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ARISTOTELES, Poti, Capito ¥ a0 Xt. Ars Poca Editor, 198. p 17-63, ‘Agraiscemuy Editors As Poet pr autora wag 3 texto. Poética* Aristételes (384 a.C. Tradugao Eudoro de Souza Se abordamos a fruigéo de uma obra, deverios também analisar a sua estrutura narrativa, Por exemplo, como e quals eventos podem ser imitados pela poesia? E 0 que distingue a tragédia da comédia? Quais elementos da tragédia sao res. ponséveis pela producdo de efeitos emotivos singulares em seu espectador? “€, pois, a Tragédia imitacao de uma aco de carater elevado, completa e de certa extenséo, em lingua- gem ornamentada e com as varias espécies de ornamentos distribuldas pelas diversas partes [do drama], [imitagao que se efetua] ndo por narrativa, mas mediante atores, ¢ que, suscitando o ‘terror e a piedade, tem por efeito a purificagao dessas emogdes”. No trecho da Postica (335 a.C.) de Arist6. teles (384 a.C.-322 a.C.) apresentado a seguir a0 leitor, lemios sobre temas perenes na reflexdo estética como a mimesis, a relacao da filosofia com a arte e a catharsis. Temas: drama, tragédia, comédia, catharsis, mimesis. 3h 447 a 10 15 47b Poesia é imitagao. Espécies de poesia imitativa, classificadas segundo 0 meio da imitagio. 1 Falemos da poesia ~ dela mesma e das suas espécies, da efetividade de cada uma delas, da composigo que se deve dar aos Mitos,se quisermos que 0 poema resulte perfeito,¢, ainda, de quantos ¢ quais os elementos de ‘cada espécie e,semelhantemente, de tudo quanto pertence a esta indagagio comegando, como é natural, pels coisas primeiras. 2. Epopeia, a Tragédia, assim como a poesia ditirimbiea ¢ a maior parte da aulética e da citaristica, todas sio, em geral, imitagées. Dilferem, porém, umas das outras, por trés aspectos: ou porque imitam Por meios diversos, ou porque imitam objetos diversos ou porque imitam por modos diversos ¢ no da mesma maneira 3, Pois tal como ha os que imitam muitas coisas, exprimindo-se com cores ¢ figuras (por atte ou por costume), assim acontece nas so~ breditas artes: na verdade, todas elas imitam com o ritmo, a linguagem © 2 harmonia, usando estes elementos separada ou conjuntamente, Por exemplo, s6 de hatmonia e ritmo usam a aulética e a citaristica © quaisquer outras artes congéneres, como a sitingica; com o ritmo € sem harmonia, imita a arte dos dangarinos, porque também estes, por ritmos gesticulados, imitam caracteres, afet0s € aces, 4. Mas [a Epopeia e] a atte que apenas recorre ao simples verbo, quer metrificado quer nio, e, quando metrificado, misturando metros entre si diversos ow servindo-se de uma s6 espécie métrica — eis uma arte que, até hoje, permanecen inominada. Efetivamente, nao temos 32 10 5 1448 a 10 denominador comum que designe 0s mimos de Séfion ¢ de Xenar- co, 08 diilogos socriticos € quaisquer outras composicdes imitativas, executadas mediante trimetros jimbicos ou versos elepfacos ou outros ‘versos que tais. Porém, ajuntando 3 palavra “poeta” o nome de uma s6 espécie métrica,aconteceu denominarem-se a uns depoetas elegiacos”, 2 outtos de “poetas épicos”, designando-os assim, no pela imitagio praticada, mas unicamente pelo metro usado. 5, Dessa maneira, se alguém compuser em verso um tratado de medicina ou de fisica, esse ser vulgarmente chamado “poeta”; na verdade, porém, nada hi de comum entre Homero e Empédocles, a nio ser a metrificaco: aquele merece o nome de “poeta”, e este, o de “fisidlogo”, mais que o de poeta. Pelo mesmo motivo, se alguém fizer obra de imitacio, ainda que misture versos de todas as espécies, como © fez Querémon no Centauro, que & uma rapsédia tecida de toda a casta de metros, nem por isso se Ihe deve recusar 6 nome de “poeta”’ 6, Fiquern assim determinadas as distingSes que tinhamos de es- tabelecer. Poesias hd, contudo, que usam de todos os meios sobreditos, isto & de ritmo [25], canto € metro, como a poesia dos ditirambos ¢ dos nomos,aTragédia ea Comédia~s6 com uma diferenga:as duas primeiras servem-se juntamente dos trés meios, ¢ as outras, de cada um por sua ‘vex. Tais so as diferenigas entre as artes, quanto aos meios de imitacio, 1 Espécies de poesia imitativa, classificadas segundo o objeto da imitaga 7. Mas, como os imitadores imitam homens que praticam algama aco, e estes, necessariamente, sio individuos de elevada ou de bai indole (porque a variedade dos caracteres 6 se encontra nessas diferen~ «25 [e, quanto a caréter, todos os homens se distinguem pelo vicio ou pela virtude)), necessariamente também sucedera que os poetas imitam homens melhores, piores ou iguais a nés [5], como o fazem 0s pintores: Polignoto representava os homens superiores; Pauson, inferiores; Dionisio representava-os semelhantes a n6s. Ora, é claro que cada uma das imita- Ges referidas contém essas mesmas diferengas, € que cada ura delas ha dle variar, na imitago de coisas diversas, dessa maneira. 8. Porque tanto na danga como na’aulética e na citarstica pode ha- ver tal diferenca;¢, assim, também nos géneros poéticos que usam, como ARISTOTELES Po#TIOA 33 cio, linguagem em prosa ou em verso {sem maisica}: Homero imitou |homens superiores; Cleofio, semelhantes; Hegémon de'Tiso, o primero que escreveu pardcias, ¢ Nicécares, autor da Deliada imitaram homens inferiores. Ba mesma diversidade se encontra nos ditirambos ¢ nos nomos, 15, como o mostram [Ar|ga,Timéceo e Filéxeno, nos Ciclop 9.Pois a mesma diferenga separa a Hagédia da Coméias procura, esta, imitar os homens piotes,¢ aquela, melhores do que eles ordinariamente so, m0 Espécies de poesia imitativa, classificadas segundo o modo da imitagdo: narrativa, mista, dramitica. Etimologia de “drama” e “Comédia”. 10. Ha ainda uma terceica diferenga entre as espécies [de poesias] 20. imitativas, a qual consiste no modo como se efetua a imitagio. Efeti- ‘vamente, om os mesinios objetos, quer na forma narrativa (assumindo 4 personalidade de outros, como o fz Homero, ou na propria pessoa, sem mudar nunca), quer mediante todas as pessoas imitadas, operando € agindo elas mesmas. Consiste, pois a imitacio nessas tés diferencas, como ao principio dissemos — a saber: segundo os meios, 0s objetos 25 © © modo, Por isso, num sentido, é a imitago de Séfocles a mesma que a de Homero, porque ambos imitam pessoas de cardter elevado; © noutro sentido, é a mesma que a de Arist6fanes, pois ambos imitam pessoas que agem e obram diretamente. 11-Dai o sustentarem alguns que tais composigdes se denominam framas, pelo fato de se imitarem agentes [dréntas]. Por i8so, também, os 30. Dérios para sireclamam a invengao da Tragéclia e da Comédia;a da Co- média, pretendem-na os megarenses, tanto os da metrépole, do tempo da democracia, como os da Sicilia, porque la viveu Epicarmo, que foi muito anterior a Quidnidas e Magnes; da Tragédia também se dio por inventores alguns dos dotios que habitam o Peloponeso: dizem eles que, 35. nasua linguagem, chamam kémai is aldcias que os atenienses denominam démci, € que 0s “comediantes” no derivam sen nome de komézein mas, sim, de andarem de aldeia em aldeia (kémas), por no serem tolerados na 1448b cidade; e dizem também que usam o verbo din para [1.448b] significar © “fazer”, a0 paso que 0s atenienses empregam o termo prt, 12. Damos por dito tudo que se refere a quantas e quais sejam as diferengas da imitagao postica 10 20 35 Iv Origem da poesia. Causas, Historia da poesia trigica e cémica. 13.Ao que parece, duas causas, ambas naturas, geraram a poesia O inmitar € congénito no homem (¢ nisso difere dos outros viventes, pois, de todos, é ele o mais imitador, e, por imitagio, aprende as primeiras noges), € os homens se comprazem no imitado, 14, Sinal disso é o que acontece na experiéncia: nés contempla- mos com prazet as imagens mais exatas daquelas mesmas coisas que olhamos com repugnancia, por exemplo, [as represenitacSes de] animnais ferozes ¢ [de] cadaveres. Causa que o aprender nio s6 muito apraz 20s filésofos, mas também, igualmente, 20s demais homens, se bem que menos participem dele. Efetivamente, tal é 0 motivo por que se deleitam perante as imagens: olhando-as, aprendem e discorrem sobre 6 que seja cada uma dela, [e disio}, por exemplo, “este tal”, Porque, se suceder que alguém nio tenba visto 0 original, nenhum prazer Ihe adviri da imagem, como imitada, mas tio-somente da execugio, da cor ou qualquer outra causa da mesma espécie 15, Sendo, pois,a imitagio propria da nossa natureza (¢ a harmonia € 0 ritmo, porque é evidente que os metros s20 partes do rittno), 0 gue 20 principio foram mais naturalmente propensos para tas coisas pouco a pouco deramn origem 3 poesia, procedendo desde os mais {oscos improvisos. 16.A poesia tomou diferentes formas, segundo a diversa indole particular [dos poetas]. Os de mais alto nimo imitam as agSes nobres € ddas mais nobres personagens; os de mais baixas inclinagdes voltaram-se para as acdes ignébeis, compondo, estes, vitupérios, e aqueles, hinos ¢ encémios. Nao podemos, & certo, citar poemas desse género, dos [poctas que viveram] antes de Homero, se bem que, verossimilmente, muitos tenbam existido; mas, a comegar em Homero, temos o Margites @ onttos poemas semelhantes, nos quais, por mais apto, se introduziu o metro jimbico (que ainda hoje assim se denomina porque nesse metto se injuriavamn [idmbizon). De modo que, entre os antigos, uns foram poetas em verso heroico, outros o foram em verso jémbico, 17, Mas Homero, tal como foi supremo poeta no género sério, pois se distingue nio s6 pela exceléneia como pela feigio dramitica das suas imitagbes, assim também foi o primeiro que tragou as linas ARISTOTELES PoETICA 6 1449 a 10 15 20 30 fandamentais da Comeédia, dramatizando, nio 0 vitupétio, mas o ri diculo, Na verdade, 0 Margites tem a mesma analogia com a Comédia que tém a Mada ¢ a Oiisseia com a Tragédia, 18.Vindas 3 luz a Tragédia e a Comédia,os poetas,conforme a propria indole os ataia para este ou aquele género de poesia, uns, em ver de jambos, escreveram Comédias, outros, em lugar de Epopeias, comipuseram Tragécias, por serei estas tiltimas formas mais estimaveis do que as primeias, 19. Examinar, depois, se nas formas trigicas [a poesia austera] tinge ou nao atinge a perfeigio [do género}, quer a consideremos em si mesma, quer no que respeita 20 espeticulo — isso seria outra questio. 220. Mas,nascida de um principio improvisado (tanto aTragéia, como 2 Comédia: a Tragédia, dos solistas do ditirambo; a Comédia, dos solistas dos cantes falicos, composigdes essas ainda hoje estimadas em muitas das nossas cidades), [a Tragédla] pouco a pouco foi evoluindo, 4 medida que se desenvolvia tido quanto nela se manifestava; at6 que, passadas muitas transformagdes,a Tragédia se deteve, logo que atingiu a sua forma natural Esquilo foi o primeiro que clevou de um a dois 0 niimer dos atores, diminuiu a importincia do coro e fez do diflogo protagonista, S6focles intoduziu trés atores ¢ a cenografia. Quanto & grandeza, tarde adquiriu fa ‘Tragédia] o seu alto estilo: [x quando se afistou] dos argumentos breves € da elocusio grotesca, [ito é,] do [elemento] satirico. Quanto 20 metro, subscituiu 0 tetsimetto [trocaico] pelo [trimeto] jimbico. Com efeito, os poetas usatam primeiro o tetrimetro porque as suas composicdes eram satiricas e mais afins & danga; mas, quando se desenvolveu 0 didlogo, © engenho natural logo encontrou o metro adequado; pois 0 jambo é 0 ‘metro que mais se conforma ao ritmo natural da linguagem corrente: demonstra-o 0 fato de muitas vezes proferirmos jambos na conversa¢io, € 86 raramente heximetros, quando nos elevamos acima do tom comum. 21. Quanto ao néimero de episédios e outros ornamentos que se haja acrescentado a cada parte, consideremos o assunto tratado; muito laborioso seria discorrer sobre tudo isso em pormenor. Vv A Comédia: evolugio do género, Comparacao da Tragédia com a Epopeia. ___22,A Comédia &,como dissemos, imitagio de homens inferiores; no, todavia, quanto a toda a espécie de vicios, mas s6 quanto Aguela 36 prebestenca 10 15 20 25 parte do torpe que é 0 ridiculo, O ridiculo & apenas certo defeito, torpera anddina ¢ inocente; que bem o demonstra, por exemplo, a 1miscara cémica, que, sendo feia e disforme, nfo tem [expressio de] dor, 23, Se as transformagées da Tragédia e seus autores nos so co nhecidas, as da Comédia, pelo contrério,estio ocultas, pois que delas se niio cuidou desde o infeio: 6 passado muito tempo 0 arconte concedew © coro da Comédia, que outrora era constituido por voluntirios. E, também s6 depois que teve a Comédia alguma forma é gue achamos meméria dos que se dizem autores dela, Nao se sabe, portanto, quem introduziu méscaras, prologo, nimero de atores ¢ outras coisas seme- Ihantes.A composigio de argumentos é [pritica] oriunda da Sicilia [e 0s primeiros poetas cémicos teriam sido Epicarmo e Férmide}; dos atenienses, foi Crates © primeito que, abandonada a poesia jimbica, inventou didlogos e argumentos de cariter universal 24.A Epopeia e a Tragédia concordam somente em serem, amn- bas, imitagio de homens superiores, em verso; mas difere a Epopeia da Tragédia, pelo seu metro Gnico e a forma narrativa EB também na cextensio, porque a Tragédia procura,o mais que € possivel, caber dentro de um periodo do sol, ou pouco excedé-lo, porém a Epopeia nio tem limite ide tempo ~ e nisso diferem, ainda que a Tragédia, 20 principio, igualmente fosse ilimitada no tempo, como os poemas épicos. 25. Quanto 4s partes constitutivas,algumas sio as mesmas naTragé- dia e na Epopeia, outras sio s6 préprias da Tragédia, Por iso, quem quer que seja capaz de julgar da qualidade © dos defeitos da Tragédia tio bom Juiz seré da Epopeia. Porque todas as partes da poesia épica se encontram. na Tragédia, mas nem todas as da poesia trigica intervém na Epopeia. VI Definigao de Tragédia. Partes ou elementos essenciais. 26.Da imitagio em heximetros e da Comédia trataremos depois; agora vamos falar da Tragédia, dando da sua eséncia a definigio que resulta de quanto precedentemente dissemos. 27.£ pois aTtagédia imitagio de uma ago de cariter elevado, com- pletae de certa extensio,em linguagem omnamentada ¢ corn as virias espé- cies de omamentos distribuidas pelas diversas partes [do drama}, fimitagdo gue se efetua] nfo por narrativa, mas mediante atores, © que, suscitando © “terror e a piedade, tem por efeito a purificaglo dessas emoyies”, ARISTOTELES POETIC’ 3 Pee sss ss I 28. Digo “ornamentada” a lingwagem que tem ritino, harmonia 33. Sem ago nio poderia haver Tragédia, mas poderia hav&.j, 30. € canto, ¢ o servir-se separadamente de cada uma das espécies de or- 5. som caracteres, As Tragédias da maior parte dos modernos nio tay namentos significa que algurnas partes da Tragédia adotam s6 0 verso, caracteres, e,em geral, hd muitos poetas dessa espécie. Também, entre ox ‘outras também o canto, pintores, assim & Zéuxis comparado com Polignoto, porque Polignoto, 29. Como essa imitagio € executada por atores, em primeiro Ingar é excelente pintor de caracteres e a pintura de Zéuxis ndo apresenta © espeticulo cénico hé de ser necessariamente uma das partes da Tragédia, cariter nenbum, Q © depois, a Melopeia e a clocusio, pois estes si0 os meios pelos quais os 34, Se, por conseguinte, alguém ordenar discursos em que se ex- atores efetuam a imitacdo, Por“elocugio” entendo a mesma composicio primam caracteres, por bem executados que sejam os pensamentos € as, 35. métrica, e por“Melopcia”, aquilo cujo efeito a todos & manifest, 30 elocucdes, nem por isso haveri logrado o efeito trigico; muito melhor 30. E como a Tragédia & a imitago de uma agio e se executa © conseguir’ a Tragédia que mais parcimoniosamente usar desses meios, ‘mediante personagens que agem ¢ que diversamente se apresentam, tendo, no entanto, o Mito ou a trama dos fatos. Ajuntemos a isso que conforme o proprio carter e pensamento {porque segundo estas 05 principais meios por que a Tragédia move 0s énimos também fazem diferencas de cariter ¢ pensamento que nés qualificamnos as a¢6es), dai 435. parte do Mito;refiro-me a Peripécias e Reconhecimentos. Outro sinal ‘vem por consequéncia o serem duas as causas naturais que determinam da superioridade do Mito se mostra em que os principiantes melhores, 1450 a as agGes: pensamento e caréter; e, nas ages [assim determinadas}, tem efeitos conseguem em elocugdes e caracteres, do que no entrecho das origem a boa ou mé fortuna dos homens. Ora 0 Mito é imitagio de agBes: & 0 que se nota em quase todos os poetas antigos. 5 a¢5es; € por “Mito” entendo a composicio dos atos; por “‘carster”, o 35. ortanto,0 Mito & 0 principio e como que a alma da Tragédia; {que nos faz dizer das petsonagens que clas témn tal ou tal qualidade: e 86 depois vem os caracteres, Algo semelhante se verifica na pintura: se por pensamento”,eudo quanto digam as personagens para demonstrar 1450 balguém aplicasse confusamente as mais belas cores, a sua obra no nos © quer que seja ou para manifestar sua decisio. ‘comprazeria tanto, como se apenas houvesse esbogado uma figura em 31.8 portanto necessitio que sejam seis as partes daTragéia que branco.A Tiagédia 6, por conseguinte, imitacZo de uma ago e, através constituam a sua qualidade, designadamente: Mito, cariter, elocucio, dela, principalmente, [imitagio] de agentes. 10 pensamento, espeticulo ¢ Melopéia. De sorte que quanto aos meios 5 36. Terceiro [elemento da’Tragédia] é 0 pensamento: consiste em com que se imita sio duas, quanto ao modo por que se imita é uma $6, poder dizer sobre tal assunto 0 que Ihe é inerente ¢ a esse convém. © quanto aos objetos que se innitam, so trés;e além dessas partes no Na eloguéncia, o pensamento é regulado pela politica e pela oratoria ha mais nenbuma, Pode dizer-se que, de todos esses elementos, nio (cfetivamente, nos antigos poetas, as personagens filavam a linguagem do poucos poctas se serviram; com efeito, todas as Tragédias comportam idadiio,e nos modernos filam a do orador). Cariter é o que revela certa 15. espeticulo, caracteres, Mito, Melopeia, elocugao ¢ pensamento, decisio ou, em caso de diivida,o fim preferido ou evitado; por isso nio 32, Porém, o elemento mais importante é a trama dos fatos, pois tém cariter 0s discursos do individuo em que, de qualquer modo, se ni a Tragédia no € imitagdo de homens, mas de agdes e de vida, de feli- 10. revele o fim para que tende ou qual repele, Pensamento € aquilo em que cidade [e infelicidade; mas felicidade] ou infelicidade, reside na ago, e a a pessoa demonstra que algo & ou nao é ou enuncia uma sentenca geral propria falidade da vida € uma aco, nio uma qualidade. Ora, os homens 37. Quarto, entre os elementos [literirios],é clocugio. Como disse, Possuem tal ou tal qualidade conformemente ao cariter, mas so bem ou denomino “elocugio” o enunciado dos pensamentos por meio das pala~ 20 mal-aventurados pelas ages que praticam. Dagui se segue que,naTingédia, 15. vras,enunciado este que tem a mesma efetividade em verso ou em pros nio agem as personagens para imitar caracteres, mas assumem caracteres 38. Das zestantes partes, a Melopeia é o principal ornamento. para efetuar certas agBes;por isso a8 agdes & 0 Mito constituem: a finalidade 39. Quanto a0 espeticulo cénico, decerto que é o mais emo- da Tragédia, ¢a finalidade & de tudo 0 que mais importa cionante, mas também & 0 menos artistico ¢ menos proprio da poesia. 38 ruBesreren -ARISTOTELES PoEtiCA 38 20 25 1451 Na verdade, mesmo sem representagio ¢ sem atores, pode a Tragédia manifestar seus efeitos; além disso, a realizagio de um bom espeticulo mais depende do cendgrafo que do poeta Vi Estrutura do Mito tragico. O Mito como ser vivente. 40.Assim deverminados os elementos da‘Tragédia, digamos agora gual deve ser a composigio dos atos, pois & essa parte, na Tragédia, a primeira e a mais importante. 41. Ji ficou assente que a'Tragédia ¢ imitacio de uma asdo com- pleta, constituindo um todo que tem certa grandeza, porque pode haver um todo que nio tentha grandeza 42.“"Todo" é aquilo que tem principio, meio e fim. “Principio” & © que nio contéan em si mesmo 0 que quer que siga necessariamente outra coisa, ¢ que, pelo contririo, rem depois de si algo com que esté ou estaré necessariamente unido.“Fim”, ao invés,é 0 que naturalmente sucede a outra coisa, por necessidade ou porque assim acontece na maioria dos casos, e que, depois de si, nada tem. “Meio” € 0 que esti depois de alguma coisa ¢ tem outra depois de si 43. £ necessério, portanto, que os Mitos bem compostos nio comecem nem terminem 20 acaso, mas que se conformem aos men- cionados principio. 44, Além disto, o belo ~ ser vivente ou 0 que quer que se componha de partes ~ nao s6 deve ter essas partes ordenadas, mas também uma grandeza que nio seja qualquer, Porque 0 belo con- siste ma grandeza © na ordem, e portanto um organismo vivente, pequenissimo, nao poderia ser belo (pois a visio & confusa quando se olha por tempo quase imperceptivel); também nio seria belo, grandissimo (porque faltaria a visio do conjunto, eseapando 3 vista dos espectadores a unidade e a totalidade; imagine-se, por exemplo, uum animal de dez mil estidios...). Pelo que, tal como os corpos € organismos viventes devem possuir uma grandeza, ¢ esta bem per~ ceptivel como um todo, assim também os Mitos devem ter uma extensio bem apreensivel pela meméria 45. Determinar o limite pritico dessa extenso, tendo em conta as circunstincias dos concursos dramiticos e a impressio no piiblico, tal nio é o mister da arte postica, pois se houvesse que por em cena 40 raves 10 15 30 cem Tragédias [em um s6 concurso dramético}, 0 tempo teria de ser regulado pela clepsidra, como dizem que se fazia antigamente Porém, 0 limite imposto pela propria natureza das coisas € o seguinte desde que se possa apreender 0 conjunto, uma Tragédia tanto mais, bela ser quanto mais extensa. Dando uma definigio mais simples, podemos dizer que o limite suficiente de uma Tragédia 0 que permite que nas ages uma apés outra sucedidas, conformemente a verossimilhanga ¢ 4 necessidade, se dé 0 transe da infelicidade a felicidade ou da felicidade & infelicidade. vil Unidade de agao: unidade histérica e unidade poética 46. Uno & 0 Mito, mas no por se referir a uma s6 pessoa, como creem alguns, pois hi muitos acontecimentos ¢ infinitamente varios, respeitantes a um s6 individuo, entre os quais nao é possivel estabelecer ‘unidade alguma, Muitas sio as acdes que uma pessoa pode praticar, mas nem por isso elas constituem uma acdo una, 47. Assim, parece que tenham errado todos os poetas que com- puseram uma Heracleida ou uma Teseida ou outros poemas que tais, por entenderem que, sendo Héracles um s6, todas as aces haviam de constituir uma unidade, 48, Porém Homero, assim como se distingue em tudo o mais, também parece ter visto bem, fosse por arte ou por engenho natural, pois, 20 compor a Odisseia, no poetou todos os sucessos da vida de Ulisses, por exemplo o ter sido ferido no Parnaso ¢ o simular-se louco ‘no momento em que se reuniu o exército. Porque, de haver acontecido tuma dessas coisas, nao se seguia necessiria e verossimilmente que a outra houvesse de acontecer, mas compés em torno de uma a¢io una 4 Oflisseia — una, no sentido que damos a essa palavra ~ e, de modo semelhante, a lfada. 49, Por conseguinte, tal como é necessirio que nas demais artes ‘miméticas una seja a imitagio, quando o seja de um objeto uno, assim também 0 Mito, porque é imitacio de ages, deve imitar as que sejam_ tunas e completas, ¢ todos os acontecimentos se deve suceder em conexio tal que, uma vez suprimido ou deslocado um deles, também se confiunda ou mude a ordem do todo, Pois nao faz parte de um todo ‘© que, quer seja quer nio seja, nZo altera esse todo, ARISTOTELES PoeTiCA : IS1b 5 10 20 Ix Poesia ¢ histéria, Mito tragico e Mito tradicional, Particular ¢ universal. Piedade ¢ terror. Surpreendente e maravilhoso. 50, Pelas precedentes consideragdes se manifesta que nao é oficio de poeta natrar 0 que aconteceusé, sim, de representar o que poderia acontecer, quer dizer: 0 que é possivel segundo a verossimilhanca e a necessidade. Com efeito, nio diferem o historiador ¢ 0 poeta por escre- verem verso ou prose (pois que bem poderiam ser postos em verso as obras de Herédoto, ¢ nem por isso deixariam de set histéria, se fossem em verso 0 que eram em prosa) — diferem, sim,em que diz um as coisas que sucederam, ¢ outro as que poderiam suceder. Por isso a poesia & algo de mais filoséfico mais sério do que a historia, pois refere aquela prineipalmente o universal, ¢ esta o particular, Por “referit-se a0 tni- versal” entendo eu atribuir a um individuo de determinada natureza pensamentos € ages que, por liame de necessidade e verossimilhanca, convém a tal natureza; e a0 universal, assim entendido, visa a poesia, ainda que dé nomes 3s suas personagens; particular, pelo contririo, & 0 gue fez Alcibiades ou 0 que Ihe aconteceu, 51. Quanto & Comiédia, jé ficou demonstrado fesse cariter univer- sal da poesia]: porque os comedidgrafos, compondo a fibula segundo a verossimilhanga, atribuem depois as personagens os nomes que Ihes parecem, ¢ no fazem como 0s poetas jimbicos, que se referem a in= dividuos particulares 52. Mas na Tragédia mantém-se os nomes jé existentes. A razio Ea seguinte: o que é possivel & plausivel; ora, enquanto as coisas nio acontecem, nio estamos dispostos a crer que elas sejam possiveis, mas € claro que sio possiveis aquelas que aconteceram, pois nio teriam acontecido se nao fossem possiveis. 53.Todavia, sucede também que em algunas Tragédias sio conhe-

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