You are on page 1of 31
© 2017 by Cliudia Borges Costa ~ Maria Margarida Machado © Dieitos de publicagio CORTEZ EDITORA Rua Monte Alegre, 1074 —Perdizes 05014-001 — Sio Paulo - SP “Fel. (11) 3864-0111 Fax: (L1) 3864-4290 cortez@cortezeditora.com.br www.cortezeditora.com.br Diregio Jost Xavier Cortez Editor ___ Amir Piedade Revisio Alessandra Biral Alexandre Ricarda da Cunha Viviane Carrijo_ Edicio de Arte __Mauricio Rindeika Seolin Iuscragio de capa Ansinio Carlos de Pédua Dados Internacionais de Catalogagio na Publicacio (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) | Costa, Claudia Borges | Politicas publicas e Educagao de Jovens e Aduitos no Brasil / Claudia Borges Costa, Maria Margarida Machado. - 1. ed. S40 Paulo: Cortez, 2017. ~ (Colegio Docéncia em Formagao: Educacdo de Jovens © Adultos / coordenagao Seima Garrido Pimenta) Bibliografia ISBN: 978-85-249-2579-5 1. Educagio 2. Educagdo de Jovens ¢ Adultos 3, Politicas educacionais 4. Politicas publicas ~ Brasil 5, Professores — Formagdo profissional 6. Sistema Nacional de Educagao |. Machado, Maria | Margarida. Il Titulo. II. Série. 17-08553 cpp-370.4 Indices para catélogo sistematico: 1. Educagao de Jovens ¢ Adultos: Politicas piiblicas: Educagio 370.1 Impresso no Brasil ~ serembro de 2017 Claudia Borges Costa Maria Margarida Machado Politicas publicas e Educacdo de Jovens e Adultos no Brasil eedigad 2017 Sse lil Refletindo o financiamento da EJA a partir dos programas federais Hideseldaaaaniees Para se compreender 0 que significou a de EJA por instituicoes participagio da Unido nos principais programas de eb mascots alfbetizagao ¢ na EJA, desde a promulgaciéo da Lei n. oferecéla, comoéocaso 9394/1996, cabe reconhecer, historicamente, 0 papel daexperiéneia do Progja. do Governo Federal no financiamento educacional para EJA, pois esse sempre teve o papel de orientacao e indugdo da politica, embora nao coubesse uma agédo direta do MEC na oferta de cursos de EJA, As principais acoes de campanhas de alfabetizagéo e escolarizacao de jovens e adultos contaram, direta ou indiretamente, com financiamento quase exclusivo da Unido, por exemplo, as campanhas apos a década de 1940 ¢ 0 Mobral do periodo da ditadura civil-militar; entretanto, as turmas eram de responsabilidade, Conferir Beisiegel (1974). como mobilizacao e execucdo das agées de Conferir Paiva (198i; alfabetizacdo, das secretarias de educagdo dos Estados e 1982a; 1982), dos municipios. Essa realidade chega ao final da década de 1990 e ultrapassa a virada do século, até os dias atuais. 110 _Rertenvoo o rixancramenro Da EJA A parrig Dos PROGRAMAS FEDERAIS Dados apresentados no documento brasilei- To preparatério para a VI Conferéncia Interna- cional de Educacio de Adultos mostram a exe- cu¢ao dos recursos da Uniéo em programas de alfabetizacdo e EJA, por meio da tabela seguinte (Brasil, 2009a, p. 22): Tabela 2 - Evolugdo da execugdo orgamentaria dos principais programas de alfabetizacdo e EJA no Nivel Fundamental (R$ milhées) valor real pido 2002 AVI Confintea, promovida pela Unesco, foi realizada pela primeira yez em um pais do Hemistéxio Sul, no Brasil, em dezembro de 2009, em Belém, Estado do Pars, PANES X01oY ap el0)5) rs Investimentosem oe | Programa Brasil Alfabetizacio mie Alfabetizado Solidaria 411 128 Investimentos em Educacao | Programa‘Recomeco | de Jovens e Adultos no Nivel Fundamental | Programa Fazendo Escola | 260| 380 193 | 168 a 339 |) Ap ae Fontes: Siafi Gerencial e Sigef. Uma constatagio evidente dos dados da tabela apresentada ¢ 0 crescimento continuo do investimento nas acées da alfabetizagao e EJA, no perfodo de 2001 a 2005. No entanto, para uma andlise de politica pitblica, outros dois elementos precisam ser considerados ines- ta tabela: primeiramente, o fato de os recursos executados até 2002 estarem exclusivamente destinados ao PAS, o que representava 0 repas- se do Governo Federal para uma tinica ONG Em 1998, o PAS deixa de ser uma agao especifica do Consclho da Comunidade Solidatie, érgi0 da Presidéncia da Republica, para se constituir em uma organizacao nao governamental: Associacao de Apoio ao Programa Alfabetizacio Solidéria (AAPAS), que passou a canalizar a quase totalidade dos recursos do MEC para a alfabetizacio de jovens ¢ adultos, via ENDE. 11 REFLETINDO 0 FINANCIAMENTO DA EJA A PARTIR DOS PROGRAMAS FEDERAIS responsavel pela aco de alfabetizacao no Pais; depois, a partir de 2003, a indicagao de que esse recurso passa a ser destinado a varios outros parcei- tos da sociedade civil, que apresentam projetos concorrendo aos recursos do PBA, e, a partir de 2007, os parceiros exclusivos do PBA passaram a ser os Estados ¢ municipios. Dados apresentados pela Secad, em publicacao especifica sobre a avaliac¢éo do Programa Brasil Alfabetizado, demonstram essa mudanga de posicéo do Governo Federal em relacdo aos repasses dos recursos do PBA, conforme o seguinte grifico (Brasil, 2006b, p. 54), que mostra a distribuicgo dos recursos por entidade beneficiada: Grdfico 1 - Distribuigdo de recursos federais para alfabetizagao de jovens e adultos, por ano e tipo de entidade 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% ics BH oncs 1 Estados BB Municipios | 20% 10% oe 2% 3% 2% 2002 2003 2004 2005 2006 Fonte: SBA O intenso debate sobre a pertinéncia, ou nao, da continuidade de convénios federais com entidades piblicas ¢ privadas sem fins lucrativos (leia-se, no caso da alfabetizagio, ONGs, Sistema S e JES), alimentado inclusive por questionamentos da Controladoria Geral da Uniao (CGU), resultard em resolug6es para definir a quem deve ser destinado o repasse de recursos dos programas federais. Portanto, o histérico de financia- mento federal das ages de alfabetizagao e EJA de 1996 aos dias atuais 112 Resveti 100 FINANCIAMENTO DA EJA A PARTIR Dos PROGRAMAS FEDERAIS auxilia na compreensao do lugar que essa modalidade vem ocupando na politica educacional do Pais. Nos marcos politicos, ha de se evidenciar o espago ocupado pela EJA na agenda dos governos. Dessa forma, tomar alguns programas pro- postos pelo poder puiblico e olhar sua proposta de financiamento, desde o final da década de 1990, é pertinente, refletindo e analisando seus li- mites e suas potencialidades de atuac4o e mediac4o na constituicao dessa modalidade como politica piiblica. 1. O foco em agées de alfabetizagao A marca mais significativa no imagindrio social da populacio brasileira, quando nos referimos 4 educac4o de jovens ¢ adultos, ainda é traté-la como alfabetizacao, por consequéncia do peso histérico das experiéncias relaciona- das ao Mobral ou ao ensino supletivo. Consequentemente, hd também nesse imagindrio uma ideia de que se fala de um residuo de adultos e idosos que no se escolarizou por motivos pessoais e, provavelmente, nao mais o fara. No entanto, a realidade nao é bem essa. Nem esses sujeitos da EJA sao residuais, nem cabe mais na realidade atual pensar que a reedicao de experiéncias como 0 Mobral ¢ o supletivo serao suficientes para enfrentar o problema da baixa esco- — Lancado oficialmente na abertura do Seminéio Nacional de Educagao de Jovens ¢ Adultos, realizado refletir sobre os programas que tiveram como foco a | em Natal (RN), em alfabetizacao do publico da EJA, partindo do fim da *stembre de 1996, quando : Brasil se preparava para década de 1990. responder a0 chamado Em termos de marcos legais e operacionais, paraa internacional e participa, no ano de 1997, da V : : Conferéncia Internacional ta de Ensino Fundamental para jovens e adultos como sobre Educagio de latizacéo da populagdo jover ¢ adulta do Pafs. Par- tindo dessa percep¢ao, considera-se necessario, entio, orientac4o que se distancia da efetiva garantia da ofer- politica ptiblica de Estado foi a ctiagio do Programa Adults (Confintes), em Alfabetizacao Solidaria (PAS). © PAS constituiu-se, Manbuseo, m2 Alemanha. 113 [REFLETINDO 0 FINANCIAMENTO Da EJA A PARTIR DOS PROGRAMAS FEDERAIS na condicao de programa oficial, como uma “A Comunidade Soliditia significa um noyo modelo deamacio social baseado munidade Solidéria, érgio criado pelo Gover- no principio daparcetia. 9 Federal, desde 1995, tendo como papel a Somando esforgos dentro de ‘um espirito de solidariedade, governo esociedade sao. «para acdes que visassem reduzir os indices de capazes de gerar os recursos humanos, técnicos € 3 - er financeizos necessirios para 40 povo” (Brasil, 1997, p. 9). combater com eficiéncia a O programa “foi concebido com o pro- pobreza ea exclusio social” (Disponivel em: , combater uma das piores formas de excluséo Acesso em: 20 jun. 2009) social: 0 analfabetismo” (p. 9). De acordo com os documentos que apresentavam 0 pro- das ages desenvolvidas pelo Conselho da Co- mediacao entre parceiros ptblicos ¢ privados desigualdades e as “condicdes sub-humanas pdsito de desencadear agdes que buscassem grama, sua prioridade era levar alfabetizacéo aos municipios que pos- suissem os maiores indices de analfabetismo, situados nas regides Norte e¢ Nordeste do Pats, para que estes chegassem pelo menos 4 média nacio- nal. Para tanto, pautou-se em cinco vertentes: a mobilizagéo nacional, um projeto-piloto como referéncia, a busca de parcerias e incentivo a elas, a avaliacao permanente ¢ a mobilizacao da juventude. Os documentos posteriores do PAS j4 demonstravam uma alteracio significativa em seus propésitos. De “um programa de combate ao anal- fabetismo no Brasil” (Brasil, 1996c, p. 2) passa a fomentador da rede de educagio de jovens ¢ adultos. O Programa Alfabetizacao Soliddria foi um desencadeador do processo de alfabetizacdo nos municipios, j4 que a sua principal meta era a institucionalizacdo, na propria rede, do ensino de jovens ¢ adultos (Brasil, 1998, p. 32). Sua prioridade era desencadear um processo gerador de miiltiplas frentes de implantagao, na prépria rede, da educacdo de jovens ¢ adultos (Brasil, 1999, p. 3). A ampliagao de atribuicées resultou do processo de avaliacdo perma- nente do PAS, que ocorria semestralmente, com a participagao da coorde- nacio executiva do programa, dos professores das universidades parceiras e de outros convidados. Desde 0 primeiro momento da avaliacao, varias RerLeviNDO 0 FINANCIAMENTO DA EJA A PARTIR DOS PROGRAMAS FEDERAIS quest6es inquietavam os representantes das universidades parceiras, en- te as quais se destacam: 0 conceito de alfabetizacao utilizado pelo pro- grama; 0 curto periodo destinado & alfabetizacio; a necessidade de um processo de continuidade de escolarizacio dos alunos; a necessidade de contar com os alfabetizadores em mais de um médulo; a falta de eficién- cia dos questiondrios de coleta de dados; as dificuldades de acesso aos municipios; os conflitos com a gestao local. Aliado as incertezas, que eram evidentes, da eficiéncia de uma agio de alfabetizacdo como era a proposta pelo PAS, o Brasil viveu um momento de intensa mobilizacdo em torno da discussao do sentido da EJA como modalidade da Educagéo Bésica (como previsto na LDB). Em 2003, com 0 Decreto n. 4.834, sob 0 governo de Luiz Indcio Lula da Silva, o MEC conyocou uma mobilizacio nacional para atuar no campo da alfabetizagio de jovens e adultos. O programa previa repasse de recursos financeiros as instituicées parceiras para pagamentos de bolsa a alfabetizadores e coordenadores de turmas; formacio inicial e conti- nuada dos alfabetizadores; ajuda de custo para material escolar, transpor- te ¢ alimentacao dos alfabetizandos; material didatico de alfabetizacao com base no Programa Nacional do Livro Diddtico para Alfabetizagio de Jovens ¢ Adultos. A oficializacao do PBA se dava por via da publicacao de uma resolucéo pelo MEC, estabelecendo os critérios de participagao dos parceiros, que deviam aderir ao Sistema Brasil Alfabetizado (SBA). As informagées basicas de como se dava o atendimento nas classes de alfabetizacao foram acompanhadas até 2009 pelos dados fornecidos pelos parceiros do PBA ao MEC. O SBA era um sistema de banco de dados que armazenava os Planos Plurianuais de Alfabetizacao (PPALEA), que precisavam ser elaborados ¢ enviados pelos parceiros do programa; registrava nominalmente os dados de alfabetizandos, alfabetizadores, tur- mas ¢ coordenadores de turmas que existiam em todo o pais. Por esse sistema, é possivel gerar informagées como a série histérica de idade dos jovens e adultos que frequentam 0 programa desde 2003. Infelizmente, a partir de 2011, esses dados jé nao foram mais disponibilizados. 115 [REFLETINDO 0 FINANCIAMENTO DA EJA A PARTIR DOS PROGRAMAS FEDERAIS Tabela 3 - Alfabetizandos por faixas etarias nos anos de 2003 a 2009* | 15897 0 0 0 ° 6698 | 14729) 16.948 38.229 237257212068 345812 | S548ea | 258750)|| 267555 | 2aL584 | 30845 645.549 | 532.753 792.751) 740.225) 569554 560.777} 488.561 | 46260 | 497450) 402131 604264) 539805 | 434246 431.254 | 372.608 | 61290 «308.948 261501 «396118 | 352193 268463 259.784 254.585 | 91.0119 8.499 5.909 5.483 5.265 2616 | 2354 Za | Total 1.697.403 | 1.412.362 2.144.428 | 1.939.329 | 1.540.027 1.536.433 | 1.355.805 Fonte: Sistema Brasil Alfabetizado (2003 a 2009). * Qs dados de 2003 a 2009 foram disponibitizados em relatorio da Secad em dezembro de 2009, Em 2010, 0 mesmo sistema apresenta os dados por faina etaria, mas com recortes diferentes que buscamos agregar 0 mais, préximo possivel dos dados anteriores: quinze a dezenove anos ~ 39.275 alfabetizandos; vinte a 29 anos ~216.287 alfabetizandos; trinta a 44 anos — 469.137; 45 a $9 anos ~ 401.346; sessenta a 79 anos ~ 261.332 alfabetizandos; acima de oitenta anos 26.927 alfabetizandos, em um total de 1.403.218 alfabetizandos. Infelizmente, apés 2010, esses dados deixaram de ser disponibilizados. 116 Essas informacées geradas a partir do SBA séo uma fonte riquissima de avaliacao do programa, pois nos possibilitam uma série de indagacées, tais como: Por que o crescimento de jovens no programa a partir de 2007? Como explicar a presenga de tantos idosos acima de noventa anos? Ou ainda, o decréscimo do ntimero de alfabetizandos, a partir de 2005, significa o atendimento da demanda? O que se pode depreender desses dados de atendimento ainda é a distancia entre essa cobertura do programa e a demanda para alfabetiza- cdo de jovens e adultas existente no Pais, que, como ja mencionado, é de 13.952.579 para populagao de dezoito anos ¢ mais. Isso representa pouco mais de 10% do ptblico-alvo ¢ menos ainda se considerarmos os dados de analfabetismo de quinze anos e mais. Outra andlise que preocupa é a efetivagao do proceso alfabetizador, visto que a histérica implementacao de campanhas e programas tem revelado que a continuidade dos estudos é fator preponderante para a aquisicao real do letramento. Quem garan- tird esta continuidade? Essa indagac4o nos leva a tentar compreender quem realiza o programa, como pode ser observado na Tabela 4. RerLeTINDO 0 FINANCIAMENTO Da EJA A PARTIR DOS PROGRAMAS FEDERAIS Tabela 4 - Parceiros do PBA nos anos de 2003 e 2010 Gee} | Secretarias de Educacso Estaduais e Municipais Organizacées Nao Governamentais (incluindo area 55% 0% empresarial) : Instituicies de Ensino Superior 3% 0% Fonte: Sistema Brasil Alfabetizado. Observa-se a mudanca no perfil das parcerias estabelecidas pelo PBA no seu inicio, em 2003, para o ano de 2010, quando o financiamento deixa de ser repassado por convénios com outras instituigdes que nao sejam as redes publicas de ensino, o que vai ocorrer a partir do ano de 2007. Essa op¢ao pela priorizacao da chegada do recurso as instituicdes publicas é justificada pelo governo como uma tentativa de responder ao preceito constitucional de obrigatoriedade do Estado na implementacao da politica de educacao. Entretanto, isso nao significava impedimento as secretarias estaduais ¢ municipais de firmarem convénios com orga- nizagoes nao governamentais ou setores empresariais para a execucdo do programa nas localidades, o que acabou ainda ocorrendo. Outro dado que chama atencio no SBA é a crescente Participacao dos municipios de forma mais auténoma, pois, nos primeiros anos do pro- grama, a maioria das parcerias firmadas era feita pelas secretarias estaduais, que depois propunham os convénios com os municfpios para execucao da acao de alfabetizagao. O dado do SBA relativo ao ano de 2010 indica que vinte secretarias estaduais firmaram parceria com o PBA e 1.423 secretarias municipais, totalizando 1.443 parceiros. Contudo, ainda a cobertura em termos de niimero de alfabetizandos atendidos € maior na parceria das secretarias estaduais, que somam 793.642 do total de 1.403.218 alfabeti- zandos, enquanto os municipios respondem por 615.708 alfabetizandos. Um numero maior de alfabetizandos, nas iniciativas de secretarias es- taduais (57%), é preocupante, porque, em termos de cumprimento das leis educacionais brasileiras, a acio dos Estados da federacéo é prioritariamente no Ensino Médio ¢ apenas complementar no Ensino Fundamental, 0 que indica que estes Estados nao devem priorizar a oferta do primeiro segmento 117 [REFLETINDO 0 FINANCIAMENTO DA BJA A PARTIR DOS PROGRAMAS FEDERAIS do Ensino Fundamental para os egressos do PBA. Essa deve ser uma obri- gacdo dos municfpios, que tém assumido, na tiltima década, essa matricula, mas em proporgdes que nao representam 2 expansao esperada para 0 aten- dimento a todos os que passam pelos programas de alfabetizacao. De forma contratia, a matricula de EJA nos anos iniciais do Ensino Fundamental e nos demais segmentos tem decrescido, como confirmam os dados na Tabela 5. Tabela 5 - Jovens e adultos em agées de alfabetizagao, Ensino Fundamental e Médio de EJA ‘Ano Brasil Sn Bh Seen Preece COOSA Ue Riteorinler ees 2004 4.412.362 1.530.275, 1.812.637 988746 | 2005 2.146.428 1.466.329 1.861.424 1.075.694 | |Eocomme igsg329| | La72a88 2989948 4.219.438 2007 1.540.027 1.160.879 2.206.153 1.608.559 | 2008 1.536.433 4.127.077 | 2164187 | 1.635.245 | 2009 { ;. 1.555.805 1.035.610 | 2.055.286 (1.547.275 (2010 tesa | oa 1.922.907 1.388.852 | Fonte: SBA/Secad/MEC e Censo da Educacao Basica/Inep/MEC. As perguntas que decorrem dos préprios dados oficiais passam, ini- cialmente, por uma avaliacao da pertinéncia do PBA. Questao ja presen- te no préprio governo quando elaborou, por meio Desde 2005, quando Planode da Diretoria de Politicas da Educagao de Jovens e Avaliagio do PBAteve scuinicios Adults (DPEJA) e da Diretoria de Diversidade a Secad contou com instituigbes como: Instituzo de Pesquisa Econémica Aplicada (PEA); Acompanhamento das Vulnerabilidades Educa- ro de-Alfabedizasao, Leitura® — cignais (Deave), 0 Plano de Avaliacao do PBA. Escrita (Ceale/UEMG); Sociedade ‘Cientifica da Escola Nacional das Ciencias Estatisticas (Science’) de acdes de acompanhamento, monitoramento Ence)Associagao Nacional dos avaliacdo das agées do PBA que, efetivamente, Centros de Pés-Graduagio em Economia (Anpeo) « Instituto Paulo Montenegro (PMU/Ibope)s_ ligadas & pesquisa institucional e, em especial, & Universidade de Brasilia (UNB). ¢ Inclusao Educacional e Diretoria de Estudos € Esse plano inicialmente indicava a necessidade demandariam a participagao de varias instituigées avaliagio em educacao. 118 IREFLETINDO 0 FINANCIAMENTO Da EJA A PARTIR.DOS PROGRAMAS FEDERAIS Segundo Henriques, Paes e Azevedo (2006, p. 37-38), 0 Secad as- sim apresenta o sentido dessas agées que se deram em funcdo do Plano de Avaliacao do PBA: Um processo continuo e amplo de avaliagdo requer a realizado de avalia- des de naturezas diversas em momentos diferentes. A seguir, argumentamos que uma ampla avatiagéio do Programa Brasil Alfabetizado deve contemplar arealizacéo de 36 avaliagdes especificas, que formam o Mapa de Avaliag jes, A qualidade e pertinéncia, e dai a utilidade, das diversas avaliagées depen- de, sobremaneira, da existéncia de um rico sistema integrado de informagées sobre o funcionamento e desempenho do programa. Ha um registro importante dessa experiéncia brasileira de avaliagdo de um programa de alfabeti- zacéo, publicado na Colegao Educagao para Todos, em uma série intitulada Avaliacéo, dedicada ao Pla- no de Avaliacéo do Programa Brasil Alfabetizado, composta por cinco livros. Desse amplo processo de avaliacdo, dois aspectos podem ser aqui destacados: primeiro, o da mobilizacao de recursos para a aco de alfabetizac4o e, segundo, o da eficacia no programa. Ambos puderam ser avaliados pelos préprios dados Para conhecer, acesse em dominio piblico no portal do M ainda no endereco: chep://forumeja.org. br/colecaoparatodos>. Dessa colegio, até 2010, hd doze livros que tratam especificamente de temas, relacionados ao campo da Educacio de Jovens ¢ Adultos. dispontveis no SBA que, infelizmente, deixaram de ser publicizados. Quanto & mobilizacdo dos recursos, os dados oficiais disponiveis no portal do MEC indicavam o aumento de investimento federal no PBA nos primeiros anos do programa, que se inicia em 2003 na ordem de 193 milhées e chega a 315 milhdes no ano de 2007. Conforme Henriques, Paes e Azevedo (2006, p. 47), 0 Plano de Avaliagdo do PBA buscou iden- tificar até que ponto o aumento do recurso implicou uma melhora nos resultados finais do proceso de alfabetizagio, por isso, além do volume, foi necessdrio avaliar a sua sustentabilidade e adequabilidade. O sucesso de um programa social depende, em tilti- ma insténcia, do volume de recursos com que pode Disponivel em: , Acesso em: 12 dez. 2009. 119 120 ReFLETINDO 0 FINANCIAMENTO Da EJA A PARTIR DOS PROGRAMAS FEDERAIS contar e de sua efetividade em traduzir recursos em resultados. A disponibi- lidade de recursos é tao importante quanio a efetividade. Mesmo que 0 pro- grama seja extremamente efetivo, isto é, mesmo que para cada real gasto seja gerado 0 maior impacto possivel sobre a vida dos beneficidrios, o impacto total do programa ainda dependerd do volume de recursos utilizado. Logo, 0 éxito de um programa esta condicionado é interagao entre a disponibilidade de recursos e sua efetividade. A avaliacao do uso dos recursos trouxe, para a definicéo da politica de alfabetizac4o, questionamentos, como: em que medida o aumento do recurso investido pelo Governo Federal tem contribuido para desestimu- lar os demais entes ptiblicos, secretarias estaduais e municipais, a con- tinuarem seus investimentos préprios na agdo de alfabetizacio? Como garantir que as acdes de alfabetizacao tenham continuidade apés as mu- dangas de governo, tendo em vista que o fim do analfabetismo nao est4 diretamente vinculado aos mandatos politicos? E, ainda, como garantir que o investimento feito corresponda ao cumprimento das metas pre- vistas, com a eficiéncia que se espera do PBA? No Plano de Avaliacao do PBA, os seis primeiros instrumentos utilizados foram para tentar dar respostas a essas quest6es. No segundo aspecto, que se refere a eficacia do PBA, esta posto no pafs o desafio de avaliar o resultado concreto do processo de alfabe- tizag4o, no que concerne a aquisicdo de habilidades de leitura, escrita e numerizagao por parte dos alfabetizandos, e avaliar ainda a continuidade de estudos dos jovens e adultos que passam pelo PBA. Os testes cogni- tivos aplicados nas turmas de alfabetizagio, no inicio do processo e no final, indicaram dados importantes para o redesenho do programa, por exemplo, a existéncia nas turmas de um ntimero consideravel de pessoas jé alfabetizadas desde o infcio de seu funcionamento. Isso nos leva a in- dagar por que essas pessoas retornam a classes de alfabetiza¢4o? Seria esta a unica oferta de escolaridade na qual elas residem? Onde ha turmas de EJA, qual a justificativa para permanéncia em classes de alfabetizacao? Essas questées nos fazem voltar 4 Tabela 5 e afirmar que algo de er- rado estd presente nessa estratégia de alfabetizag4o, quando constatamos Rev INDO 0 FINANCIAMENTO Da EJA A PARTIR DOS PROGRAMAS PEDERAIS que 0 desafio da continuidade dos estudos, que € complexo, nao vem se efetivando. Diante dos resultados do Censo Escolar do Inep, h4 intmeras ditvidas. A expectativa, com todo investimento feito de 2003 a 2010, era, exatamente, de um resultado contrdrio a esse, pois houve maior aporte de recursos, houve mais formagio de alfabetizadores, houve efetivacio de acées de suporte as classes de alfabetizacao (alimentacao, transpor- te, material didético), houve um plano de avaliagdo ¢ acompanhamento dessas acées. Com tudo isso, os alunos nao prosseguiram os estudos ou, pelo menos, nao prosseguem na quantidade esperada que impactasse no aumento da matrfcula capturada no sistema de EJA. Uma das varidveis explicativas para esse fato, apontada pela avalia- cdo de eficdcia do PBA, corresponde a baixa expectativa de continuida- de de estudos dos alfabetizandos, principalmente entre os idosos acima de 61 anos de idade, que somavam 17% dos matriculados no PBA em 2008. Esses alfabetizandos alegavam buscar as habilidades de leitura e escrita apenas por uma realizaco pessoal e contribuigio em atividades cotidianas, como reconhecer 0 itinerdrio do transporte coletivo ou ain- da ler a Biblia. Essa baixa expectativa também se encontrava entre os adultos que possuiam entre 46 a 60 anos, que correspondiam a 28% dos matriculados no PBA, visto que, nos argumentos de nao prosseguimento nos estudos, j4 se comegava a identificar a impossibilidade de eficiéncia de uma certificacao de escolaridade na disputa por vaga no mercado de trabalho, pois essa faixa etdria se encontra fora da considerada Populacao Economicamente Ativa (PEA). Essas consideragées acerca da no motivagdo pessoal para a busca pela continuidade nos estudos, porém, ndo s4o suficientes para explicar © mesmo fenémeno acontecendo entre os jovens de quinze a 29 anos, ou ainda entre os adultos entre trinta a 45 anos de idade. Em parte, o Plano de Avaliacao do PBA também identifica os indicadores socioecondmicos dos sujeitos envolvidos no PBA como limitadores da continuidade do processo de escolarizacao. Em especial, a necessidade de sobrevivéncia, a busca pelo trabalho precarizado, a mobilidade de moradia sio condigées 121 122 REFLETINDO 0 FINANCIAMENTO DA EJA A PARTIR.DOS PROGRAMAS FEDERAIS reais que limitam a populagao demandante das classes de alfabetizacio 2 prosseguir em seus estudos. Na expectativa de trazer um tiltimo dado para reflexdo do programa Brasil Alfabetizado, a Tabela 6, apresentada a seguir, aponta o analfabe- tismo e analfabetismo funcional da populacio com quinze anos ou mais. Tabela 6 - Analfabetismo e analfabetismo funcional da populagao com quinze anos ou mais = inal funcionat de | Sabetere | Ngo sabeler ede sorat < Tort | anatfabetos | anolfabetsme | escrever | eesctever | analfapensmo 2palfabetos | analfabe Hisiszia|| 1118410 2505 486 Nordeste | 42856546 | 35.736057 | 7.120.489 56 14651256) Sidene | 68 65515327 | 3438055 46), 87200) Sul | z5aase6 | 22387419 E | s027227 4h | 3.225.726 Cento" “Beste Urbana | 156.557.948 | 127.952.5695 | 8.605253, Rove 22685422) 18320333 | 4565089 44856109 | 31090777 765352 Masculine | 76.000.192 | 69.038.925 | 6.561.208 | 35.871.14 Fenn | eszesaa | sesiaos|| ects 73 aelass tena | Teaibati | e5716706 | 5600398 5) 9a78575 nega | aasinans | yasssaes | assasto Amarela | 873.056 | 52.734 21222 Devers indigena | 600355) i803) Saba 4k2 258009 263 Fonte: PNAD-2014 - Elaboracao: Gabinete Secadi. A tabela também revela as discrepancias regionais de género ¢ étnico-re- cial, além de trazer 0 analfabetismo funcional. As regides Norte e Nordeste. com 9% ¢ 16,6%, respectivamente, continuam marcando altos indices de analfabetismo. As mulheres apresentam um indice de 7,9% de analfabe- tismo, enquanto os homens apresentam maior indice, 8,6%. A maior sigualdade est4 no ntimero de analfabetos negros em relacio aos brancos. sobretudo porque a etnia negra apresenta maior ntimero de pessoas no Pais e 11,1% nao sabem ler ¢ escrever. Por tiltimo, cabe refletir sobre o ntimero de analfabetismo funcional, que chega ao dobro do niimero de analfabetos. _ REFLETINDO 0 FINANCIAMENTO DA EJA A PARTIR DOS PROGRAMAS FEDERAIS Os dados reforgam mais uma vez a andlise dos limites do PBA, que, desde 2003, vem atuando, mas com uma timida mudanga no quadro do analfabetismo ¢ menos ainda no Ambito do analfabetismo funcional. Reafirmamos a necessidade de uma politica de alfabetizagao com enfren- tamento desses fatores limitantes. Sabemos que um dos elementos-chave para o sucesso de qualquer politica de Educacao de Jovens e Adultos recai sobre a intersetorialidade. Nao ha aces de alfabetizacdo e educaca0 de jovens ¢ adultos que alcancem eficdcia se nao forem acompanhadas de politicas intersetoriais, envolvendo programas de satide, getagao de ren- da, fixacdo de moradia, seguranga para acesso As escolas, transporte que facilite a chegada A escola, entre outras. A decisao de repasse automético dos recursos do PBA para os entes federados, a partir de 2007, custou ao MEC, em especial 4 Secad, 0 énus politico de ter que responder aos questionamentos dos movimentos so- ciais que atuavam na alfabetizagao de jovens ¢ adultos, desde 2003, por meio dos convénios. As principais criticas vieram da Associagio Nacio- nal de Cooperacao Agricola (Anca), que representava os alfabetizadores ligados a0 Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), da Central Unica dos Trabalhadores (CUT) ¢, no campo empresarial, do Servico Social da Industria (SESI). Essas trés entidades respondiam, des- de 2003, fora da ago de Estados e municipios, por mais da metade dos recursos aplicados pelo PBA, ofertando alfabetizagio em todo o territé- rio nacional, nem sempre em articula¢ao com os entes ptblicos. A opg40 indicada pelo Governo Federal a essas entidades foi a de que passassem a estabelecer parcerias no 4mbito dos territérios e governos estaduais ¢ municipais para darem continuidade as ages de alfabetizacéo. Somente os dados da execucao de 2008, quando divulgados, poderao confirmar se isso de fato ocorreu. Desde sua criagao em 2003, até 0 ano de 2009, observa-se um pro- cesso intenso de mudangas na configuragao do PBA — resultado de uma dinamica de debates em torno de suas resolugdes, que conta com a par- ticipagio de varios segmentos da sociedade civil e do Estado, presentes REFLETINDO O FINANCIAMENTO DA EJA A PARTIR DOS PROGRAMAS FEDERAIS na Comissio Nacional de Alfabetizac’o ¢ Educacao de Jovens e Adultos (CNAEJA), e ainda com a discusséo permanente com os coordenadores estaduais de EJA e com os representantes dos foruns de EJA, articulada pelo Departamento de Educagao de Jovens e Adultos da Secad/MEC. O acesso as diversas resolugées do PBA pelo sitio do FNDE revela a complexidade que o programa vai assumindo, em uma erate Es aes OPT . na forma de pagamento de alfabetizadores e 4 ampliacio Acesoem:15 de recursos para o pagamento de coordenadores de tur- de set. de 2017. F - feeders uid mas; 4 formag4o e ao material diddtico; a organizacao de um sistema informatizado de cadastro de turmas, alfabetizadores, coor- denadores e alfabetizandos; & dinamica de alimentacao de dados na ponta do sistema, ou seja, pelos municipios e Estados parceiros; a tentativa de pedagégica, sem um determinismo metodolégico, mas com indicag6es do que se espera do processo alfabetizador, incluindo nesse processo a aplicagao de testes cognitivos de entrada e saida dos alfabe- tizandos para verificar os resultados obtidos. Esses so alguns exemplos, entre tantos outros, que podem ser identificados na complexa engenha- ria que se construiu em torno do PBA, em uma perspectiva de avaliagao € monitoramento desse programa, tido como uma das principais metas presidenciais desde 2003. 2. O Sistema Nacional de Educagdo e os programas federais para escolarizagdo de trabalhadores Alguns programas que aqui serao retomados integraram a formacio dos trabalhadores desde o governo de FHC. Faz-se necessario assim trazer alguns deles com 0 objetivo de explicitar as varias tentativas de oferta de formacao para atender 4 modalidade, reconhecendo seus limites na com- posicao da disputa politica da sociedade capitalista. Apesar dos esforcos ___ REFLeTivpo 0 FINANCIAMENTO DA EJA A PARTIR DOS PROGRAMAS FEDERAIS para que a concep¢ao de EJA como modalidade da O Fundef foi um mecanismo contabil, nacional, o forte investimento em termos oficiais, que de base estadual, para getenciamento dos recursos que deviam ser grama Alfabetizagao Solidaria (PAS). Soma-se a isso 0 aplicados por Estados ¢ municipios no Ensino Educagio Bésica ganhasse espaco na politica ptiblica se fez no governo FHC na EJA, foi por meio do Pro- fato de o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso Fundamental por todo ter vetado a possibilidade de inclus4o do quantitativo _territ6rio nacional. Esse de alunos do supletivo, ou da matricula da Educagio —-_‘Sdoadminisuava 159% dos 25% de recursos que de Jovens e Adultos, para destinac4o dos recursos re- so obrigatoriamente vinculados & educagio. lacionados ao Fundo de Manutengio do Ensino Fun- damental e Valorizaco do Magistétio (Fundef). Essa realidade sé sofreu alguma alteracéo com a criagdo do Progra- ma Recomeco, que se vinculava & situagdo das matriculas na EJA que foram vetadas na implementagdo do Fundef. Os impactos desse veto podem ser observados por dois movimentos diferenciados: por um lado, 0 de ajustes feitos pelos gestores ptiblicos para nao perderem recursos, podendo-se tomar como exemplo claro desse caso 0 estado da Bahia, que passa a contar os alunos de EJA como em classes de aceleracao, as quais poderiam ser computadas para o repasse dos recursos do fundo; por ou- tro, o de reivindicacao, pois as dificuldades de manutengao de matriculas em EJA fizeram que governadores das regides Norte e Nordeste cobras- sem do Goyerno Federal uma solucao, ¢ a resposta a essa demanda foi a criacao do Programa Recomeco. O Recomeco, intitulado como Programa Supletivo, foi regulamen- tado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educagio (FNDE/ MEC), por meio da Resolugéo CD/ FNDE n. 010, de 20 de margo de 2001 (Brasil, 2001): Art. 2°— 0 Programa consiste na transferéncia, em cardter suplementar, de re- cursos financeiros em favor dos Governos Estaduais e Municipais, destinados a ampliar a oferta de vagas na Educacdo Fundamental piiblica de jovens e adultos e propiciar o atendimento educacional, com qualidade e aproveitamente, a clien- tela potencialmente escolarizdvel e matriculada nesta modalidade de ensino. [..] 125 126 REFLETINDO 0 FINANCIAMENTO Da EJA A PARTIR DOS PROGRAMAS FEDERAIS Art. #-[..] 1-0 montante de recursos a ser transferido aos Estados e Munictpios, no exercicio de 2001, seré calculado multiplicando-se o valor de R$230,00 (du- zentos e trinta reais) por aluno/ano, pelo total de matriculas nos cursos da modalidade “supletivo presencial com avaliacio no processo” da respectiva rede de ensino, tendo por base o censo escolar realizado pelo Ministério da Educagdo (MEC) no ano anterior ao das transferéncias; [-] b) aos demais Estados e Municipios, que estejam situados em microrregiées com IDH menor ou igual a 0,500 ou que estejam, individualmenie, nesta mes- ma condigGo segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano (PNUD - 1998), serd transferido o correspondente a 9/12 do montante de recursos, calculado na forma do inciso I deste artigo. A principal fungéo do programa era complementagéo de recursos para que os gestores municipais ¢ estaduais nao fechassem as classes de educag4o de jovens ¢ adultos do Ensino Fundamental que nao poderiam ser beneficidrias dos recursos do Fundef. O fato de ser um apoio quase exclusivo as Regides Norte e Nordeste do Pais criou uma cisdo em termos de politica educacional: de um lado, os Estados ¢ municipios que, tendo matriculas em EJA, mas nao se enquadrando no critério do programa, no receberiam recursos e, portanto, teriam de se manter sem apoio do Gover- no Federal; de outro lado, Estados e municipios beneficidrios do programa que passam a depender da chegada do recurso para manter a oferta de EJA, ou seja, aquilo que seria apoio para ampliar a oferta vira condicao para abertura das classes de EJA. © Recomeco softeu mudaneas a partir de 2003, passando a ser no- meado como Programa Fazendo Escola, mas sua esséncia, 0 incentivo & matricula na EJA por meio da descentralizacao de recursos, nao seria al- terada, exceto quanto 4 sua cobertura. A Resolugao CD/FNDE n. 25, de 16 de junho de 2005, j4 nao faria distingao de Estados e municipios por indice de desenvolvimento humano (IDH), passando entao a universalizar 0 apoio a todos que tivessem matricula em EJA (Brasil, 2005). Art. 22 0 programa de que trata esta Resolugdo consiste na transferéncia, em cardter suplementar, de recursos financeiros em favor dos Estados, do REFLETINDO 0 FINANCIAMENTO DA EJA A PARTIR DOS PROGRAMAS FEDERAIS Distrito Federal e dos Munictpios, destinados a ampliar a oferta de vagas no Ensino Fundamental puiblico de jovens ¢ adulios e propiciar o atendimento educacional, com qualidade e aproveitamento, aos alunos matriculados nes- sa modalidade de ensino. § Unico. Séo beneficidrios do Fazendo Escola os alunos de escolas ptiblicas do Ensino Fundamental, matriculados nos cursos da modalidade educagdo de jovens e adultos presencial com avaliacao no processo, que pertencam aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municipios que, em 2004, apresentaram matriculas no Censo Escolar Inep/MEC, inclusive aqueles oriundos do Pro- grama Brasil Alfabetizado. Essa resolucao indicou uma aproximacao entre matriculas da EJA e alunos potencialmente mobilizados pelas turmas de alfabetizacao do Programa Brasil Alfabctizado (PBA). Portanto, ao tratar de avaliagao do programa de educagao de jovens e adultos, no caso do Programa Fazen- do Escola, assim como no PBA, é preciso destacar mais uma vez que 0 Governo Federal depende dos governos estaduais ¢ municipais para o al- cance das metas previstas. No que concerne aos critérios para ser ou nao beneficiério do programa, jé se observava que, de 2001 a 2005, o pro- grama muda sua configuragao, passando a apoiar a totalidade das macri- culas em EJA comprovadas pelos dados do Censo Escolar, instrumento preenchido anualmente pelas escolas ¢ enviado do Inep para consolida- ao de todas as informagées educacionais do sistema nacional. O repasse de recursos da Uniao para os Estados e municipios é feito mediante a pu- blicacao de uma resolucao que orienta a execugdo do Programa Fazendo Escola, que passa a ser conhecido pela sigla Peja. © programa previu, na Resolugio CD/FNDE n. 23, de 24 de jue nho de 2006, em seu art. 5°, que os recursos se destinara 1-4 formagao continuada de docentes do quadro permanente e dos contra- tados temporariamente pelo Estado, pelo Distrito Federal ou pelo Municipio, que atuam nas classes do Ensino Fundamental de jovens e adultos, presen- cial com avaliagao no proceso [...} I~ @ aquisi¢ao, impressdo e/ou produgdo de livro diddtico para alunos e pro- ‘fessores, adequado ao Ensino Fundamental de jovens e adultos [..]. i¥sd 128 REFLETINDO FINANCIAMENTO Da EJA A PARTIR DOS PROGRAMAS FEDERAIS Ill @ aquisic¢do de material escolar, dentre a lista do anexo II, para os alu- nos matriculados e frequentes, em 2006, no Ensino Fundamental de jovens e adultos, presencial com avaliagao no processo [...]. IV~é aquisigao de material, conforme lista do anexo Il, para professores que atuam, em 2006, nas classes do Ensino Fundamental de jovens e adultos, pre- senciais com avaliacao no proceso [...J. V-d remuneracao, utilizando-se até 60% (sessenta por cento) dos recursos financeiros repassados pelo Fazendo Escola, dos professores que atuam, em 2006, nas classes do Ensino Fundamental de jovens e adultos, presenciais com avaliacéo no processo, do quadro permanente e/ou contratados tempo- rariamente, quando se fizer necessdria a ampliacdo do quadro de professo- res, para o alcance do objetivo do programa. VI ~ & aquisigéo de géneros alimenticios, destinados, exclusivamente, ao atendimento das necessidades de alimentagao escolar dos alunos matricula- dos e frequentes, em 2006, no Ensino Fundamental de jovens e adultos, pre- sencial com avaliagdo no processo. A abrangéncia das seis ac6es previstas no Peja revelam o desafio de avaliar e monitorar 0 programa, que mantém como estratégia a indugao de um acompanhamento das secretarias de educac4o, por meio da constitui- ¢4o de equipes coordenadoras, cujas atribuicdes concorrem para esse fim, nos 26 Estados, no Distrito Federal e em 3.397 municfpios com matricu- las préprias em EJA, beneficiando um total de 3,3 milhées de alunos. A mesma Resolugéo CD/FNDE n. 23 explicita, em seu art. 3°, que trata dos participantes do programa, as fungées dessa equipe coordenadora: [..] IV ~ a Equipe Coordenadora do Programa, como estipulado no art. 18 desta Resolugdo, como responsdvel: ) pela comunicagdo direta entre o Orgdo Executor e os demais participantes do Fazendo Escola; b) pelo assessoramento ao O.Ex. na gestao financeira, técnica e operacional do programa; ¢) pelo envio dos Relatérios |, IIe Ill 4 Secad, por via eletrénica, constantes no enderego , até os dias 20 de junho de 2006, 20 de agosto de 2006 e 20 de dezembro de 2006, respectivamente, O Relatério I contém informagées referentes ao planejamento e aplicagao dos recursos do Fazendo Escola e os Relatorios IJ e III contém informacées sobre a execugiio dos recursos; [..J. ____Rentetivpo o Fvanciamento DA EJA A PARTIR DOS PROGRAMAS FEDERAIS, Com base na experiéncia do PBA, a Secad cria ent4o um sistema de mo- nitoramento da EJA. por meio do preenchimento de uma base de dados para acompanhamento do PEJA denominado Monieja. Nao se trata de um sistema complexo ¢ detalhado como o SBA, mas é um esforgo de acompanhamento minimo da aplicacéo dos recursos do programa pelos Estados ¢ municipios. Esse acompanhamento comega pelo cadastramento da equipe "Pisponiel ems coordenadora no Monieja, seguido do preenchimento dos trés oo telatérios disponiveis para apresentagio do planejamento e exe- Wee 3 cugao dos gastos dos recursos do Peja. No ambito federal, ainda —_deset. de 2017 seréo responsaveis por acompanhar o Peja o érgao de monitoramento do re- passe financeiro aos Estados ¢ municipios, que é 0 Fundo Nacional do Desen- volvimento da Educacio (FNDE), em uma agéo conjunta com 0 Departa- mento de Politicas de EJA da Secad. A resolugio do programa ainda informa que © acompanhamento ¢ 0 controle social da sua execugio serio exercidos pelos Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundef. O Monieja vai ter uma existéncia curta como sistema de monito- ramento da EJA, visto que inicia seu processo de alimentacdo em 2006 em um momento de transigao da politica de financiamento do Governo Federal, que cria o Fundo de Manutengio e Desenvolvimento da Edu- cacao Basica e de Valorizacao dos Profissionais da Educacéo (Fundeb) pela Emenda Constitucional n. 53/2006, regulamentado pela Lei n. 11.494/2007 e pelo Decreto n. 6.253/2007, em substituicao ao Fundo de Manutengao e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valori- zac¢io do Magistério (Fundef), que vigorou de 1998 a 2006. © Fundeb vai incorporar a matricula da EJA na contabilizacio dos recursos, 0 que resulta na extingao do Peja, pois a compreens4o do Governo Federal é que essa participa¢ao ja representa 0 apoio aos sistemas estaduais ¢ mu- nicipais na manutengio e ampliacdo das matriculas de jovens e adultos. Portanto, o Programa Fazendo Escola permanecer4 como acio do Go- a verno Federal até o momento da inclusao da matricula da EJA no Fundeb. No inicio da implantagio do Fundeb, até pela pouca mobilizagao que se viu no Brasil, na defesa da participacio da EJA no fundo, varias dividas foram levantadas: quais seriam para a EJA os efeitos do peso inicialmente de 0,7 130 RErLeTiNDo 0 FINANCIAMENTO DA EJA A PARTIR DOS PROGRAMAS FEDERAIS eatualmente 0,8 no valor das matriculas dos seus alunos, se comparado 20 peso referéncia 1, atribuido as matriculas do Ensino Fundamental urbano nas quatro primeiras séties? O que representaria a entrada parcelada das ma- triculas no fundo (33% em 2007; 66% em 2008; 100% em 2009)? O que significaria a matricula de EJA nao poder ultrapassar 15% de toda a matri- cula no interior no Fundeb em cada sistema? Essas quest6es permanecem como preocupac6es pata os que acom- panham a institucionalizagio da EJA como politica publica. Os dados das tabelas a seguir demonstram a reducao clara da matricula na EJA mesmo apés sua inclusdo no Fundeb. O levantamento desses dados pela Secretaria de Educacéo Continuada, Alfabetizacao, Diversidade e Inclu- sao (Secadi/MEC), em um esforco de atualizagao da realidade da EJA no Brasil para a avaliacio da VI Confintea+6, tem revelado dados preo- cupantes ¢ que apontam para muitos questionamentos quanto a eficacia dos programas financiados pelo Governo Federal que sio destinados ao publico-alvo da EJA, como veremos a seguir: Tabela 7 — Matricula de EJA no Ensino Fundamental em cursos presenciais com avaliagdo no processo por dependéncia administrativa 1997 a 2014 Ee 583 gesérie oral | Fed Estad, Mun | Priv Total | Fed. stad. | Mun. Priv. 1857 ts0ra| ae saasse | 36iss9 1999 | 817.081 259 373087 | 414,746 | 2008 | 200s || assdloxs! eS 38487 | sense | (aia |aossoxs | 6s6724 62522 2005 | 2488574 | 149 | 202562 1285628 22245 1906975 | 297 2017.609 | B43528 25.582 2006 | 1487672 | 159 287.467 1.280562 | 14804 2029155 | 250 1098.482| B9i256 39.205 si | amas cap | aor soar soa |e a | pools vaROR RI. 2053910 130 | 155048) 857951 | aoest 2807347 cy 857776 | 922492 | 20268 2ho54 | 3334253562, 9t2.089,| 23585 | xaz219 gost 1295355) 452 909.548 282012 | 103.342 2asia29 isi 315377 817.009 38862 1.485459 | 4706 | 925.012 | 450752 106412 2008 | 2240979 146 | 283076 913-714| 4uo4s | 1885755 534 2009 | - 959088 | 357 76039) 915615 | 26055 asoass| 777705 | 079) a7205K6 | 577 po1t | 950227 | ase | 148701 | 76875 41619 | 1535257| 370| 670317 857737 | 24835 zoiz | soais | s4| s

You might also like