Segunda edição

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Sumário

A edição #4 da Kalango se despede do ano de 2010 e aponta alguns caminhos para

o ano que se inicia. João Paulo dá os votos de Ano Novo e Delta9 faz um resumo
daquele que para muitos, não deixou saudades.
Orivaldo Biagi mais uma vez manda uma reflexão sobre a contracultura e o editor
que aqui vos escreve traz uma entrevista com dois bateristas de peso que agitam o
Brasil, a Itália e agora a Argentina.
Por falar nisso, Claudinei Nakasone estréia sua participação na revista com um
ensaio sobre São Paulo e Luis Pires com uma aventura por Buenos Aires, também
com belíssimas imagens.
A bola da vez da imprensa no final do ano, o Wikileaks, é pauta dessa edição da
Kalango por Guilherme Alpendre, da Abraji. Dani Rossi nos brinda com um texto
sobre o momento atual, de celebração cósmica e de visita do Sagrado.
E sobre o Sagrado, ninguém melhor do que Leonardo Boff que, mais uma vez, faz
um alerta sobre os riscos que corre o nosso PlanetaTerra.
Giuliano Tosin vai à França e nos mostra o poderio da mídia em tempos de
globalização. Tiago Cervan, poeticamente, aborda o pouco caso sobre tudo. Luis
Brandino aposta na educação contra a calúnia e a má fé e Fábio Sanchez questiona
o determinismo dos meios de comunicação.
Já Ana Maria Melo mostra como essa mesma mídia nos conta histórias e constrói
uma determinada realidade, conforme os diversos interesses em jogo.
Nas encruzilhadas da vida, de repente surge uma mandinga, nas letras de
Marcelino Lima.
Hemerson Brandão faz um balanço da astronomia em 2010, uma verdadeira
odisseia no espaço.
E para finalizar, um resumo do que aconteceu na web em 2010.
Confiram nessa edição um maravilhoso ensaio fotográfico realizado por Marcela
Alvim, também estreando na Kalango.

Weberson Santiago/Rolling Stone11

 ´
Rapido Balanço e votos de Ano Bom!
Por João Paulo Correia Lima
Para um bom aproveitamento dos novos dias e horas
que se anunciam no horizonte, a avaliação das ex-
periências passadas é essencial! A única coisa legal
que existe nos erros é que eles nos tornam melhores.
Só contornar os erros e deixar para trás nos leva a
uma posição que é muito bem descrita por uma frase
atribuída a Einstein: “ser idiota é fazer a mesma coisa
duas vezes e esperar um resultado diferente”.
Bom, pensando assim, das inúmeras e algumas in-
esquecíveis bobagens que fizemos em 2010, quero
refletir sobre algumas ligadas ao bem comum e não à
vida individual.
Vejo a ano que passou como sendo uma melhora em
uma série de coisas: parece que nosso país vai ficando
mais sério “muuuito devagarinhamente”, mas a di-
reção é certa. Antes que me joguem pedras por estar
dizendo isso, quero salientar que nós, brasileiros, te-
mos um problema grave com a auto-estima (vemos os
defeitos de modo exagerado e as qualidades diminu-
tas). Não vamos repetir o erro de nos diminuirmos.
Somos grandes, temos problemas sim, também.
Vi os artistas e os intelectuais que têm iniciativa com
grandes dificuldades em serem recebidos com profis-
sionalismo (mínimo, se você procura um empresário
ou organização para tratar de negócios) e educação
(mínimo). Acho que isso foi o que mais me revoltou
nesse ano que passou: a quantidade de artistas com
enorme dificuldade de levar seu trabalho adiante e
sendo mal recebidos.
E vi uma onde enorme de demanda sobre as pessoas:
foi o Ano da Demanda. Tudo demanda: telefone, e-
mail, contas, empregos, tarefas, sonhos... Tudo, tudo
quer tempo e atenção.
Então, para esse Ano Novo, desejo mais educação da
parte das pessoas que estão em posição privilegiada
em relação a outras (leia-se que desatenção é um
negócio ruim...), acreditemos mais no nosso poten-
cial como Nação, como Estado e como cidade e que,
finalmente, tenhamos uma convivência mais amena e
compreensiva com nossos compromissos.
Feliz Ano Novo para todo mundo!
 Em 2010 não fizemos contato.
Por Delta9
Mas entrará nos anais...
Há anos e anos, e esse de 2010 será
lembrado e esquecido por muitos
motivos. Vamos pensar um pou-
quinho...
São Luis de Paraitinga foi por água
abaixo em janeiro (lembra?); em
abril seria o Rio (lembra também?).
O Haiti desabou (agora literalmente),
mas foi rapidamente esquecido devi-
do o desabamento do Chile.
A Aple lançou o iPad e o iPhone 4.
Porém, eu continuo pagando assina-
tura residencial básica pelos serviços
imprestáveis da minha empresa de
telefonia.
O filme Avatar faturou bilhões falan-
do mais do mesmo: a dizimação de
culturas pelo arrojo científico capi-
talista (ou comunista também, tanto
faz. Tá: num é comunista, é socialis-
ta? Tanto faz também...)
A Deepwater converteu-se em Dirty-
water, após o recorde vergo-nhoso,
monstruoso e portentoso do vaza-
mento de petróleo. Mas hoje a mídia
trata da coisa de forma meio insossa,
sem sal.
Em junho astronautas estaduniden-
ses entram numa cápsula sem janela,
para simular uma viagem a Marte.
Eles ficarão confinados durante um
ano e meio, para desenvolver testes
da suposta viagem à Marte em 2020.
Os mineiros do Chile fizeram isso de
graça, ajudaram o mundo a esquecer
de vez o terremoto do Chile e capita-
lizaram divisas para o país (inclusive o
deles). Vai virar filme. Os astronautas
que esperem a vez deles...
Após os gritos das vuvuzelas e os
passeios tortos das jabulanis, o Brasil
cumpriu com o cronograma: vai ter
que ganhar a próxima mesmo.
No começo do ano o Operador Nacio-
nal do Sistema foi o último a sair, apa-
gou várias partes do Brasil e prestou
um serviço de desutilidade pública
informando que desconhecia a causa.
Com a extraordinária ajuda do presi-
dente, a candidata Dilma Rouseff é
eleita a primeira presidenta. Mas para
não rimar com opulenta, rabugenta,
ciumenta, polenta e criar associação
com tantas outras tantas “entas”,
melhor dizer ‘a’ presidente. É como
gerente, paciente, agente, cliente. (A
clientela continua a mesma...). E não
vamos nos esquecer do vice, ein!
Fica aqui meu registro de apreciação
ao grande governante desse país, o só-
brio Vice-Presidente da República Fed-
erativa do Brasil, Jose Alencar Gomes
da Silva, que na ausência continuada
do outro Silva, tomou conta direitinho
dessa empreitada. Afinal, desfazer nós
é com ele, que trabalha desde os sete
anos de idade. Se fosse hoje, o seu
Antonio e a dona Dolores (seus pais)
seriam repreendidos pelo Conselho
Tutelar...
Mas o grande must foi a eleição do
humorista, comediante, ator, enter-
tainer, atleta dos picadeiros, cantor,
compositor, artista e homem de TV:
o agora também deputado federal,
Francisco Everardo Oliveira Silva
(conhecido pelo nome artístico de
Tiririca). Finalmente vamos saber o
que faz um deputado... Pelo menos
a mídia já começou a mostrá-lo em
seu processo de penetração (por
fórceps?) na vida pública.
Assistimos todos rejubilados a as-
censão de Maria Osmarina Marina
Silva Vaz de Lima. Devidamente in-
censada pela esquerda balantines...
No mesmo ano que presenciamos,
mais uma vez, o repetido capítulo da
implosão do Protocolo de Kyoto.
Porém, não esqueçamos os altivos
esforços de Eduardo Fischer (e seus
ativos, claro), presidente do Grupo
Totalcom, ao criar o revolucionário
movimento Starts With You, que
traduzido para o vernáculo ficaria
“Começa Com Você” (mas aí entraria
o cedilha, o acento cincunflexo; fi-
caria mais chinfrin, dificultando a
diagramação).
Pra quem ainda não sabe, o SWU é
um movimento de conscientização
 Ralph Ueltzhoeffer - Textportrait Paul McCartney 2006
em prol da sustentabilidade que tem o intuito de mobilizar
o maior número possível de pessoas em torno da causa,
mostrando que, por meio de pequenas ações, com simples
atitudes individuais do seu dia a dia, é possível ajudar a
construir um mundo melhor para se viver. É isso aí: peque-
nas atitudes podem gerar grandes mudanças. E isso em
Itu!! A cidade onde tudo é grande. Inclusive o valor do
passaporte para os três dias do evento: R$1.700. Estadia e
alimentação por conta do participante. Cê é pobre? Vive no
Terceiro Mundo? O salário mínimo ainda não é 600 reais?
Relaxa: R$120 meia entrada para pista comum. Tudo em
seis vezes no cartão com entradas e bandeiras variadas. São
pequenas atitudes para gerar grandes mudanças!!
Comemorando os 60 anos de declínio da TV brasileira, os
jornais nacionais noticiaram a invasão do Complexo do
Alemão. Opa: a pacificação. Sabe qual a diferença entre
pessoas pacíficas e pessoas pacificadas? Não? Pergunte pro alemão! Mas
espera ele terminar de comemorar o final do brasileirão...
Salve o Fluminense, enquanto os fluminenses estão sendo salvos. E viva
os cariocas que, segundo Arnaldo Jabor, irão mostrar o seu valor.
O ano de 2010 foi, também, o ano de grandes estrelas.
A sonda não-tripulada Solar Dynamics Observatory (SDO) da NASA foi
lançada para estudar processos do Sol que afetam diretamente a vida na
Terra. Com propulsão do foguete Atlas 5 da United Launch Alliance (uma
parceria das gigantes aeroespaciais Boeing e Lockheed Martin), a missão
deve durar cinco anos e custar US$ 850 milhões. Já estou afetado...
Utilizando um acelerador de partículas, cientistas do laboratório Labo-
ratório Nacional de Brookhaven (ou BNL, de Brookhaven National Labora-
tory) localizado em Upton, Nova Iorque, obtiveram em 15 de fevereiro de
2010, por alguns milésimos de segundos, a temperatura
de 4 trilhões de graus Celsius, a maior temperatura já ob-
tida na história. Isso não é incrí-vel?! É a coisa ficando mais
quente...
Em 20 de maio de 2010, o instituto sem fins lucrativos J.
Craig Venter (com centros de pesquisa em Rockville, Mary-
land e La Jolla, Califórnia) anunciou a criação do primeiro
organismo vivo com genoma totalmente sintético, desen-
volvido artificialmente a partir de compostos químicos.
Para tal, a equipe, copiou quase integralmente o genoma
de uma bactéria e transladou-o para um exemplar dessa
bactéria (CTRL+C, CTRL+V). A equipe conseguiu com suces-
so assegurar a reprodução dessa primeira espécie sintética,
assim como a produção de certas novas proteínas por parte
dessa mesma espécie. Acabou o problema de carência
protéica dos esfomeados do mundo. E tudo sem fins lucra-
tivos... Isso me encanta!
Falando em canto, Justin Bieber, Luan Santana, Lady Gaga, nem chega-
ram a fazer cócegas no seminovo Sir Paul James McCartney, 68 anos.
Foi um desbunde. Seu carisma somente é superado pela fortuna que
o gênio do POP (rock?) ganha em cada show, juntamente com a ban-
dinha de garotões cinquentões. E, diga-se de passagem, por mérito
próprio. Quem sabe faz ao vivo (não é uma frase original, mas tá va-
lendo).
Porém, o maior sucesso musical ainda foi “Tcha-na-na”, de Viviane Ba-
tidão, na interpretação eterna de Mike de Mosqueiro detonando os gases
do Faustão.
Se sobrevivermos aos especiais de final de ano, voltaremos para falar de
coisas mais serias. Afinal, o carnaval está chegando...

Contracultura no Brasil:
Acomodação ou Rebeldia?
Orivaldo Leme Biagi
Com o recrudescimento do regime militar a partir de
1968, a juventude brasileira, segundo Alfredo Sirkis,
passaria por uma “trifurcação”: alguns iriam lutar
diretamente contra a ditadura tornando-se guerrilhei-
ros; 2 – outros iriam seguir a linha da Contracultura;
3 – e a maioria não seguiria os caminhos anteriores,
preferindo levar vidas normais dentro da sociedade
estabelecida. Aparentemente ocorreu um desloca-
mento do eixo de atenções dos jovens da política para
a cultura – ou, em outras palavras, a Contracultura
tornou-se um dos únicos espaços que restaram para a
participação jovem na vida do país, pois os caminhos
políticos foram fechados pela ditadura. Cultura e com-
portamento tomariam o lugar da política nas práticas
jovens. De acordo com Nelson Motta: “O verão de 1972
foi o apogeu do desbunde brasileiro. Massacrados pela
repressão política e pelo autoritarismo violento, os
jovens, muitos deles sem apetite para a luta armada,
optaram pelo rompimento total com a sociedade. Vi-
raram hippies pacifistas radicais e caíram na boca no
ácido e na maconha, viviam em comunidades, faziam
música e artesanato, comiam macrobiótica e tentavam
abolir o dinheiro, o casamento, a família, o Congresso,
as forças armadas, a polícia e os bandidos, tudo de
uma vez só e numa boa. Muitos encontraram a feli-
cidade, ainda que fugaz, vivendo com amigos numa
‘nova família’, convivendo e se divertindo como irmão.”
Foto: Ronaldo Theobald
O cineasta Glauber Rocha destaca tal deslocamento
com suas críticas à opção contracultural (e também da
esquerda armada) numa entrevista dada em 1980: “Eu
estava conflitado com essa esquerda armada e contra
a opção hippie, que era a opção da CIA programada
para o Brasil, através dos jornais que surgiram para
ocultar o problema da Guerra do Vietnã e transformar
os perigosos maoístas guerrilheiros em hippies droga-
dos. Foi a luta da granada contra o Rock. Quer dizer,
duas opções: uma colonização guerrilheira orientada
pela CIA, por Cuba e pela China, e uma orientação
hippista orientada pelos Estados Unidos no sentido de
liquidar com o Terceiro Mundo, com as potencialidades
revolucionárias que estavam explodindo.”
Mas tais pontos de vista são limitados, pois a Contra-
cultura também foi uma forma de confronto contra a
ditadura, em particular contestando seus padrões mo-
rais conservadores. Assim, o visual mais colorido, os
cabelos compridos, as músicas inovadoras e as novas
questões morais (sexo, drogas, cultura indiana, etc.)
serviam tanto para chocar o público mais velho como
também para contestar a própria estrutura moralista
do regime militar, inclusive nos seus aspectos políticos.
Euclides Sa nd o va l
A exposição
“Sobras-Primas”
do artista Euclides
Sandoval vai até
30 de janeiro de 2011
no Museu Olho Latino,
em Atibaia, SP.
 Foto: Marta Alvim
É tudo [Dino] Verdade
Workshow com Dino Verdade e Raphael Saini atrai amantes da bateria
Por Osni Dias
“Vocês não têm noção da riqueza da
música no Brasil. O que estamos fazendo
aqui não é comum na Europa”. Com essa
afirmação o músico Rafael Saini, recém
chegado da Itália, mostrou seu entu-
siasmo em tocar para uma platéia ani-
mada numa tarde de calor em dezem-
bro, em Atibaia, cerca de 60 km da
capital paulista. Uma apresentação
memorável, com peças da dupla, discos
gravados e peças do Bateras 100% Brasil,
entre salsas, sambas e muito heavy metal.
O workshop (ou workshow, como frisa
Dino Verdade) fez parte da agenda de
final de ano do instituto Bateras Beat (1).
É verdade: a primeira opção musical de
Dino não foi a bateria. Edson Martins
da Costa Verdade, ou Dino Verdade,
começou tocando piano aos 12 anos,
passou para o violão e chegou à bateria
somente aos 18 anos. Já em 92, o jovem
baterista sentiu a necessidade de criar
um método de ensino que, por meio
da funcionalidade, permitisse ao aluno
aprender em pouco tempo, como ele
mesmo explica: “Através de uma seqüên-
cia lógica, o aluno vai aprendendo passo
a passo, transitando por vários ritmos”.
O músico tocou com diversas bandas
de rock, pop, blues e heavy, conquistou
projeção nacional, passou pela MTV, via-
jou pelo país, foi para os Estados Unidos
(onde fez mais de 50 apresentações), par-
tiu para a Europa, tocou com orquestras
sinfônicas e, finalmente, criou a primeira
franquia brasileira, o Bateras Beat.
Dino não parou por aí. Inquieto, realizou
um feito inédito na América Latina, reu-
nindo 64 bateristas em uma só apresen-
tação, com a
participação
de Robertinho
Silva, no ano
2000. Em
2006, na ci-
dade de Santo
André, bateu
o recorde
Latino Ameri-
cano em apre-
sentação ao
ar livre, com 156 bateristas. (2) E promete
mais em 2011, quando pretende bater o
recorde mundial.
Seu parceiro Raphael Saini é também um
apaixonado pela música. Nasceu no Bra-
sil mas aos seis meses de idade foi para
a Itália. Hoje é destaque na Europa como
baterista da banda Chaoswave. (3) “Tudo
se deu por acaso, vi os amigos tocando e
como minha mãe era cantora profissional
fui tomando gosto pela coisa”, diz. Ele
afirma que cada pessoa encontra o seu
instrumento e, na hora, descobre que fez
a escolha certa. No começo o baterista
procurou um “instrumento mais fácil” até
descobrir que estava errado, apaixonan-
do-se pela bateria na adolescência. Numa
de suas andanças pelo Brasil topou com
a Bateras Beat “numa rua musical de São
Paulo” (Teodoro Sampaio, em Pinheiros) e
ficou apaixonado pela metodologia de en-
sino. “O livro lançado pelo Dino Verdade é
o melhor que já conheci para se entender
as bases da bateria, é o livro dos livros”,
conta Saini, que dirigirá a primeira franquia
internacional do Bateras Beat, na Itália, e
afirma ser essencial ter um método. “Ele é
ótimo para quem quer aprender bateria,
Dino Verdade, Toronto, Canadá, observa que “lá fora
Raphael Saini e eles não tem esse suingue”. No samba
Marcelo Alves é preciso ter muita preocupação com
Foto: Marta Alvim
o equilíbrio dos pés e das mãos, pois
todos os ritmos usam o up-down (uma
mas também nota na subida e outra na decida da ba-
é bom para tida). “É preciso suavizar, equalizando os
quem de- toques e liberando um pouco a pressão
seja aprimorar da caixa, que precisa ser mais leve”, en-
seus conhe- sina o mestre.
cimentos”.
Recentemente Saini diz que os brasileiros acreditam
o músico fez uma turnê pela Europa, que tudo é melhor na Europa, mas
abrindo shows da banda Raphsody of alerta: “vocês têm sorte, pois no Brasil a
Fire. Com Dino Verdade, ensaia uma música já é de Primeiro Mundo”. E com-
turnê na Itália, mostrando os ritmos pleta: Vocês não têm idéia da riqueza
“para que o pessoal do metal discuta o que existe aqui”. Durante a entrevista,
samba e vice-versa”, pois acreditam que Dino revela que o Bateras Beat acaba
embora diferentes cada qual tem sua de fechar uma parceria com a GM Drum
musicalidade. “O importante é que cada School, a maior escola de bateria da
um se expresse da melhor forma pos- Itália – sua primeira franquia internacio-
sível”, observa Dino. nal.
Saini aponta que são expressões music- Pra fechar, uma ótima notícia. Depois de
ais diferentes. “No metal podemos tocar elegermos como melhor atleta brasileiro
a mesma seqüência do samba, só que do ano mais um argentino (Conca, do
em menor tempo. São batidas rápidas, Fluminense, repetiu o feito de Carlos
com dois bumbos em toques simples”, Tevez e se tornou o segundo estrangeiro
afirma. Ele explica que o ritmo começou a ser escolhido o melhor jogador do
no rock’n roll e em seguida o grupo Ra- Campeonato Brasileiro pela CBF), Dino
mones o levou ao extremo, com o punk, Verdade vai finalmente nos vingar. Em
tirando uma nota. O ritmo finalmente se 2011, o músico pretende criar uma Ba-
notabilizou com o Metal Sludge (Black teras Beat em Rosário, na Argentina.
Flag e Black Sabbath). A Napalm Death Pelo menos nessa praia, los hermanos
(banda de grindcore da Inglaterra) e a vão ter que estudar, e muito.
Carcass (considerada a criadora do estilo
grindcore splatter) estavam nessa onda 1) http://www.youtube.com/watch?v=R9kL7hqrSQc&f
eature=player_embedded
quando, em 89, o baterista Pete Sando- 2) http://www.youtube.com/watch?v=oiCVMpKbbdc
val organizou a parada, ressalta Saini. 3) http://www.chaoswave.it/index.asp?MenuID=55
http://www.spirit-of-metal.com/groupe-groupe-Chao-
swave-l-pt.html
Seu parceiro, Dino, recém chegado de
 Por Guilherme Alpendre

O maior vazamento de documentos secretos (foram mais de 250 mil) já registrado no mundo — que o intelec-
tual britânico Timothy Garton Ash chamou de “um sonho para historiadores” e o chanceler italiano Franco
Fratini definiu como o “11 de Setembro da diplomacia”— vem ganhando tratamento especial nas páginas e no
Julian Assange, do
Wikileaks ,sai para
falar com a imprensa
em Londres ao sair
da prisão (Reuters)
site do GLOBO. Mais especial ainda a partir das últimas duas semanas, quando o jornal passou a ser um dos sete
do mundo com direito a receber os telegramas do WikiLeaks, referentes ao Brasil, em primeira mão, antes de o
material ser disponibilizado no site. “Além do GLOBO, “Guardian” (Reino Unido), “El País” (Espanha), “New York
Times” (EUA), “Le Monde” (França), a revista “Der Spiegel” (Alemanha) e a “Folha de S.Paulo” têm acesso ao
material. — É um privilégio porque ganhamos mais tempo. São quase 3 mil telegramas da embaixada americana
em Brasília, dos consulados dos Estados Unidos no país e do Departamento de Estado, vazados pelo WikiLeaks. À
medida que recebemos, temos de ler todo o material e produzir reportagens.

O trabalho envolve a equipe no Rio, as sucursais de Brasília e São Paulo e os correspondentes no exterior — conta
SANDRA COHEN, editora de O Mundo. A equipe no Rio ganhou reforço da repórter TATIANA FARAH, de São Paulo.
Foi ela quem, com sua insistência, obteve o direito de O GLOBO reproduzir o material com exclusividade. — Foi
uma longa negociação. A inclusão do jornal teve de ser aprovada pelo grupo e foi mediada pela Natália Viana,
representante do WikiLeaks no Brasil — diz Tatiana, que conta com a ajuda de MARCELLE RIBEIRO, que lê e clas-
sifica todos os documentos. Existe todo um cuidado para checar as informações e preservar a identidade de pes-
soas citadas nos documentos, que poderiam ter sua segurança ameaçada com a divulgação do material. Além
disso, é preciso respeitar um calendário na publicação das informações no jornal e no site — onde um blog com
“O Melhor do WikiLeaks” foi criado por FERNANDO MOREIRA e é atualizado em tempo real”.

http://oglobo.globo.com/blogs/melhorwikileaks/
http://abraji.org.br/
http://213.251.145.96/Mirrors.html
SOLSTICIO
´
DE VERAO
~

Por Daniela Rossi

O Sol entra no signo de Capricór-
nio às 21h17 do dia 21.12.2010
(Horário de Verão de Brasília).
É o Solstício de Verão – Tempo
de Natal – dia mais longo do
ano, momento em que a Luz do
Sol predomina sobre a noite do
Hemisfério Sul e que o Astro Rei
coloca-se no ponto mais alto da
abóbada celeste, no zênite, sobre
o signo de Capricórnio.
Daí o signo de Capricórnio ser rep-
resentado por uma Cabra e, na
Astrologia Inca, pela Tarruca, um
tipo de cabra andina que consegue
vencer suas limitações e escalar até
os picos das cordilheiras.
Capricórnio simbolicamente está as-
sociado à subida da vida lenta e in-
fatigável em direção aos picos da
realização espiritual. A subida ao topo
da montanha. Ele é lento, paciente
e prudente nesta subida, expulsando
as forças cegas, as forças profundas e
prisioneiras da alma que o impedem
de atingir a Perfeição, o ápice.
Para o Hemisfério Norte trata-se
do Solstício de Inverno, a noite
mais longa do ano e o momento
de virada da estação. De todos os
quatro pontos principais de vira-
da no ano, o solstício de inverno
deve ser o mais significativo. Ali,
no momento da maior escuridão
no hemisfério norte, o sol “apa-
rece” novamente...
No antigo drama mitológico da
descida do deus ou deusa ao
mundo subterrâneo, o retorno à
humanidade iniciou-se. Na jor-
nada da inconsciência individual,
o ponto de maior contato com a
como um ser transformado: o “eu”
tornou-se o “Eu”. É por isso que todos
os deuses que representam o “eu” el-
evado — incluindo Cristo — têm seus
aniversários celebrados no solstício de
inverno.
Mas, como o momento de renasci-
mento espiritual foi associado à Ca-
bra? O signo tem uma história mítica
longa e complicada. Originalmente
não era a cabra, mas a “Cabra-Peixe”,
uma imagem particular que atual-
mente foi quase esquecida.
Na antiga Babilônia, o deus Ea era
representado como um homem en-
capotado em uma pele de peixe. Ele
regia as “águas sob a terra”, o poder
vital que mantinha os rios Tigre e
Eufrates correndo e assim dava a vida
à terra.
A influência mesopotâmica sobre os
egípcios resultou na fusão dessa ima-
gem com outra. Quando a lua estava
cheia em Capricórnio (junho-julho), as
águas do Nilo começavam a subir. A
pesca voltava a ser abundante, sendo
uma fonte necessária de alimento
para os camponeses egípcios. Assim,
as águas corriam de “sob a terra” para
trazer o alimento vivificante (peixe)
sempre que a lua estava cheia no si-
gno da cabra.
Os gregos também conheciam Ca-
pricórnio como a cabra e uma fonte
de alimentação. Para eles, Capricór-
nio era freqüentemente associado à
Amaltéia, a ninfa-cabra que amamen-
tou o pequeno Zeus (Júpiter) quando
sua mãe Réia o escondeu na ilha de
Creta para salvá-lo da ira de seu pai
Cronos (Saturno). Em gratidão por
ter-lhe salvo a vida, Zeus, ao tornar-
se rei dos deuses, colocou-a no céu
como a constelação de Capricórnio, e
transformou um de seus cornos na Cor-
nucópia ou Corno da Abundância. Uma
vez que celebramos o aniversário de
Cristo no solstício de inverno enquanto
o Sol está em Capricórnio, é adequado
que o símbolo da cabra esteja fundido
ao do peixe, um símbolo que represen-
taria os dois mil anos do cristianismo.
Em diversas culturas este período sem-
pre foi celebrado como um momento
de nascimento do Divino entre os hu-
manos. Na Pérsia celebrava-se o nas-
cimento do Deus Mitra, nascido de
uma virgem, a Deusa Anahira. Mitra
era chamado de Deus Menino ou Sol
Vencedor. Entre os povos Incas ainda
celebra-se o nascimento do Deus Sol –
Inti. Também os Maias, os egípcios e os
indianos têm festividades de celebração
relativas a esta época do ano.
Portanto, esta época vem, desde tem-
pos imemoriais, relembrar os Seres
Humanos de sua origem divina e
oferecer-lhes a sempre renovada opor-
tunidade de reconhecer sua própria
divindade, pois ano após ano e dia
após dia, o Sol nos mostra sua con-
stância, sem tropeço nem falseio, em
doar, zelar, manter e sustentar a Vida
na Terra, a fim de que possamos viver
esta experiência humana e desenvolv-
ermo-nos espiritualmente. Mas Ca-
pricórnio não está somente associado
à abundância e reconhecimento espiri-
tual...
Amaltéia era irmã do deus Pã e, por-
tanto parte da família de sátiros, que
são meio humanos e meio bodes. Pã e
seus colegas sátiros eram devotados
à lascívia e à licenciosidade sexual; daí
condiz com nossa percepção sobre
capricórnio...
Em Roma, no mês de Capricórnio
era celebrado a Saturnália, o festival
pagão em homenagem a Saturno (re-
gente de capricórnio). Nesse período,
todos os costumes sociais e sexuais
eram deixados de lado; as posições
eram invertidas e o povo podia cel-
ebrar livremente, divertindo-se em
pé de igualdade com a nobreza. (Fes-
ta essa posteriormente transferida de
data e rebatizada de Carnaval).
Os arquétipos míticos de Capricórnio
são, portanto, diversos, incluindo Vesta,
Pã, Amaltéia e Saturno. Vesta e Saturno
representam um tipo rigidamente con-
trolado, cujo comportamento deve ser
perfeito e impecável, enquanto Pã e
Amaltéia, as cabras e sátiros, represen-
tam a liberdade sexual do signo.
Tal combinação pode ser traduzida
pela necessidade de buscarmos o
equilíbrio entre o céu e a terra, rev-
erenciando nossas forças instintivas,
que nos movem e nos alimentam na
terra e sem as quais não conquistaría-
mos os altos cumes, sem, no entanto,
deixarmos de reconhecer o aspecto
luminoso da cabra, a disponibilidade
de abundância que existe dentro
de cada um de nós e que nos torna
também divinos. Que neste período
de celebração cósmica e de visita do
Sagrado em meio a Humanidade pos-
samos abrir nossos corações para
que a Luz divina faça morada em
nós e ilumine toda a nossa vida sobre
os firmes fundamentos da Alegria, da
Liberdade e do Amor!
Feliz 2011!
São Paulo Por Claudinei Nakasone

AUDITÓRIO DO IBIRAPUERA - SÃO PAULO

AUDITÓRIO DO IBIRAPUERA ESCULTURA DE TOMIE OHTAKE
GOTA NA FOLHA - PARQUE DA ACLIMACÃO
GRILO EM ÁRVORE - PARQUE DA ACLIMACÃO
MURO EM FRENTE ESTAÇÃO JÚLIO PRESTES
OCA - PARQUE DO IBIRAPUERA
 Foto: Claudinei Nakasone
PAPAGAIO - ZOOLÓGICO DE SÃO PAULO
O Planeta vai continuar com febre
Por Leonardo Boff
A
COP 16 terminou na madrugada
do dia 11 dezembro em Cancún
com pífias conclusões, tiradas
mais ou menos a forceps. São conhe-
cidas e por isso não cabe aqui referi-
las. Devido ao clima geral de decepção,
foram até mais do que se esperava mas
menos do que deveriam ser, dada a
gravidade da crescente degradação do
sistema-Terra. Predominou o espírito
de Copenhague de enfrentar o pro-
blema do aquecimento global com me-
didas estruturadas ao redor da econo-
mia. E aqui reside o grande equívoco,
pois o sistema econômico que gerou a
crise não pode ser o mesmo que nos
vai tirar da crise. Usando uma ex-
pressão já usada pelo autor: tentando
limar os dentes do lobo, crê-se tirar-
lhe a ferocidade, na ilusão de que esta
reside nos dentes e não na natureza
do próprio lobo. A lógica da economia
dominante que visa o crescimento e o
aumento do PIB implica na dominação
da natureza, na desconsideração da
equidade social (dai a crescente con-
centração de riqueza e a célere apro-
priação de bens comuns) e da falta de
solidariedade para com as futuras ge-
rações. E querem-nos fazer crer que
esta dinâmica nos vai tirar das muitas
crises, sobretudo a do aquecimento
global. Mas cumpre enfatizar: chega-
mos a um ponto em que se exige um
completo repensamento e reorienta-
ção de nosso modo de estar no mundo.
Não basta apenas uma mudança de
vontade, mas sobretudo se exige a
transformação da imaginação.
A imaginação é a capacidade de pro-
jetar outros modos de ser, de agir, de
produzir, de consumir, de nos relacio-
narmo-nos uns com os outros e com a
Terra. A Carta da Terra foi ao coração
do problema e de sua possível solução
ao afirmar: ”Como nunca antes na
história, o destino comum nos con-
clama a buscar um novo começo. Isto
requer uma mudança nas mentes e
nos corações. Requer um novo sen-
tido de interdependência global
e de responsabilidade universal. De-
vemos desenvolver e aplicar com ima-
ginação a visão de um modo de vida
sustentável aos níveis local, nacional,
regional e global”. Este propósito não se
fez presente em nenhuma das 16 COPs.
Predomina a convicção de que a crise
da Terra é conjuntural e não estrutural
e pode ser enfrentada com o arse-
nal de meios que o sistema dispõe,
com acordos entre chefes de Estado e
empresários quando toda a comuni-
dade mundial deveria ser envolvida. A
referência de base não é a Terra como
um todo, mas os estados-nações cada
qual com seus interesses particulares,
regidos pela lógica do individualismo
e não pela da cooperação e da inter-
conexão de todos com todos, exigida
pelo caráter global do problema. Não
se firmou ainda na consciência coletiva
o fato de que o Planeta é pequeno,
possui recursos limitados, se encontra
superpovoado, contaminado, empo-
brecido e doente.
Não se fala em dívida ecológica. Não
se toma a sério a crise ecológica gene-
ralizada que é mais que o aquecimento
global. Não são suficientes a adaptação
e a mitigação sem conferir centralidade
à grave injustiça social mundial, aos
massivos fluxos migratórios que alca-
nçaram já a cifra de 60 milhões de pes-
soas, a destruição de economias frágeis
com o crescimento em muitos milhões
de pobres e famintos, a violação
do direito à seguridade alimentar e à
saúde. Falta articular a justiça social
com a justiça ecológica.
O que se impõe, na verdade, é um
novo olhar sobre a Terra. Ela não pode
continuar a ser um baú sem fundo
de recursos a serem explorados para
benefício exclusivamente humano,
sem considerar os outros seres vivos
que também precisam da biosfera. A
Terra é Mãe e Gaia, tese sustentada
sem qualquer sucesso pela delegação
boliviana, e por isso sujeita de direitos
e merecedora de respeito e de ve-
neração. A crise não reside na geofísi-
ca da Terra, mas na nossa relação
de agressão para com ela. Nós nos
tornamos numa força geofísica alta-
mente destrutiva, inaugurando, como
já se fala, o antropoceno, uma nova
era geológica marcada pela intensiva
intervenção descuidada e irrespon-
sável do ser humano. Se a humanidade
não se acertar ao redor de alguns
valores mínimos como a sustentabili-
dade, o cuidado, a responsabilidade
coletiva, a cooperação e a compaixão,
poderemos nos acercar de um abismo,
aberto lá na frente.
Leonardo Boff foi observador na COP-
16 em Cancún.
www.leonardoboff.com
 Foto: Giuliano Tosin
´
A midia e a crise na Franca
,
Texto e fotos: Giuliano Tosin
A importância de preservarmos cautela em
relação às mediações responsáveis pela
construção de nosso senso de realidade e de uma
sensação de suposta atualidade, que frequente
tropeçam em suas próprias manchetes inéditas
e furos de reportagem reversíveis, me veio em
mente poucas semanas atrás, numa experiência
que relato de forma sucinta. Os noticiários inter-
nacionais da época davam especial destaque para
as confusões na França: as polêmicas mudanças
no sistema previdenciário, a greve geral e as mani-
festações estratégicas que minavam a república
de Sarkozy, complicando diversos setores, sobre-
tudo o vital abastecimento de combustíveis.
Confrontos diários entre policiais e manifestantes,
casse têtes, empurrões, escudos e gás mostar-
da. Parecia tratar-se de uma possível reedição do
maio de 68. E depois da onda de violência que to-
mou conta dos subúrbios franceses em 2005, que
proporções alcançaríamos agora? Meus joelhos se
espremiam contra o banco da frente, eu começa-
va a me arrepender de ter sido um dos primeiros
a entrar no avião.
Cheguei a comentar pelo celular com minha mul-
her que estava com a impressão de que as cabines
para vôos internacionais estavam ficando cada
vez mais apertadas. Ao meu lado um jovem
engenheiro da Embraer me explicava com orgulho
a missão de sua viagem: fazer a última inspeção
técnica para a compra dos caças franceses Rafale.
Uma mudança de planos chegou para ele na vé-
spera, não ia mais passar por Paris em virtude do
suposto caos instaurado com a greve.
Em Paris, numa manhã de domingo, turistas
viram monumentos, não a confusão
estampada nas manchetes dos jornais
Agora ia de Madri, nosso destino comum, para
Bordeaux, evitando a capital francesa por me-
dida de precaução. Comecei a pensar que eu só
ia passar 24h. em Paris, ia tentar caminhar um
pouco e descobrir alguma coisa nova nesse curto
período... Mas, e se o metrô parasse por conta
das manifestações? Como ia chegar ao hotel?
Táxi em euros do aeroporto para Montmartre ia
custar uma fortuna! E o ônibus que eu ia pegar
para o aeroporto de Beauvais depois de amanhã,
poderia ser cancelado pela falta de abastec-
imento... Fora a dúvida se devia evitar lugares
turísticos por conta das ameaças de bomba que
ouvi anteontem. Enquanto isso, em Paris, uma
ensolarada manhã de domingo outonal começava
a desenhar-se, os moradores exibindo raros sor-
risos, que só surgem quando não existem nuvens
no céu, pareciam alheios ao clima obscuro e ten-
so que a mídia difundia.
O começo da semana de férias iria trazer aos
pontos mais visados da cidade uma multidão
de turistas vindos do interior, radiantes em seus
agasalhos, com os tanques de combustível bem
abastecidos e ávidos pelas ofertas de consumo na
capital. No céu claro da tarde, as longas filas de
cinema na região do Opera iriam povoar as calça-
das, enchendo-as de conversas e risos.
Aqui e ali, entre banners e painéis que divulgam
uma programação cultural prodigiosa, um raro
cartaz lembrava da greve. Nas bancas de revista,
por contra, o agito das manchetes era grande: a
confusão estava na mídia, não estava nas ruas.
Por Thiago Cervan
cervan.blogspot.com
 Política X religião:
“a César o que é de César, a Deus o que é de Deus”
Por Luís Brandino
O grande pensador florentino Niccolò
Machiavelli nos ensinou em Comentári-
os sobre a primeira década de Tito Lívio
(“Discorsi”) que as calúnias são perniciosas às
repúblicas. “(...) A calúnia deve ser detestada
nas cidades que vivem sob o império da liber-
dade (…) É preciso atentar para o fato de que a
calúnia dispensa testemunhos e provas: qual-
quer um pode ser caluniado por qualquer um”.
Na recente eleição presidencial, a democracia
e o republicanismo foram afrontados. A calúnia,
a difamação e a mentira deram o tom da cam-
panha política, em detrimento de uma discussão
mais clara sobre os planos de construção de um
futuro para o País. Pelas redes sociais, assistimos
a uma disseminação, quase sem precedentes, de
barbaridades – o que é pior, muito do que foi
dito sem provas e testemunhas encontrou eco
na chamada grande imprensa. Chegamos ao
cúmulo de transformarmos a eleição num plebi-
scito sobre a liberalização ou não do aborto – e
mais uma vez com os meios de comunicação
servindo de correia de transmissão.
A campanha do tucano José Serra apostou no
terrorismo da boataria, explorando – com com-
petência, é preciso dizer – a ignorância e os me-
dos de uma boa parcela do eleitorado. Collor
de Mello utilizou-se deste mesmo expediente
contra o Lula, nas eleições de 1989.
Os “colloridos” à época diziam que Lula iria “im-
plantar o comunismo”, tomar a casa das pes-
soas, as galinhas, os patos, os porcos, os carros.
Deu no que deu. Se voltarmos 46 anos
no relógio do tempo, nos depararemos com
movimento reacionário que gerou consequências
muito maiores. Em 1964, um padre irlandês –
Patrick Peyton – liderou e fundou uma entidade
chamada “Movimento da Cruzada do Rosário
pela Família”. Este movimento foi o embrião da
“Marcha da Família com Deus pela Liberdade”,
que precipitou a derrubada do presidente João
Goulart pelo golpe militar.
Ao apostar no voto e na influência dos setores
mais conservadores da Igreja Católica Romana e
entre as denominações evangélicas, o candidato
Serra foi longe demais. Num cartão entregue a
professores “convocados” pela Secretaria da Edu-
cação para um evento com o candidato tucano,
durante a campanha para o segundo turno, Serra
escreveu no verso: “Jesus é a verdade e a justiça”.
Desde a Proclamação da República o Estado é
laico – mas non troppo, em alguns momentos. A
Constituição de 1988 estabeleceu um Estado em
que as liberdades de crença e culto, contudo o
Estado laico ainda é uma meta a ser perseguida
pelo Direito brasileiro, como lembrou Túlio Vi-
ana, em artigo para a revista Fórum (edição 92,
p. 21). É preciso que nós, eleitores, aprendamos
a máxima: a César o que é de César, a Deus o
que é de Deus. A política é mundana, não está,
portanto, nas esferas da fé. Urge separamos as
duas coisas.
A grande arma contra a calúnia é a educação e
a informação isenta e de boa qualidade. Tenho
dito!
 ´
Historia ´
de Indios
que a imprensa nos conta
Por Ana Melo e Souza

Foto: Divulgação/Birdwatchers
Cena do filme
“Birdwatchers”,
de Marco Beccis,
produzido na cidade
de Dourados - MS
E m tempos de discussão sobre
demarcação de territórios
indígenas e conflitos entre índios e
fazendeiros, temas freqüentes na mídia
televisiva e impressa de todo o país,
vale a pena refletir sobre a história
que os noticiários nos contam. Acos-
tumada ao convívio com a mídia sul-
mato-grossense, durante os anos em
que morei na região, constatei que a
própria história da imprensa naquele
Estado está entrelaçada com a história
de seu desenvolvimento e formação
de sua identidade coletiva, incluindo
a história dos povos indígenas que já
habitavam aquelas terras quando, em
1882, o go-verno brasileiro passou a
arrendá-las, e hoje se concentram em
reservas, alguns em aldeias, outros às
margens das rodovias.
Grande parcela da população sul-
mato-grossense têm nos jornais da
região sua principal fonte de in-
formação. Desta forma, o trabalho
dos jornalistas contribui para uma
cons-trução da realidade e uma
imagem sobre os índios Guarani
Kaiowá e Nandéva, que constituem
a maior população indígena do MS.
São 47 mil índios dessas etnias,
muitos deles lutando pela recupe-
ração dos antigos territórios.
A criação de reservas indígenas,
iniciando o processo sistemático
confinamento dessas populações,
foi comandada a partir de 1915 pelo
Serviço de Proteção aos Índios (SPI).
Com a implantação das fazendas de
gado e das colônias agrícolas, a par-
tir da década de 1940, quando o
governo Vargas decidiu ocupas as
“terras vazias”, dezenas de aldeias
foram abandonadas e incorporadas.
Mas muitos não aceitaram ir para
as reservas e fugiram, passando,
nas décadas seguintes, a requerer
a posse de seus territórios tradicio-
nais. As mudanças culturais vividas
pelos povos Kaiowá e Nandéva ocu-
param as páginas dos jornais desde
então, destacando-se os casos de
violência, alcoolismo e suicídios que
se tornaram freqüentes nas reservas.
Atualmente, a cobertura da imprensa
passou a enfocar a perícia que está
sendo realizada por antropólogos e
arqueólogos sobre os territórios re-
queridos pelos indígenas.
Mas como esses jornais têm retratado
o processo histórico que levou às dis-
putas atuais? De que forma as infor-
mações transmitidas aos leitores têm
contribuído para uma compreensão do
contexto de tais disputas? É importante
destacar que a maneira como essas
informações chegam ao leitor contribui
para a formação de representações
sociais sobre os indígenas, podendo
determinar avanços ou retrocessos no
processo de reconhecimento étnico
desses povos e no aperfeiçoamento
democrático da sociedade. Sobre isso,
destaco duas questões que merecem
ser esclarecidas e que freqüente-
mente são desconsideradas: Uma de-
las é a generalização dos indígenas. O
“índio” não existe. O que existem são
os Guarani Kaiowá, M’biá e Nandéva,
os Terena, os Xavante, os Pankararú
etc, cada um desses povos com traços
e culturas diversos. O termo “índio”,
da forma como é utilizado, contribui
para manter o estereótipo do ín-
dio xinguano, moreno, cabelo liso
e olhos amendoados, uma imagem
propagada em livros didáticos e
na imprensa, que, além de não cor-
responder à realidade, faz crescer o
preconceito e a discriminação.
Outra questão relevante é o conceito
de territorialidade constantemente
propagado pela imprensa, que leva o
leitor a acreditar que a terra requeri-
da pelos índios é a mesma terra pelas
quais brigam os fazendeiros. Isto é um
erro. Se, do ponto de vista geográfico
as áreas são as mesmas, do ponto de
vista cultural os valores atribuídos a
elas por índios e não-índios diferem
em vários aspectos, envolvendo uma
cosmologia que necessita ser
esclarecida ao leitor a fim de evitar
opiniões equivocadas sobre a questão.
Para os não-índios terra é propriedade,
meio de produção, lucro e poder. Já
para os índios, os sentidos de terra
e cultura são indissociáveis. O lugar
vivido ou espaço vital, tekoha na lín-
gua guarani, está intimamente ligado
às raízes dos valores e da identi-
dade de seu povo. Assim, se uma etnia
perde seu território, perde também
as possibilidades de sobrevivência do
grupo, pois o território é o lugar sim-
bólico de sua convivência. Para não-
índios terra tem preço, para índios
não, pois território não é algo que se
possui nos termos do capitalismo. No
Mato Grosso do Sul, enquanto algu-
mas lideranças políticas ouvidas nas
reportagens defendem o modelo de
desenvolvimento capitalista que sus-
tenta o agronegócio, outras fontes
comprometidas com os direitos dos
povos indígenas têm sido deixadas de
lado na maioria das matérias veicula-
das pela imprensa.
Tais dados apontam que há redes de
significados envolvendo a problemática
das terras indígenas que vão além do
trabalho de investigação empregado
pelos jornalistas, que deixam de lado
informações sobre aspectos culturais
que seriam essenciais para uma me-
lhor compreensão do tema.
Ela Veste: Blusinha
Smack, Calça Jeans
Ecko Red, Top Ecko Red

Ele Veste: Polo Ecko

Unted, Calça Jeans Diablo
Ela veste: Blusinha
Smack, Saia Cintura
Alta Smack, Sandália
Pulo do Gato
Ele Veste: Camiseta
New Era, Bermuda
Venom e Tênis Clean
Ela Veste: Macaquinho
Everlast, Tênis Mad
Ratts

Ele Veste: Camiseta

775, Bermuda Blunt,
Tênis Mad Ratts
 O enterro do
determinismo?
Como explicar que o leitor insista em não ser conduzido pelos meios de comunicação?
O que ele tem de errado? Será que não leu as teorias de comunicação?
Pois é, desculpem o chavão, mas também aqui, Freud explica.

Por Fábio Sanchez

A s eleições presidenciais de 2010 legaram uma

herança pedregosa aos pesquisadores
do jornalismo. A vontade de eleger um candidato, majori-
tário na preferência dos meios de comunicação, levou-os
a publicar informações patentemente falsas, cabalmente
desmentidas pelos fatos, às vezes no mesmo dia da
publicação. Entre os fenômenos que se pode depurar
desse cenário há um funeral a ser cumprido finalmente
com pompa e circunstância, para o qual ainda precisam
ser convidados alguns resistentes partidários das teorias
mais tradicionais da comunicação: o funeral do determin-
ismo defunto. Ou pelo menos do determinismo como con-
hecemos. Ficou evidente no paradoxo que é o presidente
Luís Inácio Lula da Silva, amado por mais de 80% do povo
brasileiro e odiado pela maioria dos jornais, revistas e
emissoras de rádio e TV do país, que o determinismo
dos meios de comunicação, sua capacidade de conduzir
a agenda e as opiniões dos leitores e telespectadores,
assim como o utilitarismo do qual eles seriam in-
strumentos, o controle das elites tradicionais sobre
as massas também tradicionais, tudo isso que já está
sendo revisto pela academia, precisa ser urgentemente
trancado nas páginas da história dos conceitos semi-
ultrapassados.
Digo “semi-ultrapassados” porque um dos fenômenos
a ser estudado é o envolvimento militante de um pú-
blico geralmente apático à política, de fato levado à
militância pelos meios de comunicação. Vizinhos,
familiares e amigos com os quais eu
nunca havia discutido política, me
mandaram em 2010 e-mails criticando
a candidata governista por conta do
horror que estava o país. Eles ignor-
aram os fatos da macroeconomia e do
contexto analítico de estatísticas sérias
e se informaram em veículos que esco-
lheram ver um país horroroso, cor-
rupto, loteado por políticos inescru-
pulosos, mal conduzido, na iminência
de eleger uma seqüestradora, e resolv-
eram militar contra esse cenário que
lhes era exposto. Minha vizinha, neo-
militante política, e creio que repre-
sentante ideal dessa nova militância
não se conformava. “Como é posível?
Será que as pessoas não estão vendo?”.
Cabe mesmo perguntar: o que a grande
maioria da população viu nestas
eleições?
Cabe considerar aqui a aplicação das
mais recentes teorias de recepção, as
que seguem rumo à investigação do
perfil subjetivo do receptor, inves-
tigando com tais ferramentas esse
ethos idiossincrático e complexo. sual, se o poder do sentido encontra-se
O funcionalismo com que se via até
a década de 70 o relacionamento do
consumidor de notícias com a mídia
a adoção cada vez mais intensa de cor-
rentes como a chamada de “Usos e Gra-
tificações”, empenhada em entender
quais são as satisfações dos usuários das
informações. As teorias deterministas,
como a do agenda setting, foram relativ-
izadas pela noção de que a influência
da mídia, como “mestre de cerimônias”
da pauta, é limitada, por causa da sele-
tividade dos receptores; não é direta,
porque há intermediários; e não é ime-
diata, porque o processo de influência
requer tempo.
É uma revisão perigosa e pode compro-
meter alguns paradigmas caros aos co-
municadores em geral. Como lembram
Armand e Michele Mattelard, em seu
História das Teorias da Comunicação, a
valorização do receptor, com a conse-
qüente relativização do poder dos em-
issores, principalmente nos ambientes
da publicidade e da indústria cultural, é
impactante pois, por exemplo, “para que
se preocupar com o comércio desigual
dos programas de televisão ou de filmes
no mercado internacional do audiovi-
nas mãos do consumidor?” Além disso,
vendo-se forçadas a se remodelarem,
teorias como as de
agenda setting , ao se despojarem de
seu acento condutivista e se torna-
rem mais qualitativas, conduzem a um
avanço em direção a uma visão cogni-
tivista e construtivista da represen-
tação política, da qual são oriundas.
Está sendo estabelecida o que parece
ser uma nova sociologia dos meios, mais
atenta aos aspectos constitutivos da
pluralização promovida pela comunica-
ção e que supera a visão que a abordava
como função ou ideal a ser alcançado
Algumas correntes de pensamento
anteciparam-se ao jornalismo nesse
debate e vêm trazendo o que considera-
mos bom conteúdo para esta proposta
desde os anos 60. Os estudos feministas
de Janice Radway (1983 e 1985) e David
Morley (1986), sobre visões diferentes
dos membros da família na audiência
à TV, ou sobre a leitura de romances
femininos, destacam os relacionamen-
tos de poder entre os sexos e como isso
interfere na recepção das informações.
A teoria literária, bem antes do jor-
nalismo, também tem produzido farto
material do interesse desse projeto. No
que se refere especificamente às teorias
de recepção no jornalismo, como indica
Nilda Jacks em seu Meios e Audiências –
a emergência dos estudos de recepção
no Brasil, novas tendências surgiram
de modo a provocar a superação das
teorias funcionalistas sobre recepção
já nos anos 70, quando começam a
ser estudadas novas tendências como
o pós-estruturalismo, a neo-etnografia
e outras que trocam o empirismo pela
abordagem interpretativista. Os procedi-
mentos metodológicos para se avaliar
o processo começam a apresentar no-
vas circunstâncias e atores que revo-
lucionam a teoria da recepção. Surge
no cenário a força dos grupos sociais,
descobrem-se os líderes de opinião e
a interdependência de variáveis soci-
ológicas, a exposição seletiva à mensa-
gem e o fluxo da informação em duas
etapas, com o surgimento de um a pos-
teriori que antes era desconsiderado no
cenário. Teorias bem mais recentes ofe-
recem abordagens muito interessantes
nesses novos jeitos de ver o contexto.
Um exemplo é o do “efeito terceira pes-
soa”, que está sendo descoberto por
um número cada vez maior de pes-
quisadores. Destaca esta teoria que um
leitor de notícias sempre pensa que os
outros são mais influenciáveis do que
ele, quando é uma notícia de má
influência (que estimularia o consumo
de bebidas ou o fumo, por exemplo),
ou que ele é sempre mais influen-
ciável do que os outros, quando se
trata de uma boa influência (que le-
varia o leitor a preservar a natureza,
por exemplo). Que tipo de processo
se dá na cabeça do leitor para que ele
ache sempre que vai reagir às notícias
de forma melhor do que os demais
leitores?
Aqui também: Freud explica
Na busca por novos instrumentos que
possam ser prismados com as teorias
de recepção e ampliá-las, estão entre
os que podem dar boa contribuição
a psicanálise e o freudismo como um
todo, que há um século estuda a re-
cepção da informação.
Freud já apontava, em 1908, a catarse
causada pela leitura das fantasias dos
escritores, que proporciona a expia-
ção das fantasias próprias do leitor.
Ele mesmo desenvolveu essa idéia
em duas vertentes, uma na constante
interpretação do aparelho psíquico de
cada indivíduo, e outra na análise dos
aspectos referentes à psicologia cole-
tiva. Em “Totem e Tabu” (1912) e em
“Psicologia das Massas e Análise do
Eu” (1921), Freud desenvolve reflexões
sobre a identificação e o pensamento
coletivo com grande intercalação com o
subjetivismo individual. Fala da iden-
tificação do grupo com o líder e que
esta identificação pode ser patológica.
Fala do que chama de “solidariedade
social”, uma identificação com quem
está próximo, e também fala da for-
mação de estruturas psíquicas (como
a do superego) a partir de matrizes
consolidadas pelos pais. Considera que
“o homem é veículo mortal de um tipo
de germoplasma, de algo que veio de
outro e será deixado para outros”. Uma
estrutura conceitual que abraçaria,
por exemplo, o que Nelson Rodrigues
chamou de “complexo de vira-latas” do
brasileiro médio.
Para Freud e para a psicanálise pós-
freudiana, este conjunto de estruturas
mentais, quando mediadas pela iden-
tificação, é determinante no relacio-
namento com o ambiente e na maneira
como as informações são interpretadas.
Isso compõe um acervo conceitual que
pode gerar campos alternativos de
pesquisa nos estudos da recepção.
Os jornais criticam o governo Lula, mas
o presidente aparece carregando uma
geladeira de isopor, coisa que o leitor
também faz. O que pesa mais? A crítica
do jornal ou a identificação com um líder
reificado, humano, tão próximo?
Tome-se por exemplo um esquema
pensado pelo próprio Freud quanto às
possibilidade de identificação. Segundo
ele, um ser humano pode identificar-se
com uma pessoa de três formas: que-
rendo tomá-la como objeto sexual (no
sentido freudiano, isso não significa
apenas sexo genital, mas todo um cír-
culo de relações vitais); querendo
tomar o objeto sexual que pertence a
essa pessoa (para poder amar a esposa
de alguém, por exemplo); ou ainda
querendo sentir o que a outra pes-
soa sente (num exemplo citado pelo
próprio Freud, chorar junto com uma
amiga que recebeu uma carta triste de
algum amor secreto, não por solidarie-
dade, mas porque também gostaria de
ter um amor secreto para poder chorar
por ele). Um sistema que poderia servir
à análise da recepção de notícias, se
devidamente estudado.
Alguns autores se dedicaram a estudar
especificamente o processo de recep-
ção das informações por meio da psi-
canálise, embora não tenham investido
especificamente no jornalismo, mas
sim em ambientes como o da indústria
cultural (como fez Slavoj Zizek em Lac-
rimae Rerum – Ensaios Sobre Cinema
Moderno, e o da publicidade, como fez
Vladmir Safatle, no ensaio Depois da
culpabilidade: figuras do supereu na
sociedade de consumo, que é um dos
capítulos do livro Zizek crítico – Política
e psicanálise nas Era do Multicultura-
lismo.
As grandes mudanças tecnológicas
dos últimos anos, como por exem-
plo a diversidade trazida pela inter-
net e, ainda mais, a relativização
trazida pela TV a cabo da experiên-
cia coletiva de assistir à televisão
(com a TV por assinatura, passa a
ser uma experiência mais individual
e solitária, além de em certa medida
libertadora), trazem a necessidade de
se pensar o jornalismo nesses novos
contextos. A reflexão dele por meio
da teoria da recepção nos dá ainda a
possibilidade de ingressar de modo
mais vertical num ambiente que
parece determinar e se realizar com
a ampliação do individualismo, e por-
tanto do subjetivismo.
Os instrumentos teóricos que se pode
utilizar para compreender esse contexto
permitem agir no interlocução entre a
moderna teoria da recepção e as inter-
pretações mais recentes realizadas no
ambiente psi sobre recepção de infor-
mações, e mostram que essa relação
multidisciplinar é necessária.
 n d i n g a
Ma e u i r até a e
n c r u z ilhada

e J e s us r to e resolv parado s air de

a d á c e p re s d e
a r c e lino Li
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q u e nada d m despacho pois, já ante
Por M a q u e les em averia algu ais fortes, lhe das t ravava,
d h m - ó
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ra um rificar se lá n deveria ser ítimo, escap alho, o mic costuma
e g b ,
para v a mandinga , francês e le moço, no tra intas-feiras ozido na
h o u v esse p e r f u me t e s d o al n te à s qu a : o j i ló, c s, pegou
se ro de nheiro! An ah, justam e d’águ ressa
, o v i d a , a g o t a o à s p
casa u - se no b diente, que da refeição, s engolir tud e caótico etro
p a ti f o x p e ra p ó s d r m ô m
es e o
ndo o puxado. À h a. Decidido, 3 quilômetr m enorme t ançar
a o e
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am a mais a z edar iu contra 1 cado em u to para alc -
i n d s a ,
ser a p e l a espo i r e s g rim fe j o , indi v a resolu as orienta
r a ra b a s ta
véspe óvel. Só pa ao mínimo nco. Mas e forme rezam sos-
m o a n ,
o auto s, sem direit aganda de b squerda (co ó e, depois Ainda
u p e b s. as,
31 gra ue fazia pro a bicuda de o maldito e orrinhaçõe a placa “Obr mas
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digital za, lá dar um hutar sem d rpresas ou a arou-se com e de alguém o
u c u p ã n
a encr acumbas), dável, sem s tretanto, de irigidos à m cruzilhada, a
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 Foto: Lynett
2010:
Uma nova odissEia no espaço
Por Hemerson Brandão

Concepção artística do planeta Gliese 581c, possivelmente o primeiro planeta habitável encontrado na história

E m “2001 – Uma odisseia no espa-
ço”, clássico da ficção científica
de Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke,
vemos a humanidade dando seus
primeiros passos na busca pelo contato
com formas de vida extraterrestres.
Mais de quarenta anos se passaram
desde o lançamento do filme, e ainda
hoje continuamos a engatinhar nessa
procura por nossos irmãos das estrelas.
Ainda tecnologicamente e intelectu-
almente longe de comprovar, ou não,
a existência de vida fora da Terra,
a cada ano novas descobertas tem
demonstrado que a vida pode ser algo
bastante comum no Universo. Em
2010, ano que foram feitas impor-
tantes descobertas como a presença
de água em lugares antes imaginados
secos, e novos ambientes com possibi-
lidade de abrigar a vida tem estimulado
a imaginação de cientistas e do grande
público na resposta da questão funda-
mental: Estamos sós no Universo?
A água é considerada um elemento
essencial para que a vida floresça.
Dessa forma, encontrá-la significa au-
mentar as chances da existência de
seres vivos em outros lugares do Uni-
verso.
Em fevereiro, a sonda Cassini, que
orbita o planeta Saturno desde 2004,
reforçou as suspeitas que existe um
mar subterrâneo sob a superfície do
satélite Encelado. A sonda capturou
imagens de vapor de água e partículas
de gelo espirrar por rachaduras na
superfície e que são projetados para
o espaço a grandes altitudes. Junto
com esse material foram identificados
hidrocarbonetos, que somados com a
água em estado líquido no subsolo, se
tornam em ingredientes fundamentais
para o surgimento da vida.
Titã, outra satélite de Saturno, onde
já foram identificados elementos
químicos que poderiam sustentar
formas de vida, revelou em junho
possuir também um oceano em estado
líquido, o que aumentou as esperanças
de astrônomos de que possam existir
seres vivos por lá.
Marte também ganhou o noticiário em
setembro pela divulgação dos dados
da sua atmosfera, obtido pela sonda
Phoenix, que pousou no polo norte do
planeta. Análises dos gases do planeta
vermelho indicaram que existiu água
em estado líquido na sua superfície,
em temperaturas próximas do con-
gelamento, num passado próximo
e até mesmo em tempos modernos.
Jatos de água e gelo em Encelado indicam a presença de um mar subterrâneo
maior. Pieter van Dokkum da Univer-
Foto: NASA-JPL-Space Science Institute
sidade de Yale, anunciou no início de
dezembro um estudo mostrando que
a população de estrelas pequenas e
de luz fracas em galáxias, conheci-
das como anãs vermelhas, pode ser
maior do que se esperava. Por serem
de fraco brilho essas estrelas eram
difíceis de serem observadas, mas
novas observações do Observatório
Keck no Havaí mostraram que elas
estão lá fora e que o censo de estrelas
precisará ser triplicado. A conta an-
terior indicava que o Universo possuía
em torno de 1 setilhão de estrelas
(o número 1 seguido de 24 zeros).
A sonda já tinha encontrado gelo na Desse total de estrelas estima-se
superfície marciana em 2008. que cerca de 10% delas tenham
Até mesmo lugares que eram con- aparência similar ao Sol, e que ao re-
siderados áridos, como a Lua e em dor delas poderiam existir trilhões de
asteroides foram detectadas neste ano planetas parecidos com o nosso.
a presença de água. Se seguirmos as leis probabilísticas, o
Universo hoje deve estar fervilhando de
Essas grandes descobertas se resumem formas de vida, em diferentes estágios.
a apenas à nossa vizinhança planetária, Descobertas tem mostrado que os
mas 2010 também será marcado com ingredientes que formaram a vida na
novidades em lugares mais distantes. Terra estão espalhados por todo o
Com massa entre três e quatro vezes Universo, e pela quantidade de estrelas
maior que a Terra, o planeta Gliese e planetas com ambientes propícios
581c, descoberto em 2010, é o pri- para vida, é muito improvável que a
meiro planeta parecido com o nosso, vida não tenha surgido em pelo menos
descoberto fora do Sistema Solar, que mais um planeta além da Terra. É claro
possui condições de possuir água que a ciência não se sustenta apenas
em estado líquido em sua superfície, de leis da probabilidade, mas para
atmosfera e principalmente, elementos apimentar a questão fica uma frase do
químicos para ser habitado. famoso astrobiólogo estadunidense,
Outra descoberta extra-solar é que Carl Sagan: “Se não existe vida fora da
o Universo, que já era considera- Terra, então o Universo é um grande
do imenso, em 2010 ficou três vezes desperdício de espaço”.
 Foto: NASA-JPL-Space Science Institute
Satélite Titã possui ambiente propício para o surgimento da vida
 Foto: NASA-JPL
Concepção artística da superfície do satélite Titã, onde pode existir vida
 Foto: NASA-JPL-JHUAPL
A busca por ingredientes para a visa se estende até mesmo aos asteróides. Na foto o asteróide Eros
Buenos Aires;
Um destino a ser visitado,
apesar da rivalidade
Por Luis Pires Varinha

José Francisco de San Martín y Matorras

N inguém sabe precisar onde nasceu
a rivalidade entre brasileiros e ar-
gentinos.
Principalmente em Buenos Aires,
capital federal do país. Há indícios
de que ela venha de tempos colo-
niais, quando portugueses disputa-
vam palmo a palmo com os espanhóis
as terras do “Novo Mundo”. Desen-
volveu-se após a independência de
ambos, quando os dois países chega-
ram a pelear na Guerra Cisplatina,
entre 1825 e 1828, pela posse da
Província Cisplatina, região hoje ocu-
pada pelo Uruguai. Na historiografia
argentina o conflito é denominado
como Guerra do Brasil. E cresceu nos
tempos modernos quando passou
para dentro dos campos de futebol. O
jogo entre os dois selecionados é con-
siderado um dos mais importantes do
futebol mundial. Para se ter a idéia da
tamanha rivalidade basta dizer que
em 114 partidas que disputou com a
camisa do Brasil, Pelé sofreu apenas
12 derrotas. Quatro delas foram con-
tra a Argentina. Nos anos 70, para
um time brasileiro, disputar uma
partida da Copa Libertadores em solo
argentino era quase sinônimo de der-
rota e pancadaria.
Essa inimizade histórica gerou o es-
tereótipo do argentino arrogante,
que domina o anedotário nacional.
Mas quem se livrar deste preconceito e
se aventurar a visitar terras argentinas,
certamente vai se surpreender. Os ar-
gentinos são muito mais cordiais do
que se imagina, muito menos soberbos
do que indica o estereótipo. E falam
muito mal do país e dos seus políticos,
assim como os brasileiros.
Buenos Aires,
um pouco de sua história
Buenos Aires foi a primeira metrópole
sul-americana. Em 1940 já ultrapas-
sava a cifra de 2,5 milhões de habi-
tantes, contra 1,8 milhões do Rio de
Janeiro e 1,3 milhões de São Paulo,
fato notável se levarmos em conta
que, na época, a população argentina
era um quinto da do Brasil.
Foi fundada pela primeira vez em
1536 por Pedro Mendoza, para em
seguida ser destruída pelos índios,
que rechaçaram os espanhóis. Em
1580, porém, o reino da Espanha
incumbiu ao soldado Juan de Ga-
ray a missão de reconstruir a ci-
dade. Ele plantou uma árvore que
chamou de Justiça onde hoje se
localiza a Plaza de Mayo (e a Casa
Rosada, atual sede do governo
federal), em volta da qual a cidade
se desenvolveu.
Em seu primeiro recenseamento, em
1869, Buenos Aires contou 1,737 mi-
lhões de habitantes. Entre 1857 e
1930 a cidade recebeu 6,3 milhões
de imigrantes, vindos de diversas par-
tes do mundo, mas principalmente da
Itália. Relativamente foi a mais intensa
do Novo Mundo, o que demonstra a
importância da imigração para o ecle-
tismo da cidade, onde convivem
pessoas de diversas esferas sociais, cul-
turais e religiosas (a comunidade judia
é uma das maiores do mundo).
Estima-se que a população atual
gire em torno de três milhões de
habitantes, que sobe para dez mi-
lhões se considerarmos a região
metropolitana.
Uma cidade
que merece ser descoberta
Buenos Aires é o destino argentino
mais visitado pelos brasileiros. Trata-se
de uma cidade cosmopolita, que teve
seu crescimento arquitetônico plane-
jado. Com exceção das ruas do Centro
Histórico, as demais são largas, o que
faz com que o trânsito, apesar de in-
tenso, seja muito menos caótico que
o de São Paulo.
A boa conservação de seus prédios
em estilo barroco e neoclássico, dá
à cidade certo ar europeu, motivo de
orgulho para os bonaerenses. O clima
é agradável durante todo o ano, com
temperatura média de 18ºC. De setem-
bro a dezembro se registra a estação
das chuvas, mas os dias ensolarados
compensam o risco de se visitar a ci-
dade nesta época. As manhãs são
frescas, com temperaturas que sobem
durante o dia, com acentuada queda
à noite. Ideal para explorar suas in-
úmeras atrações, dentre as quais as
dezenas de parques extremamente
arborizados, terminando a noite sab-
oreando um bom vinho, acompanhado
de um corte de carne, no qual os ar-
gentinos são insuperáveis. E tudo por
um preço baixo, já que nosso real está
supervalorizado em relação ao peso.
Só para se ter uma idéia, em restau-
rantes tradicionais da cidade é possível
degustar um menu com entrada, prato
principal, vinho e sobremesa, por cerca
de 70 pesos, convertidos em R$ 30.
Uma verdadeira barbada gastronômi-
ca! Assim como o samba é a expressão
cultural típica do Rio de Janeiro, pelas
ruas de Buenos Aires se respira o tango,
que nasceu na década de 1880 dentro
dos prostíbulos localizados à beira do
porto, em La Boca, evoluiu e atingiu
a condição de arte, principalmente gra-
ças a Carlos Gardel, o mito que o levou
aos quatro cantos do mundo. É uma
música triste, dramática, definida pelos
portenhos como “sentimento que se
dança”.
Buenos Aires é uma cidade eclética,
capaz de juntar a tradição dos shows
de tango de San Telmo à modernidade
dos restaurantes de Puerto Madero ou
às lojas de design de Palermo Soho. Ao
mesmo tempo é um centro de com-
pras, principalmente na região da Calle
Florida, onde se localiza a Galeria Pací-
fico, uma das mais chiques do mundo.
É também a cidade dos grandes mu-
seus, como o de Belas Artes ou o MAL-
BA, que concentra obras dos princi-
pais artistas das Américas. Ou ainda
é a cidade dos inúmeros pubs, frutos
da influência inglesa, ou das baladas
“chiques” da Recoleta. Cosmopolita,
surpreende a cada esquina e merece
ser descoberta. E o mais importante:
custa menos que uma viagem para
nosso Nordeste.
A primeira linha do metrô de Buenos Aires (chamado de subterráneo, ou somente Subte) foi inaugurada em 1 de dezembro de 1913
Região Central: edificações antigas
Buenos Aires - Plaza San Martin
Obelisco da Av 9 de Julio , um dos símbolos da cidade
Fundado em 1858, o Tortoni é um dos cafés mais charmosos da capital argentina
 Foto: Luis Pires Varinha
Instalação em homenagem à inauguração do Cemitério Argentino de Darwin, na ilha Soledad, a mais oriental das duas principais do arquipélago das Malvinas
Região Central de Buenos Aires
 Foto: Luis Pires Varinha
Vista do Hotel onde o repórter se instalou na capital argentina: tradição e modernidade na Plaza del Congresso
 Foto: Luis Pires Varinha
Umas das
réplicas da famosa
escultura
O Pensador de Rodin.
A original está em
Paris e a outra
cópia no Canadá
 Deu na web em 2010
Por Osni Tadeu Dias Quebre o silêncio
O filme mais parece uma obra de terror.
YouTube O mais assustador é que não é ficção, mas
A empresa fez um site dedicado a re- trechos de depoimentos reais de vítimas
trospectiva 2010 em que agrupa os vídeos de tráfico de seres humanos sussurados em
mais executados durante o ano, além de várias línguas. A peça faz parte da campanha
um blog que tem por objetivo “ajudar” os Aja Agora da ONG Stop The Trafikk e é
usuários e captar a essência ou o “zeitgeist” uma denúncia ao tráfico nos EUA.
do ano que terminou. A criação é da agência Rabbit.
http://migre.me/33IWD
Vale a pena conferir.
Combustível barato
Zeitgeist 2010: Year in Review Com o Guia Postos – Mapa colaborativo dos
http://migre.me/33ILL preços e qualidades dos combustíveis no
YouTube Rewind 2010: Year in Review Brasil – você pesquisa o combustível barato
http://migre.me/33IPo mais próximo de sua casa. Experimente.
YouTube Trends: A Quick Overview http://migre.me/33IYt
http://migre.me/33IRZ
Experiência Multimídia
O site Reportagem 360º oferece um giro pela
HOME história de Cali, na Colômbia. Como sem-
Documentário lançado em 2009 e produzido pelo jornalista, fotó- pre, o design e informação de um modo
grafo e ambientalista francês Yann Arthus-Bertrand, HOME é in- muito bem arrojado. Não deixe de ver, vai sur-
teiramente composto de imagens aéreas de vários lugares da Terra, preender você. http://migre.me/33J07
mostrando a diversidade da vida no planeta e como a humanidade
está ameaçando o equilíbrio ecológico. O filme foi lançado simultanea- Quer saber quem produz o site?
mente ao redor do mundo nos cinemas, em DVD e no YouTube. Veja aqui http://migre.me/33J1U
IMPERDÍVEL. http://migre.me/33IUz