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LEITURA E ESCRITA va edusasie infant, POSIONAMENTO DO PROJETO LEITURA E ESCRITA NA EDUCACAO INFANTIL EM RELACAO A TERCEIRA VERSAO DA BNCC (© Projeto “Leitura e Escrita na Educagdo Infantil”, uma parceria firmada entre MEC/SEB/COEDL UFMG, UFRJ ¢ UNIRIO, vem a piiblico apresentar algunas criticas a terceira versio da Base Nacional ‘Comum Curricular - BNCC - no que tangs a temitica da letura ¢ da esctita na Educagao Infantil. Estas calticas se baseiam nos estudos, Semindios ¢ pesquisas deseavolvidos a0 longo de trés anos de atividades académicas que resultaram na elaboragio de uma proposta de formagio de professores de Educagio Infanti, A proposta de formagio se sustenta em material didético elaborado por mais de 25 autores dos ‘campos da linguagem, leitura, escrita e Educarto Infantil e na contribuigao de cerca de cinquentaleitores critices, professores das redes piblicas,cujas vozes se fizeram ouvir nas intimeras revisdes ao longo da produsio do material, O Projeto teve uma participagao na segunda versio da BNCC, tendo em vista as necessitiasartculaydes entre as politicas educacionais ¢ a coeténcia conceitual és Disetrizes Cusriculares "Navionaisl para a Educagio Tafuatil - 2009, e as ages de formagio de professores. Postanto, & a pattie dos didlogos que se estabeleceram a0 lengo do provesso de execugio do Projeto que nbs, eoordenadoras, smanifestamos nosso posicionamento frente as alteragBes ocoutdas ia tercera versio da BNC. Em primero lugar, ressaltamos a reduglo do texto inicial intodutério que, ua segunda versto, apresentava a Educarao Infantil como primeira etapa da Educagio Basica, Observa-se que entre a segunda ¢ a terceira versio houve uma redugo de mais de duas paginas. A supressao, redugao ou ccunu gamento significou um aligeiramento ¢ até mesmo mudanga conceitual, especialmente no que tange as discussbes sobre desenvolvimento, aprendizagem ¢ Linguagem O pardgrafo a seguir, por exemplo, fot suprimido sem que se nuntivesse, ainda que de forma sintética, alguna referéncia aos seus pressupostos: As cringas, desde bebis,tém o deseo de aprender. Para tal, necesitam de um ambiente acoThador& Ek wT LEITURA E ESCRITA ne & info de confansa. A represetacdo simbdlca, soba forma de imagens ments e de imitaco,importates sspestos da faxa atiia das eringas da Edueagio Irfan, impulsionam de forma cnatva, 36 interrogades cas hipéteses que os mens ¢ as meninas podem ir construindo ao longo desta ctapt Por iss, ascrangas, neste momento da vida tin necessiade deter cortato com diversas linens 4 se movimertar em espagos amples (intoros © extetmns). da partoipar de standedes expresivas fais come misica, teatro, dangs, ates vss, audivisun: de explorar espagos e matenas que sapoiem os diferentes tipos de trincadei e investigapdes. A panir disso, os meninos as menitas observam, levanfam hipoteses, testam © registam suai primeirss “teonas”, constituindo ‘oportunidades de apropriacio e de patcipacdo em diversas inguagens simbslicas. recothecinerto desce potemial ¢ fambim o recoahasimento do dire de ar cranyas, desde o marcumerto, term acesso a processos de apropriasde, reaovasdo © articulapdo de saberes e couhecimentos. como faquaite pars a femagéo humana. pata a parssipapaa social «pars a cvdadana (BNC. 2 verao, pole p $5) ‘A rotirada deste pargrafo recultou numa forma instrumental de se pensar a articulago entre saberes conhecimento as diferentes lingvagens. Em segundo lugar, destacamos as alteragSes no campo de experiéncia denominado “Eseuta, fla, linguagem e peasamento”, Na terceisa versio, encaminhada pelo Ministério da Educagao a0 Couselio Nacional de Edueagao, em abril de 201 , este campo passou a denominar-se “Oralidade e eserita’. A seguir apresentamos nossas ponderagdes em relapao as alteragoes 1. A mmdanga do nome do campo de experiéacia expressa uma redusio conceltual, marcando uma distingo importante entre as concepeies de linguagem e de ensino/aprendizagem entre @ segunda e a terceira verso, Os atos de fala & a capacidade de escuta sao atividades fnumanas ‘carregadas de sentidose significados partilhndos, que incluem nto apenas o dite, mas também presumido, 0s acentos apreciatives, as expressbes corporais ¢ todo contexto enuneiativo. Sto atos constinuivos do pensamento ¢ da imaginagao, Ao se apcopeiarem da inguagem oeal, as ctiangas mo se apropriam simplesmente de uma Lingua, de um idioma, mas, sobretudo, de formas de expressarse, de conmuicar-se, formas estas que constitem o pensamento ¢ a imaginagao. A apropriago da lingwuagem escrita¢ igualmente um processo complexo que exige 4 articulagdo entre gestos, escuta, fala, desenhos, pensamento e imaginaylo para promover a interlocugto entre sujeitos que podem estar distantes no tempo e no espago. A génese € 0 Ek UFMG . LEITURA E ESCRITA vndamtil, desenvolvimento dessas apropriagdes incluem as diferentes lingvagens de uma maneira global ¢ integrada e nto ocorre de forma isolada. A opri0 em denominar o campo de experiéncia comokscuta, fala, Linguagem © pensamento” teve como finalidade evidenciar essa esteita telagao entie 0: atos de falar e escutar com a constituigao da Linguagem e do pensamento Inumanos. Este campo de experigncia nao pode ser, pois, towado como uma area do ‘couhecimento ou como uma disciplina escolar que reduz 0 tabalbo educative & apropriagio das linguagens oral e escrita. Esse campo de experiéncia expressa, de um lado, a integragio das diferentes linguagens, a0 longo do desenvolvimento infantil e, por outro lado, © cariter determinante que escuta, fla, linguagem © pensamento ocupam na construgio das subjetividades, perpassando toda e qualquer atividade humana; (© desenvolvimento da oralidade & na terecira versio da BNC, um dos objetivos centrais auibuidos & petica de leitura de textos. Entretanto, esse nto é o aspecto mais rlevante que essa pratica propicia, apesar de ser um impostante, mas ndo 0 principal, aspecto que se deseavolve poe meio da leitura de textos. Ademais, desenvolver a oralidade no equivale a ampliar ‘vocabuliio, Por que dar destaque ao aumento do vocabuléio, em detrimento, por exemplo, da ampliagao das experiéncias relacionadas imaginagao, criagao, alargamento das visdes de mundo, capacidade argumentativa entre tantos outros? A segunda “aquisiglo" destacada é a “introdugao da ctianga no universo da escrita’. Nao se trata de intvodzir as exiangas, porque elas ja esto imersas, desde seu nascimento, num cultura ‘detesmiada pela lingua esetita. © que compete As instituigbes educativas & dar contimuidade a tum processo que se inicion desde os primeiros contatos das eriangas com o amado. E, além disso, ler para as eriangas nfo se resume a possbilitara elas 0 contato com a cultura escrita: ‘A afirmagio de que "A literatura intoduz a crianga ua escrita” pode resultar em uma indesejada Interpretasao de que o texto literirio deva ser empregado, nas priticas pedagégicas, com a finalidade ce ensinar as relagdes entre grafemas ¢ fonemas, as reguasidades ¢ svegulasidades do Ek UFMG . LEITURA E ESCRITA one & info, sistema de escrita, ete. A litermtura, compreendida como um direto, como afirma Antonio ‘Candido, por ser uma necessidade de todos os homens ~ ja que no existe povo sem suas histésias, cangdes, mitos e lendas - & uma importante forma de conhecimento de si mesty0, 40 ‘outros ¢ do mundo, de ampliacto de experiéneia, de ordenacao da existéncia, de humanizacto, além da vivéncia estética que o texto a obra literaria no seu conjunto, que, no caso da literatura ‘infantil, inclu as imagens e ilustrapGes, pssibilitam: (© mero convivio das criangas com 0s textos eseritos, conforme expresso na terceira versio, nRO as leva a construir hipéteses sobre a escrita, © que leva as criangas @ pensar sobre a escrita e a ‘constr hipdteses para responder suas indagagses & a participagao ativa em priticas socials nas ais a leitura © a esctta sto elementos fundamentals para as interagdes. Para isso, essencial ‘que haja interlocugdo, mediagoes eficazes instigndoras. ‘A afirmagio de que a escrita representa a oraidade esta incorreta, do poato de vist tebriea. A ceserita representa a Lingua e & justamente por isso que comporta as diferengas regionais ¢ dos diversos grupos sociais. Esse erro conceal pode induzir a préticas pedagigicas inadequadas ‘como, por exemplo,forjar umn telagdo binitia entre sons ¢ letras, [Na primeira ¢ na segunda versio, houve um esforgo para no separara creche da pré-escola por se entender que essa separago seria imprépria do ponte de vista conceitual e pedagégico. O desaflo seria o de assegurar a unidade da Educagio Infantil, ainda que se sespettando as ‘especifcidades das idades que a constituem. A distribuigao das idades em bebés: exiangas de zero a um ano e meio; criaugas bem pequenas: de um ano e sete meses a quatro anos ¢ oaze ‘meses, 2 eriangas pequenas: de cinco anos a seis anos e dois meses se mostra bem mais adequada, porque parte do ponto de vista dos sujeitos © nto das determinagses legais © instituciouais. Essa iltings, ainda que importantes para a definigto da Edueago Infantil como tapa da Educasao Bisica, nfo podem justificar upturas pedagégicas no interior desta etapa. Ek UFMG . 8 LEITURA E ESCRITA o foes A supressio do texto que expressava a concepy0 de linguagem escrita na Educagto Infantil desconsidera, negligencia, tora invisivel pa tensto que precisa ser explicitada e debatida, por ser determinante para a discussie sobve a identidade da Educagto infantil que se pretende assegurar. Uma identidade que reforea as especifcidades da primeira infincia e que, em nome elas, exige a construso de um projeto educative proprio, nao submetido is etapas subsequentes. Um projeto que vespeita a crianga, seus processos de desenvolvimento e seu veto de viver plenamente a infineia ¢, a0 fazé-o, contsibul para una trajt6ria educativa sem rupturas e descontinuidades Diante dessas ponderapdes, esperamios que o Conselho Nacional de Educagao: Retome, de maneira democtitica, os espagos de discussao entre profssionals, gestores © interessaios no tema da Educaedo Infantil para apoiar a elaboragao da versio final da BNC; Assegure que os autores das versOes inicias estejam presentes e tenham patticipagao efetiva nos processes de discussio e deliberaio; Solivite ao Ministéio da Edueaglo que apresente a metodologia que empregou para considerar as contribuigdes (presenciais © virtuais), encaminhadas por pessoas, setores € grupos da sociedade brasileira durante o processo de discussao da BNCC que deveriam sesultar na elaborapdo da terceia versio, Assinam este documento, as coordenadoras do Projeto Leitura Escrita na Educagao Infanti ‘Maria Fernanda Nunes - UNIRIO: Ménica Correia Baptista - UFMG: Patricia Corsino - UFRJ; ‘Vanessa Ferraz Almeida Neves - UFMG: Angela Maria Rabelo Barreto — FMEL, Rita de Céssia de Freitas Coelho - MIEIB. Abril de 2017 Ek UFMG .

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