tiches criticos" “Antes de comegar uma tese de literatura, ¢conveniente que o ‘andidato escolha algum dos estilos disponiveis na praca. Para dorientaronesfito nessa drdua taefa darejalgunsexemplos de st- “Ios riticos,aplicados aqui frase inicial de O Atencu (1888). 8 deve ser feta em fungio das preferéncias do Orientador e, possivel, da forura banca, Qualquer engano a esserespeito pode fatal. | A frase 6 seguinte:"Vais encontrar o mundo, disse-me mew jporta do Ateneu. Coragem para aJuta” (Raul Pompéia, O ied. Afranio Coutinho, Rio de Janeiro, Civilizagao Bra- /oLAc, 1981, p.29). ano 0" 5, Curitiba, Impensa Ofc do Frans, 1983 Tir int dn Pos-Graduagio em Letras da UF ano ty m2, 1994 aqutmaisum tipo dcr, peo fatode lait eferamenteapli> [A narrativa comesa por um discurso digeto, proferide pela ppersonagem pai. Maso narrador éa personagem filho, indiciado pelo possessvo mew. Trata-se,portanto, deum narradoreepresen- tado, pessoal eparticipante,emboraporenquanto iméveledeboca calada. A fungao da personagem pai é de sueito do discurso, ea do filho, de receptor da mesmo, As qualidades da personagem pai sto. sabedoria ea virlidade. As do filho, ainda nao sabemos, por {que ele ainda nao disse nem fer nada, A identficagioestabelecida no didloga-monslogo de pai (mundo = Ateneu=luta) & um indi- ‘ce premonitéro da ago futura da narrativa. Em suma, jd dispo- mos de elementos suficientes paca desconfiarmos de que quem manda opaiedequefilho vai participar pessoalmentedevarias sequéncias deasio interessantes para le, como natrador, masbas- tante desaradaveis, como personagem 2. ESTUDO DOS INCIPIT ROMANESCOS ‘A primeira tarefa do romancista &a de comesar o texto, de esignar seu ponto de partida e, portanto, de realizar a passagem ‘para um novo espago linglistico que exige uma confrontagao com ‘arbitréio ligado origem do discursae aoatode comesar. Antes do texto, havis um espaco de nao-texto, que nao deve er confun: dido com 0 nada. F um espago de ndo-dito que cessa de exist. {quando comesa o dito, isto &, dito cujo romance. A partir dai, ‘camo veremos, escitorenfrentardo problema decontinuat, 80 ‘menos dtduo do que o de comesar.£ importante que se dstings 0 stud dos incipit do estudo do pertexto, to urgente e fascinante {quanto o primero. Sem falar do paratexto,cuja anise nos evaria 38Jonge do incipit, do texto propriamente dito, de Raul \disteaindo-nos de nosso objetode analise IGA PSICANALITICA LACANIANA inaugural do romance éafalado Pai. palavra da Le. Se lugar do signticante, o enunciado de autoridade nao antia serio sua propria enunciagdo, ja que é instil significante,o qual ndo existe fora desse mesmo ele que ai toma a palavea¢ o Legisador, isto é,0 slador octapa cealmente lugar do Outro,asaber.0 Ograndedo.ateneu toma olugardo pequenoaobje je estard doravante sujeitoa Leia casteagdo.O signi- su pode entio er lide como aquilo-a-que-se-atém- feveu teme eque designaremos doravante por eatemet. fosquecontestam essaanilisedo texto estaomanifestan- cia e recalcando ago, E, quanto mais denegarem, fogario. nso me venham dizer ue odiscurso psicana hlortirio quantoodopaidonarrador.porqueessicon- ihimedintamente analisada como sintoma SOCIOLOGICA MARXISTA sociedad fundada sobreainjustiga social esustentada nto 9 Inconscincia do sujeito com relagtoa suas “deexisténcia,apalavra do pai €a palavra de mae do burgués. Ao ingressar no aparelho repressive de {0 Ateneu,o menino Sérgio se verdprisioneiro da clas- ea que pertencem seu pai, os professores e todos os alunos do lice. A luta que Ihe anunciada €a disputa pelo poder sscorado no capital; masa lta eal éa luta de classes, que se trava fora dos muros da instituigao. A verdadeira coragem € ado prole~ tariado, excluido do Ateneu, ea ele a Histéria daré a vitor. O dis- curso do paié um diseurso fora do lugar,porquentolevaem conta areal situagio do paisymonarquista,escravagistaefalsamentelibe- ‘al,naquela data. Em tempo: todos os queafirmam 0 contririo 0 formalistasereacionstios. 5. eRITICA GENETICA (ESTUDO DOS MANUSCRITOS) © prototexto da primeira frase de O-Atenew apresenta una variante de grande interesse. No prototeto, Ise: “disse meu paid porta A mudanca paradisse-me meu pai, porta” Gextremamen {esigoifiativa. Na ariante, no sesabe a quem o pa dirigia sua fal. Poderia ta dirigido a outz0 menino que nig filho,equedlim- ‘bem e encontrasse.Apresenga ou auséncia da virgula tambémlte ta profundamente o significado do texto, Sem a vigula leitoy poderia pensar que o pai est falando com aporta,o queoinduzitia a graveerroquantod sate mental da personagem. A coresdointro- Surida por Raul Pompeia mostra seu extremo cuidado coma presi ‘io do snunciado,e demonstra quetal precisio nao foialeangadano primeirimpulso. O movimento seguidodesdeaprimeiraformaaté ‘segunda pode er assim representado, para maior clareza da expo- sige: prototexto + texto, Observagio: todo texto tem um prototes- tovexceto aguees que noo tem, ou que foram esritos em comp= tador.Felizment, ainda ni havia computador no tempo de Raul imavariante, Pompéiae assim dlspomos dessa rigy 356. cRITICA sEMIGTICA, A relago Pai-Filho-Ateneu é uma relagio triddica de desem- penho. 0 Ateneuéum objeto, transformado pelo pai em sin-signo. provide de iniimeros quali-signos. fala do pai funciona como. Interpretante na relaglo do filho com o Ateneu, O livro O Atenest ‘contém numerososhipo-icones sto imagens com qualidadesde Primeiras Primariedades. Os signos iniciais do romance nio sto, “entretanto,jodniens, mas simbolicos.A primeira sentenga€ assim primeira como sentenca e como representamem. Ao mostrar 0 filha porta do liceu,o pai utiliza um indicador que pretende colo- cé-loem conexdo real como objeto, Entretanto Atenew,nomepré- prio,éapenastum hipo-seme nto indicador. Nada garant, portan to, que o filho tenha decodificado corretamente o signo Atenete, ‘muito menos, indicador seletivo universal“ mundo’ Alias, doque mesmo que estivamos falando? 7 ERITICA DESCONSTRUCTONISTA, ‘Ao dentificaro Atenew a0 mundo, o pai pressupée umm mun- do provide de centro, isto é, de Verdade. © pai ¢ porta-vor da ‘metafisica ocidental, um defensor do logocentrismo, um platOni- cojinveterado, Na verdade, 0 Atenew nada mais édo que umacons- ‘rugio substitutiva que, na auséncia de centro ou origem,é mera produgio de sgnificagio estabelecida mediante uma operagaa de diferenca(s). Naauséncia de um centro e de um sujito essencial ‘qualquer interpretagio dessa primeira frase de 0 Arenewpermane- ‘cer sempre incompleta, nao podendo jamais exgotar o objeto texto em sua totalidade, Assim sendo, nunca chegaremos anilise dda segunda frase do romance e nosto estado do mesmo perthane: 6 etd indefinidamente diferid. Felizmente, essa diferencia pode ‘ocuparas duzentas paginas necesarias para compor Nossa tse 8. critica rOs-MODERNA Percebe-se imediatamente que O Atenew nao passa de uma narrativa moderna, Ao dite ao filho que ele vai encontrar “o mundo” o paiserevela tributério de uma metanarratva toalizan tee legitimadora. Ao prepararo filho pat {em um projeta,o que €préprio dasilusdesdos moderns. © paise coloca, além disso, como um sujeito que nao tem a menor divida desua consisténcia (seo filho 0 contestar, levard um cascudo), odemos,entretanto, propor uma letura pis-moderna dessin “a Lua’ ele mostra que cio de romances supusermeos ie ele no & deft inicio de O Aton mas apenas wna tain lide do mesmo, graftada no muro de wna esol. Talleitara nos evar nenhuma conch Ne peathie a eeeine ee ee riamente superficial ein, 9. CRITICA FEMINIST ‘Como a esmagadora maioria des romances, O Ateneu é uma historia de homens escrita por um homem. Oliva comesa com as palavras de um homem dirigidas a outro homem. Note-se que 0 proprio nome do licen, Ateneu, éum nome proprio masculino & quedesignava,na antiga Grecia, um local ereunito deliteratosdo sexo dito forte. Esse universo masculino seanunciacoma um paleo de uta, um lugar agressiv, desttuido de sensibilidade, de afetvi- dade, de fuider, qualidades fernininas que tém sido exploradas wPelo patriarcado para oprimir as proprias mulheres Por isso é que "nbs, mulheres, devemos lutar contra todos os Ateneus, todos 0s Puls todos os filhos, , portanto, exigir a retirada do romance de Raul Pompéia de nossos programas escolarese universiirios, 10. critica Gay (0*mundo" queo flho encontraré no Atenew é,evidentemen- te, um mundo gay jd que se trata de um internato masculino. As ‘mulheres pelas quais ele eventualmente setéatraido na verdade no contam, €“Iuta" do flho tera por ebjetivo “sar do armatio’ Aliés,o proprio Raul Pompéia.. os | |oprgh © by Ley Peon Mois ope ek ata dona pie ‘sre Bere sobre eMart HV ri seta Art Mere, Cote Georges Pop. 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