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São apenas 140 caracteres?

Pressões comunicativas e
transgressões dos limites do Twitter

Bruno Diego de Resende Castro1 (UFPI)


Leila Rachel Barbosa Alexandre2 (UFPI)

Resumo:
Analisamos as formas como a limitação dos 140 caracteres no Twitter está
sendo transposta por pressões situacionais advindas, principalmente, da
interação entre usuários e entre usuários e Twitter, observando quais
mecanismos são usados pelos usuários para “burlar” os 140 caracteres e
como o universo do Twitter acompanha e referenda esses mecanismos.
Para tal, analisamos os usos dados, pelos tuiteiros, a hashtags e hiperlinks,
mecanismos muito dependentes de seus usuários, e a resposta do Twitter a
eles.

Palavras-chave: Twitter, limitações, transgressões.

Abstract:
We analyzed the ways in which the limitation of 140 characters on Twitter
is being transposed by situational pressures arise mainly from the
interaction between users and between users and Twitter, observing what
mechanisms are used by users to "bypass" the 140 characters and how the
universe of Twitter monitors and referenda these mechanisms. We
analyzed the uses given, by Twitterers, the hashtags and hyperlinks,
mechanisms highly dependent on its users, and Twitter's response to them.

Keywords: Twitter, limitation, transgression.

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Introdução

O presente artigo tem como objetivo analisar como limites artificiais nos usos
da linguagem são ultrapassados, grosso modo, a fim de “facilitar” a comunicação.
As tantas possibilidades e ferramentas que o Twitter disponibiliza ou que estão
disponíveis na Internet acabam por incentivar os usuários a interagir de alguma
forma com esse mundo de limites mais fluidos existente na Internet.
O Twitter, como foi pensado para ser usado em aparelhos celulares, tem
limitações, porque o serviço de transmissão de mensagens entre celulares só
permite transmissão de mensagens com até 160 caracteres. No entanto, ficaria
faltando o espaço para a identificação da origem se o Twitter utilizasse os 160,
então, convencionou-se 140 para a mensagem e 20 caracteres para a identificação
do usuário.
Num mundo tão dinâmico e plástico como a Internet, nos deparamos com essa
tensão entre limite e dinamicidade que o Twitter evidencia com essa forma
“artificial“ de limitar o texto de seus usuários. Esse artigo, ao pensar nessa tensão,
nos permite verificar que, pelas necessidades comunicativas e, muitas vezes,
criativas,os usuários acabam transpondo os 140 caracteres.
Sendo assim, selecionamos dois aspectos principais em que é possível
identificar essa “transgressão”: o uso das hashtags e o uso dos hiperlinks. Além
disso, nosso estudo se pautará nos estudos de gêneros que tem como horizonte o
pensamento de que os textos acompanham a flexibilidade e a dinâmica contextual
em que estão inseridos (história, classe social, tecnologia, etc.) e que se adaptam
de acordo com o uso.
Assim, temos como suporte teórico Devitt (2004), Bakhtin (2003) e Miller
(2009), autores que trabalham com a noção de gêneros como flexível e dinâmico e
que se modifica através o uso que os indivíduos fazem dele.

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Caracterizando o Twitter e suas limitações

O Twitter surgiu como um sistema de comunicação dentro da empresa onde


se desenvolveu (Obvious Corp). A ideia era se comunicar através de mensagens de
texto, isto é, foi pensado inicialmente para uma comunicação pessoal entre colegas
de trabalho e para o aparelho celular que possui acesso à Internet. O sistema foi
criado a fim de manter os funcionários da empresa, no caso desenvolvedores de
sistemas para Internet, informados sobre as atividades uns dos outros. Assim,
surgiu inicialmente a pergunta que “guiou” as postagens no Twitter, “What are you
doing?”, para que, segundo o criador Jack Dorsey, naturalmente ao responder a
pergunta, o usuário falasse sobre o que está fazendo.
Dessa forma, temos uma importante relação que o Twitter cria, pois segundo
Miller (2009, p. 83),

O surgimento de um novo gênero é um evento de grande interesse


retórico, porque isso significa que o equilíbrio negociado e
“suficientemente estabilizado” entre inovação e decoro foi quebrado, e
um novo equilíbrio encontra-se em fase de desenvolvimento.

Essa nova forma de se comunicar, então “desestabiliza” as formas anteriores,


criando uma “nova”, sendo notório que o Twitter, em sua criação, já extrapola os
limites anteriores de comunicação.
Orihuela (2007) diz que o Twitter reúne características de blog, rede social e
mensageiro instantâneo e que suas postagens (tweets) são limitadas a 140
caracteres. É um microblog devido à limitação da postagem e blog por possuir
tratamento temático semelhante aos demais blogs de extensão mais ampla, ou
seja, expressa a opinião do usuário de diversas formas.
É considerado uma rede social, porque permite ao usuário seguir (following) e
ser seguido (follower) por outros usuários e assim saber “o que está acontecendo”
através das postagens de quem está seguindo; e pode ser considerado como um
mensageiro instantâneo, porque quando os usuários estão on-line podem enviar
mensagens entre si de forma síncrona, ou seja, o usuário A escreve diretamente ao

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usuário B através da opção reply1 ou simplesmente colocando o sinal “@” antes do
nome do perfil, e assim conversarem on-line.
Ainda com relação a característica de mensageiro instantâneo o Twitter
oferece o serviço de mensagem direta (direct Message) que permite aos usuários
enviarem mensagens privadas uns aos outros, esse serviço também é integrado ao
e-mail, pois esse tipo de mensagem pode ser enviada ao e-mail do indivíduo a que
foi endereçada.
Como já dissemos anteriormente o Twitter foi criado para que funcionários de
uma empresa se comunicassem, ou seja, pessoas conhecidas, porém a abrangência
alcançada pelo Twitter em março de 2007, em que obteve o WebAward2 na
categoria blog durante a conferencia South by southwest Music, film and
Interactive Conferences and Festivals (SXSW) (cf. Orihuela, 2007), no Texas, fez
com que a pergunta que “conduz” os tweets mudasse de “What are you doing?”
para “What’s happening?” se tornando mais geral para atender a “todos” os usos
comunicativos que o usuário pretender construir, tais como: falar sobre atividades
do seu cotidiano, promover debates sobre temas diversos, se autopromover,
informar através de notícias etc.
A partir, desse alcance mundial temos outra “extrapolação de usos”. Assim,
depois de apropriado pelos indivíduos, o Twitter “servirá aos interesses” do
enunciador que, para alcançar êxito na comunicação, adéqua o texto (tweet) para
a função comunicativa pretendida, pois segundo Bakhtin (2003) “uma dada função
(científica, técnica, ideológica, oficial, cotidiana) e dadas condições, específicas
para cada uma das esferas da comunicação verbal, geram um dado gênero”, e
assim a cada “descoberta” de uma função comunicativa por uma esfera da
atividade humana, o gênero digital passa a ter uma “forma textual” que atenda a
essa determinada função.
Devido às limitações citadas anteriormente, no Twitter não são postados
vídeos, fotos ou músicas, apenas texto, diferente das postagens nos blogs que

1
Reply é a opção que o usuário tem de indicar na postagem que está se referindo aquele perfil é a mesma função do “@”
antes do nome do perfil.
2
Premio dado pela Web Marketing Association aos melhores websites divididos em categorias.

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podem conter todas essas mídias. Nas postagens do Twitter é comum o uso de links
os quais direcionam a essas mídias, ou seja, uma “saída” para a postagem de
imagem, vídeo e música nos tweets é adicionar o link. Um blog pode conter artigos
de opinião, charges, músicas, vídeos, etc., sem haver recorrências genéricas que
permitam identificar o gênero blog. Já no Twitter podemos encontrar recorrências,
ligadas a propósitos comunicativos específicos, ligados, por sua vez, a domínios
discursivos.
O Twitter também agrega o caráter de chat (mensageiro instantâneo) que
difere do blog cuja comunicação se realiza apenas através de comentário nas
postagens. Mas diferente do chat, em que o usuário participa com a intenção
primeira de conversar em tempo real com outras pessoas, no Twitter não há como
objetivo inicial essa interação inicial. Dessa forma, faz-se essa comparação com o
chat porque existe a possibilidade de uma conversa face-a-face em tempo real,
porém em moldes diferentes, já que existe a limitação dos caracteres, não existem
os mesmos recursos (como o envio de sons, emoticons etc.), etc.
Os próprios desenvolvedores do Twitter, em seu blog3, reconheceram que os
140 caracteres, embora facilitem a concisão e a rapidez na descoberta e
compartilhamento de informações, nem sempre são suficientes para tudo que pode
ser dito:

The constraint of 140 characters drives conciseness and lets you quickly
discover and share what's happening. Yet, we've learned something since
starting Twitter—life doesn't always fit into 140 characters or less.4

Além dos limites do microblog

Um dos pontos questionáveis na adoção do Twitter como um gênero digital é


o fato de sua característica mais marcante, o limite de 140 caracteres nas

3
Disponível em: http://blog.twitter.com/2010/09/better-twitter.html
4
A limitação de 140 caracteres leva à concisão e permite-lhe rapidamente descobrir e compartilhar o que está acontecendo.
No entanto, nós aprendemos algo desde o início do Twitter – a vida nem sempre se encaixa em 140 caracteres ou menos.
(traduçao nossa)

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postagens, ter sido feito de forma artificial, não passando por um processo em que
situações comunicativas recorrentes exigindo funções determinadas para dar
origem a regularidades formais. Se a constituição dos gêneros como comumente
conhecemos é feita através de um processo em que o gênero vai sendo construído
para atender a funções comunicativas decorrentes de situações comunicativas que
se repetem e acabam convencionalizando, quando nos deparamos com os chamados
gêneros digitais percebemos que esse processo tem algumas peculiaridades e uma
dinamicidade muito maior do que nos gêneros “convencionais”.
As pessoas interagem com o meio digital a partir de softwares ou aplicativos,
desenvolvidos por profissionais. No entanto, acreditamos que esses aplicativos não
poderiam surgir inteiramente da imaginação dos seus criadores, eles atendem a
alguma demanda. No caso do Twitter, essa demanda viria da necessidade de se ter
um serviço em que as pessoas pudessem falar do que estavam fazendo a qualquer
momento, em qualquer lugar e usando qualquer aparelho eletrônico. Ele foi
pensado inicialmente para usuários, geralmente, conhecidos (familiares, colegas de
trabalho e amigos) se comunicarem e, segundo os desenvolvedores desse sistema, o
Twitter seria uma forma de comunicação “natural” em que o usuário escreveria o
que achasse importante comunicar aos seus seguidores (followers). Ou seja, a rede
social que se pensou inicialmente era mais simples e pequena, pois abrangia apenas
usuários próximos, isto é, que compartilhavam mais ou menos o mesmo
conhecimento cultural.
Acreditamos que o aplicativo que surgiu para atender a uma função social
presumida passou por um processo em que adquiriu novas funções, a partir das
situações comunicativas recorrentes que surgiram a partir da interação entre os
usuários e entre os usuários e o aplicativo, e só aí adquiriu contornos genéricos
mais claros. Segundo Miller (2009), a origem dos gêneros ocorre de mudanças de
situação, contexto e cultura e de outros gêneros, num processo evolucionário; e
“ocasionalmente do esforço consciente de indivíduos para preencher uma
necessidade não satisfeita previamente” (p. 95). Essa evolução foi feita, em grande
parte, pela limitação inicial do número de caracteres, que, a princípio, parece algo

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muito restritivo, mas foi driblado, de certa forma, pelas necessidades
comunicativas que surgiram no Twitter.
Há uma constante entre a limitação e a não limitação que os usuários
potencialmente têm a disposição. Apesar das limitações artificiais do Twitter, não
há como esquecer que ele é uma ferramenta desenvolvida para interação entre
pessoas das mais diferentes esferas em um ambiente propício à diversidade, como
é a Internet, portanto essas limitações artificiais podem ser flexibilizadas.
Para Devitt (2004), a flexibilidade inerente dos gêneros permite variações e
adaptação às mudanças nos contextos e usos, ao longo do tempo. Essa variabilidade
fica clara quando observamos o fato de a pergunta feita pelo Twitter ter mudado
de “What are you doing?” (O que você está fazendo?) para “What’s happening?” (O
que está acontecendo?), uma modificação do aplicativo causada pelas tendências
funcionais do Twitter. Ora, o Twitter surgiu para que as pessoas dissessem umas às
outras o que estavam fazendo no momento, no entanto os usuários não estavam
mais se limitando a responder a essa pergunta inicial, mas agora conversavam com
outros usuários, faziam propaganda, davam notícias, falavam sobre atividades do
seu cotidiano, promoviam debates sobre temas diversos, se autopromoviam, etc., o
que ocasionou a mudança para uma pergunta mais genérica. Dessa forma, as
necessidades que surgiram da interação dos usuários com o aplicativo foram sendo
homologadas por ele, provando que o desenvolvimento do aplicativo era
fortemente influenciado pelas forças do gênero.
As mesmas mudanças contextuais e de uso que fizeram a pergunta
motivadora do Twitter mudar, fizeram também com que os usuários
desenvolvessem e usassem ferramentas para que a limitação de caracteres não
fosse empecilho para a interação, caso do hiperlink e das hashtags. No entanto, o
simples fato de essas ferramentas estarem disponíveis não garante seu uso de
forma massiva constante, já que, conforme Devitt (2004), gêneros mudam
conforme os indivíduos incentivam ou inibem essas mudanças e forças contextuais
como crescimento, tecnologia e dispersão geográfica incentivam, mas não
garantem a mudança. Dessa forma, os usos dados pelos usuários a certas

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ferramentas só se estabilizam e se tornam recorrentes porque vão atendendo a
necessidades situacionais de forma satisfatória, como veremos a seguir.

Hiperlink

Como no Twitter não é possível que imagens e vídeos sejam incorporados


nas postagens, frequentemente são usados hiperlinks, que podem conduzir a essas
mídias, complementando ou esclarecendo o que é dito na postagem:

(1) @_INFO INFO Online Mini é o media center da #Positivo


http://abr.io/6pG
1 hour ago via HootSuite

(2) PlanetaUniversi Unicamp estreita relações com a TUM, da Alemanha


http://ow.ly/18amZQ
4 minutes ago via HootSuite

Os hiperlinks são tão importantes no Twitter, que muitas vezes não é


possível entender de forma satisfatória a postagem sem que se clique no link. O
hiperlink é, então, incorporado na postagem para que ou outros saibam do que ele
está falando, como em (3), em que a postagem traz, após o link, apenas um
comentário que só podemos entender ao clicar no link que abrirá um vídeo.

(3) alandouglasms http://bit.ly/d9hHTp simplesmente lindo. tanto a


interpretação quanto o video
33 minutes ago via TweetDeck

Procedendo dessa forma, o usuário usa a postagem para acrescentar


informações novas, usando o link como base.
Interessante notar que grande parte dos hiperlinks usados no Twitter são
modificações de links maiores feitas por serviços de encurtadores de links, outra
forma de lidar com o pequeno espaço, como nos exemplos: http://migre.me/Xz2E
e http://ow.ly/18amZQ. O encurtador de links não é uma ferramenta do Twitter,
mas uma ferramenta usada no Twitter, feita para atender à necessidade de

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economia de espaço exigida, além de permitir que as postagens sejam retuitadas e
comentadas mais facilmente, favorecendo uma maior possibilidade de interação
entre os usuários. Postagens mais curtas podem ser mais facilmente divulgadas por
outros tuiteiros, porque sobra mais espaço para algum acréscimo de comentário.
Nos últimos meses, foi lançado o Novo Twitter, que tem como um dos
diferenciais a possibilidade de visualizar imagens e vídeos na própria página do
Twitter. Ao postar um link que direcione a imagens ou vídeos, não é mais
necessário que se clique no link para ser direcionado a uma página externa para
visualização da mídia. Basta clicar no ícone que identifica presença de imagem ou
vídeo ou na pequena seta, que transfere a postagem para a coluna da direita, para
ver a mídia na coluna da direita na página do Twitter, como mostrado a seguir:

Figura 1: Mídia incorporada no Novo Twitter

Fonte: Imagem capturada por Print Screen

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Segundo a empresa, no lançamento do Novo Twitter, um dos motivos para a
modificação é a grande troca de links entre os tuiteiros, já que cerca de 25% das
postagens contém link. Foi feita, então, uma parceria com as empresas DailyBooth,
deviantART, Etsy, Flickr, Justin.TV, Kickstarter, Kiva, Photozou, Plixi, Twitgoo,
TwitPic, TwitVid, USTREAM, Vimeo, yfrog e YouTube para que fosse possível
acessar as mídias armazenadas nesses locais a partir do próprio Twitter5.
Essas modificações e seus motivos revelam que o uso dos links pelos
tuiteiros, com uma recorrência considerável, para poder expandir a possibilidade
de informações foi responsável por mudanças genéricas, algo que pode ser
explicado da seguinte forma:

Deliberate or not, individual decisions not only encourage or inhibit


generic change but actively create that change. The generic changes that
results in turn reinforce the contextual changes that are occurring,
placing even more pressure on individuals to act in ways that further
change6 (DEVITT, 2004, p. 135)

Os indivíduos, além de incentivar ou inibir mudanças genéricas, criam essas


mudanças que acabam reforçando as alterações no contexto e incentivando os
usuários a favorecerem-na. No caso dos hiperlinks no Twitter, os tuiteiros
passaram a usá-los para dizer mais do que poderia ser dito em 140 caracteres e
esse uso mostrou-se eficiente ao ponto de serem desenvolvidos encurtadores de
links que facilitassem ainda mais sua utilização. Consolidados esses usos pelos
tuiteiros, o próprio Twitter reconheceu, tanto que referendou essa mudança no
Novo Twitter que, ao facilitar a visualização de mídias direcionadas pelos links,
incentiva, de certa forma, seu uso.

5
Essas informações podem ser encontradas em < http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2010/09/novo-twitter-permite-abrir-
fotos-e-videos-sem-sair-da-pagina.htm> e <http://blog.twitter.com/2010/09/better-twitter.html>
6
Deliberadas ou não, as decisões individuais não apenas incentivam ou inibem mudanças genéricas, mas criam ativamente
essas mudanças. As mudanças genéricas resultantes, por sua vez, reforçam as alterações contextuais que estão ocorrendo,
colocando ainda mais pressão sobre os indivíduos para agirem de forma que favoreça a mudança. (tradução nossa)

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Hashtags

Outro elemento bastante presente no Twitter são as hashtags, etiquetas


(tags) precedidas do símbolo # (hash), que marcam as postagens em que se
inserem. As hashtags também podem ser compreendidas como um elemento
advindo de forças genéricas, no sentido de uma interação cada vez maior entre os
usuários do Twitter e universo tuiteiro como um todo.
Elas não nasceram junto com o Twitter, a iniciativa para seu uso partiu dos
próprios usuários, que, conforme Huang, Thornton e Efthimiadis (2010),
começaram a usar o sistema de hashtags um ano após o surgimento do Twitter.
Elas tiveram origem, provavelmente, segundo Boyd, Golder e Lotan (2010), a partir
da linguagem de programação ao colocar sinais de pontuação antes de palavras
especializadas, como o $, * e #, este último para indicar pontos de âncora em
códigos HTML.

(4) giovanna_rbp ADOOOOORO GENTE CIUMENTA #prontofalei


10:57 AM May 29th via web

As hashtags parecem dar certa organização às postagens, já que os usuários


podem marcar o assunto do seu tweet e podem identificar o assunto das postagens
dos outros usuários, como em (5), com a hashtag #CIÊNCIAS.

(5) @NOVA_ESCOLA #CIÊNCIAS. Vídeo: prof. Aníbal Fonseca explica


máquinas simples como roldanas e alavancas no Espaço Catavento.
http://abr.io/6zO
1 hour ago via Echofon

Além disso, elas também economizam espaço e permitem transpor a


limitação da postagem, porque trazem uma série de significados condensados que
precisam de um conhecimento que ultrapassa a postagem e, por isso, podem ser
usadas para subsumir muitas informações já compartilhadas pelos outros usuários
da hashtag, reservando maior espaço na postagem para o acréscimo de informações
novas. Ao marcar uma postagem, o usuário assume certos significados implícitos

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para sua postagem, esperando que sejam compreendidos pelos outros usuários, ao
criar um conjunto de expectativas.
No exemplo a seguir, o texto da postagem traz uma citação que fala sobre
amor, mas só quando observamos e entendemos o sentido da hashtag
#DiaDoFlamenguista, podemos, de fato, saber que o amor do qual fala a postagem
é a dos torcedores pelo time. Não foi necessário que o tuiteiro especificasse que
estava declarando seu amor pelo Flamengo porque aquele era o dia do
Flamenguista.

(6) @oficialcalmon "Uma História De Amor Sem Ponto Final..."


#DiaDoFlamenguista
7 minutes ago via web

O sucesso das hashtags foi tão grande que, da mesma forma que aconteceu
com o hiperlink, o Twitter referendou esse uso, incorporando, em sua página, o
Trending Topics, indicador dos termos mais usados pelos tuiteiros.

Figura 2: Trending Topics

Fonte: Imagem capturada por Print Screen

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Além disso, as hashtags passaram a ser também hiperlinks, direcionando
para uma página em que é possível ver outras postagens que utilizam a mesma
hashtag. Antes a indexação das hashtags era feita por sites externos.

Figura 3: Lista de postagens que contêm a hashtag #sorteio

Fonte: Imagem capturada por Print Screen

As hashtags são, talvez, o melhor exemplo de como se dá a construção


colaborativa no Twitter, já que as hashtags são criadas pelos usuários e, a partir do
momento que passam a circular no Twitter, não há mais como controlar
totalmente seus usos. Também, o próprio fato de a hashtag figurar no Trending
Topics incentiva os tuiteiros a usarem-na. Esse ciclo fez com que a presença de
hashtags fosse um dos traços mais recorrentes nas postagens e, assim como no caso
dos hiperlinks, essa recorrência ocasionou mudanças genéricas e reforço das
alterações contextuais, já que, o próprio fato de as hashtags estarem disponíveis
depois de criadas, incentiva seu uso.

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Considerações Finais

Apesar de tratar-se de um ambiente tão instável, é possível sinotizar dois usos


no Twitter que permitem aos usuários transpor os 140 caracteres que “limitam” as
postagens no microblog: os hiperlinks e as hashtags.
Nosso estudo verificou que os usos que muitos tuiteiros estavam fazendo de
links e da hashtag causaram mudanças no próprio Twitter, pois através do uso
constante desses recursos surgiram alterações no microblog. Como não é possível
colocar fotos, musicas e vídeos nas postagens, os links à essas mídias possibilitaram
a sua vinculação nos tweets se tornando uma extensão da postagem. Então, diante
dessa situação “imposta” pelos usos recorrentes dos links nas postagem, o Novo
Twitter permite a visualização de imagens, musicas e vídeos na própria página do
usuário confirmando a “força” do uso desse recurso na construção das postagens.
O outro uso que verificamos como recorrente e que gerou alterações na
constituição do Twitter foi o das hashtags, em que os usuários criam uma espécie
de “etiqueta” que condensa uma ideia, isto é, esse recurso permite o usuário
“economizar” na escrita, visto que ela “serve” para identificar o assunto da
postagem. Assim como o uso dos links motivou alterações no microblog, as
hashtags fizeram surgir os Trending Topics e passaram a ser hiperlinks que leva o
usuário a uma lista de postagens com a mesma hashtag.
Este estudo baseando-se nas pesquisas de gêneros do discurso permitiu,
então, comprovar que os indivíduos são grandes influenciadores na
“evolução/mudança” dos gêneros, pois mesmo que seja um sistema de
comunicação “administrado” por uma empresa e de existência “artificial”, como
no caso do Twitter, podemos encontrar essa característica dos gêneros de ser
dependente, em grande parte, dos usos feitos pelos indivíduos.

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Referências Bibliográficas

BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: Estética da Criação Verbal. São Paulo:


Martins Fontes, 2003. p. 261-306.

BOYD, D.; GOLDER, S; LOTAN, G. Tweet, Tweet, Retweet: Conversational Aspects


of Retweeting on Twitter. In: HAWAII INTERNATIONAL CONFERENCE ON SYSTEM
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em: <http://www.computer.org/portal/web/csdl/doi/10.1109/HICSS.2010.412>
Acesso em: 30 mai. 2010

DEVITT, A. J. Writing genres. Carbondale: Southern Illinois University Press, 2004.


243 p.

HUANG, J.; THORNTON, K. M.; EFTHIMIADIS, E. N. Conversational Tagging in


Twitter. In: ACM CONFERENCE ON HYPERTEXT AND HYPERMEDIA, 21, 2010,
Toronto. Proceedings… Toronto: ACM, p. 173-178. Disponível em:
<http://jeffhuang.com/Final_TwitterTagging_HT10.pdf>. Acesso em: 30 mai. 2010

MILLER, C. Estudos sobre gênero textual, agência e tecnologia. Recife: Ed.


Universitária da UFPE, 2009, p. 21-44

ORIHUELA, Jose Luis. Twitter y el boom del microblogging. Perspectivas del Mundo
de la Comunicación, Pamplona, n. 43, p. 2-3, nov./dic. 2007. Disponível em:
<http://www.unav.es/fcom/perspectivas/pdf/persp43.pdf>. Acesso em: 27 mai.
2010.

1
Bruno CASTRO, Mestrando
Universidade Federal do Piauí (UFPI)
Bolsista REUNI (Processo Nº 23111.06709/10-85)
bruno.bdrc@gmail.com
2
Leila ALEXANDRE, Mestranda
Universidade Federal do Piauí (UFPI)
Bolsista CAPES
leila_rachel1@hotmail.com

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