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Comunicação e Expressão
Pedagogia
SÃO PAULO
2007
KÁTIA ASSIS DE OLIVEIRA
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
Ensino a Distância — E a D
Revisão 2
São Paulo
2007
SUMÁRIO
1 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM 6
1.1 LINGUAGEM E LÍNGUAS 6
1.2 PROCESSOS DE COMUNICAÇÃO 6
1.3 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO 6
1.3.1 Código e mensagem 6
1.3.2 O referente 7
1.3.3 O canal de comunicação 7
1.3.4 O esquema da comunicação 7
1.4 AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM 8
2 TEXTO E TEXTUALIDADE 9
2.1 COESÃO 12
2.2 COERÊNCIA 13
3 AS SUPERESTRUTURAS TEXTUAIS 14
3.1 O TEXTO DESCRITIVO 14
3.1.1 Características do texto descritivo 16
3.2 O TEXTO NARRATIVO 18
3.2.1 Características do texto narrativo 19
3.3 O TEXTO DISSERTATIVO 20
3.3.1 Características da dissertação 21
3.3.2 Dissertação expositiva 21
3.3.3 Dissertação Argumentativa 21
3.3.4 Organização do texto dissertativo 22
4 A CONSTITUIÇÃO DO TEXTO 26
4.1 RELEMBRANDO A NOÇÃO DE TEXTO 26
4.1.1 Texto e discurso 26
4.1.2 A Intertextualidade 27
4.1.2.1 A Paródia 27
4.1.2.2 A Paráfrase 30
4.1.2.3 A Estilização 32
4.1.2.4 A Apropriação 34
5 O TEXTO ACADÊMICO 35
5.1 O FICHAMENTO 35
5.2 O RESUMO 39
5.3 A RESENHA 41
5.3.1 Resenha crítica 41
5.3.1.1 Requisitos básicos para se resenhar 42
5.3.2 Resenha descritiva 42
6 O TEXTO COMERCIAL 42
6.1 A CARTA COMERCIAL 44
6.1.1 A composição da carta comercial 44
7 E-MAIL 45
7.1 INTERNET 45
7.2 O E-MAIL PROPRIAMENTE DITO 45
7.2.1 E-mails comerciais 46
7.2.2 E-mails pessoais 47
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS 48
REFERÊNCIAS 49
APRESENTAÇÃO
1 COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
O emissor e o receptor, como já foi dito, devem dispor do mesmo código, ou seja, do
mesmo sistema de signos, a fim de que a informação possa ser recebida e decodificada pelo
receptor. Essa informação decodificada é a mensagem.
7
1.3.2 O referente
É necessário um meio físico para que a mensagem possa ser veiculada para o
interlocutor, a esse meio damos o nome de canal de comunicação. Constituem canais de
comunicação o ar, um CD, um cabo, um telefone, etc
Esquema da Comunicação
Contexto
Canal de Comunicação
Código
8
A linguagem, de acordo com Jakobson (s/d, p. 122), “tem toda a variedade de suas
funções.” Antes, porém propõe que recordemos que o remetente envia uma mensagem a um
destinatário. Para que possa ser transmitida, a mensagem requer uma contexto (ou referente),
apreensível pelo destinatário e que seja verbal ou passível de verbalização, um código
comum (parcial ou totalmente)a ambos — remetente e destinatário — e, finalmente, um
contato, ou seja, um canal físico por meio do qual possa ser veiculada.
Cada um desses seis elementos encerra uma função da linguagem diferente:
CONTEXTO
1) FUNÇÃO REFERENCIAL
CANAL
2) FUNÇÃO FÁTICA
CÓDIGO
6) METALINGUAGEM
Quando a mensagem está centrada no canal, falamos da função fática. Temos nesse
caso tudo o que serve para, numa comunicação, estabelecer, manter ou encerrar o contato.
Por exemplo: Alô, alô, responde... Responde...
Já, quando a mensagem prioriza o emissor, revelando sua personalidade, estamos à
frente da função emotiva (ou expressiva). Veja o exemplo abaixo:
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Carlos Drummond de Andrade
Quando ocorre a orientação para o receptor (destinatário) temos a função conativa. Por
isso, nessa função é comum observamos o emprego de verbos no modo imperativo e de
vocativos e ponto de exclamação. Exemplo: Assine uma TV a cabo agora e comece a pagar
somente depois do Carnaval.
Finalmente, quando é dada especial relevância ao código, estamos à frente da função
metalingüística. Veja o exemplo: Quando falamos de funções da linguagem, queremos dizer,
da possibilidade que tem a língua de, de acordo com a intenção do falante, dar especial
destaque a determinados elementos da comunicação.
Nesse caso, usamos a língua para explicar a própria língua.
2 TEXTO E TEXTUALIDADE
Texto, etimologicamente, quer dizer tecido, ou seja, trata-se de uma trama em que se
devem enredar as palavras. Hoje, o Míni Houaiss (2001, p. 508) traz a seguinte definição para
o termo: “s.m. 1. Conjunto de palavras, frases escritas; 2. Trecho ou fragmento de obra de um
autor; 3 qualquer material escrito destinado a ser falado ou lido em voz alta [...]”
Cumpre ressaltar que nem todos os conceitos acerca do que venha a ser texto são
válidos para o estudioso da Gramática ou da Lingüística Textual. A razão é simples, podendo
10
ser subentendida a partir das palavras de KOCK (1997, p. 11), ao afirmar que a Lingüística do
Discurso procura estudar os textos como “manifestações lingüísticas produzidas por
indivíduos concretos em situações concretas, sob determinadas condições de produção”,
entendendo-os numa situação interacionista. Do princípio de interação, em que se baseiam as
análises de texto e discurso, é que surge a divergência em relação ao conceito apresentado no
Míni Houaiss, pois, para nós, não será texto “Qualquer material escrito destinado a ser falado
ou lido em voz alta [...]” (op. cit.), mas, apenas aquele que atender a essa “exigência”. Visto
por esse ângulo, não será texto, por exemplo, uma seqüência de enunciados escrita em alemão
para um leitor que não compreenda esse idioma. Nessa hipótese, a seqüência constituirá um
não-texto.
Ao adotar o texto como unidade de comunicação, a Lingüística Textual supõe,
naturalmente, que ele seja dotado de sentido. Conseqüentemente, conforme explicita Fávero
(1993), considera-se que sua produção e compreensão estejam ligadas à competência textual
do falante.
Para que haja textualidade, característica que faz com que o texto seja realmente texto,
torna-se necessário que se verifiquem alguns fatores, tanto na microestrutura quanto na
macroestrutura textual, dentre os quais se destacam a coesão e a coerência.
Para melhor compreensão do assunto tratado neste capítulo, tomo de empréstimo, na
íntegra, exemplos apresentados por Molina. (recorte da apostila editada exclusivamente para
o Curso de Letras da Universidade de Santo Amaro 2006; 2007) aos alunos das disciplinas
Técnicas de Produção Textual e Comunicação e Expressão:
Para calar a boca: Rícino Para a luz lá na roça: 220 volts
Pra lavar a roupa: Omo Para vigias em ronda: Café
Para viagem longa: Jato Para limpar a lousa: Apagador
Para difíceis contas: Calculadora Para o beijo da moça: Paladar
Para o pneu na lona: Jacaré Para uma voz muito rouca: Hortelã
Para a pantalona: Nesga Para a cor roxa: Ataúde
Para pular a onda: Litoral Para a galocha: Verlon
Para lápis ter ponta: Apontador Para ser moda: Melancia
Para o Pará e o Amazonas: Látex Para abrir a rosa: Temporada
Para parar na pamplona: Assis Para aumentar a vitrola: Sábado
Para trazer à tona: Homem - Rã Para a cama de mola: Hóspede
Para a melhor azeitona: Ibéria Para trancar bem a porta: Cadeado
Para o presente da noiva: Marzipã Para que serve a calota: Volkswagen
Para Adidas o Conga: Nacional Para quem não acorda: Balde
Para o outono a folha: Exclusão Para a letra torta: Pauta
Para embaixo da sombra: Guarda-Sol Para parecer mais nova: Avon
Para todas as coisas: Dicionário Para os dias de prova: Amnésia
Para que fiquem prontas: Paciência Pra estourar pipoca: Barulho
Para dormir a fronha: Madrigal Para quem se afoga: Isopor
Para brincar na gangorra: Dois Para levar na escola: Condução
Para fazer uma toca: Bobs Para os dias de folga: Namorado
Para beber uma coca: Drops Para o automóvel que capota: Guincho
Para ferver uma sopa: Graus Para fechar uma aposta: Paraninfo
11
(http://marisa-monte.letras.terra.com.br/letras)
http://vagalume.uol.com.br/adriana-calcanhoto/oito-anos.html)
http://www.sergiosakall.com.br/girafas/lingua_frances.html
A seqüência acima só será texto para aqueles que dominam a língua em que foi
escrita: francês, os demais reconhecerão a seqüência, mas como não interagem com ela, não
conseguindo depreender-lhe o sentido, será um não-texto.
A Profª. Márcia Molina (op. cit) fecha sua análise, citando Kock e Travaglia (1990, p.
10), para quem texto pode ser compreendido como:
Uma unidade lingüística concreta (perceptível pela visão ou audição), que é
tomada pelos usuários da língua (falante, escritor/ouvinte, leitor), em uma
situação de interação comunicativa, como uma unidade de sentido e como
preenchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida,
independentemente da sua extensão.
Lembrando que para ser considerado texto o enunciado deve ter textualidade,
passemos, agora, ao estudo particularizado de coesão e coerência, principais fatores que
contribuem para que se atinja tal objetivo.
2.1 COESÃO
Fávero (1999, p.10) assim define coesão: “A coesão, manifestada no nível microtextual,
refere-se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, as palavras que ouvimos ou
vemos, estão ligados entre si dentro de uma seqüência.”
Podemos dizer, portanto, que coesão é o nome com que designamos as estratégias de
ligação utilizadas num texto para torná-lo todo, ou seja, o uso de elementos capazes de
estabelecer elos.
Esses elos podem “amarrar” elementos mencionados anteriormente no texto,
ocorrendo então o que os estudiosos chamam de anáfora, por exemplo: Fiz todo o dever, mas
minha amiga Carla não os fez (isto é, não fez o dever).
13
2.2 COERÊNCIA
VENDE-SE
Apartamento. 3 dorms. 2 sls. coz. Área serv. Brooklin. R$220.000. Tratar com o
proprietário: (XX)7070-7070.
podemos apontar:
estruturas internas do texto, fica estabelecida uma tipologia de acordo com a forma de
estruturação, sua superestrutura, ou o mundo em que o texto se inscreve.
É disso que trataremos a seguir.
3 AS SUPERESTRUTURAS TEXTUAIS
1
VAN DIJCK, Strategies of Discourse Comprehension, Nova Iorque: Academic, 1983.
15
(http://64.233.187.104/:tremdascoresletra.caetanovelosoletrasdemusicas.lyrics.mus.br/)
Outra característica do texto descritivo é que ele não traz mudança de situação. É
estático. Representa o mundo num determinado momento. É recorte.
Além disso, naquela instância em que se efetua a descrição, vários fatos
simultâneos podem ser apresentados. Assim, Iracema, quando apreendida pelo narrador
apresentava, simultaneamente, as seguintes características: era virgem, tinha lábios de mel;
seus cabelos eram mais negros que a asa da graúna e mais longos que o talhe de palmeira; seu
sorriso era doce como o favo da jati; seu hálito era perfumado, era ainda mais rápida que a
ema, etc.
17
De acordo com o Míni Houaiss (2001, p.364): “Narração: s.f. [é] exposição oral ou
escrita de um fato.”
Narrar é, portanto, representar um acontecimento ou uma série de acontecimentos
reais ou fictícios num texto.
Humberto Eco (1985, p.21), no Pós-Escrito a O Nome da Rosa, ensina:
[...] para contar é necessário primeiramente construir um mundo, o mais
mobiliado possível, até os últimos pormenores. Constrói-se um rio, duas
margens, e na margem esquerda coloca-se um pescador, e se esse pescador
possui um temperamento agressivo e uma folha penal pouco limpa, pronto:
pode-se começar a escrever, traduzindo em palavras o que não pode deixar
de acontecer.[...]
Essa citação de Eco, mesmo que indiretamente, permite-nos depreender que são cinco
os elementos da narração: narrador, personagens, ações, tempo e espaço.
Leia, agora, o texto a seguir, de Marina Colassanti:
Nunca descuidando do dever
2
Geralmente, mas não exclusivamente. Pode-se usar, por exemplo, o presente do indicativo, com valor
atemporal, instaurando proximidade e verossimilhança ao texto.
21
em que nos valemos da linguagem verbal para expor, defender ou contestar idéias, estaremos
utilizando o chamado discurso dissertativo.”
Platão e Fiorin (1997, p.252) afirmam que “dissertação é o tipo de texto que analisa
interpreta, explica e avalia os dados da realidade” e relacionam algumas de suas
características, revisadas a seguir.
termos abstratos;
Importa esclarecer que há autores que inscrevem os textos dissertativos em dois tipos:
expositivos e argumentativos.
3
Também aqui se trata de tempos básicos, mas não exclusivos.
22
Podemos perceber no texto acima que, por exemplo, no trecho: na verdade, o aborto
prejudica a mulher, ignora os seus direitos, e as abusa e degrada está expressa a opinião
do autor e, para que ela seja mesmo aceita, passa ele a relacionar os motivos que o fazem
pensar assim.
Em ambos os tipos de dissertação, importa atentar para sua organização, como veremos
a seguir.
Como esse tipo de texto deve apresentar uma organização lógica, deve-se apresentar com
bastante clareza:
a- o assunto;
b- a delimitação do assunto;
c- o objetivo;
d- o tópico-frasal;
e- o desenvolvimento;
f- a conclusão.
23
Mostra, tanto quanto a narração, mudança de situação: no caso do texto acima, o autor
aponta para fatos que passaram de atitudes morais para deveres impostos pelo Direito:
[...] Este, entretanto, observando a conveniência de se impor ao patrão a
obrigação de socorrer seu serviçal infortunado, criou a norma de Direito,
impondo como obrigação jurídica aquilo que não passava de mero dever
moral. [...]
25
4 A CONSTITUIÇÃO DO TEXTO
Como vimos, texto, etimologicamente, quer dizer tecido, ou seja, trata-se de uma
trama em que se deve enredar as palavras.
4.1.2 A Intertextualidade
De acordo com Kristeva (1974, p.64) “todo texto se constrói como um mosaico de
citações. Todo texto é absorção e transformação de um outro texto,” ou seja, como falou
Bakhtin (1922) nenhum discurso é neutro, é sempre formado por outros que lhe foram
anteriores no tempo, pois produzido por um sujeito descentrado, assumindo diferentes vozes
sociais, que o tornam um sujeito histórico e ideológico.
Fiorin (2003, p.32) ensina: “A intertextualidade é o processo de incorporação de um
texto em outro, seja para reproduzir o sentido incorporado, seja para transformá-lo.”
Brandão (s/d., p.76) aponta dois tipos de intertextualidade: uma interna, na qual um
“discurso se define por sua relação com o discurso do mesmo campo, podendo divergir ou
apresentar enunciados semanticamente vizinhos aos que autoriza sua formação discursiva”; e
uma externa, “na qual o discurso define uma certa relação com outros campos”.
Kock (1986, p.39) também aponta a possibilidade de se observar a intertextualidade de
duas maneiras: em sentido amplo, que ocorre implicitamente, ou seja, a identificação dos
textos em diálogo é conseguida por meio de atenta observação por parte do leitor, porque o
novo texto mantém alguns aspectos, tanto formais quanto de sentido, dos originais; em
sentido estrito, que pode aparecer tanto implicitamente – por meio da divulgação de sua
ideologia e retórica - quanto explicitamente – por meio da revelação direta do texto do qual
se origina.
Paulino, Walty e Cury (1997) indicam oito possibilidades de a intertextualidade se
revelar, isto é, por meio de epígrafe, de citação, de referência, de alusão, da paráfrase, da
paródia, do pastiche e da tradução. Esses autores entendem a sociedade como uma grande
rede intertextual e dão ao espaço cultural um lugar de relevância, pois cada produção dialoga
necessariamente com outras.
Fiorin (2003) e Sant’Anna (1988) apontam diferentes maneiras de a intertextualidade
ocorrer. O primeiro identifica três processos: a citação, a alusão e a estilização; o segundo,
quatro: a paródia, a paráfrase, a estilização e a apropriação.
Como é a proposta de Sant’Anna que mais atente aos nossos propósitos, estudá-la- os
particularizadamente a seguir.
4. 1.2.1 A Paródia
Fávero (2003, p. 49) vai à etimologia para conceituar o termo: “Paródia significa canto
paralelo (de para = ao lado de e ode = canto), incorporando a idéia de uma canção, cantada ao
lado de outra, como uma espécie de contracanto.”
28
Sant’Anna (1988, p.31) completa, asseverando que ela tem uma função cartática,
funcionando como contraponto com os momentos de muita dramacidade. Além disso, o texto
paridístico faz uma re-apresentação “daquilo que havia sido recalcado. Uma nova e diferente
maneira de ler o convencional. É um processo de liberação do discurso. Uma tomada de
consciência crítica.”
Parodia-se um texto para negá-lo, já que a linguagem nesse tipo de produção é dupla,
as vozes que dialogam nos dois discursos se cruzam tanto horizontal (produtor x receptor),
quanto verticalmente (texto x contexto) (FÁVERO, 1999, p.53).
Temos em nossa literatura muitos exemplos de paródia. Jô Soares, na época de
cassação do então presidente Collor de Melo, utilizando-se da mesma estrutura da nossa
Canção do Exílio, escreveu:
Canção do exílio
4.1.2.2 A Paráfrase
c- Canção do Exílio
b- Canção do Exílio
Não permita Deus que eu morra
Minha terra não tem palmeiras Sem que volte pra São Paulo
Minha terra não tem palmeiras... Sem que veja a Rua 15
E em vez de um mero sabiá, E o progresso de São Paulo
Cantam aves invisíveis
Nas palmeiras que não há.
Mário de Andrade
Mário Quintana
André (1988, p.111) assevera que muitas são as formas como utilizamos a paráfrase
no texto acadêmico: “Assim, podem ser produzidos diversos tipos de textos acadêmicos,
como fichamentos, resumos e resenhas de textos, como veremos a seguir.”
4.1.2. 3 A Estilização
A palavra estilização deriva de estilo que, de acordo com HOUAISS 2001, p. 1254)
significa “o modo pelo qual um indivíduo usa os recursos da língua para expressar,
verbalmente ou por escrito, pensamentos, sentimentos, ou para fazer declarações,
pronunciamentos, etc.”
Então, Sant’Anna (1988) define estilização, uma forma de tomar aquele estilo de
outrem, estabelecendo um desvio tolerável, produzindo um meio do caminho entre a paródia e
a paráfrase.
Para Fiorin (2003),
A estilização é a reprodução do conjunto dos procedimentos do “discurso de
outrem”, isto é, do estilo de outrem. Estilos devem ser entendidos aqui
como o conjunto das recorrências formais tanto no plano da expressão
quanto no plano do conteúdo (manifestado, é claro) que produzem um
efeito de sentido de individualização (DENIS BERTRAND, 1985, p.412)
Vamos ver agora, a estilização que Murilo Mendes elaborou a partir da Canção de
Exílio de Gonçalves Dias:
Canção do Exílio
Que elementos no texto acima nos indicam tratar-se de uma estilização ? Ao aludir ao
texto de Gonçalves Dias, o autor manteve, em vários momentos, a mesma construção sintática
do texto de origem. Por exemplo:
Sujeito + Verbo Transitivo Direto + Objeto Direto (Oração Principal):
− Minha terra tem palmeiras
− Minha terra tem macieiras da Califórnia.
Oração Subordinada Adjetiva:
− Onde canta o sabiá
− Onde cantam gaturamos de Veneza.
Além disso, é mantido o presente do indicativo e, quanto ao léxico,
observamos que o texto de Murilo Mendes insere o cotidiano no esquema da
nostalgia e o efeito poético de distanciamento do modelo que obtém, não elide,
contudo, a reverência - irônica é verdade - à matriz da saudade nacional, tornando-
se, ao mesmo tempo, polêmico e contratual.
4.1.2.4. A Apropriação
Sant’Anna (1988) ensina que essa forma de intertexto é bastante recente na crítica
literária e chegou à literatura por meio das artes plásticas, especialmente pelas experiências
dadaístas. Também conhecida como Assemplage (reunião, agrupamento), é muito próxima da
colagem, ou seja, trata-se da reunião de materiais diversos para a composição de algo.
34
Embora recente seu estudo, essa técnica é, de acordo com o autor, antiqüíssima, pois
usa de uma artifício muito conhecido na elaboração artística: o deslocamento que, por meio
do desvio, provoca um estranhamento.
A apropriação pode ser de dois tipos:
− de primeiro grau: quando é o próprio objeto que entra em cena;
− de segundo grau: quando ele é representado, traduzido para um outro código.
O chargista e humorista Caulus fez o sabiá voar dos versos saudosistas para a denúncia
ecológica, no grafismo leve e tocante do exílio de sua própria palmeira:
www.comcienci0a.br/carta/migracoes.
Cá ?
Bah !
Estudando os quatro elementos revistos acima, Sant’Anna uniu-os em dois conjuntos,
chegando à seguinte co-relação.
Paráfrase Paródia
Estilização Apropriação
(Conjunto das similaridades) (Conjunto das diferenças)
5 O TEXTO ACADÊMICO
Os textos produzidos no mundo acadêmicos podem ser feitos ora por meio da
similaridade, ora da diferença. Veremos como se comportam e como produzir: o fichamento,
o resumo e a resenha.
5.1 O FICHAMENTO
Para que fichemos qualquer obra, é necessário, antes de tudo, uma leitura atenta
daquilo que se deseja fichar. Ruiz (1980, p.70) aconselha:
Não basta ir às aulas para garantir pleno êxito nos estudos. É
preciso ler e, principalmente, ler bem. Quem não sabe ler, não
saberá resumir, não saberá tomar apontamentos e, finalmente,
não saberá estudar.
Então para que façamos um bom fichamento, é preciso seguir algumas etapas:
a- ler atentamente uma primeira vez o texto na íntegra, grifando as palavras
desconhecidas e as procurando no dicionário;
b- ler uma segunda vez, munidos com lápis, para sublinhar os trechos mais
importantes.
Andrade e Henriques (1992) informam que é importante sublinhar um texto, para:
a- assimilá-lo melhor;
b- memorizá-lo;
c- preparar uma revisão rápida do assunto;
d- aplicar em citações;
e- resumir, esquematizar ou fichar.
36
De acordo com esses autores, a técnica de sublinhar compreende, depois das leituras
sugeridas,
a- identificação da idéia-núcleo de cada parágrafo;
b- indicação com uma linha vertical colocada à margem, nos tópicos mais
importantes;
c- colocação de um ponto de interrogação à margem do texto, para indicar casos de
discordância e as passagens obscuras;
d- leitura do que foi sublinhado para ver se há sentido;
e- reconstrução do texto, tomando os trechos sublinhados como base.
Os autores também recomendam que há de se sublinhar o estritamente necessário,
evitando-se argumentações, exemplificações, citações etc.
Depois desse primeiro passo, procede-se, então, ao fichamento. Hoje, com a facilidade
do computador, podemos utilizar uma pasta especialmente aberta para salvar este tipo de
documento. Quem não dispõe desse recurso, deve usar fichas, vendidas em papelaria em três
formatos: 7,5 x 12,5; 10,5 x 15,5 e 12,5 x 20,5. A de tamanho médio, no nosso ponto de
vista, é a ideal, porque cabe numa caixa de sapatos, por exemplo, se a quisermos arquivar.
Devemos utilizar uma ficha (ou uma página de computador) para cada tópico ou
assunto, cuidadosamente anotados. Deve-se também evitar escrever no verso das fichas, por
uma questão de praticidade.
A estrutura da ficha deve ser a seguinte:
a- cabeçalho, com a identificação do assunto (título geral, título específico, número di
título, etc)
b- indicação da fonte de onde se extrai o fichamento, de acordo com as normas da
ABNT.
c- corpo da ficha, compreendendo anotações ou comentários.
Exemplo:
Título geral (da obra) Título específico (do capítulo) Nº(da
ficha)
Fonte bibliográfica: (de acordo com a ABNT)
Corpo: (ASSUNTO)
37
No capítulo introdutório desta obra, a autora discorre a respeito das várias concepções de
linguagem, apondo a Lingüística do Sistema com a Lingüística do Discurso.
(p.9)
38
d- Ficha de resumo: é a que contém uma paráfrase do trecho lido. O resumo pode ser
apresentado como esboço ou como sumário:
− como esboço: apresenta a mesma estrutura do texto citado, com as palavras-chave,
títulos e subtítulos, procedendo-se a um resumo dele.
− Como sumário: topicalizam-se os itens julgados mais relevantes.
Exemplos de fichas de resumo:
a- como sumário:
A inter-ação pela linguagem Introdução: N° 1.0
As diferentes concepções de linguagem
KOCK, Ingedore Villaça. A inter-ação pela linguagem – São Paulo: Contexto, 1997
(p.9)
b- como esboço:
A inter-ação pela linguagem Introdução: N° 1.0
As diferentes concepções de linguagem
KOCK, Ingedore Villaça. A inter-ação pela linguagem – São Paulo: Contexto, 1997
A autora, nesta Introdução, apresenta, sintetizadas, três das principais maneiras como vem
sendo concebida a linguagem humana, na História, ou seja, como representação, como
instrumento e como forma.
(p.9)
39
5.2 RESUMO
Resumir é, de acordo com André (1988, p.105) reproduzir em poucas palavras o que
o autor expressou amplamente. Trata-se de um treinamento essencial para quem deseja
comunicar-se de forma organizada, pois quem resume um texto é levado a depreender o que
lhe é essencial e o que lhe é secundário.
Além disso, resumir um texto ensina a relacionar as idéias, entender com clareza o
assunto, perceber o sentido próprio do figurado que os vocábulos podem adquirir numa
produção textual.
Para se realizar um resumo, seguem-se os mesmos passos do fichamento, isto é, antes
de tudo:
a- ler atentamente uma primeira vez o texto na íntegra, grifando as palavras
desconhecidas e as procurando no dicionário;
b- ler uma segunda vez, munidos com lápis, para sublinhar os trechos mais
importantes.
E mais:
c- ficar atento para as palavras de ligação que organização de forma lógica o
raciocínio, tais como: assim sendo, além do mais, pois, em decorrência, etc. e os
que modificam os enunciados: mais que tudo, não, nunca, etc.
Quando temos de resumir um texto, um capítulo de um livro, por exemplo, o ideal é
que o façamos por partes, ou seja, que elaboremos o resumo de cada capítulo. Quando se
tratar do resumo de um livro, o interessante seria que o procedêssemos por capítulos.
O bom resumo deve, de acordo com André (1988, p. 106), “conservar os traços do
estilo do texto original, como por exemplo, nível de linguagem, ironia, humor, vivacidade,
etc”. Por outro lado, não devemos opinar ou criticar: o procedimento é de resumo e não de
resenha, não de interpretação.
Quanto à extensão, normalmente essa é estabelecida por quem o faz, ou por quem o
solicita, dependendo dos objetivos visados, mas normalmente, um bom resumo contém de 10
a 15 por cento do texto original.
Exemplo de resumo:
40
a- Texto:
A escola e sua finalidade
a) Redação final:
5.3 A RESENHA
Nos parágrafos subseqüentes, far-se-á uma síntese de cada capítulo da obra (ou
parágrafo do texto), parte por parte, destacando-se “o assunto, os objetivos, a idéia central, os
principais passos do raciocínio do autor.” (SEVERINO, 2000, p. 132)
O texto deve ser finalizado com um comentário crítico elaborado pelo resenhista,
contendo os aspectos positivos e os negativos do objeto resenhado. Também é possível que,
durante a apresentação da síntese, já se façam comentários críticos.
Como o objetivo da resenha é apontar, de maneira direta e cortês, o assunto discutido
no texto, como: assunto, forma de abordagem, teoria, profundidade teórica, etc, mostrando
qualidades e falhas de informação, não se deve tecer comentários sobre o autor do texto.
Para um estudante de Curso Superior, a elaboração de resenhas favorece uma melhor
compreensão da matéria e é um exercício de síntese de muito valor.
6 O TEXTO COMERCIAL
clientes. O texto comercial reflete, portanto, a imagem daquele que dele faz uso, para um
público determinado e previamente conhecido.
Seu campo de ação, portanto, é restrito, mas, se bem elaborado, é um veículo de
comunicação bastante eficaz. São vários os gêneros do texto comercial: cartas, relatórios,
informes, comunicados, etc.
Devido à especificidade desse trabalho, trataremos do primeiro: cartas comerciais.
a- Data
b- Destinatário (completo: nome, endereço,CEP, cidade, estado).
c- Evocação
d- Assunto
e- Despedida
f- Assinatura
Exemplo:
Prezado senhor,
De acordo com a proposta apresentada por V.Sª. à nossa empresa, solicitamos enviar,
com a máxima urgência, os produtos a seguir relacionados, de acordo com o catálogo de
janeiro de 2007, conforme o especificado:
Informamos que o pagamento dessa mercadoria será feito contra entrega, em nosso
escritório, Rua Antonia, 22 – São Paulo, Capital.
Atenciosamente,
Márcia A G Molina
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7 OS E-MAILS
7.1 INTERNET
O e-mail é um texto que une características tanto do escrito quanto do oral. Como
texto escrito, pode apresentar as seguintes características:
Ser descontextualizado;
− autônomo;
− explícito;
− condensado;
− planejado;
− preciso;
− normatizado;
− completo.
Devido à rapidez com que ocorre a comunicação, pode apresentar em algumas
circunstâncias as seguintes características do texto oral:
Ser contextualizado:
− Dependente;
− Implícito
− Redundante;
− Não-planejado;
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− Impreciso;
− Não-normalizado;
− Fragmentado
Então, como dissemos, embora pareça um texto oral, trata-se de um texto escrito, ou
seja, há sempre nele a possibilidade de planejamento e de refacção. Devemos nos lembrar
sempre que, como qualquer texto, traça a imagem de quem o produz, portanto, ao escrever e-
mails, garanta:
a- Que o interlocutor entenda a mensagem da maneira como você deseja;
b- Evite uso não convencionalizado de abreviaturas;
c- Uso de letras maiúsculas, a não ser que deseje expressar gritos.
d- Atente para:
− que tipo de e-mail estou passando ?
− para quem o estou enviando ?
− que variante lingüística utilizar ?
Veja um exemplo de e-mail pessoal de difícil leitura: (embora emissor e receptor
conheçam o assunto de que estão tratando, a falta de acentos e a não utilização de pontuação,
dificultou a decodificação da mensagem):
E aiii Nana ohhh aki ta o trabalho antes que eu me esqueça sinceramente nao
manda pra aquelas folgadas hahahah ok?1 tão folgando muito agora em
relacao ao outro folgado coloca o nome dele so mais desta vez mas nem fala
deixa ele pq ele viu qdo eu e o Thiago estavamos fazendo ok?! e vai ficar
chato pro meu lado pq ele ate disse que tava no trabalho lembra que ele ate ia
digitar mas a gente que nao confia entao hahaha entao os integrantes do grupo
sao eu vc thi, lu, roger, e o mansa as demais tem o jorge q e bobao e faz pra
elas!!!! hahaha ok?! bjokas se cuida T+ vê se melhora ta?!
Para garantir o envio e a recepção do e-mail, é sempre prudente salvar uma cópia em
Itens Enviados, pedir Confirmação de Leitura e mandar cópias a quem de direito.
7.2.2.E-mails pessoais
Ao escrevermos e-mails pessoais, devemos nos lembrar sempre, por mais amigos que
sejamos do destinatário, que as palavras são frias, por isso, podem ser mal compreendidas,
cuidado então ao escrever; o texto sempre traça nossa imagem, como já dissemos
anteriormente, usar uma linguagem clara, com correção gramatical e abreviações
convencionalizadas, é o mais prudente. A formatação agora não é tão rígida. Exemplo de
troca de correspondência entre dois amigos:
1° Contato
muié, kd vc??
tudo bem?
estou com saudade
4
Observar que não há a data, porque os e-mails já vêm datados.
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Resposta
E donde cê tá ????
Cheguei. Interessante a camiseta. Pintura estranha. Quem a fez ?
ADOOOOOOOOOOOOOOOREIIIIIIIIIIII a pimenta. Ontem já fiz risoto
com ela.
Beijo.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CARVALHO, R. P. “GAGO, José Maria Paz. La estilística. Madrid, Sintesis S.A., 1993, 208
p.” In: Filologia e Lingüística., São Paulo:Humanitas, 1998, n° 2, p. 241-246).
FÁVERO, L.L. “Paródia e Dialogismo” In: BARROS, D.L.P. e FIORIN, J.L. (Org)
Dialogismo, Polifonia e Intertextualidade. São Paulo, EDUSP,2003.
FIORIN, J.L. “Polifonia textual e discursiva “. In: BARROS, D.L.P. e FIORIN, J.L. (Org)
Dialogismo, Polifonia e Intertextualidade. São Paulo, Edusp. 2003.
http://64.233.187.104/:tremdascoresletra.caetanovelosoletrasdemusicas.lyrics.mus.br/
http://letras.terra.com.br/
http://marisa-monte.letras.terra.com.br/letras.
http://vagalume.uol.com.br/adriana-calcanhoto/oito-anos.html
http://www.dicionariompb.com.br/default.asp)
http://www.comciencia.br/especial/drogas/drogas01.htm
50
KOCK, I.V A intertextualidade como critério de textualidade. In: FÁVERO, L.L., L.L.
PASCHOAL, M.S.Z. Lingüística Textual, Texto e Leitura. São Paulo, EDUC, 1986.
KOCK, I.V e TRAVAGLIA, L.C. A Coerência Textual. São Paulo: Contexto, 1990
MASERANI, S. O intertexto escolar sobre leitura, aula e redação. São Paulo, Cortês,
1995.
PLATÃO, F. e FIORIN, J.L. Lições de Texto: Leitura e Redação. São Paulo: Ática, 1997.
Veja São Paulo, n° 32, de 28 de dezembro de 2005, São Paulo: Abril, p. 92)
www.comcienci0a.br/carta/migracoes