You are on page 1of 325
C PROB! LE MA ARCHITECTURA baton stipe MATHIAS AYRES|R AMOS DASYLVA DEEGA, sda nl ee Cres ¢ an noroens bre Vadade doe Hom "QUE EPICA, F OFFERICE AQ SEN By OR ,\ GONCAL OJOZE MA ANORLIGNA ACIO RAMOS DA SYLVA DE EGA. LISBOA SOs de ANTONIO RODRIGUES on eet ie ihe ; : ( ; La A SENHOR GONGALO JOZE DA SILVEYRA PRETO. juro que me atrevo & deticor a8, be do mefmo anttor, ique compos. 0 da Vaidade dos Hor Fens. O unico objetto, que me obri= til we sa aimprimillo, be a gratidad de fi- Hoss gue quer fevantar das fambras dda jopultura onome de quem Ibe deo Ofer, «a fortuna, fazendo durar a faa riemaria nefle eferito publica y Jonfigrado 4 usilidade da patria. amend que abrangle 20 i ‘oro a diferaga, em que acabou o fet cauétor AS pafearlie Bum azylo fe- “quro, bam nome refpeitado» que pof= Fy na faxuda da obra: preveniffe © publico a favor della. “A amizade, com que V. Sen ‘rou 0 pai ¢ 08 Benofcios com que fe “gna rosegero flo amides apa srepusagad , que tem adguirido 0 feu refpeitavel nome » fizerab , que caper fbrigagad, e por interaffe bafeaf': 0 famparo. de VS. para fer bem a ‘rita eobra de bum Cidadad, a quem be aggravos da fus patria nad Pi derab arrancar io coragad 0s fagre- «fos direitos , que dlla-nos dmpoem de ibe foros. utes » quanto. a8 tapas Fi a ‘fo —___z forgas oconfentem, Os ltimos tem ‘pos da diferaca,, gue encurtarad os dias do aublor defte Irvro, -talves, confirmab, que elle era. bum Cida~ dab benemerito : V.S. be a melbor prova, de que as difgragas, és ve 2s Segue mals a gem be ment digno dellas. A rasad 5 € 0 mertcimento 5 qué, nem fompre fai 0 efearneo da fortuna, chamaraé a VS. aos em “pregos ye aos applauzos da. Corte: .a8 juptas providencias dos. noffos Sobetanos y unidas_ans votes do pur Vico nai quizeraé deixar enterrada Iu talento, que pofto no commer cio da vida civil daria tanta asilie dade & noffa. nagat. Se be da nutureza, que.a fini Tbanca de fortunas faz mais folidas ‘as. amirsades » V.S., que. fenpre ‘mereceo fer feliz, mas que nem fem (pre o tim filo, queira dignar-Jé de ‘proteger sgfle Tivro a memoria pol ~ phuma thuma de bum bomen, a quem vio. correr a mefina fortuna, gue perture bow 0 focrgo de V.S.'He obra de Jum bomem de lesras y. deve achar ‘acolbimento nos olbos de outro, V ‘Si, que tem confagrado os feus pre- ciozot annos ao eftudo fublime de manejar_as leis , que jad a alma to Eftado nab fo deve defpresar de proteger buna arte , que ainda (que muito inferior pela fua materia y concorre notavelmente para a poli cia das Cortese dd aos Reinos as mofinas wensagens, que 0 ornate dé 40 corpo. a unindo effe beneficlo aos mais, com que V.S. fe tem digna~ do bourar-me » olbarei para sodas tas profperidades, que bad de encher 4a eflimavel vida de V. Si» como ‘para outras tantas provas de jufti« 0 dos noffos Soberanos y que are rancab das trevas ,e do efqueci to bamens proves eee mais ee ff f depositad os premios 5 ¢ of caftigas dos feus povos. Effes voros ie oa toda 5 porém com mais obrigas a0, € com mais xelo os faz De V. Ss. Manc Sylva de Bga, we Ramos da i E an PROBLEMA DE ARCHITECTURA civil PARTE TL CAPITULOL O problema de Architettura Civil , ag ete Gl 0 faguinte. yu rar ot elfcios antigo tahab 5 € Pe ace fre dy ge eden lls pore saad lit menor 29 ‘movimento da ters quando rem? Sta quella’ parece facil de fefolver porque cmummen- te fe diz que a diuturnida- de do tempo faz caldear as pare- des (como os Artifices fe expli A as ) 2 Problema cad) fazendo-as mais conglitina- das para poderem fuftemtar 0 pe- zo do edificio e para refiftirem 20 impulfo extraordinario. que faz tremer a terra, _ Efta folugad, fundada £6 na divturnidade do tempo, parece me- nos bem eftabelecida : porque ,ain= a que 0 tempo contribue muito para folidar os muros de que o3 ‘edificios f& compoem , com tudo, ifo he affim quando preexiftem as circumflancias , por meio das guaes fica tendo lugar a acgaé do tempo: porém, fem a concutrene cia daquellas circumftancias , ne- hum tempo balla para fazer for- te hum muro defpois, de fabrica= 0 contra a regra dos principios, Osartifices antigos conhece: 128. muito bem effa verdade ; e 08 modetnos tambem a conhecem : porém De Archisebtura Civil. 3 porém eftes pouco attentos & du- ragad dos edificios , ¢ com eco- nomia menos jufta, tem mais por objedo a conclufaé da obra, do que aduragad della; ¢ {endo eferupu- lofos na ordem da perfpeftiva , fem outras partes menos importan- tes, {a6 faceis na eleiged dos ma- teriaes com que fabricad. O ponto principal eft nos materiaes, de cus ‘ja bondade, e fimplicidade depen- de a fortaleza ainda mais, que de outro artifcio algum. De forte yue a permanencia nad vem do fires nem do bronze que fe ajun- ta3 eftes.metaes devem fer confi- derados como adjutorios auxilia~ res, eadventicios. A duragaé pro- vvém da propria fabftancia' do edi- ficio, nad do remedio que fe buf ca para o fazer forte: devemos prelippér a pureza da fubften- Aii Clay 4 Problems cia, ifto he dos materiaes 5 enta6 contribue o tempo , 0 ferro , € bronze. Porém fe o muro he feito com rateriaes incongruentes, que pet manencia péde ter para fultentar 0 fen mefino pezo, € para refiftica0 movimento ? Aquelle vicio origi- nal fempre Ihe ferve de obftaculo jnvencivel 5 nefte cafo nenhum tempo , ott artifcio péde extrahir do muro 0 vicio interior , introdux ‘ido. delde 0s primeitos rudimen- tos da fua conflrucgad + of annos nad o fortalecem , antes, o debili- ta63 porque anatureza do mal he progreliva;raras vezes fe diminuey E quali fempre fe augmenta. ‘Nos eificios antigos, obfer- ‘yamos huma exadtifima uniad en~ tre aspedras , e mais materiaes, de aque of feus muros fe compunhads eto: De ArchiteSlura Gil. 5 € todos t2é confolidados entre fi, como fe foflem caminhando para de muitas pedras formarem huma £5: e com effeito vemos que nel- les he mais facil quebrar a pedra y que defunilla; e que mais depref- fa {@ confegue 0 deftruir o muro pelo coragaé das mefmas pedras , ‘que pela juntura dos feus angulos: e quando © movimento da terra, ‘ou de outro accidente tal, induz a fatalidade da ruina , 0 muro na6 cahe desfeito em pequenas partes, ‘as precipita-fe dividido em Iangoss nem fe desfaz como moido em pds mas abate-le em trogos, confer yando de algum modo a fua figu- ra, Dagui vem que os edificios an- tigos bem moftrad que forad fei- tos para muitos feculos. Nad fe fegue porém que os antigos tiyelfem melhores opes Aili rarios, 6 Problema ratios; porém fibiad efcolher mes thor. Os artifices modernos dif. penfaé facilmente na bondade, e regularidade dos feus materiaes ; por vilto que os tenhaé promptos, menos difpendiofos : contentad- fe de fabricar para o feu tempo, fem fe embaracarem do futuro 5 ba- fta-lhes que a obra dure em quan- to elles durarem , deixando para os que had de vir a trifte occupa~ 26 de reconftruirem, Por iffo vemos tantas vezes que os edificios novos , apenas aca- bados da mad do meftre , logo da6 finaes de fentimento: por hu- ‘ma parte perdem as paredes 0 feu equilibrio vertical 3 por outra fa- zem aberturas 5 © por outra col- pem os ingredientes que Ihes a6 contrarios. E fe fobrevém 4 terra algun movimento regular, zen fe De ArchiteBtura Civil. 7 fe perceptiveis os defeitos , e vad moftrando indicios infalliveis de ruina. Pelo que fica expofto pode- mos inferie que a raza6 , porque 1 edificios antigos era6 duraveis, he por haverem fido feitos com bons materiaes: e a raza, porque ‘os modemnos nad tem a mefma du- ragaé , he porque fad cSmummen- te fabricados com materiaes impro- prios. Efta he a refolugaé do pro- blema: e para a demonitrarmos he precifo examinar quaes £6 0s ma- teriaes, de que os muros fe com- poem; quacs {a6 as qualidades que tem os com que hoje fe fabrica, e as que devem ter, para que a ‘obra fique permanente , e paraque refita mais ao movimento da terra quando treme. Aiv CA. a CAPITULO RL A bondade dos materiaes de- pende inteiramente a firmeza. das paredes ({uppondo fempre fe- rem feitas com arte, € como a arte pede): 0 tempo as faz. confo~ Jidar, quando os materiaes fe nad ‘oppoem 4 fua acga6. Hum com- pofto de barro , ou de qualquer terra commua y ém nenhum tempo péde admittir firmeza, Ainda que ‘a hum compofto tal fe Ihe ajunze amelhor pedra, nunca de huma tal compoficad fe ha de formar hum corpo folido ; porque 0 barro con ferva fempre propentad para def- unit-fe, ou desfazer-fe na agua. ‘Toda a duraged de humcom- polto De Architestura Civil, 9 pofto confifte em nad render-fe 20 combate a€tual dos clementos, ‘Agua, e 0 ar [46 05 dous inimi- {gos poderozos, que trabalhad per petuamente, ¢ elfcafiente a fore nar, ea defunirs aunir, ¢ a few parats a fazer, @ a desfazer. El tes fad os dous agentes naturaes contra os quaes fe deve oppor ‘on huma forga proporcionada , ou hhuma materia , em que na6 pollad ‘er ingreffo. diamante he 0 corpo mais folido e duravel 5 porque nenhuay dos elementos fe péde introduzir y nem fazer mudanga em slguma das fas partes; nem os licores corrofivos, nema agua, terra, ow ar podem caufar-lhe a mais leve alteragaé : 0 fogo 0 mais que faz he embaciarlhe a fuperficie , fi cando a fun uniad intaéta , ¢ fem ceder 30 Problema cedet por modo algum a aquelle deyorante univerfal. Depois do diamante fegue-fe fo ouro , ea prata, Contra eftes ous metaes nab tem acgad os ele- mentos: 0 fogo aétivo ‘os fundes mas, depois de fundidos , ficad co- mo ¢rad e inalteraveis na fue fubl= tancia ze fe fundidos eftiveffem até o fim do mundo, fempre ef tariam , e feriad os mefios tanto fem pezo certo, ¢ caraéterftico ‘como nas fas qualidades proprias ellenciaes. Ito pore fe enten de {6 arelpeito do ouro, e prata propriamente ditos; porque, fe a fi tiverem outros corpos mitura- dos, efles had de difipar-fe inteira- mente. O ouro pode fer volatilizado, ¢ tambem a prata , fe no ato da fundigaé fe the deita algum fal vola De Architeétura Civil. x volatil com miftura de algum com- ofto, que tenha propenfa6 para levar configo, ou exaltar aquelles ‘metaes adjuntos ; porém eltes, de- pois de volatilizados, infallivelmen- te confervaé as {uas propriedades naturaes; e depois de reduzidos a metal , tornaé a fer omelino me- tal, fem mudanga, fem falta, fem differenga alguma, Os outros metaes todos fe al- tera, e fe perdem com a acgad continua de qualquer dos elemen- tos; ede tal bres que jd mais po- dem tornar a fer inteiramente 0 Ee. de ae forad, O ar caulano roa ferrugem importuna ; 20 chimbo redus em po; a0 cobre em azinhabre ; € a0 eftanho em materia pulverulenta., ¢ irreduéti- vel: 0 azougue refie mais po- xém batido tambem em agua , om Fy Ss oR Eamn Cine rea sre Fc Problema sinda por f{5 , a mefma continua concullad o muda em hum pé ne gro de dffcil reducgaé , mas nun- sa de todo reduzivel. As pedras , comummente cha- ‘nadas preciofés, feguem a natu- seza do vidro, mas com a diffe- renga de nad poderem fer fandi- das, e denaé poderem unir-fe de- pois de divididas como faccede nos metaes por meio da fundigad. O Vidro he 0 primeiro compofto ar tificial , contra quem os elementos nad tem forga. E com eet av trificagaé he 0 ultimo termo, ou © ultimo apparato , a que anature- za, © aarte chegad. Nem cada Jum dos elementos , nem todos juntos podem caufar no vidro a ‘enor mudanga; porque os corpos, depois de vitrificados , ficad de tal forte unidos em hum corpo {5 que De ArchiteHlura Civil. 13 ue fle ainda que compotto Leja Edous Gu mais ingredients, nab admitte feparagaé alguma , e com tuniad muito mais indiffoluvel , do que feriad as aguas de fontes dit ferentes, confundidas » ou miftura- das entre fi em hum {6 vazo. ‘Depois da vitriicagad , ou fe- ja artifical, ou feja natural ( co- ‘mo a que fe nota em todos os crif taes) feguem-fe outras mais com- poficoens que fegundo a qualida- Ee das faas partes ou fegundo a qualidade que receberad do arti Gio, ficad mais ou menos aptas pa- ra refifiem 4 acga6 dos elemen- tos. As paredes conttieuem huma das mais uteis compofigoens 5 ellas fe dirigem em primeiro lugar para faftentarem o feu proprio pezos tambem para fuftentarem o pezo dos edificios. Eltes {a6 0s feus dous obje: 4 Problema ebjestosontinatios sos ques feve- rificaé pouco quando as paredes fe fazem fem arte na ordem da conttrucga6 , ou fe fa6 feitas fem conhecimento dos principios , ifto he dos materiaes. Pedra, cal, aréa , © agua, fa6 os quatro ingredientes de que as paredes commummente fe com- poem: porém nem toda a cal , nem toda a pedra , nem toda a aréa, nem toda a agua {46 pro- Frioy para aquele minitro to los {a6 proprios -para fazer pare- des , mas nad paredes folidas , Guraveis. Todos fabem que ha mui= ta differenga entre as pedras, al- fim como 2 ha tambem entre as caes , entre as aréas, e entre as aguas. A aréa, apedra, e aagua achad-fe fetas naturalmente ; {8 he necellario conhecellas » para as ef colher. De Arcbite6tura Civil, 15 colher. A cal he producgaé da ar- te, porém tambem necelita parti- cular conhecimento para fazer del- Ja huma eleignd jufta. Para a eleigad das pedras , bafta faber que ellas na6 exiftem como hoje eflad delle o principio do mundo, como alguns quizerad entender, ¢ alguns affim 0 enten- dem ainda hoje porque yerdadei- ramente a natureza as fSrma len tamente, ecomarte, que {5 alla confiou 6 Divino Architesto doUni- verfo. Os Chimicos difcorrem eru- ditamente fobre a materia da pe- ificagad ; porém nenhum houve atéo prefente, que com fublime en genho , ou com {egredo raro po elle confeguir fazer huma mini ma porgaé de pedia de qualquer efpecie, ou genero que folle. ‘AS pedtas tem ( como todas as rr 16 Problema as mais coufas ) hum principio de naleer, ou (para melhor dizer’) de formar-fe } a bale da fia for magad he provavelmente huma , ‘ou mais terras unidas entre fi por meio de algum licor proprio , e pro- porcionado para aquella formagads Ede que para ella concorre Kum Tiguido, tambem he muito verofi- mils porque fe fe fizer huma abo- bada fechada de pedra em fogo Como os operarios dizem ) dei- xando-lhe {mente huma pequena abertura lateral, e adminiftrando~ Ihe kum fogo fuccellivo e forte 5 hha de vei-fe comegarem as pedras afar, ou adefillar per defeenfim hhum liguido alchalino, Efte tal vez que naé folle daquella qualidade nna fia primeira origem , quando comegou a fazer-fe a petrilicagad 5 entad poderia fer hum licor aci- do, De ArchiteSlura Civil. 17 do, alchalizado depois pela a0g26 do Fogo 5 alfim como fuccede 20 nitro, e ao fal commum , os quaes, fendo acidos , certamente alchali~ zab-fe , fe eflando cobertos e fun didos em vafo proprio , pallx6 al- ‘gum tempo pela violencia do ca- lor. O mefino fe vé nas cinzas dos Vegetaes, os quaes no feu eftado natural ‘nx6 moflrad , nem dad indicio algum de conterem fal al- chalino fixo , e 0 que defeobrem {a6 {aes acidos volateis ; porém de- pois de queimados , ¢ reduzidos a cinzas , eftas {6 dad hum fal al- chalino fixo, e de nenhum modo fal acido volutil. E alfim fe mani- fella que na formaca6 das pedras , entra com effeito hum corpo liqui- do, porque on feja acido volatil on ashlino fio cada hum def tes 18 Problema tes he hum liquido verdadeiro 5 corporizado com asterras, de que as melmas pedras fe compoem. Sempre porém he muito in- certo o modo, com que as terras fe petrficad ; ¢ da mefina forte 0 tempo, que galtad primero, que fe petrifiquem. A natureza elconde efte fegredo ( como outros mui tos) € apenas deisa ver alguma Juz, pouco perceptivel » para que, podendo difcorrer fobre a materia a petrficagas , fiquemos fempre davidofos 5° moftra-nos os inftru- mentos de que ella fe ferve, mas mado modo de fe fervir delles; ‘moftra-nos o caminho aberto por que em mil partes vemos a terra ‘jd pettficada, porém aquelle mel ‘mo caminho, he o que quali fem= pre nos conduz, a hum laberinto vyago , e errante, Ecom De Arcbiteflura Civil. 19 Eccom effeito nem fempre pé~ de fer flea oll applcags po- rém que importa que difcorrendo ferremos multas vezes , fe acerta- ‘mos alguma vez? Nem em tudo he avara a natureza. Muitas cou~ fas uteis tem achado 0 eftudo 5 por iffo diffe bem o que primeiro dille: Dit laboribus omnia vendant. Da {qui vem que experimentando fuc~ cede achar effeitos raros , © eltes nad fendo conhecidos 2 priori, 0 ‘mefmo inventor fica confulo , © interdi€o com a fingularidade do que acha; devendo ordinariamente mais a0 acafo , do que 4 premedi- tagad. A invengas da pooras da vitrficagad artifical » da feparagaé dos meties confundidos entre fiy do {quadrado dos tempos, ¢ de outros ‘uitos defcobertos admiraveis » {a8 artes que a natureza yendeo pelo Bii pres 20 Problema prego de huma indagagaé conf te: Eatin nem lempre fe pode de zer dos artitas applicados , e ink truidos 0 que o Poeta difle do in- feliz agricultor: Sed ills Exfpeétata feges vaniseluft arf. Havendo pois na petrficagaé hum tempo de comegar , para edificar sna6 [a6 proprias as pedras que { comegad a fer , mas fim aquellas gue elted feitas porque tanto na petrilicagad , como na vegetacad das plantas , e ainda na formagaé dos animaes » obferva'» natureza a mefina regra , e ordem progref- fiva, A primeira materia you pric meiro elemento de todas aquellas producgoens , fempre he molle, in- digelta, inférme , e rude; he co- mo hum cahos feminal , preparado para t Da ArchiteCtura Civil. 21 ara ofim, aqueanatureza dirige Mfus obra’: 8 depois de ter dif péltos os radimentos iniciaes , ow rimordiaes recebe a, mefma obra do tempo , ¢ do calor a faa ver- dadeira, e ultima perfeigad. Por iffo as pedras molles nad {ad as que convem ao archicedtos porque ainda nad {a6 pedras y had de fer ; he huma petrificagad dif- pofla » mas nad acabada ainda 5 hem bafta que aquellas pedras te- had adquirido algum tal, ou qual grao_de dureza , mas devem ter aguella toda a que as pedras duras coftumad chegar ordinariamente 5 porque em na6 fendo affim , mal podem, fem quebrar, faftentar qual- quer pezo fobrepofte. Além de que, 11a6 {5 para fultentarem 0 pezo de- ‘vem fer as pedras duras, mas tam= bem para que, fendo folidas ,¢ com Biii ‘pacts, aa Problema padtas , na poflas fer penstradas pela agua , e pelo ar. Se aagua chega a penetrar os interfticios da pedia , facilmente a desfaz, co- ‘mo por huma elpecie de diffolu- 63 ¢ fena6 tem dureza refiften- te, 0 acido doar avai lentamen- te confumindo , e fizendo divifi- veis as fuas partes , e ficando em termos de ceder a0 primeiro ime pullo da gravidade , ou do movi- mento. Ito fe obferva tambe corpo humano , donde hum sco degenerado , corrozivo, e cauitico de tal forte corroe os offos , que f+ a8 eltes frangiveis perdendo a fua contextura natural, Ente he o efter do deploravel , e immedicavel da- 4quellas partes offendidas , quando © humor , ou acido viciofo fe ex tende por ellas geralmente. Entad chega De Architettura Civil, 23 chega a hora fatal que fe efpera- ya mais tarde; economia animal perde enta6 as fungoens vitaes 5 forque nenhum compofto péde Rabati em Ihe faltando os foli- dos principaes fobre que fe eflabe- ece', firma a fuse organizagad material. Tito fe ve tambem nas pare- des que fedefmanchaé , e nas que fe achaé de algum modo demoli- das, nas quaes as pedras que eta6 proprias para edificar (ainda de~ pois de paffados {eculos') exiftem Eom a mefina dureza com que po- diab eftar no tempo em que fe fa~ bricou 0 edifcio outras destazem- fe a0 primeiro toque, outras ja fe achad desfeitas , deixando conca- yo, ouvazio, o lugar em que efti- vyerad, Nas fuas fuperfices planas ,€ exteriores obferva-fe melhor aquel- Biv la 24 Problema Ia falta porque na parte de don cabe 0 enbopo of sehors ne fervia de defenta dspedras, tenis neftas o ar hum accéllo immedines elivre, em menos annos as pene. mass fs teduz em pé grolleiro leixando disférmes rcomidas as paredes, 2 © corcomidas Nad faccede afm nas fem gue alfentaé. as pedras chamas das de enxelharia , porque efla he feita commammente de peda das calém dio, 0 lavramento da pe- ips amber Be ai deen ‘ontra 0 acido do ar; porga elte fiz mais preza em hua las perficie tofea , eleamola ye ires gular, do que naquella cuja Ine perficie tem regularkiade, ou elte feja plana, convexa, ou concavs por if na pedia polida nenhuins acga6 tem aquelle acido 5 e palla ‘pelo. De Architeétura Civil. “25, pelo polimento fem fazer impref- £46 nelle. Ito procede tambem a refpeito dos metaes. O ferro po Tido dura mais tempo intaéto, do gue aquelle que onad he, 0 ouro, ea prata para fe diffolverem prom~ ptamente nos elpiritos corrozivos , gue os disfolvem , neceflitad ferem granulados , ou limados entaé fen- do combatidos por huma immenfi- dade de lugares, cedem facilmen- te ao.corrozivo agente , ¢ por hum principio femethante , os faes piza~ dos, ou em pé derretem-fe na agoa de itmprovizo , e fe eltad em maga folida , refiftem mais. ‘Temos dito que para edificar a6 fervem de nenhuma forte 23 pedras molles, mas fim aquellas que fem dureza competente para ferem impenetraveis 4 agoa , e principal- ‘mente ao acido do ar. Porém que acids site = 36 Problema acido he efte, ou com que fe pro- va a exiftencia delle, para nelle fandarmos huma parte deruina de certas pedras que {a8 certamente teprovadas em toda a arte de edi- ficar ? ‘Talvez que aquelle acido 126 feja mais do que hum ente de raza © que, exiftindo {6 no dif curfo dos Chimicos (como outros muitos) nad tenha exiftencia algu- ma na fealidade. ‘Aim parece fer 5 porque 0 acide doar he inviivel ys impale Pavel, © pot confequencia , in- apprehenlivel;e regularmente aquil= Jo que fe nad va, que fe nad acha, que fe nad toca, he immaterial, ¢ © que he immaterial ,naé péde pro« duzir effeito phylico , de que os fentidos fe percebem , e como as pedras, de que tratamos, mudaé de figura , © perdem inteiramente a fa De Architeétura Civil. a7 fae confiftencia, devemos affrmar que huma tal mudanga provém de hhum agente corporeo, e material, nad dehum agente metaphylico. Com tudo no capitulo feguinte moftraremos que 0 acido doar he hhum agente phyfico , ainda que de faGlo feja invifivel 3 porque bem péde fer invitivel , ¢ inapprehenfi= vel, e ainda affim fer material, phylico, ¢ corporeo, CAPITULO IL Ar he hum elemento fuido, Orisrano, ‘comprellivel , sia ave. Todas eflas proprieda- des fe tom achado, e demonftrado mites vezes » © por muitos mo- dos naquelle elemento 5 nem he ne- cella a 28 Problema ceflatio moftrallo com mais expe- rimentos do que com aquelles met. ‘mos que fe fabem vulgarmente , ¢ de quejd ninguem davida hoje. He poréi menos fabido, que no com Po, ow atmosfera doar, fe elcon- de , conferva , ¢ exifte realmente mmenfidade de cérpos » ot centes invifiveis que {6 fe manifel- ta, ¢ fazem. perceptiveis pelos feus effeitos, eem certas, e deter ‘minadas circumftancias. No mefmo atmosfera do glo- bo terraqueo fe férmaé , tem acgad, e reaacgad os differentes metedtos3 a materia deftes he certamente ma- terial , fenfivel; porém em quan- to cireila, e gira dividida em ato- ‘mos , ou partes minutiffimas , he inven aca nem cm ca, ¢ nelle eftado he inapprehenti- vel. E com effeito no Ba circula buma De Architeure Gril. 29 uma immenfidade de corpufeulos terreos , {ulfureos ¢ oleofos 5 fobre tudo gira a agoa_na figura de huma humidade invifivel; ¢ if to em toda acltagad, ou fria, ou calorofa, ou humida, ou feces. ‘Nem fe péde duvidar que no tempo mais fereno , claro, ecali- doy fempre o ar contém huma por- 20 immenfa de agon ; efta em quanto efté vagando difperfa na atmofphera he invifivel » e inappre- henfvel , ¢ {6 por meio dealgum antificio fe conhece a {ua exillen- cia adtual , e verdadeira. O artifi- cio confifte todo na expofigad de qualquer {al alchalino fixo + efte attrahe avidifimamente a agoa que ‘© ar ambiente, eproximo contém; e com tanta forga, que he preci- fo cuidado grande, e algum enge- ho para confervar qualquer fal al- chali- eusaaas 3° Problema chalino fixo inteiramente izento humidade , a qual em breves a mos fe faz liquida , e corrente, (O Tartaro (‘que he o farro do vinho vulgarmente conhecido ) depois de eftar alguns minutos en fulad perfeita , © em fogo que © pofla fandir perfeitamente, ape- ‘nas tirado da maior ardencia do ca- Jor, logo entra na continua attrac a6 da agua, ou humidade acrea, iH jin ¢ fem cellar vaicaminbane fo para hum deliquio , a qu ariltas.chamaé.communmente ? leur sartari per deliquivns Ooleo do vitriolo, e tambem © efpirto falfureo , chamado /pi- vitus filpburis per campanam, tem a mela infeparavel propriedade y de attrahirem, e incorporarem af @ agua, e com a notavel eme- nos bem entendida ainda fingulari= dade, De Architehura Civil. 3 dade , que tanto ooleo de vitrio- Io, como o efpirto fulfureo , aque- cem confideravelmente quando en- trad na accaé de attrahirem a hu- midade 5 de que refulta fempre 0 phendmeno admiravel, ¢ tambem muito pouco intelligivel » de que dows licores limpidiflimos , ¢ frios quando eis feparadamente em fe ajuntando ambos , entrad em calor ta6 afpero e fenfivel, que a mia, que fullenta o vafo, na6 ‘opéde tolerar; © quanto mais pus 10, econcentrado he cada hum da quelles dous licores, tanto mais for- fe, € intoleravel he o calor ao pri- meiro_contaéto da agua fria. ‘Nab {6 por aquelle experi- mento {e indica , e fe conhece a jimmenfidade de’ agua elementar que fe encerra no ar mais puro, mais fereno , ¢ calido » mas tam- bem 3? Problema bem por outros muitos » por m dos ques fe defeobre infallivelmen- ‘te quena vaga regiaé da atmofphera feda, e exifte iivifivelmente eae po phyfico da agua ondulando em partes minutiffimas, e impercepti= veis , que fé fe fazem viliveis, apprehenfiveis, quando por algum antificio , on’ sinda naturalmence condenfades , ¢ juntas as mefinas partes tomad’cofpo apparente 5 € a ed Mi noffos fen- tidos o podem dif ir» © per ceber eae & Bee __Defte principio péde dedue zir-fe huma Etpecie “ae paradoxo3 e vem afer, que em viagens dila~ tadas fobre o mar, e ainda por ter- ta, e por lugares aridiffmos , e faleos totalmente de agoa ,efta nun- cca péde faltar em havendo lenhas porque fem outro provimento , nem appa De Architebtura Civil. 33 apparato mais que o de hum lam~ bique , e de certa porgad de qual uer fal alchalino fixo , ou de hum efpitito vitiolico , ow fulphureo , ‘em qualquer parte do mundo, eem todo o tempo , fe péde ter agua pu- riffima , limpiffima , ¢ claifima y por meio da defillagaé bem orde- hada , porque nefla {6 fe adquire a agua que 0 fal alchalino fixo, ou o elpirito vitriolico attrahio , fican do eftes feparados no fundo do. vax fo deftillador , e ficando fervindo fempre de iman perpetuo , incor uptivel » proprio para o mele ‘mo ulo.. Bem he verdade que efle ex- iene nab pove ter lugar, nem Fre de fado praticavel, quando fe neceffita de agoa para muitos 5 por- ‘que a operacad de deftillar, que exi- ge indifpenfavelmente carvad » ou Cc Jenha, De Architeftura Civil. 35 tas mais experientes fe tenhad ap- plicado, nunca o fucceflo corre 34 Problema lenha , feria impraticavel neffe ca- fo ; e commumente o mefmo he ‘ ' i pad poder fer, que poder fer com muita difficuldade. Porém como tu- do péde ter lugar , e fer util em certas, e determinadas circunftan- cias; fe fuccedeffe o fer hum Prin- cipe , para quem fofle a agoa ne- pondeo ds efperangas. Nem o pre- mio promettido por hum Parlamen- to heroico , illuftre , e formidavel {allo do Parlamento de Inglater- fa) nem a gloria de huma inven- gad tad util , e defejada ; nem a cellaria , facilmente poderia exe- vaidade de achar o que tantos tem ‘ ; cutar-fe aquelle expediente 5 por- bufcado inutilmente , nada tem bale i j que o que he impoffivel para os tado para confeguir-fe aquelle fim, } i mais homens , muitas vezes nado a diffculdade eftd toda em feu vi f & he para os homens Principes. or & Os que entenderaé haver def i ‘ atado ond allucinaraé-fe a fi mef- mos, e aagoa do mar fempre fe \ tem mottrado invencivel , ¢ indo- H mavel. Por iffo os Philofofos antigos i i t i Aqui podemos difcorrer tran- fitoriamente fobre a queftad tantas if vezes debatida , de fazer aagoa do «i mar potavel. Efta queftad tem fi- do com effeito o trabalhofo obje- &o da maior indagacaé 5 porém fempre com a infelicidade de fer indicatad 0 Oceano na figura de : hum lead feroz, e rugiente; ecom infinéuofa ; e por mais que os effeito a fortaleza das agoas do mar maiores engenhos , e que os artif- naé confifte {8 na intumefcencia » é ee Ci eval Seer ST CECE & i 36 Problema e vattidad das fuas agoas , mas tam- bem no vinculo indiffoluvel das fuas partes ou de alguns dos feus prin- cipios. Sé o fal dé o mar liberal- mente, e fem fadiga, ficando infu- peravel 0 nexo da fua parte ethe- rea , bituminofa , e inflammavel ; nefta refide pertinazmente a impo- tabilidade das fuas agoas. O ele- mento aqueo de tal forte fe acha unido eftreitamente , ¢ individua- mente ao elemento fulphureo , e bituminofo,, que deftes dous fujei- tos fe péde dizer: Eritis duo in carne una. E para mais admiragad, deve- mos reflectir que, exceptuando as pedras preciofas, raros {a6 0s cor- pos em que a Chimica inftruida nad pofla analyzar os feus principios 5 dividindo-os , e feparando-os , igne duce, @ tornando-os a ajuntar de- pois. De ArchiteéturaCivi 37 pois. Em prova difto , fapponha- Jhos huma maga compofta de to- dos os metaes , a que a fundigad reduzio a hum [6 corpo , ¢ efte uni- do exadamente como 0 poderiad fer entre fi as aguas de differentes rios , de differentes fontes , e de dif= ferentes regioens. Aquella maga fa- bricada de fete metaes diverfos ad- mitte feparacad , e defuniad de to- dos; tornando cada hum delles a recobrar a {ua propria condigad , o feu proprio pezo ,e a fua propria indole. Os mineraes, que jé da terra, donde concrefeerad y vem _aflocia- dos, ou mifturados entre fi, e ain» da com outros corpos nad mineraes tambem admittem divifad , ou fe- paracad , ¢ cedem facilmente a0 artifla que os fabe feparar. A agoa do mar; porém renite , ow relile C iii atoda ee ee soar 38 Problema a toda a arte, a todo o engenho , ca toda a inveftigacad 5 a faa pat te bituminofa , fegue obftinada- mente a parte volatil, e puramen- te aquoza 3 huma, e outra fe acom- panhad em todo o tempo, em to- do o lugar , e em todo o eftado. O fogo, que volatiliza a parte aquo- fa, tambem volatiliza_a bitumino- fa, e por mais que feja adminif- trado brandamente , e com calor fummamente diminuto , nem aflim fe pdde feparar daagoa aquelle bi- tume natural. Nefte confifte a im- potabilidade , e nad no fal; porque efte he feparavel fem trabalho. E affim fe vé que, ainda que pareca facil a intengad de fazer a agoa do mar potavel , he com tudo empe+ nho de execugad difficultofa, e he talvez o que nad ha de confeguir-fe nunca, Affen- De ArchiteEluraCivil. 39 Affentando pois, que o ar contém realmente em fi, ¢ invifi- velmente huma immenfa , ¢ inex- haurivel porgad de agoa , devemos moftrar que tambem , ¢ do mel mo modo encerra outros muitos, € diverfos corpos. O fumo dos vege- taes queimados , entrad continua mente na efpacola regiad doar, e nelle fe vai dividindo , ou efpalhan- do fubtilmente até que fica invifi- vel, ¢ inapprehenfivel ; ¢ nefta ficua- gad nad o podemos ver, nem to- car, nem diftinguir; ¢ fe advertir~ mos, ou fizermos reflexad fobre as partes, de que o fumo fe compoem, acharemos certamente que o fumo leva comfigo nad {6 os principios phlegmaticos, unétuofos , e vola~ teis , mas tambem os principios terreos , e fixos. Ifto fe comprova com o que Cw cha- i | 40 Problema chamamos commumente ferrugem de chuminé ; efta fempre contém (ainda que feparados ) todos os Principios que continha o vegetal queimado 5 ifto he, humor aqueo {al volatil, oleo elfencial 5 terra, efta fe acha na ferrugem volatili- zada com os mais principios, a que eftava unida; condenfando-fe nos ados ye alto das mefmas chumi- nés. Se depois que extrahirmos a ferrugem a pozermos a0 fogo ar- dente’em vafo proprio, diflipada com o fogo a un@uofidade da fer~ rugem, lixiviando-{e 0 refiduo, acha~ remos hum fal alchalino , fixo ; extrahido efte 0 que fica he ter ra pura , a que alguns chamarad terra virginal. Quando hum vegetal fe quei- ma em lugar defembaracado , ¢ fem o preceito da chuming , nem de De Architeflura Civil. 4x de outro-qualquer , todos os feus principios fe diffipad no ar intei- ramente (exceptuando as mais pe- zadas, de que a cinza fe compoem ) ficando invifiveis nelle nad {6 0 fal volatil, e oleo effencial , mas tam- bem a maior parte da terra fixa 5 entad a tenuidade fumma das mef- mas partes terreas as faz inappre- henfiveis ,e fem 0 corpo necella~ rio para fazerem fenfacaé nos nok fos olhos ; ¢ defta forte a terra, re~ duzida a dtomos leviffimos , acha- fe como fafpendida , e vagando em toda a capacidade da atmofphera. Os corpos mineraes, e metalli- cos fad certamente os mais compa- os, e pezados que conhecemos 5 e ainda {endo affim, recebem ( por varios modos) huma tal divifad, ¢ attenuagad, que, depois de volati- lizados , ficad pezando menos do que H — Shaan Eee eink 5, Ses aa Pura me saan See 42 Problema que acolumna de agoa que os ful tenta. Ifto fuccede , geralmente nad {5 por operagad da natureza, mas tambem por obra da arte. Da~ qui vem que ouro diffolvido na agoa, a que osartiftas chamad ré~ gia (por fer o diffolvente proprio daquelle régio metal), ¢ a prata diflolvida em agoa forte ; os ou- tros metaes, e mineraes, diffolvi- dos tambem nos feus diffolventes Particulares , ficaé adquirindo hu- ma divifad tad grande, que podem eftar fulpendidos , e invifiveis nos menftruos em que fe dilfolveraé , ¢ {6 fe fazem perceptiveis, e mani- feltos por meio da percipitacad ; porgue nefta 0 corpo, que faz.a pre- cipitagaé , occupando o lugar do corpo diffolvido , efte entad fe precipita ao fundo dovafo, e tor- na a tomar forma vifivel. O me mo De Architedlura Civil. 43 mo fe confegue em fe enfraquecen~ do, ou deftruindo por algum mo- do a forga, e vigor do menflruo 5 porque perde affima aétividade, que tiha para fuftentar em fi 0 pezo do corpo diffolvido , e o deixa cahir a0 fundo. Além de outros exemplos, que fervem de provar o que fica expol- to, temos hum na diffolugad da prata em agoa forte. Efte corrozi- vo depois de diffolver aquelle me- tal fica didphano , e confervando afua mefma tranfparencia. A pra~ ta,que he hum dos corpos mais com- pactos , e pezados ( exceptuando ‘fSmente o ouro , eo azougue) ah fim que {e diffolve naquelle diffol- vente, fica fufpendido nelle, ¢ in- vifivel, ¢ para manifeftar-fe , e to- mar corpo perceptivel , he precifo diffolver-fe outro qualquer corpo com = Aboot, aera: Snob caciere here es ee Senne atte 44 Problema com que a agoa forte tenha mais analogia : para efte intento ferve o cobre, 0 qual diffolvendo-fe tam- bem na mefma, agoa que jé tinha em fi diffolvida a prata, efta tor nando a tomar o feu pezo caraéte- riftico, promptamente fe precipita ao fundo. ‘Todas as agoas vitriolicas con tém naturalmente hum ferro diflol- vido, o qual fe moftra em fe evas porando as agoas que o contém; ¢ do mefmo ferro provém as virtudes medicinaes, que a aquellas agoas {¢ attribuem. Quando fe evaporad 5 alguma porgad de ferro tambem com ellas fe evapora, ¢ entad en- tra o ferro a exitir, e a ter a fua fubfiftencia na atmofphera, Affim mudad de patria , e de lugar os corpos mais pezados , rolando na esfera mobiliffima do Ar aquelles mef- De ArchiteéturaCivil. ‘45 mefmos , que em eftagad immobil , e permanente, nafcerad nas entra~ nhas concavas da terra. Naquella mefina habitagad , ¢ por modo {e- melhante, fe acha tambem 0 ouro, aprata, e todos os metaes. Pare- ce que tudo fe encontra em cada hum dos elementos , e que cada hum deftes he patria commua. Os metaes concrefcem na ter~ ra, mas ainda fe nad fabe com cer- teza, fe he a Terra que os produz, ou fe mais verdadeiramente os pro- duz a Agoa, o Ar, ou o Fogos defte fabemos que procedem varios corpos , que a terra (ao noflo ver ) coftuma produzir. Quanto he para admirar que qualquer vegetal quei- mado fica em breve efpago redu- zido acinzas, € que nellas fempre achamos terra pura, vidro, pedra, ferro, chriftaes opacos , fal alcha- lino eee Swe aoe 46 Problema Tino fixo. Que materias differentes provindas de huma {5, e identica materia! Que pouco tempo foi pre- cizo pata fazer mudangas tad die verfas! Daqui parece que fe fegue gue tudo, quanto 0 fogo produz, he de repente ; os outros elemen- tos nad tem acgoens tad vigorofas, e aprefladas. Quem differa que na cinza Ciimpliciflima ao noflo parecer) fe acha fal alchalino fixo , chriftaes opacos , ferro , pedra , vidro, e terra pura ? porém achaé-fe com effeito ; porque a agoa defcobre o fal alchalino fixo , 0 iman moftra certamente o ferro, e por meio do fogo fe conhece infallivelmente 0 chriftal opaco, o vidro, a pedra , eaterra pura; ofogo, que produ- zio todos eftes mixtos, he o rigo- rofo , € perpetuo examinador da natu- om De Architettura Civil. 47 natureza de cada hum delles; por- que tudo, o que fe funde , e adquire tranfparencia , he vidro , tudo o que fenad funde, ¢ recebe efpiri- tos igneos em feus poros, he pedra, tudo o que tambem fe naé funde 5 nem recebe efpiritos alguns , he terra; e tudo o que nad fe funde , e conferva tranfparencia , he chrif= tal, Algumas excepgoens padecem: eftas regras ; porém as regras fem- pre fica6 fendo taes , nad obftantes as fuas execepgoens, ‘As agoas vitriolicas ( como j4 diflemos) contém ferro, e efte fendo o principio da cér efcura et negra , ou, parda acha-fe involvido naquellas agoas fem Thes commu- nicar a menor cér. A evaporagad manifefta huma parte do. ferro , porque efte fica no fundo do vafo. evaporante; a outra parte do mef- mo Se ESR ORG TR soa a cone 8 aa 48 Problema mo ferro fobe com o fumo, ou va+ por daagoa que fe exhala3 e nek ta forma temos efte metal groffei- ro, etambem pezado vagando fal pendido na atmofphera e ifto por- gue ficou dividido de tal forte por meio da dillolugad, que cada hu- ma das fuas minutillimas porgoens ficou pecando menos que a colum- na da atmofphera que as fuftenta. Acontece o mefino a todos os metaes, e ainda ao ouro, com fer © corpo mais pezado que conhece- mos porque {e a0 ouro na fundi- gad Ihe juntarmos o fal chamado armoniaco , efte incitado pelo fo~ go, unindo-fe eftreitamente ds par~ tuculas do metal , fucceflivamente © vai arrebatando , fublimando-fe hum, e outro até defapparecerem na vaga regiad do ar. Os Chimicos antigos, que efcreviaé fempre para~ bolica- nn a a De ArchiteEturaCivil. 49 bolicamente, chamarad a aquelle fal Aguila Ganimedis , alludindo & propriedade que tem de levar com- figo na6 {6 todos os metaes , mas tambem muitos outros mixtos , a que fe junta. . O mefmo intento fe verifica com efle experimento meu. Se fe fundir 0 ouro com oito ou mais artes de antimonio em hum ca- dinho Heffiaco coberto com outro cadinho igual, tapadas as junturas exaétamente com qualquer compo- figad glutinofa e forte , confervan- do fempre 0 ouro , e antimonio fundidos no Athanor , ( ou forna~ Tha a que os Artiftas chama6 piger Benrricus , porque adminiftra hum calor continuado , e fempre igual no mefino grao de attividade ) e ifto por tempo de hum mez , ou mais, conférme o pedir a exigen- D cia, 50 Problema cia da operagad, e fegundo a maior, ou menor quantidade de ouro fun- dido , deftapando-fe depois o tal cadinho, nelle fe naé ha de achar nem ouro, nem antimonio algum, nem ainda veftigios de haverem ef- tado alli; ficando além diffo illefos os cadinhos , tanto na regularidade da figura , comona ordem dos feus péros. Com tudo pelos mefmos pé- ros fe evaporarad inteiramente o ouro , e o antimonio depois de vo- latilizados pela continua acgaé do fogo. Que fe volatilizem os faes pe- netrando , rompendo , e fahindo dos vafos em que fe fundem , nad he para fe admirar ; porque os {aes tem commumente a propriedade conhecida de lacerar , e de rom- per qualquer corpo folido ; aflim somo nad he tambem para admi- yar De Architettura Civil. 5% rar que a agua paffe , ou fe filtre pelos péros do vafo terreo em que feacha; porque tanto aagoa , co- mo os faes (exceptuando os alcha~ Iinos fixos ) nad {ad entidades que refiftad , ‘por ferem volateis por fi mefmos , ¢ ajudados pelo ardor do fogo entraé facilmente em to- tal defuniad, e exaltagad das fuas partes. Oouro porém he hum corpo compaétiffimo , e fixiflimo , e por iffo nad paffa nem ainda pelos pé- ros da cupella , por onde alids (ex- ceptuando a prata.) todos os me- taes, e mineraes paflad prompta- mente , e da mefma forte que a agoa penetra, e fe imbebe nos pé- ros de huma efponja. O Vitrum Sa= turai (e4 faa imitagad todos os me~ taes , e mineraes vitrificados) pe- netra quando efté fundido, ¢ pafla Dii os a ae 52 Problema os vafos, de qualquer compofigad que feja6 ; nem fe tem achado meio para lhe tirar, ou impedir aquella forga: porém nefte calo o Vitrum Saturni , ¢ outros femelhantes, dei~ xa6 lefos , e como rétos os cadinhos, ou outros quaefquer vafos , naquel- Je lugar determinado em que os pe- netraé , e por onde fahem, E aflim na6 he facil de defcobrir qual feja a razad phyfica por onde o ouro Junto ao antimonio foge, e fe ex hala totalmente do cadinho , fican- do efte illefo , e fem a menor ro- tura, ou abertura. O phenémeno, porém he certo; porque o ouro fe exhala , eno ar defapparece, O mefino intento fe compro- va com a luna cornea , a qual tam- bem fundida fe evapéra em gran- de parte. O eftanho , eo cobre, fe eftando fundidos , fe lhes junta o ni- tro, De Architeétura Civil. 53 tro, tambem fe diflipaé igualmen- te, deixando hum pequeno refiduo, a que chamad os artiftas , Caput mortuum. O azougue, que he ocor~ po mais pezado depois do ouro, ¢ prata , por meio de hum calor bran- do,e faccellivo tambem fe difli- pa, e evapdra totalmente fem dei- xar veltigio , ou fignal algum da fua exhalagad. Em todos os referi- dos corpos 5 0 que o calor (mais, ou menos forte) faz he rareficar as (uas partes, e reduzillas a parti- culas , como indivifiveis , e por con- fequencia tenuiffimas , ¢ levilli- mas; nefte eftado de divifad , ou de defconjuncgad , bufcad aquel- las mefinas partes o ar, ficando nel- Je fulpendidas , ¢ ifto pelo princi- pio univerfal, de que pezad menos do que as colunas do ar, em que fe fuftentad. D iit Da- 54 Protlena Daqui péde inferitfe,, e tirar- fe a explicacad de alguns’ phend- menos hiftoricos, quando fe con- ta que nelta regidd chovera ferro, naquella cobre y em outea pedras cc. Fides fis pones auSlorem 3 po xém a poflibilidade de fados feme- Ihantes, pdde deduzir-fe facilmen. te pela certeza que ha de outros phendmenos, ou naturalidades, que fendo verdadeiros, ainda {a6 mais diffceis de explica®. E com effeito péde talvez chover azougue, quan. dio fe evapéra efte metal a0 fogo ou quando os calores fubterraneos 6 evapérad nas minas propriss, em aque aguelle metal fe cnn 5 entad jubindo os vapores mercuriaes , ¢ achando em certa altura humidade fuffciente que os ajunte, e conden- fe, achva ha dearrattar precifa- mente , € trazer comfigo 0 azou- me De ArchitefturaCivil. 55 gue jd unido com algumas das fuas partes , e tendo jé pezo maior , ¢ mais proporcionado para naé poder fubfiftir no ar. Efte azougue porém nad he producgad doar, nem he propria mente chuva de azougue (como fe diz ) mas he 0 mefmo que exha- Jando-fe da terra, ou jd por calor artificial, ou por fogo fubterraneo, adquirindo,pela conjuncgaé das fuas partes divididas, maior volume € por confequencia maior pezo , ca~ he como precipitado fobre a terra, de donde fe havia exhalado antes. Io he poflivel que facceda a ou- tros corpos differentes ; e deve fuc« ceder allim naquellas mefmas , ¢ fappoltas circunftancias 5 ficando por efte modo muito facil de ex- plicar aquelles taes phendmenos, de que aHiftoria faz mengad 5 fican Div do 56 Problema do com effito naé {6 explicaveis, mas provaveis, Sempre he certo , que todos 98 corpos, que admittem hum certo grao de divifad, ¢ attenuagad , e que algm difto podem fer impeli- dos por algum meio a elevar-fe ou fubit a0 ar , ficando nelle fat. pendidos, e em continua agitagad; Por outras caufas , e por outros Movimentos tornad a entrar, e a bulear a fuperficie do globo terra- queo , de donde fahiraé; fucceden. do aflim em muitos, e diverlos cor- Pos , huma perpetua circulacad , ou circumvolugad de hum elemen. fo para outro. ber, pa he orem facil de perce- ¢ plicar 0 modo fae bido , e certo, Porque em muitas Tegioens fuccede em alguns tem- Pos, choverem fapos, Defta natu- ralida- De Architeftura Civil. 57 salidade ninguem duvida, ao me- nos aquelles que tiverad occafiad de ver, e virad com effeito muitas vezes aquella repentina producgad, e nafcimento : com tudo o cafo nad he menos verdadeiro, e fuc- cede regularmente affim. . Em eftagad ferena, e eftiva, quando a luperficie da terra fe acha quente , ea mefma fuperficie em po fubtil , fe fobrevém fubitamente hu- ma trovoada, e a efta fe fegue lo~ go chauva, no mefmo inftante, que as primeiras pingas de agoa cahem fobre a terra, vé-fe entad huma im- menfidade de fapinhos, faltando de huma parte para outra, e bufcan- do os lugares abrigados , como {ad ‘os encdilos das paredes nas partes em que as ha; e ifto para evitarem a moleftia das agoas que haé de vir a correr por alli mefmo. Examina- dos ARETE TRE es 58 Problema dos eftesanimalejos , achad-fe fer verdadeiros fapos naé {5 na figura exterior » mas em todas as faas pro- priedades, gerados, e nafcidos ao primeiro contacto da agoa na ter- ra pulverulenta, Nad fendo elte fa- &o ambiguo , ou duvidolo, com tue do he de explicacad ardua, e ter-fe- hia por fabulofo, e impoffivel (co- mo outros muitos de que fazem mengad os naturaliftas) fe nad fo- ta vilto , ¢ obfervado infinitas ve- Zes nas partes em que coftuma acon- tecer. . E na verdade faz-fe violento © crer que hum animal poffa pro- duzit-fe fem a concurrencia de hum principio feminal antecedente. Hum contacto momentaneo parece que na6 péde formar mufculos periei tos, arterias, véas , fangue , inf tinéto, Nefte cafo a pollibilidade veri~ De ArcbiteEluraCivil. — 59 verifica-fe a pofleriori , e nunca poderia conhecer-fe por outro mo- Go, nem por raciocinio algum. Pa- ra aquella producgaé devemos en- tender que concorre oar, 2 agoa, ea terra, modificados , ou difpoftos eftes elementos para femelhante creagaé ; a forma porém , com que aquelles elementos fe difpoem, € modificad , feria trabalho perdido o inveftigar. / Nefte cafo naé podemos dix zer propriamente que chovem fa- pos, nem que eftes fe fuflentem no ar, de donde cahem; porque na- quellas mefmas agoas , recebidas em yafos , nad fe encontrad fapos , mas precifamente quando cahem fo- bre o pd daterra quente, A rari- Gade ef em receberem aquelles afua forma perfeita, ¢ diftingtiva no mefmno inflante , ouaéto de nal cer, 50 Problema cer, edenafcerem fem dependen- cia alguma de outro animal da mef- ma soe e quizermos dizer que producga6 tal he parto i Jame 20, contra iffo teriamos 0 modo com que aquella me{ma produccad fe faz além de naé fer ainda muito ca © axioma de quea corrupcad aa he geragaé de outro. No ‘acto mencionado obfervou-fe fem- Pre 5 que o nafcimento dos fapos 16 provém quando a terra efté {am- mamente fecca , e reduzida a pd na fuperficie por caula da mmelina fequidad; e nefte eftado nad po- de haver corrupgad na terra; por- que nenhum corpo fe cortompe fem a prefenga de humidade , e donde anaé ha nad péde ter lugar a corrupgad 5 antes para elta fe impedit he feguro meio 0 impe- dir De Architeftura Civil. — 61 dir todo 0 commercio de humida- de com o corpo que fe quer prefer var de corrupgad. E ainda fem fer por aquelle fundamento, he tambem certo que nenhuma corrupgaé fe faz em hum inftante ; a natureza nad corrompe, nem produz fem tempo , ou mais ou menos progreflivo , fegundo a qua- lidade da producgad ou corrupgad- Hum inftante verdadeiramente nad he tempo, ainda que o tempo fe compoem de inftantes; cada hum deftes podemos confiderar como hum ponto mathematico, em que nad ha partes algumas, ainda que de pontos fe forma qualquer parte. Eaffim do nafcimento momentaneo daquelles animaes immundos, o que podemos dizer he fer hum phend- meno do numero daquelles que fe nad podem explicar phyficamente 5 dos 6a Problema dos quaes ha muitos que, para fe explicarem , he neceflario entrar em fuppoficoens gratuitas , ainda menos explicaveis, e munca de- monttraveis. _ Outros phendmenos admira- veisha, que fe entendem fer pro- ducgoens dos metedros , ¢ que tem no ar o feu nafcimento proprio; hum delles he a pedra chamada de corifeo, a qual o vulgo cré fer hu. ma pedia verdadeira que cahe da nuvem 20 elmo tempo que 0 raio a rompe 5 porém efta credlidade (5 fe funda em hum abulo popular; porque nunca fe obfervou que fe- imelhantes pedras vieflem doar, ou delceffem delle com 0 raio : elte nad he mais do que hum globo de fego de huma intenga6, ov astvi eee por iffo penetra ra- Pidiflimamente os corpos mais com= pados, De Architeflura Civil. 63 paétos , deixando apenas hum fig- hal breve no lugar em que os pene tra , ¢ naquelle por onde fahe; ¢ quando acha mais forte refiftencia 5 ebra; até que ondulando diver Itnente, perde a forga do movie mento, porque fe extingue a ma~ teria em que confiftia a {ua inflam- macad. Bem he verdade que na terra fe encontrad muitas vezes humas pedras chamadas de corifco ; eftas fomentarad o abufo commum de que tinhaé cahido com 0 raio 5 mas elta idéa nad fublifte j4 , ( ainda que alguns a querem fultentar ain- da) porque a Phyfica inftruida defpreza tudo aquillo que nad tem na experiencia hum fundamento cer- to; admitte as raridades que po- dem fer examinadas , nad aquellas que, naé podendo examinar-le , fa fe 64 Problema fe eftabelecem em huma tradicad mal entendida , recebida ligeira- mente, e fem exame. E com effei- to a pedra que vemos, e a que chamaé de corifco, he mui folida, pezada para proceder de huma Fepentina formagad dos metedros : ella he producgaé da terra , nad do ar; porque nefte {6 podem ter fir- meza aquelles corpos , cujas partes admittem huma fumma divifad fem perder em cada huma dellas a fua figura natural , e que juntando-fe depois humas com asoutras, retém aquella mefma figura em maior vo- lume: as pedrasnaé fad affim; por que, fe forem reduzidasa partes mi- nutiflimas , eftas, ainda que venhad aajuntar-fe, nunca tornaé a tomar a figura antecedente , folida , e com- pacta, E affim quem differ , que Vio cahir huma pedra de corifco , ou De Architellura Civil. 65 ou o medo o fez allucinar , ou quer que 0s outros fe allucinem. CAPITULO W. E tudo , o que fica expofto af- fima, fe conclue que na at- mofphera, ou regiad doar fe a hum grande numero , € grande quantidade de corpos inviliveis 3 e inapprehenfiveis , entre os quaes de- ve contar-fe o acido que corrde as pedras que Ihe naé refiltem por fal- ta de dureza fufficiente. E fuppofto que tenhamos j4 moftrado com al- guns experimentos , que no ar fe achaé com effeito muitos corpos fo- Tidos que {6 fe manifeftad em cer- tas circumftancias , € por certos mo~ dos; com tudo ainda nad moftré- E mos 5 66 Problema mos que entre aquelles corpos in- vifiveis fe ache tambem hum acido invifivel, Nad faltad provas, de que polla inferir-f com probabilidade bem fundada, que no ar nad exif- te acido algum material que caule defaniad na contextura das pedras molles , que como fica dito , {a6 juftamente reprovadas para toda a forte de edificios, A primeira, e principal prova confifte na certeza que temos,de que expondo-fe algum, ou muito tem- Po a0 ar qualquer vafo aberto , e cheio de agoa , efta examinada de- pois tanto pelo fabor , ou gofto, como por outro qualquer meio, nenhum indicio de acido {e ha de achar naagoa , aflim expofta a0 ar3 fendo (a0 que parece ) indubita- vel, que fe 0 arcontiveile acido al- gum material , efte paflando con~ tinua- De Architelura Civil, — 67 tinuamente , e immediatamente fo- bre a fuperficie da mefma agoa y nella fe diffolveria, ea agoa ficaria Jogo recebendo o fabor do fal, € efte fe acharia em fubftancia folida, e vilivel em fe evaporando a agoa. Efte argumento he de folugaé diffi- cil, e feria decifivo contra 0 acido doar, fe nad tiveflemos outros de igual, ou maior forga para eftabe- lecer a inexiftencia delle. ‘A fegunda prova , ¢ da mefma natureza que a primeira , he tirada de todos os {aes alchalinos fixos , ou volateis; os quaes fendo expof tos ao ar, ou feja em forma folida, ouem férma liquida , fe no ar pre- exiftiffe qualquer acido que folle , efte fe incorporaria , e introduzi- ria naquelies faes , ¢ de alchalinos os faria neutros: o que porém nad fuccede alfim; porque a expofigad Ea ao ETT 68 Problema aoar, nad muda a qualidade dos alchalicos, ficando eftes confervan- do os feus proprios caraétéres , e todas as fuas qualidades efpecificas. _ Em terceiro lugar, a diffolu- a6 didphana de qualquer fal alcha- Iino fixo , ou ainda volatil, ver-fe- hia turvar-fe , e perder a tranfpa- yencia , fe houveffe qualquer aci- do no ar; o que porém nunca fuc- cede affim ; porque aquella diffolu- a6 , expofta muito tempo ao ar em vafo aberto, e defcoberto fempre , nem por iffo fe turva, e guarda a mefma claridade fempre ; e ifto fer- ve de indicio claro de que 0 ar nad contém particulas acidas em fi. Eftas {a8 as objecgoens mais fortes que induzem a inexiftencia total da~ pret pretendido, acido de que fe uppoem abundante oar, ede que entendemos proceder a corrofaé das pedras, Nad De Architellura Civil. 69 Nad obftantes porém aquel- las objeccoens fundamentaes » nem por iflo fica vacillante a exiftencia do acido propofto ; porque efte bem pode eftarno ar, fem que fe diffolva nas agoas que encontrar, e fem que mude os alchalicos em faes neutros. Efta propofigad pdde demonftrar-fe por varios modos. E com effeito fe em huma camera fechada fe evapo- rarem os efpiritos falinos do fal com- mum, do nitro, do vitriolo , ¢ outros, eftes acidos had de eftar ( depois de exhalados) no ar ambiente da mefma camera, fem que por iffo fe incorporem, ou embebaé nas agoas, que eftiverem dentro em vafos def cobertos ; e da mefma forte os al- chalinos pela junccad dos mefinos acidos fe nad had de mudar para faes neutros. Bem he certo que a exhalagad E iii (pre- ao Problema Cpreza_em lugar determinado de provinda de lores corrofivos , ha de offender os orgads da refpiragad nos animaes que eftiverem incerra= dos no mefmo , e identico lugar, como ds veres fe faz para deftruir alguns infe€tos; mas illo vem, por- que os infe€tos, e todos os animaes continuamente infpiraé , e refpirad, € nefta accad attrahem os corrofivos que o ar contém , ena attraccad de vapores infettos fe fuffocad. Por ek ta mefina caufi he infalutifera to- da avizinhanga de agoas eftagna- das, e paludolas. Além difto_o ar involve em fi huma materia fabtiliflima, mobi- lifima, eunétuofa que fe incorpo= ra com todos os acidos, e com toe dos os vapores que no ar fe encon= 1265 € por illo ficad os acidos (em quanto girad no ar) indifloluveis na De Architeflura Civil. = 7% na agoa; porque todo 0 corpo dif: foluvel perde efta aptidad todas as vezes que fe une a qualquer un~ Quofidade ; ¢ affim ficad os acidos indiffoluveis na agoa , e fem adti- vidade a refpeito dos corpos alcha~ linos, E de faéto todas as materias oleofas retundem efficazmente a fo- Iubilidade dos faes, € infringem a erofad a€tual de todos os corro- fivos . Daqui vem 0 conhecimento pratico fobre os remedios opportu- nos contra a acgad dos corrofivos no ventriculo de todos os animaes 5 cuja acgad fe nad péde impedir me- Thor que com a prompta applicgad de mixtos oleofos , os quaes que- brando de algum modo as pontas dos efpiculos falinos,nad {6 os fazem como rombos, ¢ debilitados , mas tambem coadjuvaé muito para os Eiv lan- eee een en. 7 Problema Tangar fra, eftimulando © mefno ventricalo para o vomito. G ufo dos leites , que depois fe applicad fe~ lizmente, tendem para o mefmo fim de adogarem , ¢ enfraquecerem 0 vigor dos cortofives, pelo fanda- mento de conterem os leites grande parte de huma materia oleofa , e anodina, cuja undluofidade mocle- ra, ¢ impede a forca de todos os faes, ecompoltos corrofivos. __Além difto confta por muitos, ¢ infalliveis experimentos , que no ar exifte realmente hum acido pri- mogenito, que he o principio ori- ginal de todos os faes que conhe~ cemos : as matrizes , ou diverfos corpos, a que aquelle fal fe une, fe concentra, e aflocia, fad 0 donde vem, e donde procedem as diffe- rengas de cada hum delles, fegun- do a qualidade dos melmos corpos aque De ArchiteluraCivil. 73 a que fe juntad ; porque com al- guns corpos fe une aquelle fal mais Intimamente , com outros menos; recebendo varias propriedades ef- pecificas , nad {6 de fi, mas dos corpos , ou fujeitos , a que natural- mente fe in corpora. Alguns quizerad dar ao fal do mar a primogenitura , ou 0 princi pio dos laes todos 5 outros quizeras Nar aquella preferencia ao acido vi- triolico , ou fulphureo, porque ef te fal, ou acido liguiforme fe acha no ar abundantemente, donde jun- tando-fe com efpiritos , ou materias oleofas férma hum verdadeiro en- xofre, como fe oblerva ao cahir do raio 3 porque na parte em que cahe, ou por onde pafla, fica hum chei- ro infupportavel de enxofie acezo 5 fendo que nenhum enxofre péde dar-fe naturalmente , nem com i 74 Problema fe por arte alguma , fem fer por meio , e por intervengad daquel- Te acido que the he proprio. Elte mefino acido fe acha tambem , e bem conhecidamente nas entranhas da terra, e em todas as partes della; porque apenas ha mineral algum’ em que o enxofre fe nad manifelte claramente. O fal commum nad he izento daquelle acido, como fe ad- verte na decrepitagad, em que oaci- do fulphureo fenfivelmente {e per- cebe. E affim aquelle acido fe en- contra fempre naterra, no mar,no ar; por iflo muitos Ihe dad a pri- mazia eo fazem principio infor. mante de todos os outros acidos. _‘Tambem fe acha no ar o acido niteofo, o qual fe obferva nas aguas tonitruolas, as quaes, Le fe evapo- 145, ou delillad lentamente, dei- xad no fundo um refiduo terrel- tre, De ArchiteuraCivil. 75 tre, ¢ falino daqualidade daquelle acidlo. Todos os vegetaes, fem ex ceptuar algum , contém hem acido, o qual {8 thes péde provir do at , ellencificado 4 natureza de cada ve~ getal; como fe colhe do fumo que Schala cada hum delles na occa fia em que o fogo os faz arder , enjo Fumo , por caufa do mefmo aci- do, offende os olhos dos que fe ex- poem a elle. ‘A induragad , ¢ incorrupgad das carnes, expoltas livremente den- tro das chuminés , procede tambem do mefimo acido 5 porque efte con ferva, ¢ livea da corrupgaé muito mais efficazmente do que 0 acido do falcommum, Aquelleacido, que todos os vegetaes contém , na6 pro- vém da terra onde o vegetal fe crias porque a fuperficie da terra nad tem fal algum que fe manifelte, ou fe confer- scp TC EE ALL NLM 76 Problema conferve nella indiffoluvel nas agoas que paflad pela mefma fuperficie , continuamente. Ifto fe juftifica , por- que fe em qualquer terra bem lava~ da, e porconfequencia izenta de todo, ¢ qualquer fal, fe em tal terra, digo, fe femear alguma planta , ef- ta, examinada depois, ha de dar, € moftrar infallivelmente o fal que lhe for proprio. As flores, que arti- ficiofamente nafcem na agoa (ain- da que efta fofle primeiro dettilla- da) tambem, e fem intervengad de terra alguma,, had de dar aquel- Te fal , ow aquelle acido que thes for eflencial ; 0 qual nad_podem as flores, no cafo propotto , tirar de ou- tra alguma parte , nem de outro Iu- gar, fe nad doar. O acido nitrofo nad he con- cregaé da terra , porque no inte- rior profundo della nunca fe achou aquel- De ArchiteSturaCivil. 77 aquelle fal ; como alguns entende- rad, e ainda entendem hoje com menos bem fundada experiencia. He certamente producgad do ar, for- mada na fuperficie de huma terra particular , € apta para receber me toncentrar em fi aquelle acido ad~ mirayel, ¢ verdadeiramente efpan- tofo pelos feus rariflimos , ¢ tre- mendiffimos efeitos. . Daqui vem que a maior parte do falitre, ou nitro que nas fabri- cas da polyora fe confome > todo he artificial, cujo artificio nao con- fifte em mais do que em efpalhar fobre a fuperficie da terra outra terra calcdria , aggregando-fe fu- petfluidades de animaes » € vege- taes fummamente putrefactos ; cu- ja miftura expofta ao ar Ce prin cipalmente ao vento Norte , de que refultou dizer-fe fallando-fe do ni- tro: decane aren IC ENE CREEL EE TI AIT 7 Problema tro: Ventus in utero portavit) com ‘© tempo fe incorpora a ella 0 aci- dodo ar, de que provém hum ver- dadeiro nitro, concorrendo para a mela producgad outras circun{= tancias que acceleraé , e promd- vem a geracad , € apparicad da- quelle fal. Por caufa dos ingredi- entes que concorrem para a for- magad do nitro, pelo ingreflo que tem nos mineraes, chamarad- lhe os artiftas fal animal , vegetal, e mineral. , O mefino fuccede ds terras aluminofas, e vitriolicas, das quaes depois de extrahidos aquelles aci- dos , que tem naturalmente, tornan- do-fe/a expor ao ar livre, 0 con- curfo do mefmo ar faz tornar a concrecer nas mefmas terras ou- tros novos acidos da mefma natu- reza, e de igual qualidade dos pri- meiros; De Arcbitetlura Civil. 75 meiros ; ficando as terras fervindo affim de matriz perpetua para efta- rem fempre attrabindo do ar ou- tras femelhantes producgoens. Os Cirurgioens methodicos tambem conhecem a exiftencia do acido do ar3 por iffo na cura das feridas attendem com cuidado a defendellas do contacto immediato do ar ambiente que circila; e ifto naé porque 0 ar como fimples ele~ mento pofla fer nocivo , mas por- que oacido, que contém , retarda a cura, e aggrava mais as partes of fendidas; e quanto mais fenfivel , e de mais exquifito fentimento he aparte, em que a ferida cftd, tan- to mais fenfivel he tambem nella a impreflaé do ar; porque efte juntando-fe aos humores j4 defor denados, ou degenerados por qual- quer cafo natural ou accidental y entad 80 Problema entaé 0 acido do mefmo ar, aug- mentando o mal, perturba a in- tengaé de quem o quer remedear. Por iffo na cura das feridas, 0 ob- jetto primeiro y e principal, con~ fifte em as cobrir exatamente , de- pois de applicado 0 remedio pro- prio. E com effeito muitas feridas faraé por fi mefmas fem mendigar os foccorros da arte , mas {6 por virtude, e forfa medicinal da na- tureza; porém difficultofamente fa- 1a8 eftando defcobertas, e expof- tas ao rigor , impulfad , ou aci- do do ar. Com o que fica ponderado fe convence que no at ha hum aci~ do exiftente , perpetuo , phyfico , apprehenfivel , e em certas circunf= tancias tambem vifivel ; ¢ que efte mefmo acido he como hum Pro- theu, a quem a natureza faz to- mar De Architeflura Civil, 8x mar infinitas fSrmas , infinitas f- guras, ¢ infinitos modos. Efte he talvez o verdadeiro Mercurio, que 0s Philofophos antigos indicara6, f- gurado na apparencia de huma in- domita ferpente , ¢ outras vezes na de hum dos feus deofes fabulofos , armado do famofo caducéo , ¢ azas talares. Aefte acido do ar chamad nitrofo os Philofophos modernos , e aclle attribuem , como privativas mente, afabrica, ou acgad de ve- getar ; porém nefta propriedade , graciofamente concedida a0 acido nitcofo , talvez que tambem haja fabula 3 {6 com a differenca de fer menos antiga , € por confequencia meaos refpeitavel. CA- Problema CAPITULO V. S Esto pois certo que ha hum cido no ar , efte acido paf- fa por conftante fer nitrofo; e tan- to, que fundados alguns naquelle principio incerto , entrarad a idear, ‘ou inventar compofigoens diverfas com o titulo de fegredos , nas quaes © nitro he ingrediente principal, e por meio delle pertendem promo- ver fingularmente todas as forlas feminaes em cada hum dos tres reinos da natureza3 no reino mi- neral entrou o nitro a fazer as mais fauftuofas efperangas , como ma- teria que devia fer da celeberrima pedra Philofophal ; e efta entrou tambem a fer o objeto das mais obfti~ De Architetura Civil. — 83 obftinadas indagagoens, ainda que fempre infructuofamente, e talvez munca com o fruto defejado da cha- mada pedra por excellencia 5 ori- gem porém de muitos inventos uti- Tiffimos, curiofiffimos, e admiraveiss porque, bufcando-fe huma coufa que fe nad achou, acharad-fe ou- tras que fe nad bufcavad. No reino Animal , devia o nitro fazer recufcitada a raga dos Gigantes , ¢ prolongar conlidera- velmente a vida : porém fuccedew o contrario , porque o invento da Polvora; parece que {6 veio para fazer mais diminuta , ¢ breve a du- ragad dos homens. No reino Vege- tal devia o nitro forgar a terra a dar muitos mil por hum, augmen- tando-lhe o vigor para produzir abundantemente ; porém tambem naé faccedeu affim 5 porque aquel- Fit la 84 Problema Ia may univerfal ficou com a mef- ma fecundidade que teve fempre, nem {e fez mais liberal por fer aju- dada pelo nitro, antes efte he ca~ paz de a fazer efteril , e infe- cunda. _ As minhas proprias experien- cias, enad as dos outros, em que confio poucas vezes pela multidad de apparatos menos finceros , de que os livros eftad cheios, e em que os Authores com menos fincerida- de efcreverad_na Phyfica Chimica , eifto, ou fofle por falta da inftruc- a6 neceflaria a refpeito dos prin cipios daquella preciofiffima, e uti liffima {ciencia, ou foffe por que- yerem occultar a verdadeira mani- pulagaé de muitas operagoens que defcreveraé ; as minhas experien- cias, digo ,o que me moftrarad ana- lyzando o nitro (que he o mefmo que De Architeflura Civil. 85 que o falitre vulgarmente coitheci- do) foi, que efte fal he produccad doar, mas naé do ar unicamente; eque contém dotes admiraveis , ne= gados inteiramente a todos os ou- tros faes , tanto naturaes , como compottos: porém naé pude defco- brir nelle os effeitos portentofos (ex~ ceptuando a fua elafticidade ) de gue fazem mengad Joad Rodolfo Glauber , Paracelfo , Becher, € outros. Achei aquelle fal inutil , ¢ con trario para promover; incitar, oume- thorar a vegetagaé das plantas; por~ que as fementes vegetantes nad ad- quirem vigor algum na infufad do nitro, antes de algum modo o per- dem, quando a infulaé he prolonga~ da, e faturada com maior porgaé de fal. A infufad das mefmas fe- mentes em outros quaefquer {aes , F itt ou 86 Problema * ou fejad fixos, ou volateis, ou fe- jad alchalinos, ou acidos, nad tem mais efficacia que a do nitro fim- ples. Naé obfta o fer doutrina in- veterada, e feguida commumen- te pelos melhores naturaliftas » ainda por muitos Phyficos moder- nos, ¢ bem inftruidos , em que af fentaé todos que o acido nitrofo he o yerdadeiro agente univerfal , e unico promotor da vegetagad; nad obfta, digo, efta dourrina , porque nas materias Phyficas naé {fe con- fidera a authoridade dos antigos, ou modernos; ¢ {6 fe attende para a authoridade da experiencia ; efta he a que decide o ponto , e nad os que tratarad delle: tudo, o que nad conf- ta por huma experiencia conftante, ¢ reiterada , he o mefmo que nad fer, ou nad conftar por modo algum. Ecom De ArchiteElura Civil. 87 E com effeito a experiencia moftra que nenhum acido he pro- prio para excitar a vegetagad ; ifto feentende , naé depois de eltar cor porizado, e determinado nefte, ou naquelle gencro de fal, mas fim tomado , ou entendido no eftado como primitivo , em que o acido do ar pende indeterminado ; ¢ cm que fendo como huma materia , ou ente univerfal , eft difpofta, e apta para informar todas as materias par= ticulares, que tambem tem aptidad para receberem , ¢ tomarem efta 5 ow aguella forma. Ifto fe comprova com 0 exem~ plo de qualquer fal alchalino fixo 5 efte por fimefmo, e fegundo a fua indole natural, attrahe a humidade todas as vezes que fe expoem ao ar3 fermenta com os acidos, e com elles fe reduz a hum fal, aque chamad Piv neu~ 88 Problema neutro; abforbe os mefmos acidos, e osdeftroe ; diffolve-fe em todos 05 licores , exceptuando os oleofos delle refultad as compofigoens fa- ponarias ; diffolve promptamente todas as materias fulphureas, eun- Quofas; e¢ depois de as diflolver , as larga, ¢ faz precipitar ao fundo do valo, todas as vezes que fe intro- duz algum acido na diffolugaé. Porém depois que hum fal al- chalino fixo fe acha vitrificado com qualquer aréa, ou terra , ja fica per= dendo todas aquellas quaiidades que Ihe {a6 effencialmente proprias ; € com effeito j4 entad nad faz effer- vefcencia com os acidos , nem péde mudar-fe com elles em fal neutro; jd nad péde diffolver os mixtos oleo- ‘fos para formar hum coagulo , ou fabad; jdnad péde diffolver-fe na agoa , nem attrahir a humidade aé- rea; De Architetura Civil, 89 reas jd nad péde fazer corvolad al- jguma 5 ¢ de hum corpo éauftico veio P reduzir-fe a hum corpo infulfo, impenetravel a todos os efpiritos y ¢ licores corrofivos. E aflim velo 0 fal alchalino fixo a perder todas as faas proptiedades , e ifto facilmen- te e para fempre ; ¢ fem j4 mais poder tornar a fer, 0 que tinha fi- fo, nem poder recobrar nunca os {eus primeiros dotes ; ¢ por iffo fe Ihe péde applicar o que o Poeta diffe : a. facilis defeenfus As Noffes , atque dies patet atri Diti. Sed revocare gradum , fuperasque evadere ad auras Hoc opus , bic Jabor eft. E affim, o dizer-fe que 0 acido ni- trofo contribue para todas as ve- geta- 9° Problema getagoens, he hum entender divi- hatorio porgue por nenhum ex- perimento fe faz certo , ou verifi- ca, que feja aquelle acido, e nad outro: antes parece que aquella tal prerogativa devia dar-fe a0 acido falphureo vitriolico ; porque defte he fummamente abundante o ar, como fe obferva commumente nos diverfos metedros que fe formas , © acontecem na atmofphera , don- de aquelle mefmo acido fe mani- fefta por varios , e diverfos modos, E fe com effeito 0 acido nitrofo co opéra para aquella maravilhofa ac- a0 da naturaza, péde fer, fe mais provavelmente entendermos, ou to- marmos 0 acido nitrofo na fua pri- meira indeterminagad , ifto he no eftado potencial, mas naé depois de corporizado , ou realizado emi actual , ¢ verdadeiro nitro; porque ja De Arcbiteftura Civil. 94 janefte grao edepois de efpeci- ficado , fica certamente inhabil pa- ravegetar, nem fazer vegetar. O referido Poeta o achou affim na {ua materia, ¢ excellente inftrucgad da agricultur: Semina vidi equidem mualtos medi= care ferentes . Et nitro pris , & nigra perfun- dere amurca: | Grandior ut fetus fiiquis fallack bus effet. . Et quamvis igni exiguo propera- ta maderent , Vidi leéta din . & multo fpettata Jabore . Degenerare tamen , nevis buma- na quotannis Maxima queque manu legeret : fic omnia fatis Inpeias ruere . ac retro fublapfa referrin To tie eR TER Tt LE A ON : nd iS Ss 92 Problema Todos os Authores, que efcreverad com methodo fobre a Agricultura e que quizerad difcorrer com mais provaveis fundamentos , alfentaraé em que os faes da terra {a6 os que a fettilizad ; por iffo dizem que a terra depois de repetidas , e conti- nuadas producgoens , vem final- mente a canfar, ficando confide- ravelmente diminuta no vigor, por The faltarem aquelles faes que foi fucceflivamente empregando nas produccoens antecedentes , fican- do para os mais annos como hu- ma terra ufada, ¢ pouco vigorofa. Porém aquelles fuppoftos faes nunca os pude defcobrit ; ¢ por mais que examinafle varias terras , € por varios modos, nad achei nel- las ofal de que fe diz depende a fua fecundidade : 0 que fe encon- tra fempre he huma materia inflam- mavel, SS Sa aes | De Architeftura Civil. 93 mavel , ¢ ungtuola, ¢ efta analy- zada exactamente , nad moftra fal de qualidade alguma , nem fixo, nem yolatil , nem nitrofo, nem ful- phureo: de que fe fegue que o fal, que na terra fe fuppoem , he hum ente, que a imaginagad creou; € ainda que todos os Efcritores fazem mencad delle, he porque huns fo- rad efcrevendo o melo que outros tinhad efcrito j4 , admittindo to- dos fem exame hum fyftema que experiencia contradiz. E de facto naé ha fal, que nad feja oppofto 4 vegetagad, co- mo pode facilmente convencer-fe quem o quizer experimentar 5 ¢ if to pelo fundamento de que todo o fal faz fulpender as accoens ulte- riores, a que 0s corpos tendem na~ turalmente ; das quaes (fem fallar na yegetagad ) huma he a fermen- tagad » ee 94 Problema tagad, ea outra a corrupgad; def- ta todos fabem que o {fal a impe- de, enelle eft4 o melhor meio de a impedir: a fermentacad tambem fica fufpendida pela introducgaé de qualquer fal, e em porcaé conve- niente , no corpo do liquide fermen tavel. De forte , que nad {6 os {aes falitos (que {a6 os acidos}) impe- dem a vegetagad, acorrupgad , ea fermentagad, mas tambem os faes dulciformes , como he oaffucar, outros femelhantes, Nad {5 os faes em fubftancia fervem para impedir efficazmente aquellas tres operagoens , ou acgdes principaes da natureza, mas tam- bem o vapor delles faz o mefino effvito ; porque o vapor , ou elpiti- to, que exhalad o fal commum, 0 nitro, o enxofre, e todos os mix- tos que contdm falacido , impedem acor- De Arcbiteélura Chil. 95 acorrupgaé , a fermentagad , eain- da a melma vegetagad; efta total- mente fe fufpende , como fe ob- ferva nos montes, e lugares mine- raes , donde os vapores fulphureos, que dos mefinos mineraes fe exha- ]ad, fazema terra efteril para fem- pre, porque os efluvios vaporofos, falinos , e corrofivos , reduzem a mefina terra a huma qualidade cauf- tica, e infecunda. O vapor do enxofre inflam- mado , fendo agitado em vafo proprio com qualquer liquido fer~ mentavel tambem fuffoca inteira- mente aacgad de fermentar. Def- te principio tem nacido compofi- goens diverlas ; ¢ huma dellas he aque chamaé vinho furdo, 0 qual nad he outra coufa mais do que o mofto batido , ou mifturado com o vapor do enxofre acezo; e efte he corps appa yess 96 Problema he o que enerva a aptidaé que to~ do omotto tem para fermentar , fi- cando por efte modo fem poder mudar-fe , confervando a docura , que tem naturalmente a qual por outro nenhum artificio conhecido fe pode confervar melhor, nem re~ ter a mefina dogura tad conftante- mente. 7 . Eaflim de nenhum acido po- demos affirmar com probabilidade racionavel , que [eja proprio para incitar , ¢ promover a accad de ve- getar; porque antes por muitos ar~ gumentos, e experimentos {e con- vence que todos osacidosimpedem, e fuffocad aquella mefma acgaé , deftruindo os elpiritos feminaes de que toda a vegetagad procede: e if- to , ot {eja por caula da corrozad dos acidos, ou por outro qualquer principio que lhes feja natural 0 iS ‘0 De Architeflura Civil. 97 &o de impedir, e enervar inteira~ mente a yegetagad , he certo, co- mo a experiencia moftra facilmente. $6 temos huma objecgad con- fideravel , que favorece o fyftema que temos reprovado , de que 0 aci- do nitrofo he agente progenitor de toda a vegetagad ; e vem a fer que o nitro {6 por fi, e em fi met mo, parece que vegeta , fem de- pendencia de outro algum corpo, ou femente vegetal. E com effeito, fe puzermos a diffolugad do nitro, feita em agoa fimples em qualquer valo de vidro, de barro, ou de me- tal, deixando eftar a diffolugad fem amover por efpaco de alguns dias, (contendo a agoa todo o nitro que derreter ) veremos fem fallencia y comecar © nitro a fobir pelos Iados do valo que ocontém , fazendo ra~ mificagoens diverfas , e 4 meneira G de ee = 98 Problema de hum arvoredo criftallino , em que fe diftingue admiravelmente a figu- ra das raizes, troncos, folhas , for= mando tudo a imagem agradavel de hum bofque variado por mil mo- dos, ¢ em que o acido nitrofo , co- mo unico architecto , fez em pe- queno efpago , e em pouco tempo aquella melma reprefentagad que a natureza faz em grande, e depois de muito tempo. O fal commum, tratado pelo mefmo modo , faz tambem as mef- mas apparencias ; mas nad com tanta {ubtileza , nem com tanta fe- melhanga , nem com tanta graca 3 afleGando fempre a forma cubica que lhe he propria, e que affecta fempre. Outros {aes compoftos imi- tad tambem agquellas _reprefenta- oens falinas , tomando cada hu- ma dellas a indole ou figura oe xa De Architeftura Civil. — 99 ral dos mefmos faes. Porém 0 ni- tro fimples excede a tudo , tanto na variedade dos paizes que re- prefenta viftofamente , como na promptidad , e propriedade com que os imita. Efendo aflim , como havemos de negar aos acidos , e principal- mente ao acido nitrofo, a potencia, ou alma vegetativa , nad {5 para vegetar , mas tambem para exci- tar vigorofamente a vegetagaé em todos os fujeitos vegetaveis ? Com que razaé havemos de difputar a aquelle acido huma acgad. maravi- Ihofa, ¢ fingular de que tantos Ef critores eruditos o fizerad fempre author cuja opiniad , feguida uni- formemente ha tanto tempo, pa- rece que tem preferito; fe he que nas materias phyficas tem lugar a prefcripgad ; e ainda que o naé te- a ii nha, ee | | | { { j 100 Problema nha, he fem duvida que tanto he erro oidear hum fyftema mal fun- dado , como em arguir fem julto fundamento aquelle que eft ple- namente recebido. Com tudo nem por iffo de- vemos affentar que o nitro he ve- getavel » nem que tem particular propriedade para promover qual- quer vegetagad. Os factos aflima deduzidos, e ainda outros que fe poderiaé expender a favor do mel mo intento, nad induzem mais do que a apparencia de hum fyftema verdadeiro , mas nad verdadeiro com effeito. Affim fad outros fyf- temas, que introduzidos ha muito tempo, e eftabelecidos tambem em laufiveis fandamentos , € corro- orados com experimentos fingula~ res, nem por illo {a3 mais certos5 porque de muitos phendmenos ad- mira- De Architeétura Ci miraveis refultad confequencias in- certas ¢ falliveis ; porém depois que fe examinad maduramente , entad a verdade fe defcobre, ¢ a illufad defapparece. O nitro he hum dos mixtos que tem exagitado todos os enge- nhos, pelos feus rariflimos effeitos, fervindo de bafe , ¢ argumento pa- ra nelle fe fundarem muitos dog- maticos difcurfos; deftes alguns fe fuftentad ainda, e com razaé plau- fivel ; outros a experiencia def- mentio, e moftrou 0 contrario do que parecia : entre os que fubfi- tem, hum he o que da ao nitro a virtude vegetante ; porém talvez que mal fundadamente: e fuppof- to que efta materia feja de algum modo alheia do prefente affumpto, com tudo, como feja util a fua dif cuflad, bom ferd que nad deixe- Gi mos SPATE SRT RAST OTTO GLa \sgpermnae iin enact 102 Problema mos indecifo o ponto, ainda que nad folle mais que para. defabu- zar os gue inutilmente crem que o nitro he bom para promover a vegetagad das plantas, e que affim perfuadidos trabalhad infruétuola~ mente na preparagad daquelle fal, para com elle excitarem a forga das fementes vegetaes. CAPITULO VL Sfima diffemos que o nitro vegeta por fi mef{mo , como fe verifica na diffolugaé defte fal em qualquer agoa : porém a verdade he, que a chamada vegetagad do nitro , nad he mais do que huma fimples configuragad , cu fublima- gad do mefmo fal, procurada pela exha- De Architeflura Civil. 103 exhalagad, ou evaporagad da agoa que ocontém: daqui vem a appa- rencia de vegetar que o nitto faz; apparencia viftofa com effeito , fe« melhante 4 arte do pintor 5 que imita tudo , fem dar realidade a nada; férma a figura, nad acou- fa; debuxa hum corpo fem lhe dar fubftancia alguma ; tudo fica para a vifta, e nada para o fer. O nitro pela exhalacad da agoa entra a criftallizar-fe fucceffi- vamente; enefta accad, em que fe aparia da agoa , donde eftava , vai ficando pelos Iados do vafo que 0 contém , tomando ao mefmo tem- po a forma de hum fal configura- do por diverfos modos, A irregu laridade das fuas partes, encadea- das humas pelas outras , faz 0 ap- parato de hum bofque criftallino , ou de muitas arvores juntas Ste iv i. fod NLA BOBCAT: ee Se SEE RR SR ROSES ETON BHAA OSE S TOs Problema fi. Efta femelhanga he {6 fuperfi- cial , provinda das particulas do nitro unidas diverfamente , nad de efpirito vegetal que as configure y nem que as informe precifamente. A mefina confufad , com que o ni- tro tende a criftallizar-fe , he a que vai difpondo as fuas partes para formarem huma efpecie de labe- rinto ou vegetacad. O que moftra fobre tudo que aquella concrefcencia nad provem de efpitito vegetante , he que 0 nitro depois de vegetar por aquel- Je modo, nad adquire maior pe- zo, e conferva o mefno que U- nha fem augmento algum; fendo que a verdadeira vegetagad fempre induz pezo maior , e maior volu- me no fujeito que vegeta 5 porque ovegetar he hum principio de cref- cer, até chegar a0 tamanho pro- prio De Architedtura Civil. 105 prio do corpo vegetante ; ¢ tudo o que naé crefee, nad adquire mais volume nem mais pezo, € por cone fequencia nad vegeta 5 porque a vegetagad fuppoem precifamente hum tal ou qual augmento de ma~ teria , e de fubftancia, ¢ donde o nad ha, tambem na6 ha verdadei- ra, e formal vegetagad. A corrup- a0 diminue hum corpo, a vege- tacad o augmenta ; {a0 duas ac- goens contrarias ; huma tende a fa~ zer, e outra a desfazer. ‘Temos a arvore , aque os ar- tuftas chamaé de Diana, a qual nad he outra coufa mais do que huma fimples diffolugad do azougue na agoa forte ; nefta fe forma huma ramificagaé perfeita , que reprefen- ta huma arvore com frutos, e com tanta fingularidade , que caufa ad- miragad a quem nunca a vio, nem conhe~ ee 106 Problema conhece 0 artificio, Parece com effeito huma vegetagad metallica ; porque tudo, quanto a villa péde deflinguir , nad he mais do que hum metal perfeitamente vegeta- do. Porém nada diffo he; porque o mais leve moyimento desbarata a arvore , e o metal fe precipita ao fundo do vafo que o contém ; e além difto, 0 pezo do mercurio he fempre o mefmo, cuja cireunf tancia indica claramente , que na~ quella operagad nad ha mais do que huma vegetacaé illuforia, e apparente. Por outro modo, e nad fabi- do ainda, fe pdéde fazer vegetar a prata em breve tempo} para 0 que tome-fe huma porgad arbritraria de prata pura , ¢ granulada , e pondo- fe em retorta de vidro forte , por fi- ma fe lhe deite 0 azougue em por- a6 De ArchitetlaraCivil. 107 ¢ad dobrada a refpeito do pezo que aprata tinha ; ponha-fe a retorta em fogo de reverbero, e na boca della fe Ihe applique hum vafo de vidro , ou barro, com agoa fimples até ametade da fua cavidade inte~ rior. Adminiftre-fe hum fogo len- to no principio , e depois fe aug- mente em forma, que todo 0 azou- gue paffe por deftillagad ao reci~ piente. A operagad fe faz dentro em duas , ou tres horas. Ficard a prata na retorta fingindo hum ad- miravel bofque compotto de arvo- res diverfas , tanto no tamanho, como na figura; em humas partes argentinas, € brilhantes , em ou- tras de hum branco efcuro; e em cutras como de hum pallido dou- rado. Affim parece que a natureza fe diyerte’a illudir os noffos olhos, ed 108 Problema ea nofla arte , moftrando-nos 0 que nad he , em figuradas, e fingidas reprefentagoens, 4 maneira de hum fonho dilatado , em que entendemos ver mil imagens differentes , mil ca- fos, efuccelfos raros, fendo tudo unicamente effeito de huma fanta- fia turbada , e delirante , ou de hu- ma idéa vaporofa, ¢ defordenada. Affim fe enganaé os fentidos no ef paco que dura hum fono turbulen- to; e fe enganaé da mefma forte que os noffos olhos acordados fe allucinad com objettos parecidos, mas nem por iffo verdadeiros ; tan- to he certo, que apenas podemos diftinguir a verdade da illufad , a imagem natural, daquella que nad he mais do que apparente. Ifto vemos naquella vegeta~ gad da prata , em que ele me- tal, incapaz de vegetar, como os outros De Architeftura Civil. x09 outros todos, e tambem como to- dos os mineraes , toma com effei~ to huma férma vegetante , finge hum prado, hum jardim, hum bok. que; e com taé viftofa fingularidas de, que oartifice fe admira a prie meira vez que a vé, como fucce- deo ao expertiffimo Grofle alumno da Academia Real das Sciencias de Pariz meu Meftre nos experimen- tos Chimicos , ea quem devo os primeiros elementos daquella admi~ ravel arte , cuja memoria me ferd refpeitavel fempre nad {6 pelas vir~ tudes moraes , de que era ornado , mas tambem pela candidez, e def intereffe com que quiz. tomar 0 trax balho de inftruirme : foi Alemad de nafcimento , ¢ o moftrou fer na finceridade do feu animo, imitan- do as qualidades generofas , que {26 proprias, e naturaes naquella eru- ditifi- cael Rican aidan nO 110 Problema ditiffima nagad, Recordo-me do il- luftre nome daquelle Academico fa- mofo , cujas obras fazem 0 feu elo- gio mais permanente ; enefta lem- branga fundo o faudofo modo de moftrarme agradecido 4 amizade fiel que fempre lhe devi. Tinha fido o meu intento o purificar o azougue de algumas fe- zes fulphureas , que o acompanhad muitas vezes ; € a prata me pareceo hum corpo idoneo para aquelle fim, entendendo que as partes fulphu- reas, e unctuofas do azougue ha- viad de unir-fe 4 prata , € que 0 azougue na deftillagad paflarta pu- ro. Porém a experiencia defmen- tio o difcurfo ; porque o azougue nad ficou adquirindo mais pureza que aque tinha, ea prata, que fix cou no fundo da retorta, tomou a figura vegetal, como temos dito 5 mas De ArchiteElura Civil, 1311 mas nem por iffo a prata vegetou, como parecia; porque pezada de- pois continha 0 mefmo pezo fem augmento algum : e fegundo o prin- cipio que temos eftabelecido , nad ha verdadeira vegetacad , donde naé ha augmento de pezo, ¢ devo lume. Ha outro experimento raro 5 gue indica com mais probabilida- de, que em hum corpo incapaz de vegetar , péde encontrar-fe hum efpirito formador, e femelhante a aquelle, de que refulta a vegetacad. Deftille-fe 0 azougue doze vezes fobre o eftanho puro de Cornualhas na ultima deMillacad ficard o efta- nho fundido no fundo da retorta s efla fe quebre , ¢ fe lime o eftanho, Efte eftanho limado deitando-fe fo- bre oazougue deftillado, no mef- mo inftante as particulas do metal & 112 Problema fe juntad , e formaé muitos corpos folidos, e regularmente cubicos. A figura folida, regular » e formada em hum inftante, nad tem exem- plo em outro experimento algum , e parece que denota hum elpirito agente, e vegetante. Os Phyficos poderad indagar attentamente a caufa daquella configuragaé metal~ Tica: cu defcubro a operagad; ou- tros poderdd dar a razad della, porque eu a nad fei ; por cafuali- dade a encontrei, bufcando outra coufa mui diverla; agora facile of inventis addere. Com tudo o phendmeno pro- pofto nad deve perfuadirnos que © cftanho vegete por aquelle mo- do ; porque examinado depois da referida operagad nad tem aug- mento algum no pezo, ¢ fica com as mefmas qualidades , ¢ proprie- dades | De ArchiteHura Civil. 113 dades efpecificas de hum tal metal a mudanga {6 confifte na figura , e nad no pezo , e no volume: e em quanto naé virmos que hum corpo crefce , naé podemos dizer que vegetou ; porque a mudanga de figura nad he vegetagad 5 as partes devem crefcer em volume , e pezo , fem o que nad fe péde affirmar que vegetarad. Temos vif- to que os metaes nad tem facul- dade vegetativa. Continuemos a moftrar a mefma conclufad a ref- peito dos faes que conhecemos. CAPITULO VIL Odos os Authores , que efcre- verad da Agricultura , affentad commumente em que os faes da ter- H ra 114 Problema ra {a6 os que a fertilizad ; por iffo dizem que a terra, depois de repe- tidas producgoens, canfa, por lhe faltarem aquelles {aes que foi em- pregando nas producgoens antece- dentes , ficando para os mais annos, fendo huma terra ufada, e pouco vigorofa, Porém aquelles faes nun- ca os pude achar, nem vers @ por mais que examinafle com cuidado varias terras, naé encontrei nellas os faes de que fe diz depende a faa fecundidade ; talvez que outros fi- zeflem melhor exame 3 porém na Phyfica cada hum efté pelas fuas proprias experiencias, e difcorre fe- gundo 0 que acha nellas. O que de fado fe encontra na terra quafi fempre he huma ma- teria inflammavel, eunduola; de que refulta que muitas terras ex- pottas ao fogo ardem como 0 car~ vad; De Architeftura Civil. 115 vad; e o mefmo carvad de pedra nad he mais do que huma terra, em que abunda o principio fulphureo, einflammavel que a faz arder , co. mo denota bem fenfivelmente o chei- ro ingrato , e pouco faudavel do carvad de pedra, Outras terras ar- dem com menos fortaleza , porque nellas nad abunda tanto aquelle principio inflammavel , que he de donde procede a inflammabilidade do enxofre, e de outros mixtos fe- melhantes. Além difto, todo o fal, de qual- quer genero que feja,he fummamen- te oppofto a toda, e qualquer ve- getacad, como facilmente fe péde experimentar e ifto porque faz ful pender as acgoens ulteriores, a que -os corpos tendemi naturalmente , co- mo fa6 (além da vegetacad) a fer mentagad, ¢ a corrupgad ; porque ii todos snmercaseriandcnnsns q ieee PARE 116 Problema todos eftes tres movimentos natu- raes ficad como prezos , e fem ac- gad , todas as vezes que algum fal Compofto, ou natural fe junta a el- es: com 0 que fe verifica que ne- nhum acido he proprio para fecun- dar a terra. Porém fe 0 acido do ar, de- pois de elpecificado ¢ corporizado em nitro, he inutil, e contrario a toda a vegetagad; com tudo tem vir~ tudes fingulares , € efpantofas em outras occafioens , e em outras ac- oens da natureza. Na Medicina nad fe dé hum melhor refrigeran- te, nem mais benigno, nem mais feguro ; e das compofigoens Phar- maceuticas , que tem por bafe o ni- tro, {a6 efficazes (fendo applica- das congruentemente ) 0 Antiphlo~ giftico 5 ou criftal mineral , cha- mado tambem Sa/ Prunelle. O fal Poly- De ArchiteuraCivil. 117 polycrefto he excellente febrifugo , principalmente nas febres intermit- tentes. O nitro nitrado nad he de menos efficacia nas febres arden- tes. ‘Todas eftas compofigoens,que nos feus principios forad achadas, e reveladas em fegredo , depois de fe haverem vulgarizado foraé ef quecendo de algum modo, ficando menos indicadas na pratica ; talvez por naé terem fucceffo igual em to~ dos os cafos , e em todas as occa- fioens; fendo que, fe os mefmos pra- ticos ufaffem de juntar o nitro as preparacoens de kina , entad veriad feliciffimos fuccellos 5 ¢ fe ifto he hum fegredo , eu o revelo aqui, fem que me embarace a raza6é in~ juita, em que fe fandad os artiftas quando , para occultarem algumas coufas uteis que defcabrirad , alle- Hiii gad cnn mem eer) 118 Problema gad como axioma aquelle que diz : Arcanum revelatum vilefeit. No artefacto da polvora fe vé hum dos mais poderozos, e fubli- mes effeitos do nitro; 0 qual imi- tando a luz repentina dos relampa~ gos , © ruidofo eltrepito dos tro- Voons, 0 eftrago inevitavel dos raios, moftra fer o agente principal da- quelles corulcantes metedros , e {6 com a notavel differenga de fer a polvora, ejuntamente o nitro hu- ma obra das maos dos homens, € poder fer adminiftrado, e dirigido tambem pela maé dos mefmos ho- mens, em lugar que aquelles phe- némenos tremendos, os elementos {ad os que os compoem, ¢ lhes dad © movimento. Compoem-fe a polvora de ni- tro, de carvad, e enxofre ; eftes dous ingredientes podem fer fablti- tuidos De Architeétura Civil. 119 tuidos por outros , igualmente in- flammaveis, ¢ de qualidade igual : {5 0 nitro nad pédde fer fubftituido por outro nenhum fal; porque ne- nhum ha, que tenha a {ua nature- za, nem que pofla entrar em feu lugar naquella compoficaé ; de for- te, que ainda que na6 houvelle en- xofre, nem carvad, fempre pode- ria haver polvora, mas de nenhum modo a pode haver fem nitro. Os Philofophos antigos , ainda fem conhecerem a qualidade dette fal, chamaraé-lhe Jupiter fulmi- nante, porque viraé que, eftando junto a tados os corpos inflamma- veis , ou foflem animaes , vegetaes, ou mineraes , em fentindo o ardor do fogo fazia a melma deflagra- 6 que 0 raio faz. Até que hum Religiofo Chimico (fegundo a tra- dicad commua ) querendo extrahir Hiv do _ 120 Problema do nitro hum efpirito mais forte, ¢ ‘mais activo, mettendo em retorta os tres ingredientes eftes apenas fen- tirad o calor do fogo , quando em acgad. repentina rompendo o car- cere da retorta , fe exhalaraé ine flammados , deixando 0 Chimico fem o efpirito forte que bufcava , e talvez por milagre com o que tinha. Defte phendmeno veio a naf- cer depois a polvora , nad bufca- da entad, mas achada por acafo5 © por mais que os Phiyticos fe te- nhad empenhado na explicagad dos feus tremendiffimos effeitos, dedu- zindo eftes da elafticidade , expan- fibilidade , e incoercibilidade do ar que © nitro tem como comprimi- do em fi; efta explicagad he pou- co intelligivel , porque em todos os mais corpos fe dé hum ar elaf tico De ArchiteEura Civil. 124 tico , expanfivel , eincoercivel , fem que em nenhum delles fe cbferve 0 movimento , € accaé local que o nitro tem todas as vezes que eftan- do inyolvido em materias inflam- maveis chega a fentir 0 calor do fo- go. E.aflim de outro principio de~ vem de refultar as fuas proprieda- des effenciaes; ¢ fuppofto que até agora fe nad tenha defcoberto, 0 tempo o defcobrira talvez , & da- bit dies, quod hora negat. Em quanto difcorremos fobre o nitro , juto ferd dizer que nad ha para que execrar, nem abomi- nar o invento fingular da polvora como pretexto de fer hum artificio ideado para ruina , ¢ extincgaé dos homens ; porque refpondendo a ef- ta preocenpacaé vulgar , péde af firmar-fe com verdade que a pol- yora naé foi mais inventada para ex- tinegad ne 122 Problema tincgaé dos homens , que para a confervagaé delles 5 aflim como ou- tros muitos artificios , de que o ufo commum nos faz conhecer 0 bem, e o abulo nos faz tambem conhecer o mal. Aquelle , que primeiro defco- brio o modo para dar ao ferro inet toa figura de hum inftrumento agu- do , foi tambem o primeiro que en- fino a titar a vida com aquelle du- riffimo metal: efte na fubftancia he innocente , ¢ ainda na figura pro- ptia para omal : a culpa {6 péde eftar na maé que ditige 0 golpe, nad no inflrumenro que executa, ‘Aterta, que produz a rofa faluti- fera, tambem produz 0 opio ver nenofo; mas quem ha de culpara terra pela qualidade que tem de fer mai univerfal? Tudo, o que ha no mundo , he proprio para a vi- da, De ArchiteElura Ci da, eparaa morte: ascoufas, que tem huma propenfad nociva, efta Ihes vem mais da applicagad de quem fe ferve , que da fua natu- ral malignidade, A vibora mortal he antidoto de fi mefma : tanto he certo que o bem, eomal tem amefma origem , o mefmo nat cimento , e fe criaé no mefmo bergo. O ferro tanto conduz para of- fender , como para defender; he como hum remedio, que reperctite os feus proprios accidentes 5 € tu= go, o que he remedio , he permitti- do quali fempre , em lugar que o impulfo do aggreffor raias_vezes tem difculpa. Que trifte feria a con- digad dos homens fem o ufo daquel- Je guerreiro , etambem pacifico me- tal! O mefmo deftino tem a pol- yora; ella fe offende, tambem de- fende- vil, 123 14 Problema fende, Louvemos a providencia na- quelle attificio facil, por meio do gual quiz igualar as forgas def iguaes. Hum homem ainda meni- no, ou jé triftemente annofo, ou jdvaletudinario, e debil , que defe~ za pode ter contra o que for robul to, mancebo, e forte? Outro de eftatura inferior , e de membros de- licados , como pdde refiftir 4 forga de hum gigante? Nefte cafo quem vence he anatureza, nad o esfor- 05 ¢ orender-fe fica fendo parti- do neceffario : os opprimidos ac- cufariad jultamence o desfavor do feu melino fer; e injuftamente os oppreffores entenderiad dever é re- folugad do animo 0 que fé deve- riad a0 pezo do volume ; fendo que o valor ainda vencido tem mais eftimacad , do. que o venci- mento fem valor. A polvora veio fazer De ArchiteEluraCivil. 125 fazer iguaes , a forga a eftatura, a idade. Nos combates grandes ferve a polvora para as mefmas circunf tancias, para que ferve nos comba- tes particulares ; porque fuccede As vezes o defenderem-fe poucos contra os affaltos de muitos: fe fe lerem as hiftorias antigas , ha de achar-fe que os conflictos entad du- ravad mais, e erad mais fanguino- Jentos , e nunca fe acabavad fem deftrogo univerfal. Depois que a polvora entrou tambem a militar , os combates nad fad tad obftina- dos ; como fe aquelle artificio hor rendo fizefle 0 furor dos homens mais civilizado : ao menos péde confiderar-fe a polvora como hum inimigo , cuja acgaé he de mais longe; aquelle, que eftd perto, he formidayel até pelos fignaes de hum fem- sinlanpereacocane sh 126 Problema femblante irado. E com effeito a artelharia bem difpofta , e efcon- dida , em fe deixando ver decide o dia: 0s batalhoens contrarios , con+ tra quem ella fe dirige {a6 0s pri- meiros que baixando as armas , € eftandartes acclamaé a vitoria. Que felicidade de vencer , e tambem que felicidade de ficar vencido! o empenho fe conclue antes que as langas cheguem a medir-fe , e an- tes que as efpadas cheguem a to- car-fe. Bem fei que nem fempre fe compra a vitoria tad barata ; po- rém bafta que fe compre alguma vez, por aquelle prego 3 por efte mel mo a procura alcanfar 0 Capitad experimentado , e effe he todo o feu objeéto ; porque {6 a barbarida- de Grega media pelo fangue a qua- lidade das emprezas; hoje mede-fe pelas De Architeélura Civil. 127 pelas confequencias que fe feguem, nad pelos eftragos antecedentes ; e tem-fe por defaire da vitoria o ha- ver cuftado muito. Tambem fei que aquelle arti- ficio impetuofo he prompto, e ar- rebatado , e que ainda dura me- nos, que hum abrir , ¢ fechar de olhos 5 porém na guerra que im- porta que a morte feja breve, ou efpagola? tad leves fad as fas amar guras, para que fe haja de querer tomar-the algum fabor? Ao menos © morrer de prefla he morrer fem dor , ou com muito menor dor; porque affim como nada fe faz fem tempo , tambem fem tempo nada fe fente; e que fe péde fentir no imperceptivel efpago de hum inf tante? Oraio quando fere dd tem- po para penar? O accidente mor- tal, que de improvifo chega , deixa os t | i aa ETRE SNe ESTATES, 128 Problema os fentidos com viveza para fentir? ue infeliz fituagad he a de hum Soldado valerofo, quando , ferido mortalmente, ainda refpira; e que fervindo de theatro, ouchad, pa- ra os que vad pallando , outros ca~ daveres fobrepoftos, apenas o dei- xa6 palpitar | Sé para adquitir a vi- da eterna péde conduzir hum tal tormento ; porque todo o genero de cormento, fe feapplica bem, con- duz para ditofo fim; ainda que quan- do fe padece , {6 por infpiragad , € favor celefte péde haver lembran~ ga de outca vida que fe efpera 5 porque naturalmente quem fe acha agonizando , j4 efté morto para tu- do, ¢ até para faber que morte 5 entaé o ter dor de haver_pecca- do, {5 fuccede a aquelles , de quem diffe elegantemente, ainda que fa- bulofamente o difereto Mantuano: Quos De Architeflura Civil. 199 os Quos equus amavit Suppiter , aut ardens evewit ad athera virtus. Temos difcorrido fobre os effeitos do nitro na compofigaé da polvora: refta-nos dizer tambem as virtudes daquelle mefmo fal a refpeito dos metaes, ou ao menos huma das mais confideraveis. O nitro deftillado por meio dos intermedios competentes, dé o famofo efpirito corrofivo cha- mado efpirito de nitro; e quando © vitriolo, ou a pedra hume ferve de intermedio , 0 efpirito , que pro- vém na deftillagad , he aquelle a que chamamos agoa forte , cuja ferventia nad {6 {fe eftende ao ufo das artes mechanicas vulgares , mas tambem tem lugar quotidiano na pratica da Medicina. Na agoa forte fe funda intei- I ramen- eee ceveanCneniidecanemanenyree reset 130 Problema ramente a Docimaftica , ou arte de enfaiar o ouro. Enfaiar quer di- zer (nos termos daquella arte ) co- nhecer os quilates que 0 ouro tem, e conhecer tambem os dinheiros que tem a prata; e ifto a fim de fe fa~ ber o valor de cada hum deftes metaes, cujo valor he derivado dos quilates do ouro , e dos dinheiros da prata. Da operagaé do enfaio de~ pende aquelle tal conhecimento de forte , que fem o nitro , de que fe ex- trahe a agoa forte , dificil feria, por naé dizer impoffivel , 0 faber verda~ deiramente , e comexactidad o va- for daquelles dous excellentiflimos metaes: o exame, que delles fe faz, aque chamaé pelo toque , he con- jectural, incerto , ¢ duvidofo , por- ‘que pende mais da perfpicacia , ¢ agudeza da villa, que de outra al- guma regra certa; € tudo o que depen- De ArchitefturaCivil. 131 depende de hum arbitrio regulado pelos olhos, he fallivel muitas vezes, porque igualdade naé a pode haver entre olhos diverfos : fendo que quando a queftad he determinar qual feja o valor de algum metal , o mais leve engano fempre induz prejuizo grande; e por illo ds ve- zes nad iejulga bem quanto valo ouro, e quanto a prata val, feo ar- tifta {6 fe guia pelo toque. Devemos pois ao nitro o fer a primeira , e indifpenfavel bafe em que fe eftabelece , e funda a arte de enfaiar ; a propriedade , que tem o feu efpirito de diflolver perfeita~ mente a prata, e deixar o ouro in- tacto, he {mente o de que reful- ta huma tad eftimavel , ¢ util in- vengaé. Porém nad {ad muitos os artifices que praticad aquella arte com conhecimento de principios 5 Ti exer- 132 Problema exercitad como por tradigad , fe- guindo a forma que virad exerci- tar aoutros. Vem que aagoa for- te diflolve a prata, e 0 ouro nad 5 mas naé inquire o porque aflim fuccede. Sabem v. g. que efta agoa forte he debil , e que outra tem a adtividade neceflaria; mas {a6 me- nos curiofos na indagacaé do fun- damento,porque acontece aflim, Sa- bem omethodo de extrahir da agoa forte a prata diffolvida nella , mas naé examinad fempre fea aprovei~ tarad toda. Eftas, e outras muitas circunftancias {ad com tudo effen- ciaes, e ainda mais precifasdo que podem parecer. Porém fallando finceramente , naé fe pdde culpar , nem arguir por modo algum a menos pericia do ar- tifice nefta arte, nad {6 porque ha poucos meftres que tena cabal iad telli- De Avchiteflura Civil. 133 telligencia della , mas tambem por- que os mefmos meftres raramente enfinad tudo quanto fabem , como faccede vulgarmente em todas as mais artes que tem os metaes por objecto principal ; refervando para fi, e em fegredo 0 modo de obrar mais facil , e mais certo: a efte mo- do de obrar chamaé_ os Latinos : Manipulatio , e os Francezes com energia mais fignificativa chamad aaquelle mefmo modo: Le tour de main. Os meftres, que enfinad por obrigacad , julgad (nad fei fe bem) que cumprem a obrigacaé , enfinan- do {6 aquillo , de que forad enfina- dos, e nad o que alcanfaraé por fi memos: Quod accepi , id ipfum do. Se enfinad mais do que aquillo de que foraé inftruidos, entendem que nefla parte ufaé. de huma mera lie Ti bera- 3134 Problema” beralidade. E além difto, nem to- do o Jurifcunfulto péde faber para enfinar ex Cathedra ; nem todo 0 Medico fabe diftinguir a enfermida- de que he difficil de curars nem to- do o Militar fabe difpér bem a for- ma de hum ataque 5 ¢ da mefina for- te nem todos os artiftas podem co- nhecer a arte por principios , ¢ pro- fundamente ; amaterialidade bafta. Todos, e cada hum nas fuas profit: foens parece que cumprem com aprenderem 5 0 faber menos com- mumente nad he culpa; devem ef& tudar para faber porém fe eftudan- do onaé confeguem , ficad incul- paveis, porque entad ovicio he {6 da natureza , nad do fujeito. O de- lito provém do animo , ainda mais que do fakto do deligto mefmo: e tal- vez que 0 erro £$ venha da mali- cia, e nunca da ignorancia 5 por- que De Architeblura Civil. 138 que o mal confifte em fer conheci~ do, e feito. De tudo, quanto temos pon- derado , a conclufad para o noflo intento, he , que no ar ha hum acido verdadeiro ; ou feja de qua- lidade nitroza , vitriolica , ou de outra qualquer , fempre he certo que efle me{mo acido corrée , dil folve, penetra , e altéra todas as pedras que naé tem dureza capaz de lhe refiftir. Os edificios, que ef tad nas vizinhangas do mar , ou de outras agoas correntes , ou pa- ludofas , [a6 os mais expoftos; por iffo fe ha de ver , que as pedras menos duras, de que os feus muros fe compoem , facilmente contra- hem concavidades, perdendo prie meiramenre a uniad exterior das fuas partes , ficando eltas divifiveis, € como pulverulentas, e affim vad liv conti- a: 136 Problema continuando até que pela fuccef- {a6 do tempo vem a ficar desfei- tas todas as daquella qualidade. A vizinhanga das agoas , enchem a atmofphera vizinha da humidade dellas, e entaé o acido doar tem hum vehiculo continuo , e proprio que o conduz, e 0 faz como fub- filtente nos corpos em que tem accad, Nad {6 nas pedras fe verifica aquella propofigad ; em outros cor- pos fuccede o mefmo , e tema mefma fujeigad ; e no ferro a ve- mos praticada muitas vezes , e mais promptamente que em outro cor- po algum; por iffo para o defen- der do acido do ar, coftuma pin- tar-fe , ou olear-fe o ferro; por- que geralmente toda a materia un- €tuola repelle efficazmente 0 aci- do, por fer impenetrayel a corro- fad —— ET De ArchitefuraCivil. 137 {28 mordaz daquelle agente , ¢ im- penetravel tambem a toda a forte de humidade. Daqui vem que o ferro defeoberto , e fem defenfa, mais fe inficiona no tempo humi- do, e chuvofo, queno tempo fec~ co; nad porque nefte efteja o ar fem acido, mas porque entaé lhe falta , ou tem menos vehiculo de humidade. Alguns ferros vemos em gra- des antigas, e em fituagad perpen~ dicular , que tem a parte inferior roida , e reduzida em ponta agu- da, confervando inteira , ¢ illefa a parte fuperior, e com a mefma figura que teve fempre. A caufa defta differenga naé he taé facil de encontrar como parece, ainda que o faéto he certo, e perma- nente , como péde obfervar-fe fa- cilmente nas grades das Tercenas defta, a) 138 Problema defta Corte ; na figura oblonga 5 e perpendicular, achad-fe algumas propriedades que outra qualquer configuragaé , ¢ fituagad naé tem. He bem fabido que o ferro fem artificio algum mais, que o de certo tempo, adquire todas as virtudes magneticas mas ha de fer naquella mefma configuragad , € fituagad ; de forte que pofto em mafla efpherica , quadrada , trian- gular, ou outra qualquer, ji nad adquire nenhum dos dotes fingulares que o Iman tem. Quantas quef- toens , e indagagoens phyficas po- deriad excitar-fe , fundadas naquel- Je phendmeno vulgar , e fimples ! He vulgar no que refpeita a magne- tizar-fe o ferro; mas naé ohe na circunftancia , de que o ferro oblon- go,e perpendicular, fica a fua par- te inferior mais expofta 4 acgad do ary De Architefiura Civil. 139 ar, do que a parte fuperior. Dei- xo a0 Leitor eftudiofo 0 cuidado Titterario de indagar a caufa. Os edificios, que eftad mais chegados ds agoas falgadas, fad os que padecem mais , quando {a3 for= mados de pedra menos dura; por- que o ar mais falino daquellas agoas faz huma atmofphera quafi corrofi- va, emais propria para penetraras pedras em que a falta de dureza fae cilita a penetragad ; por iffo em cer- tos cafos, e em certas enfermida~ des he mui conveniente que o in- fermo naé perfifta em lugar mari- timo , e efteja apartado delle o mais que puder fer , porque a exhala. a6 falgada he naquelles cafos co- mo hum veneno que continuamen- te fe refpira, e que faz aggravar o mal confideravelmente. Daqui vem que alguns quizeraé inferir que anau~ 140 Problema a naufea que importuna aos que comegaé a navegar , procedia do fal do mar vellicando as fibras efto- machaes : porém cuido que injuf tamente fe attribue ao fal do mar hum tal effeito ; porque o mais cer- to he que odevemos attribuir uni- camente ao movimento ondulante das agoas que fe movem 3 o qual perturbando de algum modo as par= tes nervofas dacabega , efta he a que faz comprimir o eftomago, de cuja compreflad refulta © vomito 5 porém deixemos efte ponto 20 Me- dico etudito, para que nad fe diga que em tudo mettemos a fouce em feara alheia. CA- | CAPITULO VIL A fabrica dos edificios entrad muros , € madeiras ; deftas nad tratamos , porque a prefente difcuflad £5 tem as paredes por af- fumpto : ellas faftentad 0 pezo do edificio ; e da fortaleza dellas de- pende a duracaé ; todas as mais par- tes {23 de menos confequencia , podem fer menos eferupulizadas fem prejuizo irreparavel. Os mu- ros devem fer formados com mate- riaes finceros , enaé fophifticados: qualquer ingrediente improprio faz que omuro fique contrahindo hu- ma qualidade caduca , e fempre im- peditiva da fua perfeigad. O mate- rial inficionado he como hum mal inte- x42 Problema interior, € perpetuo que contami- nando a fubltancia toda, nad péde admittir remedio, Logo veremos 0 em que confifte aquelle mal. ‘A pedra, com que fe fabrica nefta Corte (exceptuando alguma de qualidade branda , ¢ conhecida- mente m4) he excellente , nem fe pode dar melhor, nem que condu- za tanto pia a duragad; ¢ feaif- to accrefcentarmos a abundancia della , diremos com razad que a Providencia quiz favorecernos an- ticipando a exiftencia , e bondade da pedra para repararmos as ruinas nas occafioens de terremotos, As pedreiras, que contém a ribeira de Alcantara, podem baftar , naé {6 pa- ra reedificar-fe huma Cidade popu- Jofa,mas para fe edificarem outras de novo. Da mefma pedra fe faz a me~ Thor cal, cuja forca excede a todas; ecom ot De Arcbiteélura Civil. 143 e com effeito, fe fe examinafle a qua- lidade da cal com que fe fabrica em Londres , em Pariz ¢ em ou- tras muitas partes , achar-fe-hia que nenhuma dellas péde comparar-fe com anofla tanto em actividade, como na brancura. Nai he menos perfeita a aréa, nem em menos abundancia ; por- que temos montes inexhauriveis, eterrenos dilatados , donde péde extrahir-fe facilmente aquelle ma- sial indifpenfavel. A aréa , que a ‘Trafaria tem, he moralmente in- extinguivel. Nad importa que haja de exigir mais cal; porque delta de- pende a liga , ou uniad dos mate~ riaes, Seja embora com mais algum difpendio ; a fortaleza da obra pa- ga tudo largamente. Huma ‘efpe- Za maior naé affombra a quem quer edificar com feguranga. Que dif gofto 144 Problema gofto nad tem 0 proprietario quan- do logo depois de acabada a obra avé mal fegura , e defeituofa? No principio todos querem edificar com economia ; porém depois o arre- pendimento he certo; ¢ entad- he que confideramos que , por fogir a alguma maior defpeza , vimos a def pender mais. A boa economia nad confifte em defpender pouco, mas em nad tornar a defpender na mefma coula. Seja fordida a economia na fabri- cagaé de huma barraca , ou de ou- tra qualquer obra humilde ; mas naé deve fer affim nos edificios fam ptuofos 5 eftes fazem a decoragad das Cortes , e Cidades; e toda a decoracaé ha de algum modo pro- metter a mefma duragad da coufa condecorada. O ornato tranfitorio ou he feminil,ou de theatro. Os tem- plos, De Architeflura Civil. 145 plos, as habitagoens Reaes, os mo= numentos , e edificios publicos , fen- do fei os para em quanto durar 0 mundo , devem fer fabricados nella. intengad. He certo que nefta Corte, epara os edificios della, temos ex- cellentes materiaes ; ¢ [endo aflim, porque razaé os edificios modernos nad tem a duracaé que os antigos tinhad? Ser por ferem fabricados mal? Tambem nad he por efla cauza; porque de facto temos of ficiaes peritos, architeétos admira- veis que fazem executar tudo com notavel perfeicad , ¢ fegundo as regras mais exactas, A obra, verda~ deiramente Real, de Mafra , foi huma efcola, ou academia univers fal, de donde fabiraé os metres mais feleétos. Defde aquelle teme po até o prefente nad tem perdi K do 346 Problema do nada aquella arte » antes vai fempre florecendo com augmento conhecido, animada pelo Augut tilimo Monarca , que a protege. Sendo bem conftante que as ar- tes , € as {eiencias protegidas ad- quite mais vigor, e fe adiantad confideravelmente, a mefina protec- gad parece que as infpira. Qual he pois 0 principio infaufto, por que em tantos edificios nad cor refponde a duragad a tantas felices circunftancias ? ‘JA diflemos que 0 fegredo to- do elté na eleigad dos materiaes y e em fe advertir de que importan- cia feja a pureza, e fimplicidade delles. Das pedras jé diffemos tam= bem que devem fer aquellas que tenhad a dureza neceflaria para re- file A corrofad elementar, A pe~ dra, que chamaé verdadeira lioz, tem De ArchiteSlura Civil. 147 tem aquella qualidade ; outras ha commumente , e injuftamente re- provadas, como {ad todos os fei- xos das praias, e humas que pa- recem vidro, ¢ daé fogo fendo to- cadas com 0 ago. Eftas pedras, que alguns artifices condenad dizendo que nad caldead por ferem frias , nad merecem femelhante reprova- ¢ad; porque a frialdade he qualt- dade puramente imaginaria nas pe- dras; e 0 nad caldearem prompta- mente naé he por ferem frias, mas porque a figura liza uniforme, de alguma forte regular em todas as fuas fuperficies, faz que a cal naé tem donde pegue facilmente, nem donde faga preza, como faz nas outras pedras de figura efca- broza e impolida. Porém aquellas mefimas pedras , depois de haver paflado o tempo conyeniente, e K ii depois 148 Problema depois de fecca aagoa , com que a cal foi amaflada, ficam tad exa- Aamente caldeadas, que nad he facil feparar dellas a aréa, e acal com que fe fabricou 0 muro. Nem péde deixar de fer 5 por gue aquellas mefmas pedras , fendo lizas, e roligas, ficad como mol- dadas entre acal, ea aréa que as circunvolve por todas as partes igu- almente , em lugar que as outras » cujas figuras {a0 irregulares , em cada huma dellas fe daé varios, € differentes interfticios, donde tem vaons; e cftes, nad eftando cheos, ficad as pedras menos prezas, € ligadas: eaffim parece que nad he jufto o reprovar pedras femelhan- tes; quando alids {6 as mais pro- ptias para fazer fortes , ¢ duraveis as paredes. Sd tem contra fi o fe- rem commumente mais Pequenss lo De Architetlura Civil. 149 do que as outras; e por iffo leva- rem mais porgad de material; po- rem por iffo mefmo fazem a obra mais fortificada. Ifo fe obferva nos maffames ordinarios » que fe fazem nos tanques para fuftentarem , ¢ vedarem agoa, nos quaes os bons artifices nad querem pedras gran- des, mas bufcad, e efcolhem as pequenas. Temos vifto a qualidade que as pedras devem ter: paflemos ago- ra dcal, e depois pallaremos tam- bem daréa, que {ad os tres ingre- dientes indifpenfaveis na conftruc- gad dos muros. A pedra boa ou ma facilmente fe conhece ; porque nel- la nad fe exige outra circunflancia mais do que a dureza. A cal de- ende de maior exame. Compo- emfe a caldepedras, que fad pro- prias para ferem calcinadas; por- K iti que 150 Problema que nem de toda a pedra fe pdde fazer cal. As que {a6 fummamen- te brandas fad inuteis; as que fad brandas, mas com tal ou qual du- eza, fazem cal inferior , e parda; cas que fad exceflivamente rijas nad admittem calcinagad alguma. © diamante , e as outras pedras preciofas nad fe pédem calcinar , por mais que o fogo feja violento , ediuturno. Aspartes, de que a na- tureza as fabricou, {a3 tad uni- das, e compattas entre fi, que os poros, com que ficaraé , {6 dad pal- fagem A materia fubtil, e etherea, mas nad aos corpufculos do fogo 5 fendo que a calcinagad provém de huma certa defuniaé de partes 5 caufada pela introducgaé violenta , e fucceffiva das particulas igneas , que entraé a occupar os poros , ou interfticios do corpo que fe cal- cina. Ape- De ArchiteElura Civil. 151 A pedra faxatil tambem nad fe calcina, mas hum fogo conti-+ nuo, e forte a vitrifica; por fer regra certa que todo o corpo, que fe vitrifica nad fecalcina, eo que fe calcina naé fe vitrifica. Ou- tras pedras ha que fahem j4 da terra vitrificadas; eftas {ad total- mente inuteis, e o maior fogo nad as pdde reduzir a cal; porque a vitrificagad he o ultimo periodo a que anatureza chega, e tambema arte ; vifto que depois de hum cor- po eftar vitrificado, ou feja artifi- cialmente, ou feja naturalmente , neffe termo permanece fempre fem admictir mudanga ou altera- gad alguma. Tito porém fe entende na ver- dadeira vitrificagad, mas naé_na im- propria ; porque o chumbo, e 0 eftanho, depois de vitrificados , fe K iv fe it te nem tn 152 Problema fe Ihes junta qualquer materia un- Guola, e inflammavel,da qual aquel- les metaes cornem a recobrar a par- te pghlogiftica que na fundigad per- derad , tornad a apparecer, @ a fer o metal que tinhad fido. Ifo affim procede nos metaes inferio~ res, ¢ em algum dos mineraes , como o antimonio , mas nad no ouro, nem na prata, porque a per feigad deftes metaes os defende fempre contra toda aacgaé do fo- go, enelle {6 fe purificad ; de for- te, que o fogo , que deftroe tudo , exceptuando o vidro, e as pedras preciofas, que formaé huma efpe- cie de vitrificagad natural, deixa illefa a propria fubflancia daquel- les dous metaes; por iffo he axio~ ma chimico: "Oud ‘acilius fit aurum confiruere quam defiruere. Os metaes inferiores ee fe De Architeblura Civil, 153 fe podem calcinar, ¢ fe calcinad com effeito facilmente, ainda que em imperfeita calcinagad. O szar~ caé nad he outra coufa mais do que o chumbo calcinado , ¢ expof to 20 fogoaté que tome a cor ver- melha. O eftanho, e ocobre tam- bem recebem a mefima alteragadé 5 porém a cal deftes metaes , ou ou- tros mineraes, de qualquer genero que {ejaé, {8 conduz para a con- feicad das tintas, ou outros arte~ factos femelhantes; e muitas vezes tambem para varios ufos medic naes, chirurgicos , ou mecanicos 5 porém de nenhuma forte para o noffo intento. Os artifices da cal conhecem muito bem quaes fad as pedras proprias para aquelle minifterio, e tambem as que o nad {265 por iffo efcolhem humas , e rejeitad outras; efe Pet eaeeeerceeeeeee 154 Problema e fe por acafo as que fad improprias fe introduzem com as outras na operagad do cozimento , depois a0 fahir do forno ainda eftad na mef- ma férma com que entrarad ; ape~ nas ficad mais quebradicas do que eradé3; mas nunca reduzidas a cal, por mais que o fogo feja activo, € longo. A eftas pedras, fahidas aflim do forno,chamad os operarios cruas, para asdiftinguir das que fahem co- zidas , ou caicinadas. ; A fragilidade,que as pedras fa~ xatiles aduirem por aquelle modo, deu lugar ao engano dos que que- rem fingidamente oftentar matores forgas, que as que commumente os homens tem ; para o que pondoao fogo alguns dos mais duros feixos, © depois de excandecidos , ou fei= tos como em braza, os deitad logo em agoa fria. Eftes feixos ficaé con- fervan- > os De Architeflura Civil, 155 fervando a fua propria, e natural figura ; e quando fe offerece a oc- cafiad de moftrar a pertendida for- ga, os taes fingidos alentados intro- duzem aquelles mefmos feixos , pre- parados antes por aquelle modo 5 e pondo qualquer delles fobre hu- ma banca forte fuftentando-o com amad efquerda , para que o {eixo nad chegue immediatamente a ban- ca dando-lhe com 0 outro punho cerrado huma pancada, o feixo fe defpedaca logo, nad pela forga da pancada que recebe , mas porque 0 fogo , ea agoa fria otinha jé dif- pofto para dividir-fe ao menor im- pulfo. Quantas artes nad bufcad os homens para moflrarem com enga- no 5 ¢ eftrategema , fuperioridade de forga , fuperioridade de enge- nho , fuperioridade de poder! Mas que importa que fagad illufad aos outros, 156 Problema outros, feanad podem fazer a fi? Seria habilidade rara fe a fi mefmos podeffem enganat 5 entad eftando livres da importunidade da confcien- cia propria que osaccufa,, 2 per fuafad interior thes ferviria como de hum fonho viftofo , e agrada- vel ; £6 entad teriad gofto de fe imaginarem fortes , fendo fracoss de (e crerem engenholos, fendo ru- des 3 € de ferem poderofos, fem poder. ‘A pedra lioz he a de que commumente fe faz cal, nos fubur- bios defta Corte; e acal que del- ja provém, he de excellente quali- dade , como ja diffemos : porém os mefmos homens , quea fabricad , a perdem 5 nad por ignorancia na ma- nufadtura, mas por evitarem ade peza, de que a mefma pedra necel- fita depois de calcincda. Bem fa bem De Arcbiteélura Civil. 157 bom os artifices que perdem aboa qualidade daquella cal , mas nem por iffo deisad de a perder e ifto porque ailim mefmo a vendem, affim mefmo achad quem a compres vejamos oem que coniifte a perdi- gad. . CAPITULO IX Dr de calcinada a pedra _# deve fer pulverizada; porque fo depois de reduzida a pé y he que fica em termos de fer amaflada, ou mifturada com aréa. Efta pulveri~ zagad fe faz por hum de dous mo- dos: O primeiro he expondo as pe- dras ja cozidas ao ar, aflim que fe tirad do forno em que fe cozem; nefte eflado as particulas igneas con~ i i i t erty near SC t E S as8 Problema concentradas , e como introduzidas por forca nos interfticios , ou pdros invifieis das pedras,vad-fe lentamen- te dilpondo , e como pondo-fe em liberdade 5 para 0 que concorre a a humidade do ar que vai facceffi- yamente occupando lugar que as particulas de fogo vad de xando 5 comegando fempre efta acca’ pe- las fuperficies das mefmas pedras 5 as quaes por efte modo fe pulve- tizad inteiramente. A mobilidade do ar, e ahumidade que contém, {ad os agentes infalliveis defta obra; € para mais aaccelerar , fe vai com. hum inftramento , a que chamad rodo, movendo as pedras de huma parte para a outra , ¢ apartando a que eftd ja pulverizada , para que efta nad impega o contacto imme- diato do ar nas fuperficies das pe dras que ainda nad eftad pulverizay as. De ArchiteStura Civil. 159 das, Segue-fe daqui que aquellas pedras, em que oar naé tiver con- tacto immediato, refifte ao inten- to da pulverizagad ; de forte, que mettida huma pedra de cal em vafo proprio, queadefenda do ar, ou da humidade, tapado exactame o vafo , conferva-fe a pedra inteira fem divifad alguma nas fuas partes, ¢ fem perder nada da fua forga. Daquelle primeiro methodo nad fe fervem os operarios nunca; nad porque faibaé a razad funda~ mental porque nad devem ular del- le; mas porque tem outro metho- do melhor , mais facil , e mais prom= pto. Tiradas as pedras da fornalha, e eftendidas , entraé a deitar-lhe agoa por cima paulatinamente , me- xendo fempre as pedras que fe vad alternativamente desfazendo, ere- duzindo em pd. Efte fegundo meio he 160 Problema he ‘com effeito o mais conveniente, nad {5 pela facilidade , € prompti- daé com que fe executa , mas tam- bem porque as pedras , pulverizads nicamente a0 ar , perdem quali toda a fua forga , ficando a cal co- mo huma terra branca, inerte , € fem vigor: em lugar que as pedras, desfeitas com agoa pelo modo re- ferido , dad huma cal forte, evi- gorofa, ecom requifitos neceffarios para com ella fe fabricar fegura- mente. , ‘Arazad Phyfica daquella dif ferenca, deve fer tirada do nafci- mento, e formagad da mefma cal: ella oque afaz fer cal, ¢ 0 que lhe @é todas as propriedades que a cal tem, {a6 as particulas, ou corpul culos de fogo entranhadas exactil- fimameute pelos pdros, ¢ interlti- ios das pedras quando fe cozem , como De ArchiteEturaCivil. 16% como j4 diffemos ; de forte, que, fe- paradas as partes igneas totalmen- te, o pd da pedra , que chamamos cal , nad he com effeito mais do que huma terra defanimada , e fem ef Pirito igneo , ¢ jd inhabil para o ufo que deve produzir. Aflentado efte principio , devemos tambem af- fentar em outro, e vem a fer que as pedras quanto mais de prefla , ou repentinamente fe pulverizaé , tan- to mais confervad as particulas ig- neas, de que depende o vigor da cals e pelo contrario quanto mais lenta~ mente fe pulverizaé, tanto mais fe diffipaé as fuas partes igneas , que fad as que a fazem vigorofa , e cau- ftica. Defta hypothefis fe fegue que as pedras pulverizadas efpacofamente aoar,neftefe diflipad,e tem lugar, ou tempo para fe difliparem as parti- culas 162 Problema culas de fogo involvidas nas mef- mas pedras; € as que {ad pulveri zgadas com agoa , efta por huma acgad repentina , € prompta cone prehende , ¢ liga em fi aquellas mefmas particulas , que de outra forte fe haviaé de diffipar, e como evaporar. Nem pareca que as pal ticulas de fogo {a5 fuppottas, ¢ {6- mente imaginadas , como muitas vezes fuccede , quando fe quer ex- plicar phyficamente algum phend- meno, cuja caufa nao he patente. Nem fe duvide da exiftencia daquel- les corpufculos igneos, {6 porque fe nad demonftraé vifivelmente; por uanto de muitas coufas fe nad pode negar a exiftencia » ainda que fe nad vejad; e bafta que fejad vit tas pelos feus effeitos. _E no que refpeita 4 cal, que maior demon& tragad, nem mais vifivel fe pdde dar De Architettura Civil. 163 dar dos corpufeulos igneos que con- tém, do que o effeito material e fenfivel , de fazer ferver aagoa, fem intervir outro algum calor, que o da mefmna cal? E de que o calor manifefta a prefenga do fogo ou feja ativo, ou potencial, he certo, Por muitos, ¢ varios experi- mentos fe verifica a exiftencia. das particulas igneas embaragadas , ¢ detidas naquelles corpos que tem difpofigad para as receberem, € reterem algum tempo , e ainda fem © mais leve indicio de calor; como fe obferva no minium , chamado vulgarmente azarcad. fle he uni- camente chumbo derretido, e ex- poflo ao fogo até que fique reduzi- do.em pé vermelho, ficando de- pois com maior pezo’ do que tinha o chumbo empregado na opera- ii 285 164 Problema gad; cujo pezo accrefcido torna a Jiminuir, quando o mefmo azar- cad, depois de reduzido a metal torna afer chumbo. Ifto mefino fe ‘obferva em outros corpos depois de haverem paflado pela accad do fogo; e 0 mefmo fe hade achar tambem em qualquer pedra, {e fe pezar antes, © depois de calcinada. ‘A compofigad chamada Mer- curius pracipitatus per fe, 0a0 he mais do que hum azougue reduzi- do a hum pé rubicundiflimo: do fogo lento, e continuado fem in- terrupgad , procede aquella cory € tambem 0 maior pezo com que fi- ca; porém tanto 0 pezo , como a cor defapparecem em o Mercurio precipitado tornando a fer azougue por meio da reducgad, O oleo de vitriolo conferva fempre e fem in- dicio exterior , as particulas de fogo que De ArchitefturaCivil. 165 que tem concentradas em fi; e {6 por alguns effeitos fe conhece a ex~ iftencia dellas no corpo daquelle liquido corrofivo , e caultico, Quem differa que hum fogo aétivo podia unirfe eftreitamente, e confervarfe permanente em hum liquido fali- no? E que,naé tendo 0 vitriolo por fi caufticidade alguma, logo a ad- quire, quando o fogo reduz huma parte delle em elpirito concentra- do! O mefmo fuccede a outros faes nativos, e ainda com mais promptidad , e facilidade. E de que as pedras calcinadas, fendo pulverizadas com agoa , con- fervaé muita parte do {eu vigor (0 que nad fuccede aflim ds pedras , que {a3 pulverizadas pelo ar {5- mente, e fem concurrencia de agoa) tambem he certo. E com effeito as pedras calcinadas podem fer confi- Lui deradas conus 166 Problema deradas em tres tempos; € emca- da hum deftes tem differente forfa: No primeiro , que he logo quando fahem do forno depois de acabada a operagad do cozimento , entad tem as pedras a maior forga que pd- dem ter, e a que pédem chegar ordinariamente. O fegundo , que he quando as mefmas pedras fe achaé pulverizadas ao dr, a efle tempo 34 tem perdido a maior aétividade. O terceiro, que he quando forad pulverizadas logo com agua 5 entad tem o vigor precizo , e todo aquel- Te, que aboa cal coftuma, e de~ ve ter. Defte conhecimento refulta a utilidade no ufo pratico da cal5 porque efta, quando he precizo tran{portar-fe para partes remotas, donde a nad ha, nem commodida~ de para a fazer , he neceffario nad a trant De Architeétura Civil. 167 a tranfportar em faccos como fuc- cede ds vezes ; mas devem metterfe as pedras quando fahem do forno em caixoens, ou em barriz muito bem vedados , na férma que fe pra- tica com outros generos, que he precizo defender da agoa, e da hu- midade. E ifto porque as pedras de cal, que fe tranfportad em faccos , quando chegaé ao lugar, para don- de fe encaminhaéd, achad-fe redu- zidas totalmente a pd; e nefte ef tado, fendo o 4r, que paffa livremen- te pelos faccos , o que faz a pulveri- zacad das pedras ,a cal, que dellas provém, fica inhabil , e debilitada das fuas forgas para poder fervir congruentemente ; cujo inconveni-~ ente he para evitar , fegundo a importancia , e confequencia da obra para que acal deve fervir. A Phyfica nad {6 {e occupa em obje- Liv ctos 168 Problema Gos pompofos, e fingulares ; em inveftigar o que fe palla nas entra- nhas da terra, ou porque modo fe formad os metedros na efphera im- menfuravel que deferevem; mas tambem fe emprega nobremente em allumptos humildes, e em indagar tudo quanto he util para a econo- mia civil; ¢ talvez que feja mais proprio, e racionavel o apprender aconftraccad de huma parede fim- ples, do que enfinar a forma por- que girad os orbes celeftes na val- ta regiad do Firmamento. Netta conformidade devemos affentar que a cal, para fer per- feita, e para fazerfe com ella edi- ficios permanentes, deve fer def feita com agoa, e nad ao ar, Os antigos conhecerad bem a regra, que de qualquer leve circunftancia defprezada, nad {6 fica coe ° effei- De Architeftura Civil. 169 effeito que fe procura , mas tam- bem refulta o contrario effeito, Quem véa cal desfeita , ¢ jd redu- zida em pé , embaraga-fe pouco do modo porque foi desfeita; porque a cal naquelle eftado toda he hu- mana figura exterior » mas he mui- to diverfa na compofigaé que deve produzir; e efta diverfidade , ainda na fubftancia interior , verifica~ fe por muitos experimentos cer- tos, Vejamos alguns exemplos, que comprovaé aquella propofigad. A cal desfeita ao ar he im- propria para o artefacto do fabas 5 he precifo tomalla ainda em pedra , para a ter com toda a fua forca. So- bre aquella pedra calcinada {e dei- 126 05 faes alchalinos fixos , para que eftes fe liguem com os corpu culos igneos da mefma pedra; de- pois , lixiviando-fe eftes dous in- gree | 170 Problema redientes , 2 agoa , que refulta Gelles, fica com a qualidade nece faria para a feitoria do fabdo ; de forte , que fem intervir a circunftan- cia de ler a cal tomada com toda a {ua forga, nad adquire a agoa, a gue chamad meftra , a precila adti- vidade para diffolver perfeitamente a materia cebacea , ov oleofa de que ome(mo fabsd fe faz. Daqui vem que alguns operatios algumas ve- zes nad confeguem a perfeigad da obra que adminiftraé , porque def- prezad algumas leves circunftancias, que Ihes parecem defpreziveis fem 0 ferem, Por iffo em outros artefa- os acontece muitas vezes achar-fe delufo o artifice, naé confeguin- do o intento que tinha confeguido infinitas vezes; ¢ ifto por falta de obfervancia de hum pequeno requi- fito , que alias nad he pequeno, por- De Architeftura Civil. 171 Perdue delle depende o bom exito da obra, ‘A pedra, a que chamad infer- nal Alchalica , tambem nad péde fabricar-fe com a pedra de cal pul- verizada aoar3 porque nefte efta- do (como temos dito) tem perdi- do a fun maior forca , de que aquel- Je cauftico neceffita. E da mefma forte para fazer-fe 0 efpirito vola- til de fal armoniaco , he precifo que a pedra de cal feja pulverizada com agoa, ede frelco, e nad com mui- ta antecedencia. O mefmo fe re~ guer para o celebrado Phofphor de Homberg. Para caiar deve fer cal- dada a pedra repentinamente , em grande quantidade de agoa; por- que toda a cal, depois de pulveriza- da , jd fica inefficaz , eimpropria pa- a aguelle ufo. E de fad he certo que qual- quer 172 Problema quer circunftancia leve » € que pas rece de muito pouca confequencia, he com tudo eflencial em alguns ca~ fos5 ¢ de ferem omittidas procede o erro de huma operagaé alias bem ditigida. Exemplifiquemos ifto. A fermentagaé do mofto exige que o vafo, que o contém, tenha na pat- te fuperior huma abertura efpheri- ca, chamada vulgarmente batoques efte fe he demaziado , por elle fe dillipad os efpiritos melhores , e mais fortes de que refulta ficar 0 vinho fraco , e de pouca duragaé 5 ¢ ou- tras vezes provém hum liquido fem fabor ya que os Latinos chama6 va~ pa. Se o batoque he mais pequeno {que o que deve fer, fegundo a ca pacidade dovalo, e da quantida- §e do mofto que fermenta , entad, nad tendo o aringrelld , e egrello livre , e facil ,a fermentagad fica im- perfei- De Architettura Civil. 173 perfeita, e o vinho, que procede della, fempre eftd com difpofigad, e inclinagao para mudar-fe, e alte- rar-fe; porque lhe faltad os efpiri- tos vinofos , de que depende a fua confervagad. Se o batoque he pe- queno exceflivamente , ou fe fe fe- cha de todo por acafo , ou impru- dencia de quem cuida naquella for- te detrabalho, refulta explofaé vio- Jenta com fracgad do vafo,ou do to~ nel em que o mofto efta. De qual- quer deftas circunftancias , que alias parecem de entidade pouca , pro- vém effeitos tad diverfos , ¢ con~ trarios. CA- 174. Problema CAPITULO X E pois fummamente neceffa- Hi que as pedras decal fejaé pulverizadas com agoa, na forma que commumente fe pratica ; mas a6 com agoa falgada , nem falo- bra, como alguns fazem , ede que faccede infallivelmente a perdigad da melhor cal porque o fal, intro- duzido nella poraquelle modo , faz perder inteiramente a boa qualida- de della, por fer o fal hum mate- rial improprio , eincapaz de forta~ Iecer-fe em tempo algum ; vifto que tudo, o que attrahe humidade afi, impede confideravelmente a unind intrinfeca das partes , as quaes {6 fe confoliéa, ouconglutinas, depois le De Architeftura Civil. 175 de expellida a humidade toda ; mas quando contém algum principio hu- mido, efte fempre eftd fazendoas partes divifiveis , e feparaveis. E fendo affim, como ha de ti- rar-fe da cal 0 fal depois de introdu- zido nella, e por confequencia in- troduzido tambem na fubftancia da parede? O fal fempre tende a hu- medecer (em quanto conferva a na- tureza de fal); e por mais efcon- dido , e abforbido entre outros mix- tos, fempre fe humedece ,e efta ten- dencia natural por nenhum artificio fe lhe péde remover. Poderd dizer-fe que as paredes, que contém fal, fempre o cofpem para féra fucceflivamente , como fe obferva em huma leviffima lanu- gem albiforme , de que as paredes le reveftem commumente nas fuas partes exteriores, e fuperficiaes ; & que | 176 Problema que alfim pelo decurfo do tempo ficad as paredes perdendo o fal que contraétarad por meio da agoa fal- gada, com que as pedras de cal fe pulverizarad. Efta objecgad he me- nos concludente ; porque aquella materia falina , ealbicante , que ds vezes fe manifelta nas fuperficies das paredes , nad he o fal que ellas tem em fi, mas outro mui diverfo ue o arcria. Ifto fe comprova pelo fundamento verdadeiro de que © {aldo mar, introduzido por aquel- Je modo no groffo das paredes, he hum fal quali fixo, € decrepitante 5 em lugar que o fal , que vemos na parte exterior de qualquer muro, he de qualidade nitrofa , que pen- de para alchalina. E com effeito ha muita diffe- renga entre hum fal decrepitante 5 e hum fal nitrofo ; efte deflagra quan- De Avthiteblura Civil. 477 quando o deitad fobre 0 fogo, e intuméce quando propende para al- chalino ; aquelle, fe o deitad fobre © fogo ardente , eftala fuccefliva- mente , e faz eftrepito , ea ifto chamaé os artiftas decrepitar. $5 0 fal do mar , ou que tenha a fua mefma qualidade, decrepita 5 ne- nhum dos outros faes nativos » ou compoftos, tem aquella proprieda- de; e da mefma forte {6 0 fal ni- trofo deflagra. Aflim fe diftinguem os faes pelos feus caracteres elfen- ciaes , e diftinétivos: e da mefma forte os mixtos , ou naturaes, ow artificiaes , tambem {ad reconheci- dos pela indole , e genio proprio de cada hum. E aflim quando o ar- tifta vé decrepitar hum fal, julga com certeza que he {aldo mar, ow procede delle ; e quando vé de- flagrar outro , tambem julga com M igual stints net erst ACC AE GCE 178 Problema igual certeza que he nitrofo. Que admiravel arte, que com mais jul- to titulo tem por inftituto 0 co- nhecer os effeitos pelas {uas caulas, © as caufas pelos feus effeitos » € em que {6 a experiencia tem voto decifivo , ¢ em que as regras, € preceitos nad vem de humana, ou pofitiva inftituigad , mas de huma ordem permanente, eindefectivel! nella naé tem os fyftemas authori~ dade alguma, e os fyllogifmos nad concluem quando a prova nad con- fifte em fatto vifivel , e conftante. Efta he a Chimica inftruida , ou Phyfica por excellencia. ‘Além da decrepitagaé fe co- nhece o fal domar (a que chamaé fal commum ) por meio da analyfe 5 efta fe deriva da circunftancia , € propriedade , que daquelle {al fe exttahe hum elpitito falino, ques fendo De Architeflura Civil. 179 fendo concentrado, he o verdadei-~ ro diffolvente do ouro ; e efte me- tal, que regularmente refite e per- fifte indifloluvel em todos os ou- tros acidos , cede facilmente ao do fal commum e para que os mais acidos 0 poflaé diffolver he precifo juntarlhes certa porgad daquelle fal, ou de fal armoniaco, que he hum falcompofto, e tem por bafe o fal commum. fal porém que as paredes cofpem , he de diverla natureza , e inteiramente contraria 4 do fal do mar. Aquelle fal (como fica dito ) henitrozo, porque deitado fobre a braza, ou carvad accefo , deflagra e arde como huma elpecie de pol= vora, edelle fe faz a melma pole vora depois de purificado , e crit tallizado em nitro; 0 que alids fe nad péde fazer de nenhuma forte ii com pannus Se 180 Problema com o fal commum , porque efte nad tem a elafticidade que no outro fe confidera: defte fal fe compoem a agoa forte, ¢ de nenhuma forte do falcommum; antes, efte fe por acafo , ou por impureza do nitro {e encontra nelle, ainda que feja em minima porgad, fica a agoa forte que provém com diverla qualida- de, e fempre impeditiva da acead que deve produzir ome{mo efpiri. to do nitro. Por iffo nas fabricas, em que fe compoem a polvora, primeiro fe purifica exagtamente o nitro, cuja purificagad confifte em apartarle delle qualquer pequena porgao que pofla ter Ce que ordinariamente coftuma ter) do fal do mar; por- gue o nitro , em que fe acha alguma parte daquelle fal, deflagra fem promptidad , ¢ fracamente a ma- neira, De ArchitetturaCivil. 181 neira de huma lenha verde , ou hu- mida, que fe quer queimar; ¢ fe a parte do fal commum he grande , impede totalmente a deflagragaé do nitro, a que chamaé os artiftas Detonacaé: fuccede tambem infalli- velmente que a prata diffolvida em agoa forte, fe fe Ihe deita qual- quer porgad do fal commum, a prata fe precipita ao fundo do va- fo que contém a diffolugaé ; com © que fe verifica a repugnancia, ou differenga efpecifica que ha entre hum, eoutro fal. Além de que impropriamente fe diz que as paredes cofpem para fora o fal que tem, porque efte certamente nad fahe do groffo ow fubftancia interior dos muros , mas cria-fe nas {uas {uperficies exterio- yes, a modo de huma vegetacad falina , e filamentoza, e 4 maneira Miii de Problema 182 de outro qualquer nitro, que todo fe cria na fuperficie da terra , quan do acha na qualidade della algu- ma matriz propria para concentrar- fe, ou embeber-fe 0 efpiritonitro- zo, que eftd como nadando em to- dooambito do dr; por cuja razad falando do nitro alguns dilferad + Portavit eum ventus in utero. E com effeito as paredes nad cofpem, nem langad de fi o fal commum: efte eftd tad ligado, & entranhado com os mais materiaes de que os muros fe compoem , que or nenhum modo fe pdde defem- baragar delles. Ifto fe prova com oefpirito, que fe extrahe daquelle fal para o que depois de decrepi- tado fe miftura com certa porgaé de qualquer terra argiloza , e me- tendo-fe em vafo proprio para a def- tillagad, ¢ adminiftrado gradual- mente (a De Architetura Civil. mente hum fogo aétivo, nad fe fe- para do falcommum, fenaé huma limitada quantidade do feu efpirito falino, ficando a maior parte delle fem mudanga na retorta , donde rezifte immobil ao fogo mais vio- Jento. E fendo affim ( como he na verdade ) como péde feparar-fe o falcommum {6 por fi do groffo da parede, e fahir della , fe ainda hum fogo forte o nad péde reduzir a ilo? O fogo he o melhor fepara~ dor de todos quantos ha; e 0 cor- po, que fe nad fepara das partes, a que efta conjunto, por meio daquel~ le agente, nad pode fepararfe {6 por fi, Daqui vem que qualquer parede, em cuja cal entrafle agoa falgada , o fal ha de permanecer nella fempre, ou até que a parede fedesfaga, e asagoas a lavem in- iv teira~ 183 ———— il it). 184 teiramente extrahindo-lhe o fal que em ficontinha ; porque a agoa he o diflolyente natural, e univer- fal dos faes, quando eftes naé_ ef tad affociados a algum principio oleofo , que impefla a acgad da~ quelle diffolvente: de que fe fe- gue que em toda a parede, expofta a fum fogo ardente , fempre o fal fica conlervado e adherente a cl- la; porque {6 aagoa he capaz de o defentranhar , derretendo-o, € levando-o comfigo fempre. Com outros mais experimen- tos fe pdde verificar evidentemente que o fal, queas paredes cofpem , nad he o fal commum da agoa fa gada, com que as pedras de cal fe pulverizarad, mas he outro adven- ticio novamente creado nas fuas fu- petficies, e produzido pelo ar am- biente da atmofphera ; e he como huma De ArchiteElura Civil. 185 huma florificagad , ou bolor que fe forma em modo vegetante na fu- perficie de todos os corpos humi- dos. Daqui tambem refulta que as paredes, que contém fal , fempre {a6 mais humidas do que aquellas que o naé tem ; e ifto conforme © tempo , e qualidade da eftacad. Agquella mefma humidade attrahe avidamente o fal aereo que fe con- denfa, e toma corpo; porque re~ gularmente o fal , e a humidade {28 correlativos de algum modo 5 e affim como o fal attrahe a humi- dade, tambem a humidade attrahe o fal. O affucar v. g. em quanto ef td fecco nad pdde crear bolor; mas fe eft4 fummamente humido ou por fi, ou por algum mixto adjun- to, logona parte fuperior comeca a formar-fe aquella téa lanugino- fa, 186 voblema fa, aque coftumamos chamar bo- lor; efta naé he mais do que hum principio de vegetagad , produzida pelo concurfo da humidade propria, eda humidade do ar exiftente em todo o tempo na vafta capacidade da atmofphera. Por iffo para evitar aquelle bolor defagradavel ( que na verdade he hum principio de cor- rupgad) o remedio he guardar a coula, que fe pertende prefervar , em lugar fecco, ¢ menos expofto ahumidade , como todos fabem. CAPITULO XL Ad muitos os danos , que re- faltaé do fal entranhado nas pa- redes por meio da cal feita com agoa falgada , ou ainda falobra, como De Architeftura Chil. 189 como em muitas partes fe pratica ordinariamente. é primeiro dano confifte em ficarem as paredes com huma propenfaé perpetua para hu- medecerem, nad {6 nas fuas fuper- ficies, mas tambem no interior del- Jas. Efta humidade impede que as paredes poflaé nunca caldear y nem adquirir aquelle grao de fequidad, que he precifo para ficarem folidas, € para fazer de muitas partes ag- gregadas hum {¢ corpo bem unt do. « Devemos affentar que a cal, aaréa, @ a agoa {a6 0s pregos (co- mo os artifices fe explicad ) que fervem de juntar as pedras , de que hum muro fe compoem; fe aquel- les chamados pregos forem molles, ou tiverem difpofigad para amolle- cerem, e para fenad feccarem to- talmente, que firmeza pode ter o muro? 188 Problema muro? Os mefmos materiaes tam- bem fe podem comparar & cola 5 ef- ta fetiver difpofigad para nad fec- car de todo, como havemos de ef- perar della algum effeito perma hente? A obra grudada nad fica com vigor , fe nad depois que a cola féeca sa coufa pregada tam- bem nad dura, fe o prego foi defei- tuofo. . “Temos hum exemplo na fabri- cacad da telha , € do tijolo. Eftes compoem-fe de hum barro argilolo , amagado bem com agoa. Aqyylle barro affim preparado, depois que os operarios Ihe dad a figura de te- tha , de tijolo , ou de outra qualquer coufa, entrad a feccalla lentamente 0 Sol, até que a.cozem na forna- Tha, propria para iflo , a fim de ex- pullar della toda a agoa , & humi- flade y que tmhad entiado no com potto. De Architeblura Civil. 189 potto. O cozimento he indifpenfa- vel, e nelle confifte a bondade, ou a perdigad da obra. He neceflario que a humidade feja expulfa intei- ramente ; porque , nad o fendo, em chovendo na telha, ou no tijolo, tornad a desfazer-fe em barro , e lhes fuccede o mefmo que fuccede ao homem por decreto inevitavel : Pulvis es, & in pulverem reverte- ris. De forte, que 0 barro nad fe conglutina , nem adquire eftado fo- lid fe na depois que 0 fogo faz exhflar delle a humidade toda que fervio a difpollo para tomar efta, ou aquella férma ; antes diffo eftd im- perfeita a obra, e {6 como debu- xada , porque o barro ainda re- tém huma propenfad perpetua pa~ ra desfazer- fe ; a perfeicad depen- de da exaéta fequidad. E por es fe 190 Problema fe obarto for falgado , ou fe for falgada a agoa com que de prin~ cipto fe amagou 2 pot mais que o fogo o feque, em fe apartando del- Ie, torna o barro a humedecer de novo em todas as fuas partes, eef- tas entraé de novo a defunir-fe, e a perder infenfivelmente a uniaé que tinhad , e vem a fer como fe tor- nail a derreter-fea cola, oua que- brar-fe 0 prego. ; Porém poder-fe-ha dizer que atelha, ou tijolo nad fe desfazem na agoa : ifto affim he ; masypor- que ferd? he porque huma, @o tra coufa depois de cozidas perf tamente adquiriraé huma uniaé tal em todas as fuas partes dilgrega- das, que ja a agoa as nad pode di- vidir, nem apartar. Pelo cozimen- to adquirio obarro diferente natu- reza que a que tinha. Antes de co- zido De Architeftura Civil. 191 zido exaétamente pdde o barro tor- nar a fer oque de antes era; mas depois nad pdde retroceder. As ac- goens da natureza caminhad fuc- ceflivamente para hum fer diverfo. A folha de huma planta jé nad pé- de tornar a fer humor ; 0 fruto ja nad péde tornar ao eftado de ver- dura. O vidro v. g. compoem-fe de hum fal alchalino fixo, e de aréa pura. Eftes dous ingredientes fen- do mifturados , e expoftos algum temgp ao rigor do fogo, vitrificad- fe, €fazem a materia do vidro que vemos commumente. Quem dird , anad fer conftante, e bem vulgar © artefaéto , que hum fal alchalino fixo podeffe entrar na compoficad do vidro? Aquelle fal, e aréa fad corpos naturalmente opacos; 0 vie dro he clariffimo , e didphano , e pdde 192 Problema pode refledtir os objectos por meio da interpofigad de qualquer corpo lucido; a aréa, eo fal na6 tem fe- melhante propriedade, Que diffe~ renga nad vai de hum vidro crif tallino a huma aréa ingrata! A agoa forte diffolve a aréa, mas o vidro refit fempre a toda a adtividade dos licores corrofivos. O fal alcha~ lino fixo contém huma pungentiffi- ma acrimonia; 0 vidro na6 tem fa- bor algum ; he infipido totalmente. Para onde foi a acrimonia daquelle fal depois de vitrificado? Se alguem differ que 0 fogo foi que tirou a aquelle mefmo fala fua actimonia cauftica , engana-fes porque todos os {aes alchalinos fi- xos , fem exceptuar nenhum , quan~ to mais tempo eftad ao fogo, e em fufad , tanto mais fe fazem acrimo- niofos; ede tal forte, que ainda os faes De ArchiteElura Civil. 193 faes unicamente acidos , excitados continuamente pelo fogo , mudaé- fe para alchalinos, mas nunca de al- chalinos para acidos. Da perfeita uniad daquelle fal com aréa reful- ta ovidro, e defte os ingredientes receberad , {5 pela accad do fogo, propriedades contrarias 4s que ti- nhad antecedentemente , enatural- mente. _, A farinha, depois de cozida em pad , recebe novas propriedades , e perde as que antes tinha ; era humgorpo fermentavel , depois fi- ca icapaz para nunca mais entrar em femelhante alteragaé ; a difpo- figad , que tinha para fermentar, fe Ihe acabou, e diffipou aflim que fermentou huma {6 vez. O motto antes de ferver nad dd na deftilla- ga6 nem huma pinga de liquido inflammayel, a que chamamos ef- pirito 194 Problema pitito de vinho ; porém depois de fermentado, 0 mefmo mofto exhi~ be copiofamente aquelles efpiritos admiraveis. Que clupendas diffe- rengas naé notamos no motto fim- ples, € no efpirito que procede delle depois de fermentado ! antes diffo he hum liquido doce, e inca~ paz de inebriar; depois de fermen~ tar perde confideravelmente aquella dogura natural , ¢ tem adtividade para fobir 4 cabeca promptamente por caufa dos efpiritos que adqui- rio na fermentagad 5 porémgifes mefimos efpiritos que ,em quanto ef tad no vinho, fazem titubear, ou inebriar , depois que fe feparad delle, j4 nad tem a mefma forga para perturbar o cerebro, nem mo- ver defordenadamente os elpiritos animaes. Aflim he o tijolo, atelha, e outros De Architeétura Civil. 195 outros vafos de femelhante compo- figad. Antes do feu perfeito cozi- mento conferva o barro a pro- penfad que tem para desfazer-fe naagoa; mas, depois de huma vez cozido, perde aquella primeira qua- lidade 5 pdde entaé quebrar-fe , mas desfazer-fe naé; conferva a fragi- lidade , nada deliquefcencia. E he para notar que quando a te- Iha', ou 0 tijolo fahem do forno mal cozidos , jd nad tem remedio aquelle mal ; porque, ainda que tor- nengpare o forno , jd mais podem recMer o perfeito cozimento que faltava ; a remiflad , ou intercaden- cia do fogo , faz arruinar a obra; nem fe pdde melhorar, ainda que depois feja adminiftrado hum fogo activo, e continusdu; efte devia fer fucceflivo , e nad interpolado; por huma mefma accad, e nad por Nit mui- by 196 Problema muitas intercadentes. E nefte efta- do ficou o barro, de que a telha, ou otijolo fe compoem , confervando a aptidad nativa para desfazer-fe na agoa. ‘O mefimo faccede na calcina- gad da pedra; fenefta, depois de excandecida , o calor remitte, ¢ 0 forno algum tanto esfria , ja dae quella pedra fe nad pdde fazer cal, ainda que o calor, que depois vier , feja ainda mais violento , € forte. He neceffario que 0 fogo feja igual continuadamente, e nad fulginda a fua adtividade ; porque fe Mega a embrandecer_confideravelmente jd a pedra fica inutil , e perdida para aquelle minifterio. Os artifi- ces conhecem efta regra , porém naé {abem a razad theorica por- que affim fuccede ; ¢ para a dar- mos aqui, feria neceffario apar- tar~ De ArchiteElura Civil. 197 tarmo-nos muito do fujeito. Sé diremos para utilidade com- mua, que toda a pedra que pelo modo referido , fica inutil para a fabricagad da cal tambem fea in- util totalmente para a fabricagaé dos edificios, e geralmente para toda, € qualquer obra; porque a pedra, de qualquer genero que feja, de- pois de excandecida ao fogo , fica contrahindo huma tal fragilidade que logo quebra , e cede ao me- nor impulfo, e abaixa com qual- qu pezo fobrepofto , e fe desfaz em™Pequenas partes todas as ve- zes que a agoa, ou a humidade chega a penetralla. Daqui vem que toda apedra, que paflou por al- gum incendio, em que chegou a ex= candecer, fica inhabil , © incapaz, de fervir para outros ufos femelhan= tes; {5 péde fervir como aréa pu- Nii Tay 198 Problema ra, fe for pizada, e reduzida em po grofleiro. Parece que fica manifefto que ‘© fal commum introduzido na pare- de por meio da agoa falgada , com que as pedras de cal fe pulverizaé, he o que impede que a parede {e- que inteiramente, ¢ he o que a tem em hum eftado continuo de mudan- ga, iftohe de mais, ou menos hu- midade; e 4 maneira de hum ba- yémetro fegue as mutagoens atmo~ {phericas do anno; e fe altéra 4 pro- porcad das eftagoens. Ifto rage: mo j4 diffemos, da qualidade itf¥en- civel que o fal tem para attrahir 0 humido do ar; ede facto o attrahe com mais forga do que o iman o ferro. Digo com mais forga , por~ que o iman para attrahir o ferro y he neceffario que efteja , ou ache ferro dentro da efphera da fua aéti- vidades De Architeétura Civil. 199 de; em lugar que o fal nunca ef- t4 féra da efphera da adtividade do ar. E com effeito o fal ainda que dividido em partes minutiffimas , € involvido em outros corpos , pelos poros defles mefmos corpos attrahe © ar, e juntamente a humidade que o ar contém; e como oar he hum fluido , cuja humidade he infe- paravel , ¢ inexhaurivel , por iffo omefmo he attrahir o ar, que at- trahir a humidade delle; he certo 3 ha ar fem humidade , nem hufdade fem agoa. Affim o en- tendeo o exceilente Adepto Sendi- vogio quando diffe : Eft in aere occultus vite cibus quem de notte rorem, de die vero aquam appella- nus rarefatiam. _ Bem me lembra que poder dizer-fe que a humidade pretendi- Niv da ‘300 Problema da nad exile, porque nad fe ve, nec cadit in fenfus vito que em huma parede defmanchada, ainda gue efta folle fabricada com cal pul- verizada com agoa do mar , nem por iffo fe obferva humidade algu- ma na calica de huma tal parede. Efta objeccad parece mais confide- ravel do que na verdade he; por que aqui nad fe diz , nem fe fal tenta que hum muro femelhante ef- ieja por dentro com agoa manifef- ta, nem que a caliga deffe muro moftre vifivelmente a humida ie emfi tem; oque fe diz, he wue 6 fal do mar incorporado na pare- de, e pofto nella por meio da cal feita com agoa falgada , ou falo- bra fimplefmente , effa tal parede fempre eft mais, ou menos humi- da, fegundo o temperamento , € ef tagad do tempo. Para De Architeflura Civil, 2101 Para prova do referido , tome- fe a caliga daquella tal parede de- molida em quantidade aubitraria e pofta em retorta chalibeada , efta fe accommode em forno de reverbero, e applicado o recipiente, lutadas as junturas ‘adminilre fe hum fogo proporcionado fegundo a arte;e con- tinuada a deftillagas , entaé fe ve- 14a porgad de humidade , ou agoa vilivel , e manifefta , que eftava como efcondida no corpo da caliga. Depois defta operagaé , tire-fe a oe caliga da retorta, e depois tar alguns dias expofta ao ar, repita-fe com ella a mefma opera- a0, e fempre feha de achar agoa No recipiente, por mais que a dell Jagaé fe repita mil vezes com a mef- ma caliga ; porque o fal, que ella contém , fempre attrahe a humida- de, por ter no ar huma fonte per- petua 402 Problema etuia donde fempre a acha. O Poe- ta o diffe a outro intento femelhan- te, ano avulfo, non deficit alter. Naé fuccede a operagad por aquelle modo, fe fe quer praticar com caliga, cuja cal nad foi pulve- rizada com agoa falgada ; porque efla tal calica naé moftra na ope- ragad humidade , ou agoa alguma: eainda acaliga , que tem verdadei- ramente fal, fe efte fe lhe tira por meio da infufaé , j4 nad attrahe hu- midade alguma; e nefte eftado , gin- da que depois de fecca efteja tempo expofta ao ar, nem po ha de dar na deftillagad a agoa que dava antecedentemente quando ti- nha fal , porque com efte perdeo aparte activa, e attraCtiva , por on~ de tinha difpofigad para attrahir. ‘Além defte methodo vulgar , ha ou- tros que daé a conhecer que hum corpo De Architeftura Civil. 203 corpo quando parece izento de hu- midade,nem por iffo deixa dea con ter abundantemente , naé por cau- fa da attracgad , mas por outros principios igualmente naturaes. A ponta do veado he hum cor- po folido , e tad compaéto, que ad- mitte polimento, e luftro; e ainda fendo aflim, de trinta e duas on- gas de ponta de veado fe tirad tre- ze ongas de licor a que chamaé Aqua cornu cervi.O papel tambem he hum « » que, ao parecer, he deftix de humidade , e com tudo de fe quatro ongas de papel fe ti- ra ordinariamente duas ongas e meia de oleo, e treze ongas emeia de efpirito phlegmatico , além da quan- tidade de humor aqueo que na ope= ragaé fe exhala, O marfim tambem he corpo duro, e baftantemente foli- do , ¢ que parece naé conter hu- mida~ 204 Problema midade alguma, mas com tudo del- le fe extrahe ooleo, € 0 efpirito a que chamaé Elephantino. Todos os Offos dos animaes, por mais feccos que paregad , tambem largaé de fi os mefmos principios oleolos , © elpi- ritos empireumaticos. Do reino mineral fe tira humi- dade copiofa de alguns mixtos , don- de nad ha apparencia de a achar. A caparofa , depois de fecca exadla- mente, e reduzida em pé fubtil def tillada'ahum fogo violento ¢ggie- verbero, langa de fi o efpiit centrado a que chamaé Ole grioli. Oenxofie , que pela fua un- @uofidade repelle de fi toda a hu- midade , e a nad péde receber em feus pdros, com tudo fe fe faz arder © enxofie debaixo de algum valo concavo , larga tambem o licor aci- do aque chamaé Spiritus filpbu- ris De Arcbite6lura Civil, 205 ris per campanam. O fublimado mercurial,que he hum compotto fec- co, compaéto folido , e pezado , depois de moido, e mifturado com oregulo de antimonio, moftra, e tambem larga a humidade criftalli- na, ecauftica ,a que chamad Buti- rum Antimonii. _ Por eftes , e outros muitos ex- perimentos fe manifefta , que ainda que ahumidade nefte, ot naquel- Ie corpo fe nad faca diftinguir vi- fizglmente, nem por iffo deixa de elles, e em porcad notavel, indo com effeito naquelles corpos, donde parece naé eftar. Po rém o que fe efconde 4 vifta, nad fe efconde ao fogo : efte agente Voraz, impetuofo , ¢ examinador fevero , nad deixa nada occulto , e faz apparecer o que era invifivel totalmente. Que 206 Problema Que outra coufa fad os me- taes todos, fe naé a humidade con- junéta 4 parte terrea que entra na compofigad natural daquelles cor pos? Os dous metaes perfeitos tam~ bem naé {a6 outra coufa mais do que a mefma humidade metallica tenaciflima, fixiffima, e adherente com uniaé mais forte ao principio terreftre , que os defende pertinaz- mente de toda a accad dos ele- mentos; {6 hum fogo attivo os faz correntes na fundigaé ; entag - trad que procedem precifam} huma humidade oleofa , porgyaa@re- duzida a hum perfeitiflimo grao-de fixidad ; o como, {6 a natureza 0 fabe ; nds fabemos os materiaes da- quella admiravel obra , porém 0 modo de os compor, e preparar , nad faberemos nunca. Por aquella maneira fe co- nhece De ArchiteturaCivil. 207 nhece que a calica tem humidade em fi, ainda que nad feja humida- de vifivel , e palpavel : e fem buf car argumentos Chimicos , bafta que fe faiba 4 priori que na cali« ga ha fal, para que diffo fe con- clua com certeza que tambem ha humidade nella; ¢ ifto da mefma forte com que fe conclue que don- de ha humidade ha agoa , e que donde ha agoa nad deixa de ha- ver ar. rém ainda haveré quem di- ad he facil de perceber fando o fal dentro na pare- deS"€ incorporado a outros mixtos, ofla 14 melo penetrallo oar, e infundir-lhe a humidade que dize- mos. Efta objeccaé nad he confi- deravel 5 porque fabido he que o ar penetra validamente os corpos todos; ¢ aflim he fem duvida, por- que 208 Problema que como naé ha corpo fem pé- ros, e eltes fejad permeaveis, por elles pafla , e repafla o ar conti- nuamente ; e€ por mais que hum mixto efteja confundido, e miftu- rado com outros de diverfa natu- reza, nada impede o ar para in- troduzir-fe nelle. O ar com effeito penetra to- dos os corpos , € vai como circu- jando pela immenfidade de péros de cada hum. A luz, ou a mate- ria fubtil faz o mefmo; ¢ i= recgad, ou obliquidade d por onde aluz paffa, reful riedade , ¢ differenga das cons porque a cor nad tem fubftancia propria, e nad he mais do que hu- ma modulagad , ou ondulagad da luz, tran{mittida pelo ar fubtil; e efte pallando direéta , ou obliqua- mente, caufa na retina dos noflos olhos De Architeflura Civil. 209 olhos huma certa vibragaé, de que refulta a fenfacad defta , ou da- quella cor. Na parte offoza dos animaes valetudinarios fe obferva em cer= tos tempos a impreflad do ar nas dores que padecem , e que com- mumente fervem de indicio certo de que o tempo fe muda, ou eftd para mudar-fe. Ifto, ou feja por- que o ar naquellas occafioens fique mais, ou menos pezado; ou feja p fazendo-fe mais denfo , f- embaragada a fua per de, e faga entad mais ni- ‘orga para paflar por aquel- Jas partes , obftruidas talvez , € caloficadas ; fempre he certo que aquelle effeito vem do ar, e que efte attinge os offos, ou mufculos fenfitivos , de gue refulta a dor, nad obftante eftarem defendidos, € oO co 210 Problema cobertos com todas as mais partes animal. ‘° Oar pois, ¢ ahumidade con- juntamente pafla , e penetra affidua- mente os corpos todos ( exceptuan= do aquelles que eftad vitrificados y ou que tem femelhante natureza 5 porque effes taes {6 fe deixad pe- netrar pela materia da luz, a que chamaé etherea propriamente ) € por confequencia penetra qualquer muro , por mais groflo , € folido que feja fe dentro deffe muy r particulas de fal, ainda divididas em partes mind ha de humedecellas preci 1 Porque os mais mixtos,a que fe ey encorporadas , e como confundi- das, naé as livra da impreflad do ar, nem da humidade que contem, Naé digo que as humedega na mef- ma forma, ¢ no mefmo efpago de tempo De ArchiteElura Civil. 214 tempo em que o fal humedeceria, fe eftivefle i > ¢ fe eftivelle livre- mente expolto 4 accad doar, eda humidade ; porque entad correria liquido , Puerer in deliquium , co- mo fe explicad os artiftas ; mas re- cebe a humidade fufficiente para im- pedir que a cal fe conglutine , ede algum modo fe petrifique com a aréa, Porém antes que paffemos a di- ante, moftremos por alguns expe- rimentos que o ar , e a humidade coon, as paredes com effeito; GF ielhor conheceremos por al- guns éxemplos , ou argumentos bem fabidos. } ar he hum fluido, ou vehiculo univerfal; elle nad {6 le- va a humidade por onde pafla, ea vai transmittindo aos corpos que tem aptidaé para a receberem, mas até conduz os dtomos invifiveis,que con- Oi fidera- oe. rt Problema fideramos fahir da pedra magneti= ca, Sobre huma mefa fe elpalhem algumas agulhas de ferro, ou 2¢0> ou tambem a limalha de cada hum daquelles dous metaes 5 ¢ pallando- fe pela parte inferior da banca hu- ma pedra magnetica vigorofa , ver fe ha que asagulhas , ou limalha fe movem fegundo o movimento in- ferior da pedra. Nefte experimen- to quem he que conduzio os ato- mos magneticos para darem aquel- le movimento ao ferro , fenad o,ar, atraveflando para iffo, e vencey ida. © obftaculo da madeira pean ita entre huma coufa , e outra? Por- que 0 ferro nad podia mover-fe 5 fem fer pela forca exterior, € con- taéto immediato de hum agente cor- poreo (mas invifivel ) que o fizefle mover , ¢ lhe imprimiffe de faéto a accad de hum movimento local. Na- . tural- De Architeflura Civil. 213 turalmente nenhum corpo fe move, fem primeiro fer movido pelo en- contro, ou choque de outro corpo jd pofto em movimento : alias o re- poufo, ou inaccaé he naturaliflimo; enenhum corpo fe moveria, fe nad houveflem outros que o moveflem. Os dtomos magneticos {a3 com ef feito corpos j4 poltos em movimen- to, ¢ defte refulta o movimento do metal que eftava em defcango, e ef taria fempre em quanto 0 nad mo- veflem. , Porém aquelles dtomos, que coiififéramos moventes , quem he que os leva até chegarem ao ferro que fazem mover? Quem he que os tranfporta, e os introduz pelos péros inviliveis da madeira até que encontrem o ferro, para o fazerem mudar de lugar , e de direcgad? $6 © ar tem movimento perpetuo 5 € ili por 214 Problema por iff tudo aquillo que 0 ar cone tém, ou que fe péde fultentsr no ar, gira perpetuamente; porque o ar, que fe move, fz mover tudo quanto fe acha nelle, fe o pezo nad he defproporcionado , porque en- ta6 0 pezo tem mais forca para ful- tentar-fe immobil, do que o ar tem para o fazet mover. Mas porque fe- 14 perpetuo o movimento do ary nad o fendo o das outras coufas ? Parece que a razaé he, porque o movimento doar provém daquelle primeiro impulfo que o Divino Ar- Chite@o do Univerfo imprimio em todos os principios na ordem da creagad; o movimento pois,que vert de hima origem poderoza infinita- mente, nad pode cellar , fe nad cef- fando tambem a ordem da nature- za; € 8 omelmo Architedo, que infundio no ar a acgad de fe mo- very De Architeflura Civil. 215 ver, he quem a péde fulpender 5 porque o corpo, que fe move, fem= pre he 4 proporgad da forga,, que 0 faz mover : e quando a forga he in- finita , como ha de parar 0 movie mento? O fim das coufas foppoem hum principio limitado; ¢ nad aquel- le, que nad tem limite. Daquelle experimento da pe- dra magnetica , a que chamad com~ mumente de cevar , abuzaraé mui- tos fazendo crer aos inexpertos que © movimento das agulhas procedia de caula fobrenatural , nad proce- dendo fena6é naturalmente, Affim veio a mefma Phyfica a fervir pa- ra introduzir etros populares 5 e foi precifo , para os conhecer , nad {6 que as {ciencias fe adiantaflem , mas que ficaffem de algum modo mais commuas ; porque para defabuzar a todos he neceffario que todos fai- Oiv bad 216 Problema bad o emque confifte oabufo. A tinta chamada fympathica , tam- bem faz hum effeito femelhante , ¢ raro, fendo que exige mais arte pa- ra a compér. Em tudo tem o ar ac- gad, ¢ dirige (como temos dito) ‘os dtomos da pedra magnetica (fe he que os tem como fe diz) e mo- ve os feus efiluvios , ou turbilhoens (He he que os ha. ) O oleo de vitriolo deflegma~ do, e pofto em parte fummamente refguardada, e fecca, fempre cref ce em pezo pela humidade que at- trahio do ar. O tartaro alchaliza- do , ou qualquer fal alchalino fi- xo, tem o mefmo crefcimento, pela mefma caufa. O inftrumento chamado Thermémetro indica 0 pe- zo, e variagoens do ar, por mais que aguelle me{mo utilifimo in& trumento , efteje bem cerrado, ¢ defen- De ArchiteEura Civil. 217 defendido exa&tamente contra as imprefloens da atmofphera, ou ar exterior. Fica pois conftante que o fal entranhado nas paredes, por meio da cal pulverizada com agoa do mar, attrahe a fi continuamente a humidade aerea ; cuja humidade impede que a cal fe petrifique com a aréa, e que faca com ella hum corpo folido ; e por confequencia as pedras , de que os muros fe com- poem , naé podem achar na cal hum ligamento forte que as con- tenha. Daqui vem, que em fe mon vendo a terra, ainda que as pedras fenad moad , moem-fe porém a cal, eaaréa que ferviaé de as prender, ¢ ligar eftreitamente , ficando por iffo mefmo as pedras como foltas, e divifiveis, e juntamente em efta- do de fe fepararem humas das ou- tras 218 Problema tras, arruinado aflim, e cahido o muro que fuftentava o edificio. CAPITULO XL Cis petrificagad a aquella uniad exaéta que fe forma en- tre acal, ea aréa, de que reful- ta hum concreto duro, continuado nas fuas partes , impenetravel 4 agoa, e que em muitas circun tancias tem huma natureza_leme- Ihante 4 da mefma pedra. E com effeito , fe fe amagar huma parte de cal, pulverizada com agoa doce , com duas partes de aréa fina, que nad tenha barro, nem participe de agoa falgada , ver-(e-ha que a agoa, com que aguelles dous mixtos fe amagarad, em breve tempo fécca; ede- | | De ArcbiteStura Civil. 219 e depois de poucos dias fica tudo reduzido a hum corpo folico, re fiflente 4 agoa , e apartande-fe della, como fe fofle huma pedra verdadeira, Affim 0 notou 0 deu- tiimo , e experientiffimo arifta Jorge Ernefto Stahl na fua Phyfica ca Mechanica pag. 137. §. 5. em que diz: Communiter enim notum eff, quod calx tanta aque portione , ut pula tis confifentiam referat perfufa, agua bac fuccefione exfpirante, in Tapideam duritiem concrefcat. Con tra, fiplurima aqua perjundatur illaque decantetur , aut lento fal- tem aeris tepore divaporet, cals illa plane fricbilis , & pulverun Jenta remaneat. Porém fe a referida compoficad fe praticar com algum daquelles ma~ teriaes, 220 Problema teriaes ; em que entre de algum modo o fal commum , ow outro qualquer , ver-fe-ha que em todo © tempo aagoa a ha de penetrar y ou mais ou menos , fegundo a quantidade , ou qualidade de fal que tiver em fi; porque o fal, de qualquer natureza que feja, impe- de efficazmente aquella efpecie de petrificagad artificial. Enad {6 a refpeite da cal, € a aréa impede a humidade de qual- guer fal (ou outra humidade al- guma ) a uniad perfeita entre al- guns mixtos , mas tambem em ou- tras compofigocns , e operagoens fuccede 0 mefmo , como ja dille- mos da telha , e do tijolo, nos quaes em quanto ha humidade na maca do compofto , ¢ em quanto o fogo a nad expelle inteiramente , nad pd- ce atelha faftentar, nem refiftir 4 agoa. 4 De ArchiseSuraCivil. 120 agoa. He neceffario que naé_haja humidade no interior das partes, e que neftas naé haja coufa que fe- ja capa de a attrahir. {to he , porque de todas as coufas conhecidas nenhuma ha , que pofla attrahir aagoa, e ahu- midade tanto como o fal; efte he o feu verdadeiro Iman ; nem ha arte alguma, por onde fe lhe tire aquella propriedade , fem o def- truir primeiro, e ja entad abit na- tura falis. Daqui procedem varios artificios economicos. V. g. quan- do oazeite he mais liquido do que deve fer na fua commua, e mais propria confiftencia ( 0 que proce- de de conter em fi muita humida- de aquofa,, e fuperflua ) para ome- Thorar , e reduzir a confiltencia me- Thor deita fe-lhe fal decrepitado; e mifturado tudo , deixa-fe defcan- gar 222 Problema gar amaga do azeite, e fal; efte entad attrahe a humidade fuperflua do azeite, ficando o mefmo azeite mais groffo , ¢ mais proprio para os feus uzos. O fal porém naquella conjun- cad nad attrahe a fi oazeite ; por que a propenfad attractiva, que o fal tem, he {6 a refpeito da agoa, ‘on humidade aquofa , mas nao pa- ra attrahir humidade oleofa algu- ma, Daqui tambem procede , que quando 0 azeite efta coinquinado com particulas falinas , € terreftres gue o fazem impuro , e menos cla- ro, o remedio he deitar-lhe agoa quente ; efta diffolve o fal, ¢ 0 con- ferva diffoluto fobre oazeite , € por aquelle modo fe fepara inteiramen- te o fal; entad as partes terreftres, feparadas tambem do fal, precipi- tad-fe ao fundo da valilha , ficando oazci- De Archiseftura Civil. 223 Oazeite livre tanto de hum aggre~ gedo impuro , como de outro fuper- 10. He verdade que o azeite {5 por fi he incapaz de diffolver o fal mas efte heo que fe diffolve na hue midade fuperflua do azeite , e com elle fe miftura de algum modo, e como fuperficialmente ; mas quan do fobrevém maior quantidade de agoa exterior , efta juntando-fe com a que oazeite tem demais, entad fe feparaé ambas facilmente. Tudo vem da propenfad invencivel que o fal tem para attrahir a agoa; cu Ja propenlaé fe naé tira ao fal ema deftruir inteiramente, como fica die ta; ede tal forte, que o fogo, que deftroe tudo , e que tem forca pax ya mudar anatureza de muitos cor Pos , nad a tem para tirar ao fal aquella mefma propenfad, antes lha aug- 224 Problema augmenta em grao fuperior 5 daqui procede que hum fal, de qualquer genero que feja , que fegundo a fua indole natural attrahia a agoa fracamente , e de vagar , depois que paffa pelo fogo , ¢ fe funde nelle, fica adquirindo mais activi- dade para attrahir aagoa, ¢ mals promptamente. fo mefino fal commum te- mos hum exemplo. Efte fal attrahe ahumidade, ¢ fe derrete nella , co- mo todos fabem, mas nad he ra- pidamente , e com tanta velocida- de, que nad neceflite de algum con fideraravel intervallo. Porém fe de- crepitarmos o fal commum , ou 0 fundirmos ao fogo , entad veremos abrevidade com que attrahe a hu- midade aerea , e com que cahe em deliquio totalmente. Em qualquer fal alchalino fixo fe obferva o mef- mo. De Architeflura Civil. 225 mo. Ponhamos por exemplo o fal das cinzas; eftas lixiviadas , e-por efte meio extrahido dellas aquelle fal, fim humedece como todos os outros 5 mas fe o fizermos paflar fe- gunda vez pela accaé do fogo, en- tad veremos que attrahe a humida- de muito velozmente , e 4 maneira de huma efponja que fe embebe na agoa. Onitro tambem attrahe a hu- midade , porém muito lentamente 5 econfervando fempre huma tal, ou qual confiftencia dura ; mas fe 0 fundirmos ao fogo alchalizando-o por elle modo, veremos que 0 ni- tro, mudando o feu primeiro genio, aitrahe a humidade brevemente, e com ella corre deliquado, Affim fe moftra que nemo fogo, que alids def- troe , e muda as propriedades ellen ciaes dos mixtos , péde mudar , nem P deftruir 226 Problema deftruir a aptidad que nos faes fe encontra para attrahirem a humida- de, e fe incorporarem nella. CAPITULO XII O§% corpos regularmente {ad mais , ou menos folidos 34 pro~ porgad que contém mais, ou me- nos humidade ; porque efta intro~ mettida nos inter{ticios porofos , im- pede a exata conjuncgad ; por iflo vemos , que os corpos mais folidos, que ha {ad aquelles de que fe nad pode extrahir humidade alguma. Do mefmo principio refulta 0 ma- jor, ou menos pezo. De nenhum dos metaes fe péde tirar humida- de alguma vifivel , ¢ verdadeira~ mente tal; daqui vem ferem os cor pos De ArchiteSlura Civil. 227 pos mais pezados que conhecemos. O ferro depois de fundido pa- rece que fica abfolutamente izen- to de humidade , na obftante fer compotto de terreftreidades fulphu- reas; porém eftas , fuppofto tenhad propenfad para attrahirem a humi- dade por caufa do acido vitriolico, que contém , efte , depois que o fo- go de fundigad o expelle , parece que ficaa parte metallica continua- da toda, e que adquire a folidez, e compaccad que he propria do metal. Com tudo nad he aflim como parece; porque o ferro , por mais vezes que fe funda, nunca pdde fi- car fem a parte fulphurea vitriolica, e efta he aque attrahe a humidade afi, de que vem a ferrugem de que o ferro fe revefte fempre na fuper- ficte que fica expofta ao ar3 € por P ii ifflo 228 Problema illo fe cobre o ferro , para que a humidade o nad penetre tanto, ow tambem fe lhe applicaé materias oleofas , as quaes tambem fervem de defeza , para que a humidade do ar naé chegue a fazer tanta im- preflad, _ Os metaes depois de excan- decidos ao fogo, ficaé mais mallea- veis, ¢ obedecem melhor 4 forga do martello, do que eftando frios. Io procede nad {6 porque o calor difpoem cs metaes para a fulad, € os faz mais brandos , paflando o fogo rapidiffimamente pelos feus pd~ ros ; mas tambem porque expelle exatamente o ar que nelles fe con- tinha , e expellido o ar , fica expel- Iida a humidade toda, em quanto © calor dura. Ecom effeito em quan- to a humidade fubfifte, tem o metal difpofigad para quebrar , e naé pa- ra De Architeflura Civil. 229 ra fe eftender ; nem as partes do metal fe juntad, em quanto a hu- midade fe nad retira totalmente 5 porque tem as mefimas partes como feparadas entre fi, e com obftaculo para fe unirem, Ha porém algumas humidades tenaciffimas que reliftem pertinaz mente ao fogo ; por illo os corpos, que as contém, fa6 frageis fempre , nem podem fer malleaveis por mo~ do, nem artificio algum. O vitrio~ Jo he hum daquelles corpos , 0 qual fendo agitado na retorta por hum fogo aclivo, e longo, nunca che- gaaceder nema largar toda a hu- midade, ou licor corrofive que em fitem 5 e fe a operagad perlite y fahe 0 oleo congelado , e criftalli- no , mas nunca inteiramente. Do azougue nad fe péde feparar a hu- midade que vifivelmente moftra, ¢ P ii que 230 Problema que o faz mobil, ecorrente ; por cuja razaé fe difle que o azougue era huma agoa fecca que naé_hu- medece: qua manus non madefa- siens. _ _ Se fe differ que todo o corpo vitrificado he fragil, naé conten- do aliis humidade alguma , ref ponder-fe-ha que aflim como ha hum ar faba, e incoercivel , e ou- tro coercivel , e elaftico , tambem ha humidade groffeira, corporiza- vel, e vifivel. Além de que 0 vidro nad he fragil por conter algum ge- nero de humidade, mas ( fegundo fe entende) porque a materia da faa compofigaé naé he de huma na- tureza {6 ; ea diverfidade de fubf- tancias, que entrad na compofigad de hum mixto (ou a compofigad feja natural , ow artificial) he de donde provém a fragilidade delle. Os De Architeftura Civil. 23% Os dous metaes perfeitos fad fommamente malleaveis, por ferem compoftos de huma {6 , ¢ unica fubftancia ; porque a analyfe nad tem achado nelles diverfidade algue ma de materia, ¢ nelles procede a regra : Duttilitas cx bommogenei- tate partium , frangibilitas ex bete- rogoneitate. Mfto he fe ha no mun- do verdadeira hommogeneidade. Sempre he certo , que os corpos terreos em fi contém humidade aétual, ou potencial ; e nefta hypo- thefis naé podem coalefcer, nem in= durar-(e fortemente; porque ainda nos corpos folidos a humidade {6 deve intervir na primordial miftura da compofigad ; depois, para que os feus ingredientes fe confolidem, ou petrifiquem , he precifo que a humidade componente fe afafte in- teiramente , € ifto 4 proporgad da iv con= comes 232 Problema confiftencia , ou induragad que de- ye fer propria no compotto. Porém fe algum daquelles in- gredientes tem propengad innata para humeder, jd mais péde con- feguir-Le delles concrefad alguma lapidofa ; porque a humidade ac- tual, e perfiftente , {6 ferve para amollecer os corpos, naé para os endurccer; ferve para os fazer di- vifiveis facilmente, nad para os fa~ zer com difficuldade feparaveis. CAPITULO XV. S corpos, por mais folidos que fejad, e ainda que na fua pri- meira formatura fejad hommoge- neos (aonoflo ver) todos {ad di- vifiveis por alguma humidade pro- pria, De Avchiteftura Civil. 233 ptia, tirada de outro algum cor- po feduzido a hum eftado fluido : € he para admirar que para cada corpo haja hum licor, a que cha- mamos proprio, que o divide refi- fiftindo , ou nad cedendo a outro algum licor. O ouro he o corpo mais compacto , ¢ hommogeneo de todos quantos produz anatureza , € de todos quantos péde fabricar a arte; compofto de partes fimilares, cuja aggregacaé faz o corpo dome- tal, nad o compotto ; porque com- potto verdadeiramente {6 he aquil- Jo, em cuja formagad fe diftinguem, ou podem diftinguir-fe partes con- jundtivas , mas entre fi diverfas, e de diverfa natureza. Por iflo os que efereverad , differaé que 0 ouro fe formava de enxofre, mercurio , ¢ fal, parece que nad acertaraé , ou nad quize- rad cae 234 Problem: a8 que os outros acertatiem: por- que; confideradas as imperfeigoens repugnantes entre fi daquelles tres principios , nunca poderemos en- tender que delles refulte o mais perfeito dos metaes. O ouro pois refifte a todos os licores corrofivos, ou eftes {ejad acidos , on alchali« nos como fica apontado affima; ¢ {5 cede ao acido do fal commum. A agoa forte deixa o ouro intaéto, enelte naé tem accaé alguma, por mais que (eja efficazmente forte, ¢ concentrada : porém fe 4 agoa for- te fe junta huma certa porgad de fal commum, ou feja em fubRan cia, ou em efpirito, fica fendo « que os artiftas experiences chamai aqua regia , que he o proprio , ena tural diffolvente daquelle regio me- tal. Sé por aquella fimples addi gad perdeo a agoa forte a proprie dade De ArchiteEura Civil. 235 dade fingular que tinha para diffol- ver aprata, e adquirio a que nad tinha para diffolver o ouro. s outros metaes diffolvem-fe igualmente em efpiritos mais , ou menos corrofivos ; porque alguns refiftem aos acidos vigorofos , ¢ cedem aos que fad mais brandos ; affim como tambem alguns cedem promptamente aos fortes, e refit. tem aos que {a3 menos aétivos. Po- ém depois de diflolvidos em qual- quer diffolvente liquido , nad po- dem reduzir-fe a corpo folio me- tallico, nem tomar fuzad perfeita, fe nad depois de eftar interramente expulfa a humidade do liquido que os continka: a mais leviffima por- gad do mefmo liquido diffolvente impede a corporizagad , e reduc- ga0 de todos os metaes; porque , como temos dito tantas vezes , a humi- 236 Problema humidade pghlegmatica , e fuperfi- cial, ferve de obftaculo invencivel para que os corpos tomem confit tencia exactamente dura, e perma- nente; e 4 proporgaéd da mais, ou menos humidade, que contém, {a6 mais, on menos folidos , ¢ tem mais, ou menos confiftencia. De forte, que a humidade {6 deve fervir de liga para unir os ex~ tremos, ifto he, para unir os cor- pos que devem fazer hum corpo {3 , ou hum {6 compofto. Porém depois de feita a uniad propofta , ou pelo artifice, ou pela natureza, deve apartar-fe a humidade toda , fem deixar refto, nem veltigio al- gum de que ainda exifte alguma parte della no compotto. He porém bem certo, que fe de qualquer mixto terreo, vegetal, mineral, ou animal, lhe apartar- mos ae we De Architellura Civil. 237 mos a humidade totalmente , diflo mefmo ha de refultar , ficar 0 mix- to reduzido em pé: ifto fe obferva ainda nos metaes inferiores ; por~ que, pofto o chumbo, ou o efta- nho em qualquer vafo ao fogo , fe efte for diuturno , e 0 que bafte para fundir aquelles dous metaes , entrad a fumarem, ou langarem de fi huma humidade volatil de natu- reza mercurial, que fe diffipa ; e © que fica depois he hum po fub- til, feparado em todas as fuas par- tes, e fem a mais pequena uniad entre ellas. Ifto mefmo acontece na manufagtura da cal; em que fe vé que primeiro, que a pedra fe ponha em eftado de poder pulveri- zar-fe, o fogo aparta della a humi- dade, ou parte liquifiavel, a qual fe precipita ao fundo da fornalha, ou forno em que fe coze a pedra 5 cuja, 238 Problema cuja humidade junta com as partes terreas , falinas, alchalinas da lenha ja queimada, faz huma certa ma- Ga a que os operarios chamaé ef- coira, ou efcoria. O mefmo fuccede aos vege- taes: neftes , depois que a parte in- flammavel fe dilfipa em chama, e depois de exhalada a humidade to- da, fica o vegetal de tal forte dif junéto em todo o feu compofto , que o que defte permanece he a cinza que vemos commumente: a mefina alteragaé fuccede , e tem lu- gar nos animaes. Os offos, que fa~ zem a parte mais folida , ¢ compa~ Ga, fe 0 fogo fepara delles a humi~ dade , ficad nad {6 fummamente frageis, e fem dureza, mas redu- zidos a verdadeira cinza: o mefmo faccede 4s partes folidas dos pei- xes, ea todo o genero de conchas, aque De Architeflura Civil. 239 aque os Latinos chamad ofraco- dermata, Para darmos folugaé a todas aquellas duvidas, que parecem de algum modo encontrar o que afli- ma temos amplamente deduzido y he neceffario faber , que ha dous eneros de humidade ; huma fim- plefmente phlegmatica , que deve defamparar 0 compofto depois de haver fervido para o formar ; e deve feparar-fe exatamente para ter lu- gar a coalefcencia , e adhefad in- tima das partes entre fi: outra hu- midade que he un@tuofa, e effen- cial, e como primogenita em cada hum dos corpos naturaes; efta fe fepara com violencia , ou por for- ga de qualquer agente forte, fica © corpo disjunto , e perdendo a uniad das mefmas partes , de que provém a cinza. Eftas duas humi- dades 240 Problema dades differem tanto na razad dos feus principios , que fempre confer- vad propentas para fe adverfarem, e como fugirem huma da outra pelas fuas diverfas naturezas, ¢ fe- gundo as fuas primeiras, e diftin- €tivas compofigoens elementares. Aguella humidade unétuofa heomelmo, a que os Philofophos antigos chamaraé_humido radical innato, paraadiftinguirem da ou- tra que entra como materialmente na organizagad dos mixtos; ¢ en« tra com effeito mais como vehiculo ferviente, do que como parte ef- fencial ; como inftrumento , e nad comoartifice. Da mefma humidade unguofa , ou humido radical, fe diffe: Eff in aere occultus vita ci- bus, cujus fpiritus invifibilis con- gelatus melior eff quam terra unt- ver fie E De Architeflura Civil. 241 E de fatto o alimento da vida nad confifte {6 na humidade phle- gmatica que vemos , mas na humi- dade undtuofa, que nad vemos : ef ta he inflammayel em certas circunf- tancias, etherea, lucidiffima; nad admitte compreffaé na machina pneumatica ; nenhum corpo refifte A fua accad, ecirculagad; penetra todos os corpos petrificados, vi- wrificados, ou metallizados , e he comparavel 4 materia de que fe férma o raio; e he talvez o efpi- tito que na creagad do mundo /é- rebatur fuper aguas , ou incubabat aquis , {egundo a verfaé Grega. Oar, e a agoa fa6 os dous lugares, ou matrizes proprias em que aquella humidade , ou humido radical refide mais copiofamente 5 por iflo nad fe pdde viver fem agoa, nem tambem fem ar. Em Q cada 242 Problema cada porgad exigua deftes elemen- tos eft4 huma porgaé indetermi~ navel daquella humidade etherea. Tfto fe moftra por varios experimen~ tosconhecidos. Supponhamos hum animal qualquer, pofto em parte eftreita, e em forma tal que oar exterior nad pofla ter communica- gad alguma dentro; o animal in- clufo ha de viver algum efpago 5 mas depois que tiver como exhauri- do por meio da infpiragad aquelle alimento, ou humido vital, que o lugar continha, ha de morrer in- fallivelmente. O mefmo fuccede, © mais promptamente na machina pneu- matica ; porque nefta , além de nad ter ingreflo o ar exterior, tam- bem fe lhe extrahe aquelle que ti- nha dentro; por iflo morre o ani- mal por tres principios : 0 primeiro por De Architeftura Civil. 243 porque lhe falta o humido vital, ou © alimento que o ar continha no concavo do vafo: o fegundo por- que o mefmo humido , que 0 animal tinha dentro em fi, tambem fe Ihe extrahe , por meio da efpanfibili- dade, ou dilatagad que o ar rece- be na operagaé da machina; de que refulta o entrar o animal a fuar extraordinariamente , € morrer em convulfad ; 0 terceiro, porque fi- cando o ar do concavo fem 0 pezo proporcionado, nad fe pdde 0 co- racgaé contrahir, nem dilatar, ea circulagad do fangue fe fufpende Amaneira de hum rologio , em que, tirados os pezos , para 0 movimen- to do artefaéto, As fuffocagoens externas , coftumaé proceder da mefima caufa. O mefmo fe obferva em qual- quer lugar fechado, em que ha fo- Qi go eee 244 Problema go de carvad accefo: o animal que eftiver dentro, perde os fentidos , e cahe como eftuporado, € mor relle promptamente fe nad dé en- trada, por onde o ar de féra fe communique. Ifto fuccede menos pela qualidade nociva, e acido ful- phureo do carvaé , como porque efte acefo atrahe a fi a humida- de unétuola que o lugar contém , e o deixa exhaufto daquelle ali- mento primeiro , e precifo para a vida. Por outros muitos experimen- tos fe conhece que ha duas humi- dades oppoftas entre fi, e contra rias nas fuas qualidades primiti- vas ; huma puramente phiegma- tica ignem extinguens ; outra un- uola , ignem promovens. Eltas duas humidades fe obfervad na agoa do mar: efte he talvez o abyfmo origi- De Architeélura Civil. 245 original, ¢ univerfal de donde pro- manaé todas quanias humidades ha no mundo 5 porque, pormais que a agoa do mar nos parega hum cor- po fimples, he porém compofio de muitos corpos unidos , e allociados entre fi; ¢ fem falar no fal, quea mefma agoa tem delde a fua pri meira creagad (fe he que logo te- ve falno inftante da faa creagad) encerra tambem aquellas duas hu- midades oppoftas, ¢ nunca perfei- tamente feparaveis. ‘A materia luminofa , ou pho phor natural, que as agoas do mar moftrad ao ferir dos remos, ¢ ain- da com o movimento das mefmas agoas agitadas, tem fido eftuda- da poucos tanto he certo, que as coufas que eftames vendo , por mais fingularidades que contenha3, nad excitad a noila indagagad : Q iii olha- 246 Problems othamos com defisrezo para tudo gzeto vemos; fempre a nolla cu- riofidade , e attengad {6 fe dirige para as couzas detufadas; tudo, 0 gne he vulgar, patece-nos indigno da nofla reflexad; para fazermos pouco cafo de alguma couza ba ta que nos parega facil ou de co- nhecer, ou deaicangar; henece fario que a concideremos em fi- gura difficultofa ; {6 entad fe ani- ma o nofly empenko, a noffa cu- riofidade, 0 noffo eftudo. Segue-fe pois (¢ he a cons clufad do que fica expofto ) que para hum corpo fer folido, © per- manente , neceffita a expullad to- tai da kumidade phlegmatica que entrou na fua compoficad (ou efta feja natural , ou artificial) e que a humidede unétuofa pdde, e deve fubliftir fem caufar imperfeiged na ___. De ArchiteEtura Civil. 2147 na obra, antes he neceflaria para a perfeigad della 5 ifto fe entende a refpeito das compofigoens com- padtas, e que tema pedra, ou ters ra por bale principal. E aflim a pa- rede fabricada com cal pulveriza- da com goa falgada , ou ainda folobta , nunca pode adquitir con fifencia competente para fer dura~ vel; nunca ha de achar-fe nella aquella elpecie de petrificagad que deve refultar da uniad perfeita entre os miateriaes de que fe fer ma a fua conflruccad, Diffemos que a agoa falobra era impropria tambem para com ella fe pulverizar a pedra da cal 5 ehe certo ; porque a agoa falobra nad differe da agoa do mar, fenad na quantidede do fal que tem; ou ef te fal venha do mar immediatamen- te por corductos fubterrancos , ou feja 248 Problema feja extrahido da terra por onde as agoas paflad 5 a qualidade he com- mumente amefina, enaé differem mais do que na maior, ou menor porgad. He fem duvida que o in terior da terra he abundantiffime daquelle false tanto, que alguns diflerad que as agoas do mar exad falgadas , naé originariamente def- de afua creagaé, mas pelo fal da terra que tinhad diffolvido, e ins corporado a fi, As minas de falno Reino de Polonia, fazem prova incontefta~ vel da immenfa quantidade de fal quea terra tem, e tad abundante- mente naquella parte, que parece inexhaurivel , e de qualidade tal, que he denominade com o termo de falgema, pela figura de pedra reciola que fe objerva nelle, ¢ {6 differe do fal do mar na razad de De Architeflura Civil. 149 de fer mais puro, mais criftallino , e mais compaéto ; em tudo o mai tem os mefmos dotes fem differen- ga_alguma 3 porque com effeito delle fe extrahe o efpirito acide que he o diffolvente proprio do ou- ro, € que precipita a prata diffol- vida na agoa forte; e além deftas duas propriedades, por onde o fal do mar fe diftingue de todos os outros faes, tem o falgema todas as mais circunftancias ou requifitos do falcommum, ainda que as pof- {ue em grao fuperior. ‘As agoas {alobras, ou fejad de fontes, ou de pogos, ou de outros quaefquer lugares em que fe achad, {a6 da mefma qualidade , e com ellas fe fazem os mefmos experimentos que fe pédem fazer com o fal do mar; exceptuando algumas agoas mineraes , cujo fa~ bor

You might also like