modo que as coisas principia- jam a mudar, com os trabalhos de engenharia sanitaria da Comis- sio de Profilaxia Rural, instalada em 1921. Trés anos depois, a Sociedade de Medicina ¢ Cirurgia da Paraiba era fundada, com 0 ‘compromiisso de contribuir para a methoria das condigies sanitari- as da populacdo. ‘Como isso ainda nao existia no século anterior. as epidemi- as da segunda metade do século XIX foram enfrentadas por sacerdotes como José Antonio Pereira Ibiapina que espalhou, pelo interior, capelas, templos maiores, hospitais, casas de caridade, agudes ¢ cemitérios. Dessas iniciativas resultaram hospitais em Areiae Alagoa Nova c também cidades, como Arara, onde se acha sepultado, ¢ Soledade, que chegou a denominar-se Ibiapindpolis Ordenado com quase quarenta e sete anos em 1853, apés sehaver bacharelado pela Faculdade de Ciéncias Juridicase Sociais de Olinda, em 1832, o padre-mestre Ibiapina pode ser considerado precursor da Igreja da Teologia da Libertagiio. Sempre pr6ximo a0 ovo, mobilizava-o para realizagoes de caréter comunitario pelos sertbes do Piatt, Ceard, Rio GrandedoNorte, Paraibae Pemambuco, Nisso antecedeu a outro peregrino, Frei Martinho, que se encontra sepultado na Igreja do Rosério, no bairro pessoense de nome Jaguaribe, ¢ empresta nome a municipio do Curimataii Numa época de romanizagdo da igrefa, isto €, rigida disciplina da Santa Sé, entio ligada ao Estado, as atividades de sacerdotes como Ibiapina ¢ 0 vigario Calixto da Nobrega, de ‘Campina Grande, inguietaramas autoridades, Estas consideraram- nos comprometidos com movimentos populares como o Quebra- Quilos, No se tratava, porém, de subversdo da ordem, mas absoluta caréncia das grandes massas. Tanto é assim que, quando esteve ma Paraiba, em 1859, onde também visitou Pilar © Mamanguape, o Imperador Pedro Il passou a maior parte do tempo distribuindo donativos para as instalagées piblicas da capital, 114 ‘todas em deploriveis condigdes. Entre essas encontravam-se quar Wis, cadeias, escolas, igrejas, pontes ¢ cemitérios, Anteriormente, ¢m1851, faltara verba para custeio dos lampides de azeite destina- dos a iluminagaio da cidade da Parahyba. ‘Os recursds do tesouro faziam-se to escassos que, quando Wa Guerra do Paraguai (1865/70), para a qual a Paraiba contribuiu com contingente de rés mil homens, bandos preeatérios pereorriam ‘capital, em busca de donativos, O mesmo aconteceria durante a ‘Guerra Civil de Canudos, em 1897. Em realidade desse tipo o /Patriotismo também fraquejava — os Voluntérios da Patria que Seguiam para combater os paraguaios nao eram to voluntavios assitn, ja que vigjavam amarrados de corda e até com gargalheiras io pescogo, 4.9, Movimentos populares — a rebeliao dos de baixo ~ Por volta de 1850, as zonas de cultura algodoeira, no brejo @ agreste, experimentaram importantes transformages. Em primeiro lugar, inserido no mercado internacional ‘capitalista, 0 algodo passou a ser cultivado através da grande ropricdade que, no sertio, admitia escravos. Isso significava ‘prejuizos para parceiros, meeiros, moradores, pequenos sitiantes, ‘arrendatarios ¢ foreiros que comegaram a perder acesso a terra, monopolizada pelos latifundiios. Tudo indica que estes, privados de obtengao de novos “contingentes de escravos, em raziio da proibigao do trafico negreiro, sobrevinda com a Lei Busébio de Queiroz, aumentaram a presstio bre aquelas categorias. Onde o algodio outrora repartia a terra ‘com as culturas de subsisténcia de milho, feijao, fava, inhame, boatata, ete, tal jé nao se verificava, O capitalismo nao chegou sozinho a essas regides. Acom- panhou-o o.centralisio pormeio do qual o Império baixou decretos, arrolando a populagdo num censo geral ¢ estabelecendo registro civil, Para as massas intetioranas tudo isso convergia para a escravidéo, dai porque a resisténcia — desta feita popular e mobili us zando as camadas mais marginalizadas — fez~se imediata. Na Paraiba, essa resistencia assumiu a forma de tumultos ‘em que roceiros, armados de pedras, bacamartes e clavinotes, invadiram vilas ¢ cidades como Ing, Campiria Grande, Alagoa Nova, Guarabira, Arciae Fagundes, dirigindo-se, preferencialien- te, aos cart6rios, Estes, de acordo coma nova legislagao, responsa- bilizavam-se por registros ¢ ébitos, a cargo, anteriormente, da Igreja. Os sacerdotes comegaram a pregar contra 0 registro civil, alcunhado “papel de satanas, 0 que aumentou a tensi0. O movi mento que sobreveio, partindo de Pernambuco, espraiou-se pela regio agrestina e ganhou a denominagdo de Ronco da Abelha. Inga fez-se, na Paraiba, o centro de gravidade. Nessa vila, mais de duzentos homens invadiram a casa do escrivao onde se apoderaram de papéis e livros, imediatamente destruidos. Delega- dos ¢ Juizes de Paz tiveram mobilias danificadas. © presidente $4 ¢ Albuquerque despachou unidades de primeira linha para Inga, Areia, Alagoa Grande e Alagoa Nova. A forga que invadiu Inga, apreendendo armas ¢ cavalos, constava de cinquenta pragas, O agteste fez-se palco de intenso alvorogo. Os “revoltosos,"agrupados em bandos que equivaliam a enxames, {ntentavam agdes ripidas, como se estivessem picando, e corriam. A denominagio de Ronco da Abelha para 0 movimento parece originar-se dai Embora aparentemente irrelevante, 0 Ronco denunciava, ‘temperatura social emebuliggo, Em seu rastro,a 5 demaio de 1865, sobreveio conflitoem distritoda serra de Bananeiras. Inquietos com sistemade recrutamento, acentwadoem razdo da Guerra do Paraguai, dezenas de camponescs amotinaram-se, enfrentando destacamento que conduzia voluntdrios para a Guarda Nacional. Trés desses foram arrebatados, enquanto a Forga Policial apressadamente buscava reforgos. O acontecimento ficou conheciddo como Moti da Serra de Lagoma. ‘Tanto este como o Ronco da Abelha dispuseram de pecu- liaridade — nao possuiam chefes e ideologia pré-estabelecida, & 116 “maneirade 1817, 24.¢ 49, Isso nao significa carecessem de sentido, Polo contririo, intuindo 0 aleance de providéncias que, no fundo {as prejudicavam, as massas reagiam instinvamente contra a nova tealidade. Ao assim fazé-lo assumiam postura tradicionalista, a maneira das contra-utopias. Esses movimentos passaram a ser conhecidos como prindrios ou pré-politicos No Nordeste, o mais importante deles veio a ser 0 Quebra- Quilos que, partindo dos brejose chapadas da Borborema, alastrou- se do Rio Grande do Norte até Alagoas, no periodo compreendido fentre outubro ¢ dezembro de 1874, Tendo como foco a Serra de Bodopita, nas vizinhangas de Campina Grande, ¢ como eixo as vilas de Fagundes e Pocinhos, também na Paraiba, 0s Quebra-Quilos pretextaram a recente _instituigo, na época, do sistema métrico decimal, contra © qual “eagiram, Deu-se que, pela nova sistemética, medidas lineares “eomo vara, cévado ¢ jarda, de volume, tais ongas, libra earretel, de Tiquidos, como canadas e quartithos, ¢ de gris, tais salamins, ‘quartas e alqueires, foram substituidas pelas unidades do sistema ‘étrico decimal francés ~metros, quilos, litros e seus consectatios. Agrupados em bandos, homens rusticos invadiram as feiras para "-destruir os instrumentos de aferigiio dessas novas medidas, como [pesos ¢ balangas, derivando dai a denominagao do movimento. Paralclamente, esses grupos penetravam nos cartérios, varios dos uais incendiados, para climinagao dos “papéis da escravidio,” A circunstincia de haverem surgido nessas feiras, como polos de aglutinagdo politica, social e cultural da sociedade da Gpoca, evidencia que os revoltosos reagiam contra dois dos mais odiosos instrumentos da ordem estabelecida: 0 impostode chiio, que _incidia sobre os matutos que compareciam as feiras para vender seus produitos, co de sangue, representado pelo recrutamento, Este “também fazia-se sentir nas feiras frequentemente ocupadas pelos ‘agentes da ordem que, & forga, recrutavam os matutos para servir “na Guarda Nacional, Policia e Exército, ‘Outrossim, como por tras desses impostos estivessem 0 17 Estado Imperial eseus agentes —Delegados, Juizesde Paz, Escrivaes, Chefes Politicos e Fiscais - os matutos, insurgindo-se contra esses, vyisavam 0s simbolos do poder que os oprimia, isto é pesos, balangas, cartérios ¢ Camaras Municipais. Sob esse aspecto, os Quebra-Quilos representaram A Revolia dos Matutos contra os Douiores, tal como conceituado por Geraldo Irenéo Joffily. Carga de rapadura atirada por feirante contra cobrador de impostos, na feira de Fagundes, foi a centelha a partir da qual a rebelido espalhou-se por varias localidades como Pocinhos, Ini, Cabaceiras, Campina Grande, Areia, Arara, Alagoa Nova, Alagoa Grande, Bananciras, Araruna, Guarabira, Pilar, Salgado ¢ ‘Mamanguape. Cabacciras forneceu o modelo do movimento, quan- doa Cimara foi saqueada, 0 cartério incendiado e pesos e medidas quebrados, registrando-se ainda recusa violenta a0 pagamento dos impostos. Em Alagoa Grande,os pesos foram atirados numa lagoa € 0s arquivos da Camara ¢ papéis dos cartérios, incendiados. Em Campina Grande, registrou-se dif usa ligagalo do movimento com escravos da Fazenda Timbatiba: 0 padre Calixto da Nobrega entrou ‘em cena o que lhe valeu posterior indiciamento pelos encarregados da apuragao dos fatos ‘Os Quebra-Quilos infiltraram-se em outras vilas ¢ cidades. Em Areia, apés depredagSes na feira e cartério, estiveram a pique de incendiar o Teatro Minerva, algo assemelhado a templo magé- nico, Em Mamanguape foram contidos por estratagema, O pequeno destacamento tocou comnetas.etambores, simulandomovimentagao de tropa em maior quantidade, 0 que fez recuar os sublevados. Posto diante desses fatos, o Governo reagiu com brutalida~ de, Até canhdes foram deslocados para oteatro dos acontecimentos. ‘Tropa de linha chefiada pelo capitio Longuinho, saqueando enge- nnhos ¢ fazendas, prendeu © espancou vontade, Esse oficial caracterizou-se pela utilizagio, contra os suspeitos, de colete de couro, instrumento de tortura que, molhado ¢ costurado no torax da vitima, comprimia-o, matando por asfixia e hemoptises, quando secava, Dirigentes liberais como o historiador Irenéo Joffily foram us lados no inquérito. 0 Governo também voltou-se contra o padre ina cujas pregagdes predispunham as massas rurais a desobe- igncia, Dai proveio o entendimento de que 0s Quebra-Quilos tiveram origem em questéo religiosa que culminara com a prisiio dios bispos dom Vital c dom Macedo da Costa, nesse mesmo ano, ‘A questi faz-se um pouco mais ampla, pois os Quebra~ ‘Quilos surgiram na parte mais sacrificada de regio que constituia _tiperiferia econémica e social do Império. Nessa os pobres eram os ‘mais penalizados, o que explica a reagao desses, por intermédio do que Armando Souto Maior considerou como Lutas Sociais no Outono do Império. Contra o que se voltavam os Quebra-Quilos? Instintivamente, contrac avango do capitalismo, a servigo do qual se estruturava o Sistema Métrieo Decimal, Centralizagdo ‘do Império ¢ incapacidade de promover reformas, Carga fiscal que “Sobrevinha no rastro da exaustio das finangas piblicas. “Vampi- “fos” ou atravessadores que extraiam lucros do trabalho dos arren- atarios da terra, E, enfim, contra a magonaria que, através de Babinetes como o do Visconde do Rio Branco, no poder de 1871 a 1875, simbolizava estrutura politico-social responsavel por tudo {que inquietava os humildes — escravidao, recenseamento, impostos fecrutamento. 4.10. A Paraiba do Império 4 Reptiblica— Elite Politica, Federagdio.e Imprensa— A maneira como presidente da Provincia ‘da Paraiba, Silvino Elvidio Cameiro da Cunha, enfrentou os Muebra-Quilos, na base de relatorios alarmistas ¢ repressio poli |, fez-setipicada mediocridade da representagao politica paraibana lurante o Império. Em verdade, unidade secundaria ¢ de reduzida expresstio ‘econémica como a Paraiba sé pode destacar-se através do prestigio de suas liderancas, A Repiblica, como se vera, configurou isso, através de personalidades como Epitacio Pessoa, Joao Pesson.e José Américo de Almeida, todos de dimenso nacional, e geragbes como 19 [Nao foi esse 0 caso do Império. Tolhido por economia em, declinio ¢ escassa articulagao social, a elite politica paraibana do intersticio 1831/89 deixou muito a desejar. Sua compreensiio dos problemas era limitada e, além disso, visivel a falta de identificagio ‘com a realidade. ara isso contribuia centralismo que nao s6 enviava para, governar a provincia figuras alheias aos quadros desta, como, por ‘yezes, impunha personalidades de fora para a condig&o de represen- tantes. Tal aconteceu nfo apenas com dois dos cinco deputados gerais & quinta legislatura, como no préprio Senado. De 1831 a 33, ‘a Paraiba contou com o minciro Maciel da Costa (Marqués de Queluz) e 0 permambucano Paes dle Andrade, como senadores: ‘A rigida subordinagao das liderangas paraibanas aos inte- esses do centro, sob controle de gabinetes conservadores ou liberais, estimulava o aulicismo, uma das caracteristicas dos periodos de organizacao politica centripeta: da Histéria do Brasil Deumpadre, senadorde 1833.58, conta-se quedormitava durante as sessdes ¢ acordava apenas para repetir: “Voto com Itaborai! Voto com Itaborai!” Estrutura econdmico-social baseada na grande proprieda- de ¢ inviabilizando a urbanizagio, distancias agravadas pela inexisténcia de meios de transporte e enfeuctamento dos distritos eleitorais, onde os potentados exerciam poderes ilimitados, acirra- ‘vam formas de competigdo no apenas politicas ¢ eleitorais, mas armadas, a base da violéncia, Caso tipico foi o de Arcia envolvendo partidirios liberais dos Santos Leal e conservadores da familia Holanda Chacon. Em iniimeras circunserigdes eleitorais, as diver- ‘géncias politicas apenas camuflavam 0 choque dos interesses familiares, tradi¢ao que, na Paraiba, como no Brasil, o Império comunicou a Repitblica, Tal se encontra na raizdo predominio de grupos familiares como Cameiro da Cunha no vale do Paraiba, Freire ¢ Toscano de Brito em Mamanguape, Leite na ribeira do Piancé, Ferrcira Maia em Catolédo Rocha, Costa Machado em Areia, Marinho Fale’o no 120 Pilar, Gomes de SA em Sousa, Correia de Gées em Teixeira, ‘Trindade Meira em Campina Grande, Costa Ramos no Cariti. Em ‘sua maioria padres e bacharéis, o siafus e nivel cultural de seus epresentantes no era baixo. A honorabilidade, maior ainda. A questo residia em visio muito acanhada dos problemas, o que se Compreende, porque a educagao da época, baseada em latim ¢ Fetorica, nio induzia a outra coisa. A mesquinhez dos interesses localistas, evidenciada por José Lins do Régo, em relago aos chefetes politicos do Pilar, completava o quadro. A Paraiba dispunha, desde 1835, de Assembléia Provinci- al, equivalente a atual Assembléia Legislativa, com vinte ¢ oito deputados, posteriormente elevados a trinta, e de representagaie de cinco deputados a Assembléia Geral da Corte, semelhante aos faluais deputados federais, © mimero de senadores, vitalicios ¢ escolhidos pelo Imperador, mediante lista triplice dos mais votados, era de dois. Pelo sistema de dois circulos, os votantes qualificados, eunidos nas paroquias, onde se processavam as eleigdes, escolhi- ‘amos cleitores que entio clegiam os deputados ecompunhama lista | de senadores. 0 voto era disirital, existindo inicialmente dois Aistritos, niimero que a reforma eleitoral Saraiva de 1880 elevou para cinco. Comoo votondo era universal mas censitério, osistema ra bastante resirito com os votantes qualificados variando de 14,718 em 1857 para 27.274 em 1860, ¢ os eleitores de 355 para 474, nesse mesmo periodo, Como os pleitos eram discutiveis, existindo nao apenas 08, _fisforos, eleitores fantasmas, como eleigées a cacete, manchadas ‘Pela intimidacao policial, a representagao politica carecia de legi= timidade. Isso, de certa forma, ajuda a explicar seu baixo nivel, Efetivamente, contam-se nos dedos os bons parlamentares na Paraiba do Império, 0 Partido Liberal concedeu o maior niimero, a comegar ppelo deputado Joao Florentino Meira de Vasconcelos que alguns hiistoriadores consideram “o mais notavel politico paraibano do I 121 Reinado”. O mais festejado dos liberais paraibanos foi, porém, © ‘mamanguapense Felizardo Toscano de Brito, a quem coube liderar Partido, entre 184 € 1876, quando faleceu, Professor concursado do Liceu, jomalista ¢ orador de recursos, foi Conselheiro Munici- pal, Deputado Provincial e Geral, bem como presidente da Provir cia. Admirado por expoentes da politica nacional, como Francisco Octaviano de Almeida Rosa, coordenouna Paraibaa chamada Liga Progressista que congregou liberais moderados © conservadores esclarecidos. Com base nela, governou a Provincia, criticando duramente a Guarda Nacional, empreendendo servigos piiblicos e, co que eta raro, transferindo dinheiro em coffe para o sucessor ‘Também liberal, Benedito Marques Acaud tornou-se De- putado Provincial, de 1833 a 1841, e, a seguir, Deputado Geral, integrante do Instituto Hist6rico e Geogratico Brasileiro e autor de monografia sobre o Sertdo dos Inhamuns, no Ceara. Como parla- mentar, todavia, poucos se nivelaram a Manoel Pedro Cardoso Vieira cujos discursosno Parlamentto Nacional encararam de frente © problema da escravidio, Vinculado a0 grupo abolicionista de Nabuco, Saldanha Marinho ¢ José Mariano, assim como ao Clube da Reforma, Cardoso Vieira sustentou que “a agriculture nao precisa de bragos e sim de cabegas", Ao mesmo tempo, chamou tengo para a pior heranga da escravidilo - “essa repugndncia invencivel pela liberdade” que, em nosso modo de ver, tem assina- Jado o comportamento da elite brasileira Entre os conservadores a figura de proa foi Diogo Velho Cavalcante de Albuquerque que se tomnatia, como Visconde de Cavalcante, amigo pessoal do Imperador Pedro I, a quem acompa- nharia no exilio, eum dos mais prestigiados politicos de seu tempo. Deputado por cinco legislaturas, Senador em outra e ainda presi- dente das provincias do Piaui, Cear e Pernambuco, além de Ministro da Agricultura, Justiga ¢ Assuntos Estrangeiros, pertei- ‘cou. ao chamado grupo modernizador do Império, Nesse particular, acusou participago nas primeiras comunicagdes teleprafieas ferrovidrias da Paraiba. Como presidente de Pernambuco, 0 Vis- 122 ‘eonde de Cavalcante firmou relatorio sobre os males do latfiindio © situapo do trabalhador nordestino, ainda hoje atual. Quando Diogo Velho mudou-se para a Corte, a chefia ‘conservadora da Paraiba transferiu-se para 0 deputado Anisio Salatiel. De sobrenome Cameiro da Cunha, o que 0 convertia em {mao de Silvino Elvidio, estava muito acima deste. No Parlamento, discorreu com propriedade sobre estradas de ferro, colonizagao, lengenhos centrais, lavoura e erédito, A proverbial obtusidade de Silvino Elvidio Cameito da ‘Cunha, o Bardo de Abiai, a quem coube chefiar os conservadores, ide 1870 a 1889, quando por quatro vezes governou a provincia, & indicativa da baixa qualificagao dos presidentes da Paraiba, no _Império. A questdo agravou-se porque, embargando a autonomia das provincias, o Império nelas interveio demasiado. De 1824 a 1889, Paraibatevecentoe quinze presidentes Juntas Governativas, © que significa pouco mais de seis meses para cada um. Desses, rarissimos passaram 4 Historia, Entre 1851 ¢ 53, Sie Albuquerque fez-se incansivel em prol da renovagao agricola, _ da Paraiba, omesmo acontecendo com o futuro Marechal Henrique _ de Beaurepaire Rohan que introduziu a cultura do caféna Provincia €tentou fazer o mesmo com o trigo na serra de Teixcira, Autor de ‘modelar estudo sobre o problema agrario brasileiro — O Futuro da Grande Lavoura ¢ da Grande Propriedade no Brasit (1878) — além de classica Corografla sobrea Paraiba, Rohan preocupou-se ‘0m iniciativas de base, tais como biblioteca, Jardim Botinico, olégio para mulheres, urbanizagdo ¢ levantamento topogrifico na ‘capital, ¢ estradas no interior. Os primeitos levantamentos sistem ticos sobre a Paraiba datam de sua administrago, analisada por Raul de Gois em biografia do ex-presidente da provincia, Entre os que 0 sucederam, Luiz Ant6nio da Silva Nunes ‘conscguiu a procza de pervorrer toda a Paraiba a cavalo, tendo sido seu relat6rio transformado em livro para o1V Centenario do Estado, ‘pelo historiador Wilson Seixas - Viagem Através da Provineia da Paraiba (1985). A listagem encerra-se com o enérgico liberal 123 Francisco Luiz da Gama Roza que, em apenas quatro meses, rescindiu contratos para construgdio de ferrovias, eivados de vicios, presidiu a discutidas eleigdes gerais e inaugurou o Teatro Santa Roza, na capital paraibana, ‘A palidez de atividade politico-administrativa da Paraiba ‘em Império vitimado pelo centralismo explica como, nela, a propaganda republicana assumisse conotagio federalista. Noutras, palavras, na Paraiba, como no Brasil, ido foi a Repiblica que trouxe a Federagio mas a Federagio que propiciou a Republica ‘Comprovagiio dessa realidade reside no jomal Gazeta do ‘Sertdo que circulou a partir de 1888, em Campina Grande, como “érgio democratico”, comprometido com reformas ¢ problematica social paraibana, Circulando em conexo com 0 progresso da cidade, que jé contava quatro mil habitantes, animada feira de gado ¢ intensa comercializago do algodio, esse semanirio expressou o pensamento do deputado, advogado e jomalista Irenéo Ceciliano Pereira Joffily que, artifice do progresso campinense, se converteu em um dos maiores paraibanos de todos os tempos. Como histori= ador deixou obras definitivas como Notas sobre a Parahyba (1892,1977)¢ Sinopses das Sesmartas da Capitania da Parahyba (1894), Em Gazeta do Sertao, Joffily niio trabalhou sozinho. ‘Acompanhavam-no o engenheiro Francisco Retumba.¢o professor da Faculdade de Direito do Recife Albino Meira, os quais, juntos, ofereceram contetido programético ao jornal. Neste, enquanto 0 primeiro Irenéo Joffly discutia os principais problemas da Paraiba estrada de ferro de penetrago, subordinagéo a Pernambuco, acudagem, rendimento da agricultura ¢ dissipago das rendas piiblicas - Retumba retomava o espitito de relatérios voltados para ‘9 recursos ccondmicos da Provincia e, em particular, suas possi- bilidades em minérios. J4 Albino Meira publicou artigos em que, demnciando o centralismo imperial, sebateu pela Federago, como instituigao basica da Repiiblica. Eleitoem 1889 paraa Assembléia Geral, no Rio de Janeiro, 124 ‘onde néio chegou a tomar posse, Irenéo Joffily revelava aguda eompreenstio da problematica brasileira. Suas erénicas, com o pseudénimo de Indio Carity, focalizavam escravismo e aboligo, ‘lo de forma sentimental, mas social, Partidario dos pecuaristas, Rontra ‘0s nascentes potentados do algodao, e do povo mitido de Campina Grande, que o venerava, também evidenciava compreen- slo do momento histdrico, Em excursao pelas cercanias, revelou a Sitiante que morava num penhasco: “tudo indica que grandes ‘Movimentos sociais vao aparecer”. Referia-se ao advento da Abo- lig, Federasao e Repiblica que se processava sob seus olhos de _Fepublicano, nacionalista ¢ homem de esquerda. ? Nao poucas vezes Gazeta do Serto publicou noticias "Sobre reunides republicanas em Ing, Alagoa Grande, Pocinhos, Sfio Joo do Cariri e Itabaiana, Na capital, 0 republicanismo Gontava com o suporte do Clube Astréa, onde se reuniria a junta Governativa do novo regime, eda Guamigao do Exéreito, Esta, sob _9¢omando do coronel Honorato Caldas, que procuron empolgar a Dresidéncia da Paraiba, barrou o adesismo do bardo de Abiahy. Este, mesmo como representante da Monarquia, nio hesitou em fazer parte da Junta Govemnativa Republicana, ; Na cidade da Parahyba, a grande voz que se bateu pola Repiiblica foi a do deputado liberal ejomalista Eugénio Toscano de Brito filho de Felizardo Toscano, Liderando ovens idealistas como i Achiles ¢ Geminiano da Franca, ofereceu aojomal A Gazeta Paraiba ‘orienta¢ao republicana. Integranteda primeira Junta da iiblica, na Paraiba, escreveu, sobre o advento do nove regime, igos ¢ depoimentos que se impuseram como fontes para compte. ddesses acontecimentos. __ Nocaso paraibano, a propaganda republicana ndo surgit icergada em movimentos mais amplos como os do Disttto federal, Rio de Janeiro, Para e Rio Grande do Sul, Isso ndo quer er, todavia, que a Repiiblica néo motivasse a Provincia € que aqui chegasseapenas portelegramia, Tantoassimque, desde inicio década de oitenta, jornais como O Liberal e¢ O Publicador iproximaram-se bastante, pela via do liberalismo radical, das teses uublicanas. 125

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