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GERARD GENETTE Paratextos Editoriais ‘SBD-FFLCH-USP nua Atelié Editorial Copyright © ltions du Seull, 1987 egidos pela lel 9.610 de 19.2.98, F.proibidy rcitos reservados e protei bar eer ou parcial sem autorizagio, por eserito, da editor, a reprodugi Titulo original em francés: Seuills_/ yt FAANGABE a fe = 15 novembre) est organisée: SS Este liza. publicado no étito do Ano da Franga no Brasil edo programa de auth publicagio ‘mond de Andrade, contoy com o apoio do Ministerio Frances das Relagies Exteriotese Europeia, “Franca Br 2009" Ano ds Franca no Brasil (21 de abril 15 de novembro) € organtzade: ~ na rane pl Comisriado geal francés pelo Minto Francés ds ReladesFaterioes ¢Luropeta ply / ‘Ministerio da Cultura da Comunicacio e por Culturesfrance, + ne Bra pelo Comisarido geal raster, pelo Ministro da Cultura e pelo Ministrio das Relaes Carlos Dru Dados Internacionais de Catalogacio na Publicacio (ci) (Camara Brasileira do Livro, sr, Brasil) ea Genette, Gérard Paratextoseditoriais / Gérard Genette; traducao Alvaro Faleiros ~ Cotia, j ‘Sh: Atelié Editorial, 2009, ~ (Artes do livro: 7) Titulo original: Seuils 1SBN 978°85-7480-458-3 + Anilise do discursoliteririo editores 4, Géneros lterdtios, 2. Gita textual 3. Bsritorese | los 5-Livros- Formato 6, Publicagio de | Historia 7 Transmissio textual 1, Titulo. 9-115 cpp-809 Indices para catélogo sistemitico: 1 Paraextos editoriais: Literatura B09 Diteitos reservados 3 ATELIE eDtroRiaL Estrada da Aldeia de Carapicutba, 897 6709-300 ~ Granja Viana - Cotia ~ sp ! Telefone: (11) 4612-9666 | ‘Atelie@atelie.com,br I wWwatelie.com.br Printed Brazit 2009 | Foi feito depésito legal Aros EDITORIATS si Pees A Instancia Prefacial . . . Definscéo. . Prichustoria Forma Lugar. Momento Destinadores. Destinatirios, Impartinerg . Nondade, tradigag | Unidude; Veractdade Para rains Os temas dy comn, Geneve _— sSltlt~—~—~—C SQ ars § | PaRATEXTOS EDITOR! Textos de ficgao «+ + Alégrafas. - - Actorais.« Funcionais O Epitexto Pablico . Definigaes Oepitexto editorial Alégrafo oficioso. . . O autoral priblico Respostas piblicas Mediagées . Entrevistas [interviews] . Corverensifectnlteg]s = s cp etpiole Wh simi d Witte wo bites Coléquios, debates. . . « Autocomentarios tardios « . Epitexto Privado . Correspondéncias Confidéncias orais. . Dirios intimos Prototextos. . DEDALUS - Acervo - FFLCH 20900112952 +292 296 +298 298, —————”——_—Sr—™ 1s to | PaRarnxTos EDITORIA ’ entre o dentro ¢ 0 fora, sem limite rigoroso, nem Par, “yoni ‘ der, “Zona indec ae a (otexto) nem para o exterior (odiscurso do mundo sobre o text o interior (0 rac ou, como dizia Philippe Lejeune, “franja do texto impresso que, na req, otla, ou, como dizia Iidade, comanda toda a leitura”*. Com efeito, ¢ sa franja, sempre carrepando ov comentirio autoral, ov mais ou menos legitimada pelo autor, constity uw tio autoral, treo texto € 0 extratexto uma zona no apenas de transigio, mas também, dle ransogdo: lugar prvilegiado de uma pragmitica © de uma estratégia, de ndido e acabado, de uma melhor acolhida do texto ¢ de uma leitura mais pertinente = mais perti- sobre o piblico, a servico, bem ou mal compre uma a niente, entenda-se, aos olhos do autor e de seus aliados, Nao é necessatio dizer que seus meios, de seus modos e de seus efeitos. Para indicar aqui o que e: oltaremos a essa aga 10: em tudo o que segue, trataremos apenas dela, de std em jogo com a ajuda de um Gnico exemplo, seria suficiente uma inocente per- gunta: reduzidos apenas a0 texto e sem o auxilio de nenhum modo de usar, como leriamos 0 Ulysses de Joyce se nao se intitulasse Ulysses? * O paratexto compae-se, pois, empiricamente, de um conjunto heterdclito de Priticas ede discursos de todos os tipos e de todas as idades que agrupo sob esse termo, em nome de uma comunidade de interesse, ou convergéncia de efeitos, que me parece mais importante do que s indice deste estudo me dispensa, apesar da obscuridade prov adiante, a diversidade de aspecto. O provaelmente, de uma enumeracao prévi ‘sdria de um ou dois termos que definirei mais A ordem desse percurso seri, na medida do possivel, de acordo com do encontro habitual das mensagens que ele investiga: apresentagio exterior de um livro, nome do autor, titulo € a sequéncia como se oferece a um leitor Aéci, 0 que nao é, evidentemente, o caso de todos. E provavel que a rejeigio in fine de tudo 0 que chamo de “epitexto” seja, sob esse aspecto, particular- mente arbitraria, pois futuros lcitores tomam conhecimento de um livro atra- “6, por exemplo, de uma entrevista do autor — quando na ‘esenha num jotnal ou de uma recomendacio boca a b (0 por meio de uma }oca, que, de acordo quer que trate do paratexto: Cbdigos: 0 eddigo social, do texto” (C. Duchet, “Por "mediria entre o extratexto e se mlotirar du ‘zona indecisa {...] onde ct "m sew aspecto publicitario, eos codigos ur une socio-critique’ ries de Produtores ou reguladores 197 P.6): "zona inte Seuil. 1979, p. 528) 4: Le Pacte auto biographique, Seuil, ve com dao autarvsnvacm ero tial, Littérature, 1, fev. de © texto” (A. Compagnon, La Seconde Main. P- 45. A sequencia dessa frase indica muito bem “em parte o que chamo aqui de paratex lo, sub- * Nome de editor, a6 0 je Rome de cole ‘nome de autor, Jogo ambiguo dos prefcios” xTRopUgao | 2 com Nossas conven¢des, quase sempre nao fazem parte do paratexto, definido Por uma intencdo e uma responsabilidade do autor; mas as vantagens desse agrupamento irgo parecer, espero, superiores a seus inconvenientes. Além disso, essa disposigdo de conjunto apresenta um rigor muito coercitivo € aqueles que tm o habito de ler os livros comegando pelo fim ou pelo meio poderao aplicar a este o mesmo método, se é que ¢ um método. Aligs, a presenga, em torno de um texto, de mensagens paratextuais, das quais proponho um primeiro inventario sumirio e de modo algum exaustivo, nao possui uma regularidade constante e sistemtica: existem livros sem pre- facio, autores refratarios as entrevistas e sabemos de épocas em que nao era obrigatéria a inscricao de um nome de autor, ou mesmo de um titulo, Os cami- nhos e meios do paratexto nao cessam de modificar-se conforme as épocas, as culturas, os géneros, os autores, as obras, as edigdes de uma mesma obra, com diferencas de pressdo as vezes consideraveis: é uma evidéncia reconhecida que nossa época “mididtica” multiplica em torno dos textos um tipo de discurso desconhecido no mundo clissico, e a fortiori na Antiguidade e na Idade Média, época em que os textos circulavam muitas ver es em estado quase bruto, sob a forma de manuscritos desprovidos de qualquer formula de apresentacao. Digo quase, porque s6 0 fato de haver transcrigdo ~ mas também transmissio oral ~ introduz na idealidade do texto uma parte de materializagao, grafica ou fonica, que pode induzir, como veremos, efeitos paratextuais. Nesse sentido, pode-se sem diivida adiantar que nao existe, e que jamais existiu, um texto® sem para- texto, Paradoxalmente, hé em contrapartida, talvez por acidente, paratextos sem texto, pois existem muitas obras, desaparecidas ou abortadas, das quais conhecemos apenas o titulo: numerosas epopeias pés-homéricas ou tragédias gregas clissicas, ou Morsure de l'épaule que Chrétien de Troyes se atribui no inicio de Cligés, ou Bataille des Thermopyles que foi um dos projetos abando- nados de Flaubert, e sobre o qual nada sabemos, a nao ser que nele nao devia figurara palavra perneira (cnémtide). Ha nesses titulos isolados muito com que sonhar, isto é, um pouco mais do que em muitas obras disponiveis ¢ legiveis em seu todo, Finalmente, esse cariter irregular de obrigatoriedade do para- texto vale também para o puiblico e para o leitor: ninguém preficio, mesmo que essa liberdade nem sempre seja bem-vinda para o autor, € veremos que muitas notas sao dirigidas apenas a certos leitores. obrigado a ler um 5. Digo agora textos, endo somente obras, no sentido “nobre” da palavra: pois a necessidade dle um paratexto impde-se a toda espécie de livro, mesmo que nio tenha nenhuma intengio esté- tica, ainda que nosso estudo se limite aqui ao paratexto das obras lterarias, Ly | PAN ATEN TOR EDETORIATS Quanto ao estado particular de cada um desses elementos, ou ANtes dess, Quanto ao je tementa cra presidido pelo estudo de certo niimero de tragg Aipos de elemento, sera Cujo nem do paratexto, Seja ela qual ex “permite definire estate de uma me for, Haves tragos desereven, essencialmente, suas caracteristicas temporats, sbstancials pragmaticas¢ funcionais, De maneira mais conere detinir um elemento de paratexto consiste em determin: seu lugar (per unta aurecimento (quande2), seu modo de evisténela, verbal ou outro (como?), as ear onde?), sua data de aparecimento ¢ as vezes de des ap cleristicas de sua instincia de comunicagao, destinador ¢ destinatirio (de quem? a quem?) @ as fuingdes que animan s mensagems para fazer 0 qué? Impoem-se, sem chivida, das palavtas de justifieativa dese questiondrio um POUCO simplério, mas cao bom uso define quase inte: mente ométodo do que segue, Uni clemento de paratesto, se pelo menos consiste nun Mensagem ma Malls tem necessariamente un lugar, que se pode situar em relagio quela ‘lo proprio texto: em torn do texto, no espago do mesmo volume, como ¢ titulo ou o preticio,e As vezes, inserido nos interstic s do texto, como os titu- los de capitulo ou certas notass chamated de p critexto® essa primeira c: Megoria espacial, com certeza a mais tipica e 8 qual trataremos nos onze primeitos apitulos. Ainda em torno do texto, may a uma distanei mais respcitosa (ou ¢ inais pruclente), todas as mensag atte externa do livt t ns que se situam, pelo menos na origem, na ral num suporte midiat mf ‘0 (conversas, entrevis- ou sob a forma de uma comunicagio priv a (correspondéncias, didrios intimos ¢ outros), A ess; “segunda categoria eu batizo, na falta de um termo melhor, de epitex y AME ocupard os dois tltimos capitulos, Como deve, dora- "es ser automitico, peritexto e epitexto dividem entre si, © sem descanso, 6 campo esp ‘austivamente + cial do paratexto; dito de outra forn amantes de formulas, paratexto = peritexto ppitexto?, ‘texto pode também ser definida em relaga adotarmos como ponto de para os A situacio temporal do par oa do texto, mento do eferéncia a data de apar * cdigao ou original", certos elementos de para- a) anterior: texto, isto & de sta prim texto sio de producio (publi nfletos, antincios de “no prelo’ 6 Este ogo recupers ade“ per 2 De nov, dew italia’ proposta por A. MPARHON, ap, cit. pp 2886 Se precisa que o ; “riteato das discs eruditas (em genal postumas) com tee. ds vere elementos gue 1 0 petteticem ao paratexto no sentid Htte, Péiade; Mich * aM as dierengas tee em que ) das 4) As veres assinal extatos de eseahas aligratas Hama 8 hynora Ks (bibliogriticas bibl Plexidade as ve efi i i ‘ezes bastante refinada Lejeune mostrou, no tocante & autobio- prafia, eles gir ta 8 eles podem surgir tdo-somente de uma andlise (e uma sintese) singu- {ar, obra por obra, em cujo limiar para inevitav eum 1 ijo limiar para inevitavelment como 0 nosso, Para a dar uma ilustragao muito elementar disso, ja que a esttU- ura em causa auisa se red ‘ luz nela a dois termos, um conjunto de titulos como Henri Matisse, ron . roman contém, ¢ wevl ‘em, ¢ bastante evidente, entre o titulo no sentido estrito (Henri Matisse) e ai isse) ea indicacio genéri ndicagdo genérica (romance), uma discordancia que © lei- tor € convidad ‘ado a resolver ‘er se puder, ou, pelo menos, a integrar como figut™ INTRODUGAO | 19 oximérica do tipo “mentir de verdade’, cuja chave, por definigéo singular, tal- vez somente 0 texto The possa dar, mesmo que a formula seja chamada a fazer escola", ou mesmo a banalizar-se em género. Umo ultimo esclarecimento, que esperamos seja inttil: trata-se aqui de um estudo sincrénico, e nao diacrénico: uma tentativa de um quadro geral endo de histéria do paratexto. Este propésito nao se inspirou em algum tipo de desdém pela dimensio histérica, porém uma vez mais no sentimento de que é conveniente definir os objetos antes de estudar-lhes a evolucio, No essen- cial, nosso trabalho consiste em dissolver os objetos empiricos herdados da tradicao (por exemplo, “o preficio”), de um lado analisando-os como objetos mais definidos (0 prefacio autoral original, o preficio tardio, 0 prefacio alé- grafo etc.), e, de outro, integrando-os a conjuntos mais vastos (0 peritexto, 0 paratexto em geral) ~ e, portanto, em identificar categorias até aqui negligen- ciadas ou mal percebidas, cuja articulagao define o campo paratextual, e cujo estabelecimento é anterior a toda e qualquer colocagdo em perspectiva his- torica. No entanto, as consideracées diacrénicas nao estarao ausentes num estudo que versa, depois de tudo, sobre 0 aspecto mais socializado da pritica literdria (a organizagao de sua relagdo com o ptiblico) € que virard, as vezes de maneira inevitavel, algo como um ensaio sobre os costumes ¢ as institui- goes da Republica das Letras. Mas elas nao serdo colocadas a priori como uniformemente decisivas: cada elemento do paratexto tem sua propria histé- ria. Alguns séo tao antigos quanto a propria literatura, outros nasceram, ou encontraram seu estatuto oficial apés séculos de “vida oculta” que constituem sua pré-histéria, com a invengao do livro, e outros com 0 nascimento do jor- nalismo e das midias modernas; outros desapareceram nesse meio tempo e, muito frequentemente, uns foram substituidos por outros para desempenhar, bem ou mal, um papel andlogo, Alguns, enfim, parecem ter softido, ¢ ainda wyolugdo mais répida ou mais significativa do que outros (mas a sofrer, uma e rico quanto a mudanga): assim, 0 titulo tem estabilidade é um fato tao histor videntes, que inevitavelmente fazem “época” com 3 quase nao mudou desde e- suas modas, muito e nas seu enunciado; 0 preficio autoral, a0 contrario, Tucidides, a nao ser na sua apresentago material. A historia geral do para- texto seria, sem diivida, ritmada pelas etapas de uma evolugao tecnoldgica a dos incessantes fendmenos de pas- que Ihe oferece os meios € as ocasibes, de compensagio e de inovagdo sagem de um para 0 outro, de substituigéo, 1 Philippe Roger, Roland Barthes, roman, Grasset, 986. ao | PAW ATEN TOS peeronEals a permanéncia ¢, em certa medic! através do séculos, que garanten qeticdeta, Part aventurar-se a escrever sobre cla, seria preci: guesso de st pp de wn pesos mma cultura ocidental, ¢ asta e mais completa do que esta, que n nesmo poucas vezes da literatura france rancesa. imnites a a investiga Jo totalmente incoativa, a + a Ser 4, pois, eu aque segue 20 OS igri agile que, BrAGTS A OULTOS: possivelmente vira d fc se desculpas e de precaugo Pol pastante erradio no limiar do limiar"?, vigo muito pr Che atdrios de temas ou lugares-comuns obri. s obri- a. pores t ado prefitcl sversas ausiencas Om meus sit 12, Como se tes das 0 Como se pode nota, este es te estudo deve muito As sugestoes cero uja participagio foi elabor ayradeciments, do. A todos €a todas, minha profunda gratidde ©

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