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INTRODUGAO EXPERIENCIA CLINICA COMO UM SISTEMA SELF ye oat 9 JUN he. rs ae © QUE E UMA CLINICA GESTALTICA? dos cinicos Stegos que, ao operar a 1 parresia. (ou u dito to verdadeiro sobre aquilo que se oculta na vida civilizada), provocam um des- g vio (parénklises) na forma como a cidade vé a si propria, apon- 3 tando_para_a_presenca daquilo que, mais tarde, o epicurista 4 ucrécio denominou de elemento amen), ‘4 Transposta para o campo das relagées de confidencialidade - é acontecam elas na rede de atenco basica e nos servicos substitu- oc tivos em satide mental do Sistema Unico de Satide (SUS) em 3 nosso pais, nos programas do Sistema Unico de Assisténcia a Social (SUAS) brasileiro, ou, ainda, nos hospitais e ambulatérios, SY nas escolas e nas organiza¢ées, nos consultérios particulares ou a 2 céu aberto (como nas praticas de acompanhamento terapéutico) é ; -a clinica € 0 exercicio do dizer tudo, ou do deixar-se dizer mais _ 3 além ou mais aquém do que ja € sabido, como se assim pudésse- mos transcender as posi¢Ges escolasticas que adotamos sobre nds mesmos e sobre os outros. Trata-se de uma autorizacao ou aco- Thida aquilo que no discurso e na ac4o causa desvio, desviando-se do caminho (conforme a etimologia da palavra “desejo’,! ou desviando o proprio desejo; porquanto o exercicio do desvio nado esta orientado por nenhum dogma, meta ou finalidade. Fazer clinica, nestes termos, € encontrar e acolher, no discurso e na agio do(s) interlocutor(es), 0 estranho ou inesperado que possa(m) produzir. pea C el el | i) ee MARCOS JOSE MOLLER-GRANZOTTO # ROSANE Loven Logo, a clinica distingue-se da pratica d de um saber (ou phdrmakon), como é 0 caso da (klinikés) e de todos os discursos cientifcos ite a gue das priticas de sugestao alavancadas por metas oa a interessemos pelas priticas dogmiticas, muito utes nas vit, s6es de sofrimento, ou pelas praticas terapéuticas, que podem mobilizar a emancipacdo das pessoas por meio da adesio a cer. tos ideais (politicos, estéticos, religiosos etc). Porém, seja mais ‘ou menos adiante dessas modalidades de intervencao, interes. -nos resgatar a pluralidade de pontos de vista com base nos quas determinada vulnerabilidade” pode ser compreendida e modi cada, pois acreditamos que em toda situacio de contato, inclu: vve nas situagées de vulnerabilidade, podemos encontrar sempre ‘mais de uma forma de ver e, por consequéncia, de nos poscionsr ¢ intervir. O desvio de uma dimensio a outra amplia as posi lidades de o clinico ser surpreendido por aquilo que nenhuma teoria poderia antecipar, precisamente, os ajustamentos inéditos que o usuario ou consulente? produz ante as diferentes varidveis socioambientais em que esté engajado ou a que esta submetdo. De sorte que a clinica, como pritica do desvio, é para nés uma maneira de favorecer 0 surgimento do inesperado mediante 0 “Vexercicio do deslocamento de uma dimensio a outre. E é nesse sentido que, para respaldar criticamente nossa pré- tica clinica, recorremos & teoria do self (considerada um marco diferencial e ndo um dogma ou um ideal). Essa teoria autoriza 9 reconhecimento de pelo menos trés maneiras distintas de inter. rogar a experiéncia: a ética (que sempre leva em conta uma. gene se), a antropolégica (que sempre considera os recursos socials atuais) e a politica (voltada as formas de poder que definem ® desejo ou virtualidade). Cada maneira de interrogar serve de base para a outra, ao mesmo tempo que impede que cada ume seja considerada absoluta, 0 qué significa no haver entre sintese fechada e transparente, Ao contrario, entre as diferente logmitia de apicacig deve poder haver diferencia~ aan pécie de indi- ‘sempre implica uma €5f razio por que denominamos viante de clinica gestaltica formas de interpelar a &xP ‘0,0 que, paradoxalmente, siete tem sintese, qual Gestall, nnossa pratica de acolhimento ao des: {osso$ MOTIVOS EM TORNO DA TEORIA DO SELF PassapAs QUASE SETE DECADAS de sua criagdo, a teoria do self de PH (1951) segue sua trajetéria de ilustre desconhecida, a0 menos para grande parte dos praticantes da Gestalt-terapia Dra- ileira, E ndo faltam, aos formadores em nosso vernaculo, boas justificativas para essa solene omissao: uma teoria vertida a0 portugués somente no ano de 1997, uma teoria que vincula Tematicas de dificil compreensio (extraidas da teoria husserliana a intencionalidade, da teoria reichiana da represséo e da segun- da t6pica freudiana), uma teoria em desuso na maior parte dos ~Gentros de formacao em Gestalt-terapia na América Latina, entre ~fmuitas outras possiveis e frequentes alegagdes. O trabalho de alguns diligentes reformadores‘ da teoria do self em terras brasi- leiras Hido foi suficiente para reverter essa situacdo. Preocupados “con @ qualidade tedrica da Gestalt-terapia praticada entre nés, eles procuraram traduzir essa teoria segundo uma terminologis mais simples, no entanto desvinculada das matrizes que efetiva- ‘mente ocuparam Paul Goodman, seu confesso autor e redator®. A possibilidade de pensar, a luz da teoria do self, o vinculo entre © clinico e 0 consulente, bem como as diferentes formas de ajus- tamento que esse vinculo viabiliza, permaneceu inexplorada. E verdade que Fritz Perls ~ a quem Paul Goodman deve boa re] ers tg que orientaram essa peculiar feno- menclogia da prtica analitica que € teora do self - ti logo se suadgu ds Nove York pea a Califérnia, abandonou a elaboragio “Marie aka Cibo Poe. Goodman, Como bem mostrou Jean- . P. 37), nos anos 1960 Perls estava preocupa- com a recedes clini plo pico norte american _por isso declinow da perspectiva de campo, que orientou sexes do Gestalt tropa (1951), em f¥0F de um referencia inapage “eo, como aqule presente na psicologis do ego com ol on mericanos steam nai faniiarzads. Ax consequvei dese deci de Pelco bem conhecidas expan, em certa medida ‘0 esforgo dos gestaltistas das geragdes seguintes, sobretudo na dkeada de 1960, nos Estados Unidos na Earope, no seni de reablitar a teoria do sell. Aina, aust dese tori ens, prineipalment na Anrca Latin, a edogo da Geta ering timconjunto de técnica cj fang seria promover un sats levi inspira nos dei ivertrios do movimento de contra calaranrte-amercano dos ano 1960, Ousnds a usc da ters dete da Geta teapa servis de pretest para inc Se eos de todo ipo. sem a devia ein que deseo ini taracterzouo modo como os fandadores da Gea rai dia Topam com os sabres de sua pce "A mustoca dam referencia eeivo rigoroso ~ como a teoria do self -contribui, inclusive, para aestagnacio da clinica pevicaem oro deum count de sintomas nei tetpaos,dsriminados antes segundo um idea de iberdade {edna edo oclre orteamercana) do qo am Isis das formas (Gate) de ato cides nos diferentes con textos saciais © antopoligcos Por nto. dspor dena fee refetva ge permite oo nics acompanhat 38 transformer comportement devorenes, por exempla do dean ds sigutieantes polticos do pode (dal verdad, fevemo ep enn, “intjtr) a in gestlticn So _Botsem alguns catos, uma pritica obsoleta, Nio apenas isso, ela ‘ina io cones frmar come um mode de itervegia em comporaments que apr de anus pater do sel) (#6 sma fran compen pnd ces sismen polio aaropagen nS aee Nao tio teoricamente indisciphinados como os partidarios de rrtéia’ nem tio teoricamente indepen uma Gestalt-terapia“ times como os tebricos eformadores,buscamosinspiragio NO tebalho de Jean-Marie Robine’, na Franca, ¢ de Gordon Wihaller®, nos Estados Unidos, visando estabelecer uma especie rector & teora do self tal como ela foi pensada em 1951 so va nova descrigdo dessa teoria com base nas referer ides, mas no evidenciadas, com a5 qual especial p. 189) estabelecea uma releitura imple Gus ad Pal Goodman 201 a lopn feudiansepraeaiaasfandada na np de Huse da tera do hbo (moto € roi Mee Ponty «sm convergnsa com 9c lngwee pragmatata de fon Dewey Nios trata de um ee encase deus aps as poids onan foulades tris de Pl Goodman cin ee pomento inant. Aa, como bem enbrou ere (991 p. 1), ¥em sa [de Goodman] contribuiso sat ets cponbuma tena connie de Gevtalerapia ie mee cae usr considera, Apoidos na obra Gestalt re isi) nosso efor ae ag consisia em Pega re ctosiepm a sora J lf e que tatament es a in fim de eracteriny as le da feromeeloga, ‘SSpeuatama da ptcologi da Gstall, das pals res see orateclan ume cine epecicament gest see ina alc a formas qu se configram nos die Se aRposimerbjtvs (PH, 9S p46), Nossa pesquisa ‘Sic em 2000 desde I tvemos a hone de diseutaem Ciera ales, em cngresor ineraconls em. Maceo (anon, Cordoba 2007), Made (209), Pipi (2011) € ul C12) em cngtsornaconais em Gramado 203), bein (205), Rio de Janeiro (007), Vitra (209) «So Paulo GDI), em vresencontos regina sabretdo, ma Iivdae pblca neante de dics de dla ue desen- tolvemos desde 202 inttulda“Seminrios de Fenomenologa se MARCOS J0s4 MOLLER-GRANZOTTO E ROSANE LORENA MULLER-caNzorro € Gestalt” (Florianépolis, Brasilia, Joinville, Belém, Rio d Janeiro, Caxias do Sul, Fortaleza, Recife, Juazeiro do Norte, ‘Campo Grande, Salvador e Porto Alegre, no Brasil; e Madr Albacete e Castellén, na Espanha). A versio completa dessa pes. quisa sobre o sentido fenomenoldgico da teoria do self esté pu- blicadanolivro Fenomenologiae Gestalt-terapia(Miller-Granzotto e Milller-Granzotto, 2007, vertido ao espanhol em 2009) ¢ os trés primeiros capitulos que ora apresentamos so uma sintese dela!!, Nos termos dessa sintese e de outros trés estudos - um sobre a orientagao ética, politica e antropolégica da teoria do self em sua aplicagio clinica, outro sobre as formas clinicas da Gestalt-terapia,e o terceiro sobre a génese das funcBes e modos de ajustamento que caracterizam um sistema self no contexto da Vida infantojuvenil -, almejamos, com esta obra, estabelecer os conceitos-base com base nos quais haveremos de pensar nossas priticas clinicas e que aqui nos aventuramos a subscrever sob 0 titulo de “Clinicas gestalticas”, conforme orientacio extraida da propria teoria do self, em passagem em que seus autores (1951, 1-235) vinculam as clinicas gestilticas as fungées do self: “como distirbio da fungio de self, a neurose encontra-se a meio cami- ho entre 0 distirbio do self espontaneo, que é a afligao, ¢ © distirbio das fungdes de id, que é a psicose”, Manifestamos aqui nosso profundo agradecimento a0 Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianépolis, por haver acolhido nossas Pesquisas, as quais, a sua vez, encontraram nos colaboradores do Instituto Miller-Granzotto de Psicologia Clinica Gestitica o esteio crtitico necessério para que pudessem cumprir sua tarefa ética de estabelecer um marco diferencial que nos advertisse sobre os riscos inerentes a0 oficio de acolhimento as diferenas formuladas por nossos alunos, interlocutores e consulentes, nas diferentes configu- ages clinicas que pudemos construir ao longo destes anos. t ye de valor que as ciénci CAPITULO 1 TEORIA DO SELF COMO FENOMENOLOGIA DA EXPERIENCIA CLINICA GESTALT-TERAPIA: UM PROJETO FENOMENOLOGICO? No prercio A oBrA Gestalt terapia, seus autores ~ Perls Hefferline e Goodman, doravante mencionados pela sight PHG = dio a conhecer 0 propésito deste empreendimento escrito na fronteira entre a pratica clinica e a reflexio tebrica, cujo desfe- cho é justamente a teoria do self. Nas palavras de PHG (1951, ., p. 32), trata-se de “formular a base de uma psicoterapia consis- tente e pritica [..), por meio da assimilagio de tudo quanto seja ° as psicol6gicas de nosso tempo tém a ofe- -ecer” Mas se é assim, prosseguem eles (PHG, 1951, p. 33): "por que, [-] como 0 titulo sugere, damos preferéncia 20 terme. Gestalt quando levamos em consideragao igualmente 2 psice- niélise freudiana e parafreudiana, a teoria reichiana da courasa, fa semantica e a filosofia?”_E é.na resposta a essa pergunta que, ‘vez no texto de Gestalt terapia, comparece 0 signi- ara marcar a disciplina que tornaria 1e PHG fizeram da pratica analitica ‘como uma nova “totalidade” denominada de Gestalt, Oras em {que sentido as Gestaten sto toalidades? Em que medi elas ¢ aplicam a experiéncia clinica? Por que tal apicagdo caracie- Ha uma fenomenologia? Qual relagdo haveria entre essa fen menologia e a teoria do self? ‘Nao consiste em nenhuma no go técnico da nogéo de Gestalt tenha aconte¢ pela primeira vez Vticante ffenomenclogia p+ compreensivel a releitura qu widade que o primeiro empre- cido no seio das a ce F MARCOS JOSE MOLLER-GRANZOTTO & ROS, HOHE LORENA MOLLE -osanzorro Aiscussées filosoficas do final determinar as possiveis relag Contudo, foi na tradicio feno do século XIX, cujafinalidade era Ses entre 0 “todo” e suas “partes” enomenolégica que essa nocio passou specifica que, a diferenca das total, _a.designar uma totalidade ‘Rossa materialidade atual e a inatualic ro, Embora possamos, ‘mesmos (Por meio de idade do passado e do futu- ‘do precisamos nos representar para nés tum juizo) 0 passado € o futuro que uma liza. Em certas ocasides - tal como des- srito na antolégica experiéncia da * cha’, eujo aroma exalad Swann (Proust, 1913, ‘madeleine embebida em lo reviveu para a personagem Charles P. 48-51) a inflincia na ficticia Combray, ‘nao necessitamos reunie por Perfis retidos, pois estes tém € primordial. Tudo se passa sem que ele a precisasse evocar -, ‘WM ato intelectual uma série de luma espécie de unidade natural somo seo préprio passado re Noutras, € 0 futuro que nos des ——« CLINICAs oxsthricas Gonalidade operative’, ® que se distingue da “intencionalidade “de ato” (relativa & nossa capacidade mental para representar, na forma de um objeto do conhecimento, as miltiplasreagées que ‘constituem a unidade de nossas vivéncias operativas). Conforme © historiador da fenomenologia Herbert Spieberg (1960), a no- 40 de fntencionalidade operativa fez fortuna na pena dos alu >) -hos de Husserl em Gdttingen (até 1907) e em Frankfurt (até 9 \\ 1924), tendo recebido deles as mais diversas formulagées. Algumas delas serviram de base para a consolidacio da Gestalttheorie, que chegou em 1926 até o neurofisiologista Kurt “Goldstein (1967) pelas maos de Adhémar Gelb e de outros assis- tentes de Wolfgang Kéhler e de Max Wertheimer, entre eles Lore Posner, futura esposa de Fritz Perls. Nos termos de uma teoria _que trata da autorregulagio do organismo no meio ambiente, Goldstein (1933) incorporou a ideia de uma intencionalidade ‘do mental, que ele compreendeu vigorar nas mais simples fr. “mas de organizagio da natureza,.o.que o levou falar de uma (Fintencionalidade organismicafFrtz Pesls (1969, p. 77), apesar “do pouco crédito que dava a fein quando 0 assistia no Hospital Geral de Soldados Lesionados em Frankfurt, anos mais tarde foi convencido por sua esposa, que passara a adotar 0," ‘nome de Laura Perl, das vantagens de usar a nogio de “inten: _sionalidade organismica” para designar o inconsciente das pul- _S5es (que, dessa maneira, se distinguiria do inconsciente do ecalque e da forma causal como Freud 0 concebia)*.F para que ‘io se confundisse “intencionalidade organismica” com “inten- ~ Go ment’, o que nos levaria a um psicologismo, Fritz Perls (1942, pp. 69) frisou_o cariter espontineo daguela nocio_ -designando-a com uma expressio que aprendeu na convivencia com a lingua inglesa na Africa do SulYaparenes=E por esse __ ‘motivo que, no preficio da obra Gestalt trapia (1951, p. 33), yak Frit Perls, Laura Perl, Ralph Hefferine e outros colaboradores — SY) = agora associados ao ri rfilos6fico,& ereverénia que Paul s estudos de doutorado, feito na Goodman_trouxe de s 13 sancos Jos4 MOLLER-GRANZOTFO E ROSANE LORENA MOLLE ‘Alemanha,¢& sua intensaaividade literria nos Estados Uni respondem a questio “Por que damos preferéncia a0 fam Gestalt?” mencionando a tarefa que deveriam cumpri, qual se orar uma “fenomenologia da awareness”. Em nosso ea ‘endimento, descrever a psicoterapia como uma. Gestalt é estabe- lecer a fenomenologia dos processos intencionais operativos inerentes & pratica clinica, ¢ compreender os processos de awa- reness que formam a prtica clinica, Ou, nas palavras dos pré- prios autores (PHG, 1951, p. 33): ( {ut ocorren que nest proceso tives de deslocaro foc da piss tee do fetiche do dsconheeide, da adoragdo do “inconslent” (do recalgue, segundo interpretagd que damos para a aspas com a ut ses ma 9 me “en problemas €« fenomenologia da awarencse: que ftoresoperam na awareness ¢ com freldades qu podem opera com éxito ob no estado de amare Pt [demos propriate Sertvermos em mente qua fenomenclogia da awareness 8 cexplcitagio da psicoterapia como uma Gestalf, como um todo “espontineo de correlacio entre 0 clinicoe seu consulentes com” ‘reenderemos que a teoria do self no é senéo a apresentacio sistemitica dessa fenomenologia da. awareness. Ow © QU és mena ce, got Kea dol. apresentagio tempor’ Como vee mas ait) ds une das dintmicas es: vee se todo espontinco de correlasdo que se configs no campo cio como um ip de nace mbigue ene 8 i. neo ose coment Boma no a lin corre: lage formant Porque is ves fanconam, rots niot Conor podenasecoper um up de eo o8 ‘consulen- Aton de deeper forece abate are responder 8 euinicas GESTALTICAS GESTALT-TERAPIA: UMA FENOMENOLOGIA PECULIAR OU UM PROJETO ‘PRAGMATISTA? erica uma fenomend- aract jescrever as como tarefa di ‘assim concesina, a T0814 do se 6 rica, ai divergindo, conse fogia muito peculiar Afial, dla tem Cevtalten no plano da experiencia e™PS i quentemente, da fnamenolOgia ‘apregoada por Edmund Husserl seen ae Paul Goodman (apud Stocht 1994, p. 103) afirma averse inspirado, segundo um trecho da carta que enviou @ Wolfgang Kohler para explicar 25 intends programaticas da cobra Gestalt terapia: de expressar estas ideias, cor pdernamente me asscio» digas 88 Tdee de Husserl ou, pelo aspecto oposto, ds ielas de Dewey” (tradugio dos autores)* ose ermner, a plena compreensso de ume Gestalt depende deum trabalho de redugio, de um trabalho de passsBe™ do nivel mpirio ~ praticado na linguagem cotiiana ¢ cientifica para cry apenas concetual,desincumbido de pensar sitacoes imglares, tis como as que caracterizam, por exemploy 0d > a rinica, ainda asim, Hsserl (1913) admitia que o8el0- Wentreatos fornecides por uma investigasao concetual no fariamn mais que exprimis, de maneira indubitivel, uma com= preento a presente em nossa inser ingtnua no mando das coisas e de nossos semé ‘compreensio de que em todas se noseas experigncia reencontramos esse poder espontinco de anelagdo entre 0 que esté dado € 0 que €inatual:Gestalten. De (ado modo, para Husserl essa compreensio mundana das ‘Gosalten nio tera forga para se impor como uma verdade, AS Gastalten no mundo da vida seriam apenas intuicSes am Jamaisunidadescarvdentes, verdadirosobjetos do conheci- sears. Ao que Goodman (2011) respondeu ~inspirado na prag- matics do. também americano John Dewey (1922) € na nomenologia do corpo de Merleau-Ponty (1945)* ~ dizendo fue tatando-s a experiénla clinica, na qual a ambiguidade da siteio do clinico e do consulente é mais importante do que MARCOS Jost MOLLER-GRANZOTTO E HOSANE LORENA MOLLE qualquer verdade, as intuicdes s4o mais reveladoras do que o Pensamentos e conhecimentos. Por isso, para perceber um wo ‘outro (0 que nio significa de forma alguma coincidir),clinico e ‘onsulente nao precisam praticar a redugio ao campo da ideali- dade. A fenomenologia da experitncia clinica acontece no plano a propria expritncia Fla antes uma dca do que uma céncia, Eas! Gestalten, ‘na clinica, so antes manifestagdes do estranho do {que objetos do conhecimento, Alids, para Paul Goodman, essa prevaléncia da acolhida ética 40 que antecede os objetos do conhecimento é algo bem conhe- ido dos préprios cientistas. Goodman recorre aqui a John Dever (822), para quem pear de nio se poder near gue Ito stores deci cotempornes deans tar Por do concent qe interes proj Pe evince none eprinls no cogatian os rps cenit compreenem qu condo das isis ie = slceada em elementos ndocogitvos motasds alas elas so combat de uma epdeia,Amelora ualade de uma semente para o plato anim por dian’ 9. de lguma forma, corobora a intuio fenomenoligica sors peli de ua poenidade pte gue ‘ia Apa dnn late Ss le ce ee Tes A dite dvr lr nl npn won gies eco tno in taveriam de aparecer. Eis entdo que, rae 0951) operam uma fenomenclo Faeroe ‘exatamente em termos: ae de 1950, 6 texto redigido nos primeiros anos ‘et cona, dan et Crore tm htm ep guage ) Gai 0 clinico ¢ seu consulente, mas entre as agdes de ambos | spe do ge s nsinuou no dilogo ainda por vir,O nome Sue Fritz Perls deu a esse processo temporal de passagem entre o Outra mais focada na “dina Amica pulsional , 4 22 S88 Pouparia Fritz Peri de te de se ocupar das acerca de qual seria 0 conteido €87 ccuivtcas GEsTaLticas ‘os no consultério € em nossa vida ‘na natureza (social), ora em proveito do crescimento moment se nana faria as vezes de pulsio de vida), ora em proveito eS 4 pulsio de morte). ~pnservacio (momento em. que equivaleria & pulsa ee Grtaltterapia, PHG retomam essa novo, agora como 2 equivalent dos process intencionais descrtos pela fenomeno- Inga. so significa dizer que, em 1951, por ocasiao dt esrita deca obra, seus autores definitivamente verteram a psicandlise para uma lingua fenomenologica. Em certa medida, em Egos fome e agressio, Pers jé havia comecado esse trabalho, tendo em vista que as nogoes de conservacio e crescimento, incorporadas de Goldstein para substituir as pulsdes de morte e de vida, foram pensadas segundo a teoria fenomenolégica da intencionalidade”. No entanto, agora, aligagdo entre as nogdes psicanaliticas e feno- rmenolégicas foi tornada explicital{ Como correlative daquelas nogdes, PHG elegeram os dois principals grupos de processos Intencionais operativos descritos por Husserl para explicar a vi- ‘éncia da pastagem no tempo: por um lado, a) 0 processo de “retengéo” involuntaria das formas resultantes da dissolugio dos eventos passados (formas estas que constituem o fundo de hat 1s disponivel); eb) 0 processo de “sintese passiva” (por meio do ‘qual se estabelece, espontaneamente, a repeticio das formas reti- das ante as possiblidades de ago oferecidas pela experiéncia sual). Por outro lado, c) © processo de protensio dessas possibi- lidades em um horizonte virtual de objetos inatuais"; e d) a sin- ‘ese de transigio entre esses objetos ¢ uma nova realidade ‘material |A partir de entéo, a pulsio de morte passa a significar, Para os autores: a) assimilacio (retengao) de hibitos; €b)sintese jy ‘assiva. (Oi repetigdo espontinea) desses habitos ante as novas posibilidades oferecas pelo meio social enatural. Ea pulsio de Vida passa a significar:)criaglo (protensio) de objetosvirtuais (da ordem do desejo) segundo as possibilidades atuais; ed) a Aestruigio (ou transicio) desses objetos junto as novas configu- ragbes materia. jencia que estabelects MARCOS JOSE MOLLER-GRANZOTTO E ROSANE LORENA MO} b _Bimportante que se perceba aqui como a nogao de awarenes 8 2 sista sstico da nogio de intencionalidade ~ wou sambigu oe fundamental presente tanto na forma psica- oe eras pulses santo na forma fenomenolégica s mais inerentes formagao de um Gest Eeivoedlal que é a vivéncia do tempo, Enewewen ‘oa ee de 1951, @ nogio “de awareness sensomotora rulada por Fritz Perls em 1942) foi desdobrada em duas: conser- an a es epee ‘awareness sensorial” (1951, p. 42) ou “pri- } P. 223), que € uma dindmica de conservacio (a ‘qual inclui a assimilaca , az come Fi =e a repeti¢éo) daquilo que surge no fs a a out ‘hd a “awareness deliberada” (1951, p. 49) ou, como meee aaa frequentemente, a “resposta motérica” ou nee = motor” (1951, p. 42), que responde pela Tanumica de crescimento (a qual inclu a eiagdo a dstru- virtualidade em direcdo & novidade). As duas for dimmcpannt formas de apresentacdo da awareness traduzem as \sbes temporais do contato: -donaliade operatva et saan iGo € repeticao do passado, os quais PEG Peet d teas respectvamente de “nssimilagao do com. come coreepe en esPOR’ demands do mundo primeiro datntee eahte da retengio eo segundo como equivalente cage aaa Ta Th 8 awareness dliperada ou resposta motér- omc de protensio ¢ sintese de transigéo da relagio com a vivencia do futuro ou, como Preferem PHG, coi com a “fos ie rmagio de Gestalten” ea “destrui Sonate Oar jestalten” ea “destruicéo de ‘am 0S significantes da unica de ‘NOS acerca de como se relacio- Pela obra Gestalt terapia (195 nig de avers roe ie 33), omer © spe if eq ay 4 $ 3 x culwicas cxstauticas “Awareness “caracteriza-se pelo contato, pelo sentir (sensacao! ‘Fercepcio), pelo excitamento e pela formagio de Gestaten Conforme nosseleitura fenomenolégica do trecho, awareness & 0 gperar com aquilo que foi assimilado na experiéncia do contato, taformade um “sentir que provocaexcitamento”(configurando- vee assim a dimensio passada ou sensorial da awareness); tudo jsso em proveito da formagio ¢ da destruicao de uma “Gestalt” (atividades estas que correspondem a dimensio futura ou moto- ra da awareness), Falemos um pouco mais sobre essas quest6es, [A= AWARENESS SENSORIAL —|* iP __dlinico nem ao consulente, © retido é um hibito impessoal, @ seus efeitos junto as nossas agbes,.0.que —deixa apreender sempre depo —na condigo-de-um habito, s sja ele motor rm ow PY AS Como ja dissemos, a awareness sensorial, dimenséo passada do contato, caracteriza-se basicamente: a) pela retengio da forma dos comportamentos anteriores; e B) pela repeticao dessa forma Fou verbal, Pensemos agora em cada uma dessas dimensbes, comecando pela nogdo de retengio da forma dos comportamentos anteriores. E, para no sermos traidos pela “cultura espacializante” da psicologia, temos de lembrar que a noo fenomenolégica de reten¢ao néo tem _ parentesco com a nogéo psicolégica de meméria, pois no cor responde a inscrigdo de tum trago mneménico em algum sistema psiquico ou anatomofisiolégico. A retencdo nao acontece em wt ugar ou, em outros termos, ela nao tem lugar em nossa atualida: de, Ela diz respeito, fundamentalmente, aquilo que fara a consis itnela Ontica da realidade, ntroduzindo o passado que se Perdew SY [eais por que pode ser relacionads, por PHG, & pulsio de morte. essa compreensio advém a de que, 20 no ser uma entidade no tempo e no espaco fisico, o retido nao pertence a alguém, nema0_ aprendizado que divido com ‘meus semelhan- cose deixa apreender por ele mesmo, apenas POF T ignifica dizer que S© ‘o que faz. le uma sorte de ante, .0 que preensoes. Ot» e309 cipagio expontinea sobre a ” TE (RCOS JOSE MULLER-GRANZOTTO E ROSANE LORENA MOLLER. ti pe dete fan Galaed experiéncia perceptiva, 0 horizonte ; feo qual a figura encontra wk pas da. A esse processoespontanco de retencio dagull 86 tornou impessoal e indefinido, PHG vio denomi {tassimilagéo do contato anterior” tot Ora, a nogio de retengdo (ou assimilagao do contato ante- rior) & i ') € a base a partir da qual podemos nos ocupar da segunda \,>* re By Simensio datawar i dimencio dayverenes sensorial, que é a repeticao, descrita por ".* PH come peri do jsentir_em resposta ao mundo’ a no por sobre a nogdo de sentir, a qual, em acordo eae consagrado pela tradicao romantica, especial ce PHG também denominam de “paixto” O35), p 181), Em virtude da orientagdofenomenclégica que oa falam do sentir como uma unidade de sen- Pan reps, cx susonn. te Geil ropa nae referem_, estos illeies on priguicos de reopstoe registro de cee -eencenp on, interoceptivos ou proprio- faa ne como para Husserl, em PHG 0 sentir nao é a fa Psicofisico, seja tal subst em edb coniotindenes simpessoal, & qual “Ponty-chan tal isla gue edhe cog abineal cathe — a0 set provocada por uma demanda jumbra_ Fesponder aos 38 estimulo 3Z.E Ovo, iss0 no significa negar que eu seja c ‘capaz de fazer aque ate Yliivos: Poso muito bem decidir » para darmos um exemplo coti- ‘escolhas ‘omar evi da eguends are cxincas oxsrAuricas iano, em meu “coragio” algo me diz que, para chegar ata flo- ‘icaltura talver fosse melhor tomar 0 caminho da direta, Es “Jecsdo, entrementes, nio pertence ao campo da percepgo sen- sive, pos esa percepcio nao carece da caugio de um juio, da spancela de uma decisio, Uma ver imerso na via esquerds, que seeidt toman, as faces pelas quai cruzo no arrebatam minha stengio, Sigo concentrado no alvo que quero aleancas, 98 talvez tccupado com a frustraio de ndo haver seguido mee “coragic’ até que, de repente, do meio daquele oceano de sionomts ané- shake, vislumbro alguém familiar, que ainda nlo sel a0 certo iquem & Se me perguntasse, enguanto procurava identificar © nome daquela fisionomia, por que ‘ela se apresentou a mim, por “ue eu avi, por que ela no permaneceu anonima come de- wits logo compreenderia que alguém que néo se reduz 205 PN vramentas eas imagens sobre os quais posso decidir olay Pot sare us mais propriamente, ese alguém exerci meu olbah 8 pono de esolher, segundo os citris que tampouco compre Re de forma integral ~ porém parecem ter relacio com & Prove acto exercda pelo meio ambiente naatualidade da stuagio 0 qe ou a quem ver, o que ou a quem perceber, enim en Esse a eon anole, wo andnimo quanto minha musculature ce fo de ela, € uma hst6riaimpessoal, « qual 6 posso “saber” depois - ~ e sua atividade, a que sou Passi ,é minha sensibilidade. Fare cammpreensio nos permite entender melhor «afirmasi de PHG (1951, p. 33) de que 0 “sentir idetermina a natureza da ava xi penes, quer ela seja distant (P. e&» acta), préxima (2% / ret dentro da pele (proprioceptive). O sentir. que nfo € 5 tno o corpo habitual, a historia de generalidade que dh “Tninha comunidade, escolhe a quem ao que percel lenis coclaionar antes mesmo ave € para pens ee verdade que & com base no assimilado au “2m mim se faz sents” que, de modo tacit, escolhas sensivels 10 estabe- Iecidae (em resposta as demandas do meio) também é verdade 2 MARCOS JOSE MULLER-GRANZOTTO E ROSA: que o percebido, a ‘ts egean tac | no se reduz aquele sentir. Ao con- et igo "ee 0 trot e) Osc ansiedade’ respet aerate 20 or gu os tinge a parti de iris eu mer” | abordamos os ajustamentos enya’ 3s sade paths os de Fepresentagdes) comego a me ~ fo livro Fenomenologia ¢ eee Partiu esse interesse sobre o qual nao tenho Miller-Granzotto, 2007). ~jecturar que ae que tenho 6 direito (a posteriori) de con- ~Jecturar que aquilo que "em mnie fez sentir” : ‘um esti sentir”’é uma r ail wae Vrdade qu" (id) ut “ern mine i to da qual discutimos no capitulo em que neurdticos (ou de evitagéo) em nos Gestalt-terapia (Miller-Granzotto ¢ AWARENESS DELIBERADA OU RESPOSTA MOTORICA jis awareness dliperada ou rsposta motirica tem rsh °O™ vdividuais, contudo destinadas a alguém ou “Fez gentic” me fez sentir” motiva a curiosida s se 3 en _ SS ae ee ae ae depen ome | 2 3, Coe ouen) por mods gas (de mana “Wr iepaniae e te ania caborad Pp. ou sj, to pened nem repress) - s do estimulo original). I nés instituimos uma totalidade presuntiva ou Gestalt. Tal totali- ‘Logo, como desdobramer ° to das escolhas sentir impessoal, ie ee s estabelecidas por um | Jade nio € sendo o descjo com o qual tentamos sine, de ‘scshidas repost esta que ee caste sempre iminente (U virtual), 08 habitos (@ que Some 1, 19.Q excitamento €0efeito de cu nominam de “excitamen- Fuses) eas possiiidades que o meio nos oferece (© due pode- C-Sumhibite gera no meio, a E, por ele estar assim vi io sabemos aS a al lado aos hibitos impessoais, nés | (cars pose ende pare 0 excitamento to de uma historia esquecida, w ohabito, Tampouco ie Ae ciocaeenns comme si eer citememtan ano wane forma especifica de ani dade. No caso da clinica, a cada nova sessio, aquilo que se rea mlos.

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