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CAPITULO 6 Importancia e Conceituagao ce, ume relagdo entre étomo e moula ov, na Fisica, entre 70), 04, ainda, na Biologia, entre célula-tecido-érgéo e sistema, lagdes humanas hé uma interagao e comunicagdo entre os individuos e a rio, ¢s6 existe, ou subsite, em fungéo de seus inter-relacionamentos mento, ele participa de diferentes grupos, numa constante dialética idencidade individual e a necessidade de uma identidade grupal social. junto de pessoas consttui um grupo, um conjunto de grupos e sua relaclo com os s se consttui em uma comunidade, e um conjunto interativo das comunida- des configure uma sociedade. ‘mportincia do conkecimento e a utlizagio da psicologia grupal decorrem justamente do {aro de que todo individuo passa a maior parte do tempo de sua vida convivendo ¢ interagindo com distinzos grupos. Assim, desde o primeiro grupo natural que existe em todas as culturas, 2 familia, no qual o bebé convive com 0s pais, avés,itméos, babé, ete, e, a seguit, passando por creches, matemais e bancos escolares,além dos intimeros grupinhos de formagao espontdnea ¢ os costumsires cursinhos paralelos, a crianca estabelece vinculos grupais diversificados. Tais agrupe- rmentos vo se renovando e ampliando, na vida adulte, com a consttuigdo de novas familias e de grupos essocativos, profisionais, esporivos, socias, ete. E muito vaga e imprecisa a definigao do termo “grupo”, pois pode designar conceituacies muito dispersas, num amplo leque de acepedes. Assim, grupo tanto define, concretamente, um conjunto de trés pessoas (para muitos autores, uma relagéo bipessoal jé configura um grupo), como também uma familia, uma turminha ou gangue de formacio espontinea, uma composigio artificial de grupos como, por exemplo, o de uma clase de escola, ou um grupo terapéutico; ume fila de énibus; um auditécio; uma toreida num estédio; uma multiddo reunida num comicio, etc. ‘Da mesma forma, a conceituacdo de grupo pode se estender até o nivel de uma abstracio, como, FUNDAMENTOS BASICOS DAS GRUPOTERAPIAS 83 por exemplo, 0 conjunto de pessoas que, compondo uma audiéncia, escésintonizado num mesmo programa de televisio, ou pode abranger uma na¢do unificada no simbolismo de um hino ou de uma bandeira, e assim por diante, Exister, pois, grupos de todos 0s tipos, e uma primeira subivisio que se faz necessiria éa ‘que diferencie os grandes grupos (pertencem & area da macrossociologia) dos pequenos grupos (micropsicologia). Em relacéo a estes ultimos, também se imple a distingSo entre grupo propria- mente dito e agrupamento, Por agrupamento entendemos um conjanto de pessoas que conviver parilhando de um zmesmo espaco e que guardam entre si uma certa valéncia de inter-relaci 0 e uma potenci- alidade em virem 2 se consttuir como um grupo propriamente dito. Um claro exemplo disso é o agrupamento que Sartre, em 1973, classficou como “coletivo”, 0 qual seco alidade” de pessoas como, por exemplo, as que constituem uma fla & espera pessoas compartilham um mesmo interesse, apesar de néo estar havendo 0 = onal entre elas, a que um determinado incidente pode modificar tds 2 co outro exemplo seria a situacio de uma série de pessoas que estio se ex congresso cientifco: elas esto prdximas, mas como nio se conhecem e no escio imerazindo, no formam mais do que um agrupamento, até que um pouco mais adiznte podem parccipar de uma mesma sala de discussio clinica e se constituitem como um inerat dizer que a passagem da condigio de um agrupamento para um grupo de “interesses comuns” para a de “interesses em comum”. Creio que unta metéfota possa mais claramente defini a impor ere o que é ‘um conjunto (equivale @ um agrupamento) e o que conceftua tm grupo. mos um conjunto de instrumentos musicais de uma orguestra: enquanto os misicos estiverem antes do inicio do concerto, soladamente, afinando 0s seus respectivos instrumentos, eles nZo passam de um mero conjunto, um agrupamento de instruments e misicos, A parti do momento em que o maestro comega a roger a orquestra, cada music, e cada instrumento, assume o seu lugar. papel, posicdo e fungéo e, principalmente,dialoga e interage com todos os demais, compondo um grupo dinémico, mais ou menos harménico, conforme a qualidade da regéncia. REQUISITOS QUE CARACTERIZAM UM GRUPO © que, entéo,caraceriza um grupo propriamente dito? E quando o mesmo, quer se de natureza operativa ou terapéutica, vier preencher algumas condigGes bisicas, como 2s seguintes: Um grupo no ¢ um mero somatério de individuos; pelo contrério, se constitui como uma nova entidade, com leis e mecanismos priprics e especificos. Podemos dizer que assim como todo individuo se comporta como um grupo (de personagens interos), da mesma forma todo grupo se comporta como se fosse uma individualidade. Todos os integrantes de um grupo estdo reunidos em torno de uma tarefa e de um objetivo comum. © tamanho do grupo no pode exceder o limite que ponte em risco a indispensdvel preservacéo da comunicagéo, tanto a visual como a auditiva, a verbal’e a conceitual. Deve haver a instituigéo de um enquadtre (setting) ¢ 0 cumprimento das combinacBes nele feitas. Assim, além de ter os objetivos claramente dfinidos, o grupo deve levar em conta uma estabiidade de espaco (local das reunides), de tempo (hordris, Frias, etc), algumas regras e outras varidveis equivalentes que delimitem e normatizam a atividade ‘grupal proposta. 84 DAVID E, ZIMERMAN Grupo & uma unidade que se manifeste como uma totalidade, de modo que, tao impor- tante como 0 fato de se organizar a servigo de seus membros, € também a reciproce disso. Para um melhor entendimento dessa caracteristica, cabe uma analogia com a relagdo entre as pecas separadas de um quebra-cabecas,e deste com o todo a ser arma- do. Apesar de um grupo se configurar como uma nova entidade, como uma identidade srupal genuina, & também indispensével que fiquem claramente preservadas as identi dades especficas de cada um dos individuos componentes. E inerente & conceituacio de grupo a existéncia entre os seus membros de uma intere- fo afetiva, a qual costuma ser de natureza miltipla e variada. Em todo grupo coexistem duas forcas contraditérias permanentemente em jogo: ume tendente & sua coesto, ea outra sua desintegracio. A coesto do grupo esti na propor Go direta, em cada um e na totalidade dos sentimentos de “pertingncia” (€ 0 “vestir« ceamiseta’, proprio de um esprit de corps) e “pertencéncia” (0 individuo se refere 20 ‘grupo como sendo “o meu grupo..”, € implica no fato de cada pessoa do grupo ser ecomhecida pelos outras como um membro efetivo). For outro lado, a coeséo grupal também depende de sta capacidade de perder individuos e de absorver outros tants, assim como de sua continuidade E inevitavel a formacio de um campo grupal dinamico, em que gravitam fantasies, ansiedades, identiicagdes, papeis, etc. © CAMPO GRUPAL CComo foi mencionzdo anteriormente, em qualquer grupo constituido se forma um campo grupal dinimico, o qual se comporta como uma estrutura que vai além da soma de seus componentes, d= ‘mesma forme como uma melodia resulta no da soma das notas musicais, mas de combinagio e do arranjo entre elas. Esse campo ¢ composto por miltilos fenémenos e elementos do psiquismo e, como se trata de uma estrutura, resulza que todos estes elementos, tanto os intra como os intersubjtivos, esto anticilados entre si, de modo que a alteracéo de cada um vai repercutir sobre os demais, em ume ‘constante interacdo entre todos. Por outro lado, o campo grupal representa um enorme potencial energético psiquico, tudo dependerdo do vetor resukante do embate entre as forgas coesivas © 2s disruptivas. Tembém é til realcar que, embora ressalvando as dbvias difevencas, em sua esséncia, as leis da dindmiea psicol6gice sdo as mesmas em todos os grupos. ‘Como um esquema simplificado, vale destacar os seguintes aspectos que estio ativamente presentes no campo grupal: + Ocampo grupal que se forma em qualquer grupo se processa em dois plancs: um & 0.¢= intencionalidade conscience e 0 outro o da interferéncia de fatores inconscientes. O primeiro é denominado por Bion (1965) como “grupo de trabalho", pela azo de que rele todos os individuos integrantes estio voltados para o éxito da tarefa propost= Subjacente a ele esté o segundo plano, que o aludido autor chama de “supostos Diss cos, regido por deseos reprimidos, ansiedades e defesa, e que tanto pode se configs rar com a prevaléncia de sentimentos de dependéncia, ou de luta e fuga contra os rmedos emergentes, como de uma expectativa messidnica, ete. E caro que, na prétion estes dois planos no sfo rigidamente estanques, pelo contro, entre eles costume haver uma certa superposicao e uma flutuacio. ‘Neste campo grupal sempre se processam fendmenos como os de resisténcia e conm= resisténcia, transferéncia e contratransferéncia, acings, processos identifiatéros, = FUNDAMENTOS BASICOS DAS GRUPOTERAPIAS 85 For um lado, tals fendmenos consstem em uma reproducgo exata do que se passe na relagdo terapéutica bipessoal, Por outro, eles ndo s6 guardam uma especificdade gru- pal tipica como também se manifesta exclusivamente no campo grip. ‘Uma permanente interagio osclatria entre o grupo de trabalho © o de supostos bisi- 05, antes defindos, Uma presenga permanente, manifesta, disfarcada ou oct, agressivas e nareissticas — que se manifestam sob a forma d demandas, invejae seus derivados, ideais, et. Da mesma forma, no campo grupal cieulam ansiedades — reza persecutéria, depressiva, confusional, de aniquilamento, en amor ou castracio — que resultam tanto dos confios internos como podem emergit em funcio das inevitiveis, e necessérias, frustragSes impo Por conseguinte, para contra-arrestar essas ansiedades, ca tum todo mobilzan mecanismos defensives, que tanto podem se negacio ¢ controle onipotente, disociacdo, projecao, ideaiza ete.) como também defesas mais elaboradas (tepresséo, deslocam: ‘nagio reatva, et). Um tipo de defesa que deve merecer parte do coordenador do grupo € o que diz respeto as civ certas verdades penosas. Em particular, para aqueles que coordenam grupoterapias psi tessltar que a psicandlise contempordnea alargou a concepsto & fem relagdo & tradicional formula simplista do conflito p: centre as pulsées do Id versus as defesas do Bgo e a probbicio dé 0s psicanalistas eplicam na prética clinica os conceitos de: Superego resultante da introjecdo, sem conflitos, dos neces delimitadores dos pais); Ego real (corresponde ao que o su posigdo ao que ele imagina ser}; Ego ideal (herdeito dizezo do uma perfeicio de valores que o sujeito imagina possuir mas que possui nem tem possibilidades futuras para tal, mas baseia a s que o leva a um constante confit coma realdade exterior): He prisioneiro das expectaivas ideais que os pais primitivos incalcaa uma parte do sujeito que estd projetada em uma outra pessoa © senta um “duplo” seu); contra-go (€ uma denominagio que e 08 aspectos que, desde dentro do self do sueito, se organizars de forma patologica e aagem contra as capacidades do préprio Ego). Como fics evident, a siuacZo psicenal tea a pants deses referencais da estrutura da mente garhou em complexidade, porém «com isso ganhou também uma riqueza de horizontes ce abo Sendo que 2 grupoterapia psicanalitica propicia o surgimento dos a ‘Um outro aspecto de presenca importante no campo srupal é o surgimento de um jogo ativo de identifcagdes, tanto as projtivas como as introjetivas, ou até mesmo as adesi vas. O problema das identficagdes avulta de imporcéncia na medida em que elas se constituem como o elemento formador do senso de identidade. Acomunicapo, nas suas miltiplas formas de apresentacao, 2s verbs e as néo-verbais, representa um aspecto de especial importénca na dindmica do campo grupal Tgualmente, o desempenko de papés, em especial os que adguirem uma caracterfstica de repetiio estereotipada — como, por exerplo,o de bode expiatério —, é uma exce- lente fonte de observacio ¢ manejo por parte do coordenador do grupo. Cada veo mais esd sendo valorizada a forma como os vinculs (de amor, édo, conheci- mento e reconhecimento), no campo grupal, manifestam-se e articulam-se entre si, seja no plano intra, inter ou transpessoal. Da mesma maneira, hé uma forte tendéncia em 86 DAVID E. ZIMERIMAN trabalhar com as configuragées vinculares, tal como elas aparecem nos casas, familias, grupos ¢ instituides, No campo grupal, costuma aparecer um fendmeno especifco ¢ tipico: a ressondncia, ue, como o préprio nome sugere, consiste no fata de que, como um jogo de diapasbes actsticos ou de bilhar, a comunicacéo trazida por um membro do grupo vai ressoar em ‘um outro, o qual, por sua vez, vai transmitir um significado afetivo equivalente, ainda que, provavelmente, venha embutido numa narrative de embalagem bem diferente, € assim por diante. Pode-se dizer que esse fendmeno equivale ao da “live associagéo de {déias” que acontece nas situagGes individuais e que, por isso mesmo, exige uma aten- ‘gio especial por parte do coordenador do grupo. (© campo grupal se consttui como uma goleria de espelhas, onde cada um pode refletr € ser refletido nos e pelos outros, Particularmente nos grupos psicoterapéuticos, essa oportunidade de encontro do self de um individuo com o de outros configura uma possiblidade de discriminar, afirmar e consolidar a propria identidade. Um grupo coeso ¢ bem consttuid, por si s6, tomado no sentido de uma abstracéo, exerce uma importantissima fung%o, qual seja, a de ser um continente das angtistias € necessidades de cada um e de todos. sso adquire uma importdncia especial quando se trata de um grupo composto por pessoas bastante regressivas. [Apesar de todos os avancos tedricos, com o incremento de novas correntes do penss- mento grupalistico — ¢ a teoria sistémica é um exernplo disso —, ainda ndo se pode proclamar que a ciéncia ca dinémica do campo grupal jé tenha encontrado plename! a sua auténtica identidade, as suas les e referenciais préprios e exclusivos, porquanto cla continua muito presa aos conceitos que tomou emprestado da psicendlise individu: al Creo ser legitimo conjecturar que, indo além dos fatos, das fantasias € dos conilites, ‘que podem ser percebides sensorial e racionalmente, também existe no campo grup] muitos aspectos que permanecem ocultos, enigméticos e secretos. A moda de uma con Jectura imaginatva, cabe ouser dizer que também existe algo cercado de algum misté rio, que a nossa “va psicologia ainda nao explica’, mas que muitas vezes se manifesta por melhoras inexplciveis, ou outras coisas do género. Da mesma forma como, em termos de micropsicologia, foi enfatizada a relacio do ini ‘duo com os diversos grupos com os quals convive, &igualmente relevante destacr, em termos macroscdpicos, a relagio do sujeco com a cultura na qual estéinserido, Une afirmativa inicial que me parece importante & a de que o fator sociocultural sorente altera 0 modo de agi; mas nao a narureza do reagit. Explico melhor com um exemplo tirado da minha prética como grupoterapeuta, para ilustrar o fato de que uma mesme situago — a vida genital de uma mulher jovem e solteira — foi vivencinda de forme totalmente distinta em duas épocas distantes uns vinte anos uma da outra, Assim, 12 década de 60, uma jovem estudante de medicina levou mais de um ano para “confes- sat” 20 grupo que mantinha uma atividade sexual com o seu namorado, devido as suas ‘ulpas e 20 panico de que sofreria um reptidio generalizado pela sua transgressdo aos valores socias vigentes naquela époce. Em contrapartide, em um outro grupo, em fins dda déceda de 80, uma outra moca também Jevou um longo tempo até poder partilhar com os demais o seu sentimento de vergonha e 0 temor de vir a ser ridicularizada e humithada por eles pelo fato de “ainda ser virgem?. Em resumo, o modo de agir fi totalmente oposto, mas a natureza (medo, vergonha, culpa, etc.) foi a mesma. Cabe tirarmos duas conelusées: uma, é a de que costama haver 0 estabelecimento de um conflito entre o Fgo individual ¢ o Ideal de Ego coletivo; a segunda constatagdo é a de que o discurso do Outro (pais e cultura) & que determina o sentido e gera a estrutura da mente, FUNDAMENTOS BASICOS DAS GRUPOTERAPIAS 87 Todos os elementos tericos do campo grupal antes enumerados somente adquirem um sentido de existéncia e de validade se encontrarem um eco de reciprocidade no exerci- Cio da téenica e prétca grupal. Igualmente, a técnica também no pode prescindir da teoria, de maneira que ambas interagem e evoluem de forme conjugada e paralela, Pode-se afirmar que a teoria sem a técnica vai resvalar para uma prtica abstrata, com uma inteleccuaizacio académica, enquanto a técnica sem uma fundementacio tedrica corte o risco de no ser mais do que um agirintitvo ox passional E necessério fazermos uma distingio entre a simples emergéncia de fenémenos grupais «€ aquilo que se constitui como um ptocesso grupal terapéutico. A primeira é de nature- 2a ubiqua, pois os fendmenos se reproduzem em todos os grupos, independentemente da finalidade de cada um deles, enquanto 0 processo grupal necessiza de um enquadre apropriado e ¢ especifca dos grupos terapéuticos. grupo com finalidade operativa ou terapeutica necessca de uma coordenagio para que a sua integracdo seja mantida. O coordenador deve estar equipado com uma logis- tica e uma técnica definida, assim coma com recursos tticos e estratégicos. Ainda no ‘hd uma s6lida e unificada escola da teoria da dindmica de grupos, sendo que a maioria dos grupoterapeutas combina os conhecimentos sobre 2 dindmica do campo srupal com a de uma determinada escola psicoterapéutica de tatam mente a de alguma corrente psicanalitca, Pela imporcéncia que as ansiedades, defesas e idntificas pal, elas serdo melhor explicitadas um capitulo espectico, mai A importéncia do “campo grupal” pode ser sintetizada nessas sdbias palavras (1998); “Nesta jé longa trajetdrialidando com grupos, terapézt a indo uma crescente conviegdo de que ndo é na palavrae siz (ou coordenador de grupos) que reside a esséncia de sua contibuicio para o processo srupal. E através da adequacdo de sua atitude que se estabelecerd o climz erapal propi cio para que aqueles a quem se destina o grupo em questio busquem os seus ebjetvos",

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