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PRINCIPIOS DO TRATAMENTO BIOLOGICO DE AGUAS RESIDUARIAS Lagoas de e stabilizacdo MARCOS VON Departamento de Engenharia Sanitaria e Ambiental - DESA SPERLING Universidade Federal de Minas Gerais Os dois volumes iniciais da série centraram-se nos aspectos introdutsrios e fun- fentais do tratamento de esgotos. A partir deste terceiro volume, passam a ser abordados sistemas de tratamento especificos. Os volumes subsequentes enfocarao, cada um, os seguintes sistemas de tratamento: lodos ativados, reatores anaerébios tratamento e disposi¢ao final de lodo de esgotos. O presente volume enfoca o sistema de tratamento de esgotos por lagoas de estabilizacao. Sao descritos os principios basicos ¢ os critérios de dimensionamento dos principais sistemas para remogio da matéria carbonécea (lagoas facultativas; sistema de lagoas anaerébias — lagoas facultativas; lagoas acradas facultativas; sis- tema de lagoas aeradas de mistura completa — lagoas de decantagao) e para remo- ‘cdo dos organismos patogénicos (lagoas de maturagio). Apés tal, so descritos os principais aspectos construtivos, e dadas as diretrizes para a manutencfio e operagaio dos sistemas. Em consonaneia com a prépria simplicidade conceitual do proceso de tratamento por lagoas, o volume adota uma abordagem de apresentagio de informagées de uma forma direta e simplificada, para cada um dos sistemas descritos. Para cada sistema, apresenta-se um exemplo completo de dimensionamento, objetivando se obter as gran- des dimensdes das unidades para alocagio no terreno, bem como uma estimativa das caracteristicas do efluente a ser langado no corpo receptor. Como em todos os volumes desta série, nao ha grande preocupagio com o detalhamento dos projetos, para o qual ha outras referéncias disponiveis, além de catélogos de fabricantes. Por se tratar de uma série, este yolume pressupde uma continuidade temdtica com os dois volumes que 0 precederam. No entanto, procurou-se dar uma certa auto-suficiéncia, de forma a reduzir o mimero de consultas cruzadas aos demais volumes. Retomando um comentario do prefacio do primeiro volume, deve-se encarar a presente série apenas como uma contribuicao, dentro de um esforco mais amplo, que deve ser abragado por todos nés, de implantar no pafs uma infra-estrutura sani- taria que permita a melhoria das condigées ambientais e da qualidade de vida nossa populagao. O autor considera como totalmente bem-vindos quaisquer coment tes para a melhoria deste volume, ou de qualquer dos outros vol 4 Finalmente, gostaria de agradecer a todos aqueles que con! seguem contribuindo para a realizagao desta série. Em tel i decimento a todos que se motivaram, juntamente 0 f aos livros. Em termos institucionais, as entidades : bilizagao do empreendimento: Departamento. selho Nacional de Desenvolyims SUMARIO CAPITULO 1 Introdugio CAPITULO 2 Lagoas facultativas . INTRODUCAO . DESCRICAO DO PROCESSO . AINFLUENCIA DAS ALGAS . AINFLUENCIA DAS CONDICOES AMBIENTAIS .. . CRITERIOS DE PROJETO..... ESTIMATIVA DA CONCENTRACAO EFLUENTE DE DBO. 2.6.1. A influéncia do regime hidraulico 2.6.2. DBO efluente soltivel e particulada 2.6.3. A remogio de DBO segundo o modelo de mistura completa 2.6.4. A remogiio de DBO segundo o regime hidréulico de fluxo dis ARRANIOS DE LAGOAS.... . ACUMULO DE LODO .. . CARACTERISTICAS DE OPERACAO. . POLIMENTO DE EFLUENTES DE LAGOAS . EXEMPLO DE DIMENSIONAMENTO Capitulo 3 Sistema de lagoas anaerdbias seguidas por lagoas facultativas 3.1. INTRODUCAO.. 3.2. DESCRICAO DO PROCESSO 3.3. CRITERIOS DE PROJETO PARA AS LAGOAS ANAEROBIAS ...01.0 3.4. ESTIMATIVA DA CONCENTRAGAO EFLUENTE DE DBO DALAGOA. ANAEROBIA ... 66 3.5. DIMENSIONAMENTO DAS LAGOAS FACULTATIVAS APOS LAGOAS ANAEROBIAS .... 68 — a 41. 4.2. 43. 44, 45. 4.6. 47. 48. 4.9. 5.1. 5.2. Bis 5.4. aa. 5.6. 5.7, 5.8. 6.1 6.2. 6.3. . ACUMULO DE LODO NAS LAGOAS ANAEROBIAS.. . EXEMPLO DE DIMENSIONAMENTO ... CAPITULO 4 Lagoas acradas facultativas INTRODUCAO... DESCRIGAO DO PROCESSO CRITERIOS DE PROJETO .... ESTIMATIVA DA CONCENTRACAO EFLUENTE DE DBO REQUISITOS DE OXIGENIO SISTEMA DE AERACAO...... REQUISITOS ENERGETICOS ACUMULO DE LODO .. EXEMPLO DE DIMENSIONAMENTO ..... CAPITULO 5 Sistema de lagoas aeradas de mistura completa seguidas de lagoas de decantagio INTRODUCAO... DESCRIGAO DO PROCESSO .. CRITERIOS DE PROJETO DAS LAGOAS AERADAS .. ESTIMATIVA DA CONCENTRACAO DE DBO EFLUENTE DA LAGOA AERADA.. REQUISITOS DE OXIGENIO NA LAGOA AERADA REQUISITOS ENERGETICOS NA LAGOA AERADA..... DIMENSIONAMENTO DA LAGOA DE DECANTAGAO EXEMPLO DE DIMENSIONAMENTO ... CAPITULO 6 & Remogiio de organismos patogénicos INTRODUGAO..... DESCRIGAO DO PROCESSO ... ESTIMATIVA DA CONCENTRACAO EFLUENTE DE COLIFORMES 6.3.1. A influéncia do regime hidrdulico ...... zi Os regimes hidréulicos idealizados 6.3.3. O regime hidrdulico de fluxo disperso ... 6.3.4. O coeficiente de decaimento de coliformes Ky, segundo o regime de fluxo disperso 12 6.3.5. O coeficiente de decaimento bacteriano Ky, segundo o regime de mistura completa 1 6.3.6. Resumo dos coeficientes de decaimento bacteriano Ky, 118 6.4. REQUISITOS DE QUALIDADE PARA O EFLUENTE .. 118 6.5. CRITERIOS DE PROJETO PARA A REMOCAO DE COLIFORMES ... 122 6.6. EXEMPLO DE DIMENSIONAMENTO 6.7, REMOCAO DE OVOS DE HELMINTO! 135 CAPITULO 7 Remogio de nutrientes 7.1. REMOGAO DE NITROGENIO. 7.2. REMOCAO DE FOSFORO.. CAPITULO 8 Lagoas de estabilizacao como pés-tratamento de efluentes de reatores anaer6bios LAGOAS DE ESTABILIZAGAO COMO POS-TRATAMENTO DE EFLUENTES DE REATORES ANAEROBIOS.. CAPITULO 9 Acraciio do efluente em escadas ou quedas d“4gua AERACAO DO EFLUENTE EM ESCADAS OU QUEDAS D’AGUA...... CAPITULO 10 Aspectos construtivos 10.1, INTRODUGAO.. 10.2. LOCACAO DAS LAGOAS. 10.3. DESMATAMENTO, LIMPEZA E ESCAVACAO DO TERRENO 10.4. TALUDES ........0.0 10.5. FUNDO DAS LAGOAS 10.6. DISPOSITIVOS DE ENTRADA 10.7. DISPOSITIVOS DE SAIDA..... CAPITULO 11 Manutenciio e operagao 11.1. INTRODUGAO.. 11.2. EQUIPE DE TRABALHO...... 11.3. INSPECAO, COLETAS E MEDICOES 11.4. INICIO DE OPERAGAO...... 11.4.1, Carregamento das lagoas Inicio de operagao de lagoas anaerdbias . Inicio de operaciio de lagoas facultativas _ Inicio de operagao de lagoas em sistemas em série 11.5. PROBLEMAS OPERACIONAIS ...... CAPITULO 12 Gerenciamento do lodo de lagoas de estabilizagio 12.1, PRELIMINARES 12.2. CARACTERISTICAS E DISTRIBLIGAO DO LODO NAS LAGOAS DE ESTABILIZAGAO... fe REMOGAO DO LODO DAS LAGOAS DE ESTABILIZACAO Ra Informagdes sobre o volume de lodo a ser removido Técnicas aplicdveis na remogio do odo. Remogao de lodos com desativagiio temporaria da lagoa Remocio de lodos com manutengéo da lagoa em funcionamento. Vantagens e desvantagens das técnicas apresentadas ... REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS .... CAPITULO 1 Introducao sistemas de lagoas de estabilizacao constituem-se na forma mais simples tratamento dos esgotos. Hé diversas variantes dos sistemas de lagoas de {io, com diferentes niveis de simplicidade operacional requisitos de Area. guintes os sistemas de lagoas abordados no presente texto: facultativas ia de lagoas anaerébias seguidas por lagoas facultativas aeradas facultativas 1a de lagoas aeradas de mistura completa seguidas por lagoas de decantagéio N destas lagoas, cujo principal objetivo é a remogdio da matéria carbondcea, m-se também as lagoas de maturagao, direcionadas & remocio de organis- da outras variantes do sistema de lagoas, tal como listado no Volume 1 da Série. No entanto, no presente texto, so analisadas em maior detalhe ape- goas citadas acima. ira geral, as lagoas de estabilizagiio s’o bastante indicadas para regides quente e paises em desenvolvimento, devido aos seguintes aspectos: nte disponibilidade de area em um grande numero de localidades avordvel (temperatura e insolagio elevadas) 0 simples ‘idade de poucos ou nenhum equipamento jjadro 1.1 apresenta uma descrigdo sucinta dos principais sistemas de lagoas . Os respectivos fluxogramas encontram-se nas Figuras 1.1 ¢ jadro 1.2 apresenta uma comparacao entre as principais caracteristicas dos de lagoas analisados. Com relagio & remogao de organismos patogénicos hente ditos, uma série de lagoas, incluindo lagoas de maturagdo, é capaz de eguintes eficiéncias de remogao (Mara et al, 1992): até 6 unidades logaritmicas (99,9999%) 4 unidades logaritmicas (99,99%) © Quadro 1.3 apresenta um balango de vantagens € desvantagens de cada siste- ma de lagoas. © Quadro 1.4 lista os principais parametros utilizados nos projetos de lagoas, os quais encontram-se detalhados no restante do texto. Quadro 1.1. Descrigdo sucinta dos principais sistemas de lagoas de estabilizacio tema Descrigao Lagoa A DBO soltivel ¢ finamente particulada é estabiizada aerobiamente por bactérias facuitativa cispersas no meio liquido, ao passo que a DBO suspensa tende a sedimentar, sendo cconvertida anaerobiemente por bactérias no fundo da lagoa. O oxigénio requerido pelas bactérias aerobias ¢ fornecid pelas algas, através da olossintese. Lagoa ADBO é em torno de 60 a 70% removida na lagoa anaerdbia (mais profunda e com anaerébia- menor volume), enquanto a DBO remanescente é removida na lagoa facultativa. O Jaga _ sistema ocupa uma Area inferior ao de uma lagoa facuttativa Unica. facultative Lagoa aerada Os mecanismos de remogao da DBO sao similares aos de uma lagoa facultativa. No facultativa —entanto, 0 oxigénio é fornecido por aeradores mecanicos, ao invés de através da fotossintese, Como a lagoa é também facultativa, uma grande parte dos sélidos do asgote ¢ da biomassa sedimenta, sendo decomposta anaerobiamente no fundo. Lagoa aerada A energia introduzida por unidade de volume da lagoa é elevada, 0 que faz com que os ‘de mistura_sélidos (principalmente a biomassa) permanegam dispersos no meio liquido, ou em completa mistura completa. A decorrente maior concentragao de bactérias no meio liquido fagoa de aumenta a eficiéncia do sistema na remogao da DBO, o que permite que a lagoa tenha decantagao um volume inferior ao de uma lagoa aerada facultativa, No entanto, o efluente contém elevados teores de séiidos (bactérias), que necessitam ser removidos antes do langamento no corpe receptor. Alagoa de decantacgo a jusante proporciona concigses para esta remogao. 0 lado da lagoa de decantagao deve ser removido em periodos de poucos anos. Lagoa de 0 objetivo principal da lagoa de maturacdo 6 a remogéo de organismos patogénicos. Nas, maturagéo \agoas de maturagdo predorinam condigées ambientais adversas para bactérias patogénicas, como raciagao ultravioieta, elevado pH, elevado OD, temperatura mais baixa que a do corpo humano, falta de nutriantes @ predagao por outros organismos. Ovos de helmintos e cistos de protozoairios tendem a sedimentar. As lagoas de maturagao constituem um pés-tratamento de processos que objetivem a remogao da DBO, sendo usualmente projetadas como uma série de lagoas, ou como uma lagoa nica com divisées por chicanas. A eficiéncia na remogao de coliformes é elevadissima. 12 Lagoas de estabilizacao SISTEMAS DE LAGOAS DE ESTABILIZAGAO LAGOA FACULTATIVA RECEPTOR GRADE peARelA DEVAZAD SS y & fe ah LAGOA ANAEROBIA - LAGOA FACULTATIVA cor, eso ae ORME DEAR, BEVEAD LAGOAANAEROBIA —_LAGOAFACULTATIVA’ LAGOA AERADA FACULTATIVA _— cu, wR (aan IER GRADE paren DE VA yo a bia LAGOA AERADA DE MISTURA COMPLETA - LAGOA DE DECANTAGAO LAGDRAERADADE — Lagoape —-RECEFTOR noche MSTURACOMPLET — nREREAERO Sa ona GRADE pe AREA of = Fig. L1. Fluxogramas dos principais sistemas de lagoas de estabilizagtio para a remogao da DBO Introdugéio 1B Quadro 1.3. Balango de vantagens e desvantagens dos sistemas de lagoas de estabilizagdo LAGOA ANAEROBIA - LAGOA FAGULTATIVA - LAGOAS DE MATURAGAO Vantagens Desvantagens * Satisfat6ria eficiéncia na remogao de DBO # Razodvel eficiéncia na remogao de atégenos * Construcdo, operactio e manutengéio simples ‘+ Reduzidos custos de implantagao operacao * Aus@ncia de equipamentos mecanicos + Requisitos energéticos praticamente nulos « Satisfatéria resisténcia a variagdes de carga ‘* Remogao de lodo necasséria apenas apés periodos superiores a 20 anos © Elevados requisites de area * Dificuldade em setisfazer padres de langamento resiritivos ‘* Asimplicidads operacional pode trazer © descaso na manutengéo (crescimento de vegetacéo) Possivel necessidade de remocao de algas do efluente para o cumprimento de padroes rigorosos '* Performance variavel com as condigdes climaticas (temperatura e insolagao) + Possibilidade do crescimento de insetos * Idem tagoas facultativas ‘¢ Requisitos de area inferiores aos das lagoas facultativas Gnicas ‘Idem lagoas facultativas ** Possibilidade de maus odores na lagoa anaerdbia ‘= Necessidade de um afastamento razodvel &s residéncias circunvizinhas * Necessidade de remogao continua ou periédica (intervalo de alguns anos) do odo da lagoa anaerébia * Construgao, operagao e manuteng&o relativamente simples + Requisilos de area inferiores aos sistemas de lagoas facultativas e anaerébio- facultativas * Maior independéncia das condigdes climaticas que os sistemas de lagoas facuitativas e anaerdbio-acultativas « Salisfat6ria resisténcia a variacoes de carga + Recuzidas possiblidades de maus odores « Introdugao de equipamentos * Ligeiro aumento no nivel de sofisticagéo ‘ Requisitos de drea ainda elevados * Requisitos de energia relativamente elevados * Baixa eficiéncia na remogéo de coliformes: # Necessidade de remocéo continua ou periddica (intervalo de alguns anos) do Todo ** Idem lagoas aeradas facultativas ‘* Menores requisitos de Area de todos os sistemas de lagoas ‘Idem lagoas aeradas facultativas {excecdo: requisitos de area) * Preenchimento répido da lagoa de decantagao com 0 lado (2 a 5 anos) ‘* Necessidade de remogao continua ou petiédica (2 a 5 anos) do lodo ‘+ Idem sistema de lagoas precedente * Elovada eficiéncia na remagao de atogenos| * Razodvel eficiéncia na remogao de nulrientes: * Idem sistema de lagoas precedente © Requisitos de area bastante elevados , convo Sitema i. th RECEPTOR i Lacon, LAGOA, i Nae ure aNAERCBn nbn“ Lcons oc pOLMENTO HATURACAO) SERIE ee a 0 EE aa { ie, iss ig. 1.2. Floxograma de um sistema de lagous (anaerdbia-facultativa) seguida por lagoas de maturagdo P i ‘Sistema Quadro 1.2. Caracterfsticas dos principais sistemas de lagoas para a remogao da DBO ais anaerébia ‘tem geral item especitica Sistema de lagoas: ee Facultativa Anaerébia- ‘Aerada ‘Aerada de facuttativa fecultativa facultativa mist. completa - decantagao Eficiéncia DBO (%) 75-85 75-85 75-85 75-85 ; DQO (%) 65 - 80 66 - 80 65-80 65 - 80 ec 88 (%) 70-80 70-80 70-80 80-87 aiaiva Aménia (%) <50 <50 <30 <30 Nitrogénio (%) <60 <60 <30 <30 Fésforo (%) <35 <35 <35 <36 Coliformes (%) 90-99 90-99 90-99 90-99 Requisitos ‘rea (rmt/hab) 20-40 75-30 025-05 02-04 Poténcia (W/hab) 20 = 1,2-2,0 18-25 aon Custos Implantagao (R$/hab) 40-60 30-75 50 - 90 50-90 ooo Operagao (RS/hab.ano) 2,0—4,0 2,0-4,0 5,0-9,0 5,0-9,0 peracade. ‘Obs: outros dados comparativos estao apresentados no Volume 1 ra i: Data: 1° semestre 2002 (US$ 1,00 = RS 2,5) fapeeee decaniacao Lagoa — lagoa de maturagao Introducao 14 Lagoas de estabilizagdo 15 Deve-se destacar ainda que as lagoas podem funcionar como pés-tratamento de efluentes de reatores anaerdbios, tipo UASB (reatores anaerdbios de manta de lodo e de fluxo ascendente). Quando se objetiva uma certa melhoria na qualidade do efluente e mais a remogao de organismos patogénicos (lagoas de polimento — ver s sfio bem similares aos listados no Quadro 1.4 para as lagoas de maturagéio. Caso se adotem lagoas aeradas como pés-tratamento, 0 tempo Figura 1.3), os paramet em funco do aporte de uma menor carga organica REATOR UASB - LAGOAS DE POLIMENTO LAGOAS DE POLIMENTO (MATURAGAO) EM SERIE g 5 3 2 g 586 zs 3 = 2a = 2 ge Il ‘S G2 A og gg a8 a eo Sa EE > es Us £3 DISPOSIGAO FINAL ge BS 33 38 es Fig. 1.3. Reatores UASB seguidos por lagoas de polimento. (e1ajdwioo vimspu ep oundes ojed sepruasaidar wag ovs ove sepeammarys svo8e]) au9s ura seofey ered 9 opmmasarde 1opeA coRdeINIEUL ap svode] wyed (wyaldwoo wanystWs) yf aUEIO1}e05 (P) €-] :Seo8e] ¢ ap stew ap an9s eUN ap voRE] EpED UIE GFT O a1 {QT < torn pjnjgo ro sepeateatys ogSemIeUI ap SvOTE] wa qT OLSELax (2) epuianbas eioupioya ep 2 ode] vp orewIOy Op oBSUTY 9 oESRIMEW ap LOSE] MUN Wo OESUDIAP ap odwiar CO (@) ‘ovSeueaap ap svo8e wo opoy ap ojnt oF Op wanBUTsa TR 1x9} OW FINUALIOT 3A (P) (a) eaniney = gy “(cn) oyuotntadutos = J onxa} a4 ssonauresed sop omammeneiaq, Casip oxny) 9 eameradunay 805 201 z - LOY £o-¥0 = e0-70 = (..2) (2602) (-d81p oxny) Sy 1109 ‘weDEp J209 wr - 104 : jajGiwoo ySIw) 9 eIMBIedWIY J909 (o)z'-9'0 5 = o's-v'0 z (9,02) Cdiwoo s1w) 81 ‘Woo “weDep 809 = (2) = 20'0 - £0°0 900-00 yO'O- FOO (ouerqeu/, W) po] @p onuINoe Sp exeL : * vez o> - - (,Wuim) eougiod op epepisuaq - - vEewb zb-s0 - - (/42:59106%08%) 70 9p solpau soysinboy 7 é s'o-e'0 yo-eo ro-e'0 s (ss6wAoga5w) auanye epemoied Osa €'0- £00 - - 7 0-200 (62877) p oesiedsip ep ovewON s0-¥0 - - - (2 Z=9/7) p oesiadsip ap oxownny Lib-e'0 = * = =87) p ogsiedaip ap o1oWiNN * {osuedsip oxny) 6 BinjexedWIe} "}80, a : 5 1.02) (osvedsip oxny) OBC "We! 1 4209 : seo ‘SET ‘880° - SO'L . div0 SIL) 9 BiNyeXedL JOD = * gb-Ob 0-90 ov'o-sz'0 = (2,02) (ey@tduioo sity) OWT "WEI JOD. @ = ze vez vez eer qensn (esnBrejojuewludwios) @7 OBbEIay zi-8'0 ov-o'e ov-sz ov-sz ozs os-o8 ) H SPepIpUTYoug - 7 = 2 - Se'0-01'0 —(P',w#OBAH>) 47 eoMeuuNjon ogdeoIde ep exe] = 3 = - ose - 004 7 (P'eyFoadSy) °7 lejyiedns opSeoyde ep exe), @ a y-% OL-S Sp-Sb 9-6 J oeduajep ap oduiay_ ‘omeinjell ——ogeEp — BjaduIoo Ems Lop __Semeynoe] __—_Senpeynowy__SelaguewuIe apseoiey _spseoGey _—sepeiee stor} —_sepeieseofe] —_—_seote1 seo8e] ojeloid ep oneurereg opse: .quase ap svode] sep orafod ap sonourgzed smedioug “pT oapend, 17 Introdugao Lagoas de estabilizacao & CAPITULO 2 2. Lagoas facultativas 2.1, INTRODUGAO As lagoas facultativas sfio a variante mais simples dos sistemas de lagoas de estabilizagio. Basicamente, 0 processo consiste na retengiio dos esgotos por um perfodo de tempo longo o suficiente para que os processos naturais de estabilizagio da matéria organica se desenvolvam. As principais vantagens e desvantagens das lagoas facultativas esto associadas, portanto, A predominncia dos fendmenos na- turais. As vantagens relacionam-se & grande simplicidade ¢ a confiabilidade da opera- io. Os processos naturais sao confidveis: nao ha equipamentos que possam estra- gar ou esquemas especiais requeridos. No entanto, a natureza é lenta, necessitando de longos tempos de detengao para que as reages se completem, o que implica em grandes requisitos de érea. A atividade biolégica é grandemente afetada pela tempe- ratura, principalmente nas condigdes naturais das lagoas. Desta forma, as lagoas de estabilizago sio mais apropriadas onde a terra é barata, 0 clima favordvel, e se deseja ter um método de tratamento que nao requeira equipamentos ou uma capaci- tagdio especial dos operadores (Arceivala, 1981). Os custos das lagoas de estabilizagiio sio bastante competitivos, desde que os custos do terreno ou a necessidade de movimentos de terra no sejam excessivos. A construgdo é simples, envolvendo principalmente movimento de terra, € os custos operacionais siio bem baixos, em comparacao com outros métodos de tratamento. A eficiéncia do sistema é usualmente satisfatéria, podendo chegar a niveis comparé- veis 4 da maior parte dos tratamentos secundarios. LAGOA FACULTATIVA RESTOR yeDigno Lacoa rnovuranva 2 Fig. 2.1. Lagoa facultativa Lagoas facultativas 19 terminologia freqiientemente adotada para lagoas relaciona-se 4 sua posi- ‘série de unidades de tratamento: primeira lagoa da série — lagoa facultativa que recebe esgoto segunda lagoa da série ~ recebe efluente de uma outra lagoa a ntante, usualmente uma lagoa anaerdbia | Lagoas tercidrias, quaterndrias etc: ocupam a terceira, quarta etc posigdes na série — stio usualmente lagoas de maturagéo 2.2, DESCRICAO DO PROCESSO O esgoto afluente entra em uma extremidade da lagoa e sai na extremidade opos- ta. Ao longo desse percurso, que demora varios dias, uma série de mecanismos con- tribui para a purificacdo dos esgotos. Estes mecanismos ocorrem nas trés zonas das lagoas, denominadas: zona anaerébia, zona aerdbia e zona facultativa. ‘A matéria organica em suspensiio (DBO particulada) tende a sedimentar, vindo a constituir o lodo de fundo (zona anaerdbia). Este lodo sofre o processo de decom- posicdo por microrganismos anaerdbios, sendo convertido lentamente em gas car- bonico, égua, metano e outros. Apés um certo periodo de tempo, apenas a frago inerte (nao biodegradavel) permanece na camada de fundo. O gis sulfidrico gerado ndo causa problemas de mau cheiro, pelo fato de ser oxidado, por processos quimi- cos e bioquimicos, na camada aerébia superior. A matéria organica dissolvida (DBO soliivel), conjuntamente com a matéria or gfnica em suspenso de pequenas dimensdes (DBO finamente particulada) no se- dimenta, permanecendo dispersa na massa liquida. Na camada mais superficial, tem- se a zona aerObia. Nesta zona, a matéria organica 6 oxidada por meio da respiragao aerdbia, Hi a necessidade da presenca de oxigénio, o qual & suprido ao meio pela fotossintese realizada pelas algas. Tem-se, assim, um perfeito equilibrio entre 0 con- sumo e a produgao de oxigénio e gas carbénico: bactérias —> respiragao: * consumo de oxigénio * producio de g4s carbénico algas —> fotossintese: + produgao de oxigénio * consumo de gas carbénico Deve-se destacar que as reagGes de fotossintese (produgao de matéria orgénica) e respiracdo (oxidagio da matéria organica) sio similares, apenas com diregdes opostas: 20 Lagoas de estabilizagao * Fotosstntese: CO, + HO + Energia > Matéria organica + O2 * Respiracao: Matéria organica + O) > CO, + H;0 + Bnergia LAGOA FACULTATIVA Fig. 2.2, Esquema simplificado do funcionamento de uma lagoa facultativa Para a ocorréncia da fotossintese é necessiria uma fonte de energia luminosa, neste caso representada pelo sol. Por esta razdo, locais com elevada radiagao solar & baixa nebulosidade sio bastante propicios & implantaco de lagoas facultativas. A fotossfntese, por depender da energia solar, é mais elevada proximo a supertt- cie da lagoa. A medida em que se aprofunda na lagoa, a penetracio da luz. € menor, © que ocasiona a predomindncia do consumo de oxigénio (respiragdo) sobre a sua produgio (fotossintese), com a eventual auséncia de oxigénio dissolvido a partir de uma certa profundidade. Ademais, a fotossintese s6 ocorre durante o dia, fazendo com que durante a noite possa prevalecer a auséncia de oxigénio. Devido a estes fatos, é essencial que haja diversos grupos de bactérias, responsiiveis pela estabil- zagio da matéria organica, que possam sobreviver e proliferar, tanto na presenca, Lagoas facultativas a quanto na auséncia de oxigénio. Na auséncia de oxigénio livre, sao utilizados ou- tros receptores de elétrons, como nitratos (condigdes andxicas) e sulfatos e CO> (condigdes anaerébias). Esta zona, onde pode ocorrer a presenga ou a auséncia de oxigénio, € denominada zona facultativa. Esta condigao também da 0 nome as lago- as (lagoas facultativas). Como comentado, 0 processo de lagoas facultativas é essencialmente natural, nao necessitando de nenhum equipamento. Por esta raziio, a estabilizagiio da maté- ria orginica se processa em taxas mais lentas, implicando na necessidade de um elevado perfodo de detengao na lagoa (usualmente superior a 20 dias). A fotossinte- se, para que seja efetiva, necessita de uma elevada drea de exposigdo para o melhor aproveitamento da energia solar pelas algas, desta forma implicando na necessidade de grandes unidades. Em decorréncia, a érea total requerida pelas lagoas facultati- vas é a maior dentre todos os processos de tratamento dos esgotos (excluindo-se os processos de disposicaio sobre o solo). Por outro lado, o fato de ser um processo totalmente natural est4 associado a uma maior simplicidade operacional, fator de fundamental importincia em nosso meio. Oefluente de uma lagoa facultativa possi (CETESB, 1989): * cor verde devida as algas * elevado teor de oxigénio dissolvido « s6lidos em suspensao, embora praticamente estes nao sejam sedimentaveis (as algas praticamente niio sedimentam no teste do cone Imhoff) 's seguintes caracteristicas principais 2.3. A INFLUENCIA DAS ALGAS Numa lagoa de estabilizacdio facultativa, as algas desempenham um papel fun- damental. A sua concentragdo € mais elevada do que a de bactérias, fazendo com que © liquido na superficie da lagoa seja predominantemente verde. Em termos de sOlidos em suspensiio secos, a concentragdo é usualmente inferior a 200 mg/l, embo- ra em termos de ntimeros elas possam atingir contagens na faixa de 10* a 106 orga- nismos por ml (Arceivala, 1981). A presenga de algas é usualmente medida na forma de clorofila a, pigmento apresentado por todos os vegetais, e principal parametro para a quantificacaio da biomassa algal (Kénig, 2000). As concentragées de clorofila a.em lagoas facultativas dependem da carga aplicada ¢ da temperatura, mas usual- mente se situam na faixa de 500 a 2000 mg/l (Mara et al, 1992). Grupos de algas de importancia encontrados nas lagoas de estabilizacdo so (Mara et al, 1992; Silva Jr. e Sasson, 1993; Jordao e Pessoa, 1995): * Algas verdes (cloroficeas). Tais algas conferem a lagoa a cor esverdeada predo- minante. Os principais géneros so as Chlamydomonas, Euglenas ¢ Chlorellas. Os dois primeiros géneros so normalmente os primeiros a aparecer na lagoa, tendendo a ser dominantes nos perfodos frios, e possuindo flagelos, 0 que Ihes confere a capacidade de locomogao (otimizagao da posigiio com relag&o a inci- déncia da luz e temperatura). 22 Lagoas de estabilizagéo * Cianobactérias (anteriormente denominadas de algas cianoficeas, ou algas ver- de-azuladas). Em realidade, estes organismos apresentam caracteristicas de bacté- rias e de algas, estando atualmente classificados como bactérias. As cianobactéri- as no apresentam organelas de locomogio como cilios, flagelos ou pseudépodes, mas podem se deslocar por deslizamento. Os requisitos de nutrientes sao bastante reduzidos: as cianobactérias podem proliferar em qualquer ambiente onde haja apenas CO», No, agua, alguns minerais e luz, Estes organismos sio tipicos de situagdes com baixos valores de pH e pouco nutriente nos esgotos. Nestas condi- Ges, as algas verdes nao encontram ambiente favordvel, ou servem de alimento a outros organismos, como protozodrios, conduzindo ao desenvolvimento das cia- nobactérias, Entre os principais géneros, pode-se citar: Oscillatoria, Phormidium, Anacystis e Anabaena. Outros tipos que podem ser encontrados siio as algas dos filos Euglenophyta, Bacyllariophyta e Chrysophyta (Kénig, 2000; Mara et al, 1992). As espécies predo- minantes variam de local para local, ¢, ainda, com a posigdo na série de lagoas (lagoas facultativas e lagoas de maturagao). As algas fazem a fotossintese durante as horas do dia sujeitas & radiagaio lumino- sa. Neste periodo, elas produzem a matéria organica necesséria para sua sobrevivén- cia, convertendo a energia luminosa em energia quimica condensada na forma de alimento, Durante as 24 horas do dia elas respiram, oxidando a matéria organica produzida, e liberando a energia para crescimento, reprodugio, locomogio e outros. O balango entre produgao (fotossfntese) e consumo (respiragiio) de oxigénio favore- ce amplamente o primeiro. De fato, as algas podem produzir cerca de 15 vezes mais oxigénio do que consomem (Abdel-Razik, 1991), conduzindo a um saldo positivo no sistema. Devido a necessidade de energia luminosa, a maior quantidade de algas situa-se proximo a superficie da lagoa, local de alta produgdio de oxigénio. A medida em que se aprofunda na lagoa, a energia luminosa diminui, reduzindo, em decorréncia, a concentraciio de algas. Na camada superficial, a menos de 50 cm, situa-se a faixa de maior intensidade luminosa, com o restante da lagoa praticamente escura. Ha um ponto ao longo da profundidade da lagoa em que a produgao de oxigénio pelas algas se iguala ao consumo de oxigénio pelas préprias algas e pelos microrga- nismos decompositores. Este ponto é denominado de oxipausa (ver Figura 2.3 Lagoas facultativas 23

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