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ASTROLOGIA, PSICOLOGIA E OS QUATRO ELEMENTOS Stephen Arroyo Tendo como epigi inte afirmagio de Ju Astr "@ © reconhecimento da Psicolc 6es, pois represi conhec a de te nto psicold 2 ja Antigitidade trata da. re jo uso da Astro io da Astrologia com moderna Psicologia e ogia como método as forgas do Universo. Ele most Astro ‘a claramente como abordar a e inclui uma instrugao. prat para a interpreta: profundidade do qu dos fatores astrolégico mente é encontrada manuais que tra dessa ci lo © a todos os que, de algum modo, se Destinado ao leigo em Astro! ia, aos estudiosos da maté- tia, aos _profissionai dedicam as artes de aconselhamento, este livro explica, em sua I Parte, como a Astrologia pode ser um instrumento do maior valor para a com| eensio de nés mesmos e dos outros, enquanto na II Parte sao explicadas as técnicas e significados tradicionais dentro de uma perspectiva que se preocupa em entender as energias inerentes a todos os processos da vida. © autor, Stephen Arroy um dos pioneiros na introdu- go da Astrologia como disciplina integrada no curriculum escolar de algumas Universidades norte-americanas. EDITORA PENSAMENTO BSUNST WINE Le] | és —— «| Astrologia, Psicologia € Os Quatro Elementos | Q f STEPHEN ARROYO, M.A. ~ / / Astrologia, Psicologia € Os Quatro Elementos Uma abordagem astrolégica ao nivel da energia e seu uso nas artes de aconselhar e orientar Tradugao de Maio Miranda i EDITORA PENSAMENTO ‘Sao Paulo Titulo do original Astrology, Poychology, and the Four Elements An Energy Approach to Astrology & Its Use in the Counseling Arts © 1975, Stephen Arroyo SRDS Diteitos reservados EDITORA PENSAMENTO LTDA. Rua Dr. Mario Vicente, 374 - 04270 - Séo Paulo, SP - Fone:272-1399 Impressioe Acabomewto: Gra RaltoraHembuce AGRADECIMENTOS: Parte do material incorporado neste livro foi impresso na forma de artigos na revista Dell's Horoscope, nas revistas de astrologia da Biblio- teca Popular (tais como Zodiac e Aquarian Astrology) no jornal Astrology Now, de Llewellyn. Portanto, agradecemos aos editores que pesmitiram sua reproduedo nesta apresenteedo totalmente revista ¢ ampliada. Gostaria de expressar minha gratidgo especial a Pauline Hutson, April Fletcher e Barbara McEnemey, pelo trabalho de datilografia, pela leitura das provas e pelas sugest6es construtivas, Se alguns erros permane~ ceram, eles podem ser atribuidos & negligéncia do autor. ‘Também estou em débito com Betty Spry por permitir 0 uso da sua bela colagem vista na capa do livro, com Pacia Ryneal por seus talentos artisticos ¢ com Kathleen Arroyo por sua infindével ajuda e paciéncia no planejamento e na diagramagao. Desejo outrossim, expressar meus agradecimentos a Jim Feil, 20 Dr. Piee Pannetier e a0 Dr. Randolph Stone, por me ajudarem a obter uum certo grau de penetrago nas atividades dos quatro elementos, ¢ também 08 muitos amigos e estudiosos que encorajaram meus escritos e meus ensi- ‘namentos. Finalmente, agcadego a permissdo para tirar de seus livros ¢ utilizar tum material cujos direitos autorais thes pertencem, aos seguintes editores Accent On Form, de LL. Whyte. Copyright 1954 de Lancelot Law Whyte. Usado com permissio da Harper & Row, Publishers, Inc. Psychic Discoveries Behind The Iron Curtain, de Ostrander & Schroeder. Copyright 1970 de Sheila Ostrander & Lynn Shroeder, Usado com per- missso da Prentice-Hall, Inc. Astrological Birth Control, de Ostrander & Schroeder. Copyright 1972 de Sheila Ostrander & Lynn Schroeder. Usado com permissio da Prentice- Hall, Inc, Born To Heal, por Ruth Montgomery. Copyright 1973 de Ruth Mont- gomery & Dena L, Smith, M.D. Usado com permissfo da Coward, McCann & Geoghegan, Inc. The Collected Works Of C.G. Jung, org. por Gerhard Adler, Michael Fordham, Herbert Read ¢ William McGuire, traduzido para o inglés por R.F.C. Hull, Bollingen Series XX, vol. 9i, The Archetypes and the Collective Uncons- cious. Copyright 1959 e 1969 de Bollingen Foundation. Reimpresso com a permissio da Princeton University Press. The Undiscovered Self, de C. G. Jung. Mentor Books, NY, 1958. Usado com permissgo de Little, Brown and Company. The Study Of Abnonnal Behavior, org. por M. Zax ¢ G. Stricker. Copyright 1964 de MacMillan Co, Usado com permissio da MacMillan Publishing Co., Inc, Chalienges Of Humanistic Psychology, org. por J.F-T. Bugenthal. Copyright 1967 da McGraw-Hill Co. Usado com permissdo da McGraw-Hill Book Company. Psychotherapy And Religion, de J. Rudin, Copyright 1968 da Univ, of Notre Dame Press. Copyright alemio de 1960 de Walter Verlag, Olten ¢ Freiburg, de Breisgau. Usado com permissdo da University of Notre Dame Press. Person To Person, org. por Catl Rogers ¢ Barry Stevens. Copyright 1967 da Real People Press. Usado com permissio da Real People Press, Zen Mind, Beginner's Mind por Suzuki-toshi. Copyright 1970, do Jap%o, de John Weatherhill, Inc. Usado com permisséo de John Weatherhill Inc. The Pattern Of Health, do Dr. Aubrey Westlake, usado com permisso de Shambhala Publications, Inc. 2045 Francisco Street, Berkeley, CA 94709, Copyright 1961, 1973, de Aubrey T. Westlake. ‘The Wheel Of Life, de John Blofeld, usado com permissto de Shambhala Publications, Inc. 2045 Francisco Street, Berkeley, CA 94709. Copyright 1972 da Shambhala Publications, Inc. — I A Dane Rudhyar, Em agradecimento por seu encorajamento, inspiragao e inflexivel pureze de visa. A astrologia merece o revonhecimento da psicologia, sem restrig6es, porque a astrologia representa a soma de todo o conhecimento psicolégico da Antigiidade. ~ C.G, Jung. Comentério no The Secret of the Golden Flower A tarefa da ciéncia nfo é simplesmente identificar a mudanga do padro estrutural em todas as coisas, mas considerar essa mudanca uma coisa simples. A ciéneia comega com a hipétese, que esté sempre presente embora possa ser inconsciente, esquecida ou, as vezes, até mesmo negada: Existe uma ordem simples na natureza; & possivel uma forma simples de revelar a experiéncia; a tarefa da ciéncia é descobri-la, —L.L. Whyte, Accent on Form INDICE Agradecimentos Prélogo PARTE I ~ Astrologia e psicologia A cigncia moderna e a psicologia de hoje As limitagdes da velha estrutura Abordagens diferentes do conhecimento e a questdo da prova Arquétipos princ{pios universais Abordagens da astrologia A abordagem causal A abordagem simbélica A abordagem holtstica A abordagem em termos de energia 6. Psicologia human istica e astrologia humanistica A astrologia na arte de aconselhar e orientar 8. Notas sobre educagdo e treinamento de consultores astrolégicos Relacionamento entre mestre e estudante O treinamento de consultores astrologicos PARTE II ~ Os quatro elementos: uma abordagem ao nivel da energia para a interpretacdo de mapas de nascimentos 9, Astrologia: uma linguagem de energia 0s signos zodiaeais como padrdes de energia Os planetas como reguladores de energia A teoria astrologica da personalidude Conceitos-chave e definigoes Expressio positivo-negativa dos principios planetarios, 10. Os quatro elementos: as energias bisicas da astrologia Oreconhecimento mundial dos quatro elementos Descri¢des modernas Uma perspectiva espiritual uassificagao dos elementos elemento fogo Oelemento ar O elemento dgua 19 25 30 4B 52 92 54 56 58 60 67 B 76 18 85 87 89 a1 95 100 102 103 104 106 107 108 110 Oclemento tera 11. A psicologia do individuo Os elementos nas artes curativas 12, Os elementos na interpretago Desequitibrio do fogo Desequilibrio da terra Desequilibrio do ar Desequilibrio da dgua Enfase auto-expressiva ou auto-repressiva Enfase exagerada em dgua e terra; falta de ar e fogo Enfase exagerada em ar e fogo; falta de dgua e terra Ouiras combinagbes de elementos Combinagdes ar-dgua Combinagdes ar-terra Combinacdes dgua-fogo Combinagdes terra-fogo 13. Potencial de integragao: aspectos e relacionamentos planetttios 14, Os planetas nos elementos Merciirio Verus Marte Sol, Lua e ascendente stipiter e Saturno Outras consideragoes 15. Os elemeritos na comparagdo de mapas 16, Os elementos e as casas: um sisterna de palavras-chave Quassificagao das casas As casas de dgua As casas de terra As casas de fogo As casas de ar Astrologia: um instrumento para 0 autoconhecimento Apéndice A: Dados cientéficos Apéndice B: Astrologia e pesquisa moderna nos campos de energia Apindice C: Astrologia e terapia da polaridade Os quatro elementos Referéncias para a Parte I Sugestées para leitura 10 m1 3 119 123 126 127 129 130 133 134 134, 135 136 136 137 138 140 146 146 149 149 150 152 154 157 169 1 173, 175 176 178 180 183, 190 197 200 205 209 PROLOGO Um novo tipo de astrologia esté nascendo nesta época. E ainda bem informe e no esté totalmente coordenado nem adaptado as necessidades sociais, precisando de muito encorajamento e apoio da parte de seus proge- nitores. Assim como um bebé cai muitas vezes quando esti aprendendo a andar, este novo conceito astrologico esté tendo seus altos ¢ baixos e, cocasionalmente, cai de cara no cho. Como toda crianga, esta entidade em erescimento pede maior atengdo de seus pais, a fim de desenvolver plena- mente suas potencialidades, E, embora um pai ndo possa sentarse com satisfagdo, para contemplar um trabalho bem feito, até que a crianga ndo tenha se tomado plenamente saudavel e auto-suficiente, o proprio proceso de encorajar 0 crescimento ¢ o desenvolvimento da crianga € um incentivo suficiente para que se prossiga o trabalho. Este novo tipo de astrologia toma as teorias e as atitudes tradicionais e vira-as do avesso, 3s vezes expon- do uma degenerada massa de contradigées e de banalidades vazias, e de outras uma inspiradora esséncia de verdade universal. O novo astrélogo, portanto, arranca as imperfeigdes pela raiz ¢ tenta penetrar até um nivel de compreensio que iré iluminar uma via de acesso inteiramente nova, nfo s6 & astrologia mas também ao proprio homem. ‘As incurs6es no campo da psicologia, feitas na primeira metade deste século, somente agora comegam a ser assimiladas pela consciéncia da massa, embora tivessem comegado a influenciar a astrologia muito antes, na década de 30. Contudo, s6 recentemente o proceso de assimila- 40 ganhou impulso bastante para fazer com que grande nimero de astr6- logos e de estudantes da astrologia sintam a necessidade de reestruturar e de dar novo rumo as tradigGes astrologicas e ao propésito da propria astrologia, Esse processo de reestnuturagao comegou em 1936, com The Astrology of Personality, de Dane Rudhyar, e desde ento, aos poucos, ver ganhando velocidade ¢ popularidade. O desenvolvimento deste novo tipo de astrologia ist tem sido moroso principalmente porque leva muitos anos para mudar a consciéncia popular ¢ para os astrélogos superarem a velha estrutura que aprenderam quando comegaram a estudar astrologia. Contudo, a cons- cigncia dos tempos mudou e 0s astrélogos esto lentamente percebendo que a maioria dos métodos de interpretagao e de pratica, apropriados para as pessoas que viveram na década de 20, sfo irrelevantes para as pessoas que estdo crescendo e vivendo nos dias de hoje. As particularidades em que esta astrologia difere dos métodos mais antigos so explicadas com detalhes neste livro, mas gostaria de realgar um ponto. Na maioria das formas tradicionais da pratica astrologica, nas quais 0 astrélogo servia essencialmente como um adivinhador, presumia-se que 0 mapa natal revelasse as circunstancias que a pessoa iia encontrar na vida, e quais eram, no mundo exterior, previsiveis e, geralmente, inal- terdveis. Contudo, é Sbvio que a prognosticabilidade de qualquer coisa varia de acordo com seu nivel de complexidade. Por exempto, uma simples célula animal ou um composto quimico, normalmente & predizivel, uma vex que a sua natureza é simples, hé poucas varidveis ¢ ela ndo tem cons- cigncia ou capacidade para formas de reagdo alternatives. O tempo & menos prognosticével, principalmente porque hé muitas varidveis desconhecidas embora, em muitos casos, ele ainda possa ser predito, tendo como apoio 4 compreensio das variiveis conhecidas, O ser humano & menos prediaivel porque possui raciocinio, vontade, independéncia e, conseqiientemente, € capaz de um nimero ilimitado de reagGes varidveis. A medida que vai adquirindo mais consciéneia, ele se torna ainda menos predizivel. Portanto, uma pessoa altamente consciente, precisard apenas de uma sugestio, de um possivel evento ou experiéneia, para aprender uma determinada liga, ou para alcangar uma determinada compreensfo, 0 passo que uma menos consciente poderé necessitar de uma experigncia exterior mais definida ¢ concreta, para entdo chegar & mesma compreensio, Parecesme que o indi- viduo € predizivel justamente em proporgo a sua falta de percepgfo consciente. Por isso, 0 novo modelo de astrologia, a0 qual me refiro, & Prineipalmente orientado aqueles que deram alguns passos decisivos em disegdo 2 um crescente autoconhecimento. E verdade que uma pessoa nasce com um determinado mapa astral, com um certo padrso de “‘carma” ou de tendéncias emocionais, mentsis e fisicas. Todavia, as circunstincias que a pessoa ird enfrentar sergo, em ‘gfande parte, programadas por aquilo que ela iré expressar.\Em_outias palavres, voce. recede de volta aquilo que pGe para fora; todss_as coisas voltam para a sua fonte, Se alguém expressa impaciéncia ou orgulho, por_ 12 _exemplo, essa_pessoa _automaticamente. ford. surgir reagGes_ semethantes ‘nos outros. E indtil culpar o nosso mapa natal pelos infortinios que cria- ‘mos. A énfase, num uso modemno ¢ construtivo da astrologia, deverd estar no trabalho em conjunto com a energia natal, na modificaggo ou transmuta- gf da afinacHo dessa energia, para que suas express6es mais positivas possam ser manifestadas. Enfim, neste livro, tentei dar énfase a uma compreensio mais profunda dos fatores astrolégicos bésicos ¢ a wma ava- liagdo mais penetrante do propésito de todas as téenicas astrologicas. Este livro estd escrito em duas partes distintas. Os primeiros seis capitulos da Parte I foram originalmente incluidos numa tese de mestrado para um diploma de artes, classe de psicologia, na California State Univer- sity, Sacramento. A tese original, antes de uma ediedo mais ampliada, recebeu 0 Prémio de Astrologia, em 1973, conferido pela British Astrolo- gical Association, por ter sido a contribuiggo mais vatiosa para a astrologia, Gurante aquele ano. Ao escrever tal parte, minha inteng%o principal foi a de esclarecer as vérias maneiras de abordar a astrologia e revelar @ sua uutilidade pritica, especialmente nos processos diretamente relacionados com o campo da psicologia. Embora tenha sido escrita principalmente para aqueles que nfo tém qualquer familiaridade com 0 ponto de vista astrolé- gico, ela também pode ser Util aos estudiosos ou praticantes da astrologia. Ela nfo s6 contribui para um entendimento mais profundo e para uma sintese dos postulados astrolégicos, como também ¢ ttile ajuda a responder as intermindveis perguntas do grande piblico interessado e as oriticas projudiciais dos desinformados. ‘A Parte II do livro fomece uma base, em termos de energia, para toda a teoria astrol6gica, através de uma explicagdo sistemética do antigo coneeito dos quatro elementos. Desde que os elementos descrevem as ‘energias reais simbolizadas por fatores astrol6gicos, a compreonsio de seus prinofpios nos d4 capacidade para sintetizar o significado de um mapa de nascimento, de forma pritica e imediata. Parece-me que o maior obsté- culo no aprendizado de um estudante de astrologia ou na capacidade do profissional de usar a astrologia de uma maneira pratica e Gtil, é a falta de sintetizado dos métodos apresentados nos livros astrolégicos. Hoje em dia, podem ser encontrados muitos manuais para principiantes, mas 36 raramente encontramos, num livro impresso, a explicagdo de como penetrar no significado essencial dos fatotes astrologicos ou de como discemir um simples padrio de ordem nas infindéveis combinagSes repre- sentadas nos mapas de nascimento. Deve também ser enfatizado que, desde que a Parte I trata principalmente dos principios bisicos dos ele- 1B ‘meentos, em muitos casos foi preciso generalizar para trazer § tona o prin- cfpio essencial que estava em discussio. Contudo, é bom prevenir aos leitores para ndo se identificarem apenas com o elemento do signo solar (ou, na verdade, com qualquer wm outro fator) dos seus mapas, & medida ‘que avangarem na leitura, Conforme tentei esclarecer neste trabalho, cada fator do mapa € uma énfase independente na configuragzo do todo, mas um fator forte nZo domina toda a configuragdo a ponto de excluir outras reas enfiticas. E preciso lembrar que, embora o termo “energia” possa parecer um tanto nebuloso para alguns leitores, nossa linguagem simples- mente ngo oferece palavras mais precisas. Afinal, a energia da luz, se consi- derada como ums oitava, & apenas uma dentre as setenta e cinco oitavas existentes nas escalas de freqiiéncia do espectro eletromagnético conhecido. ‘Tentar descrever energias transcendentes usando nossa linguagem limitada foi uma tarefa dificil e desafiante. Espero que o leitor desculpe qualquer fracasso na comunicagdo dos significados, bastante sutis, envolvidos. A forma de abordagem que uma pessoa adota ao estudar qualquer fendmeno é, naturalmente, baseada no propésito que ela tem em mente, consciente ou inconscientemente/,EEm outras palavras, aquilo que queremos | acer com nossas conclusdes determinaré a forma de abordagem escolhida,’ Neste livro, meu objetivo é oferecer um substrato e uma estrutura para a compreensdo da astrologia em termos atuais e elucidar tanto a estrutura quanto a aplicagdo desta ciéncia em relagdo a psicologia contemporines, & psicoterapia e aos conceitos de energia. Por isso omiti, em grande parte, referencias a aspectos mais “ocultos” ou “esotéricos” da astrologia, nfo porque acredite que uma abordagem desse tipo tenha menos valor, mas porque estd além do objetivo deste livro. ‘que idéias novas prosperem, temos que nos tibertar das pressu posigdes “sabidas” a fim de que um sentimento de surpresa possa iluminar nossa percepedo. Tal liberdade € receptividade sdo caracteristicas de uma verdadeira ciéneia. E preciso limpar o terreno dos preconceitos intelectuais © emocionais para que se possa conquistar essa liberdade, e foi por essa raado que aqui dediquei tantas péginas a uma critica sistemética dos méto- dos “cientificos” ¢, psicoldgicos atuais. Hoje em dia muita gente esté pro- curando aleangar uma visio da vida mais simples e abrangente do que aquela que se pode encontrar nas disciplinas superespecializadas, comu- mente ensinadas nas faculdades e universidades tradicionais. H4 uma cre cente necessidade de colaboragdo total e satisfat6ria com os ciclos de Vida, e a astrologia pode proporcionar exatamente isso. Conforme escreveu © fil6sofo e fisico L. L. Whyte: “O principio estético e cientifico mais 4 profundo reside numa tendéncia para a simplicidade, a ordem, a elegincia, a forma.” A astrologia revela o plano global de simplicidade, ordem, elegin- cia e forma que opera no universo inteiro e, em particular, em cada individuo. No campo da psicologia hé diizias de “‘teorias da personalidade”” que tentam descobrir e definir alguma semelhanga de ordem no cardter e no estilo de vida do homem, Cada teoria da personalidade pressup6e que existe uma coisa tal como “natureza humana”, com que 0 reeém-nas- cido vem 20 mundo, principalmente na forma de predisposigdes gerais e de potencialidades, melhor do que na forma de caracterfsticas espectficas. © problema com as teorias da personalidade, comumente usadas na psico- Jogia atual, 6 que elas tém uma tendéncia inerente de se inclinar para o tipo de pessoa que divide certas caracteristicas com o inventor da teoria. Em outzas palavras, desde que 0 tedrico pressupde que, no fundo, todo o mundo ¢ igual a ele, e desde que ele ndo tem uma estrutura césmica que possa capacitéco a alcangar uma perspectiva mais ampla sobre a espécie humana, na pritica real o uso de tais teorias, limitadas ¢ tendenciosas, tem efeitos profundamente destrutivos. Se, todavia, conforme se evidencia noste livro,{a_astrologia é uma linguagem que descreve as proprias energias, _que ativam'9 ser humano, ela poderd muito bem ser o meio mais exato “de que podemios dispor para descrever o que é, realmente, 2 “natureza hu- mana” de céda individuo, 'Depoii de usar extensivamente a astrologia “Gurante Os tltimos nove anos, certamente é isso que ela me parece ser; ¢, durante os dltimos anos passados na minha clinica, pouco @ pouco deixei que todas as outras teorias fossem ficando & margem. Nao resta divida, para mim, de que a astrologia € o meio mais exato e abrangente de com- _preender a personalidade, 0 comportamento, a mudinga e 0 desenvol: “mento do ser humano. Muitas vezes me perguntaram por que a astrologia tem presenciado tal renovagdo da popularidade nos titimos anos. Penso que parte da resposta estd no fato de que a cultura ocidental jf nfo tem qualquer mitologia viével para sustentéta. Em qualquer cultura, 0 mito sempre atwa com uma forga vitalizante porque mostra 0 relecionamento do homem com uma realidade maior, mais universal. As pessoas sempre tiveram necessidade de um modelo para sevir de guia as suas vidas coletivas para dar signi cado & sua experiéncia individual.* Neste sentido, a astrologia contém Beyond Stonehenge, por Gerald Hawkins; publicado por Harper & Row, 1973. © autor ¢ wm astrOnomo da Universidade de Boston, que descobriu uma “orientagdo césmica” em praticamente cada uma das grandes civiliagdes através da Historia. 1s toda uma estnitura mitolégica, O Professor Joseph Campbell escreve: “O homem nao pode se manter no universo sem acreditar em alguma arramagdo da heranga geral do mito, De fato, até mesmo a plenitude de sua vida pareceria estar em relago direta com a profundidade e o alcance, nao do seu pensamento racional, mas da sua mitologia local”. Campbell declara que o mito tem trés fungOes essencisis: “provocar um sentimento de temor respeitoso”, “originar uma cosmologia” e “iniciar o individuo ‘nas realidades da sua propria psique”. Conforme muitas pessoas esto descobrindo hoje em dia, 0 uso adequado da astrologia preenche todas as trés fung6es. Daf, se concordamos com a definiggo de mito, dada por Campbell, creio que devemos concordar que 2 astrologia, conforme o fez durante eras do passado, oferece uma pritica e vital mitologia para os nossos tempos. 16 Parte I Astrologia e Psicologia 1 A CIENCIA MODERNA E A PSICOLOGIA DE HOJE © fenémeno humano deve ser medlido numa eseala césmica, ~ Teilhard de Chardin Assim como estamos pasando por uma revolugdo mundial nas comunicagSes, nas formas sociais e nas relagGes intemacionais, também vivemos uma revolugdo em nossas concepedes acerca do homem e do universo, A roda da mudanga nunca para, e, atualmente, parecemos estar no ponto crucial onde um velho ciclo de vida esté terminando e as carac- terfsticas iniciais do ciclo seguinte esto comegando a tomar forma, A ciéneia como um todo e a psicologia como uma disciplina independente devem, ambas, reagit a estas mudancas (e as necessidades, também em proceso de mudanga, dos homens ¢ das mulheres de hoje) de maneira criativa ¢ receptiva. A maioria das pessoas ainda ola para a “ciéncia”” © para 08 pretensos experts em busca de respostas para o nosso dilema moderno; com muita freqiéneia, porém, psicélogos, psiquiatras e outros especialistas, que pretendem saber as respostas, realmente tm muito pouco para oferecer ao homem comum. 0 significado e a importancia da experién- cia pessoal (0 verdadeiro dominio de qualquer inquirigfo psicologica centra- lizada na pessoa humana) raramente so esclarecidos por esses especialistas, Alguns deles rém dado passos importantes na dirego de uma sintese do conhecimento moderno, de forma capaz de provocar uma reagio nos sentimentos mais profundos do homem, como por exemplo, o Dr. Carl G. Jung e Pe, Teilhard de Chardin, E comum, porém, até mesmo Aqueles que entoam louvores aos elevados ideais da pesquisa em busca da verdade, simplificando @ nossa concep¢o do mundo modemo e ajudando 0 nosso semethante, recusarem-se a assumir riscos, preferindo permanecer enclau- surados nas suas especialidades profissionais. So raramente um homem 19 de grande criatividade © coragem, disposto a suportar a critica difamatéria de seus colegas ¢ de seus contempordneos, assume a tarefa de agit com base nestes ideais elevados. Na cultura ocidental de hoje descobrimos que 0 homem esté cada _ ver mais alionado de sie de sua cultura,, Esta fora de contato com suas rafzes humanas fundamentais. Seus valores tradicionais e culturais esto falindo ou esto sendo abandonados. O homem, hoje, tem uma forte neces- sidade de restabelecer 0 contato com a esséncia da tradigo humana e com © micleo da sua vida psiquica, as quais transcendem tempo ¢ lugar. Até ‘onde eu sei, nenhuma teoria da “personalidade”, nos dominios da psico- Jogia, conseguiv chegar a uma compreensao ¢ a uma descrigfo do Homem Universal. Portanto, chegou a hora de olhar outras coisas, outras teorias, idéias e experiéncias que sf0 vilidas para qualquer ser humano. Esta é, naturilmente, uma incumbéneia dificil, mas uma sociedade global nasce e, para que cla tenha um nascimento tranquilo, € bom pavimentazmos 0 caminho procurando compreender 0 que © homem realmente é. De que natureza é esta nova ordem mundial que esté no horizonte? Huston Smith (1971) professor de filosofia na MIT e autor do livro The Religions of Mon, declara: Hd (..) tds grandes civilzagSes: Ocidental, Asitica Oriental (chinesa) ¢ Asidtica Sulina (indiana), Historicamente, nos seus perfodos principais, cada tuma delss se especializou em uma destas tr€s dreasproblema: © Ocidente ra matureza, a China nas relagSes socials e a India nas relagdes psicolégicas, Se a hipdtese acima ¢ verdadcira, cada civilizagdo tem o dever de tomar ligées das outras duas, nas dreas que nesligenciou, Da China podemos tomar 0 respeito pela familia, @ atitude para com ‘a velhice © com a esfera pessoal, como oposta 20 impétio, isto é, uma Leal dade maior para com a comunidade centraizada go lar. De fndia, conforme observou Gordon Allport, das quatro metas reconhecidas do homem, ito 6, prazer, sucesso mundano, dover e libertagdo, o Ockdente se preocupou quase ‘que exclusivamente com as duas primeiras, dando pouca atengio a0 dever € henhiuma @ libertagio, Tembém hd o conceito de tipos humanos distintos que, cembora aplicado abusivamente no sistema de castas indiano, assim mesino & um critério vilido, Segundo, « nova civiizagdo serd mais ecolégica. Conforme foi observado acima, © Ocidente se preocupou com s natureza, a China e a India preoc- paramse também mas, no espirito de Wordsworth mais do que no de Galilew ‘A forma de sentir do Ocidente 6 de dominagao sobre a natureza (..). Atval- ‘mente hé uma tateante procura de originalidade mas, e quanto a qualidade? . Greio que voltaremos para as gldrias da simplicidade no aspecto ecol6gico da nova civilizacio. . Minha terceira predigfo » respeito da nova civilizagio & que, quando 20 © momento chegar, haveri! uma orientagio mais espititual em relago 20 mundo. Enquanto no século XIX, viamos a natureza como uma maquina, agora, no sculo XX, vemo-la como um organismo, com menos determinism ¢ mais berdade. Poderemos extrapolar, do mecdnico do século XVII ao século XIX, © do bioldgico do século XX para 0 psicolégico no século XI? Finalmente, estaremos entrando na nova civilizagfo do mundo na mesma ‘medida da nossa eapacidade para alcangar um novo padrio de vide que seja aiguma forma de sintese destas trés Enfases das civlizagdes passadas: natureza; homem e personalidade. (p, 1 ss.) Hans Stossel (1959) expressa as necessidades do homem modemno desta forma: Hoje cm aia 6 esencal que se chegu a una compreenfoeésnica¢ epi tual mas profundse werd gatifiante safer que somenteesa «necesidae da] ‘nossa era e a exigéncia do nosso século, Este serd o tempo em.que o homem |!) terd um comhecimento muito mlor (ago somente wna cree) de como ‘fiéarse com o universo,. i 1 \E esta sintese, esta unigo do homem com o mundo natural ¢ este sentimento. de unidade com 0 universo, que a astrologia pode oferecer “como contribuigao para a felicidade do homem moderno.Conforme escreve © psic6logo Robert L. Marrone (1971): “No decorrer de toda a hist6ria registrada, 0 que 0s pensamentos do homem a respeito da natureza e da sua relagdo com @ natureza fizeram foi: diminus-lo ou engrandecé-lo, separé-lo do seu mundo natural ou fundi-lo com o universo ciclico”. O sentimento do homem modemo de separaedo do mundo natural e a sua falta de identi- dade com os cosmos explicam (uma vez que este € o zeitgeist agora) por que a astrologia tem que ser “provada"” antes que muitas pessoas queiram reconhecé-la como uma arte ou como uma ciéncia vilida. Quase todas as culturas que conhecemos tiveram uma forma ou outra de astrologia; € nfo se pode atribuir isto 20 fato de faltar a elas o “esclarecimento” mo- demo, mas antes ao seu senso imediato de unidade com o meio ambiente cosmico. Mais do que qualquer outra coisa, os preconceitos pseudocienti- ficos vulgares ¢ a adesdo a teorias cientificas fora de moda, correntes entre cientistas atuantes, educadores e 0 piblico de modo geral, colocam-se no caminho de uma nova sintese de conhecimento ¢ de uma nova esperanga para o futuro do homem. Parece que os psicélogos mais académicos, em particular, estdo fazendo exatamente aquilo que Robert Oppenheimer (2971) preveniu para que nfo fosse feito: isto é, est@o tentando moldar uma ciéncia da psicologia sobre uma fisica que jé se tornou obsoleta. Se olharmos para 0s fisicos modemos, veremos uma diversidade incrivel 21 © nogdes tals como antimatéria e indeterminincia, cujas descrigdes soam mais como um relato mistico de éxtase religioso do que como aquilo que estamos acostumados a esperar de um tratado cientifico. Ainda assim, com algumas poucas notiveis excegdes, os pesquisadores no campo da psicologia continuam a operar como se fossem bioquimicos ov fisicos. Portanto, embora os praticantes da astrologia possam, de fato, beneficiar-se com 0 conhecimento de certos critérios e processos da psicologia moderna, devem ter 0 cuidado de ndo subestimar a propria astrologia e superestimar 2 eficd- cia da psicologia atual nos seus esforgos para chegar a um tipo de pritica astrolGgica mais sofisticada e respeitavel. Conforme declarou C. G. Jung: (“Obviamente, a astrologia oferece muito para a psicologia, mas aquilo que \ esta filtima pode oferecer & sua irmé mais velha é menos dbvio.” A ciéncia é um instrumento poderoso, como é a astrologia, O conheci- mento que obtemos através destes métodos pode ser usado de duas formas: ‘manipulagdo ou avaliagSo. Infelizmente, até agora a ciéncia, no Ocidente, tem sido usada principalmente para a primeira, nfo sO nas ciéncias fisicas, ‘como também na psicologia. De acordo com o que escreve 0 fisico € filésofo L. L. Whyte (1954): “A propria ciéncia poderia beneficiar-se com 0 reco- nhecimento mais amplo das preferéncias inconscientes que guiaram 0 seu ' desenvolvimento histérico ¢ que ainda hoje persistem”. E hora da ciéncia em geral e da astrologia e psicologia em particular fazerem um novo esforgo em busca de verdade e compreensio, em vez de ficarem apenas colecionando fatos isolados. Embora a astrologia também tenha sido usada, € possa ser usada, para fins manipulativos, sua combinagao com as melhores revela- | gées da psicologia pode nos oferecer um meio penetrante de fazermos ‘uma avaliago mais profunda de nés mesmos, do universe ¢ dos outros seres humanos. Embora alguns cientistas (inclusive psicdlogos) expressem delica- damente a idéia de que hi necessidade de abordagens novas ¢ criativas para que a ciéncia progrida, eles mesmos, pela natureza das suas atitudes @ por sua identificagdo pessoal com a “ciéncia”, impedem o desenvolvimen- to de tais abordagens. Em outras palavras, eles nfo compreendem o verda- deiro processo criarivo (como diferenciado da mera reunio e correlago de fatos), Muitos ndo percebem que a divisdo que hé em suas personali- dades (profissionalmente “objetivas”, ao passo que pessoal e particular mente “subjetivas”) impede que ocorra neles o ato criativo. Isso acontece porque a criatividade & 0 desenvolvimento da unidade ¢ da integrago do ser humano ou da luta para alcangar tal unidade. Conforme escreve Rudin (1968), no seu livro Psychotherapy and Religion: “Ninguém pode escapar 2 da sua propria alma sem mutiler sua vida e, também, sem se condenar & doenga no reino fisico o « uma produtividade falsae estereotipada no reino intelectual” (pp. 2930), Parece que 0s seguidores e os dscipulos dos verda- deiros pioneiros, em qualquer campo, certos de que encontraram a verdade, Jogo se tomam inflexivels ¢ fandticos, congelando as idéias do tebrico original. Isso tem o efeito de reprimir novos desenvolvimentos durante déca- das. Esse mesmo processo também oconreu em alguns ciculos astrol6gicos, resultando em nova fragmentagio e disedrdia num campo que precisa desesperadamente de uma unio compreensiva, Aqueles que se realizam criativamente, cujos noms so reverenciados nas geragGes posteriores, sfo sempre os que esto verdadeiramente abertos para o que novo. Esta abertura naturalmente conduz o criador para reas de pensamento e de pesquisa que so profissionalmente inortodoxas ¢ culturalmente inconvencionais. Como Alfred North Whitehead observou, quase todas as idéias realmente novas tém um certo aspecto ridiculo quando fo apresentadas pela primeira vez. Sé precisamos olhar para os nomes «© para as vidas de alguns dos maiores oriadores, na cultura ocidental, para perceber quantos deles se ocuparam com areas de estudo que, oficialmente, eram tabu na época. Einstein (1954) falou a respeito da experiéncia “mistica” do visumbre original e da sensagdo “teligiosa” da verdadeira compreensio: A mais bela © mais profunda emogdo que podemos experimentar & a sensago do mistico. Ela é « forga de toda ciéncia verdadeira, Tomar conhecimento de que aquilo que é impenetrivel para nés existe realmente, manifestando-se como a mais clevada sabedorja ¢ como 4 mais radiante beleza que as nossas faculdades obtusss s6 podem compreender em suas formas mais primitivas — este conhecimento, esta sensagdo esti no dmago da verdadeira religiosidade. C. G, Jung nfo s6 usow a astrologia como instrumento psicolégico em sua clinica, como também gastou anos pesquisando os aspectos psicologicos do simbolismo alquimico. Sigmund Freud (1970) escreveu numa carta, a0 aproximarse o fim de sua carreita: “Se tivesse minha vida para viver outra vez, devotar-me-ia 4 pesquisa ps{quica mais do que A psicandlise.” O astrd- nome e fisico Kepler (1967) conta-nos que tinha um forte desejo de nfo acreditar na eficiéncia da astrologia, mas que “a infalivel coincidéncia das configuragdes estelares ¢ dos eventos sublunares obrigou-me a acreditar contra a minha vontade”. Outros cientistas astrol6gos famosos so Francis, Bacon, Benjamin Franklin, Lorde Napier (o inventor dos logaritmos) e Isaac Newton. De fato, relatase que foi Newton quem replicou, quando Ihe 2B perguntaram © que queria estudar em Cambridge: “Matematica, para que assim eu possa testar a astrologia.” Além do mais, conta-se que Newton disse, quando repreendido por Haley (0 descobridor do cometa) por acredi- tar em semelhante superstigg0: “E evidente que vocé no analisou a astro logia; eu analisei.” Quanto mais descobrimos sobre a vida, mais tendemos a chegar 2 idéias que unificam muitas dreas da vida e muitas disciplinas intelectuais, Tais idéias unificadoras so altamente necessirias, hoje em dia, especial- mente no campo da psicologia, 2 ciéncia que lida mais intimamente com 1a vida das pessoas. Para mim, € evidente que a astrologia ¢ justamente 0 modelo de ordem ¢ unidade que falta & psicologia atualmente. A unidade, a satide € a integragdo do ser humano constituem 0 ponto de partida para a satide e a vinbilidade de uma sociedade./Como ¢ que uma sociedede, cujas instituigdes educacionais pregam uma abordagem fragmentada da vida e uma divisfo distorcida do mundo, pode produzir um individuo saudfvel e criativo? O que hoje & mais necessirio, partioularmente na insti- ‘tuigdo educacional, € uma inquirigdo meticulosa das nossas pressuposigdes acerca da natureza do homem e do significado da existencia, Se somos “onestos estaremos abertos para aquilo que é. Portanto, it6s mesmos, a fim de estabelecer um tipo de psicologia (¢ de astrologia) focalizada na satide e na realizago individual, podemos comegar a desenvolver uma verdadeira cigncia da vida, voltada para o ser psicofisico total, cuja principal caracteristica é @ propria consciéncia. Mas, para fazermos isto, temos que nos libertar da predisposigo superada do pensamento materialista, e reco- nhecer que diferentes tipos de estudo exigem diferentes abordagens. 2 AS LIMITACOES DA VELHA ESTRUTURA Atualmente, parece Obvio, a muita gente, que a ciéncia objetiva do satisfaz. as necessidades mais profundas do homem, nd importa quanto conforto ¢ bem-estar ela possa dar a0 corpo e quanto orgulho ao intelecto. ‘Na construgdo de uma psicologia moderna cientifica ndo somente temos que satisfazer o intelecto mas, também, fomecer alguma coisa A qual 0 coragdo e 4 almia humanos possam responder. Hoje, no mundo inteiro, chegamos a um ponto em que © homem parece saber tudo ¢ nifo entender nada. £ 6timo reunir dados ¢ correlacionar fatos estatisticamente mas, uma excessiva concentragdo sobre pormenotes, faz perder o contato com o poder integra- tivo, sinfonico e coerente do todo. Perdemos, portanto, o poder restaurador das grandes verdades universais. A ciéneia modema encontra sua profun- didade nos detalhes da matéria; e o maior problema decorre do fato de que estas descobertas nunca tornam a se juntar num todo completo e vivo. Uma ‘ver que parecemos ter inclinagGes para o estudo dos fenémenos complexos, as verdades simples, que sdo imutaveis, so esquecidas ou escamecidas. Con- forme Goethe (1950) escreve no Fausto Aquele que vai estudar a natureza orginica Primeizo expulsa sua alma com rigida persisténcia; Entio, as partes em sua mio ele poderd segurar e classificar, ‘Mas o elo espiritua, ail esté perdido. (LParte, IV Cena, p. 66) {/Precisamos dar mais énfase ao todo do que apenas as partes; precisa- mos olhar, ainda, para os principios universais ocultos sob a totalidade da vida, antes de comegarmos a brinear com a natureza. A crise ecol6gica com que nos deparamos & apenas o resultado bvio do uso que o homem fez do “conhecimento” sem a orientardo da sabedoria, isto é, sem um discemimento do padrdo subjacente ao sistema inteiro. Na sua impaciéncia 25 por ripidos “resultados”, os psiquiatras recorrem a drogas e a tratamentos de choque ¢ chamam isso de “terapia”; os Fazendeiros recorrem a pesticidas © fertilizantes quimicos, justificando essas ages como uma necessidade econdmica ou uma corajosa tentativa de impedir que a humanidade morra de inaniggo. © que a astrologia pode fornecer ao homem moderno € 2 compreensGo dos prineipios universais, da harmonia do todo ¢ dos planos focultos da natureza, Esta é uma das razGes pelas quais tantas pessoas, nos Estados Unidos esto comegando a se interessar pela astrologia: porque sentem nela a possibilidade de poder-thes revelar a ordem e o significado das suas vidas aparentemente ca6ticas. Joseph Goodavage (1967), autor de Astrology; The Space Age Scien- ce, mostra claramente o desencanto modemo com a ciéncia materialista: Parece que alcangames 0 ponto de saturago com 0 materialismo. Ele néo tem gerado nada além de frustragio, édio, guerras e lutas de classe. Sua meta € vaga © sem significagdo, um beco sem safda para a humanidade. Devemos admitir a existéncta de uma nova evidéncia, toda ela apontando, infalivelmente, para a sublime unidade e interdependéncia das coisas na naturezs. (pig. 139) De fato, é impressionante observar como muitos cientistas e filésofos modemos admitem 0 aspecto mental e espiritual do cosmos. No seu livro, The Mysterious Universe, Jeans (1932) escreve: Hoje, hi uma amps medida de concordinca, que no ado sco da cignia x aproina da unaimidade, com respeto tia de que a eomenteza do co- thscmeno estos consi pte whe rene oes owe one a se parser mal com um grande pensamento do que cam uma grande maquina, A mente jf no se aproenta como umn ino acklenal ne Fino da matéria; comegamos a suspeitar que deverfamos, antes, saudi-la como cria- dora e govemante do rein da materia (.) O veho dusismo da mente ¢ da mata) parece propenso a esapasec; nfo pel fato da mata, de eto modo, tomarse mais nubulosa 0 inaetancial do. que tem 0 até nto, tom pelo Tato de mente se converter numa atiidide di matésla; mas peo tht da matiia substan se converter numa clagf0 © maifstgfo da mente Descobrimos que o universo mostra endéndas de um poder planjador ou Conticador, que te alguma cols erm coraum em nosas mens individuals no, Me onde descebsimos, no sentido emoconal, mora ov da apreiagio tata, mas ma tendéncl pam pensar de na fina que, por fala de oma lava melhor, desereveremos como matemdtic (.) Atualmente muitas pessoas sfo atraidas para a astrologia porque ela 26 revela esse “poder planejador” do universo numa estrutura matemética, Irving F. Laucks (1971) explica que a filosofiz do “Deus esté Morto”, dos tempos moderos, tem origem no fato de que o Deus material esta morto, um caso que todos deverfamos tratar com alegria, na medida em que deixa lugar para o nascimento de uma concepedo nova e mais completa da vida e do universo: As religides oriontais foram menos materialistas em suas idéias. Para criar 0 ‘mundo elas usaram um conceito que hoje poderia, facilmente, harmonizar-se ‘com tudo 0 que sabemos sobre “energia", Desde que a ciéncia ovidental desco- briu que, na construgdo de um universo, a energis é uma forca mais importante do que a matéria, nesse sentido, bem que a cincia ocidental ea religido oriental poderiam cooperar. ‘Mais uma vez, na existéncia além da morte as religi6es orientals nfo so ma- terialistas, Tanto 0 seu conceito de reencarnagfo quanto o do Nirvana apés a morte poderiam muito bem concordar com “‘energia" como um futuro meio de existéncia, melhor do que espago, tempo © matéria, conforme tém ensinado as religiSes ocidentais Ese idéia de que a,“matéria”, da qual o grande universo € composto (...) nada mais é do que uma coisa intangivel, do tipo a que chemamos de forga fou “energia”, talvez seja o conceito mais importante jamais farmado pelo cerebro jovem do homem, Para a ciéncia, este idéia tem menos de um século , até agora, nem a ciéncia nem o pablico perceberam toda sua importincis, (pag. 4) ‘A nova énfase sobre “‘energia” como uma realidade primordial sobre a matéria € analisada pormenorizadamente na Parte Il deste livro ¢ no Apéndice B, particularmente a relaggo dos conceitos de energia com a sstrologia. Na vida cotidiana, 0 lado espiritual do homem 6 insepardvel da vida psicoldgica. A propria derivaggo da palavra “psicologia” revela a estreita relagfo entre a mente do homem e a sua natureza espiritual. A palavra grega psyche tinha originalmente dois significados. O primeiro deles é melhor traduzido como alma, isto é, a mais profunda fonte de vida no hhomem, © segundo era borboleta, que tinha a conotagdo de espirito imortal impregnando a natureza inteira e cada ser humano, Desde eto, na maioria das vezes, psigute tem sido definida como “mente”, embora muitos psicé- logos experimentais e fisiolégicos preferissem eliminar um termo tao ima- terial quanto este. (Contudo, de acordo com as ciéncias espirituais e psico- J6gicas da India, embora mente e alma estejam estreitamente entrelagadas no funcionamento cotidiano da vida da maioria das pessoas, na verdade elas so absolutamente distintas. Uma das doutrinas principais das formas 7 avangadas de ioga € a idéia de que a alma s6 poderd ser livre quando no estiver escravizada & mente.) Felizmente para a psicologia, alguns psicdlogos humanistas no se acanham tanto em considerar os aspectos mais {ntimos da vida do homem, aquelas dimensGes que transcendem as atividades meramente intelectuais mentais. Uma psicologia baseada no comportamento observivel, presu- mindo que somente os dados “objetivos” tém valor, na realidade no ¢ nenhuma psicologia. Restringir 0 ambito da psicologia ao estudo laboratorial de animais e aos padrées de comportamento manifesto dos seres humanos € incompativel com a definigao de seu suposto objeto de estudo, ou seja a psique: qualidade mente-almaespirito que impregna todos os esforsos humanos ¢, talvez, toda a criago. Conforme Jung apontou amifide em seus escritos, no podemos ser “objetivos” quando estudamos a psique humana; pois temos que estudar a psique através da psique do observador. Isso pode ser visto como ums eritica a toda a pesquisa denominada objetiva; ‘mas certamente 6 da maior relevincia pata o estudo do homem em sie das atividades da sua vida interior. A tendéncia aos estudos “objetivos” na psico- logia, particularmente na escola comportamentalista faz ignorar um fato bisico que é exclusivamente humano: a criatividade. Conforme foi mostrado pelas pesquisas de Jung ¢ também do psicélogo de criangas Jean Piaget, a mente no opera como um espelho passivo, mas antes como um artista ativo ¢ determinado. Eis outra citago do livio de Rudin (1968) Paycho- therapy and Religio» {A psioologia dos tempos modemos nfo pode se dar ao luxo, como fez aquela do sécuto XIX, de contornar as urgentes questfes atuais referentes & alma fe fechar-se num laboratério cheio de aparethos a fim de realizar experiéncias, imitando aqueles que lidam com a quimica e a fisica. A psicologia entra caute- losamente na vida, no processo ininterrupto da alma individual, nos seus altos « baixos, derramendo luz sobre seus desejos e anseios seeretas... (p. 21) Num estado de espirito similar, o psiodlogo O. Hobart Mowrer (1969) escreveu que “... esta questo do ajustamento total do homem ¢ da sobrevi- véncia psicossocial nfo entrega facilmente os seus segredos mais {ntimos a0s tipos convencionais de inquiri¢go cientifica...” (p. 14). Esse fato explica por que a psicologia do século XX, em grande parte, tem-se estagna- do e continua sendo totalmente irrelevante para a vida cotidiana e para os nossos anscios. Ultimamenie, os tinicos psicélogos que tém feito progressos no sentido da compreensfo da vida interior e da experigncia imediata do ‘homem, sdo aqueles que se tém aventurado para fora dos dominios restritivos 2B da inguirigdo cientifica convencfonal. Inclio aqui aqueles que comegaram a pesquisar dreas hi muito negligenciadas, tais como meditarlo, PES, psico- logia e flosofia orientais, mitologia e religiZo comparadas utilizando tam- bém a astrologia e outias técnicas antigas como insirumentos psicol6gicos. Todas estas dreas de estudo, que poderiam ser livremente agrupadas como aspectos de uma psicologia verdadeiramente humanistica, provaram que Go titels 0 nosso esforgo para libertare utilizar criativamente as qualidades ¢ capacidades imanentes do homem. Se 0 nosso objetivo, no estudo da psicologia, fosse o de desenvolver técnicas eficazes de condicionamento, lavagem cerebral e manipulagdo dos nossos semelhantes, entio deverfamos nos concentrar no lado da vida do homem relacionado com o seu comporta- mento. Mas se queremos usar a poderosa ferramenta da ciéncia para ave- liar-nos melhor ¢ a outrens, para aprender a viver de forma saudével © har- moniosa, libestando 0 que hé de mais inspitador e criativo no homem, entfo temos que perceber as limitagGes da abocdagem materialistae comegat uma aventura no desconhecido, sustentados apenas pela f€ na sabedotia da natureza e nos destinos elevados do homem. 29 3 ABORDAGENS DIFERENTES DO CONHECIMENTO E A QUESTAO DE PROVA | Somente conheco 2 verdade quando ela se toma vida erm mim, Soren Kierkegaard O filosofo e fisico L. L. Whyte (1948), no seu livro The Next Deve- lopment in Man, argumenta que 4 tradigG intelectual do Ocidente foi marcada por aquilo que ele chama de “dissociagao”. O que ele quer dizer com isso € que, cada vez mais, desde o tempo de Plato e de Sao Paulo até o século XX, o comportamento deliberado do homem ocidental, ditigido por sua mente, tem sido organizado através do uso de conceitos estéticos da natureza, a0 passo que 0 seu comportamento espontiineo, em resposta direta & sua experiéncis imediata, continua a expressar, inevitavelmente, (8 processos formativos que realmente caracterizam a natureza toda. Esta dissociago entre 0 corpo ¢ a mente, a personalidade ¢ a natureza, o inte- lecto e 0 senso do sentimento e da intuigdo, tem impregnado todae qualquer abordagem da vida adotada pelo homem ocidental: intelectual, religiosa, econémica ou politica, Normalmente, as raras excegdes a esta tendéncia tém sido os poetas, as misticos outros que esto situados na periferia da Vida sécio-cultural. Esta tendéncia dissociativa levou a0 colapso da cultura ocidental, conforme pode ser visto nas grandes guerras, na crise ecolégica dos dias atuais e nos problemas fisicos ¢ mentais que se avolumam com rapidez. Whyte (1954) prossegue dizendo: ‘Sea natureza, no todo, é um grande sistema em perpétua transformagio e desen~ volvimento, & tentativa de isolar qualquer parte estd destineds ao fracasso. [Em particular, « separagfo do homem, como dependente, do campo da natureza objetiva, cegvo para a forma de vida apropriada para ele. O homem 96 pode ‘compreenderse plenamente fundindo © conhecimento objetivo, obtido através da observagdo da totilidade da natureza orginica, com 0 conhecimento subje- 30 tivo, de experigncis individual. Isso pode trazer uma nova tranglilidade © suto-aceitagGo, uma simplicidade baseads no conherimento. Os preconcaitos negatives da moralidade convencional so substituides por um entusiasmo positive pela vida em desenvolvimento... (p. 121) “Whyte assinala que desde o tempo dos gregos os pensadores tém-se situado em dois cantpos, que podem ser chamados de Escola Atomistica © Escola Holistica; ¢ os que aderem a um ou ao outro dos dois tipos de abordagem ndo gostam da outra opinigo, que serve como complemento. Em’ nossa vida didria, usamos as duas abordagens, com graus de énfase varidveis, muito embora a abordagem holistica seja, sem divida, a mais abrangente e a mais Gtil para se compreender os sistemas vastos ou 0 todo ~orginico. Conforme escreve Whyte, a abordagem holistica (isto é, 2 cons- ciéncia de forma e de padro) nao pode ser ignorada desde que ¢ irrefuutdvel ao fato de que formas regulares dominam a natureza e tudo aquilo que vernos e experimentamos. Esse mesmo problema de concepeGes conflitantes da vida € notado pelos psicblogos ¢ pelos filésofos existenciais, O psicdlogo Rollo May (1958) diz que 0 existencialismo “procura compreender o homem cortando abaixo da diviso entze sujeito ¢ objeto, pela qual a mente ocidental tem sido atormentada desde logo depois da Renascenga”. Muitos existencialistas reconhecem pelo menos duas abordagens diferentes do conkecimento: “aquela do “mistério” (@ qual Gabriel Marcel se refere como sendo tudo 0 que possa ser ch: de pessoal, tanto humano quanto divin) ¢ a do_ “problema” (que nasce da andlise das partes do todo). Marcel prossegue Gizendo que a propria existéncia nfo ¢ “explicada” mas, antes, tem que ser esclarecida para poder ser realmente entendida. Pascal, o filésofo francés, negou que o mundo e, especialmente, o homem pudessem ser verdadeira- mente compreendidos por meio da anilise racional. Ele afirmou que a intuigso, isto é, ver através da superficie das coisas e penetrar no seu mis tério essencial era, fundamentalmente, a chave para se compreender 0 homem e 0 mundo. Aquilo a que Marcel e Pascal estdo-se referindo aqui, hoje em dia ¢ chamado de abordagem holistica. Esclaregamos, entfo, as iferengas bésicas de abordagem, que levaram & dissociagdo da mente ocidental e 20 énfase imerecido sobre stividades puramente intelectuais. As grandes escolas de mistério da antighidade (predecessoras das modemes técnicas psicoterapéuticas) ensinaram que a consciéneia humana 86 é limitada pelas fronteiras intelectuais arbitrérias que ela impSe a si ‘mesma. Ao estudarmos a historia da Civilizagdo Ocidental, percebemos que a énfase grega sobre a ciéncia ¢ a razfo é considerada como 0 ponto 31 OM critico crucial no desenvolvimento intelectual e cultural do homem ociden- tal, Essa naturalmente, foi uma era de grande crescimento na compreensiio do homem a sespeito de si mesmo e do universo. Todavia, a contribuiggo dos gregos néo se limitou A descoberta de certas leis naturais, em atividade do mundo material; ela também se estendeu até os dominios da vida e do desenvolvimento interior do individuo. “Conhece-te a ti mesmo” foi a idéiachave bisica para o desenvolvimento da filosofia grega; e palavra “filosofia” (philosophia) significa, literalmente, “amor 4 sabedoria”. Para ‘05 gregos, a ciéncia no era simplesmente a reunigo de dados na esperanga de que certas correlagées pudessem ser descobertas. Era, antes, uma pesquisa sistemética em busca das verdades essenciais,ocultas sob a vida ¢ a natureza © uma tentativa de descobrir nfo so as leis narurais, mas também as leis metafisicas universais e da propria vida. E, para os gregos, raciocitiar nfo se referia simplesmente aos céleulos, proprios de computador, da mente logica, mas antes a uma combinaedo inspirada (ou inspiradora) de anilise « intuigdo, baseada em ideais de elegéncia e simetri. Muitos cientists modemos ainda acreditam que as teorias mais abrangentes tém que ser, necessariamente, as mais elegantes, esteticamente satisfatOrias ¢ essencialmente simples, Contudo, mo caso de muitos cien- tistas, este ideal tem sido esquecido ou ridicularizado; e a procura de ver- dades de grande alcance tem side negligenciada por causa de uma énfase exagerada dada & anélise crit ca ara sermos yerdadeicamente cientificos temos que nos abster, 0 quanto for possfvel, de impor nossas prOprias “expeciativas, desejos e limites intelectuais preconcebidos, sobre a mente dos homens, para que assim o espirito possa crescer em liberdade e floreseer. Muitos cientistas, porém, inclusive psicdlogos, tém limitado desnecessati mente a sua visio do homem e de seus poténciais. Quando um homienr constr6i, intelectualmente, uma parede ao redor de si mesmo, essa parede no afeta o que estd fora dela; simplesmente impede que o homem veja aquilo que esté de fora, distorcendo 2 estrutura do todo. Nos tentamos compreender a vida limitando-a e classificando-a, tomando como. base, Pilacipaimente, os nossos preconceitos intelectuais e a3 nossas,predispo- ~siges emocionais. Com demasiada freqléncia, porém, acabamos nos limi- ‘Tando, pois o-que ela €, ela ¢, ndo importa o que possamos dizer a respeito: ‘AS institvigées educacionais da nossa cultura poderiam aprender uma liggo ucrativa com o Mestre Zen Shunryu Suzuki-oshi (1970): Nossa mente original & “mente de principiante”, na sealidads uma mente vazia f pronta, Se a nossa. mente esté vazia, ela esi pronta para qualquer coisa; std aberta para todas as coisas, Na niente do principiante hi muitss possibi 32 lidades; na do entendido hi poness.. Na mente do principiante nfo hi ponsa- ‘mento, “Es relizsialguma coisa”. Todos os penstmentos ¢gocintricos Limits nossa mente vasta, Quando no temos aenhum pensimento de conquista, neshom pensamento do ego, sommes verdadeirs prinipiantss. Entfo podemos, realmente, aprender alguma coisa. © intelecto ¢ principalmente vantajoso para a utilizagso do mundo exterior, material. Vemos um exemplo deste fato quando notamos como 2 ciéncia € a tecnologia do Ocidente progrediram rapidamente depois que a deusa da ra2o foi entronizada na Europa. Todavia, é igualmente certo que nfo vimos um tal progresso rapido no nosso entendimento do homem por meio dos esforcos da psicologia materialista. $6 recentemente, quando a raz8o ¢ 0 intelecto foram compensados pela énfase na experiéncia, no séntimento e na intuigdo, é que alguns ramos da psicologia comegaram a fazer progressos na compreensfo da natureza interior do homem. Até agora a aplicaego de uma andlise puramente intelectual, para se chegar & compreensio do mundo interior da experiéncia, nfo tem sido capaz de provar ou desaprovar coisa alguma acerca das quest6es fundamentals filos6- ficas ou religiosas, da vida, que formam a base da estrutura psicolégica de qualquer pessoa. O positivismo logico é 2 manifestapdo extrema (¢ 0 resultado légico) da abordagem analitica, da qual se poderd dizer que esté visando @ um méximo de abstraggo com um mfnimo de significado. E 0 que o homem precisa é de significado; e a compreensfo da necessidade de significado, que tem o homem, é indispensavel para qualquer psicologia de satide e unidade. O significado tem que vir de dentro, ndo de fora; em vista disso, 2 abordagem analitica sozinha nunca gjudaré 0 homem a satisfazer as suas necessidades mais profundas. psic6logo Wilson Van Dusen (1967) expressa, basicamente, a mesma idea: ‘Tudo isso vied a ser mais razodvel se © mundo nfo for mais visto como um mundo fico abstrato, objetivo — uma individualidade separada, absoluta- ‘mente impessoal. Esse mundo & uma construgio conceitual conveniente para fs fisicos, mas grosseiramente inexata na psicologia das pessoas. O mundo pessoal, 0 Gnico que cada um de nds comhece realmente, é o mundo pintado ‘com as tonalidades de todos 0s nossos significados pessoais. O mundo se fecha quando eu duro. Meu tempo se tora mais lento quando eu estou entediado © se acelera quando eu estou envolvido (...) © mundo das pessoas é um mundo individual. (.) 0 trovdo e 0 relémpago so belos para mim. Para voo? eles so alguma otra coisa? Onde estdo 0 trovdo © 0 rekimpago impessoais e objetivos? Eles fazem parte dos eventos relatados, que nfo significam muito para uma pessoa. 33 © mundo objetivo impessoal ¢ um mundo com © qual ninguém se importa! (.233) © bidlogo ¢ antropologista Pe. Teilhard de Chardin (1936) também questiona a validade do chamado conhecimento objetivo: A verdade 6, simplesmente, a total coeréncia do universo em relagio @ ‘cada ponto contido nele. Por que deveriamos suspeitar desta coeréncia ou subestimdla justamente quando somos os observadores? Ouvimos falar, con- finuemente, a respeito de alguma forma de uso antropocéntzice formando ‘contraste com algum tipo de realidade objetiva. De fato, uma tal distingge ndo existe. A verdade do homem é, part o homem, a verdade do univena; em outras palavras, ela ¢simplesmente, verdade. A unidade © a coeréneia total da vida, do homem e do universo, referidas na citaggo de Chardin, fornecem uma teoria concisa e elegante, que apoia a abordagem da astrologia geocéntrica tradicional e, em esséncia, leva & correlagdo microcosmo-macrocosmo observada por autores da Anti- aliidade, Para melhor clucidar como esta superénfase sobre objetividade se desenvolveu, devemos mencionar aqui a'teoria da personalidade, de Jung, "De acordo com Jung, hé quatro maneitas primérias de conhecer, que ele chama de fungSes psiquicas bisicas: pensamento, sentimento, sensaggo © intuigfo. Pensamento e sensaggo podem ser colocados juntos, pois o pensamento analitico é baseado principalmente em dados vindos do mundo | exterior e apreendidos através dos sentidos. A intuigdo e o sentimento | também podem ser colocados juntos, uma vez que estas fungdes tém origem | dentro do individuo e ndo so totalmente condicionadas pelo meio s6cio- | cultural da época. O conhecimento obtido através da intuigdo e do senti- | mento € subjetivo e pessoal no podendo ser provado ou verificado objetiva- mente, (J4 que estas quatro fungGes podem ser agrupadas em duas aborda- gens distintas do conhecimento, daqui para a frente falarei de “pensamento” e “intuigdo” para indicar cada grupo.) A faculdade do pensamento funciona através da classificagdo sistemética e da discriminago dos fatos que s20 entdo arrumados em certos padrdes, de acorda com o tipo de légica em- pregada. (A légica, desnecessério dizer, é acentuadamente diferente para diferentes pessoas.) Por outro lado, a faculdade da intuig&o proporciona a0 individuo uma penetrao imediata no funcionamento do sistema global, que estd sendo analisado, e uma percepgao do funcionamento desse sistema, A intuigdo & basicamente 0 poder do homem de percepedo direta e 0 conhe- 34 _ oe cimento imediato, um poder que contorna, transcende ou penetra através do funcionalismo mais lento do intelecto limitado pela logica. A ciéncia modema esqueceu completamente a funco intuitiva que hé no homem, talvez pressupondo que a intuiggo seja apenas um pensamento prejudicial- mente colorido por sentimentos pessoais. Na realidade, porém, a intuigdo 6 um tipo de percepedo plenamente consciente, enquanto que o “senti- mento” emana de raizes vagas ¢ inconscientes. No homem, a fungdo intuiti- va esté estreitamente relacionads com a funcdo estética, pois a perfeigdo do conhecimento, viste na grande arte, nasce de uma percepgfo intuitiva da ordem e da harmonia ¢ de um conhecimento interior que é atingido quando transcende 0 pensamento racional. Pela propria natureza da in- tui¢o, a linguagem da arte é mais adequada para a sua expressio do que as teorias abstratas ou a matemética, Conforme L. L. Whyte (1954) escreve no seu Accent on Form: ‘A. percopglo intuitiva, expressada de forms nfowerbal, dleanga uma esfera de experiéncia muito mais vasta do que aquela que 0s siimbolos verbais algébricas, da linguagem e da matematica, jamais poderiam atingir. (p. 122) Goethe (1954), o grande poeta alemdo, expressou sua preferéncia pelo grande alcance da percepedo intuitiva desta mancira: “Gostaria de falar com a Natureza, totalmente em desenhos.” Na construggo de uma psicologia que lida principalmente com pessoas ¢ experiéncias pessoais, a faculdade intuitiva tem uma importincia fundamental, pois, conforme escreve © psicdlogo Wilson Van Dusen (1967): “Eu nio brigaria com nin- ‘guém que afizmasse ser a linguagem do novelista, do poeta ou do musicista, mais proxima da qualidade da experiéncia humana do que a linguagem dos psicdlogos.” A tal citagio deveriamos aduzir 0 fato de que a lingua ‘gem simbélica da astrologia esté ainda mais proxima da qualidade da ex: periéncia humana do que a linguagem comum dos psicélogos. Ao tentar entender a faculdade da intuigio, devemos compreender que as atividades imaginativas e intuitivas da mente ndo so meros sub- produtos da andlise ¢ da légica dominadas pelos sentidos. Pois vemos que 1 pessoas verdadeiramente criativas muitas vezes ameagem a ordem social, ‘os valores e 0s modos de pensar que deram origem a elas. Daf, se estas pessoas nfo obtiveram seus vislumbres por meio de um treinamento nas instituiges sociais oficiais, e por meio de padr6es s6cio-culturais, de onde ‘vem esta criatividade? Devemos responder que a fungio intuitiva, no ho- ‘mem, é @ fonte original de todos 0s vislumbres novos ¢ de toda aimaginagéo. 35 © intelecto € condicionado por muitos fatores, mas 2 intuigdo (portal da inspiragdo), parece ter uma liberdade relativa. Vamos agora expor a distinggo entre as diferentes abordagens do conhecimento: Pensamento Intuigdo a) suposiggo + eausalidade no necessariamente cau- sal (comrespondéncia den- tro do todo) b) alvo + discriminagao e clas- sificagdo sintese e ordem. ©) natureza dos sestatica processo e mudanga or- conceitos ganizada resultantes 4d) maneira de proceder : sistematica imediatista (sineronistica- mente) ) linguagem : quantitativa qualitativa _(sentimento, (matemitica ou visual, artistica) palavras exatas) £) orientaggo : problema mistério 8) campo de estudo —_; conteidoe por © sistema total ¢ a forma menores do sistema —_¢ padro do todo total h) unidade de + sinais, simbolos linguagem i) domfnio de :mundo exterior mundo interior utilidade (material) (psiquico, espiritual) Pelo exposto acima parece que, enquanto 0 intelecto pode revelar os segredos da vida exterior e as atividades da matéria, a intuigd0 revela os segredos da vida interior e 0 campo de experiéncia pessoal, Para uma ciéncia abrangente da psique, 0 ideal seria a fusto dos dois, Mas, numa psicologia que adota como seu principal campo de estudo a vida interior do homem © 0 significado da sua experiencia, a fungdo intuitiva nfo s6 deve ter vm lugar, mas, de fato, deve ser aceita como a abordagem fundamental para a compreensio mais profunda e satisfatdria do ser humano. Isto é assim porque a experiéneia subjetiva das pessoas é, por natureza, qualitativa. A abordagem do pensamento analitico jé tem a linguagem quantitativa da matemética para descrever suas descobertas; mas a abordagem intuitiva nfo teve, até agora, nenhuma linguagem compreensivel ¢ aceita por todos 36 — Oo para representar as descobertas qualitatives realizadas em seus dominios. ‘A astrologia é justamente essa linguagem, pols é necesséria para descrever a experiéncia ¢ a singularidade do ser humano, de forma util e compreensivel. Embora uma pequena porcentagem da instituigg0 académica ¢ cientifica aceite a astrologia como uma resposta necesséria (isso quando chegam a reconhecer essa necessidade), uma grande parte da populaggo foi atrafda naturalmente para a maneira astrologica de ver as coisas ¢ de compreender sua experigncia, Em outras palavras, para as artes curativas (medicina, psicologia, psiquiatria, etc.) a astrologia pode ser o mesmo que a tabela periddica é para a quimica. Zipporah Dobyns (1971), uma psicéloga que trabalha pela integragdo da astrologia e da psicologia ¢ que, na sua clinica usa a astrologia como instrumento fundamental, chama a astrologia de “o maior vislumbre, tido pelo homem, da ordem unifica- dora exisiente no cosmos, vitoriosamente traduzido numa forma cognitiva conceitual.” E prossegue dizendo: + parece que hé duas Hnguagens superiores que tém uma aplicagio Universal como meio de classficar e descrever simbolicamente & realidade. A linguagem da quantidade, que chamamos de matematica, pode ser usada para descrever qualquer coisa que possa ser contada ou medida. Eu gostaria de sugerir 4 astrologia a linguagem, mais universalmento itil, da qualidade... Estou absolu- tamente certa de que, antes que se passem muitos anos, o$ numerosos sistemas de personalidade, agora competindo na psicologia moderna, desaparccsro silenciosamente e serfo substituidos por uma astrologia purificada ¢ Gnica. Isso serd inovitivel, pois a astrologia fornece o tinico sistema no qual hé referéncias lextemas, part as categorias, que so claras, predizivels e eapazes de uma com plexidade infinitamente além de qualquer classifiagdo da personalidade inven- tada pala psicologia.(p.8) ‘As duas abordagens diferentes que levam a0 conhecimento, natural- mente ddo origem a dois tipos de provas: estatisticas (ou “objetivas”) e experienciais (também chamadas “existenciais”). Vamos examinar suma- riamente toda essa questo de prova em relagfo & astrologia. Provas da Astrologia: Por que e Como Embora muitos astrlogos modemos (assim como ndo-astrélogos) estejam realizando estudos estatisticos de premissas astrologicas, devemos compreender que ndo podemos conflar numa abordagem estatistica para explicar todas as coisas, pois muitas reas de experiéneia e muitas qualidades essenciais, na vida, nZo se prestam a tal estudo, De fato, mesmo quando 37 ‘um estudo estatistico revela correlagdes de grande importancia, com ire- qiéncia, elas no “explicam” 2 operaczo do fendmeno em si. Na ciéncia, por exemplo, hé certas Iéis empiricas que a experimentago provou que so verdadeiras, mas para as quais nenhuma explicagdo racional foi arranjada até agora. Na astronomia, o melhor exempto de tais leis € conhecido como “Lei de Bode”. Esta se relaciona com as distancias que separam os plane tas, do Sol. Se escrevermos uma série de ntimeros: 0, 3, 6, 12, 24, 48, 96 € depois somarmos 4 a cada termo, obteremos 4, 7, 10, 16, 28, 52, 100. A Lei de Bode declara que as disténcias dos planetas sf proporcionais a estes nimeros, isto é, se tomarmos a distancia de Mercirio a0 Sol como sendo de 4 unidades, a de Vénus a0 Sol de 7, a da Terra de 10 unidades, de Marte de 16, de Jupiter de 52 ¢ a de Saturno de 100. Originalmente, o nimero 28 ndo tinha qualquer referéncia conhecida, até que foram descobertos 08 asterGides. Estendendo esta lei para além de 100, 0s astrénomos pre- disseram a existéncia de Urano, Netuno e Pluto. A aparigao destes planetas transaturnianos na hora e lugar matematicamente indicados, constitui ‘um dos mais emocionantes capitulos ns historia das descobertas cientificas. E esta conquista é devida, em grande parte, & percepeao intuitiva de Bode, para o qual até hoje nfo foi oferecida qualquer base analitica. Portanto, devemos ser cautelosos quando usarmos métodos estatisticos, para que as esperangas que depositamos numa tal abordagem nfo fujam de sua rea de utilidade. ‘A limitagdo fundamental do método estatistico € que, embora ele a itil nos casos de generalizag6es, grupos ¢ quantidades, quase sempre 6 bem inrclevante quando se trata de indiv{duos ¢ de qualidade, que sfo ‘0s pontos focais da psicologia e da astrologia centradas na pessoa. Conforme escreve 0 psicblogo Rollo May (1969): su $8 voce toma individuos como unidsdes num grapo com o objetivo de uma prodigdo estatistica ~ certamente, um uso legitimo de cigncia psiccl6- gica — voos esté, exatamente, definindo fore do todo caracteristicas que fazem deste individuo uma pesioa vivente, Ou quando vocé o toma como wm com posto de impulsot ¢ forgas deterministas, voc? definiu tudo para o estudo, ‘exceto aquela pessoa para quem as experiéncias acontecem. Definiu tudo, exceto a pessoa teal (p. 372). A astrologia no tem paralelo porque inclui tanto o aspecto de unida- de e engenho quanto 0 de pormenores, precisfo e ciéncia. Mas, conforme esereve Dane Rudhyar (1964), a énfase estd na “arte de interpretar 0s fluxos e refluxos ciclicos des energias ¢ das atividades basicas da vida, de modo que 38 2 existéncia de uma pessoa... seja vista como um processo de mudanga ordenado, um proceso que tem propésito e significagdo essenciais”. Rudhyar (1968) prossegue dizendo que, na astrologia, as medigGes 520 simbélicas e tém que ser traduzidas em qualidades humanas: ‘Voot nfo pode medir quantitativamente o amor, a reagfo a beleza, o cardter fe ume pessoa ~ nfo, a menos que faga dessa pessoa uma méquina tal qual tm computador; € fo que gait dos nosis dts et tentando fazer om Segundo as palavras de Rudhyar, a astrologia lida essencialmente com ‘a qualidade de ser” e justamente aquele tipo de linguagem qualitativa que transcende a esfera de aco dos estudos estatisticos. © psicélogo C. G. Jung também escreveu sobre as limitagdes do ponto de vista estatistico. No seu livro The Undiscovered Self, ele (1958) diz: (© método estatistico mostra os fatos na luz da mééia ideal, mas nfo nos dé uma imagem da sua realidade empitica. Embora refletindo um indisputdvel aspecto da realidade, ele pode falsificar 2 tealidade real de uma forme por demais desnorteante. Isso se explica especialmente 2s teorias que se basciam fem estatisticas. © que caractoriza os fatos reais é a individvalidade deles, Para ‘no exmiugar muito, poderiamos dizer que a imagem real nfo consiste de nada mais além de excegOes i regra, e que, em conseqdéncia, a realidade absoluta tem, predominantemente, o cardter de iregularidade, De modo geral, a ‘educacao cientifica é baseada em verdades estatisticas ‘© em conhecimentos abstratos ¢ por isso transmite uma imagem racional, irreal 0 mundo, ne qual o individuo, na qualidade de um fendmeno meramente marginal, nZ0 desempenha qualquer papel. O individuo, porém, como um dado é 0 verdadsiro ¢ auténtico portador da realidade, 0 homem conereto, a0 homer ideal ow normal, ao qual as declaragSes cient{ficas se N&o deveriamos subestimar o efeito psivolégico da imagem estatistica do mundo; ela desaloja 0 individuo em fayor das unidades andaimas que se empiham na formagao das massas (p. 17 ¢s5,). 0 fato de que a astrologia nos fornece férmulas e combinagdes incom: pardveis, de qualidades gerais, arquetipicas, d4 a ela um lugar eminente como instrumento psicolégico ideal. Embora a astrologia lide com prin- efpios arquetipicos (veja capitulo 4), fomece também, através do mapa do nascimento, um simbolo compreensfvel da singularidade e da individua- lidade humana. De fato, a razo pela qual a maior parte da astrologia ainda usa uma estrutura geocéntrica é que os aspectos astrologicos de centra- 39 A lizagGo na terra e de centralizag4o na pessoa sfo muito mais enfatizados do que qualquer suposta estrutura objetiva, Embora a astrologia tenha sido criticada por esta aparente distorgfo, permanece o fato de que, para as pessoas que estfo vivendo no planeta Terra, a Terra é o centro do mundo, da mesma forma que 0 individuo € 0 centro de seu mundo pessoal. ‘A validade da astrologia pode ser demonstrada, com clareza, por um tipo de prova que € aplicavel ao seu cardter intrinseco. A questo real a ser respondida, em qualquer pesquisa sobre a astrologia, é se ~ ¢ até que ponto —.a astrologia é importante © tem um valor essencial aos seres humanos e, no campo psicol6gico, a questo é saber se a astrologia é Gtil para o psico- logo e para o cliente. Qualquer outra questio de provar a astrologia & puramente académica, Quando vemos um néimero crescente de psicélogos € de psiquiatras, assim como uma grande porcentagem do piiblico em geral, usando a astrologia e encontrando nela alguma coisa de real valor, devemos presumir que ela ¢ realmente stil. Para aqueles que conhecem 0 valor de tal técnica, a questo de provar ow desaprovar a astrologia nunca surge. Particularmente na psicologia, nos altimos quarenta anos, os verdadeiros profissionais de virios tipos de psicoterapia tém estado muitos anos & frente dos tedricos; portanto, nfo devemos esperar que a instituigdo cientt- fica e académica aparega com provas em favor da validade das premissas astrologicas. Por amor & perfeigdo, 0 Apéndice A traz uma lista de estudos cientificos e estatisticos que tem relagfo com a astrologia. Hé, todavia, uma outra prova que o filésofo e astrélogo Dane Rudhyar chama de “prova existencial”, Segundo Rudhyar (1970) somente uma prova existencial pode ser apropriada para as situagGes que sdo verdadeiramente individuais: ‘Vina prova existencial nfo pode ser bascada em categorias gerais. Ela s6 doriva da experigncia postoal em uma determinada situeg0, envolvendo um complexo conjunto de relacionamentos, que jamais € exatamente duplicado. Se 2 sitagSo produz resultados sigificativos para um individuo, ent ela deve ser considerada vida para este inividuo. Se, depois de ter estudado astroogia e de ter seu mapa de nascimento eomelamente caleulado, uma pessoa percebe, pela primeira voz, que @ seqiacia dos acontecimentos da sua vida fsz. sentido, acontveimentos que, para cls, alé aquele momento parectam absolutemente cadticos © som propésito — se, em conseqiiéncia do seu estudo, for capaz de sentic uma diregdo © um propésito essencisis na sua vids enquanto individuo, de perceber como tem bloqueado esta percepeio do significado, da orentacio © do propisito ~ entfo ficou “existencialmente provado” que a astrofogia foi fea nese caso particular, (P.7) Para muitos astrélogos moderos, a tentativa de fazer da astrologia 40 apenas mais uma ciéncia do tipo tracional, isto é, estabelecer correlagdes estatisticas sobre uma estratura puramente causal, significaria o sacriffcio de muitas coisas, na astrologia, que so incomparaveis e muito significativas De acordo com esta opinigo, para que isso ocorresse, seria necessério omi- tir a estrutura c6smica, holistica, da qual a astrologia extrai sua utilidade fe sua abrangéncia, Aquéles que querem criar uma ciéncia astrol6gica mo- dena (isto é, querem formuléia de tal modo que ela passe a ser aceits- vel para a mente critica, materialista) esto esquecendo o fato de que ‘2 maior forge disso vem de ela ser a linguagem c6smica mais compreensivel universalmente aplicdvel que o homem conhece. No quie se refere & preci- sto das medig6es, 0 aspecto “cientifico” da astrologia certamente existe. Mas este & somente o material bruto para a arte da astrologia; ¢ esta arte ~ esta técnica de aplicar criativamente os fatores cientificos ~ & que jamais poderd ser entendida numa astrologia cientificamente alicergada e objetiva- mente verificdvel. Ndo somente seria eliminada uma grande parte daquela sutileza astroldgica, mas estariam ausentes os significados mais profundos, 08 quais a mente do homem reage. Conforme esereve Anna Crebo (1970), fuzer isso seria “tentar forgar uma linguagem c6smica a se expressar uma estrutura dos nossos limitados conceitos atuais. E possivel que esta lingua ger, para nés, possa ser traduzivel em termos de ‘imagens, relagSes visuais, estos e qualidades.’” (p. 81) © fisico sufgo Alexander Ruperti (1971) expressa uma opinigo semelhante: Infeizmente, a atitude cfentifica tende a aumentar 0 cuos a0 nivel psicolégico, porque ela destéi o valor do individuo e porque o tipo de existén- ia urbana, controlado pela miquina, que cla produziu, também destrlt 0 senso de participagio do homem nos sitmos da vida e da natureza. O homer modemno tende a esquecer que a principal preocupacdo da cigncia & 0 estabe- lecimento de leis coletivas, unicamente para a aplicagio geral. O ambiente que a cigncia oferece ao hiomem ndo Une dé nenhum significado ov propésite huma- no; dé, implesmente,fatos fris,intelectuais, que supostaments sfo imutaveis, mas que, vstos de uma perspectiva mais ampla, podergo mudar facimente &e acordo com o ritmo dos grandes civtos smicos ‘Qual é vantagem de tentar manter a astrologa no colete justo do conhe- cimento cientifieo, quando sua técnica e filosfia bisicas nos pezmitem eseapar a pristo, na qual a ciéncia colocow a mente humana? Para nés nGo seria bera ‘mals proveitoso construir uma astrologia sobre suas propras bases c, desse m0- do, apresenté-la como um recurso para complementar a énfase clentifiea © reorientar a consciéncia ¢ pensamento da nossa civilizacio moderne, que perdew ‘© contacto com suas raiees vitas nos sitmos criativos da vida?... A cignela nos dé conhecimento, nada mais. Nads tem para dizer a respeito do porqué at do universo © tudo o que fere & a se reff compreenso 6 sigiicgfo dos valores tela do ser humano std fora da sa esfra do agio..A idle que a su Jogi oferece & humanidade &'a va aptidfo pare soluciont exper agullo ave eignea no pode © io tenta expe, Preclsmos de mals isto, mals lia, se potendemon nor Hvar da nots ata! eserdSo 05 © Matemiticos, a métodos estatisticos. O todo ¢ maior do que a sor peta de dados do que a soma dat partes, enenhumacoleioembora completa de dados ola stones eateries «ao comporameno xtior de ome Peston a evelard como unt sr humano vente, que tm, nu via, un Obj exclusivamente seu. (p. 7) “ . me Antes de podermos avaliar mais profundamente o papel da astrologia tums psicologia recentemente formulada, devemos examinsr os fatores universais e arquetipicos que sustentam a totalidade da vida e influenciam todos 0s esforgos para compreender a experiéncia. es ce ee ~ 4 ARQUETIPOS E PRINCIPIOS UNIVERSAIS Para serem amedas, as coisas da terra precisam ser conhecidas; para serem conhecidas, as coisas divinas precisam ser amads, Pascal Antigamente, afirmava-se que o verdadeiro propésito da filosofia (antes que filosofid"se-tomasse simpleSmtente-um estéril jogo’ de palavras, usado para perpetuar a arrogancia intelectual) era a procura da esséncia e da natureza oculta das coisas manifestadas, com base no amor a sabedoria. ‘Em termos atuais, isto poderia ser chamado de uma procura do nivel arque- tipico da realidade. Hoje em dia, naturalmente, qualquer declaragao a res- peito de “esséncias” farla com que a pessoa fosse chamada de ocultists, Contudo, aos nos depararmos com 0 mundo ao nosso redor ¢ ao buscarmos algum sentido em nossas vidas € no tipo de realidade com a qual a massa média lida, temos qué admitir que todas as coisas que tém importénci esto oculias, isto é, escondidas. A despeito de todo 0 suposto conheci- mento que temos acumulado, nfo podemos encontrar significado em parte ‘alguma, exceto nos campos de estudo que apontam para uma unidade entte o homem ¢ o universo. Essa unidade ¢ essa relagdo entre ohomem ¢ 0 universo so as tinicas suposigSes sobre as quais a astrologia esta baseada, ‘0 campo da religigo comparada ¢ da mitologia constitui uma disciphi na que aponta claramente para uma inabalivel unidade na totalidede da vida, Este nfo é 0 momento para examinar pormenorizadamente a5 contri- buigdes de C. G. Jung nessa drea, pois suas obras completas representam uma existéncia inteira de estudo erudito e de pesquisa meticulosa, Basta dizer que, mais do que qualquer outro, C. G. Jung mostrou, além de qual- quer diivida, que 05 principais agentes motivadores da vida, presentes na psique individual, e os padrGes psicolégicos globais, presentes em culturas 43 inteiras, sfo manifestag6es de fatores arquetipicos na psique humana Esses arquétipos sdo essenciais na camada psicoldgica da vida. Jung chama este substrato psiquico de Inconsciente Coletivo e descreve 0s arquétipos como principios universais que so a base ¢ a motivagdo de toda a vida psicolégica, individual ¢ coletiva. Em ambas, astrologia e mitologia, esses rincipios universais constituem o principal campo de estudo, sendo que a diferenga entre elas esté no fato de que a mitologia di énfase as manifes- tagdes culturais dos arquétipos, em vérios planos, enquanto a astrologia utiliza, como sua linguagem, os proprios princtpios arquetipicos essenciais, para poder compreender as forcas e as configuragGes fundamentais presentes tanto na vida individual quanto na cultural. Historicamente, hé ume forte correlagdo entre os mitos de uma determinada cultura e o tipo de astrologia que ela desenvotveu. De fato, a astrologia pode ser vista como a estrutura mitol6gica mais compreensivel que jé surgiu na cultura humana. Conforme foi mencionado no prologo deste livro, em qualquer cultura 0 mito serve, idealmente, como forga vitalizante porque mostra o relacionamento do homem com uma realidade maior, mais universal. O fato de 2 cultura ocidental j4 nfo ter qualquer mitologia vidvel para energizé-la explica, em parte, porque a astrologia tem tido um decidido renascimento nos liltimos anos; as pessoas sempre precisaram ter um modelo de ordem e de erescimento para guiar suas vidas coletivas e para dar significado & sua experiéncia individual. Conforme escreve Joseph Campbell (1960): De onde vem a forga destes temas insubstanciais, capazes de galvanizar populagdes, fazendo delas civilizayses, cada uma com sua beleza prépria e um destino autopropulsor exclusivamente seu? E por que serd que sempre que os hhomens procuraram alguma coisa slida para alicergar suas vidas excolheram, nfo os fatos que se espalham pelo mundo, mas os mitos de uma imaginagio imemorial...? (p. 20) | A resposta mais ébvia para as perguntas de Campbell é que os deuses | da mitologia (exatamente como os planetas na astrologia) representa | forgas e principios vivos existentes no universo e na vida de cada um de nds. As conclusdes tiradas da pesquisa de Jung sobre os alicerces arquet picos presentes na mente humana nos levariam a esta resposta, 0 mesmo ocorrendo com os estudos recentes sobre religido comparada e com algumas 4zeas da psicologia human‘stica. E minha opiniio que a astrologia nos forne- ce a chave para a compreensio destas forgas e fuingGes bésicas existentes em todos os homens, justamente porque ela tem a virtude de ser a lingua. ‘gem de energia mais compreensivel — e, a mesmo tempo, a mais precisa — ‘que ohomem conhece, Conforme escreve Campbell (1960): 44 Pois um fato que of mitos de nossas vitias culturas agem sobre nds, quer consciente, quer inconscientemente, como liberadores de enezgia, como ‘motivadores da vida ¢ como agentes digetives...(P- 20) Assim como o homem precisa passer por transformag6es periédicas, 0s seus mitos devem mudar para combinar com a sua nova dimensdo de ser. Conforme a consciéncia de um homem evolui, assim devem evoluir os seus mitos: Pois, tal como acontece com © mundo visivel dos reinos vegetal e animal, assim também ocorre no mundo visionério dos deuses; houve uma histéria, uma evolucdo, uma série de mutagdes governadas por leis. (Campbell, 1960, p.21) ‘Assim come muda a compreensio do homem a respeito de suas, religi6es e de seus deuses, muito embora eles ainda continuem a existir de uma forma ou de outra, assim também a astrologia ainda existe, como existe a necessidade que o homem tem dela, a despeito de todas as tenta- tivas para racionalizéla fora da existéncia. Devemos, porém, reavaliar a nossa forma de abordé-la, vendo-a nio simplesmente como uma disposigao ordenada de pistas celestiais que indicam o nosso fado imutivel, conforme tem sido tradicionalmente encarada, mas antes utilizando-a como um meio que nos levard a compreender 2 nossa natureza fundamental, a desco- rir 0 nosso lugar no universo, assim nos ajudar a viver de maneira plena criativa. Em outras palavras, a astrologia pode ser vista como uma mitolo- gia que pode ser usada consclentemente. O ocidental contemporineo evoluiu a tal ponto que jf ndo se contenta em viver inconscientemente, de acordo com mitos obsoletos, dogmas rigidos ou tradigGes arcaicas, Todavia, ele foi longo demais no seu esforgo para libertar-se das limitagdes e das tradig6es. Perdeu 0 contato com as bases arquetipicas do seu ser e com a fonte de sustentacgo e de alimentapio espiritual e psicol6gica que essas bases fornecem, A astrologia pode ser usada como um recurso para reunir o homem ao seu ett interior, & natureza ¢ ao processo evolutive do universo. Principios Universais Multe renascentur, quae jam cecidere cadentque, ‘Quae mune sunt in honore.. (Muitos que estdo enterrados hd tongo tempo ressurgindo e muitos que hoje estdo cereados de honras submerginio,) = Horécio 45 Quais so estes “princfpios universais” 20s quais nos referimos? Por definigdo, eles confinam com o transcendente, uma vez que nfo déo origem a todas as manifestayGes © configuragdes observaveis no universo material, Muitos cientistas jd passaram a acreditar que hi um modelo orga- nizador invisivel no interior das coisas vivas, uma espécie de intodelo psicol6- gico que guia e determina @ forma que a enengia assumird. Fssa tendéncia para modelos na natureza pode ser vista em tudo, desde @ teoria da evolugao até 05 padres facitmente prediziveis do desenvolvimento humano, fisico € psicoldgico. Outra palavra comumente usada para descrever esse fendme- no estrutural é “forma”, O fisico e filosofo L. L. Whyte escreveu um livro importante chamado Accent on Form (1954), que trata daquilo que ele chama de prineipios formativos, existentes na totatidade da vida. De fato, ele diz que “a lei natural mais abrangente expressa uma tendéncia forma- tive”. (p. 137) “Forma” & uma das idéias mais antigas do homem. Os gregos tinham mumerosas teorias de formas perfeitas, desde as formas etemas de Plato até as relagdes quantitativas no espago, de Euclides, eo estudo dos niimeros © a geometria de Pitégoras. Na Kdade Média dizia-se que cada classe de coisas possufa uma esséneia (essentia ou quidditas); ¢ essa esséncia nfo era conside- sada ums qualidade estivel, mas antes era vista como uma fonte de ativida- de, A realidade mais profunda era vista como sendo composta de inumeri- veis esséncias, ¢ a tarefa da flosofia era destacar essas esséncias. A esséncia de qualquer coisa era o substrato do ser da coisa, aquilo que faz da coisa 0 que cla &. E, para os flésofos medievais, as formas observaveis, existentes nna natureza, no eram entidades estéticas, mas sim idéias encamadas, no sentido de idea de Platdo (Carré, 1949). A fonte dessas idéias eternas era vista como a mente universal, o domfnio e o repositério de todas as esséncias (ou arquétipos), de todas as formas que jamais poderdo existir e de todas as idéias que jamais poderfo ser pensadas. (Incidentalmente, a Mente Universal é, de muitas maneiras, semelhante a concepedo de Jung, do Inconsciente Coletivo.) O que causa estranheza é que a fisica modema se volta para idéias que, durante tanto tempo, foram ridicularizadas; pois, segundo nos dizem, aquilo que vernos é apenas a forma exterior (ou “forma- -onda”) da realidade oculta, feita de vibragio e energia. A particula material se transformou num modelo ampliado; 0 dtomo material agora é visto como um campo de energia. Talvez agora haja, uma vez mais, a necessidade de um conceito tal como o da mente universal, aquela que modela ativa- ‘mente todas as formas. Um estudo da forma talver possa revelar como a energia sem forma é 46 organizada em totalidades funcionais; © talvez esse estudo possa iluminar essas esséncias impalpveis que existem em todas as coisas. L. L. Whyte (1954) dectara que “para entender certa coisa temos que esmiugar a fundo até encontrar esse modelo bisico” (p. 28). Isto é verdade, pois o modelo formal parece determinar as propriedades dos seus constituintes, melhor do que © inverso, fato que dé um grande apoio a uma abordagem holistica da vida, Conforme escreve Whyte (1954), “Como podemsse desenvolver formas regulares num universo atomistico? No melhor dos casos, elas no seriam altamente improviveis?” (p. 50). Segundo Whyte, ums nova com- preensio dos principios formativos do universo ngo nos sjudard apenas a entender as teorias da fisica, 2 organizagdo biol6gica e o funcionamento da mente; também poderi dar ao homem uma serenidade que néo pode ser alcangada de nenhuma outra maneira Pois, neste ponto, a tradigo ocidental reconhece validade de ums antiga doutrina oriental; quando se quer conquistar 2 serenidade, o principio universal tom que ser valorizado acima de qualquer expressfo particular. ‘Chegou a hora de uma nova harmonia; urna unidade de provessos vista em todas as formas particulares revoneiliando suas diferengas. Nova énfase deve ser dada aos princ{pios universais, a fim de restaurar 0 equilfbrio adequado. @.191) E justamente esta unidade de processos, vista em todas as formas particulares, o que a astrologia nos oferece. Na astrologia cada individuo € considerado uma expresso completa e sem igual dos prineipios, padrdes @ energias universais, O' Zodiaco era considerado pelos astrélogos ¢ filésofos da antigdidade como senda a “alma da natureza”, aquela que dé forma ¢ ordem a vida, A astrologia é uma linguagem de principios universais, uma maneira de perceber a forma e a ordem na vida de um ser humano, uma maneira de simbolizar a unidade de cada individuo com os fatores univer- sais. Uma abordagem moderne da astrologia ndo pode ser baseada na supo- sigdo de que um ser humano individual é “simplesmente” a soma total das forcas universais que constituem a sua composicgo psicofisica; o indi- viduo € antes, uma forma sem paralelo expressando um relacionamento sem paralelo de fatores universais. Conforme L. L. Whyte (1954) declara, “todas as coisas do universo em alguma relagGo com nossa natureza, nossas necessidades ¢ potencia- ' igades. Cada processo reflete algum processo em nos mesmos ¢ evoca || teu emogdo, embora talvez ndo tenhamos percepgao disso” (p. 31). A | Jidéia de Whyte expressa aquilo que os astrélogos antigos chamavam de 47 telacionamento entre 0 microcosmo e © macrocosmo, isto é, a concepgio de que as fungdes © fatores existentes dentro do individuo refletem os principios ¢ os processos universais — ou, pelo menos, correspondem a eles. Em termos atuais dirfamos que, desde que o universo é um processo total (Cuniverso” significa girando 0 um) ¢ consiste de varios campos de energia interpenetrantes, © campo de energia de qualquer ser humano esté intima: mente relacionado com 0 campo de energia, muito mais vasto, do seu ambiente césmico, Um dos maiores valores da astrologia é que, por meio da compreensio dos fatores universais que estio operando em cada um de nés, podemos alcangar uma compreensio muito maior dos principios universais da propria vida. A ciéncia de hoje aceita, como instrumentos ‘iteis, as impressOes digitais, as cardiografias ¢ as encefalografias, coisas estas que so, todas elas, manifestagGes relativamente incompariveis de ritmos e energias humanas, O mapa astrolégico do nascimento é o grafico através do qual 0 cosmos (ou 0 todo maior) nos permite compreender suas energias ¢ seus ritmos, particularmente a maneira como eles operam em cada individuo, Na psicologia, o principal conjunto de obras, que trata de princi uuniversais ¢ de principios formativos, ¢ aquele do Dr. Carl G. Jung. Os “arquétipos” de Jung ndo sfo estruturas fisicas, mas antes, segundo Jung, (1959), talvez possam ser comparados 0 sistema axisl de um cristal, que, por assim dizer, premolda a estrutura cristalina no Liquide materno embors go tenha uma existéncia propria... O arquétipo em si é vazio e puramente formal, nada mais do que uma facultas praeformandi, uma faculdade de xe- presentacdo que é dada ¢ priori. (pp. 79-80) Jung prossegue dizendo que “... 0 que me parece provivel € que a verdadeira natuseza do arquétipo ndo pode ser tomada consciente, que é transcendente” (p. 81). Edward Whitmont (1970), um psiquiatra junguiano, escreveu sobre 05 arquétipos junguianos como “dinamica transpsicol6gica, portanto, configurag6es de energia transcendental”. 0 Dr. Whitmont fala de campos arquetipicos relacionados com os simbolos astrolégicos dos planetas ¢ define os arquétipos como “padres e dinamicas de formas césmicas, universais™. Dai, € evidente que os arquétipos sfo idénticos aos principios formativos mencionados por Whyte ¢ que os fatores astrologicos representam estas mesmas realidades. Se 0s arquétipos sao 2 base de toda a vida psiquica e se sf, realmente, transcendentes em si (isto 6, demasiadamente sutis out imateriais para uma 48 compreensSo consciente imediata), entdo € muito importante termos vuma finguagem para descrever ~ ou pelo menos para indicar ~ a sua reali- dade. E, se nfo podemos.conhecer essas realidades conforme elas 40, pelo menos podemos compreender como elas funcionam ¢ o que elas signifi- cam para n6s, recorrendo ao estudo da nica ciéneia que trata de tais forgds: a astrologia. NZo importa qual o rétulo que possa ser usado para designar estes principios universais — arquétipos, esséncias ou principios formativos — permanece o fato de que tais forgas existem no universo e influenciam cada um de nés, tanto partindo do interior quanto do ex- terior. Esta é a razdo porque alguns psicélogos, psiquiatras e conselheiros j6 comeceram a usar 2 astrologia como instrumento principal, para com- preender a dindmica interior dos clientes. Jung disse que usou muito a astrologia, especialmente com pessoas com as quais tinha um entendimento ified: ‘Como sou um psicélogo, estou principalinente interessado na luz particu- lar que 0 hordscopo derrema Sobre certas complicagdes existentes no cardter. Nos casos de diagnéstico psicolégico diffcil, ev normalmente providencio ‘um hordscopo para poder ter um ponto do vista partindo de um Sngulo intelra- mente diferente. F digo que muitas e muitas vezes descobri que os dados astrokd- sleos elucidam certos pontos que de outro modo eu nfo teria sido capaz de entender. (de uma carta para o Prof. B. V. Raman;6, set.,1947) Numa entrevista com o editor de uma revista astrolégica francesa, Jung declarou: Podemos esperar, com considerivel certera, que uma determinada st- tuseio psicoldgica bem definide seja acompanhada por uma configuragto astroldgica andloga. A astrologia consiste de configuragdrs simbélicas do incons- ‘iente coletiva, que & 0 assunto principal da psicologia; os planetas s40 0s deuses, simbolos dos poderes do inconsciente. Namesma entrevista, Tung declarou que a predisposi¢ao psiquica inata de um individuo “parece ser expressada, mum hordscopo, de mancira reconhecivel”, Em muitos dos seus escritos, Jung enfatizou que a astrotogia inclui a soma total de todo 0 conhecimento psicoldgico da antigiidade, ineluindo tanto a predisposigdo inata dos individuos quanto uma maneira ‘exata de cronometrar as crises da vida: Observei muitos easos nos quals uma fase psicoldgica bem definida, ou 49 | uum evento anélogo, foi acompanhada por uma conjungio (particularmente as afligdes de Saturno e de Urano) (Jung, 1954). 0 psiquiatra junguiano Edward Whitmont (1970) escreve seguindo linhas similares: Aplicadas mum sentido mais amplo, as téenicas astroldgicas podem Vir a set, para o psicélogo perspicaz, 150 valiosas quanto as interpretagSes os sonhos. Flas poderfo informéto, nfo dos eventos futuras ou mesmo de carscteristicas pessoais fixas, mas de psdrées bisicos inconscientes, de dindmica © de forma, que uma determinads pessoa esté “enfientando” © nas quais ela continus a reagir durante todz a sua vida de maneiea peculiar, indi- vidual, uma vez que © modo caracteristico de sua vida particular & inclu‘da no todo césmico. Zipporah Dobyns (1970), psicéloga jé mencionada, diz a respeito do uso da astrologia como instrumento psicolégico: [Antes de tudo, ela oferece um sistema de personalidades baseado numa cstrutura de referéncia externa que, conseqilentemente, & superior aos sistemas rbitririos - manufaturados com freqincia no campo do estudo da persona- lidade — e que, com certeza, serd o sistema universal da psicologia do futuro. Oferece um exquema simbético do destino e da menie humana, néo manipulével pelo paciente que esti querendo "“ingir que ¢ bom” ou “fingir que ¢ mau”, ‘como ¢ relativamente fécil fazer em muitos questionérios psicoligicos. Oferece luma penetragio em areas sobre as quais o paciente amiide sabe pouco ou nada... repress6es, valores que nunca sio verbalizados conscientemente, ambi- valéncias e conilites projetados em eventos e selacionamentos ¢ jumais encarados conscientemente. Fomece indicagées sobre potenciais e talentos irreslizados, eanais naturais para integragio © sublimacdo, ete, Com o seu registro de conti- sgoragSes passadas ¢ futuras, oferece também indicagdes sobre traumatismos passados, que 0 terapeuta perspicaz poderd explorar, ¢ sobre perfodos Cuturos de tensfo, quando o individuo normalmente necessitari de umn apoio extra.. Pemmite a’ “combinagfo” de individuos, de terapeuta e paciente, de parceiros ‘num easamento, de’ empzegado ¢ empregador, etc. Minha firme conviceyo 6 de que a psicologia, ou consultoria do futuro, usaré o horéscopo to rotineira mente quanto agora nds usamos a entrevista ¢ os dados sobro os antecedentes do paciente, Outro psicélogo, Ralph Metzner, que publicow um livro tratando da astrologia © t6picos correlatos, chamado Maps of Consciousness, tam- bém usa a astrologia em sua clinica: 50 Come psicétogo e como psicoterapeuta, tenhiosne interessado por outro aspecto desse assunto desconcertante e fascinante. Aqui temos uma tipologia Psicolggica © um meio de avaliaggo para a diagnose que ultrapassa de longe, em complexidade e sofisticacdo de andlise, qualquer sistema existente... aestru- tura de anélise — os trés alfabetos simbélicos entrelagados, dos “signos” do Zodiaco, das “casas” e dos “espectos planetirios” ~ provavelmente é mais apro- prada para as complexas variedades da natureza humana do que quaisquer sistemas de tipos, motivos, necessidades, fatores ou escalas, que possam existir. © sistema tem a vantagem adicional de ser inteiramente independeate de qualquer compostamento por parte do paciente, portanto esté livre de reagdes tendenciosas de qualquer tipo... Ao contririo de outros sistemas de avaliagSo da personalidade, o processo astrolégico tem uma dinémica inerente: (© horéscopo interpretado por um astiSlogo perita © cam grande pritica nfo 36 proporciona um quatko sintético de inclinagbes e tendéncias hereditérias a pessoa como também uponta potencials Intentes e sugore diregdes onde 0 desenvolvimento é necessirio ~ em suma, & um mapa simbélico do processo de autocompreensio. (Metzner, 1970, pp. 164-165) No mesmo artigo, Metzner esoreve que a astrologia deveria ser usada como “um auxiliar da psicologia e da psiquiatria”, e define a astrologia como uma “astronomia aplicada para propdsitos psicoldgicos”. Somente uma linguagem simbélica 6 suficientemente universal (espe- cialmente uma que conta com referentes externos como a astrologia) ¢ suficientemente a-cultural para ser til a todas as pessoas, jovens e velhas, ricas e pobres, vindas de todos os ambientes educacionais, culturais ¢ na- cionais. O grande problema com as teorias da “personalidade”, na psicologia geral, & que elas so dteis apenas para uma pequena fragdo de qualquer populagz0 dada. Por outro lado, a astrologia é a teoria mais completa da personalidade; ela unifica e fomece uma base para todas as outras teorias mais especializadas. Além disso, embora outras técnicas simbélicas que no a astrologia possam ser ateis a algumas pessoas, em certas ocasiGes elas tém a desvantagem de ndo possuir referentes extemos e uma estrutura exata, mensurdvel. A astrologia inclui, realmente, as duas linguagens da vida, matemitica e simbélica, sintetizando ambas num sistema harménico cujas uutilizagdes so muito mais amplas do que as de qualquer outro sistema, matemético ou simb6lico. A astrologia prova a sua abrangente singularidade descrevendo, com preciso, no apenas tipos de consciéncia, diferengas e singularidades individusis e tipos de energia que estfo operando através da pessoa mas, além disso, também revela a operago de leis universais de consonancias, de polaridades e de energias psicofisicas. SI 5 ABORDAGENS DA ASTROLOGIA Isnotum per ignotius, obscurum per obscurius. (0 desconhecido através do mais desconhecido, obscure através do mais obscuro.) = Velho ditado alquimico A Abordagem Causal A questfo: “como funciona a astrologia?” pode ser abordada dentro de varias estruturas. Se vemos astrologia numa estrutura causal, hé um vasto € crescente conjunto de evidéncias que podem apoiar a validade da astrologia (Ver Apéndice A). Uma das tentativas mais comuns de explicar a astrologia numa estrutura causal pode ser chamada de “Condicionamento Césmico” e se refere aos campos eletromagnétices, delicadamente equilibra- dos, existentes no sistema solar e no homem, campos eletromagnéticos que mudam constantemente conforme mudam 5 posigdes dos planetas. Um cientista, Rex Pay (1967) explica isso desta maneira Sleeper assinalou que se a cavidade entre a terra ea ionosfera é considera- da como um sistema ressonante, ela fem um perfodo curacteristico de cerca de um oitavo de segundo — o tempo que a luz leva pars dar a volta ao redor dda terra. A freqinoia de ressondncia & de cerca de 8 ops., aproximadamente aquela do ritmo alfa do cérobeo humano. Sleoper sugere que © campo geo- magnético poderd fomecer 0 delicado mecanismo de sintonizasdo paia esta freqiiéncia caracteristica, Se o comportamento fosse afetado por mudansas nesta freqsncia, entdo a posigdo dos planetas poderia desempenhar um papel muito mais importante nas questOes humanas do que aquele que antes se supunha. (p. 36) Numa tal teoria, considera-se que o sistema ne:voso humano & sensi- vel As mudangas no ambiente césmico. 52 Embora no haja, no momento, nenhuma teoria compreensivel ¢ satisfat6ria, para explicar a astrologia numa estrutura da causalidade, a formulagéo mais completa, até agora desenvolvida, é aquela de Glynn (2972). Glynn, que esereveu sua tese doutoral sobre a teoria das ondas eletromagnéticas, afirma que uma explanago causal, plenamente cienti- fica, da astrologia, nfo esté fora de nosso alcance. Como soluggo tempo- riria para 0 problema ele inventou a seguinte corrente hipotética da causa lidade, que incorpora todos os dados cientificos relacionados no Apéndice A. Embora, conforme Glynn declara, essa seja a nica corrente possivel de causalidade que poderia ser usada para explicar a astrologia, uma teoria esse tipo nfo parece explicar muitos dos dados cientfficos, agora reuni- dos, sobre correspondéncias celestes e terrestres. O que vem a seguir € um diagrama da sua teoria: Posigdes Planetarias, causam, Mudangas no Campo Gravitacional (dentro do Sol) causa . Efeitos de Ondas de Marés (dentro do Sol) causam Explosces Solares (erupgdes de gis, do Sol) causam Ventos Solares (particulas, vindas do Sol, golpeando a terra) causam, Campo Gravitacional da Lua causa Mudangas Ionosféricas (camada ionizada acima da Terra) causam Ondas' Alfa sobre a Superficie da Terra an | ewan Mudangas Emocionais nos Acelerago do. nascimento de crianga individuos sensfvel a uma determinada posigsio (Efeito de conjungi0) planetéria (Efeito Natal) (Copyright — American Federation of Astrologers, 1972) 53 a ee ‘A “acelerago do nascimento”, acima mencionada, refere-se a uma idéia proposta pelo Dr. Eugen Jonas, da Tehecosloviquia. Conforme diz Glynn, Jonas descobriu que ns hora do nascimento 0 beb¢ esti no ponto maxi mo do seu ciclo metabslico © provocs, verdadeiramente, o seu prOprio nasci- mento derramando adrenalina na corrente sangihines da mée. Seus experimentos indicaram que este ponto méximo sempre oconre no mesmo angulo Sol-Lua, para cada individuo. A explicagdo mais Wgica para esse fendmeno é que 0 ‘embrifo tem uma personalidade inezente... A hora do nascimento é, entio, precipitada pelos alinhamentos planetitios que influencism mais fortemente ‘© bebé. Portanto, 0 seu maps do nascimento nos mostra realmente, os alinha- ‘mentos planetirios aos quais voed & mais sensivel. (p. 30) A Abordagem Simbélica Ouira forma de abordar a astrologia poderia ser chamada de aborda- gem simbolica, aquela que considera que 0s planetas @ os signos so bolos de processas césmicos ¢ de principios universais. Como um exemplo disso 0 esbogo que damos a seguir deriva, parcialmente, da tentativa feita por Ebertin (1960), de relacionar o ritmo anual das estagSes com os signos do Zodfaco. Signo Estagio Correspondéncia _Psicol6gica Carneiro Tempo de germinagfo, A vontade, © impulso para agit, o espirito empreende- dor, autoconsciéncia, o desejo de tiderar energia em expansio ‘ouro Revigoragio e fortaleci- __-Perseveranga, consolidago, 0 " mento, eagso, poder de dar forma, o sentido a forma da forma Gémeos Vivificagdo, tempo de Vivacidade, versatilidade, su- floragao perficialidade Cancer Fecundagio ¢ fertili Abundancia de sentimentos, 73950 © sentimento de paternidade ¢ da maternidade Leso Armaturidade da se- A vontade de criar, aautocon- mente fianga, todos os fratos Virgem A colheita, utilizagao Diligéncia e cuidado, ordem, daquilo que foi culti- natureza domesticada, facul- vado ‘dade para criticar 34 Balanga Equilibrio e coordenaggo Senso de justiga, lute pela na economia danatureza —_harmonia, senso comunitirio Escompido _Processos,nanatureza, _—_Pacigncia e perseveranga, luta de término da vida; conti impiedosa pela sobrevivéncia nuagdo da vida na se- mente, Sagitacio sono de inverno da Cultivo do lado interior ou natureza espiritual da vida, planeja- mento esperangoso para o futuro Capricémio —Cristalizagdo das formas. uta incansfvel pela sobre- no inverno vivéncia, paciéncia, apego. a formas " sociais cristalizadas Aquirio ‘Tempo de espera antes Atitude expectante, bons po- da primavera deres de observago, abundan- cia de planos Peixes O entumescimento da Primeiros movimentos danova semente dentro da terra _vida dentro dos remanescentes da velha Os signos do Zodiaco também tém sido simbolicamente analisados levando-se em consideragso a sua imagem constelacional (por exemplo, © cameiro, 0 touro, os gémeos, etc), Todas estas abordagens podem ser compensadoras mas, no importa qual 2 abordagem escolhida, devemos admitir que, por ter durado tanto tempo ¢ ter sido elevada 8 uma posigdo to proeminente, a astrologia deve ser a resposta para uma grande neces- sidade Iatente no homem. O fato de ser a astrologia 2 linguagem simbé- lica mais completa foi notado por muitos psicélogos, conforme demons- trado pelas citagdes apresentadas nos capitulos anteriores. Mas, @ pergunta relativa a que se referem estes simbolos, permanece sem resposta. Afinal, simbolos sfo simbolos, pela propria razdo de que se referem a realidades vivas que nfo podem ser expressadas de qualquer outra maneira (pelo menos no momento presente), Talvez esta pergunita nunca possa ser res- pondida, ¢ 0 homem nunca expresse em palavras as realidades transcen- Gentes do cosmos. Contudo, podemos fazer uso desta linguagem simbélica se considerarmos que ela representa padrOes, principios e Forgas universais, por mais transcendentes que possam ser tais fatores. Ngo obstante, a aborda- gem simbélica da astrologia s6 pode ser completa e util se vista numa estrutura de abordagem holistica da totalidade da vida. 35. A Abordagem Holistica A filosofia do holismo pressupée que o universo inteiro é um sistema completo e que dentro do grande todo hé todos menores, cujas estruturas, padrdes e fungdes correspondem completamente aquelas do todo maior. Os astrdlogos ¢ os filésofos da época medieval usaram 0 conceito micro- cosmo/macrocosmo para expressar esta idéia; isto é, © universo inteiro esté, em microcosmo, no homem; e, por outro lado, as configuragSes estreladas, existentes no céu, eram vistas como o Grande Homem ou 0 Homem Césmico. Um exemplo desse tipo de correlacdo pode ser visto na comparago de um simples tomo com o nosso sistema solar. 0 dtomo € um microcosmo do macrocésmico sistema solar. Essa mesma concep¢do foi chamada de “prinefpio de correspondéncias” pelos poetas metafisicos ingleses. O importante a respeito dessa abordagem € que através do estudo dos ciclos ¢ das configuragées no todo maior (os planetas) podemos de- preender os ciclos ¢ configuragées presentes no homem, ‘A abordagem holistica ndo pressupSe que a causalidade seja a lei bésica do universo, pois, se de fato 0 universo é um todo, como qualquer coisa pode causar, basicamente, qualquer outra coisa? Melhor, a antiga lei ‘das correspondéncias entre as partes de um todo é uma forma mais apro- priada para encarar o fendmeno holistico. C. G. Jung dé a esta lei de corres- pondéncias o nome de “Sincronicidade”, um principio de ligagte a-causal; , com referéncia a astrologia‘éle assinala que qualquer coisa que é feita ‘ou que nasce num determinado Hiomento no tempo traz, inevit 5 a8 qualidades daquele ‘momento, Jung usa o exemplo de um perito em ‘vinhios que, com uma simples prova, podia dizer o tipo da uva, a érea onde fora cultivada e o ano da colheita. Esta lei de sincronicidade explica por que ‘© hor6scopo & calculado para o momento da primeira respiracdo do indi- viduo, pois esse € 0 momento em que a crianga recém-nascida inicia 0 seu ritmo individual, em sintonia com o todo maior de toda a vida que o rodeia. A psicéloga Zipporah Dobyns (1972) explica, dessa maneira, a sua concepedo de sincronicidade: Accedito que, fundamentalmente, todos os planetas sG0 parte da ordem do cosmos e, dese modo, suas configuragSes sfo indfcios extremamente \iteis, reforentes & mesma ordem que existe em todas as partes. Acredito que ‘© papel dos planetas, de manter ou criar a ordem, é minimo em comparagio ‘com 0 valor deles como um mapa ou umm esquema da ordem. (p.8) 56 Essa mesma idgia expressada em toda a literatura e filosofia da Antigiidade ¢ atual. Emerson, por exemplo, escreve: “AS leis pelas quais © Universo & organizado reaparecem em cada ponto e govemnarso esse ponto.” Lincoln Bamett (1951) diz mais: “O objetivo de Einstein, no sentido geral, é mostrar que todas as formas da natureza ~ estrelas, planctas, luz, eletricidade e, possivelmente, até mesmo as pequeninas particulas que est¥o no étomo ~ obedecem as mesmas leis universais.” O uso funda- mental da astrologia ¢ o seu valor residem na aplicaedo, em nossas vidas individuais, desse conhecimento das leis universais. Mais do que qualquer outro astr6logo ou fil6sofo modemo, Dane Rudhyar expde, de maneira clara e compreensivel, uma abordagem ho- listica da astrologia e, de fato, da psicologia, da filosofia e de todas as matérias que concermem ao homem como ser individual, Durante os tiltimos cinglenta anos Rudhyar publicou ‘dizias de livros e centenas de artigos tratando de assuntos astrolégicos, psicolégicos, culturais e filoséficos, sendo os mais conhecidos: The Astrology of Personality (1936), The Practi- ce of Astrology (1968), Birth-Patterns for a New Humanity (1969) e The Planetarization of Consciousness (1970) ¢ An Astrological Study of Psycho- logical Complexes and Emotional Problems (1966). Em adigao, ele vem desenvolvendo aquilo que chama de “Astrologia Humanistica”, uma aborda- gem nova ¢ modema da astrologia, inteiramente compativel com as técnicas psicolégicas modemas, Mais do que qualquer pessoa, Rudhyar apresentou a astrologia de forma ponderada e sofisticada, que combina perfeitamente com os vislumbres mais promissores da clncia, da filosofia e da psicologia atuais. A filosofia que serve de base para todos os trabalhos de Rudhyar é @ do holismo, cuja premissa bisica 6 que a existéncia se manifesta em todos 0s niveis em termos de todos, isto 6, de campos organizados de atividades interdependentes. Para Rudhyar, a astrologia € a mais com- pleta linguagem possuida pelo homem, na forma, na estrutura ¢ no ritmo do todo funcional, Num de seus primeiros livros, The Astrology of Personality (1936), Rudhyar se refere & astrologia como uma “algebra da vida’, isto é, uma forma de compreender a ordem essencial na tote lidade da vida individual e coletiva, Alm disso, em uma de suas obras mais recentes (1969), ele diz o seguinte a respeito da astrologia: A astrologia, quando a encaramos de perto, naguilo que ola é capaz de interpretar © de significar, surge como uma linguagem simbélica ne qual 4 estrutura, no tempo © no espaco, de todos maiores (come o sistema solar) 37 ee std relacionada com o desenvolvimento estrutural de todos menores (como lum ser humano ou como a humanidade — como um todo). A astrologie é, de ato, a aplicagdo prética de uma abordagem holistico-Alossfica da existéncia. De acerdo com essa filosofia, cada todo-existéncis estd contido num todo maior, que, por seu tumno, é um tode menor contido num outro todo que € maior. Um’ sistema oxgunizado de atividades existenciais €, por conseguinte, tanto 0 continente de todos menores, como um dos conteidos de um sistema muito maior. (p.35) ‘A astrologia, conforme eu Yejo, lida essencialmente com cictos de movie mentos e ritmos césmicos (ou bioossmicos). Lida com “forma” ou gestalt ~ com prinefpios estruturadores inerentes em cada sistema organizado, de ativida- dee; desta maneisa, em cada todo, Ndo é uma questo de influéneia literal, direta, externa, exercida por alguns corpos celestes sobre entidades que esto vivendo na Tera, A astrologia é uma maneira de estudar e compreenider 0 artanjo ou a organizagio de algumas poucas fungGes © impulsos essencials existentes em qualquer todo de atividade organizada. Nos tempos antigos, este conceito era expressado com a correspondéncia estrutural entre micro- cosmo © macrocosmo, mas originalmente a Terra toda ere vista como um micro- cosmo andlogo, na estrutura bisica, ao unlverso inteiro. Somente mais tarde, 4 medida que os processos de individualizacio humana prosseguiram € os indi- ‘viduos emergiram das sociedades tribais, que interpenctravam e controtavam tudo, & que tsis pessoas individualizadas comeyaram a ser encaradas como ‘microcosmes — um fato que Jesus efirmou vigorosamente quando disse: “O reino de Deus esté em ti." (p. 93) Até mesmo um cientista (fo eminente quanto Teilhard de Chardin confirma a validade de uma abordagem holistica da vida, por exemplo, quando escreve que o simples sé pode ser compreendido em temmos do mais complexo. O psicdlogo Rollo May (1960) diz quase a mesma cois 6 somente meia-verdade sustentar que o organismo deve ser compreen- ido em termos das elementos mais simples, que esto abaixo dele na escala ‘evolutivas é igualmente verdade que cada nova func forma nova complexidade que condiciona todos os elementos mais simples existentes no organismo. (p. 686) A Abordagem em Termos de Energia Na época atual, a filosofia holistica é, para muitos, a abordagem mais estética ¢ intelectualmente satisfatoria da astrologia. Contudo, hé ainda uma outra abordagem da astrologla que s6 agora esta comegando a se destacar ¢ aguarda 2 possibilidade de solucionar muitas das diferengas existentes entre defensores de um ou outro ponto de vista, Bssa abordagem 38 lida com as energias essenciais e com os padrOes de energia que operam nos individuos. Essas energias so simbolizadas, no horéscopo, pelos plane- tas ¢ pelos signos. A II Parte deste livro € um esforgo para apresentar, de forma sistemética, essa abordagem da astrologia, uma concepeao focali- zada sobre as energias basicas que nos animam. O enfoque astrol6gico em tenmos de energia é, em esséncia, um enfoque holistico, pois incorpora simultaneamente todss as dimensdes da vida do homem. Neste ponto é preciso dizer que agora esto sendo realizados muitos trabalhos que derra- mam luz sobre as energias mais sutis existentes no homem, e sobre as formas de energia espectticas, existentes na natureza inteira, Parece cada vex mais evidente o fato de que uma adesfo cega a uma estrutura de pensamento Puramente causal jamais nos dard capacidade para desenvolver uma teoria astrologica inteligente, ¢ talvez até mesmo possa impedir que cheguemos a compreender os usos adequados e racionais da astrologia. Conforme escreve Alexander Ruperti (1971), 0 fisico e astrélogo suico: Onde Paraceo fala de identidade de microcosme e macrocosmo, onde Rudhyar fala de principio de ressonincia simpitica de todas as partes do todo universal, onde Jing fala de um principio sncronGtico goverando manifes- 1ag6esidénticas de um ferdmeno peiguico, «astrologia modema, porgue segue 2 atitudecientfics, insite em objtivar tak correspondéncas numa fi de casa ¢ feito, Desse modo, por causa do fetiche da rexpeitabilidade cientifica, a astrologia moderna tral a sua antig heranga. (© verdadeito papel da asrologia tem sido, e deveria continuar 4 se, aquele de demonstra & existéncia de uma ordem universal no nvel de desea: volvimento, no qual a atengZo do homem estdfoclizada em qualguer momento ado, 0 tempo de uiidade da astrologia, no trzer ordem para © plano fisico de existincia,jé terminou. Atualmente a céacia esi muito melhor equipada do que a asuologin para realizar esa tarefa, No nivel psicoliico, portm, @ natureza do homem atual esti num caos e & por essa ruzZo que sigerimos que 4 missfo mais elevada da astrologia, em termos det necesidades crus do homem moderno, é apresentar uma prova da existéncia de uma ordem har- riénica 20 nivel psicolegic.(p.6) 59 6 PSICOLOGIA HUMANISTICA E ASTROLOGIA HUMANISTICA Durante a altima década houve um recrudescimento de interesse pelos aspectos da vida que sio distintamente humanos ¢ subjetivos. Na psicologia este enfoque tem sido chamado de “terceira forga” ou psicologia humanis- tica, e € nitidamente diferente dos modetos mais mecanicistas de homem, construidos pelas gerag6es anteriores de psicélogos. Embora a psicologia humanistica venhha crescendo célere e esteja exercendo uma influéncia cada vez maior sobre outros campos de estudo, ainda é considerada, por muitos psicdlogos da velha escola, insuficientemente acurada e cientifica. A psicologia humanistica é uma abordagem mais holistica e compreensiva, da vida emocional e da psique do homem, do que a maioria das outras abordagens vistas nesse campo. Seu grande alcance ¢ sua énfase no holismo e na subjetividade, naturalmente tomam mais dificil a inclusdo de dados mensuriveis e objetivamente confirméveis. Contudo, ha ainda uma outra arma psicolégica que satisfaz a necessidade da psicologia humanistica de um sistema preciso de tipos e de diferengas humanas: € a astrologia. Em que a psicologia humanistica € diferente de todas as outras vias de acesso 4 compreensio da natureza do homem? Primeiro, todos os psic6- logos humanisticos do um exemplo de confianga na unidade e no potencial de crescimento de cada ser humano. Como escreve 0 psicélogo Carl Rogers (1967): s+ 0 ser humano subjetive tem uma importincia © um valor que sfo fundamentais; nfo importa como possa ser chamado ou avaiado, antes de tudo ele Sum ser humano, © muito profundamente. Nao ¢ spenas uma méquina, uma colegio de elos formados por estimulos e reagées, um objeto ou um peso, @.2) Outro psicdlogo, Maurice Termerlin (1963), escreve: 60 ‘Ao contririo das metas cientitias, as metas de uma psicoterapia huma nistca nfo sfo nem a previsbilidade nem 0 controle. De fato, quanto menos previsivel 0 individuo se toma, mais bem-sucedida é a psicoterapia, pois a sua rigidez € reduzida e a sua espontaneidade e criatividade so aumentadas. (p. 37) Aquilo que Termerlin diz a respeito da psicologia humanistica poder dar a impressio' de estar em conflito com a énfase na predieao, encontrada nas idéias populares acerea da astrologia e, de fato, em alguns tipos de pré- tica astrolégica. No escopo da astrologia humanistica, porém, a énfase € colocada na pessoa, mais do que num acontecimento especifico. Assim escreveu um importante porta-voz da astrologia humanistica, Dane Rudhyar, “as pessoas acontecem para acontecimentos”. Essa 6 a diferenga crucial na énfase entre a astrologia humanistica ¢ outros usos da astrologia. Do mesmo modo, toda a énfase de uma abordagem humanistica dos estados de “doenga” fisica ou psicolégica muda quando, em vez de saber que tipo de problema uma pessoa tem, passase a saber que tipo de pessoa tem um problema. Outra nova énfase importante na psicologia humanistica € que o po- Aencial de criatividade e auto-realizagdo do homem é considerado como Tmais essencial do que suas limitag6es, anormalidades e dificuldades no ‘ajustamento social. De fato a Psicologia Humanistica é a Gnica abordagem popular que leva em consideragao a qualidade impar e o modo de ser individual, os préprios fatores com os quais a astrologia lida especifica e exaustivamente. O psicdlogo existencial humanfstico, Rollo May (1969) define “ser” como “padrgo de potencialidades” individuais, e prossegue dizendo que “essas potencialidades serao partilhadas com outras pessoas, mas, em cada caso formargo um padrfo sem igual em cada individuo”. (p. 371) Essa citagdo de Rollo May poderia, com a mesma facilidade, referirse ao mapa de naseimento individual (hor6scopo). Pois 0 mapa astrolégico do nascimento simboliza, de maneira holistica, 0 padrio de potencialidades sem paralelo que anima a cada um de n6s. ‘Um grande fomentador da abordagem humanistica da_psicologia & James F. T. Bugenthal, organizador do livro Challenges of Humanistic Psychology. Num artigo chamado “The Challenge That is Man” (1967), Bugenthal escreve: Fazer uma declaragfo a respeito de uma galixia distante & fazer uma declarago a nosso respeito, Propor uma “let” da acfo de massa e energia€ oferecer ‘ums hipétese sobre a nossa maneira de ser no mundo. Escrever uma descrigfo de microrganismas sobre uma ldmina de microseépio € publicar um reluto de 61 uma experigncia humana... © psic6logo humanistice... aceita, como campo de trabalho, esse subjetivismo Désico de toda a experiéneia. © que quero dizer, literalmente, ¢ que qualquer declaragdo que fazemos sobre 0 mundo (0 “Ii fora”) &, sem diivida, iniludivelmente, ums declarag sobre & nossa teoria a respeito de nds mesmos (do “aqui dentio”)... A subjeti= vidade fundamental de tudo 0 que chamamos de objetivo é expressada por muitos eseritores, de virios meios... O reflorescimento da psicologia humanis- tica significa que 8 atengdo cientifiea estd novamente dirigita para a prioridade do subjetivo, (pp. 5-7) Nessa citagZo, Bugenthal esta delineando a sua visio da natureza holistica do universo, que & a premissa filos6fica bésica da astrologia. Bugenthal também desereve aquilo que vé como alvo primordial da psico- logia humanistica: A psicologia humanistica tem como meta suprema a preparagio de uma descrigdo completa do que significa estar vivo na qualidade de ser humano. Naturalmente, esta 6 uma meta que talvez nunca seja plenamente alcancada; contudo, & importante reconhecer a naturez# de tarefa. Uma tal deserigdo completa incluisia, necestariamente, um inventério dos talentos inatos do omem, suas potencialidades de seatimento, pensamento © agdo, seu ctesci- ‘mento, evolugdo e declfnio, sue interagio com vitias condig6es ambientais. fo alcance ¢ a variedade de experiGneias que ele pode ter, 0 seu lugar significati- vo no universo. (p. 7) A menos que esteja familiarizado com 0s usos e a precisfo da astrolo- gia, Bugenthal, sem divida, ndo tem percepgfo de como esta proxima 2 conquista dessa meta, Usando a astrologia como instrumento psicol6gico, todos os pontos incluidos na citago acima podem ser esclarecidos ¢ sistema- tizados de forma compreensivel, ao mesmo tempo conservando a recepti- vidade ¢ 0 potencial para o desenvolvimento individual, to importantes para uma psicologia humanistica. Bugenthal também toca na questo da previsibilidade: «1 psicologia humanistica procura descrever, de tal modo, o-homem & fe suas experigncies. Ele estard mais habilitado pare predizer controlar suas roprias experiéncias (e assim resistr, impliitamente, aa controle de outros). (1) Este alvo € exatamente 0 da astrologia humanistica, conforme apre- sentada por Dane Rudhyar nos seus volumosos escritos. Essa previsibili- dade no contradiz, de modo algum, a premissa da liberdade individual 62 do homem, pois a liberdade primordial ¢ a de escolher a nossa atitude diante de um determinado conjunto de circunstancias. Conforme escreve ‘0 psicdlogo Carl Rogers (1967): E 4 tiberdade interior, subjetiva, existencial que eu observei, fo fardo de ser responsivel pela personalidade que o individuo decide ser. Fo reconhe- cimento, pela pessoa, de que els € um processo emergente, no um produto final estatico... Um segundo ponto, na definigZo desta experiSncia de liberdade, € que ela existe nfo como umia contradigSo para a imagem do universe psicol6 ico como seqiigncia de causa e efeito, mas como um complemento de tal Universo. A Uberdade, corretamente entendida, é um cumprimento, pela pessoa, da seqiéncia ordenada da sua vida. Como diste Martin Buber, “0 ho- mem live... acredita no destino © que este frccisa dele". Movimentacse vor luntanamente, liveemente, respoasavelmente, para deiempenhar seu papel signi= fcativo em um mundo ‘cujos eventos doterminades movemse através dele © através da sua vontade e escolha espontineas. Citando novamente Buber, ‘sVequele que esquece tudo o que ¢ motivade e toma decisses vindas do fntimo.. 6 um homem livre e 0 destino o enfrenta como contraparte da sua liberdada, 'Nio € o seu limite, mas a sua ealizagio,” Falamos, entdo, de uma liberdade inerente 4 pessoa, subjetiva, uma liberdade na qual 0 individuo decide realizarse, desempenhando um papel responsével e voluntirio no desenrolar dos eventos predestinados do seu mundo. Essa experineia de liberdade ¢, para os meus clientes, um desenvolvimento extremamente significative, que os ajuda a se tornatem humanos no relacio- namento social, a ser uma pessoa. (p. $2) Hoje, um dos poucos obstéculos da abordagem humanistica da psico- logia esti no fato de tentar manter uma atitude franca e compreensiva diante do indivfduo, sem as limitagses determinantes de categorias relativas € em constante mudanga, categorias essas, porém, que sfo absolutamente necessérias para que se possa chegar & exatiddo descritiva e & certeza tedrica, que so as metas supremas aspiradas pela psicologia humanistica. Daf, descobrimos que grande parte da psicologia humanistica continua sendo apenas um conjunto de atitudes, ou uma abordagem geral, em vez de consti- twit uma teoria acurada € til dz personalidade e do desenvolvimento humano. Muitos psicélogos humanisticos hesitam em adotar qualquer conjunto de regras ou processos para distinguir tipos humanos diferentes, porque viram que tais teorias foram usadas, no pasado, simplesmente para apoiar a ética social de um determinado perfodo histérico, tendo, eventualmente, degenerado em severos embaragos numa situagdo tera- péutica. Muitos psicélogos humanisticos esto, hoje em dia, ativamente envolvidos na pesquisa da importincia das experigncias transcendentes, 63 misticas ou “transpessoais”. Tais pesquisas os levam a enfrentar questdes ¢ realidades metafisicas, ¢ 0 elo com esse nivel de experiéneia toma nitida a insuficiéncia de velhas teorias da personalidade, Por isso eu sinto, intensa- mente, que 0 tinico padrdo de referéncia e de contexto de vida, suficiente- mente universal para uma base para 4 psicologia humanistica moderna, € 0 proprio universo com seus padres, ciclos e ritmos imutaveis. ABssa é 0 tipo de astrologia humanistica que Dane Rudhyar desenvol vou durante os iltimos quarenta anos, uma astrologia centrada na pessoa, mais do que centrada no evento, uma astrologia concebida essencialmente ‘como uma linguagem que usa os movimentos ciclicos dos corpos celestes, como simbolos que transmitem para os seres humanos uma compreensto direta e de aplicagdo pritica, de padrées basicas que estruturam a existéncia individual e coletiva, Uma astrologia assim, isto é, que lida principalmente com a forma, a estrutura do todo, oferece base sélida para uma psicologia | que lida principalmente com o contetido da experiéncia pessoal. Num con- | texto to amplo e vistas em perspectiva contra um cenério universal, as | experineias cotidianas da vida normal e as crises ocasionais, que modelam novas fases de crescimento, passam a ser mais compreensiveis e, essencial- mente, mais significativas. Conforme escreve Rudhyar (1971): © objetivo ¢ ser capaz de perceber que tudo 0 que acontece, em qualquer tempo, se encaixe no quadzo geral ou na estrutura da sua existéncia. ‘Agueles que olham a vida a partir de um ponto de vista existencial, vendo todas as coisas como se fosser absurdas, esto destruindo a saiide ea vitalidade do homem, conforme demonstraram os experimentos realizedos por Victor Frankel. O que o homem precisa antes de tudo, ser saudvel no senti- do de significado, O significado & definido como uma passagem através de nume- rosas fases que, relacionadas entre si, transformam-se no plano de referSucia para aquilo que acontece om sua vida. Mostrar ao homem a significagdo de sua vida & 0 que de mais importante a astrologia pode fazer... (p.4) ‘A astrologia é importante porque demonstra que a vida se presta a uma interpretagao significativa. (p. 5) Uma das raz6es da abomingvel reputaedo da astrologia nos efrculos cientificos e académicos durante as décadas passadas, é que quase toda a astrologia ~ e principalmente a astrologia popular — ainda se ocupava com a prediggo de eventos definidos, mais do que com a vida interior do ser humano. © passo mais importante, dado pela astrologia humanistica de Rudhyar, & que ela transfere a énfase a0 mundo exterior dos eventos para ‘© mundo exterior da experifneia e erescimento pessoal. Vérias técnicas do “predigdo”, tais como seqiiéncias e conjung6es, ainda tém lugar numa 64 astrologia humanisticamente orientada, mas a importincia daquilo que tais téonicas indicam muda pasando de um ato do destino, deterministico ¢ sem significado, para uma oportunidade significativa para experimentar ¢ integrar novos aspectos na nossa maneira de ser. Em outras palavras, estas ocasides, assinaladas como criticas (por meio da andlise dos ciclos mais vitais para o padro de desenvolvimento da pessoa como um individuo), so vistas como parte de um padrdo de crescimento ¢ auto-realizagéo ainda maior. Assim sendo, mesmo as experiéneias dificeis assumem um significado pessoal, positive, que produz crescimento, Rudhyar (1971) explica, da seguinte maneira, esta nova énfase dada ao individuo, na astrologia: Se vo quer que a astrologia demonstze a sua forca, nfo deve focalizar © ponto no qual ela ¢ incomparivel, onde ela é capaz de revelar o valor mais absoluto. Essa é a situagio individual ‘O que voce tenta compreender 6 o significado dessa situagZo como um todo. A razio pela qual a situapfo dos planetas é importante é que: se vooS compreende que 0 universo é um organismo, no sentido mais amplo do termo, um sistema de atividedes integradas, entio, qualquer coisa que acontece com ‘esse sistema, tem um lugar ¢ uma fungao dentro dele. Se vocé quer compreender uum determinado ponto no tempo € no espaga, nesse sistema, tem que ver esse ponto em relagfo com o sistema todo. A unidade do sistema estétrabalhan- do constantemente em harmonia polifénica com a vida do individuo, que se separou do todo porque se transformou, ele préprio, num pequeno todo, num ppequeno organismo. Cada vez que qualquer coisa se individualiza, ssindo do todo, continua sendo parte do todo... Na astzologia, a idéia € relacionar toda 4 atividade funcional do ser humano com dez simbotos bisicos, ow planotas, cada planeta representando uma qualidade definida de stividade, Vistos em conjunto, eles representam um esqueme da pessoa como um todo. (p. 4) No sew opisculo Astrology for New Minds (1969) Rudhyar explica este ponto: Cada ser humano é um todo orgénico, relativamente independente, no qual vias forcas atuam dinamicamente entre si, segundo um padrio origi- nal e otiginador, que estabelece 0 seu propésito na vida e a sua relagdo basica com 0 todo existente no universo. Bise todo orginice — a pessoa como indivi- duo ~ nio 6 esencialmente diferente do todo erginico, infinitamente maior ce mais vasto, que chamamos de universo. De fato, a pestoa como um individuo, cconstitut um aspecto particular do Todo Universal, focalizado num determinado onto no espago © em termos da sus necessidade particular, no momento fexato da sua emergéncia numa existéncia independents. Esse’ momento 0 da primeira respiragio, porque & nesse instante que os ritmos bisicos da existéncis do indiviguo sfo estabelecidos mum determinade meio ambiente. ©.27) 65 Desde que, conforme escreve Rudhyar, “os elementos substanciais ou os impulsos bésicos, presentes em rodo sistema existencial organizado, siio os mesmos” © desde que os seres humanos na Terra fazem parte do mesmo todo a0 qual pertencem os planetas do sistemas solar, temos uma base sobre a qual construir uma linguagem césmica apropriada para o pagrio de funcionamento ¢ a maneira de ser do homem, Numa pelestra realizada na American Federation of Astrologers Convention (1968) Rudhyar resumiu 0 que considerou ser 0 uso mais importante da astrologia: E 0 camiaho para uma vida mais consciente, mais abrangente, em texmos de uma percepgGo mais objetiva do carster © do significado relative dos fatores bisicos, que estruturam a sua existénciae aexisténcia das pessoas queo cercam. 0 caminho para a sabedoria. Hoje em dia, os psicélogos humanésticos tentam criar uma psicologia que enfatiza os Fatores positivos, tais como a auto-reslizagto, criatividade, conquista de uma consciéncia mais elevada ¢ percepgdo de uma maneira imediata da nossa individualidade essencial. O psieélogo humanisticamente orientado, o educador, o consultor ou o eigo, poderso encontrar na astrolo- ia © seu instrumento primordial, pois ela oferece uma linguagem que descreve, com exatidio, a incomparivel combinag&o de fatores universais, que operam em cada pessoa. 66 7 A ASTROLOGIA NA ARTE DE ACONSELHAR E ORIENTAR Os capitulos anteriores jé delinearam alguns dos usos e valores funda- mentais das percepgGes astrologicas no campo da psicologia.em geral. A astrologia é igualmente aplicével nas éreas da arte de aconselhar ¢ orientar, quer seje a consultoria matrimonial, infantil ou familiar, quer seja nos tipos especificos de psicoterapia, ou simplesmente na orientaggo que muitos de n6s buscamos diariamente, em nossa vida, tenhamos ou ndo o titulo de “psicélogos”. Desde que as consideragdes teéricas mais importantes foram tratadas com minuciosidade nos capitulos anteriores, neste capitulo eu simplesmente quero assinalar algumas aplicagGes especificas e préticas da astrologia, na drea geral da arte de aconselhar e orientar. Como muitos leitores provavelmente sabem, hé virios tipos de astrologia, completos € com correlagées simb6licas particulares, apropriados para o assunto que se tem em mio. Ha muitas aplicagdes das leis astrolégicas basicas mas € na area das artes de aconselhar e orientar que estou particularmente interessa- do, por isso sinto que a partilha de algumas percepgdes que obtive usando a astrologia diariamente, numa enorme clinica de consultoria, poderd ser de alguma importancia para o leitor. , Desejo enfatizar que aconselhar é uma arte e que é numa situaggo entre conselheiro e cliente que os simbolos da astrologia tomam vida no ato. A arte de aconselhar é uma transmutagdo de energia pessoal, uma ma- neira de elucidar as realidades da situagGo geral da vida do cliente e do seu modo particular de ser. Embora possamos inorementar as nossas habilidades na arte de orientar, através da experiéncia, da prética dedicada e do auto- exame penetrante, @ arte em si ndo pode ser ensinada. Desde que cada indi- viduo é diferente, a maneira particular de se utilizar a astrologia na consul toria diferiré da abordagem de qualquer outra pessoa. Eu mesmo ndo estou nada interessado em representar o papel de guru ou em estruturar minha clinica profissional de maneira tal que as pessoas venham a mim 67 esperando que eu faca tudo, que s6 eu fale por elas e Ihes entregue todas, as respostas para seus dilemas pessoais. Para mim € evidente que a propria franqueza do cliente, em cada situago, determina, de fato, 0 alcance do auxilio que ele iré obter por meio do nosso interedmbio ou qual a profun- didade da ampliago do seu autoconhecimento. Isso se aplica a todas as situagdes da vida; de acordo com nossa disposigo para dar e do quanto preparados para encarar a nossa propria verdade, assim programamos aquilo que iremos receber. 0 fato de alguns astrélogos continuarem a desempenhar © papel de ledores da buena-dicha ow de um onisciente veicuto da sabedoria cosmica, simplesmente indica que tais profissionais t&m os seus egos muito envolvidos nesse papel. Os astr6logos, nfo importa como eles se vejam ou como © piblico os vé, sfo seres humanos como quaisquer outros, com conhecimento, compreensfo e experiéncia limitados. Diferem dos outros apenas no estudo (supdese que bastante profundo) do sistema de sfmbolos césmicos que Ihes dé um instrumento adequado para penetrarem debaixo da superficie do ego, da autorilusdo e dos papéis sociais, ‘Na pritica cotidiana da astrologia como profissso, é da maior impor- tncia que a honestidade intelectual do profissional seja inflexivel. Em outras palavras, se nZo sabe a resposta para uma pergunta, nfo compreende ‘algum aspecto do mapa astral, ndo tem realmente um contato harmonico, ‘num certo nivel, com a pessoa, ele no deve hesitar em dizer isso e, conse aqfientemente, em pedir ajuda ou esclarecimento. Acho que muitos astr6lo- 0s amide se defrontam com um cliente que quer jogar toda a responsa- Dilidade em suas mdos, projetando a imagem de gumu sobre eles; esse & uum jogo que 0 ego adora e por isso mesmo é fécil cair num tal papel sem perceber as implicagGes reais dessa atitude. Contudo, deverfamos perceber que de pouco vale simplesmente aconsethar, sem dar também um meio para se alcangar uma compreenso mais profunda, pois cada pessoa, seja homem. ou mulher, deve fazer 0 seu proprio trabalho e, através da propria experién- cia, chegar até aquela percepedo mais elevada, que poderd capacitéla superar ou a transcender a dificuldade, Ao mesmo tempo, o astrélogo deveria compreender 0 poder que tem a sua disposigfo e a espantosa sensi- bilidade as sugestdes que tém os seres humanos e, portanto, usar esse poder com a mais extrema cautela. E preferivel calar do que dar palpites sem fundamentos, baseado em compreensfo insuficiente, simplesmente por causa da insoguranga do ego ou atendendo a pedidos insistentes do cliente. Conforme Zipporah Dobyns assinalou, por trés das declaragées do astrotogo —e até onde o cliente é capaz de perceber — esto 0 poder e aautoridade do cosmos. Essa é uma responsabilidade que ndo pode ser encarada levia~ 68 namente. Além disso, nossa honestidade intelectual deverd chegar a0 ponto em que oconselheiro declarara, abertamente, suas crengas filosoficas e éticas particulares, se elas esto interferindo na sua capacidade para lidar objetiva- ‘mente com uma determinada pessoa ou situagao. © relacionamento entre astrélogo e cliente 6 téo profundamente pessoal quanto aquele entre médico ¢ paciente. A qualidade desse rela- cionamento é um fator decisivo no resultado da consults. Portanto, nenhum astrélogo deve sentir hesitagfo quanto a enviar a pessoa para um outro astrOlogo, se acha que alguma tensfo ou resisténcia, num relacionamento particular, toma impossfvel lidar com o cliente com eficiéncia e franqueza. Nao se trata de quem é 0 “melhor” astrélogo. Ha tipos diferentes de astr6- logos para tipos diferentes de pessoas. O que um asirélogo nifo é eapaz de compreender ou tratar poderé ser exatamente a forga maior de outro profissional. Portanto, nao’ sd0 apenas os sistemas particulares de astrolgia ou 05 tipos especificos de téenicas astrologicas usadas, que determinam a qualidade da pratica astrol6gica; o mais importante é a qualidade do rela- cionamento ¢ a profundidade do autoconhecimento que iluminam o inter- cambio entre consultor e cliente, Sem os beneficios desse intercdmbio de pessoa para pessoa no trabalho astrologico, é impossivel usar os processos astrolégicos da maneira mais profunda e com todo o proveito. Embora 0 levantamento de um mapa para alguém que o astrdlogo nso viu pessoalmen- te possa serthe muito til, esse individuo geralmente poderid chegar a uma compreenséo muito mais profunda se tivesse um cantato pessoal com 0 astrélogo. Pois, sem esse contato pessoal imediato 6 impossivel saber (a me- nos que sejamos psiquicos verdadeiramente privilegiados) em que nivel de percepedo 0 individuo reagiré as suas ciscunstincias interiores e exteriores. Na parte que resta deste capitulo, simplesmente farei uma lista de alguns dos valores que a astrologia pode oferecer as artes de orientagao ¢ conselho. Esses so meus préprios valores pessoais ¢ esto, naturalmente, relacionados com minha experiéncia e minha atitude particular para com avida, 1. O livro sagrado hindu, Bhagavad Gita, declara que & a “mente que mata o real”. Um autor modemo escreveu, “A morte do ego € o nasci- “mento. de. tudo 0. mais”, A utilizagdo da astrologia pode oferecer uma ‘perspectiva ¢ um destigamento dos padrées da mente e do ego, para que possamos, ocasionalmente, perceber 0 que & real; enquanto formos vitimas dessés. padres estaremos numa escuridgo total. O mapa natalicio revela estes padres dé forma clara, 6 qué nos permite lidar, mais eficientemente, com nossos hébitos e com n6s mesmos. 69

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