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NWALLULLU AA Coucko 1 ByraNcta A Clinica Precoce: O Nascimenfo do Humane Gracieta Cutttre-Crespin COLECAO DipIGIDA BCR CLALDIA MASCARENHAS FERNANDES Casa do Psicsiogo® AUTH as Os SINAIS DE SCFRIMENTO PRECOCE! Ao longo de mais de dez anos de experiéncia e compar- Lilhamento com os médicos da Protegdo Materno-Infantil? descobri na clinica do bebé certo niimero de sinais observaveis que me pare- em ser a tradugao clinica dos estados de sofrimento no lactente. Estes estados de sofrimento devem ser compreendidos como de- pendentes do somatico e do relacional ao mesmo tempo. Esses sinais séo, em sua maioria, bem conhecidos pelos profis- onais da pequena inféncia e em particular pelos médicos, mas quan- «Jo so encontrados, por exemplo, em situagao de consulta pedidtrica ‘ow em modo de acolhimento,’ sua presenga produz um certo mal- estat; Este mal-estar deve-se ao fato de que freqiientemente os médi- ‘08 no sabem muito bem como proceder: a identificagio desses sinais ¢ incerta, tanto do ponto de vista de sua etiologia, quanto de (ct diagndstico e prognéstico. Divididos entre 0 desejo de nao alarmar inutilmente os pais e euidado de no “deixar de lado” alguma coisa grave, os médicos «jue encontrei testemunham de bom grado seu sentimento de “brin- w de aprendizes de feiticeiro” se eles afirmam alguma coisa, ou |) Capito wadozido por Misia Auxiindora M.Femandes,picanalist, BA. igo de sade plblica na Fran, que tem, sober, uma missto de prevengzo. Creches ow anxiires de jatins de infEncia que acolbem as criangasdarante © dia, os pais trabalho 48 Acaiwcn nscoce: 0 sciMenTO Do MumANO de desdenhar ou banalizar, em parte para se assegurarem, caso afi ‘mem que “isso passara” ou “a criana vai crescer”. De todo modo, ‘a0 se sentirem despreparados quanto & conduta a ser tomada, a indicagdo de uma consulta especializada se revela, na maior parte do tempo, dificil de se realizar por raz6es multiplas"que teremos oportunidade de lembrar. ‘Meu objetivo aqui € tentar articular esses sinais funcion observéveis no registro pulsional, a fim de promover uma leitura que apreenda a dinamica relacional na qual o sinal € apreendido, Efetivamente, € provavel que uma melhor lisibilidade desses sinais pelos médicos conduza a uma melhora na prevenciio dos distirbios relacionais precoces no hospital geral antes de chegar as consultas especializadas. Parece-me também possivel esperar que esta lisibilidade per mita as equipes de prevengdo fazcrem uma distingao entre as situa Ges de que podem se encarregar elas mesmas, nos bercirios ¢ cre ches e na consulta de lactentes*, daquelas que necessitam, de uma ‘maneira mais ou menos urgente, de cuidado especializado. Os sinais que fixamos dependem dos trés grandes repistros pulsionais do primeiro ano de vida ~ considerado até em torno de 15 meses — € silo de duas espécies: 1) os sinais chamados “positives” de desenvolvimento: eles tes temunham que os processos psiquicos subjacentes estio fun cionando como o previsto; 2) os sinais de ‘sofrimento precoce”, que se subdivide em cuas séries: — asérie “barulhenta”, assim chamada por que esse sinais tem a particularidade de sempre alertar 03 mais préximos (quer dizer que os médicos serdo freqlientemente consultados por esse tipo de sintoma); em compensagdo, as respostas nem se pre serio adequadas, no sentido em que a dimensio simbolica do sintoma seri muitas vezes desconhecida ou negligenciata; {Tals como crches ou consults petites TEECCEEEEETT TTPO 0s suis bo sormo rsro mecoce a 4 sGrie chamada “silenciosa’, ‘silenciosa”, pelo fato que estes si eee que estes sinais pas- sam oaetemenedepeecbids cor ino omdeote = soni devendo saber ir buscé-los a partir de si- a sour gist, Em certos contextos esses sinais los por sinais positivos de de ies ais le desenvolvimen- (Por exemplo, pelas instituigdes pouco atentas ou pelas mies imaturas ou sobrecarrega londe 0 maior perigo “ ‘gadas), donde o maior perig Estudaremos pa 10S PASSO a passo os sinais positivos de desenvolvi- ian depois os sinais de softimento em cada registro pulsional “ ' i em cada registro pulsional, ; iplos clinicos, e nos esfc in ligdes, a cada ae iS us eo Spe, quanto a conduta a se hee foie ae febé tanto pata os pais, quanto para os prof acilitar a organizagao dos acompanhamentos de condutas de ajudas diretas a0 bebé, como, gario ou em creche. ; ‘om 0 ssionais, Isso poderé de orientacdo a pais e Por exemplo, em ber- OF sisenpoakes poss de deumohinenlo« ssn de solimento pese ple dupla modalidade ~ fungdes materna e paterna — ae Iago com Outro primordial que poderemo: car os sinais ditos positivos de desenv a hospi le desenvolvimento, assim de trocas 's identifi- como os si Os sinais positivos aparecem quando a bresentadas na relago de modo ms ou menos eeuiibnne engajadas numa dialética, enquanto os sinas de sofrinente veoe, em no momento em que hi o dese _ uma dentre elas softimento apare- ‘quilibrio ou a nao organizagao de if es 0s sinais da série barulhenta tém os mais prOximos ~ dai o nome “barulhenta” Sximos - rent” — e correspondem a um «ato do bebé: 0 bebe € ativo eluta contra um excesso de roy e rae sso de mde: a mie se ‘mostra intr usiva e se observa por outro lado uma incapacidade ou uma qualidade de alertar 50 A-caca pace: o nasenet0 90 Ano fraqueza na vertente paterna do lago. Com efeito, neste a ce bet © bebé parece tomar sobre ele proprio 0 suporte da func: ne incapaz, opondo-se ativamente, numa tentativa muitas i ada de pér um limite ao furor da onipoténcia originéria da ae Os sinais da série silenciosa podem, 20 contri dled percebidos, ou mesmo ser tomados por sinais de desenvol vey pesitivo, o que toma esa ste potencalmente mais pergoss park 0 bebe que a precedente. Efetivamente, esses sais parecem conesponder ao momento onde o bebé deixa de Tatar pars po Fimite 8 onipoténcia matema parece se entegar a uma passivi dee a uma atonia que podem tomar estes tipos de a mente confortives para os cuidados, daf sua periculosdade, les revelam uma fla mais ou menos radical da veriente pater m aco, quer esa fla sejaconseqneia de um abatimento s Fo, ou uma ansncia de inserigdo primaia. A ausénca da venene paterna deixa o campo livre & onipoténcia origindria, & soley Darece entregue: sio bebés que podem ser manipulados & ee sem que eles se manifestem, em uma eee oe conforvel para uma mie ausente ou Sobreceregads, ou pra cuidador pouco implicado na relagdo, que, & revelia, enc poténcia primordial raed’ rapeterpulaeal arerle Sincis pestvos de desemvelimento Freud chamou experiéncia primordial de satisfacdo fato a 0 bebé sente pracer em se inundar, nfo apenas de Iie, mas da presenga de seu Onto ntridor. Bl situa mesmo os incios da vida psigucaracapaidnde deo bebéevoeroseio quan ausenie: Des primeira represeninglo mental, Lacan di que comesponde 3 inn poragdo das “‘coordenadas de prazer” que, para o bebé, sua relagdo com 0 Outro. UCR Os sus 0 sormsunro rscoce | @ satisfagio da necessidade — encher seu estmago de alimentos para apaziguar a fome ~ parece relegada a segundo plano em relacdo @ este outro apaziguamento especifico trazido pela pre- senga do Outro, pela qualidade de seu investimento. M. C. Laznik retoma a andlise que Lacan propde do terceiro tempo do cireuito pulsional, como aquele em que a verdadeira satis- facdo pulsional é obtida quando o sujeito se experimenta como um objeto de satisfaedo para o Outro, como se ele se satisfizesse em ser aquele que satisfaz o Outro. Assim, a mde se mira no bebé que suga Seu seio, e 18 af sua qualidade de boa mie, como também o bebé se ‘mira no olhar de sua mae e af 18 0 gozo que seu prazer provoca nela. Wc entio se oferece como “um objeto bom de order”! capaz de antecipar o gozo de sua mae e de ir buseé-lo, H somente quando esse tempo estiver inscrito nas trocas que o segundo tempo da pulsao chamada auto-er6tica — 0 bebé que suga seu polegar para se ajudar a ‘esperar pacientemente, — torna-se verdadeiramente auto-er6tico e no ‘mais um simples procedimento autocalmante, Efetivamente, as cri- ‘ansas autistas séo inteiramente capazes de sugar seu polegar em uma relasao de auto-sensorialidade calmante, sem que isso signifique que lacdo com 0 Outro seja inserita no trajeto da pulsio; trata-se de lun recurso ao corpo préprio na auséncia do Outro, Para que essas trocas carregadas de prazer compartilhado pos- sam inscrever o terceiro tempo da pulsZo, é preciso que 0 Outro da relagdo seja capaz a0 mesmo tempo de investir suficientemente na relagdo com 0 bebé —o que uma mie sobrecarregada ou um cuidador ‘andnimo nao podem fazer, ~ © eapaz de aceitar os limites que o bebé {he impoe —o que uma mie intrusiva ou um cuidador as voltas com luna tarefa nao sabem fazer, Se analisarmos esta dupla proposigfo, nés nos apercebemos ue ela corresponde & dupla vertente maternal-paternal, isto é, & Hicrnincia dos funcionamentos de atribuigio e de corte, na sua Yegulao reefproca, que asseguram a emergéncia do espaco onde o bebé pode 4 advir como sujeito. MC. Laanik: “Des pchanalystes qu ravallent em santé publique” p. 15-16 52 —_-Acabwca coer © Sento 10 HA Sinais de sofimento precoce Simsis do sre ci “bores” 14 evoquei a importincia que reveste na experiéncia primordial de satisfagao 2 dimensio do prazer, atribufda malt a qualidade do Javestimento do Outro da relacdo mutriz que & qualidade ou quanti dade dos alimentos. Esta afirmagio poderia ser considerada como “chocante” em ‘certos contextos em que populacdes atravessam catastrofes natural numanas, como por exemplo, fome devido as seeds Ot as gt Slgumas vezes as duas coisas conjugadas 0: estados extren Gesnutrigdo® que levam & morte milles de criangas Bed! pare ‘endo corresponder as faltas nutricionais, sem diivida alguma, mas Saja potencia mortfera seria potencializada pelas vivencias de pri vvagao sobre o plano psicoafetivo "a satisfagdo pulsional parece mesmo to central due Yt sencia? pode entravar a satisfagio da propria necessidade alimentar (© bebé pode entdo se manifestar, recusando S° alimentar, por exe plo, a ponto de por em risco seu prognéstico vital nos casos graves, Fomo para nos dizer que, desde o comego da vida, a existéncia & ‘mais importante para os humanos que & sobrevivencia. vAsvim, oconjunto das recusas alimentares simples nes parece um exemplo desta série. Os refluxos e vomitos, distirbios ligados iimateridade do trato digestivo, extremamente freqienses durante 0 primeiro semestre, sio sistematicamente tratados hoje ~ algumas zee até em excesso, Entretanto, Go ponto de vista que "7 interes veveles s6 devem chamar a atengo a partir de si dinamica vocidivante e resistente & maturagdo ¢ 20s tratamentO® ‘lassicos, po endo somente entfo ser considerados como Tecusss ‘mascaradas VAY TTT ec SST Ta 0 wome de Kashior Kot © abe comers res ao de esc over, sees deta endo de ESSN abr 0 sever do lactente eet gue re acontces quand uta mie etd depress 8 ASAE CY tem dition 7 nent gue a impedem de invest no seu bebe (0s ut o0 sornvasto weecoce 53 Contrariamente & anorexia grave do lactente (dita do segundo semestre, quadro bastante raro), as recusas alimentares simples so cextremamente fregtientes e banais. Se analisarmos as trocas & luz de nossa proposigéo da dupla vertente do lago primordial, percebemos imediatamemte por que a recusa alerta os mais préximos: além do argumento vital, sempre colocado no primeiro plano e, entretanto, ra~ pee onl eae ‘choca e provoca reagées na mile € ee do bebe abalavilentamente sua onipoténcia primordial aes anfe, brotalmente, que ele € um outro pebé 6 ativo na relagdo, e pode-se dizer que ele toma para si 4 garuna da Fungo patera dbil ou ausente: a0 se recuar, ele pe um limite & onipoténcia origindria da mae e dispde assim do espaco onipoténcia origi i ispoe assim do es} no qual ele pode advir. Na clinica comum, 0 mé num, 0 médico aconselha freqlientemente a mie {nfo insistir, acrescentando que 0 “bebe conselho que nem sempre as ma eS Bete cater’ nissica acter anrn ape eae rs Ee sustenta assim a fungdo paterna, que esté & eer isvoes rmanifestagdes do bebé, 20 inverso da vertente ternal, que impée seu desejo de um modo projetivo. Em um nii- Bere sipsssvo de casas, 6 mile consegue mipotar a recusa do Beker pela palavra do médico, observa-se uma sedayo conflito, e © bebé volta a comer ao final de certo tempo. Em compensagéo, algumas vezes 0 médico pode ser literal- mente tomado pela angustia matema, que pode, em certos casos, ser stim sionante,e busca a todo custo um meio de fazer o bebe alimentar mar a angiistia da mie: troca-se o leite, o ritmo id Jas, 0W outros parametros. O médico faz aqut o jogo da Bde: Ve ito

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