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Behaviorismo Radical e Pratica Clinica Joao Vicente de Sousa Marcal Asstt’ entre Behaviorismo Radical Terapia Comportamental teve ini- cio na década de 1950 com as primeiras aplicagées dos principios operantes, es- tudados em laboratorio desde a década de 1930, na modificagio de comporta- mentos considerados inadequados (Mi- cheletto, 2001). Baseadas em princfpios como modelagem, reforgamento diferen- cial, extingdo ou mesmo punigao, e sob 0 r6tulo de Modificacio do Comporta- mento, as técnicas eram empregadas em ambientes artificialmente construidos, normalmente em instituigdes psiquia- tricas. O pitblico-alvo era constituido por pessoas diagnosticadas com retardo mental, esquizofrenia, autismo e trans- tornos psicéticos em geral (Vandenber- ghe, 2001; Wong, 2006)’. As estratégias envolviam a manipulagio de variaveis in- dependentes (ambientais), as chamadas VIs*, no sentido de aumentar ou reduzii a frequéncia de comportamentos-alvo, também chamados comportamentos- problema (as varidveis dependentes, ou VDs’). Nesses modelos iniciais de inter- vencao, os eventos privados (p. ex., pen- Justamente um péblico que estava 4 margem nessas ‘snstimigdes (Wong, 2006), *Varidveis independentes (VIs) — Em um estudo con- s compor- tamento-observavel, pois se os “eventos mentais” também sao comportamentos, eles devem ser explicados como tal, a par- tir de suas relagées com o ambiente. O Behaviorismo Radical define com- portamento como interagéo organismo- ambiente (Matos, 2001; Todorov, 1989; ‘Tourinho, 1987). Essas interagdes sio des- critas por meio de relagdes de contingén- cias,"* que sao relacdes de dependéncia "No sentido técnico, contingéncia ressalta como sen- doa probabilidade cle um evento que pode ser aleta- da oui eausada por outros eventos (Catania, 1979). Anélise Comportamental Clinica 35 eventos ou, mais especificamente, em ologia, entre comportamentos ¢ eventos entais. O comportamento é também endmeno histérico, nao é algo que pos- er isolado, guardado. Nao é matéria em ‘uma relagdo entre eventos naturais. no dito anteriormente, segundo Skinner 4/1993), 0 organismo nao armazena eriencias, é modificado por elas. Cabe 9 ao cientista registrar a ocorréncia do portamento e observar sob quais condi- ‘ocorre ou é modificado. definicdo de comportamento como racdo desfaz. a ideia de um organismo 0 em rela¢ao ao ambiente, como fre- emente apontam algumas criticas. forme afirmou Skinner (1957/1978), s homens agem sobre o mundo, modifi- nO € por sua vez so modificados pe- consequéncias de suas agoes” (p. 15). ‘agées clinicas preensio de como um cliente se porta é feita por meio de um raciocinio racionista. Por exemplo, um clinico de “liberar” os sentimentos da pessoa, -los para fora”. “Liberar” sentimen- nada mais seria do que comportar-se, , apresentar comportamentos ptt na presenca de sentimentos espe- cos. Uma pessoa pode ficar “liberando entos” durante anos num consul- 9 e sua “fonte” nunca se esgotar! Isso eque as contingéncias que os estao eli- do ainda continuam presentes em sua Se 0 comportamento é um fendme- histérico, o clinico behaviorista radi- J procura entender em quais condigdes e nao onde ou como ele estaria enado. O mais importante ¢ identi- quais varidveis sio responsaveis por es sentimentos ¢ 0 que seria necessario para modificé-las. Sendo o comportamento uma relagio. ‘ional entre organismo e ambiente, ressalta-se que a forma como 0 organismo. afeta 0 mundo é por meio das agdes. ow melhor, do comportamento operante. A terapia analitico-comportamental € yolta- da para a aco do cliente sobre a sua vida, ou seja, sobre as contingéncias. Sao as agdes que modificam o mundo! Seja mu- dando © contexto em que esta inserido, seja buscando contextos mais favoraveis, 0 individuo é ativo. Por mais intensos que ‘sejam nossos sentimentos, eles nao afetam. o ambiente diretamente. Mesmo os pen- samentos, apesar da sua natureza verbal operante, no mudam as nossas experién- cias diretamente; 6 necessario acées pi blicas para isso. O pensar pode entrar no controle direto de ag6es piblicas, mas nio afeta o mundo como estas tltimas afetam. Podemos pensar em alguma coisa e fazer- mos outra incompativel; podemos agir de forma antag6nica ao que sentimos, mas, em ambos 05 casos, $6 as agdes afetardo o mundo diretamente. A terapia voltada para a ago incentiva as pessoas a buscar contingéncias que vao thes trazer bene- ficios, mesmo que inicialmente possam cliciar sentimentos ou pensamentos desa- gradaveis. O modelo terapéutico da ACT (sigla em inglés para Terapia de Aceitacéo ¢ Compromisso), por exemplo, tem desen- volvido estratégias nesse sentido (Hayes, Strosahl e Wilson, 1999. Ver os capitulos de Dutra e também de Ruas, Albuquerque e Natalino, neste livro). Segundo Chiesa (1994), as pessoas es- to acostumadas a ver o resultado e néo o processo. E o proceso é histérico. A inves- tigacdo hist6rica das contingéncias desfaz a necessidade de buscar alguma entidade su “esséncia” dentro do organismo como geradora da aca. VISAO CONTEXTUALISTA O contextualismo, derivado das ideias de Pepper (1942, citado por Carrara, 2001), tem sido relacionado ao Behaviorismo 6 Aa Karma CR de Farias e Cols Radical (Carrara. 2001 ¢ 2004; Hayes, Hayes € Reese, 1988). De acordo com Camara (2001), enquanto o mecanicis- mo esta associado a uma maquina em movimento, o contextualismo refere-se ao comportamento-no-contexto. O primeiro estaria mais vinculado as propostas ini- ais do Behaviorismo, como 0 Behavio- rismo Metodolégico, muito caracterizado pela “Psicologia estimulo-resposta”, pela ideia da justaposigao ou da contiguidade. O segundo baseia-se nas relagdes funcio- nais, nao lineares, entre comportamento e ambiente. Entender 0 comportamento-no-contexto caracteriza-se como uma anélise molar (am- pla), em contrapartida 2 uma analise molecu lar (restrita, parcial). Segundo Hayes, Strosahl, Bunting, Twohig e Wilson (2004), 0 contex- tualismo funcional vé os eventos comporta- mentais como a interagio entre 0 organismo ‘como um todo e um contexto que é definido tanto historicamente (historia de aprendiza- gem) quanto situacionalmente (antecedentes consequentes atuais, regras)” © contexto é © conjunto de condicdes em que o compor- tamento ocorre (Carrara e Gonzales, 1996). Tire 0 comportamento do contexto e ele fica sem sentido. Observe que os prineipios da Andlise do Comportamento descrevem relacdes, com definiges envolvendo fungdes de estimulo e de resposta. Por ‘exemplo, operante nfo é a resposta em si, mas um tipo de relago entre resposta, con- digdes em que ocorre e consequéncias que produz. As fungdes de um estimulo sao definidas pelo efeito que tém sobre a resposta, seja o estimulo anterior ou posterior a cla. Um mesmo estimulo pode ter varias fungdes, dependendo da © Regras sio definidas como estimulos verbais que deserevem/especificam uma contingéncia (Baum, 1994/1999; Catania, 1979). Ver Capitulo 12 relagao analisada (Skinner, 1953/2000). Segundo Carrara (2001, p. 239), “a ideia de relagdes funcionais é cara e impres- cindivel ao contextualismo, que, por sua vez, a maximiza para incluir todas'® (o que, no limite, ¢ impossivel) as varidveis que, em menor ou maior escala, afetam © comportamento”, Dessa forma, a com- preensdo de um comportamento s6 sera possivel identificando as relacdes atuais ¢ passadas entre resposta e ambiente, con- forme afirmou Carrara (2001, p. 240), no apelando “a influéncias isoladas de partes do organismo envolvidas na agio (glandulas, bragos, cérebro ou, mesmo, mente)”. Implicagées clinicas Um terapeuta comportamental nao esta interessado na agdo em si, mas nas condi- Bes em que ela ocorre, seus antecedentes © consequentes, sua histéria de reforga~ mento/punigio e os efeitos destes sobre a agio, O autoconhecimento decorrente desse proceso é muito mais amplo do que simplesmente identificar caracteristicas pessoais. Queixas iguais podem ter fun- Ges diferentes e revelar historias de con- dicionamentos diferentes. Por exemplo, a presenga da mae de uma cliente chamada Ana pode ter fungdes eliciadoras’” quando a sua presenga ou sua proximidade elicia medo em Ana; e fungao discriminativa'’, quando sinaliza probabilidade de reforga- mento (negativo) para comportamentos de fuga e de esquiva da filha, A fala da mae pode ter fungdes reforgadoras ou puniti- vas quando, consequente a uma agio da " Grifo original * Relacionadas a comportamento reflero ou res- poniente. * Relacionadas ao comportamento operate. Essas definigdes podem ser melhor entendidas em outros capitulos do presente livro, assim como em Baum (1994/1999), Carania (1979), Skinner (1953/2000), dentre outros. Anilise Comportamental Clinica 37 . aumenta ou diminui a probabilidade ‘ocorréncia dessa agdo. Se uma pessoa a e/ou apresenta atitudes de esquiva | na clinica, caracterizando-se como ida”, o terapeuta ira ajuda-la a iden- ar em quais situagdes esses compor- mentos séo mais provaveis, quais suas nedes, quais condicdes histéricas favo- ceram suas aquisicdes ¢ quais contextos ‘mantém. Tal andlise também favorecera. mudanga contextual. “Sera que tenho deixar de ser duro com as pessoas mpre?”, pergunta o cliente. Nao. Apenas situagdes em que as consequéncias de comportar assim, em curto ou longo 70, motivem a mudanga. Entender um transtorno comporta- ental, por exemplo, nao é apenas iden- car os comportamentos que 0 caracteri- m, mas, sim, saber a quais contingéncias ariam relacionados. Isso se opde a ideia geracdo interna do comportamento, is, dependendo do contexto, ele ocor ra de forma diferente (ver também Ryle, #19/1963). (0 EXTERNALISTA quente ouvir pessoas, incluindo al- psicdlogos de outras abordagens, rmarem categoricamente que “o que porta” ¢ 0 que tem “dentro” de um in- duo, numa alusio a subjetividade, a imentos, etc. Um behaviorista radical, entanto, vai discordar dessa afirmacao er que 0 que importa nao é 0 que a dentro” da pessoa, mas o que deter- a o que “tem dentro”. £ o ambiente determina o comportamento, seja ele ‘ado ou no. Por ambiente, entende-se é externo ao comportamento a ser ado. Isso quer dizer que a concep- externalista skinneriana no exclui o lo dentro de da pele, apenas nao Ihe Sui status causal e nem uma dimensio fisica (Skinner, 1953/2000). O mito caixa preta de Skinner, 0 qual atribui ao seu Behaviorismo a ideia de organismo vazio, é mais uma das interpretagoes en- ganosas sobre a sua teoria (ver Carvalho Neto, 1999). A posic&o skinneriana vai de encontro as concepcées tradicionais que entendem 0 comportamento como sendo originado internamente no organismo, seja por algo fisico (p. ex., bases neuro- légicas) ou nao fisico (p. ex., entidades mentais, como inconsciente, memé cognicao, etc.). Eventos privados, como © pensamento, podem entrar no controle de comportamentos publicos; no entan- to, sua origem é publica, esta na histéria de relaces do organismo com o ambien- te (Abreu-Rodrigues e Sanabio, 2001). Como apontado anteriormente, as contin- géncias ambientais so as variaveis inde- pendentes, enquanto os comportamentos so as varidveis dependentes. Ha uma confusio comum no que diz, respeito ao que vem a ser a concepgio ex- ternalista de causalidade no Behaviorismo Radical, associando-a ao modelo mecani- co de causalidade. Enfatizar 0 papel do ambiente na determinagao do comporta- mento humano nao implica afirmar que 0 organismo apenas reage passivamente ao mundo, tal como um ser autémato. Muito pelo contrario, o modelo skinneriano deve ser caracterizado como interacionista, com influéncias métuas entre comportamento e ambiente. Pode-se observar também que, na obra de Skinner, 0 externalismo esta dentro do carter pragmatico de sua concepgio. A proposta de transformar o mundo é uma caracteristica presente em sua obra, como pode ser observado na afirmagao: “se que- remos que a espécie sobreviva, é 0 mundo que fizemos que devemos mudar” (Skinner, 1989, p. 70). Implica¢ées clinicas Ao buscar interpretagdes do porqué de al- guém sentir, pensar ou agir de determina- 38 Ana Karina C.R. de-Farias e Cols. da maneira, ou. mesmo apresentar soma- tizagdes™’, o analista do comportamento ‘nao tera como referéncia os eventos inter- nos, sejam eles fisicos ou nao (p. ex., men- te, pulsio, energia, crenga, sinapses, etc.). Nao é a angtistia que faz alguém deixar um relacionamento amoroso nem a per sonalidade leva alguém a ser impulsivo; a obsessaio nao decorre meramente de alte- races neuroldgicas; a depressiio néo vem de processos mentais e nem os transtornos comportamentais se originam de crengas distorcidas. Sao as contingéncias ambien- tais os determinantes dentro de um proces- so histérico. E comum em nossa pratica clinica encontrar- ‘mos clientes que desconhecem 0 porqué dos seus comportamentos”, mas, a medida que as contingéncias vio sendo identificadas”, eles tendem a compreendé-las e a concordar ‘com 6 raciocinio”, mesmo que este lhes seja novo. Por exemplo, um cliente aprende que sua forma de agir no é determinada pela sua baixa autoestima, mas que os comporta- ™ As somatizagdes, também conhecidas como psi- cossomatizagées, sao alteragdes organicas produzi- das por respostas emocionais intensas ou frequentes cliciadas por eventos ambientais especificos (para saber um pouco mais sobre o assunto, sugere-se Mil- lenson, 1967/1975). * Em alguns casos, mesmo apés anos de uma ou mais psicoterapias! * A identificago das contingéncias na pritica clini- ca normalmente nao ocorre em linguagem técnica; € comum o terapeuta usar termos do cotidiano na comunicagdo com o seu cliente. * f raro um cliente nfo entender ou néo concordar com 0 racioeinio baseado na anilise de contingén- cias. Entretanto, é provavel que alguns, se entrassem para um curso de graduagio em Psicologia e tivessem acesso as concepgdes liloséficas do Behaviorismo Ra- dical, discordassem de algumas delas. Esse paracloxo advém de um longo treino de raciocinio e de visio de homem e mundo dentro de uma comunidade verbal internalista, na qual sempre estivemos inseridos. mentos que caracterizam 0 considerado como baixa autoestima™ sio decorrentes, talvez, de uma historia de poucos reforcos sociais (p. ex., rejeigdes, desvalorizacao por pessoas significativas tais como os pais, etc.). Na formagao de um clinico analitico- comportamental, portanto, é fundamen- tal o desenvolvimento da capacidade de identificar as varidveis independentes dos comportamentos clinicamente relevan- tes, bem como a capacidade de ajudar o cliente a fazer 0 mesmo. E necessario treino em um raciocinio externalista, pois sabemos que nao apenas 0 cliente, mas também o terapeuta vém de uma longa experiéncia em uma comunidade verbal mentalista. Por exemplo, imagine um cliente relatando um problema conju- gal, reconhecendo agir de forma impul- siva ¢ com agressividade. Uma anilise mais precisa descrevera quais comporta- mentos caracterizariam os conceitos de impulsividade ¢ agressividade. Outras informagdes também precisariam ser le- vantadas: saber em quais condigées ocor- rem com mais frequéncia, desde quando ocorrem, etc. O cliente pode entao rela- tar que essas “atitudes” esto Ihe sendo prejudiciais e que haveria interesse em mudanca. Antes de estabelecer quaisquer estratégias ou alternativas nesse sentido, © clinico deveria saber 0 que determi- na suas ocorréncias. Vejamos as seguin- tes opgdes: a) fica nervoso; b) sente um forte “impulso”; c) era agressivo quando crianca; d) tem personalidade agressiva; * As caracteristicas do cliente analisadas na sessio devem ser baseadas na interpretacio deste sobre quais comportamentos exemplificam-nas. Por exem- plo, se o cliente relata ser timido, deve-se investigar quais ages levam-no a considerarse assim, Se é 0 te- apeuta quem aponta uma provavel caracteristica, ela deve ser confirmada pelo cliente, como, por exem- plo, quando o terapeuta pergunta “voeé acha que ¢ impulsivo nas suas relagdes afetivas?” ‘Anélise Comportamental Clinica 39 pavio curto” ¢ f) tem natureza a. Qual dessas alternativas seria exemplo de varivel independente, ado o modelo externalista? Acertou afirmou que nenhuma delas é. Na dade, todas descrevem VDs, ou seja, comportamentos a ser explicados. 6 sirio saber por que ele fica nervoso, um forte “impulso” ¢ era agressivo do crianca. A “personalidade agres- "0 “pavio curto” e a “natureza im- jiva” so rétulos classificatorios para padres comportamentais que, por ‘yez, também precisam ser explica- Essas informagoes, embora possam ‘ibuir de alguma forma, nao esclare- ‘© porqué dos comportamentos. As seriam encontradas nas relagdes en- esses comportamentos € o ambiente. ns exemplos de VIs poderiam ser: a) ouco contrariado ao longo da vida; s coisas em casa eram sempre con- @ sua vontade; ¢) seu comportamen- oi muito reforgado ¢ pouco punido ado se tornava agressivo em relagdes as; etc. ‘Uma observacao importante é que as so fundamentais nfo apenas para liear a aquisi¢ao dos comportamen- Flas sao necessarias para explicar a manutengao, servem de parametros avaliar a motivacdo para mudancas © também os préprios instrumentos ‘mudanga (Margal, 2005, 2006a). Se ibientes, ao longo da vida de uma soa, foram e/ou estao sendo deter ites para os seus sentimentos, seus Mentos e suas “atitudes” atuais, sd0 nudancas no ambiente, entéo, que vio reionar modificagées nesses com- tamentos. Pode-se brincar dizendo que contingéncias sfio as verdadeiras tera- ‘as! A terapia analitico-comportamen- € voltada para a ago sobre o mundo. 5 os efeitos dessa acdo que interessam, ‘efeitos de mudangas nas contingéncias 2 que a pessoa vive. VISAO SELECIONISTA Sclecionismo ¢ um termo originario da teoria evolucionista da Selegio Natural, proposta por Charles Darwin e Alfred ‘Wallace para explicar a origem das espé cies (Desmond e Moore, 1995). Na Se- lecao Natural, membros de uma espécie com caracteristicas mais adaptativas ao ambiente em que vivem tém mais chances de sobreviver e de passar suas caracteris- ticas aos seus descendentes. Por exemplo, imagine um grupo de felinos da mesma espécie vivendo na mesma época e no mesmo espaco geografico. Com certeza, haverd diferencas individuais no grupo no que diz respeito a aspectos anatémicos, fisiolégicos, etc., como, por exemplo, 0 tamanho do pelo. Agora vamos supor que a regio em que vivem tais felinos passas- se por uma significativa redugio na tem- peratura atmosférica ao longo dos anos e assim permanecesse por milhares ou milhées de anos. Quais os efeitos dessa aco ambiental sobre esses felinos? O que aconteceria é que aqueles com pelo maior, mesmo que por milimetros de diferenga, teriam mais condigées de se adaptarem ao clima frio, sobreviverem e passarem suas caracteristicas aos seus descendentes que, por sua vez, também estariam sujeitos & mesma ac&o ambiental. O ciclo se repeti- tia ao longo de anos, décadas, milénios. Os de pelo maior sempre levariam vanta- gens na competicao por sobrevivéncia em relacdo aos de pelo menor. Isso poderia nao fazer diferenga em algumas décadas, mas apdés milhares ou milhdes de anos, essa espécie poderia ter se “transformado” em uma outra com pelos muito maiores,”* do tamanho mais favoravel a sobrevivén- cia. Na selegdo natural, cada espécie ¢ 0 resultado de um processo que envolve © mesmo acontecendo em relagio 4 quantidade de tecido adiposo, aos habitos alimentares ¢ a outros aspectos que favoreceriam a sobrevivéncia em tempe: raturas mais baixas. 40 Ana Karina C.R de-Farias e Cols. milhares ou milhdes de anos, em que mu- daneas ambientais selecionaram caracte- risticas (p. ex.. morfoldgicas, fisiolégicas, comportamentais) mais apropriadas a sobrevivéncia. Isso promoveu diferengas entre espécies que, num passado distante, tiveram os mesmos ancestrais. Segundo Skinner (1974/1993), a teo- ria da Selecdo Natural demorou a surgir em fungao de um raciocinio pouco co- mum ao tradicionalmente conhecido: A teoria da selegao natural de Darwin, surgiu tardiamente na historia do pen- samento. Teria sido retardada porque se opunha a verdade revelada, porque era um assunto inteiramente novo na hist6ria da ciéncia, porque era caracte- ristica apenas dos seres vivos ou por que tratava de propésitos ¢ de causas finais sem postular um ato de criagdo? Creio que nfo. Darwin simplesmente descobriu o papel da selecdo, um tipo de causalidade muito diferente dos mecanismos de ciéncia daquele tem- po. (p. 35) No raciocinio selecionista, “um evento tem a sua probabilidade futura de ocor réncia afetada por um evento que ocorre posterior a ele, invertendo o tradicional raciocinio mecanicista de contiguidade” (Mareal, 2006b, p. 1). Segundo Donahoe (2003), isso difere do teleol6gico, jé que nao 6 0 futuro que traz o presente para si, mas 0 passado e que empurra o presente em diregao ao futuro. Skinner (1966 ¢ 1981) amplia o mo- delo selecionista ao estendélo para a es- fera ontogenética e cultural. Dessa forma, nao é s6 na origem das espécies (filogé- nese) que a selegio atua, também na his- toria de vida do individuo (ontogénese) e nas praticas de uma cultura (Skinner, 1953/2000; Todorov ¢ de-Farias, 2008). Na ontogénese, os comportamentos emi- tidos pelo organismo sao selecionados ou néo pelas suas consequéncias, ou seja, 0 reforcamento fortalece a probabilidade de ocorréncia de uma classe de resposta que © produziu, enquanto a punigao a enfra~ quece. O ambiente exeree um papel deter- minante em qualquer forma de selecdo, que ocorre a partir de um substrato varia vel. Sem variagio nao ha selecdo! Segundo Baum (1994/1999), assim como a teoria da Selegéo Natural substi- tuiu a explicagéo da origem das espécies bascada num Deus Criador, a Teoria do Reforco substituiu a explicagao do com- portamento humano bascada numa mente criadora. Para 0 autor, isso ocorre porque as explicagdes substituidas sao inaceitaveis do ponto de vista cientifico, obstruindo 0 avanco do conhecimento. O modelo selecionista nao recorre a exclusivas condigSes genéticas como de- terminantes do comportamento € nem a um raciocinio mecanico ou linear, como quando se afirma que suas atitudes sao determinadas pela sua personalidade, self, consciéncia ou alguma forga interior. Implicagées clinicas © principal interesse do clinico behaviorista radical nao esta na ocorréncia do comporta- mento em si,nem no modo como ocorre, mas no porqué de sua ocorrénci O clinico emprega o raciocinio selecionis- ta na compreensao de como os compor tamentos dos clientes foram adquiridos e esto sendo mantidos. Independente da influéncia de varidveis biolégicas, nem sempre claras ou demonstradas empirica- mente, a atengdo esta voltada para os pro- cessos de selecdo comportamental. ‘Vamos supor um caso clinico em que uma pessoa chega ao consultério com um diagnéstico de transtorno obsessi- yo-compulsivo (TOC). Apés identificar os comportamentos que caracterizam 0 dro de TOC ¢ os contextos histéricos u atuais a ele relacionados, o clinico seara identificar quais sAo as variaveis ‘controle atuais, tais como contingén- s de reforgamento, estimulos aversivos dicionados, controle aversivo sobre portamentos alternativos, etc. A iden- Ao de varidveis mantenedoras, no ito, n&io explica como os compor- ntos foram adquiridos, tornando essario identificar contingéncias his- as que selecionaram esses ¢ outros drdes comportamentais do cliente.”* maior interesse nas fungGes desses aportamentos do que nas suas topo- is (formas). Conforme ja foi dito, as podem apresentar padrdes com- amentais semelhantes, mas com fun- S diferentes, identificadas a partir de tes contingéncias de aquisicio e Por mais que um padrio compor- ental esteja trazendo problemas a |, Por mais que esse alguém este- nsatisfeito com sua forma de agir, tal sportamento foi reforcado no passado ou mais contextos. Foi funcional remover, cvitar ou atenuar eventos ssivos ou ao produzir eventos reforga- es positivos.”° Essa anélise contribui validar os sentimentos ¢ os compor- entos atuais, tornando-os coerentes sa entender um pouco sobre a relagio entre his- de vida ¢ identificacdo de padrdes comporta- is na pratica clinica, ver Maryal (2005, 20060 ito aversino ou reforcador negativo & aquele juz a probabilidade de ocorréncia do com- mento que o produiu ou antecedeu (punigio 1) ¢ também aumenta a probabilidade de Encia do comportamento que o adiou, atenuou veu (reforcamento negative). Um reforcador 0 € um evento que aumenta a probabilidacle éncia do comportamento que o produziu rento positivo) © também reduz a probabi de oeorréncia do comportamento que o remo- {punigdo negativa). Anélise Comportamental Clinica 40 com as experiéncias que a pessoa vem tem do ao longo da vida. Muitas vezes. dime mos aos nossos clientes que se tivéssemos passado pelas mesmas situagdes que eles passaram, estariamos nos comportando: de forma semelhante. Essa postura é um forte aliado do terapeuta na formagao de vinculo com o cliente. No entanto, a vali- dag&o nao implica aceitago passiva das condigGes atuais! A teoria da Selegdo Na- tural indica que uma espécie foi preparada para viver em ambientes semelhantes aos que viveu no passado, n&o ha garantias de adaptabilidade a novos e porventura diferentes ambientes (Skinner, 1990). Na ontogénese, ocorre 0 mesmo. Uma das principais fontes do sofrimento humano sao as mudangas ambientais pelas quais uma pessoa passa ao longo da vida. For- mas efetivas de se comportar em contex- tos anteriores podem nao ser apropriadas a novos contextos, por vezes muito seme- Ihantes, e podem passar a produzir pouco ou nenhum reforgamento, ou, ainda, pro- duzir consequéncias aversivas. A dificulda- de se acentua quando esses novos contex- tos tornam-se predominantes e envolvem reforgadores poderosos. Habituado a um padrio comportamental, o individuo se depara com uma situagao que exige va~ riag&o e isso pode ser muito dificil, pois um outro modo de se comportar nao foi “treinado” em sua vida. Assim, um simples conselho terapéutico como “comporte-se de tal mancira” pode estar fadado ao fra- casso. Torna-se, entéo, importante para a pessoa entender por que se comporta as- sim e por que ¢ dificil mudar, favorecendo © engajamento em situagdes de mudaneas. A ideia de que se vai aprender a agir de outras formas pode ser mais adequada nessas circunstancias. Vejamos um exemplo. Imaginemos uma mulher chamada Liicia, que ao Ion- go de sua vida foi tranquila, quieta, sor- ridente, meiga, ndo criou atrito com as pessoas € foi correta no sentido de agir 42 Ana Karina CR de-Farias e Cols. conforme os mandamentos sociais da cultura em que viveu. Carinho, afeto, res- peito. privilégios, consideracao e tantos outros reforgadores sociais foram farta~ mente adquiridos em fungao da sua for ma de ser. Regras a respeito de si (autoi- magem) foram formadas a partir dessas experiéncias e também passaram a con- trolar seus comportamentos (p. ex., “isto nao é para alguém como eu”, “tal atitude ndo combina comigo”, “Licia é meiga... um amor’). No entanto, quando Licia se torna adulta, depara-se com as seguintes situagdes: os filhos desafiam-na e passam a desobedecéa, pois ela tem dificuldade em ser“dura” com eles; 0 mesmo acontece em relacao A empregada que trabalha em sua casa; no trabalho, assumiu um car go de chefia, com melhor remuneragio, mas que cxige atitudes de rigidez com os funcionarios. Esses contextos exigem de Licia um repertério comportamental que foi pouco fortalecido (selecionado) em suas experiéncias de vida: contrapor ou contrariar as pessoas, ser rigida com elas, impor limites. Provavelmente, a sua pos- tura também tenha contribuido para que pessoas proximas, como pais, familiares e, depois. colegas, tenham agido dessa forma por ela, como numa espécie de pro- tecdo. Talvez seu comportamento tenha sido punido quando agiu de forma dife- rente, ouvindo coisas como: “Essa nao 6 a Léicia que conhecemos!” ou “O que ¢ isso, Lécia! Vocé fazendo isso!”. Dessa forma, esses repert6rios nao foram efetivamente modelados. Isso leva a uma condigio de grande sofrimento, de anguistia, de sensa- cdo de impoténcia. Simplesmente pedir que Lticia se imponha diante das pessoas pode ser o mesmo que pedir a alguém, que mal sabe dar uma cambalhota, para dar um “salto mortal"! A compreensao de como suas caracteristicas foram adquiri- das, de como tais situagdes se tornaram aversivas ou reforcadoras positivas, po- dera ajudé-la a se engajar gradativamente em situagdes que favorecam a emissio dos comportamentos desejados.”” A variac&o é um elemento basico para haver selegdio (Skinner, 1981). Pouca va- riabilidade entre os membros da esp’ diminui a probabilidade de esta sobrevi ver a mudangas ambientais. Do mesmo modo, padrdes restritos e estereotipados de comportamentos dificultam a adaptabi- lidade a um mundo em constante mudan- ¢a. Um dos principais objetivos da pratica dlinica é produzir variabilidade compor- tamental, aumentar o leque de possibil dades para conseguir reforgamento em ambientes variados (Marcal e Natalino, 2007). No entanto, por que mudar as ve zes é tio dificil? Por que alguns clientes ndo se engajam nas situacdes terapéuti- cas sinalizadas nas sessGes? Seria vilido aquele ditado popular na Psicologia em que se afirma que “para mudar, é neces- sdrio querer mudar”? Para 0 analista do comportamento, é fundamental avaliar as contingéncias que levam alguém a querer mudar, ou seja, mais importante do que querer ou nao mudar, é 0 que leva alguém a querer ou no mudar. O modelo selecionista ¢ muito eficaz na avaliagdo motivacional para mudangas. Muitas vezes, respostas que trazem conse- quéncias aversivas, também levam a refor- cadores poderosos. Por exemplo, uma pos- tura agressiva pode trazer reagées sociais desagradaveis, mas também admirago e respeito; um comportamento pode ser pu- nido com frequéncia em um contexto, mas nao em outro; ser calado pode estar trazen- * A experiéneia clinica ensinow-me a usar termos| como experimentar, treinar, aprender, praticar, exer cltar, quando se trata de motivar o cliente a emitit comportamentos funcionalmente necessérios, mas que niio fazem parte do seu repertério eomporta- mental, isto 6, que nao foram aprendidos. A ideia de simplesmente “fazé-1o” pode gerar enorme frustracao diante da inevitivel dificuldade que ele encontrata. Anélise Comportamental Clinica 43 > problemas numa relacdo conjugal, mas itil no trabalho ao favorecer a produti- dade e¢ evitar intrigas. Muitas vezes, tam- , a mudanca implica engajarse em si- ces com elevado custo de resposta ¢ de 08 em um prazo muito longo. @ pessoa, deixar de ser dependente de representar muito esforco e um tempo. ssiado grande para obter os reforcadores A avaliagio motivacional oferece 6ti- parametros para terapeuta e cliente belecerem metas terapéuticas e estra- para consegui-las, evitando que a te- ia “fique patinando”, sem sair do lugar. CANCE DA ANALISE COMPORTAMENTO NA CLINICA stem muitas concep¢des enganosas -que vem a ser Andlise Comportamen- Clinica ou Terapia Analitico-Com- amental. A maior parte dessas inter- \cGes 6 decorrente de (a) um forte onhecimento™ do que vem a ser 0 aviorismo Radical, (b) de pressupos- derivados dos primérdios do Behavio- no e (c) de uma associagio a terapia mportamental baseada na exclusiva cdo de técnicas, algo comum™” em zagdes aplicadas, como em instituigdes satide (0 capitulo de de-Farias, neste . aborda brevemente este topico). pendentemente desse proceso, siio ervadas duas caracteristicas comuns 0s clinicos behavioristas radicais: a felizmente, muitas destas concepedes siio lar- nte difundidas entre aos alunos de graduagio ologia por professores de outras abordagens por um grande desconhecimento sobre a do Comportamento, inecessirio. paixdo pela teoria e a seguranca no seu re- ferencial tedrico. Nao se observa entre os clinicos de orientagao behaviorista radical a necessidade de utilizar um outro mode- lo psicolégico de interpretagSo ou trata- mento, seja qual for o comportamento em. questio, incluindo os distirbios graves como padrées psicéticos e outros. Inter feréncias em aspectos organicos, como por meio de medicamentos, podem ser bem-vindas em alguns casos, da mesma forma que técnicas clinicas provenientes de outras abordagens psicolégicas. Con- tudo, nao ha a necessidade de interpreta- des baseadas em modelos nao derivados de um estudo controlado e sistematizado, como 0 decorrente da Analise Experimen- tal do Comportamento. As perspectivas clinicas behavioristas radicais so sempre positivas. Cada vez mais pesquisas fornecem conhecimento ¢ dao sustentag&o as estratégias de interven- So (Kerbauy, 1999). No Brasil, é cada vez maior 0 niimero de centros de formacio para clinicos que desejam se especializar nessa abordagem, assim como o némero de publicagGes relacionadas a area.*” O mesmo acontece fora do pais, onde novos modelos clinicos tém surgido baseados nes- se referencial tedrico (p. ex., Kohlenberg Tsai, 1991/2001; Hayes et al., 1999). Para uma boa formacio clinica, é necessério um bom embasamento filos6fico e tedrico-con- ceitual, além de uma pratica supervisiona- da, No entanto, é importante ressaltar que o Behaviorismo privilegia 0 método como produgio de conhecimento; tal como afir- mou Skinner (1950), ao enfatizar que quem quiser as respostas sobre as coisas, nao deve ir atras dele, pois elas estéo na natureza. Ela é que deve ser investigada. *Vasto material é encontrado nas colegBes “Ciéncia do Comportamento: Conhecer ¢ avangar”, “Sobre Comportamento e Cognigao” e no periddico “Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva’. 44 AnaKarina CR de-farias e Cols. EXERCICIO Identificando variaveis independentes na pratica clinica” Na Analise do Comportamento, traduzimos al- guns termos: Causa: mudanca em uma variavel indepen- dente; Efeito: mudanga em uma variével depen- dente; RelacGo causa-efeito: relacao funcional, As Vis so eventos ambientais. Conforme afirmou Skinner (198!), “as causas do comporta- mento (Vis) séo as condicées externas das quais, © comportamento é funcdo’: Identificar Vis na pratica clinica é uma tarefa basica e fundamen- tal para o psicélogo em todas as etapas da te- rapia. Executé-la adequadamente evita que 0 terapeuta desvie sua atencéo para varidveis nao relevantes no controle dos comportamentos do seu cliente e reduza a eficacia da terapia, Este exercicio ajudara vocé a aprender a identificar esas varidveis. As Vis aqui abordadas referem-se aquelas responsaveis (a) pela aquisicao e pela Manutengao de comportamentos ou padrées comportamentais do cliente, (b) pela motivacao para a mudanga e (c) pelas mudangas necessarias para se alcancar as metas terapéuticas. 1-0 perfeeci 10 é um padréo comportamen- tal encontrado com relativa frequéncia entre os clientes. Apesar dos comportamentos que 0 carac- terizam serem funcionais (produzirem reforcamen- to) em muitos contextos, nao o so em outros (ndo- produzem reforcamento ou produzem punicao). A seguir, alguns exemplos de comportamentos que poderiam caracterizar o perfeccionismo: * Faz muito bem feito tudo que pega para fazer; © Refaz virias vezes o mesmo trabalho até ficar sem erros; * Nao para de fazer algo enquanto nao estiver “bem feito”; * Fica remoendo ou lamentando quando algo no saiu bem feito como queria; “0 gabarito dos exercicios esta disponivel ao final do livro. * AtencSo esta sob controle do que nao esta bom. A) Aquisicdo — Assinale, entre os exemplos abai- x0, quais poderiam ser considerados Vis histéri- as para a aquisicao (ou para a manutencio ao longo dos anos) desse padréo comportamental: () Muito acostumada a fazer tudo bem feito. (_ ) Tirava as melhores notas da escola. () Sempre gostou de ser a melhor em tudo. (_ ) Pais muito exigentes quanto ao desem: penho, Estudou em colégios exigentes. Preferia atividades que exigiam muito, Premiada por elevado desempenho. Valorizada pelos pais apenas em fun- fo do desempenho. (_) Sempre sentiu necessidade de fazer bem feito (_) Ambiente familiar competitivo e com- parativo. (_ ) Muito autoexigente, B) Manuten¢do — Assinale, dentre os exemplos abaixo, Vis atuais que contribuiriam para uma pessoa manter o padréo comportamental de perfeccionismo: ( ) Eproprietaria e gerencia uma empresa que sofre grande concorréncia (_ ) Pensa que sé aquele que faz bem feito 6 quem progride na vide (_ ) Incomoda-se quando vé algo mal feito. (_ ) Tem grande prestigio entre os colegas de profisséo: estes esperam muito dela () Quer continuar sendo assim. (_ } Mae reforca-a diferencialmente pelo desempenho. C) Motivacdo para a mudanca — Assinale quais dos exemplos abaixo seriam determinantes (VIs) para motivar mudancas em relacao ao perfeccio- nismo: (_ ) Nao quer ser tao perfeccionista. (_) Apresenta somatizacées graves relacio- nadas ao perfeccionismo. (__) Marido, a quem ama, esta se afastando dela () Acha que esti precisando relaxar. Analise Comportamental Clinica 45 {_ ) Nao esta obtendo reforcadores rela- cionados ao lazer. {_ ) Perde oportunidades (reforcadores) valiosas por s6 querer coisas perfeitas. {_ ) Edeterminada, consegue o que quer. ursos terapéuticos ~ Identifique quais dos ou estratégias terapéuticas exemplifica- abaixo corresponderiam a Vis responsaveis imudancas: ) Precisa aprender a relaxar. {_) Mudar o pensamento: “nem tudo na vida € perfeito”. {_ ) Estar em situacdes reforcadoras que nao tenham demandas por desempenho. {_) Vivenciar contextos reforcadores em que haja boa probabilidade de ocorre- rem imperfeicées sem consequénc puritivas. {_) Nao se cobrar tanto, comodismo ¢ a falta de iniciativa também padres comportamentais frequentes que problemas na vida de alguns clientes. As- ‘como no perfeccionismo, 0s comportamen- caracterizam esses padrées foram ou so ais em muitos contextos e nao foram ou s40 em outros. A seguir, alguns exemplos de rtamentos que poderiam caracterizar 0 smo e a falta de iniciativa: ‘© Espera as coisas acontecerem na vida; Age apenas quando solicitado ou mes- mo obrigado; ‘* Raramente inicia um novo projeto; * Tende a permanecer em condicdes aversivas, mostrando passividade; ® Sente-se inseguro ou sem vontade para iniciar algo novo. isi¢do ~ Assinale, entre os exemplos abai- ais poderiam ser Vis histéricas para a aqui- {ou para a manutengéo ao longo dos anos) padro comportamental: {_ ) Avé, com quem nunca teve contato, ‘também era acomodado, ) Tinha preguica de fazer as coisas quan- do crianga. (_) Seuirméo, trés anos mais velho, fazia e resolvia quase tudo para ele (cliente) Mie facilitadora. Foi pouco exigido na vida. Era quieto desde crianca. Seu signo revela uma pessoa acomods~ da Nunca teve forga de vontade. Acesso a muitos reforcadores sem mui- to esforco, (_ ) Insucesso ao tentar fazer algumas c sas por si (__) Sempre foi inseguro. (_ ) Tinha baixa autoestima. B) Manutencao — Assinale, dentre os exemplos abaixo, Vis atuais que contribuiriam para manter ‘© padrao comportamental: (_ ) Nao tem energia dentro de si (_ } Regra: “se pudesse, passava 0 dia com as garotas”, (_ ) Recebe boa mesada dos avés. (_) Acha que € preguicoso. (__) Nao ha contingéncias aversivas na vida que leva atual mente } Acha que nao deve ser diferente, Familia reforga sua capacidade persua- siva para ter 0 que quer. C) Motivacdo para a mudanga — Assinale quais dos itens abaixo seriam determinantes (Vis) para motivar mudancas: (_) Acha que esta na hora de mudar sua postura, (_) Mae deixou de facilitar sua vida, (__) Esta perdendo reforcadores importan- tes (punicdo negativa) por ndo tomar iniciativa para adquiri-los. () Concorda com 0 irmao quando este diz que ele esta acomodado. (_ ) Sente que esté mais corajoso. Namorada, que amava, terminou com ele, pois achava que ele ndo progrediria na vida. Passou a morar s6, em outra cidade, ‘onde mal conhece as pessoas. ( ) Quer ser igual ao irmao. () D) Recursos terapéuticos — Identifique quais dos recursos terapéuticos abaixo corresponderiam a Vis responsaveis por mudancas BE ars ans CR de Farias e Cols. { ) Tespeuta encerra a sessio no horério inicialmente previsto, mesmo o cliente chegando 40 minutos atrasado e sem uma justificativa adequada. {_ ) Vivenciar contextos reforcadores em ‘que haja contingéncia especifica para a produtividade. (_ ) Identificar 0 lado bom de ter iniciativa, ser produtivo. (_ ) Aprender a se virar. (_ ) Ter mais forca de vontade. (_ ) Estar em situagées em que as coisas dependam de si. (_ ) Inserir-se ou manter-se em ambientes exigentes, que punam 0 comodismo, mas que também disponibilizem refor- adores importantes. Ill — A impulsividade ¢ o imediatismo também sdo padrdes comportamentais frequentemente identificados em clientes. Os comportamentos que os caracterizam foram ou so funcionais em muitos contextos, € no foram ou nao so em outros. A seguir, alguns exemplos de comporta- mentos que poderiam caracterizar a impulsivida- de 0 imediatismo: # Fala coisas sem pensar e depois se ar- repende; * Nao consegue esperar por algo, tem que ser agora; * Pouca persisténcia, pouco autocon- trole; © Baixa tolerancia a frustracdo; * Desiste das atividades em que seu comportamento nao é imediatamente reforcado. A) Aquisico — Assinale, dentre os exemplos abaixo, quais poderiam ser Vis historicas para a aquisigao (ou para a manutencao ao longo dos anos) desse padréo comportamental: (_ ) Historia de acesso facil e frequente a reforcadores importantes, sem preci- sar ser persistente. ) Eimpulsivo desde crianga. } Nunca foi paciente para esperar. } Teve varios empregados a disposicao quando crianga. (_) Era hiperativo. (_ ) Suas exigencias eram frequentemente reforcadas pelos adultos. ) Poucas frustracées nas relacdes sociais préximas. () Sempre foi parecido com o pai nos comportamentos. B) Manutencdo — Assinale, dentre os exemplos abaixo, Vis atuais que contribuiriam para manter © padréo comportamental: ( ) No trabalho, tem muito poder e co- manda varias pessoas dispostas a aten- dé-lo prontamente. (_) Ha pressio no trabalho por resultados imediatos. (_) Tem TDAH (Transtorno do Deficit de Atencao e Hiperatividade). (_ ) Fica irritado com a lentidao dos ou- tos, (_) Explosivo quando contrariado. (_ ) Eansioso. (_) Nao se “da mal” quando age de forma considerada impulsiva. C) Motivacéo para a mudanga — Assinale quais dos exemplos abaixo seriam determinantes (Vis) para motivar (ou nae) mudancas nesse padrio comportamental: (_} Brigou duas vezes na rua apés gritar com outros. Foi bem-sucedido. (_ ) As coisas na vida continuam como na infancia: muito poder. (_) Namora uma pessoa que the & sub- missa (_} Considera-se explosivo, gostaria de mudar. (_ ) Dols amigos, dos quais gostava muito, afastaram-se dele. (} Reconhece que suas atitudes sao, as vezes, inadequadas. (_ ) Tem sentido vontade de mudar. D) Recursos terapéuticos ~ Identifique quais dos recursos terapéuticos exemplificados abaixo cor responderiam a Vis responsaveis por mudancas: (_ } Estar em ambientes reforcadores, mas que thes confiram pouco poder. (_ } Atividades em que 0 acesso ao refor~ ador dependa da persisténcia. Anélise Comportamental Clinics 47 (_ ) Acreditar que pode mudar. (_ ) Estabelecer etapas para uma mudanca gradativa, (_ ) Terapeuta nao atende prontamente a sua solicitagio para mudanca de horé- rio (cliente nao gosta muito do horério em que esta). (_ ) Aprender a relaxar e se controlar. Ree eu-Rodrigues, J. & Sanabio, E.T. (2001). Eventos privados em uma psicologia ex- ‘ernalista: Causa, efeito ou nenhuma das alternativas? Em H. J. Guilhardi, M. B. B. P. ‘Madi, P. P, Queiroz & M. C. Scoz (Orgs.), Sobre Comportamento ¢ Cogni¢do: Vol. 7. Bx- pondo a variabilidade (pp. 206-216). Santo André: ESETec. n, W. M. (1994/1999). 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