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Leandre Comes da Sarton. ee AS SAIAS CALGOES 18 18 “JUM SUSTO DE MINHA SOGRA 7 Se = Yb Ve pel €CClaxn lk 3 ceveed Lire ASS 9 BA * AS SAIAS CALCOES O mundo estf as avessa, As cousas nio vao de graga, Fiemem raspando bigode E mulher yestindo calga, Isso é um pao com formiga, Um banheiro com fumaga. Depois quefveio essa moda “ De mulher ‘botar chapéo, Pegou a faltar a chuva, Secraram as nuvens no céo, Os pobres paes de familia _ Estao“soletrando charéo. Asmulheres que s6 vivem A sondar a invengio, Acharam que estavam bem Inventando cinturio, . Com pouco mais ellas andam Com cartucheira e facio. da tal pulseira 3 Jom que vivem algemadas, Chegaram 4s saias pamonhas, Com essas vivem peiadas, Agora as saias calgies Chegaram mesmo damnadas,’ Procuro um geito nellas De forma nenhuma acho, S40 botdes como diabos Desde cima aiéem baixo, , Hstando mulheres e homens Parece ser tudo macho. Hontem vi duas mulheres Que estavam eur discussio, Sobre a erenga do paiz Fanatismo e corrupgao, Uma pergunton a outra JA vistes saia calgaio ? E apois minha visinha Disse a outra admirada, Sao cousas de fim do mundo, Bem disse frei Panellada Que ainda chegava tenrpo De agente viver peiada. Mas a visinha disse a outra: Isso me faz confusio, 4 yf 26 eS cot ee een, Nao ha’ quem ache bonito | i Esta tal saia calcio, Quem morrer vestida n’ella Nao aleanga salyagao. Ora !. vizinha | isto é nada, Tndo ha de se acostumar, A qnestéo 6 \uma rica” Fazer uma e passeiar, Com pouco mais até freira Faz tambem e pega andar. FP ntem morreu uma velha E nao quiz a confissao, Disse ao filho antes da morte, Para mim nao faga caixao E quero em vez de mortalha EF’ uma saia calcio. Dizia frei Ribingudo, _ Homtem, pregando um sermio, Deus filhos creiam por Deus Que eu digo de coragio, S6 queria ser mulher, Para botar saia calgao. Dizia na confissio A freira Chica Bazar, | Eu prefiro até fugir, . Se quizerem me empatar, 9 Dizia: Joanna padeira, ulher de Felippe pio; . ” ‘Meu velho na padaria ~ Nao ganha mais um tustio, Mas; embora, venda o forne , D&me uma gaia caloio. i i Uma: velhavandava aqui Eseorada n’um bastio, ~ Pedindo por caridade al Em toda porta um tustiio, Para inteirar o dinheiro De uma sainha calcao. Hoatem um conductor me disse Que o chefe da estagio Disse a elle queo inglez ~ Quer por uma obrigagéo Que os conduetores e fiscaes Andem com farda calgio. Nao sabemos o bispado Ahi o que deterntina, O bispo escreveu ao papa, FE. nao sei se elle combina ~ Para os vigarios botarem ~ Caleio em vez de batina. Tanto que eu hontem fallindo Aqui com o meu visinho, Disse efle a mulher, | Ficava até bonitinho Freira com saia calgio _ E padre com lascadinho. Morreu agora uma Velha N’uma cachaga medonha, oF As filhas enterraram ella Vestidaem saia pamonha, Foi ao céo, S. Pedro disse ¢ <= por ali! sem vergonha. ‘Voeé com saia pamonha 2 Vem procurar salvaciio ? Nao tinha 14 outras modas De mais apreciagio ? Para que nio veio com uma bata Ou uma saia calgio ? eo ‘ Um sertanejo ja velho Veio a praga, desta vez _Viu um maniquim vestido, Disse-Ihe um homem nao vez? Aquillo é saia calgio,° Se vende a qualquer freguez. : Ovyelhoseaproximando | , :: Disse muito admirado : Este diak« Que esta todc Credo em Dou-te Diss Seti ee O yelho sahiu damnado Quasi morre de paixio. Foi e disse ao padre Cicero, » Meu padrinho estou assombrado, Fui agora no Rucife Ou que lugar desgragado Fui ao inferno e 14 vi O diabo abotuado. E a mie do desgragado Fez-me tal’ perseguigao, “ato estava me illudindo Para eu trazer 0 cao, Me mandando eu medir elle E botal-o no calgaio. Eu chamei por vmeé, E corri do desgragado, Elle ficou hem na porta, (5m cada um olho vidrado, S6 nio pegou-me por es tar Com o yestido apertado- Entio disse o padre Cicero, Foi sua superstigao, Aquillo 6um manequim, Nio pode fazer acgio, Isso se chama reclame Para tal saia calgio. LSP TEAS tt € - D4-me uma saia calcio, : oe. ” © Nao ter aonde se more . ar evlinngs fe ee ao diabo men filho : lou-te med coragio, - Embora vendas o inferno Noa watldends nossa caza Ficamos morando ata, Nao ha cousa que mais doa ; : Porenva saia calefio, ~~ aoe FY tio bonita ! 6 tio béa ! sas Dizem que até nos conventos Apparece uma visio, Uma freira sem o habito, _E um frade em'camisio. i = Pedindo que tirern-lhe os ossos a . Vistam-lhe saia calcio. ie es 7 7 o Um susto de minha sogra Disse a velha minha sogra - Que deiton-se foi dormir, Assustou-se por ouvir . Um estrondo que a ergueo, Ella \disse foio céo, A. velha’ prezoncion- . Um tremor em toda terra, soarcomo uma serra » 7 Que vinha-se desabando, “Uma fumaga amarella Damnada para feder, © povo todo a-dizer : O mundo vem se arrazando, Ag familias assustadas Abriram suas janellas, Nos quartés as sebtinellas Em alvorogo bradavam, Foi a maior scena vista Entre todos os horrores, Os ciies aos pés dos senhores Tremeodo de medo uivayam. O. delegado Vali A men sogro interrogando, Meu sogro disse zombando Que aquillo nio era nada, Era 0 povo ignorante, Que aquelle alarme fazia Ali ninguem conhecia Effeito de panellada. ie a Disse que a tarde comprou O fato de um novilhote, E a banda de um garrote, Dose kilos de toucinho, Isso tudo de uma vez Foi apenas o que comeu, No fim da nieza bebeu ‘ Feito uma soupa o caldinho. * E nossa felicidade Foi isso nao ter se dado Em Maio do anno passado | ntes de vir 0 cometa, Tudo julgava que o mundo Se acabaria em geral Aquillo fosse signal Da quéda de algum planeta. Tanto que a velha me disse : Ah meugenro eu sou casada Com uma pega tio damnada, * y Que atiraudo o chao se ergue Da estrondos a meia noite Maior que um torpedo, Tanto que vivo com medo Aquelle mal no me pegue. os ihe Haly . Naw, )9ie A DEFESA 01 AGUARDENTE (REPRODUCCAO) Vica ui Eu pergu P’ra que ouco lente, a FES be ae 86 nao bebe quem morreu Ou quem é muito innogente. Meu'sogro nasceu _ Na distillacao, = E n’um garrafio Sua av6 morreu, Um seu tio bebeu Até se acabar, Deixou de tomar, Na hora da morte, Eu que sou tio forte, Sou quem vou deixar ? Posso intrigar-me com tudo, Como dizia meu sogro, Porém deixar de beber ? Nao deixa a péio nem a togo’ Todo homem tem um yicio E todo vicio é um jogo. Se quer me deixar, Isso pouco importa, Uma fecha a porta, Outra manda entrar, Se uma me odiar, A outra me adula, Uma diz: nao bulla, Grita a outra : quebre, Diz uma: nao bebe, Diz a outra: engula. ata E visto eu ser desta forma Deixo o que! deixo’ ld nada! Sou devoth ha muito annos Da gostosa itmacnlada, Quem di-me um conselho desse, Nao péde ser camarada. Se algum desordeiro, Censurar a mim, Eu pergunto assim : Custou seu dinheiro ? Se sou cachaceiro, muito bem, sulto alguem, Nao dou a ninguem. Conhego um homem illustrado, Que presume ter eapricho, Law: a bocca de manha Com agua que mata o bicho, Quantas vezes os personagens, Tém feito cama no lixo? Eu fallo a verdade, Gosto de aguardente, F principalmente Daquella gue arde, Entao toda tarde Rin eae es e — 4 — i : ; | E’ garrafa e meia, Bem cedo uma cheia, A’ noite outre tanto, 2 Me deito no canto, . i Eston prompto de ceia. ey O velho meu bisavo, i Era grande portuguez, \ Morreu com cento e dots annos, i Tinha cem de embriaguez, f Nuuea houve quem o visse ais. 4) Sem estar no porre uma vez. Minha bisavé, | ae ! Tinha uma tabella, * Enchia uma tigella E bebia ‘sé, Até minha avé, ; | Que era innocente, Ficaya imprudente Com leite ou garapa, S6 comia papa Feita na aguardente. Minha sogra, essa bebia, Mas nao era viciada, Bebia n’uma semana, Ponco mais d’uma canada, Muitas vezes s6 bebia, Emquanto estava acordada. S6 bebia eth conta, Sabia beber, Nunea pnd: vé-la, Com a cabega tonia, Vivia na -ponta Ese conservava, Tudo a respeitava E sempre bebia, Fira raro 0 dia } Que se embriagava. Meu sogro tomava um copo, ‘nres de se levantar, is de seis horas, as de almogar, & co de meio-dia, Um, dous ou tres no jantar. Depois que comia, N’ella nao _tocava, Depeis que ceiava Era que bebia, Vezes repetia, Antes de dormir, hir Para ver a lua, Mas féra da rua ? Nunea o vi cahir. Eu me preyino com ella, oe : — 16 — Tenho medo do chio duro, Pois nunca vi um propheta, Que acertasse o futuro, Nem creanga que nao brinque. Nem cachaceiro seguro. Vai se equilibrando, Como quem aprende, Aguardente pende, ~ Vai elle tombando E Gesaprumando Esta sem remissio, N’um camaleio — Ou n’uma_barreira, Levanta poeira, ~ Escavaca 0 chito, Se ————

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