You are on page 1of 282
Pileta Silveira Martins INSTRUMENTAL i Libia Seliar Zitherknop, PORTUGUES Vcd gasicorca de 70% ternpo exemuniando-se sees pllaves: oui Jo, fen « ecrevendo ‘Cuts, so maison msnos fea ce sinew iva foc ‘og as ciao C6 Tecchinn}o inv, GaewTdO Dawid, upresensun hac, commecsand Fo, emit opis, ete. Emiricina oa avalincae co omanicacio, ds verss alla Lhe weeme a pelver mansacequda: evlrs vezes vcd | ‘em elds gm sot ana as pala ca erm Gs um ras alvin pet do aude Me, pomlenente, a tom | SeqnRD Ivete ma MoT) Ge apsEtD, [ Poi rest lise vant pode eoekarcors 1 permanente eo left dechaus profsrracenperisites compre rasa acsclanes a8 hividus ow ene inarcornasresalwa-s sta litra ajuda a compramaer ea domniara Mima, colocandoorisn tes relates came qosm fala | € QUETH atv: come quem escrene equeri le, de modo a facilicat eoeapaotla s aunintue wafitvidade na ctesusscats, | Hei¢ ero ¢ wn comple ~ Que maravilha! Colocaram uma antena parandica! (= parabdlica). 1.11- FUNCOES DA LINGUAGEM Pré-requisitos basicos: A linguagem, como instrumento de comunicag4o, nao € exerci- tada gratuitamente. Segundo Karl Biihler, um enunciado estabelece uma relac4o tri- plice com: , a) o emissor (1° pessoa); b) o receptor (2* pessoa); Cc) as coisas sobre as quais se fala (3° pessoa). Fundamentando-se nesse esquema, Buhler encontrou trés fun- goes na linguagem: expressiva, apelativa e representativa. Roman Jakobson apéia-se nessas fungdes, desdobrando-as com nova terminologia: emotiva, conativa e referencial. Para ampliar a tripartigdo de Biihler, Jakobson enfatiza mais al- guns elementos no processo comunicatério: 3 2 DILETA SHVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZILBERKNOP a) o canal, b) o cédigo, c) amensagem, relacionando-os com trés novas fungées: fatica, metalingiifstica e poé- tica. 1.11.1- Funcgées Propriamente Ditas © Fungdao referencial (ou denotativa ou cognitiva). Aponta para o sentido real das coisas e dos seres. A noite, vemos a Lua no céu. * DOG 9 ¢ CANE 2 e CHIEN ©& e PERRO © OBSERVACAO. Essa nao-relagao do signo com a coisa significada nao se aplica a linguagem onomatopaica, uma vez que ela tenta reproduzir os sons emitidos pelo referente. Exemplos cricri, tique-taque, quero-quero Exemplo de texto com expressdes anomatoapaicas "Em certos lugares, pelo interior, a vida como que passou cansada. Pegou no sono. E tudo quieto. E tudo igual. ; empre a mesma coisa. So fe vez em quando, ao longo dos caminhos abandonados, passam burros cho- calhando campainhas no pescoco: blem-blem-blem... -Passam depressa. Depois fica 0 siléncio ecoando: blem... blem... blem... Que-diferenca da cidade! Aqui, por exemplo, a gente nao sabe nunca, quando é que os burros vém. Se ninguém tem campainha... Se ninguém faz biem-blem-blem...’ | (MOREYRA, Alvaro. O Circo, p.58) . ‘ MORRIS, Charles. Signs, language and behavior. p.26. PORTUGUES INSTRUMENTAL 4 1 1.14- DENOTACAO E CONOTACAO Uma mensagem nao é tao simples como nos parece. Além de possuir significados diversos para diversas pessoas, tem também for- mas diferentes de significados. Ha, pois, o sentido denotativo, que é, mais ou menos, igual para todas as pessoas que falam a mesma lingua. E 0 sentido real, objetivo, aquele que aparece nos dicionarios. E ha, também, o sentido conotativo, ou seja, 0 significado emo- cional ou avaliativo de acordo com as experiéncias de cada um. E o sentido subjetivo. Estrela e A estrela brilha no céu. (= denotagao) e A ministra foi a estrela da equipe governamental. (= conotagdo) ¢ Vi estrelas quando bati com o pé na porta. (= conotagao) Cabeca * No acidente, ele fraturou a cabeca, (= denotacao) ¢ Ele foi o cabeca da greve. (= conotacao) © O movimento hippie fez a cabeca dos jovens dos anos sessenta. (= cono- tacao) ® Caldo de galinha e cabeca fria fazem bem. (= conotag4o) 1.14.1- A palavra no Contexto Uma palavra nao possui um s6 significado: tem uma gama rica de significagSes que unicamente o contexto pode determinar. Assim, sem antes ler 0 texto, ndo podemos traduzir, com seguranga, 0 signifi- cado de uma palavra. 42 Se usarmes 0 verbo contrair, podemos ter varios significados: *, contrair o mtisculo (= endurecer o mtsculo); ® contrair uma divida (= dever); © contrair uma doenga (= adoecer); ® contrair matrim6nio (= casar). DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZILBERKNOP 114.1.1-A Palavra na Poesia A palavra, na poesia, toma um cardter universal e serve de ponte entre as emocoes do poeta € as interpretacdes que lhe s&o atribuidas. ‘AS COVAS Mario Quintana O bicho, quando quer fugir dos outros, faz um buraco na terra. O homem, para fugir de si, fez um buraco no céu. (QUINTANA, Mario. A vaca e o hipogrifo. Porto Alegre: Garatuja, 1977, p.10.) 1.14.2- Variacgédes da Palavra no Contexto “‘PONTOS- Luis Fernando Vertssimo No inicio era um ponto. Ponto de partida. O ponto onde a tangente toca a circunferéncia, e faz-se a vida. Ponto pacifico. O circulo € a timidez do ponto. A linha é 0 ponto desvairado. oO tra- vessio € 0 ponto-ante-ponto, a primeira exploragao embevecida, a infancia. Ligando as palavras. Nasceu num ponto qualquer do mapa. Sua mae levou pontos depois do parto. A linha reta é 0 caminho mais chato entre o parto e o ponto final, preferiu o ziguezague. Teve uma vida pontilhada, os pontos que cafam nos exames, os pontos que subiam na Bolsa, os pontos de macumba, os pontapés. Mas sempre foi pontual. O ponto é uma virgula sem rabo. A virgula nado é como 0 ponto e virgula ponto ¢ virgula a virgula qual- quer um usa mas o ponto e virgula requer pratica ¢ discernimento virgula modéstia a parte ponto. PORTUGUES INSTRUMENTAL 43 Nova linha. Fez ponto em frente 4 casa da namorada, uma cir- cunferéncia com varios pontos positivos, como a sua mae apontada acima. Ndo dormiu no ponto, acabou convidado para entrar quando estava a ponto de desistir, pontificou sobre varios pontos, nao demora ja era apontado como intimo da casa, jogava cartas (pontinho) com a familia, parecia um pontifice, nado desapontou. Casaram. Tinham muitos pontos em comum. O sexo! Ponto de exclamagao. Querida, estou a ponto de... nao! Cui- dado. Ponto fraco. A tangente toca a circunferéncia. Outro ponto no mapa. Parto. Pontos. Tiveram muitos pontos em comum. Os outros cagoavam: que ponta- ria! Discordavam num ponto: a pilula. Zig-zag-zig-zag. Os ponteiros andando. Um dia, no futebol - jogava na ponta ~ sentiu umas pontadas. Coracg4o. O ponto-chave. O médico insistiu num ponto: para. Mas como? Chegara a um ponto em que nado podia parar, era um ponto projetado no espaco, a vida é um ponto com raiva, parar como? A que ponto? Saiu encurvado. Como um ponto de interrogagao. S6 uma solugdo, dois pontos: os 13 pontos na loteria. Sendo era um ponto morto. A linha reta no eletro, outro ponto pacifico, o ponto no infinito onde as paralelas, a distancia mais curta entre, cheguei a um ponto em que, meu Deus... trés pontinhos. Jogou o que tinha num ponto de bicho e o que no tinha num ponto lotérico. N&o deu ponto. Em casa a circunferéncia e os sete pontinhos. Resolveu pingar os pontos nos is. Melhor deixar uma vitiva no ponto. De um ponto de 6nibus mergulhou, de ponta-cabega, na ponta de um taxi, ou de um ponto de taxi na ponta de um Gnibus, é um ponto discutivel. Entregou os pontos. (VERISSIMO, Luis Fernando. O popular. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973, p.97-8.) 1.15- HOMONIMIA - POLISSEMIA - PALAVRAS SEMELHANTES NA GRAFIA E NA PRONUNCIA }.15.1~ Homonimia Homonimia € a situago em que uma s6 palavra assume duas ou mais significagdes completamente diferentes, mas cuja origem admite . 44 DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZILBERKNOP “yocabulos heterogéneos. Com relacio A homonimia, os dicionarios, via de regra, apresentam mais de uma entrada (verbete). sadio (latim = “sanus”) sAOo santo (latim = “sanctus”) verbo ser _ (latim = “sunt") As palavras homénimas podem ser: (som igual e grafia igual); (som igual e grafia diferente); (grafia igual e som diferente). a) homGnimas perfeitas b) homofonas c) homografas (RU venda (substantivo) venda (verbo vender) sentenca (condenagao) sentenca (frase) ; cabo (posto militar) cabo (acidente geografico) fiar (vender a crédito) fiar (reduzir a fio) real (que pertence ao rei) real (verdadeiro) cravo (tipo de prego) cravo (instrumento musical) CU Simcoe acender atear fogo ascender elevar-se acento sinal grafico assento banco acerto precisao asserto afirmagao aprecar marcar o prego de apressar acelerar irea superficie Gria cantiga arrear por arreios arriar baixar arrochar apertar arroxar tornar roxo PORTUGUES INSTRUMENTAL 45 46 ds carta de jogo; pessoa notdvel [az esquadrao cacar apanhar, perseguir animais | cassar invalidar carear confrontar, acarear | cariar criar carie cegar privar da visdo | segar ceifar [cela cubiculo | sela arreio censo recenseamento | senso juizo [cerrar fechar | serrar cortar cessao ato de ceder se¢do (sec¢do) parte, setor | sessdo reuniao cheque ordem de pagamento | xeque lance de xadrez; chefe de tribo oriental cesta balaio | sexta numeral concertar harmonizar [Consertar remendar espectador assistente Lexpectador quem esta na expectativa esperto vivo, atilado | experto perito [ espiar olhar Lexpiar pagar com sofrimento esterno nome de um osso | externo estar por fora f estrato tipo de nuvem Lextrato perfume; resumo (conta bancdria) lera época Lhera planta DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBA SCLIAR ZILBERKNOP * ie incerto duvidoso inserto introduzido incipiente principiante insipiente ignorante lago nd lasso frouxo, cansado maca clava massa mistura com farinha nds pronome pessoal; plural de né noz fruto da nogueira paco paldcio passo ato de avangar o pé pedo servigal de estancia to brinquedo tacha prego taxa imposto vés verbo ver vez ocasiaio -| vés pronome pessoal voz som da laringe Exemplos de Aomogratoa: acordo —_ (substantivo) acordo erro (substantivo) erro jogo (substantivo) jogo ele (pronome pessoal) ele governo (substantivo) governo este (pronome demonstrativo) este forma (substantivo) forma 1.15.2 — Polissemia (verbo acordar) (verbo errar) (verbo jogar) (letra) (verbo governar) (ponto cardeal) (substantivo e verbo formar) Polissemia é a situagdo em que uma palavra assume significados varidveis de acordo com 0 contexto, mas cuja origem € tnica. Com relacfo A polissemia, os diciondrios, via de regra, apresentam uma entrada (verbete). PORTUGUES INSTRUMENTAL 47 48 conjetura hipétese sinal grafico conjuntura situag4o, oportunidade PONTO ear determinado wal decente correto j ivro em que se marcam as faltas, etc. docente referente a professor discente referente a aluno em de "punctus" (latim deferir conceder algo OBSERVACAO diferir ser diferente; adiar Ha palavras que sdo homénimas em relacdo a outras e polissémicas se as degradar rebaixar compararmos com terceiras. : degredar exilar ar soy : . . tar trair Cravo, do francés “clavecin” (= instrumento musical) e cravo, do latim dela " . x : x aun: dilatar aumentar clavu” (= prego, afecc4o da pele, flor ou condimento) sao homénimos. Cravo (prego), cravo (afecgao da pele), cravo (flor) e cravo (condimento) desapercebido desprevenido sao..polissémicos (hé analogia quanto. 4 forma, e a origem vocabular é a despercebido nao observado mesma ("clavu"). descricdo ato de descrever discrigado qualidade de ser discreto 1.15.3- Palavras Semelhantes na Grafia e na Prondncia (Pardnimos) Exemplos| acidente desastre incidente acontecimento inesperado adereco enfeite endereco residéncia apéstrofe _ figura de estilo apostrofo notacfo léxica atuar agir autuar processar auréola circulo luminoso -| ourela beira casual ocasional causal relativo a causa cavaleiro homem que anda a cavalo cavalheiro homem cortés DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZILBERKNOP descriminar discriminar (des )mitificar (des)mistificar | | [cearensa dispensa destinto distinto destratar distratar emergir imergir emigrar imigrar eminente iminente emitir imitir inocentar diferenciar desfazer 0 mito desfazer o engano deposito de mantimentos licenga descolorido diferente ofender rescindir um contrato vir 4 tona mergulhar sair da patria mudar-se para pais estrangeiro notavel, célebre imediato, prestes a enviar investir (investidura) Ex.: imissao de posse PORTUGUES INSTRUMENTAL 49 rT i enfestar dobrar a fazenda | infestar devastar . entender compreender intender supervisionar | esbaforido ofegante espavorido apavorado [ estalado partido | estfelado em forma de estrela (ovos estrelados) estada ato de estar, permanéncia | estadia demora de um navio no porto (ou de vefculos, em geral) - estofar guarnecer com estofo | estufar aquecer com estufa estripar tirar as tripas | extirpar extrair flagrante evidente [fragrante perfumado florescente florido | fluorescente propricdade da fluorescéncia fluir correr [fruir gozar Jusivel peca de eletricidade Lfuzil arma gral taga, pildo l grau degrau incontinente ~ imoderado, sensual Lincontinenti sem demora indefeso sem defesa Lindefesso incansavel] infligir aplicar (pena) Linfringir violar insolivel sem solucdo . ~~ ~ | insolvivel que nao pode ser pago | intemerato puro, integro : | intimorato destemido 5 0 DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCUIAR Zit BERKNOP intimar intimidar lagadeira langadeira [mana matilha [pes erfilhar pleito reito preceder roceder - ’| preferir proferir 8 reterir [ rescrever roscrever prever rover rasfcar | | | retificar sobrescritar subscritar Sortir Surtir subtender subentender notificar amedrontar feminino de lagador pega de maquina de costura risco, perigo oferta de prego em leiléo; espaco da escada entre os degraus brilho: candelabro qilingtiénio ordem de autoridade judicial procura¢do (mandato de deputado) xale grupo de cfes alinhar adotar como filho eleigao homenagem, respeito anteceder comportar-se querer mais pronunciar deixar de lado ordenar; ficar sem efeito desterrar antever abastecer confirmar corrigir enderegar (envelope) assinar prover produzir efeito estender por baixo suprir mentalmente PORTUGUES INSTRUMENTAL 51 EXERCICIOS suster sustentar susan deter traéfego transito trieae comércio ilicito Complete as lacunas com a palavra adequada: vestidrio recinto para troca de roupa vestudrio traje 1. Guardando sigilo, voc agird COM i emnnnnnnnnnnne (ESCriGdo ~ discri¢&o). 2. Iremos amanh@i A primeira «enn GO filme de Elizabeth Taylor vultuoso inchado (segaio - sesso ~ cessio). tose grande O fato Me PASSOU ........minmnmnnnnn mina (despercebido - desapercebido). GO oveenvvrtnnniminninnvnnivnan G OSPA foi de musica moderna (conserto - con- certo). Os bancos transaCionaM SOMAS ...0...merennwnnnnn mane (Vultuosas — vultosas). 6. Aquele sujeito era tao mal-educado, que ee me one SU MBE ERM presenca de todos (destratava - distratava). TEND cosivninnrnncvnnumenn da fazenda estava escrita sua procedéncia (auréola - ourela). 8... Muitos inconfidentes foraM oo... cece en nenmnnn Para a Africa (degradados ~ degredados). Qe ecentnininnrnnimnnniinemmnnnnn® nimuninmanmunnnninnunnnnnnn dO deputado (cagaram . —cassaram; mandado - mandato). 10.'As pessoas surdas ndo CONSEQUEM en ne OS SONS (descriminar - discriminar). 11.0 criminoso foi apanhado eM 2. ee eee nee (flagrante - fragrante). 12. A MaS8@ CS8tA oo nomnmnnennenstinnnarne (COSida — Cozida). 13, A maioria dOS oo. nn nnnnne diferenciais caiu (assentos ~ acentos). 14. O tenor cantou UMA oo eecencenernnnneennn, antiga (Area - Aria). 15. O preso foi encaminhado & SUA ..vo.mummmonmnnmennanmnnam (Cla — sela), 16. De acordo com 0 GIIMO i .omonmnmmnnnnsnsnmunnamnam $oMOS cem milhdes de brasileiros (censo — senso). 17.08 culpados devem .oocccccnsin-ovsnsnnnanasnnan SUas falhas (esplar - expiar). 18.0 imperador encaminhou-se até 0 .o..0..:c-mssmnnnnnvennnn (PAGO ~ Passo). ~ 19.0 politico foi oo essen. le Subversive (tachado - taxado). 5 2 DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZILBERKNOP ‘ PorTUGués INSTRUMENTAL 5 3 20. O SECTELATIO oe ensnnnnnnnen vm © pedido do funciondério (deferiu - diferiu). 21.0 calor ou. nna os corpos (delata - dilata). 22. Os alimentos est4ao guardados na .... omnes (despensa — dispensa). 23. Aquele é um ......... .... conferencista (eminente — iminente). 24. Aquele arméario estava ........... uuu om de insetos (enfestado - infestado). 25. A MAMMA oe nnrnnnninnnenrnnen Ta Setra fol rapida (estada ~ estadia). 26. A AMpad a o.oo eneerennnne ow ewe tumina bem (florescente - fluorescente). 27. Troque 0... porque estamos sem luz (fusivel - fuzil). 28. Irei para 14 . (incontinente — incontinent). 29.0 dele gado occ cuuumnmmnninnam the um duro castigo (infligiu - infringiu). 30. Compramos para a Sala UM nmin de cristal Mustre - lustro). BELO MEDIC one rssesnnmnrnnee he Tepouso (prescreveu - proscreveu). 32. A escolhha do candidat oo cemumnsnmmnmmneunnnen (retificou — ratificou). coun OS prognésticos do partido 33. A mensagem do autor ficou ....... - subentendida). vooun 10 texto (subtendida 34. omni de entorpecentes € proibido por lei (trafego - trafico). 35. Um enxadrista oc cccccnnervvrsw en deve observar, com atengdo, partidas de jogadores experientes (incipiente — insipiente). 36.A campanha do transito deveria ter -w mum Cfeitos imediatos (sortido - surtido). 37. QUETES oniccccn nnnnnnnnnninnunn envelope? (sobrescritar - subscritar). 38. Aceite MOUS nec ccennnnnnren Pela sua formatura (comprimentos — cumpri- mentos). 39. POP UMA oi cosoninnennnnnnunnnninnn CNCONtAaMO-nos na rua (casualidade - causali- dade). 40. Abandeira sera oon cccccnnemnnanmumunme. aS 18 horas (arreada - arriada). 54 DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR Zit BERKNOP Capitulo 2 2.1- CONCEITO Tudo aquilo que o ser humano faz, traz a marca de sua indivi- dualidade. Pois bem, essa maneira pessoal de o homem expressar- ge; dentro de uma determinada época, seja ela através da .pintura, . seja ela através da misica ou da literatura, € o que chamamos de estilo. " Para nés, particularmente, o estilo que interessa € 0 que tem como instrumental a palavra. Mas, mesmo em se tratando da palavra, perguntamos: Existe um estilo nao-literario? «:: Considerando-se estilo em sentido abrangente, podemos dizer _ Que, em realidade, ele existe, j4 que cada um tem sua maneira peculiar de comunicacio: preferéncia vocabular, poder de sintese, prolixidade, étc. , Ratificando essa posi¢4o, podemos mencionar 0 estilo epistolar. A carta, mesmo informal, geralmente traz a marca de seu redator. Al- gumas, inclusive, sdo belas pecas literérias. Como exemplo, podemos Citar estas: PORTUGUES INSTRUMENTAL 5 5 CARTA DE JORGE AMADO AO EDITOR MARTINS, APRESENTANDO-LHE TEREZA BATISTA.’ Nao hd dois sem trés, dizem por aqui. Assim sendo, receba agora Tereza Batista para formar o trio. Mulherzinha persistente: me perseguiu durante anos, quis escapar-Ihe, meter-me em empresa menos braba, nao consegui, ela me teve e durante este ano todo fui seu escravo. Agora vocé é seu senhor. Despego-me dela com saudade, me ensinou a acreditar ainda mais na vida e na invencibilidade do povo mesmo quando levado 4s ultimas resistén- cias, quando restam apenas solidéo e morte. No final da historia me dei conta que nem tudo no mundo é ruim como a principio imaginei ao me afundar nos atropelos de Tereza. A maldade quase sempre é miséria ou ignorancia. Frase digna do conselheiro Acdcio, nao a coloco na boca de Tereza. O que houver de bom no livro a ela se deve. O resto € meu, desacertos e limitagGes, trova- dor de rima pobre. Ha mais de trinta anos trabalhamos juntos, vocé e cu, escrevendo e fa- ° bricando livros. Eu, parindo gente, vocé, criando com carinho esse meu povo mde e irredutivel. Pois cuide de Tereza Batista e a apresente a Edith. Vai com recomendacio de Zélia e o abracgo afetuoso de seu velho amigo Jorge Amado Querido Martins, a portadora é Tereza Batista, receba-a com amizade. Acusam-na de arruaceira, atrevida e obstinada, de nao respeitar autoridade e de se meter onde nao é chamada. Mas tendo com ela convivido longo tempo, praticamente juntos dia e noite de margo a novembro neste ano de 72, sei de suas boas qualidades. Nasceu para a alegria e lutou contra a tristeza, nao es- conde 0 pensamento, gosta de aprender e um pouco aprendeu nas cartilhas, muito na vida. De tao doce e terna, o doutor, homem fino, s6 a tratava de Te- reza Favo-de-Mel. Comeu do lado podre da vida com fartura e nado se desesperou. Cansa- da de tanto guerrear, um dia pensou-se terminada, resolvendo ensarilhar as armas e nas prendas domésticas se enterrar. Bastou porém soprar a viracdo do golfo, ouvir o som do biizio no apelo do marujo, para erguer-se inteira e par- tir a velejar. Moga de cobre, usa dente de ouro e um colar de contas roxas, xale flo- rado sobre os cabelos negros. Dizé-la formosa é dizer pouco, louvar-lhe a competéncia no oficio nao basta para explicar-the a sedugfo. Conto algumas de suas peripécias, desenho-lhe o perfil e me pergunto se nfo restaram tracos obscuros. Saf perguntando a meio mundo e A propria Tereza interroguei. Viver paga a pena e o amor compensa, disse-me ela, nos olhos um fulgor de diamante. Certa vez Ihe mandei, caro Martins, a moga Gabriela, feita de cravo ¢ de canela, tirada de uma moda do cacau, por onde anda? O personagem s6 pertence ao romancista enquanto permanecem os dois na labuta da criacao, barro amassado com suor e sangue, com édio e com amor, embebido em so- frimento, salpicado de alegria. Depois é dos outros, de quem dele se aposse Jorge FRAGMENTO DE UMA DAS FAMOSAS CINCO CARTAS DE AMOR ESCRITAS POR SOROR MARIANA DE ALCOFORADO AO OFICIAL . ’ FRANCES CHAMILLY (SECULO XVID.° Soéror Mariana de Alcoforado ... Adeus. Como eu quisera nunca te haver visto. Sinto profundamente hy nas paginas do livro e the dé um pouco de si, enriquecendo-o. A moga Gabriela, de Ilhéus, anda mundo afora, sei 14 em quantas linguas. Tantas, j4 perdi a conta. De outra-feita, em prova de amizade lhe enviei dona Flor, solteira, casa- da, vitiva, depois feliz com seus dois maridos, propondo uma adivinha magica da Bahia, prisioneira que rompeu as grilhetas da moral corrente e libertou o amor dos preconceitos. Mansa criatura, quem a diria capaz de agir como ela agiu? De repente surpreendeu-me. Pensava conhecé-la e no a conhecia. E outra cujo destino escapou de minha mao, ainda agora neste novembro, anda ‘de roupa nova nas ruas de Paris, vestida de francesa por Stock. Com esses gringos fandticos por mulher bonita, seus dois maridos, Vadinho e doutor Teodoro Madureira, correm perigo. a falsidade dessa idéia e conheco, no mesmo instante em que a escrevo, que bem mais prezo, do que nunca te haver visto, ser desgracada, amando-te. Concito, pois, sem queixa nesta minha ma sorte, j4 que nao foi do teu agrado té-la feito melhor. Adeus! Promete-me, sc cu morrer de amor, ter saudades de mim, e logre ao menos a desgraca violenta da paix4o apartar-te de tudo com desgosto. Essa consolac&o me bastard; e, se é fatal que eu te abandone para sem- pre, era meu Unico desejo nao te deixar a outra. Pois nao é certo, meu Amor, que n&o serias tao cruel que te servisses desse desespero, para tornar-te mais amado, gabando-te de haver causado a maior paixdo que houve no mundo? Adeus, mais uma vez!... Escrevo-te cartas tio compridas! Nao tenho consideragdo por ti! Peco-te perddo e ouso esperar que tenhas indulgéncia por 5 . x ee a nn Esta carta consta na orelha da capa do romance de Jorge Amado, Tereza Batista cansada de guerra. Sio SN, _ Paulo: Martins, 1972. . . ‘ossos classics. Rio de Janeiro: Agir. 56 DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR Zit BERKNOP PorTUGUES INSTRUMENTAL 57 esta pobre louca que nao o era, bem sabes, antes de te amar. Adeus, parece- me que falo em demasia do lastimoso estado em que me encontro. Mas, no fundo do coragao, te agradego o desespero que me causas e detesto a tranqili- lidade que vivia antes de conhecer-te. Adeus! A minha paixdo aumenta a cada hora. Ai! Quantas coisas tinha ainda para te dizer'... Como se vé, essas duas cartas trazem consigo uma marca, ou seja, um estilo que difere bastante, j4 pela individualidade dos autores, ja pela distancia que separa as épocas em que ambas foram escritas. Por outro lado, como distinguir um texto onde ha criatividade e imaginacdo de um outro nao-criativo? Vejamos aqui diversos textos: 2.2- COMPARANDO TEXTOS 2.2.1~ Bula Farmacéutica Mioflex é um novo tratamento nado hormonal das doengas reumdticas agudas e crénicas, articulares e extra-articulares, inflamatérias e degenerativas. Mioflex é€ um produto analgésico, miorrelaxante, antiexsudativo e antipirético. Mioflex é uma associagdo de carisprodol, aminopirina, fenilbutazona ’ e N-acetil-p-aminofenol, em proporcées equilibradas. 2.2.2- Receita culinaria FEIJOADA COMPLETA Helena Sangirardi 1/2 quilo de carne de porco salgada — 1/2 quilo de carne seca — | pé, orelha ¢ 1 focinho de porco salgado — 1 quilo de feijao preto — 1/2 quilo de 5 8 DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZiLBERKNOP carne de vaca (ponta de agulha ou bra¢o) — 1/2 quilo de lingiiiga portuguesa — 1 osso de presunto — 1 paio — 100 gramas de toucinho ~- 1 colher (sopa) de gordura vegetal — cebola batidinha — alho socado — cheiros verdes. Ponha de molho de véspera as carnes salgadas. No dia seguinte, ponha desde cedo o feijaéo no fogo. Afervente as carnes salgadas e, quando fizer uma hora que 0 feijao estiver no fogo, misture-as no mesmo caldeirao, jun- tando também os outros ingredientes e deixando tudo em fogo brando para nao pegar no fundo. Prove o sal. E possivel que nao precise por sal, devido ao que j4 contém as carnes. Quando tudo estiver mais ou menos cozido, faga um refogado a parte com a gordura vegetal, a cebola batidinha, ° alho socado e os cheiros verdes. Na hora de servir, retire todos os ingredientes para uma travessa, arrumando-os com jeito. O feij4o sera levado 4 mesa numa terrina ou tigelao de barro. Sirva com laranjas doces picadas em pedacinhos e pol- vilhadas com sal. Acompanha a feijoada o molho para feijoada. (SANGIRARDI, Helena. A alegria de cozinhar. 33.ed. Rio de Janeiro: Cientifica, 1960, p.328) 2.2.3 ~- Receita Culinaria Poética Carta-receita culindria, enviada por Vinicius de Moraes a Helena Sangirardi, em forma de poema: FEIJOADA A MINHA MODA’ Vinicius de Morais Amiga Helena Sangirardi Conforme um dia eu prometi “Onde, confesso que esqueci E embora ~ perdoe — t4o tarde. (Melhor do que nunca!) este poeta Segundo manda a boa ética Envia-lhe a receita (poética) De sua feijoada completa. — ? MORAIS, Vinfcius de. Para viver um grande amor. Apud GIACOMOZZI, Gilio. Portugués moderno, _ ¥ série. Si Paulo: FTD [s.d.) p.112-4. PORTUGUES INSTRUMENTAL 5 9 60 Em atengdo ao adiantado Da hora em que abrimos 0 olho O feijao deve, ja catado Nos esperar, feliz, de motho. E a ccozinheira por respeito A nossa mestria na arte Ja deve ter tacado pcito E preparado e posto 4 parte. Os elementos componentes De um saboroso refogado Tais: cebolas, tomates, dentes De alho — ¢ 0 que mais for azado. Tudo picado desde cedo De feicdo a sempre evitar Qualquer contato mais ... vulgar As nossas nobres maos de aedo. Enquanto nds, a dar uns toques No que nos seja a contento Vigiaremos o cozimento Tomando o nosso ufsque “on the rocks”. Uma vez cozido o feijao (Umas quatro horas, o fogo médio) Nos, bocejando o nosso tédio, Nos chegaremos ao fogio. ’ Eem elegante curvatura: Um pé adiante e o braco as costas Provaremos a rica negrura Por onde devem boiar postas. De carne-seca suculenta Gordos paios, nédio toucinho (Nunca orelhas de bacorinho Que a tornam em exccsso opulenta)! E — atenc4o! — segredo modesto Mas meu, no tocante a feijoada: Uma lingua fresca pelada Posta a cozer com todo 0 resto. DILETA SILVEIRA MARTINS / LOBIA SCUAR ZILBERKNOP Feito o qué, retire-se 0 carogo Bastante, que bem amassado Junta-se ao belo refogado De modo a ter-se um molho grosso. Que vai de volta ao caldeirao No qual o poeta, em bom agouro, Deve esparzir folhas de louro Com um gesto classico e pagao. Indtil dizer que, entrementes, Em chama a parte desta liga Devem fritar, todas contentes, Lindas rodelas de lingii¢a. Enquanto ao lado, em fogo brando, Desmilingiiindo-se em gozo, Deve também se estar fritando O torresminho delicioso. Em cuja gordura, de resto (Melhor gordura nunca houve!) Deve depois frigir a couve Picada, em fogo alegre e presto. Uma farofa? — tem seus dias... Porém, que seja na manteiga! A laranja, gelada, em fatias (Seleta ou da Bahia) — e chega. 86 na ultima cozedura Para levar 4 mesa, deixa-se Cair um pouco de gordura Da lingiiiga na iguaria — e mexa-se. Que prazer mais um corpo pede Apés comido um tal feijao? — Evidentemente uma rede E um gato para passar a mio... Dever cumprido. Nunca é va A palavra de um poeta... — jamais! Abraga-a, em Brillat-Savarin, O seu Vinicius de Moraes. PORTUGUES INSTRUMENTAL 61 2.2.4- Poesia SONETO DA SEPARACAO® Vinicius de Morais De repente do riso fez-se 0 pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das maos espalmadas fez-se 0 espanto. De repente da calma fez-se 0 vento Que dos olhos desfez a ultima chama E da paixao fez-se o pressentimento E do momento im6vel fez-se o drama. De repente nao mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente. Fez-se do amigo proximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, nao mais que de repente. 2.2.5~ Textos Humoristicos A COISA’ . Vado Gogo (Millor Fernandes) Eu vi a coisa, quando o dia nascia, nascia o ano. A festa mal comega- ra, era pura meia-noite, de modo que nem acusar de bébedo vocés podem. Ela surgiu, aos poucos, entre um copo e outro, foi crescendo, tomando vulto, ad- aquirindo forma. A princfpio, achei-a engragada, mas pouco a pouco, percebi seu ar teratoldgico, sua effgie de monstro. Nao fez nada, sumiu algumas horas depois. Mas era horrenda, como vocés ver4o por esta descricio: Apud MESERANI, Samir C. Criatividade, col. Il, Sio Paulo: Discubra [s.d.] p.79. Apud SCARTON, Gilberto. Portugués na comunicacdo. Porto Alegre: PUC [s.d.] p.40. 62 DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZILBERKNOP Tinha cabelo de relégio, testa de ferro, cabega de ponte, orelhas de livro, ouvidos de mercador. Um olho-d'égua, outro da rua, pupilas do Sr. Reitor, nariz de cera, dente de coelho, lingua de trapo, barba de milho e costeletas de porco. Tinha um seio da patria, outro da sociedade, brago do mar, cotovelos de estrada, uma mao de direcao, outra mao boba, palmas de coqueiros, dois dedos de prosa e unha de fome. Tinha tronco de arvore, corpo de delito, juntas comerciais, barriga de revisdo, bacia do Amazonas, costa da Africa, pernas de mesa, canela em p6, um pé ctibico, outro pé de vento e plantas de arquitetura. SER GAUCHO Luis Fernando Verissimo Certa vez, eu criei um tipo, um gaucho grosso que estivera exilado na Franga, voltara para o Brasil e, com sua mulher francesa, a Francoise, abrira um restaurante fino, o “Tché Francoise”. PORTUGUES INSTRUMENTAL 63 S6 que o gaticho desaconselhava os fregueses a pedirem aqueles pra- tos com nomes comphicados e tentava empurrar, em vez deles, o carreteiro de charque, a lingiiica, etc. O bom do personagem era a oportunidade de inventar ditos e maximas de gaticho. "Mais nervoso que gato em dia de faxina", por exemplo, ou "mais triste que tia em baile". Mais tarde, transformei esse personagem em psicana- lista, mas ele no deixou de ser gaticho e grosso, com o habito de dizer as coisas na cara e 0 gosto pelas frases feitas, sintéticas e definidoras. Quase to- das as frases do analista fui eu que inventei. Mas, se quisesse, teria um ver- dadeiro tesouro de frases, maximas, aforismos, comparagées e ditados ao qual recorrer no folclore gatcho. Alguns poucos exemplos: "Todo cavalo tem seu lado de montar" - quer dizer que € preciso saber como abordar as pessoas. "A sombra da vaca engorda o terneiro" - filho criado junto da mae se cria melhor. "Vela acesa nao acorda defunto" - depois da morte, ndo ha mais 0 que fazer. "Sortido como bati de velha". "Sofredor como vaca sem rabo" - que no tem como espantar as moscas. "Mais feio que briga de foice". “Mais grosso que dedao destroncado”". "Mais pelado que sovaco de sapo". "Quieto como guri borrado". “Quem vé cara nao vé as unhas". "Quem puxa a teta bebe 0 apojo" - apojo é 0 tltimo leite da vaca, mais gordo e mais saboroso. “Quem monta na razéo nao precisa esporas". “Pra quem sempre vive na cozinha é verao o ano todo". “Praga de urubu nao mata cavalo gordo" — quem esta preparado nao deve temer nada. “Pobre sé vai pra diante quando a policia vem atras”. “Perder a ceroula dentro das bombachas” - o maximo da distragdo. "Mais espremido que alpargata de gordo". “Rapido como enterro de pesteado". "Gordo que nem noivo de cozinheira”. “Folgado como cama de vitiva". y “Esquecido como encomenda de pobre". "Enrolado como lingtiiga em frigideira”. "Diz mais bobagem que caturrita de hospicio". "Como punhalada em melancia" - coisa facil, sem resisténcia. "Assustado como cachorro em canoa”. Frases como estas - a maioria tirada, quando falhava a memoria, de um livro precioso chamado Bruaca, Adagiario Gauchesco, de Silvio da Cunha 64 DILETA Sit veIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZiLBERKNOP Echenique - mostram nao sé uma sabedoria antiga, passada de geracdo cam- peira a geragdo campeira, como também uma maneira bem humorada, muitas vezes irdénica e sutil, de observar 0 mundo e as pessoas. Todo o folclore do Rio Grande do Sul € cheio de humor e sutileza, 0 que desmente a "grossura" da caricatura consagrada do gaticho. Existe, isto sim, uma mancira franca e aberta de dizer as coisas, que ds vezes pode passar por rudeza. Mas 0 gaticho sempre teve muito humor e sensibilidade. O que nao quer dizer que o gaticho da caricatura, com todos os seus exageros, nao tenha o seu valor. Quando me perguntam se com O Analista de Bagé eu estava satiri- zando o gaticho ou o gauchismo, respondo que sim, mas com afeto. Prefiro ver no jeito do gauchao nao tanto a grossura quanto a antifrescura, uma certa impaciéncia com as coisas rebuscadas ou as pessoas muito sinuosas. Quer dizer: grosso, mas no bom sentido. (VERISSIMO, Lufs Fernando. Pui ndo entende nada, p.85-7) 2.2.6- Crénica Literaria PARA TEUS OLHOS, MILENE Liberato Vieira da Cunha Sabes o que mais me tocou em tua carta, Milene? Aqucela parte em que, quase distraidamente, falas da parede de tijolos expostos do prédio vizinho, que é a Gnica paisagem que contemplas do tcu quarto de moga. Foi esse sombrio, limitado horizonte que me comoveu, to diverso do riacho, das montanhas, do arvoredo que podias divisar cada ma- nha do perdido sitio onde nasceste. Pois que o resto tem remédio, Milene, 0 resto se resolve. Sei bem que isso de trabalhar de dia e estudar de noite é exigente e cansativo, especialmente quando pensas, em meio a alguma aula mais chata, que o mundo 14 fora deve estar cheio de pessoas agradavelmente reunidas pelos bares da vida. Mas as faculdades felizmente nao sao eternas. Logo diras adeus a tua e fruirds a liberdade de tuas noites e te chamario doutora e, ao ouvires como musica esse titulo, o préprio vinho te parecera mais inebriante. Também ndo é nenhuma tragédia vestir eternamente gastos jeans, nao Porque sao moda ou porque todo mundo usa, mas porque nao tens dinheiro para comprar as calcas fuseau que ha séculos namoras numa vitrina, nao tens como pagar as prestagdes da blusa em matelassé que viste anunciada numa PORTUGUES INSTRUMENTAL 65 66 revista. Uma pessoa nao € 0 que ela veste, Milene. Uma pessoa € a sua rou- pagem interior, que nao se mede por griffes ou modelos. E isso de freqiientares a biblioteca aos sébados e domingos, em busca dos livros que prezas mas que nao podes te presentear, te digo, Milene, € um programa infinitamente mais belo e inteligente do que o cinzento fim de se- mana sem idéias em que milhares de pessoas bem postas na vida homiziam o seu tédio. Nao deixes também que fira tua tenra sensibilidade a inconstancia desse Jodo - vamos chamé-lo assim - que te langava antes uns olhares com- pridos, sonhadores, que te despertaram amor, e que agora, toda noite, vai buscar de moto nao a ti, mas aquela tua colega que nao usa 6culos e que j4 foi tua melhor amiga. Se Joao nao foi feito para ti, tanto pior para Joao. Nao sofras por ele, Milene. Algum dia, te surgird talvez um Carlos e nao dard a-menor para a espessura de tuas lentes e te raptaré numa flamante Harley-Davidson para que juntos percorram rotas de paixdo. Tudo se resolve, Milene, tudo tem remédio. Algum dia, j4 doutora, comprards teu aparelho de som e€ ouvirds todas as fitas e discos que hoje escutas, clandestina, nas cabines das lojas, para di- zer ao final A vendedora impaciente que nao gostaste de nenhum, que nao era bem aquilo que estavas procurando. Algum dia, j4 doutora, entrards para a tua aula de jazz, ornarés teus bracos de pulseiras, farés quem sabe aquela viagem ao Tahiti em busca da es- quecida tela de Gauguin que imaginas estar escondida de museus, marchands, colecionadores, numa cabana a beira de uma fonte. Basta esperar que tudo se resolve, Milene. Em tudo da-se um jeito. Terds, doutora, todos os livros de teu afeto, todas as blusas em matelassé, to- das as calgas fuseau. E liberta, disponivel, ainda ter4s por acréscimo 0 amor de algum Carlos, por infinitas noites sem outras aulas que as dos mistérios da entrega e posse. Tudo se resolve, tudo tem remédio. Ou quase tudo. Pois comoveu-me aquilo da parede de tijolos em que falaste quase distraidamente e¢ que € hoje toda a paisagem de teu quarto de moga. Porque se pudesse te devolveria ago- ra mesmo 0 riacho, as montanhas, o arvoredo do perdido sitio em que nas- ceste, todas aquelas coisas que foram feitas para teus olhos, Milene, e que a cidade grande te roubou. (CUNHA, Liberato Vieira da. A mulher de violeta. Porto Alegre: Tché, 1990, p.57-9) 2.2.7- Noticia Esportiva CASO RONALDINHO O Inferno astral vivido por Ronaldinho é conseqiiéncia de sua escala- ¢ao na Copa do Mundo. Segundo Massimo Moratti, presidente do Inter de DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZILBERKNOP. Milao, o craque jogou a Copa sem condigées e por isso agora nao consegue jogar. Moratti diz que o jogador chegou a4 Franga com os tendGes dos dois joe- hos inflamados. Segundo Moratti, Ronaldinho precisou de seis semanas para se recuperar fisica e emocionalmente do fracasso do Brasil. Moratti diz que dard apoio ao craque. (Jornal GLOBO, 28/01/99, p.44) 2.2.8- Noticia Policial MORTE DE PM Jovem recolhido 4 Febem R.A.F., 15 anos, ficard recolhido ao Centro de Jovens Adultos da Fun- dac&o Estadual do Bem Estar do Menor (Febem) até seu julgamento pela Vara da Infancia e da Juventude. R. esté envolvido no assassinato do PM Carlos José Covalski Fraga, 34 anos, ocorrido no inicio do més na Capital. O jovem foi apontado como matador por Joao Paulo Catio Fernandes Vargas, 18 anos. Os dois planejavam um assalto quando foram abordados pelo PM. R. teria acertado quatro tiros contra o PM, que revidou com cinco disparos no adolescente. O garoto foi hospitalizado e teve alta. (Zero Hora, 28/01/99, p.59) 2.2.9- Noticia Politica REGIMES CAMBIAIS O presidente do Banco Central, Chico Lopes, passou a maior parte do tempo de seu depoimento na Comissio de Assuntos Econdmicos do Senado tratando do regime cambial flutuante e relembrando a genialidade do Plano Real, desde o seu brilhante lancamento por André Lara Resende e Pérsio Ari- da até a hecatombe recente, produzida pela atual equipe econdmica, onde a sua estrela brilha. O debate foi fraco e a aprovacao burocratica. (O Globo, 28/01/99. p.4) PORTUGUES INSTRUMENTAL 67 68 2.2.10- Antincio Econémico Vende-se excelente ponto comercial, 4rea: 440 metros — localizacgao: a mais central possivel. Quase esquina Andradas. Prego de oportunidade e ne- g6cio imediato. Tratar: Vigdrio José Inacio, ... 2.2.11 - Propagandas palizamas o sonho dé toda economista, Aiteramas oa cambio sem desvalorizar o seu dinheiro. DILETA Sit VEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR Zi BERKNOP Qornal do Brasil — 15/11/98 — Ano 23, n21176.) PORTUGUES INSTRUMENTAL 69 TIRE q 2.2.12 - Crénica Literaria (Andncio) ESSE . PEQUENOS ANUNCIOS™ , PESO DO = Ajudante de cozinha precisa de ajudante de ajudante de cozinha. SEU = Precisa-se de empregada; tem janela no quarto. _ Precisa-se de empregada competente e amante da limpeza para cozi- 4 nhar, lavar, copeirar, passar, engomar, cuidar das criancas, servir de enfer- : SORRISO | a meira a senhor idoso paralitico, regar o jardim, fazer a faxina didria e demais : -_ servicos leves. 4 , 4 Apartamento muito pequeno precisa de cozinheira nas mesmas condigoes. : 4 Cavalheiro fino, mas teso, casa-se com moga grossa, mas rica. -_. Churrascaria precisa garcom pratica pista de atletismo. Paulo Mendes Campos : = Casal educado na Europa quer empregada que saiba apreciar uma boa ) =. conversag4o em inglés ou francés. _: Desiludido urbano troca carrinho de mao por carroga de burro. . 4 Compro sepultura urgente motivo satide. = Vitvo vende barato televisio motivos 6bvios. Cartomante lé passado, presente e futuro de funcionario publico. Precisa-se urgente de colocador de pronomes. Precisa-se capitao rico para infantil de futebol pobre. Arrenda-se tenda espirita com clientela do outro mundo. 2.2.13 - Carta Comercial Porto Alegre, 20 de maio de 1998 | a Senhores SSS ese bet J. MORAIS & IRMAO eee Eten nova tere come | Av. Farrapos, ... LIGHT, “Seen. N/CAPITAL Pkfia BALES Senhores: HiperLiah!. | BARA PIPENME TRE EIS Conforme entendimento anteriormente mantido com V. S*, formalizo, pela presente, o pedido do meu afastamento de sua empresa, visto ter decor- , rido o prazo legal de trinta dias. 0 Apud NUNES, Amaro Ventura, LEITE, Roberto A. Soares. Comunicugdo expressdo em lingua nacio- nal. Séo Paulo: Ed. Nacional, 1973, p.197. 71 0 DILETA SH VEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZILBERKNOP PORTUGUES INSTRUMENTAL Confirmo a V. S** que a minha atitude se prende a motivo de ordem estritamente particular, nada havendo contra a firma ou seus diretores, de quem sempre obtive a maxima consideragao. Mais uma vez, reitero meus agradecimentos pela confianga merecida. Atenciosamente Pedro Silva 2.2.14- Carta Literaria (Modelo Comercial) Prezada Senhorita: Tenho a honra de comunicar a V.S® que resolvi, de acordo com o que foi conversado com seu ilustre progenitor, o tabeliao juramentado Francisco Guedes, estabelecido a Rua da Praia n° 632, dar por encerrados nossos enten- dimentos de noivado. Como passei a ser 0 contabilista-chefe dos Armazéns Penalva, conceituada firma desta praca, nado me restara, em face dos novos e pesados encargos, tempo util para os deveres conjugais. Outrossim, participo que vou continuar trabalhando no varejo da man- cebia, como vinha fazendo desde que me formei em contabilidade em 17 de maio de 1932, em solenidade presidida pelo Exm? Sr. Presidente do Estado e outras autoridades civis e militares, bem assim como representantes da Asso- ciacdo de Varejistas e da Sociedade Cultural e Recreativa José de Alencar. Sem mais, creia-me de V. S°, patricio e admirador. (CARVALHO, José Candido de. Porque Lula Bergantim ndo atravessou o Rubicon, Rio de Janeiro: José Olympio, 1971, p.14-5) 2.2.15- Carta Literaria Veja, na pagina 56, a carta de Jorge Amado. * Numa reportagem policial ou noticia politica, o autor tem a in- tengao de informar o leitor a respeito de tal ou qual fato ocorrido na- quela esfera. Ele (com raras excecdes) nao tem preocupagdes com forma literaria, estilo, etc. Escreve de forma jornalistica, objetivando informac¢ao, clareza, concisao. 72 DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZILBERKNOP. JA a croénica esportiva pode ou n4o ter essa preocupac¢ao, trazen- do, as vezes, certo estilo pessoal. Por outro lado, na cr6nica literdria, nao obstante o autor geralmente ser pressionado pelo cotidiano (e, muitas vezes, escrever em 6rgaos de imprensa), ha a preocupa¢ao da forma, do estilo; esse é simples, mas peculiar. Ha o emprego de figu- ras de estilo. Predominam a conotagao e o subjetivismo. ‘, O que se disse com relagao a reportagem esportiva, ajusta-se a bula, a receita de Helena Sangirardi, ao antincio econémico e a carta comercial. Aqui o objetivo primordial é a comunicagao direta, sem rodeios. Para o farmacéutico, o que interessa é que o decodificador en- tenda a mensagem, sabendo como administrar 0 medicamento. Quanto a receita culindria, acontece a mesma coisa: 0 decodifi- cador (cozinheira) precisa receber a mensagem com clareza, para po- der executa-la. Referentemente ao antincio econémico, 0 que o proponente do negécio quer € vender o ponto comercial. Portanto: linguagem sim- ples, direta e objetiva. Ja na carta comercial, hd uma linguagem, de certa forma, estereo- -fipada, e o uso de termos alheios ao repert6rio comercial "atrapalharia" a-decodificagio da mensagem. E preciso seguir, mais ou menos, uma "formula", com termos j4 conhecidos no ambito comercial, para que a mesma seja bem decodificada. Por outro lado, examinando as propagandas, ha ou ndo ha uma grande dose de imaginacdo e, conseqiientemente, criatividade na pu- licidade moderna? _ _Em relagiio as receitas de Vinicius e de Helena Sangirardi, 0 que ‘faz com que somente a primeira seja poética? Como se pode ver, 0 que as diferencia, nao é propriamente o que se diz, mas como se diz. Isso posto, podemos dizer que, dos textos examinados, ‘possuem originalidade e criatividade e MAO oO possuem. PORTUGUES INSTRUMENTAL 73 Com relag4o ao texto literdrio, podemos dizer que ele apresenta diversas caracteristicas, entre elas, uma maneira original de penetrar a realidade, um modo bonito e diferente de dizer as coisas. O texto lite- rario tem beleza, ritmo e foge ao lugar comum. Por outro lado, no texto literario, ha, muitas vezes, como ja se disse, o desrespeito 4 norma gramatical. Isso se deve ao impulso ex- pressivo e 4 intengao estética. Logo, o erro estilistico néo se confunde com o erro gramatical puro, que se caracteriza por um desvio 4 gra- miatica, sem qualquer intencdo estética ou imposig¢ao estilistica. Quanto a beleza do texto literario, quando o poeta diz isto: "Assim a lenda se escorre A entrar na realidade.... " (Fernando Pessoa) O nao-poeta diria, por exemplo, assim: Assim termina a lenda, ja que enfrentamos a realidade. 23-0 ESTILO COM RELACAO AO CONTEXTO Quanto ao contexto, o estilo pode ser: © literdario; e nao-literdrio. 23.1 O Estilo Literario Predominam a conotacfo e a subjetividade. ~ 232-0 Estilo Nao-Literdrio Pode predominar a subjetividade, ndo havendo, geralmente, preo- cupagao com a criatividade. No estilo ndo-literdrio, destacamos os textos técnicos, onde devem predominar a denotacdo, a objetividade, a 74 DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZILBERKNOP simplicidade, a formalidade, a impessoalidade, a precisdo, a clareza, a concis4o, a cortesia, a coeréncia e a harmonia (ver qualidades do esti- lo, p.75-79). A propésito, Othon M. Garcia diz: "A descrigao técnica deve es- clarecer, convencendo; a literaria deve impressionar, agradando. Uma traduz-se em objetividade; a outra sobrecarrega-se de tons afetivos. Uma é predominantemente denotativa; a outra, predominantemente conotativa." Assim, a descricgio que um perito em Medicina Legal faz da autépsia de um cadaver deve ser eminentemente objetiva e denotativa. A descricdo, porém, que um escritor faz de um pér-de-sol € geral- mente poética, subjetiva, conotativa. 2.4- QUALIDADES DO ESTILO Hoje, mais do que nunca, d4-se 4 comunicag4o o lugar mereci- do: principal veiculo de entendimento entre as pessoas. , Urge, portanto, comunicar-se bem. E, para atingir esse objetivo, € necessdrio que o estilo do comunicador possua uma série de requi- sitos, dentre os quais destacamos como mais importantes: 2.4.1- Harmonia Entende-se por mensagem harmoniosa aquela que é elegante, que soa bem aos nossos ouvidos. Muitos fatores prejudicam a harmonia, tais como: © Aliteragao A aliteragdo consiste na repeti¢ao do mesmo fonema. Sendo um recurso estilistico de belo efeito na composi¢ao literaria, nio soa bem 40s Ouvidos num tipo de redacdo mais formal. Na certeza de que seria bem sucedido, o sucessor fez a seguinte assergdo: ... (aliteragao do fonema /s/). PORTUGUES INSTRUMENTAL 7 5 e Emenda de vogais (ou hiatismo) Obedege a qutoridade. e Cacofonia Na vez passada, agimos diferente. uy e Rima A rima, embora seja um bom recurso literario, é inaceitavel numa redacao oficial. O diretor chamou, com muita dor, 0 assessor, dizendo-lhe que, embora reco- nhecendo ser o mesmo trabalhador, nao lhe poderia fazer esse favor. e Repeticao de palavras A exemplo de alguns itens supracitados, a redundancia, quando enfatica, é um excelente recurso estilistico. E 0 caso da publicidade: "Viaje bem. Viaje VASP." Entretanto, num texto nao-literario, a repetigdo inadvertida de termos é geralmente deselegante. anree O presidente da Cia. de Seguros é primo do presidente daquela empresa sen- do um presidente muito ativo. © Excesso de “que” O excesso de "que" confere ao periodo um estilo arrastado a que se denomina acumulamento. Além de deselegante, demonstra que o autor nao conhece bem o manejo do idioma quanto 4 substituigao das oragdes desenvolvidas por expresses equivalentes. Exemplo} Solicitei-lhe gue me remetesse a mercadoria gue me prometera a fim de que eu pudesse saldar os compromissos que tinha assumido. 7 6 DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZILBERKNOP 2.4.2- Clareza Para que a comunicagao se faga clara, € preciso que o pensa- mento de quem comunica também seja claro. Portanto, de uma cabeca confusa, com idéias emaranhadas, sera praticamente impossivel brotar uma mensagem clara. Outros fatores que poderao concorrer para uma comunica¢ao imperfeita sio: pontuacdo incorreta, ma disposi¢aéo das palavras na frase, omissdo de alguns termos (principalmente pronomes), impreci- sio vocabular, excesso de intercalagées, ambigiiidade causada pelos pronomes possessivos, relativos, etc. S6 para vermos o que séo mensagens defeituosas, daremos, a seguir, alguns exemplos: a) Eu, parece-me que 0 rapaz que eu fui ao escritério dele na semana passa- da, é fa ardoroso do Flamengo (pensamento confuso, idéias desordenadas). b) Perdoas? Nao discordo. Perdoas? N&o! Discordo. (mudanga de sentido, através da mudanca de pontuag4o). c) Vendem-se cobertores para casal de 14 (ma disposigao das palavras na frase). d) O velhinho tomou aquele remédio dentro do vidrinho (ma disposig&o das palavras na frase). €) Precisa-se de baba para cuidar de crianga de 17 a 25 anos (mA disposicg&o das palavras na frase). f) Estamos liquidando pijamas para homens brancos (ma disposigdo das pala- vras na frase). g) Escutei algo a respeito do envenenamento da mulher sentada no banco da praga (ma disposigdo das palavras na frase). h) A ordem do ministro que veio de Brasilia... (ambigiiidade do pronome rela- tivo que). i) Subindo a serra, avistei varios animais (ambigiiidade provocada pelo ge- Tundio: quem subia?) J) Eu noivaria com vocé, Verinha, se tivesse um pouco de dinheiro (ambi- gilidade ocasionada por omiss&o de termos; eu ou vocé?). PORTUGUES INSTRUMENTAL 77 1) Ele pensava no antigo amor e julgava que a sua agressividade teria con- tribuido para o término do romance (ambigtiidade ocasionada pelo em- prego de um pronome que é valido tanto para "ele" como para "ela"; dele ou dela?). m) Aquele sujeito foi prescrito de sua Patria (imprecisaéo vocabular pela con- fusao dos termos prescrito e proscrito). n) O leite, que é um alimento precioso para a satide, e esta, uma dadiva divi- na, deve ser ingerido apés sofrer 0 processo de pasteurizag4o, que o imu- niza contra diversas infecgdes (excesso de intercalagées. Ver explicagdes sobre concisdo, a seguir). 2.4.3- Concisao Numa época como a nossa, em que a rapidez e a praticidade de- vem imperar, é necessdrio que a comunicac4o seja lingtiisticamente econdmica. Entende-se por mensagem concisa, pois, aquela redigida com poucas palavras, comunicando apenas o essencial e desprezando as explicagdes 6bvias e/ou nao-pertinentes. Dessa forma, temos a dizer que, por primar pela economia de palavras, a seguinte informacao é concisa: O nimero cada vez maior de separagdes tem alarmado as autoridades governamentais. Se disséssemos essa mesma frase, porém acrescentando-lhe uma carga informativa desnecessdria, uma série de termos intteis que, por s6 enfeitarem, sao plenamente dispensdveis, terfiamos um estilo proli- xo e no conciso. A partir deste século, o nimero cada vez maior e, por isso mesmo, mais alarmante de separagées, flagelo irrecuperavel da familia moderna, tem alarmado as autoridades governamentais, guardias perenes do bem-estar social, principalmente pelas seqiielas traumatizantes produzidas nos filhos e pela de- cadéncia moral da sociedade, tendo em vista ser a familia 0 esteio e a célula- mater dessa mesma sociedade. 78 DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLUAR ZILBERKNOP Analisaremos, a seguir, por que o texto acima contém muitas afirmagoes desnecessarias: a) A partir deste século - expressdo desnecessaria, porque nao estamos historiando o fato. O nosso objetivo é dizer que isso preocupa alguém. b) ... e, por isso mesmo, mais alarmante ... - expresso desne- cessdria, porque, logo a seguir, se fala sobre isso. c) ... flagelo irrecuperdvel da familia moderna ... - expressio de mau gosto, desnecessdria, porque vazia de conteido e com dois ter- mos supérfluos: irrecuperavel (sendo um flagelo, jd n&o se pode espe- rar qualquer recuperacao...) e moderna (se j4 foi dito que é a partir deste século, o termo "moderno” torna-se desnecessario). d) ... guardias perenes do bem-estar social ... - outra expresso chavo e deselegante, além de servir de explicagao desnecessaria. e) principalmente pelas seqiielas, etc. Aqui temos uma série de termos e explicagdes que s6 servem para encher papel; nao devem, portanto, ser escritas ou ditas. 2.4.4- Outras E evidente que as trés qualidades enunciadas, embora sejam as mais importantes, nao so as tinicas. Temos, também, como virtudes estilisticas, a correcao gramatical, a coesao e a coeréncia. PORTUGUES INSTRUMENTAL 79 _ EXERCICIOS © 80 Reformule os seguintes trechos, tendo em vista a clareza, a harmonia e a concisdo. A sugest&éo da mesa foi enviada aquela reuniao, por se constituir numa solicita- ¢4o de longa data daquela populagao. O contador, ao pér o projetor na mesa, sentiu uma dor profunda nas costas. Na vez passada, ela também se atrasou. E uma realidade tradicional ¢ costumeira que a diversdo popular - e ela abrange varias modalidades circunscritas a épocas ou regides diversas — geralmente é ofe- recida ao povo (podemos remontar 4 Roma Antiga),visando nao ao objetivo pre- cipuo da diversao (dar lazer a quem dele necessite), mas sim visando a uma alie- nagao dos seres pensantes 4 situagdo politica vigente, para que eles ndo pensem na fome, na miséria e na injustiga, suas companheiras de infortunio e dor. "Se buscamos amor em nossas vidas, nossos pensamentos devem ser pensamen- tos amorosos que, num ato amoroso, desenvolvem um cardter amoroso que nos dara um destino de amor". (Juan Carlos Kreimer). ca Logo que ela pensou que tinha sido aprovada, ficamos satisfeitos, porque, ainda que passasse com algumas deficiéncias, seria um gasto a menos que terfamos no ano seguinte. DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZILBERKNOP Gostei das atitudes dos alunos que o diretor elogiou. oo Pago R$ 200,00 por cada. 9. Solicitou a Nestor que lhe enviasse os seus relatérios. 10. Vendia meias para a freguesia de baixa qualidade. 11. Pensando que ela chegaria cedo saiu a procura de flores. om 12.A ser realidade que a tua amiga 4 facilidade de permanecer estudando no Brasil prefere a chance de, apesar de isso te causar sofrimento, tentar uma bolsa que sa- bemos incerta para a Franga, deves acatar a sua decisdo. .13.A Histéria registra fatos injustos, como os operdrios que, no inicio do século, trabalhavam diuturnamente por algumas migalhas de po, o que os prostituia como seres humanos. PORTUGUES INSTRUMENTAL 8 1 2.5- CRIATIVIDADE E NAO-CRIATIVIDADE Um texto, para que tenha valor, deve ser bem feito. Uma das coisas que concorrem para que ele seja realmente bom € uma grande dose de criatividade. Comecemos por um exemplo da pintura. Em todas as épocas, ti- vemos bons e maus pintores. No entanto, valor real tiveram aqueles que trouxeram algo de novo para a historia da pintura. Por sua coragem em apresentar a realidade de modo diferente (além de dominar a técnica da pintura), Picasso foi grande. O mesmo nao se pode dizer de um pintor que copie impecavel- mente a obra de Miguel Angelo ou da Vinci. Por mais seguranca que ele tenha em suas pinceladas, nfo esté criando nem acrescentando nada de novo para a histéria da humanidade. O que ele faz ja foi feito; portanto, nao tem valor. Esse exemplo serve para todas as artes. Em literatura, é a mesma coisa. Machado de Assis ou Eca de Queirdés escreveram de maneira incomum. Mas alguém que os imitasse hoje demonstraria nao estar inserido em sua €poca. O individuo, ao escrever, deve fugir aos lugares-comuns, as fra- ses feitas. As figuras de estilo originais sio recursos riquissimos quando se elabora um texto, mas as express6es muito usadas tornam-se velhas e cansadas, estereotipando-se sob a forma de clichés. Os olhos séo 0 espelho da alma; estévamos no coragdo da mata; o luar pra- teado banhava a estrada solitdria; havia um siléncio sepulcral naquele lugar; o mar beijava a areia; estd em festa o lar do Sr. Fulano de Tal pelo nasci- mento de...; irrepardvel perda, inserido no contexto, a quem interessar pos- sa, mde extremosa, etc. Usa-los, num texto, significa diminuir a forga expressiva do mesmo. Alias, Rodrigues Lapa diz que o cliché é a "muleta ridicula de preguicosos”."! " RODRIGUES, Lapa. Estilistica da Lingua Portuguesa, p.72. 8 2 DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZILBERKNOP Aqui damos alguns exemplos de figuras de rara beleza usadas por alguns de nossos poetas e escritores que partiram de sua propria experiéncia, n&o se apoiando em coisas feitas: “Fecha-se a pdlpebra do dia". (Raimundo Correia) "Colombo! fecha a porta dos teus mares". (Castro Alves) "Quando um bombeiro de cima do telhado conseguiu sufocar uma ni- nhada de labaredas defronte dele..." (Aluisio Azevedo) "...tomar pileques de gldria..." (Carlos Drummond de Andrade) “,..0S sons se abracam..." (Carlos Drummond de Andrade) PORTUGUES INSTRUMENTAL 83 Capitulo 3 3.1- ESTRUTURA FRASAL Numa redac4o, seja descritiva, narrativa ou dissertativa, a es- trutura frasal € o ponto-chave da feigdo estilistica. Nao se pode pres- cindir de uma correta elaboracdo, em termos de estrutura sintatica e sua correlacao légica com 0 estilo, sem que o contexto apresente cla- reza, concisao e harmonia (ver qualidades do estilo p.75-79). 3.2- CONCEITO DE FRASE Frase é, pois, "todo enunciado suficiente por si mesmo para es- tabelecer comunica¢ao".”” 3.3- ORACAO - . A oragdo encerra uma frase (ou segmento de frase), varias fra- ses ou um periodo, completando um pensamento e concluindo o enun- ciado através de ponto final, interrogacgado, exclamagao e, em alguns casos, através de reticéncias. © GARCIA, Othon M. op. cit., p.7. 84 DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZILBERKNOP 3.4- TIPOS DE FRASE 3.4.1 - Classificagao Tradicional Tradicionalmente, as frases sao classificadas da seguinte forma: 3.4.1.1- Frase Interrogativa E aquela, através da qual, se pergunta algo, direta ou indireta- mente. 3.4. 1.1.1- Frase Interrogativa Direta Com ponto de interrogacao. Que horas sao? Por que chegaste tao tarde? Como vais? 3.4.1.1.2~ Frase Interrogativa Indireta Sem ponto de interrogacao. Gostaria de saber que horas sdo. Perguntou-me quando vinha. 3.4.1.2— Frase Declarativa E aquela, através da qual, se enuncia algo, de forma afirmativa ou negativa. 3.4.1.2.1- Frase Declarativa Afirmativa Deus é bom. Paulo parece inteligente. PORTUGUES INSTRUMENTAL 85 3.4.1.2.2- Frase Declarativa Negativa N§o gosto de pessoas mal-educadas. Nunca te esquecerei. Classifique as seguintes frases, de acordo com 0 método tradicional: 1. Que sala suja! 3.4.1.3- Frase Imperativa - Z : ia volta! E aquela, através da qual, expressamos uma ordem, pedido ou 2. Meia suplica, de forma afirmativa ou negativa. Tende piedade de nés! (afirmativa) Levanta-te! (afirmativa) NAo corra, nao mate, nao morra. (negativa) Nao cometa imprudéncias. (negativa) _ Tracema foi a heroina de Alencar. . Almejo que tenhas sucesso. 3.4.1.4- Frase Optativa E aquela, através da qual, se exprime um desejo. Desejo que sejas muito feliz. Bons ventos te levem! 5. Gostaria de saber se ela voltard. . Que a deixe, por qué? 3.4.1.5- Frase Exclamativa E aquela, através da qual, externamos uma admiragao. . Nada me convence. Que calor! Bem teito! . Nao espere muito de mim. OBSERVACAO Para fins de reconhecimento, é didaticamente aconselhavel, na classifica- gao das frases, seguir a ordem em que as mesmas foram apresentadas neste capitulo. 1. Interrogativa 2. Declarativa 3. Imperativa 4. Optativa 5. Exclamativa 9. Lindo! 10. Boa viagem! PORTUGUES INSTRUMENTAL 8 7 86 DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZILBERKNOP 3.4.2 - Classificagao do Professor Othon M. Garcia No livro do Prof. Othon Garcia Comunicacgdo em prosa moder- na, as frases so classificadas, fugindo 4s considerac6es tradicionais. Assim nos deparamos com uma terminologia tnusitada e criativa: fra- se de situagéo, frase nominal, frase de arrastéo, frase entrecortada, frase de ladainha, frase labirintica, frase fragmentaria, frase ca6tica e frase parentética. Sao padrées validos na linguagem moderna, embora nem sem- pre passiveis de uma classificacio sintatica. Sua fungao restringe-se 4 feicdo estilistica, e, se mal emprega- das, poderdo até vulgarizar o estilo. O uso dessas frases é recomen- dado a quem realmente exercita a lingua com facilidade. 3.4.2.1~ Frase de Situacao Nem sempre, no contexto da lingua escrita ou na lingua falada, os termos essenciais da oragdo estao presentes. Quando isso acontece, diz-se que estamos frente a uma frase de situacao. Que calor! Contramao. Que susto! Otimo! Expresses como essas sao integralmente gramaticalizadas (Esta rua é contramdo), baseadas no ambiente onde sfo emitidas e, s6 assim, assumem feic¢ao de frase (aspecto sintatico). 3.4.2.2- Frase Nominal ~ E constituida apenas por nomes sem a presenga do verbo que in- dique a agao do sujeito. "Muito riso, pouco siso". 88 DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZILBERKNOP 3.4.2.3- Frase de Arrastao As oracdes sucedem-se sem uma correlagdo expressa entre elas. Ea frase utilizada na linguagem infantil e na das pessoas incultas ou imaturas. Enta&o me levantei e me vesti e ai tomei café e entao fui trabalhar. Mas acon- tece que era feriado. E daf voltei para casa e ent4o fui descansar. 3.4.2.4— Frase Entrecortada ou Picadinha Frase breve, incisiva, geralmente constitufda por oracGes coor- denadas. Esse tipo de frase € muito comum no discurso indireto livre. Exemplos O cranio seco comprimiu-se. Do olho amarelado, escorreu um liquido ténue. A boca tremeu, mas nada disse. Sentia-se cansado. (Victor Giudice) Parece orgulhoso e mesquinho. Nao sé parece. E. 3.4.2.5~ Frase de Ladainha Usada mais na linguagem coloquial; introduz oragdes coordena- ‘ das ligadas por "e"” ou subordinadas, que nao sejam adjetivas, introdu- zidas por “que”. "\.e era uma tarde meio cdlida e meio cinza e meio dourada e estavamos ale- gres e o vento desenrolava nossos cabelos e o ciciante mar estava da cor de um sabre..." (José Carlos Oliveira, apud Othon M. Garcia. op. cit. p.91) “Mais tarde, nao sei se sonhei ou se pensei realmente que os avides nao cafam no meio das ruas, e que as ruas nao eram desertos, e que os portdes brancos de quartéis nao eram oasis". (Caio Fernando Abreu) PORTUGUES INSTRUMENTAL 89 3.4.2.6~ Frase Labirintica ou Centopéica Frase confusa, sem clareza, periodo repetitivo, prolixo. SAo exem- plos as frases usadas pelos escritores dos séculos XVI e XVII, como Vieira e outros barrocos. Coe, "Mas também a vossa sabedoria e a experiéncia de todos os séculos nos tém ensinado que depois de Ado nao criastes homens de novo, que vos servis dos que tendes neste Mundo e que nunca admitis os menos bons, sendo em falta dos melhores”. (Vieira) 3.4.2.7- Frase Fragmentaria Varias orages que se interligam sem sentido completo, forman- do um contexto. Isso acontece quando as oragées subordinadas se desligam da principal, ou quando os adjuntos, apostos e complemen- tos se separam da express&o a que pertencem. Ha muito que ele se sentia doente. Doenca cruel. Ela o agredia sempre. Embora ndo houvesse motivos para isso. 3.4.2.8- Frase Caotica Livre, fluente, sem racionalizar, como se o narrador, através do fluxo de consciéncia, pusesse, as claras, seus mais {ntimos sentimentos. Muito usada pelos modernos escritores que utilizam a frase catica para seus mondlogos interiores (reproducdo da fala e do pensamento da personagem). Exemploy “Marcos olhou para cima. As galerias reservadas As mulheres estavam escu- Tas. Vazias. Mas - e a sombra que ali se movia? E os suspiros que dali se ou- viam? E os solucos? E 0 vento que sopra pelas frinchas do velho telhado? E mesmo o vento? Nao sao suspiros? E é a 4gua que gorgoleja nas calhas? £ mesmo agua? Nao é o choro de alguém?" (Moacyr Scliar) 90 DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCUAR Zit BERKNOP 3.4.2.9- Frase Parentética E formada por oragées justapostas e que nao pertencem inte- gralmente ao sentido l6gico do perfodo (s40 usadas para explicar, es- clarecer, citar, advertir, opinar, exortar, ressalvar e permitir). eae Foi em outubro, se ndo me falha a memoria, que nos conhecemos. Euma tristeza — livrai-nos, Deus! — 0 que eles fizeram! OBSERVACAO — - A classificag&o feita a partir da frase de arrast4éo nao é uma casiiagto | sintatica, mas sim estilistica. PORTUGUES INSTRUMENTAL 91 Identificar as frases que seguem de acordo com o presente estudo: 1. Em 1974 — isso ecorreu num dia chuvoso — perdi uma das minhas maiores amigas. 3. Dia de muito, véspera de nada. 4. ”...e tudo era musicalidade, e tudo de certo modo era triste como ficam tristes as coisas no momento mais agudo de felicidade e nds vimos sobre uma duna as freiras e eram cinco freiras que usam chapeuzinho com uma borla ou bordado branco e vestido marrom e eram cinco freiras alegres..." (José Carlos de Oliveira) 5, Ele quase morreu. De tédio. 6. Acordei feliz. O dia estava bonito. Tudo sorria para mim. 7. "E coisa tao natural o responder, que até os penhascos duros respondem e para as vozes tém eco. Pelo contrario, é tio grande violéncia ndo responder, que aos que nasceram mudos fez a natureza também surdos, porque, se ouvissem e nao pu- dessem responder, rebentariam de dor". (Vieira) 92 DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZILBERKNOP. g. O povo gaticho pode orgulhar-se de seu passado. Passado de lutas, passado de glérias. Decorréncia do arrojo e da coragem de seus filhos. -g. Sim, era possivel que aquele homem me tivesse encontrado por casualidade. Por acaso, nao havia ele se encontrado a cle mesmo, por casualidade? 10. “Comiamos, € verdade, mas era um comer virgulado de palavrinhas doces." (Machado de Assis) ~ 11. E af ela veio me avisar que irfamos sair e entéo me arrumei, mas af choveu muito e eu fiquei em casa. 12. A natureza desabrochava. Flores coloridas entreabriam-se. Passaros trinavam. Era primavera. PORTUGUES INSTRUMENTAL 9 3 oo Tipos de Disc : rso 4.1- DISCURSO DIRETO Caracteristicas: a) Fala visivel dos interlocutores ou das personagens. b) Geralmente, um verbo "dicendi” (dizer, responder, afirmar, indagar, per- guntar, ctc.). ¢) Na falta do verbo “dicendi", um recurso de pontuagio: dois pontos, tra- vessao, aspas ou mudanga de linha. fours Encontrei-me com ele um dia. O olhar estava distante, distante. Ai, ele falou: ~ Puxa, velho, bem que hoje o dia esta especial para matar o servico... Como se vé, todas as caracteristicas estio presentes nesse exem- plo, a saber: 94 a) Fala visivel‘da personagem: — Puxa, velho, bem que hoje o dia est4 espe- cial para matar o servico... b) Verbo "dicendi”: falou c) Recursos de pontuagdo: dois pontos, travessdo. 4.2- DISCURSO INDIRETO Caracteristicas: a) Fala nao-visivel das personagens, mas informada pelo narrador (numa oragao subordinada substantiva). DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZH BERKNOP. b) Verbo “dicendi”. c) Geralmente terceira pessoa na oragao subordinada substantiva. OBSERVACAO. No que respeita a este ultimo item, usar-se-a a 1* ou a 2° pessoa quando o narrador relatar um fato referente ou a si prdprio ou ao seu interlocutor. Exemplos| Ai, ele pediu que eu fosse 1a. Af, ele pediu que tu fosses 14. Encontrei-me com ele um dia. O olhar estava distante, distante. Af, ele falou que aquele dia estava especial para matar o servigo. Aqui também todas as caracteristicas estado presentes, a saber: a) Fala nao-visivel: o sujeito nado fala realmente, mas 0 que diz é informado pelo narrador do discurso. b) Verbo "dicendi": falou. c) Ver mudangas: hoje o dia — aquele dia; esta (presente indicativo) > estava Cimperf. indic.). d) Oragao subordinada substantiva: "que aquele dia estava especial...", intro- duzida por um elemento de ligag&o (no caso, a conjunc4o "que"). 4.3- DISCURSO INDIRETO LIVRE OU SEMI-INDIRETO Caracteristicas: a) Auséncia do verbo “dicendi", dois pontos, travessdo ou aspas. b) Fala ndo-visivel das personagens, cuja voz parece mesclar-se com a do narrador, mas, no fundo, é a personagem que surge sub-repticiamente, c) Perfodos livres (sem elo subordinativo). Sire Encontrei-me com ele um dia. O olhar estava distante, distante. Dia especial para matar o servico... Realmente, nesse exemplo, nao hd verbo "dicendi" nem ele- Mentos de ligac4o (conetivos). A fala da personagem nao aparece cla- PORTUGUES INSTRUMENTAL 95 ramente, mas surge de modo sub-repticio, confundindo-se com a do narrador. NA TRANSPOSICAO DO DISCURSO DIRETO PARA O INDIRETO, OBSERVE O SEGUINTE: DD DI Eu, me, mim, comigo Ele (ela), se, 0, a, lhe, si, consigo Pron. Nos, nos, conosco | => Eles (elas), os, as, lhes Pres. ind. =| ———~__________-_ I mperf. ind. Perf.ind.._.|§ ~~ Mais-que-perf. ind. Fut. do pres. ——_———-_________ Fut. do pret. ind. Pres. subj. Fut. subj... |] >_> I mperf. subj. Imperat. Este, esta, isto ———~_____—-® Aquele, aquela, aquilo Aqui, ca TOTO PAL, 14 Agora, hoje TT Naquela ocasiao, Naquele dia, etc. EXEMPLOS DE TRANSPOSICAO DO DISCURSO DIRETO PARA O DISCURSO INDIRETO. DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO 1. A professora disse-lhe: A professora disse-lhe gue ela 0 conhecia. - Eu o conhego. 2. Apontou para a casa e falou: Apontou para a casa e falou que aquilo ali - Isto aqui é uma construgao forte. | era uma construcio forte. 3. Lauro langou-lhe um olhar severo,| Lauro langou-lhe um olhar severo, pe- pedindo: dindo gue parasse com aquelas brinca- ~ Pare com estas brincadciras! deiras. 96 DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZILBERKNOP Transforme o DD (discurso direto) em DI (discurso indireto): A estas horas, a senhora ja saiu, disse 0 rapaz, olhando-a ternamente. . O marido perguntou: — Vocé promete que algum dia me fard feliz? . Odiretor falou: — Preciso, neste dia, de muito dinheiro. Aqui, sou Rafael, o miliondrio, disse alegremente. . Nio achas melhor tirar esse poncho? - perguntou-lhe Rodrigo. . Ela esclareceu: — Nao estou pronta ainda, nem banho tomei... PorTuGUEs INSTRUMENTAL 97 10. 98 Mariazinha exclamou: — Juntei as pontas das trangas, uni-as por um laco de fita, pintei os olhos e, ago- ra, como jd estou pronta, podemos ir para a festa. Sacudiu a cabega, lamentando: — Como a Corina é infeliz, trabalhando para essa gente! . E ainda acrescentou: ~ Se eu for convidada para esta excursdo, ficaret muito contente. Como Paulinho estava impossivel, a mie lhe pediu: — Sossega, meu filho, porque eu jd estou com dor de cabeca! DILETA SILVEIRA MARTINS / LUBIA SCLIAR ZILBERKNOP Capitulo 5 5.1- APRESENTACAO O pardgrafo é uma unidade redacional. Serve para dividir 0 texto (que é um todo) em partes menores, tendo em vista os diversos enfoques. . Quando se muda o paragrafo, nao se muda o assunto. O assunto, | a rigor, deve ser o mesmo, do principio ao fim da redacao. A aborda- gem, porém, pode mudar. E é aqui que o pardgrafo entra em acio. A cada novo enfoque, a cada nova abordagem, haverd novo pardgrafo. Formalmente, o paragrafo é indicado através da mudanga de li- nha e de um afastamento da margem esquerda. ‘ Funcionalmente, a compreens4o da estrutura do pardgrafo é o melhor caminho para a segura compreensao do texto. : Treinar 0 aluno a redigir paragrafos é treind-lo, também, a pro- f duzir bons textos referentemente a organizaciio das idéias e ao enca- deamento ldgico das mesmas. 5.2- DIVISAO O pardgrafo apresenta algumas partes bem distintas. Dentre elas, a mais importante é 0 tdpico frasal. Que é t6pico frasal? Tépico frasal é a idéia-nicleo extrafda, de maneira clara e con- Cisa, do interior do paragrafo. PORTUGUES INSTRUMENTAL 99

You might also like