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CAPITULO 1 HISTORIA DA PSICOLOGIA E A INSERGCAO DO PSICOLOGO NO HOSPITAL Carolina Bandeira de Melo A Psicologia de hoje ¢ filha da Psicologia de ontem; a Psicologia de hoje faz mais sentido se se compreende como chegou a ser como é. ‘Werrnemer, 1977, p. 10. 1.1 Trajetoria da psicologia na historia das ciéncias A Psicologia é com frequéncia considerada uma ciéncia com um. longo passado e uma curta historia, Os grandes sistemas filoséficos desde a Antiguidade estudaram temas que atualmente estao relacionados 4 area Psi, como, por exemplo, os filésofos Plato (428/427 - 348/347 a.C.) € Aristoteles (384 - 322 a.C.) que procuraram entender 0 funcionamento da meméria, 0 pensamento € os comportamentos anormais (SCHULTZ e Scnuttz, 2007). Dessa forma, o desenvolvimento da Filosofia con- funde-se com os primérdios da Psicologia, que abarcou de certa forma, questdcs filoséficas antigas. Ferreira (2005) diz que a historia da Psicologia ‘a busca ancestral de conhecimento de si cruza com os caminhos de um: € confunde-se com a propria historia do saber ocidental. > estudados na Psicologia, pois porque antigas discu localizam-se Muitos filésofo na base de formulagées tedricas subsequentes © as controversias atuais da Psicologia, sdes filos6ficas resumem muitas ¢ como por exemplo, a relagio entre € subjetividade. Estudar 0 processo de corpo ¢ mente, entre racionalidade desenvolvimento da Psicologia desde os grandes sistemas filos6ficos oferece suporte a muitas discussdes metodolégi da area, pois como explicam Herrnstein ¢ Boring (1971 P. 727) “a oposigio entre Helmholtz ¢ Hering, entre Wundt ¢ Stump, entre os comportamentalis 8 ¢ os gestaltistas — todas lembram a oposicio entre Hume ¢ Kant, Locke ¢ Descartes.” Na Idade Moderna, ja com certa distingio entre especialidades, fisicos, anatomistas, médicos ¢ fisidlogos estudaram comportamentoy voluntérios ¢ involuntirios do homem. Figueiredo e Santi (2008, p. 15) consideram que “os temas da Psicologia estavam dispersos entre espe- culagdes filoséficas, ciéncias fisicas e biolégicas e ciéncias sociais.” No desenvolvimento da Psicologia como ciéncia, a fisiologia e a biologia influenciaram no uso da quantificagio ¢ na tendéncia a pesquisas uni- versitérias em laboratérios. Wertheimer (1977) considera que a Filosofia influenciou a Psicologia com 0 empirismo critico, 0 associacionismo ¢ o materialismo cientifico de Descartes. Estudiosos da Histéria da Psicologia (WerTHEIMER, 1977; Fre GUEIREDO; SANTI, 2008; FERREIRA, 2005) consideram que ela tornou-se cigncia independente na segunda metade do século XIX. Vidal (2003) considera a existéncia de uma Psicologia empirica no século XVIII ¢ justifica que apesar da auséncia de laboratérios, ela era uma disciplina de pesquisa empirica comprometida com a perspectiva naturalista, 0 que quer dizer que a alma nao era mais considerada como um principio explicativo. A Psicologia no século XVIII ainda nao era uma profissio institucionalizada, mas era uma disciplina, com um conjunto de saberes, regras, métodos, divergéncias e debates; com uma terminologia comum, publicagdes e pessoas dotadas de autoridade especial ¢ estava presente em curriculos académicos e em materiais de ensino, como manuais ¢ livros didaticos. ; Para ser considerada como uma ciéncia auténoma, a Psicolos!? precisou mostrar que tinha um objeto préprio, além de métodes a quados para estudé-lo, Nesse caminho em busca de legitimidade, «6° . . pene stico, recorrent? cologia procurou objetividade e embasamento matemitico, tec j partie i ae esenvolver-se 4 pat a areas mais consagradas cientificamente, para desenvolver (2007) dessas bases, Como mostram Ferreira (2005) ¢ Schultz ¢ Schultz 5 . busc nos col para ganhar reconhecimento, a Psicologia buscou apoi® eros’ iologia, biolos jacria © rites € métodos das ciéncias naturais, especialmente na fs sau ee ‘ ” " ps quimica, Na érea da satide mental, ela ficou no entorno 42 P - SIONAL 20 | PSICOLOGIA, SAUDE E HOSPITAL: CONTRIBUICOES PARA A PRATICA PROFS da neurologia para especificar a loucura como patologia da mente. Foi principalmente por meio da observag que a Psicologia comegou a adquirir uma identidade distinta de suas raizes filos6ficas. jo eda perimentagio minuciosa- mente controlada A Historiografia da psicologia comumente divide a historia da Psi histéria da psicologia cientifica ou da psicologia moderna (PENNA, 1991, M cientifica, mesmo que a distingio entre a Psicologia moderna ea Psicolo- cologia em historia das ideias psicoldgicas ou da psicologia filos6fica; ¢ ASSIMI, 2001). O termo “moderna” demonstra o enfoque na Psicologia gia filoséfica ocorra mais em fungio do método usado para responder aos questionamentos da rea do que propriamente 4s perguntas feitas pelos estudiosos. Schultz e Schultz (2007) consideram que sio a abordagem eas técnicas empregadas que diferenciam a antiga disciplina filosdfica da Psicologia moderna. O estatuto de campo de estudo independente e essencialmente cientifico que trouxe legitimidade 4 Psicologia, embora posteriormente o carater cientifico tenha sido questionado na histéria das ciéncias como um todo. 1.2 Psicologia no Bra: Seguindo a divisio proposta por Pessotti (1988) daremos uma visio geral sobre a historia da Psicologia brasileira, considerando os momentos: 1) Periodo Pré-institucional (até 1833); 2) Perfodo Institucional (1833 - 1934); 3) Periodo Universitario (1934 - 1962) e 4) Periodo Profissional @ partir de 1962). © Periodo Pré-institucional corresponde aos escritos sobre © Brasil coldnia até a criagio das primeiras escolas de medicina no Rio de Janeiro € na Bahia. Principalmente religiosos e politicos que escreveram sobre assuntos do saber psicolégico. Como entre os séculos XVII ¢ inicio do século XIX, a politica cultural da metrépole proibiu a criagdo de univer- sidades no Brasil coldnia, jovens de familias ricas iam estudar na Europa, especialmente em Portugal e na Franga e as publi Ses com temas psi- colégicos deram-se majoritariamente na Europa, Massimi (1990, 2005) Pesquisou o interesse por assuntos psicolégicos nas obras século XVII XVIII. Os jesuitas preocupavam-se com o conhecimento de si, com a compreensio da dindmica interior ¢ resgataram ideias de Aristoteles (384 — 322 a. C.) ¢ de Sio Tomas de Aquino (1225 - 1274), ritas do de jes PARTE I~ A INSERCAO DO PSICOLOGO NA SAUDE E NO HOSPITAL | 21 Pois acreditavam que para a conversio religiosa € para o comportame, Virtuoso era fundamental conhecer a si mesmo. ae Os religiosos buscaram também auxilio nas teori Para conhecerem os indios que habitavam o Brasil. da humanidade do indio, segundo Massimi (2005 conhecimento de suas caracterf AS psicolopicas A demonstraco, ) & feita a partir dy icas psicolégicas, ou seja, com base na, poténcias” atribuidas 4 alma (entendimento, memoria ¢ vontade). As diferencas culturais dos indios estimularam estudos sobre a crianga n, Sociedade indigena, sociabilidade, relagio entre pais ¢ filhos, a mulher ha sociedade indigena, maternidade, etc. Os religiosos da Companhi, de Jesus ganharam tanto prestigio que foram expulsos do Brasil colonia, em 1759, pela Coroa Portuguesa, que temeu o poder dos jesuitas, Ou. tros temas de Psicologia presentes no periodo colonial sao citados por Pessotti (1988, p. 18): “métodos de ensino, controle das emogdes, causas da loucura, diferengas de comportamento entre sexos e racas, controle politico, formacao da juventude, persuasio dos selvagens, condi¢Ses do conhecimento, percepgio etc.” A independéncia politica proclamada por Dom Pedro I, em 1822, propiciou a criagio de instituigdes para promoverem o desen- volvimento do Brasil. Escolas e faculdades foram criadas no pais, com inspiracdo europeia, especialmente seguindo o modelo francés, como por exemplo as escolas de medicina do Rio de Janeiro e da Bahia, de 1833. Nessas instituigdes e em escolas de formacao do magistério, iniciou-se a constitui¢fo de um saber psicolégico brasileiro em mol- des académicos e por isso o nome de Perfodo Institucional (PESSOTTI, 1988). A Psicologia desenvolveu-se nesses locais como disciplina em diferentes Areas do saber: Filosofia, Direito, Medicina, Pedagogia, Teologia Moral. Ela esteve presente ainda na Arquitetura e também no movimento cultural do Barroco, que concebia 0 homem como movimento, transformacio, questionando a ideia de verdade de- fendendo a instabilidade da vida (MassiM1, 1990). As teorias psi¢O- légicas forneceram pressupostos da jurisprudéncia, da ética natural ¢ justificavam politicas pablicas, - O Perfodo Universitario, de acordo com Pessotti (1988), iniciou a partir de 1934, quando a disciplina Psicologia passou a ser obrigat6t “i «a, Licenciatura © as Sociais, Pedagogia, Licenciattt nos cursos de Filosofia, Cién cologia come opcional na Psiquiatri a e Neurologia, Vemos ai a Ps 22 | PSICOLOGIA, SAUDE E HOSPITAL: CONTRIBUICOES PARA A PRATICA PROFISSIONAL ciéncia complementa a essa 4reas do conhecime: profissio, de acordo com Soares (1979), a formagio eee a psicdlogo organizou-se no Brasil como uma a ssional do a portaria 272 do Decreto-Lei 9092 de 1946. O ee do legalmente deveria frequentar os trés primeiros anos de Filosofi a “ilosofia, Biologia, Fisiologia, Antropologia ou Estatistiea e faze especializados de piety ° tsslea ¢ fazer os cursos Em 1954 foi criada a Associacao Brasileira de Psicélogos. Nesse ano foi proposto um projeto de Lei sobre o ensino obrigatério de Psicologia ec carves de Medicina, Além disso, 0 Arquivo Brasileiro de Psicotée- mca publicou um anteprojeto de Lei sobre a formagio e regulamentagio da profisco de psicélogo (PESSOrTL, 1975). A formacio ea profisio de psisslogos foram regulamentadas quase dea anos depois, em 27 de agoxto 1962, pela Lei n° 4119, Nessa data foi instituido 0 dia do Pscélogo ¢ iniciou-se 0 Perfodo Profissional da Psicologia. 1.3 O mercado de trabalho do psicélogo no Brasil e sua inser¢do na drea da satide ando o cotidiano das io, livros, e deitar classes média ¢ alta A psicologia e a psicandlise foram ganh: pessoas por meio de revistas, programas de televii no diva passou a ser sinal de status social entre as (Pereira, 2003). Vemos na década de 1970, um aums profissionais formados em Psicologia, que acompanh Arios na 4rea e um aumento da de: ares (2010), em sua pesquisa sobr: scimento do ntimero de psicdlog ento do ntimero de ou o crescimento manda por ser- eo conselho de 0s, indicando dos cursos universit: vicos psicolégicos. So: psicologia, ilustra 0 cre: que em 1974 haviam 895 inscritos nos conselhos regionais 4 4.951 no ano seguinte ¢ consecutivamrente Jos nos conselhos somaram 6.890. 9,233 ¢ 12.139 F icdlogos ndes dreas na Psicologia Jo vio surgindo de psicologia. Esse ntimero passou par em 1976, os psicdlogos registrad Nos dois anos posteriores, respectivamente registrados. Se inicialmente existiam trés gra (educagio, trabalho e clinica), outros espagos de atuac |, a Poicologia da Save, Psicologia Juridica ¢ aremos a expansiio que se dew na area como a Psicologia Soci Psicologia do Esporte. Focaliz da Psicologia da Satide. PARTE | «A INSERCAO DO PSICOLOGO NA SAUDE E NOHOSPITAL | 23 io Mundial de Satide adotou a A partir de 1948, a Organizag defini¢do do conceito de satide como “um estado de completo bem-es- o meramente a auséncia de doenga ou tar fisico, mental e social ¢ 0 git a presenga No cenario nacional, a VIII Confe- de outros profissionais nas enfermidade”, 0 que e> praticas de satide tradicior aide, ocorri co, na medida em que se constituiu como o espago de negociagio ¢ defini¢io do Sistema Unico de Satide enquanto politica nacional, Tal movimento influenciou na expansio da rede publica de atendi- mento e numa contratagio de profissionais de varias especialidades. De acordo com a anilise feita por Medici (1986), 0 perfil do emprego em satide estava em crescimento, mas caracterizando-se por uma em 1986, representou um mar- réncia Nacional de expansio importante nas contratagées pelo setor publico, vis a vis a ampliagio no setor privado'. De acordo com 0 autor, 0 crescimento do emprego na saiide concentrou-se de forma especial no setor piiblico eno nivel ambulatorial. A expansio de empregos na rede ambulatorial e principalmente no setor piiblico foram influenciadas pelas propostas de desospita- lizagio e de expansio dos servigos de satide na rede basica (SPINK, 1992 apud Peretra, 2003). O entendimento da satide como sendo um direito do cidadao e dever do Estado, gerou uma mobilizacio do governo para viabilizar o servico 4 populagio. Diversas especialidades foram ganhando espago em hospitais e em ambulatérios, inclusive 0s psicdlogos. Medici, Machado, Nogueira & Girardi (1992, apud PEREIRA, 2003) apontam as reformas realizadas nas instituigdes médicas, assis- tenciais ¢ previdencirias como responsiveis pela ampliago nas equipes multiprofissionais, privilegiando a participagdo de novas profissdes na satide. Dentre el 48 0s autores indicam que embora o ntimero de psicé- logos nas equipes de satide fosse menor do que os outros profissionais, 4 psicologia foi a profissio que mais expandiu-se no setor, passando de 726 empregos em 1976 para 3.671 em 1 sostra Z 984, como nos mostram na tabela seguinte, " Medici (1986) indi doe (1986) indica perda de hegemonia do setor privado referente 3 totalidade fo emprego em saiide e 4 ‘ado referente & rotalidade lisa varios dados referentes ao tema, 24 | Psic¢ E OLOGIA, SAUDE E HOSPITAL: CONTRIBUICOES PARA A PRATICA PROFISSIONAL Tabela F - Participacdo das categorias na Equipe de Satide de Nivel Superior Brasil, 1976-1984 1976 1984 Categoria . Absoluto % Absoluto % Médico 105.684 76,09 194.152 7442 Odontdlogo 11.732 8.45 25.078 9.61 Enfermeiro 12,252 8,82 21.766 8,34 Farmacéutico 3.355 241 5.621 215 Nutricionista 1.630 7 2.895 wn Assistente Social 3.309 2,39 6.649 2.55 |psicsogo 726 0,52 3.671 141 Sanitarista 607 05 1.060 01 Total 138.894 100,00 260.862 100,00 A presenga do psicélogo entre as profissdes de nivel superior au- mentou de forma importante. O crescimento em nenhuma outra es- pecialidade foi equiparivel. Mesmo com uma participacao nas equipes de satide ainda pequena comparada as outras profissdes, essa proporcao mudou de 0,52% para 1,41%. Pereira (2003) e Chiattone (2000) citam diversos fatores para explicar o crescimento da contrata¢io de psicélogos na satide como, por exemplo, a regulamentacio da profissio em 1962; 0 aumento de psicélogos no mercado devido ao boom de faculdades parti- culares; a expansio das pesquisas na 4rea hospitalar’ ¢ admissio, cada vez mais frequente no hospital geral, de casos que necessitavam de auxilio Psicolégico, como drogadi¢io, alcoolismo e tentativa de autoexterminio. A partir dessas e de outras mudangas na satide, 0 mitmero de Psicdlogos trabalhando nos setores piiblico e privado, em servicos de internagio ¢ em ambulatérios, de fato aumentou. Pereira (2003) ressalea gue a presenga da psicologia em hospitais estava tradicionalmente liga~ da a0 quadro das instituigdes psiquidtricas. No entanto, com essa nova Dados de Medici, Machado, Nogueira et Girardi, 1992, * Muitas pesquisas realizadas nesse periodo demonstraram o papel da subjetividade na evolugio e no tratamento de doengas, além de indicarem. ama corre 4 presenga dos psicélogos no hospital ¢ a redugio no tempo de inte apuad Ber PARTE I~ AINSERCAO DO PSICOLOGO NA SAUDE E NO HOSPITAL | 25 configuragio do mercado de trabalho em satide no Brasil, os h i ospitais gerais tornaram-se uma nova possibilidade de atu tl Gio para 0s psicdlogg, © que impulsionou o desenvolvimento de um novo campo de atuaca, atuacig, a Psicologia Hospi 1.4 Psicologia hospitalar De acordo com Bornholt ¢ Castro (2004), nio existe em Outros, paises do mundo a denominagio “Psicologia Hospitalar”, embora existam psicdlogos atuando no hospital. O termo utilizado em outros paises ¢ “Psicologia da Satide”, Enquanto 0 termo “satide” implica numa priticg profissional centrada nas intervengées primarias, secundirias e tercidrias, © termo “hospital” implica numa pritica secundaria e terciaria', Ou seja, 0 psicélogo no hospital inserido na internagio nao trabalha a intervencig primaria, e atua com o individuo hospitalizado. Silva e Portugal, afirmam que o termo hospitalar “teve origem nos simpésios, congressos, cursos e encontros nacionais da area e carac- teriza o local de atuagio do profissional, nao sendo uma escolha fruto de reflexio” (Strva; Portucat, 2011, p. 5). No entanto, a psicologia da saiide e a psicologia hospitalar tém mais similitudes do que discrepincias. Concordamos com Castro ¢ Bornholdt (2004) que consideram adequado referir-nos 4 psicologia hospitalar como um trabalho que faz parte da psicologia da satide, embora a psicologia da satide possa ser considerada um subcampo da psicologia (Mosimann; Lusrosa, 2011). A psicologia da satide tem como objetivos estudar a etiologia psicolégica das doengas; promover a satide; prevenir e tratar doengas, promover politicas de satide pablicas, atuar em equipe multiprofissional colaborando para uma visio integral do sujeito e fungdes diversas que dependerio do contexto sua insergao. O papel do psicélogo hospitalar é definido de acordo com 0 es" go em que esta inserido, ou seja, o hospital geral. Ao longo deste livre so descritas especificidades do trabalho do psicélogo, demonstra? inclusive subespecialidades nessa atuagio dentro do hospital, contd * Sabemos que essas defini nao raramente o psicdlogo hospita atendimento ambulatorial, por exemplo, m de forma tio pre: e na atengio primal 26 | PSICOLOGIA, SAUDE E HOSPITAL: CONTRIBUICOES PARA A PRATICA PROFISSIONAL uma diferenciagio importante da atu 10 do psicdlogo na sat Ir ma tagio imp y ‘a satide para o psicélogo hospitalar, diz respeito a fungio primeira dos prdprios hospi- s s hospi. tais. Os cuidados nos hospitais gerais centrados no diagnéstico ¢ no tratamento de doengas de ordem ordem fisica, 0 quer dizer que o atendimento isténcia hospitalar, Sendo assim, 0 psicdlogo atua nao na doenga propriamente dita, mas por meio de seu trabalho baseado na escuta, ele pode auxiliar o paciente na busca da restauragio de um equilibrio perdido por causa da doenga A presenga do psicélogo no hospital geral, segundo Maia (2006, p. 11) “foi se impondo na medida em que se estabeleceu um novo paradigma para a assisténcia a satide, fruto da mobilizagio conjunta de profissionais e comunidade diante da limitag4o do modelo biomédico.” A visio inte- médico esti na base da a: gral ao sujeito, preconizada entre os preceitos da saiide pablica, ampliou a visio organicista, considerando as pessoas em seus aspectos psiquicos, sociais ¢ espirituais. Sendo assim, 0 psicélogo trabalhando no hospital geral contribui para a elaboracao de uma situa¢io por vezes, traumatica, causada pelo adoecimento e pela prépria internacio, e contribui para que a satide se reestabelega. ‘As pesquisas na érea da psicossomética também contribufram para que a psicologia fosse conquistando espaco no hospital. Outras pesquisas demonstravam a relacio entre algumas patologias fisicas ¢ 0 equilibrio emocional do doente, além de mostrarem como o fator emocional po- detia influenciar na recuperagio de uma doenga. O adoecimento ¢ a hospitaliza¢io foram considerados também como possiveis causadores de problemas psicol6gicos. O processo de adoecimento ¢ o fato de estar hospitalizado podem fazer com que a pessoa sinta-se como um objeto nas mios do médico. Como afirma Angerami-Camon: Eo simples fato de se tornar “hospitalizada” faz com que a pessoa adquira os signos que iro enquadri-la numa nova performance existencial, sendo que até mesmo seus vinculos interpessoais \ | passario a existir a partir desse novo signo. Seu espaco vital aio | & mais algo que dependa de seu processo de excolha. Seus habitos anteriores tera de se transformar diante da realidade da hospita- Se essa doenga for algo que a envolva apenas cho ¢ da doeng: 4 possibilidade de uma nova reestra- temporariamente, have cial quando do restabelecimento orginico, fto gue, ao contrario day doengas erdnicas, implica necessariamente RaMt-CAMon, 1994, p. 3) uma total reestruturagio vital (AN PARIE 1 - AINSERCAO DO PSICOLOGO NA SAUDE E NO HOSPITAL | 27 Es: célogo hospitalar exerg situagio de fragilidade diante da doenga faz com que o psi- um papel relevante nas equipes de satide, O avango tecnolégico foi considerado como o causador da desumanizacig daa cionamento médico-pai 4 satide, impondo a necessidade de modificagio do rela- isténci iente, Um discurso a favor da humanizagio na satide foi desenvolvido, gerando uma campanha nacional na satide ptibica € que foi também de encontro com a ampliag%io de outras profissdes para compor as equipes multidisciplinares, favorecendo a presenca dos psicélogos no quadro da satide piblica. Mesmo que inicialmente, alguns psicdlogos fossem contratados para atuarem nos recursos humanos dos hospitais, ocupando-se pelo recruta- mento e selecio de funcionarios, diante desse contexto, progressivamente, eles foram sendo convocados para darem suporte a pacientes, suas familias ou ainda para as equipes de satide. Além disso, como foi dito anterior- mente, a admissao no hospital geral de casos de drogadi¢io, alcoolismo € tentativa de autoexterminio, foram gerando em alguns membros da equipe, a demanda da atuagio do psicdlogo. Casos de depressio hospi- talar, frequentemente decorrentes de uma interna¢io prolongada, além da resisténcia 4 adesio ao tratamento mobilizaram a aco dos psicélogos no hospital geral. Segundo Pereira (2003), os psicélogos muitas vezes estiveram vinculados ao Setor de Psiquiatria dos hospitais gerais e em alguns casos realizavam psicodiagnésticos usando testes como ferramenta. O trabalho dos psicélogos nos hospitais gerais no Brasil teve inicio ainda na década de 1950, com atuagGes pontuais de alguns profissio- nais, em hospitais de grande porte (PEREIRA, 2003; Vieira, 2006). Um marco da psicologia hospitalar deu-se em 1954, quando Matilde Neder, precursora da Psicologia Hospitalar, iniciou suas atividades na Clinica Ortopédica e Traumatolégica da Universidade de Sio Paulo (StLvA & PorrucaL, 2011; ANGERAMI-Camon, 2004). Constatamos que o predominio de pesquisas na historia da gia Hospitalar est4 focalizado no contexto de Sao Paulo, Progress outros estados? estao publicando ¢ resgatando outras historias (YaMAMOTE: Trinpane; Onivema, 2002; Siva et al, 2012; Virira, 2006). Contudo, icolo- umente, 5 A hist6ria da Psicologia Hospitalar em Minas Gerais esta inchuida neste livro, 8 capitulo seguinte, (Nota dos organizadores) 28 | PSICOLOGIA, SAUDE E HOSPITAL: CONTRIBUICOES PARA A PRATICA PROFISSIONAL 0 pioneirismo do trabalho da psicologia hospitalar merece estudos mais aando ao cenari amos o IT Encontro 5 aprofundados. Retor Nacional de Psicdlogos da Area Hospitalar, promovido pelo Servigo de Psicologia do Hospital das Clinicas da USP, em 1983, ¢ a criagio da de Brasileira de Psicologia Hospitalar, em 1997. A especialidade \ Socieda do psicélogo hospitalar foi instituida em 2000, pelo Conselho Federal (CFP), por meio da resolugao n° 014/00. / de Psicologi: 1.5 Conclusdo Para concluir, abrimos uma discussio nio com o objetivo de dar respostas € encerrar as reflexes, mas para estimular a problematizacio. Como retratamos brevemente, a Psicologia surgiu 4 partir da intercessio de 4reas do conhecimento que podem ser consideradas antagénicas. En- quanto a Filosofia olha para seu sujeito de maneira totalizante, as ciéncias fisicas e biolégicas dividem 0 objeto para conseguir compreendé-lo. A Psicologia nasce dessa contradig’o, o que nos remete a pensar na questo em que a profissio vive para constituir sua identidade. Somos uma rea das ciéncias humanas? Ou a Psicologia ¢ uma disciplina das ciéncias da satide? Dividimos nosso objeto para compreende-lo? Ou olhamos para o homem integralmente? Se os temas da Psicologia estavam dispersos entre especulagdes filoséficas, biolégicas e sociais, a autonomizagio da 4rea nao se fez sem divergéncias. Mesmo que algumas dessas solugSes se fagam de forma arbitraria, sua problematizagio é necessdria para que o psicélogo, nio importa onde vA se inserir, ocupe seu lugar de maneira conscienciosa. O psicélogo hospitalar, apesar de voltar-se para a satide, vai ocupar um lugar diferenciado entre os outros profissionais das ciéncias médicas, na equipe de satide. Essa diferenciago encontra-se justamente nas suas especificidades enquanto ciéncias humanas. O psicdlogo consciente desse debate, refletindo sobre tais contra~ digdes e ambiguidades, saber utilizar esse lugar hibrido ao seu favor, € principalmente, em favor do paciente. Por outro lado, ignorar essas questdes deixaria seu posicionamento frouxo e tal profissional prova- velmente no saberia a quem responder no trabalho hospitalar: ele instituigdo? Dos seus colegas? Da familia s demandas se apresentam deve trabalhar em favor do paciente? Do doente? Muitas vezes & PARIE |- A INSERCAO DO PSICOLOGO NA SAUDE E NO HOSPITAL | 29 safio imposto para os psicdlogos no hospi aproximagio com as diversas je, s as ferramentas necessariag par neira conflitante. O de: de mai . ¢ resolvido, ma’ Jo é facilment tal nio é facilme rido, m gico U sompae o saber do psicoldgi re compde 0 sal gico ¢ | " ri an profssional de qualidade. O lugar ocupado pelos psicdlogs, O eXeTcl ‘ : . : 0 tratado nos outros capitulos desse livro ¢ as discussiey ares para auxiliar os interessados en no hospital se trazidas no livro serio complement: refletir sobre a psicologia no hospital e na satide, Referéncias ANGERAMI-CAMON, V. A. Psicologia Hospitalar: O pioneirismo es pioneiras. In: ANGERAMI-CAMON, V. (org). O doente, a psicologiz ¢ 0 hospital. Sio Paulo: Pioneira, 2004. ANGERAMI-CAMON, V. A. (org,). Psicologia Hospitalar: teoria ¢ pritica, Sio Paulo: Pioneira, 1994. CASTRO, E. K; BORNHOLDT, E. Psicologia da Saiide X Psicologia Hospitalar: definicdes possibilidades de inser¢io profissional. Psicologia: ciéncia e profissio, ano 24, n°3, p 48-57, 2004, CHIATTONE, H. B. C. A significagio da psicologia no contexto hos- pitalar, In: ANGERAMI-CAMON, V. A. (Org). Psicologia da Saide: um novo significado para a pratica clinica. (p. 73-165). Sao Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. 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Site: www.artesaeditora.com.br E-mail; contato@artesaeditora.com.br Belo Horizonte/MG

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