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VANIA LOMONACO BASTOS PARA ENTENDER A ECONOMIA CAPITALISTA Nogées Introdutérias 2*EDIGAO Fu FORENSE UNIVERS!TARIA Rio de Janeiro Cig nunteo VOr 2! Edigho — 1991 © Copyright Vania Loménaco Bastos CIP-Brasil. Catalogacio-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. Bastos, Vania Loménaco B33Ip Para entender a economia capitalista: nogdes introdutérias / Vania Loménaco Bastos. — Rio de Janeiro: Forense Universitéri 1991. 1. Economia. 2. Capitalismo. I7 Titulo. CDD — 330.1 330.122 = CDU — 330.1 89.0043 330.14 Proibida a reprodugao total ou parcial, bem como a reprodusdo de apostiles a partir deste livro, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrénico ou mecinico, inclusive através de processos xerograficos, de fotocépia ¢ de gravacao, sem permissio expresa do Editor. (Lei n* 5.988. de 14 de dezembro de 1973.) ISBN 85-218-0003-7 Reservados os direitos de propricdade desta edisio pela EDITORA FORENSE UNIVERSITARIA LTDA. Rua Visconde Silva, 32 — 22271 — Rio de Janeiro — RI Largo de Sav Francisco, 20 — 01005 — Sio Paulo sp *“Impresso no Brasil Printed in Brazil vignauncady cor Apresentagao SUMARIO. Algumas Considcragées Metodolégicas Leituras Adicionais . Nogées sobre 0 Modo de Produciio Capitalista ... 1. O Trabalho Humano ¢ a Geragio do Excedente 2. Caracterfsticas do Modo de Produgiio Capitalista . 3. A Destinagaio do Excedente Leituras Adicionais Origens do Capitalismo .. 1. Surgimento ¢ Evolugiio do Capitalismo na Europa Ocidental 2. Uma Visio do Surgimento do Capitalismo no Brasil .. Apéndice A: A Concepsiio Materialista da Histéria Leituras Adicionais Repartigio do Produto na Economia Capitali . Alguns Aspectos Basicos . . As Condigdes da Produgio A Determinagiio dos Salarios A Taxa de Lucro e a Distribuicgao do Excedente . Comentérios Apéndice B: A Determinagdo da Taxa de Lucro c dos Pregos de Produgdo Leituras Adicionais ........+0see esse eect eee e eect ene VrRune> vignmanzaug CU rv v. vi. Os Pregos no Mercado . 1. Conceituagiio c Estruturas de Mercado . 2. Os Pregos nos Mercados Concorrenciais 3. Os Precos nos Mercados Nio-Concorrenci 4, Estruturas de Mercado ¢ Poder .......-+---+ Apéndice C: A Elasticidade — Prego da Demanda . Leituras Adicionais As Duas Faces do Capitalismo ...... +++ Sgpeseceeeoococ Leituras Adicionais ... vignauncuuy vr APRESENTACAO Este livro é resultante da nossa experiéncia, na Universidade de Brasilia, com a disciplina “Introdugao 4 Economia”. Durante varios anos. enfrentamos, com um ‘pequeno grupo de colegas, 0 desafio de definir um programa que despertasse, ou estimulasse, © interesse dos alunos pelo estudo da Economia, permitindo-lhes pensar criticamente sobre os problemas econdmicos basicos da sociedade em que vivem. O primeiro passo nesse sentido consistiu em escolher a abor- dagem te6rica a ser adotada. A opcio feita, dentro da tradigao cléssica, que enfatiza os conflitos € contradigées dos sistemas, foi determinada, obviamente, pela nossa visio do mundo e pelas nos- sas convicgdes sobre os fendmenos que devem ser destacados para uma andlise do mundo real. A partir daf, procuramos definir os temas a serem apresentadgs ¢ os conceitos tedricos imprescindiveis ‘i sua compreensao. A escolha dos temas foi determinada pela realidade econémica brasileira ¢ seus principais problemas. ‘Antes de iniciar a anélise de questdes diretamente relaciona- das a problematica da economia brasileira, porém, era necessdrio fornecer aos estudantes nodes fundamentais sobre o funciona- ma capitalista ¢ suas principais caracteristicas. De- ‘com um novo desafio: encontrar uma biblio- mento do siste! frontamo-nos, entao, VIL vignancauy con grafia adequada a leitores iniciantes, dentro da abordagem pro- posta e que contemplasse também a realidade brasileira. As difi- culdades encontradas estimularam a. elaboraco dos textos aqui reunidos, que foram escritos com 0 objetivo de introduzir o leitor no estudo critico do sistema capitalista. £ importante enfatizar o cardter duplamente introdutério desses textos. Em primeiro lugar, porque nao pretendem fratar exaustivamente as questdes apresentadas, uma vez que O objetivo é apenas introduzir nogées ¢ conceitos elementares. Para 0 leitor interessado em aprofundar o estudo, procuramos organizar, ao final de cada capitulo, uma lista de leituras adicionais, de dife- rentes autores, sobre os tépicos e conceitos abordados. Em segundo lugar, porque seu objetivo é fornecer ao leitor uma estrutura te6- rica basica como introdugao ao estudo da realidade econdémica atual, principalmente do nosso Pais. A organizagao dos textos aqui reunidos baseou-se nesses ob- jetivos, levando em consideracdo, ainda, as limitagdes impostas a uma disciplina introdutéria, em que a durag&o, em termos de horas de aula, e a abrangéncia dos temas tratados impedem um estudo detalhado e impdem a simplificagao no. tratamento de varios assuntos. No primeiro capitulo, procuramos situar o leitor quanto & abordagem por nés adotada, destacando que se trata de uma forma especifica — e nao tinica — de “ver” e interpretar a ques- tao econémica. O segundo capitulo é dedicado a caracterizagado do capitalismo. O terceiro capitulo busca apresentar as origens do capitalismo e sua penetragao no Brasil. No capitulo quarto € apresentado um modelo teérico bastante simplificado que per- mite examinar a repartigao da renda no capitalismo. O funciona- mento do mercado capitalista € estudado no capitulo quinto. Fi- nalmente, o capitulo sexto procura questionar o sistema capita- lista, criticando alguns aspectos do seu funcionamento. E interessante destacar que, embora tendo sido concebidos inicialmente para a disciplina “‘Introdugdo & Economia”, os textos reunidos neste volume vém sendo utilizados também em cursos de extensdo, dirigidos para um ptblico nao-universitario. A expe- VIII vignauncuuy vor riéncia com sua utilizagio, dentro e fora da Universidade, as difi- culdades encontradas pelos leitores ¢ as questdes levantadas du- rante as aulas e discussdes levaram a varias alteragdes nas pri- meiras versdes, Para a elaboraciio da versio final, aqui apresentada, conta- mos com a valiosa contribuigdo de alguns colegas do Departamen- to de Economia da Universidade de Brasilia, que se dispuseram a ler e criticar as versdes preliminares. Particularmente inestimé- veis foram as contribuigées da professora Maria de Lourdes R. Mollo e do professor Joaquim Pinto de Andrade. Finalmente, gos- taria de destacar que a concepgio geral dos textos ¢ resultante de uma atividade desenvolvida conjuntamente com a professora Maria Luiza Falco Silva, com a qual venho trabalhando hé vérios anos na estrutura do programa para a disciplina “Introdugdo a Eco- nomia”. Sem a sua colaboragio ¢ apoio, certamente esse projeto Nao se teria concretizado. Brasflia, novembro de 1988 vignauncauuy cor ALGUMAS CONSIDERAGOES METODOLOGICAS Este livro se dirige aqueles que, por qualquer raziio, estio interessados em entender melhor o funcionamento das economias modernas e seus problemas. Conhecer_um pouco de Economia tornou-se quase uma necessidade nos nossos dias, pois as questSes econémicas invadem a cada momento a vida do cidadio comum seja através da sua atividade profissional, politica, social, ou mes- mo enquanto consumidor de bens e servicos adquiridos no mer- cado. Muitos termos econémicos fazem parte, hoje, do vocabulério popular, cmbora freqiientemente sem precisio conceitual ou com significados diferentes do que Ihe dé o economista. © conhecimento sobre a economia proporcionado_pelas_ex- periéncias vividas tende, porém, a permanecer no nivel aparente. Nosso objetivo € fornecer um quadro tedrico, ainda que introduté- tio ¢ preliminar, que permita uma andlise da realidade econdmica. Nesse sentido, este livro pretende ser uma iniciagGo ao es- \\ tudo das economias capitalistas, que estimule a pensar criticamen- te € a questionar as sociedades contempordneas. ere Antes de mais nada, contudo, achamos essencial fazer algu- mas consideragGes metodoldégicas ¢ dar as linhas gerais da aborda- gem que adotaremos. Comegaremos, entdo, pelo conceito de teoria. As teorias sao construgdes légicas que se propdem explicar, interpretar ou elu- cidar fenémenos ou acontecimentos do mundo real. Ao iniciar seu estudo, o tedrico parte de determinadas suposigées pelas quais antecipa o conhecimento. Sao as hipdteses que poderdo ser ou nao confirmadas posteriormente, e que so admitidas de modo provi- sério, Uma vez confirmadas, as hipéteses_tornam-se n-se_proposicgdes, Qu teoremas, que séo o arcabouco das teorias. Uma_teoria econémica é constituida de um_conjunto de teo- remas abstratos) organizados logicamente para explicar aspectos da_sociedade relacionados com a prodigio material. Constitui, assim, uma aproximagao, e nao uma reprodugao, da realidade. Em- bora as teorias econémicas sejam baseadas em eventos, fatos e circunstancias sciais, nado sao simplesmente a soma de fatos e eventos, pois sdo constituidas de teoremas, derivados das hipdteses ou suposigdes iniciais. Essas suposig6es, que constituem o ponto de partida para a formulago das hipéteses,| dependem, minada visio do mundo, isto é, de_uma_perspectiva_global_de como a sociedade funciona. O economista faz determinadas supo- sigdes, formula as indagacées que considera felevantes, seleciona sua esfera de estudo, de acordo com sua visio do mundo. E essa visio pré-analftica, pré-cognitiva, est fundamentada numa_ideo- logia. O termo ideologia tem sido usado com significados diversos Por varios autores, Marx, por exemplo, usou-o com uma conotagio, critica, referindo-se & consciéncia deformada da realidade adotada pela classe dominante ¢ de acordo com seus interesses. O termo ganhou, posteriormente, outros sentidos e hoje é mais amplamente empregado para significar um conjunto de valores, idéias, repre- sentagdes ¢ crencas sobre a sociedade. 2) vignmancauy vr Embora nio constituindo um sistema coerente de pensamen- to, as ideologias fundamentam as formas de pensar, ou pontos de vista, vinculados aos interesses de grupos ou classes sociais, cons- tituindo uma estrutura dentro da qual os individuos entendem a sociedade ¢ nela participam. Dentro de uma sociedade coexistem ideologias diferentes, mas, em geral, encontra-se_uma_ideologia_ dominante, que esté.de acordo com o status quo e, por isso mes- mo, € aprovada pelas classes dominantes. Ganhando reforgo atra- /\vés de instituigdes como as leis, a educagio e os meios de comu- | a as ideologias impregnam o. pensamento formal e se repro- luzem. Qs cientistas sociais, e, entre eles, os -economistas, tém, como todos os seres humanos, uma percepcao da realidade comprometi- _ Essa ideologia dia diregao da da com uma determinada ideolo; investigagao Gientifica, através das suposigdes ini a atividade cognitiva. Assim, todas as teorias econémicas_tém uma forte fundamentagao ideolégica, 20 lado do elemento cognitivo ou ‘cientifico, Ideologias diferentes dao origem a teorias econémicas distin- tas, que interpretam de forma diversa alidade social. Por essa razdo, néo podemos falar da Ciéncia Econémica como sendo cons- titufda’ de uma nica interpretagio da realidade econdmica. Te- mos, de fato, diferentes interpretagdes, ou seja, diferentes teorias que no partilham de uma mesma visio do mundo. Assim, é comum falar-se em diferentes abordagens, ou concepgées, dentro da Ciéncia Econémica2 Cada abordagem, por sua vez, implica em critérios para a escolha de problemas que, considerados como 1 Essas abordagens, ou concepsdes, so, freqtientemente, denominadas pa- radigmas. O termo paradigma, contudo, embora amplamente utilizado, apre- senta problemas conceituais ¢ por essa raziio procuramos evité-lo, Na obra de Kuhn, através da qual o termo se popularizou, € empregado em diferen- tes sentidos, o que o prdéprio autor reconheceu no Posficio de 1969, a0 responder a seus criticos. Ver Kuhn, T. S., 1976. w vignauncagg vor dotados de solugdo possivel, serao objetos: de estudos da comuni- dade cientifica, Certamente, para aqueles que dio os primeiros passos nos estudos econémicos, é bastante dificil, se nao impossivel, captar com exatiddo as principais diferengas entre todas essas aborda- gens. Podemos, para situar o leitor, e de modo bastante amplo © geral, distinguir dois” grupos”de’teoriaseconémicas. No primeiro, grupo esté o chamado paradigma neocldssico que, partindo da ) de_uma sociedade em harmonia, composta de individuos, que _agem | racionalmente, de_ -acordo seus interesses, centra suas Preocupagées no funcionamento do mercado ¢ na alocagio efi- ciente de recursos, No segundo grupo esto as teorias que partem da visio de> ) uma_realidade_econémica_em_que_interagem.classes sociais com interesses divergentes: Sao a teoria classica e outras que seguem a mesma tradi¢ao — marxista, neo-ricardiana, pés-Keynesiana — : € que, embora apresentando diferengas significativas, ttm em_co- mum_o fato de focalizarem como questées centrais da economia a reprodugao e a acumulagio do capital. ” As consideragdes acima séo importantes para ressaltar que © quadro teérico através do qual pretendemos analisar o funciona- mento da economia capitalista nao € 0 unico possivel. Na verdade, os livros destinados a cursos introdutérios convencionais geral- mente apresentam outra viséo € esto preocupados com questdes diferentes daquelas que procuraremos abordar. Obviamente, nossa op¢ao foi determinada por nossas convic- gGes a respeito de quais so os aspectos e as varidveis fundamen- tais a serem contemplados quando se trata de analisar_a realidade das economias capitalistas. Assim, € importante delinear, desde © inicio, alguns | Pressupostos| presentes nas paginas que se seguem. Em primeiro lugar, partimos da idéia de historicidade do ca- Pitalismo. Esse modo de producao nao existiu sempre: trata-se de uma forma especifica de organizag3o da produgo material, com relagdes e instituigdes sociais prdprias, diferentes daquelas que 4 viynuncaac oor ex tiram em sociedades que o antecederam, Por essa razio, ini- ciamos_nosso_estudo com a comparagio do capitalismo com sis- temas anteriores, Acreditamos, também, que o capitalismo, apesar_ das transformagées sofridas ao longo da sua histéria, mantém ca- racteristicas basicas distintas, que procuraremos destacar. E mais: nosso interesse pelo passado nao é apenas para entender o pre- sente. Estamos interessados nfo apenas nas questdes atuais como clas sio, mas também no seu Processo de transformagio, na sua evolugiio e nas mudangas que estdo ocorrendo ¢ que podem ainda | ocorrer, Em segundo lugar, a realidade econémica que pretendemos 2 investigar abrange © aspecto fisico — relacionado com a produ- ¢o material — £0 aspecto social, no sentido mais amplo, abran- _gendo © conjunto das relagdes soci Assim, procuraremos, em nosso estudo, dar uma visio do sistema capitalista que possibilite | \ | | pensar no apenas sobre a produgiio material mas também_sobre \ © funcionamento da sociedade como um todo ¢ questioné-la. : Em terceiro lugar, nossa visio do capitalismo corresponde a = | istema social cujas bases sio os conflitos, e em que o conflito | entre classes assume importincia primordial no funcionamento ¢ | evoluciio do mesmo. A existéncia de classes com interesses dife- | rentes e conflitantes é, portanto, um aspecto que _procuraremos enfatizar em nossa anilise. Finalmente, cabe destacar a_énfase_conferida ao longo do livro, ao conceito de excedente, sua geraciio no_processo_produtivo e sua distribuicdo, E através da produgao c distribuigéo do exce- “dente que procuraremos analisar o funcionamento do capitalismo, seus problemas ¢ tendéncias. ( Obviamente, nao é nossa intencdo proceder a uma andlise exaustiva do capitalismo e discutir todos os seus problemas. Este livro tem um cardter introdutério ¢, como tal, pretende apenas apresentar elementos que possam contribuir para uma visio critica da realidade atual. vignauncauuy vor LEITURAS ADICIONAIS Sobre a questio da ideologia, algumas leituras acessiveis aos leitores no familiarizados com o tema, sio: Lowy, M. Ideologia e Ciéncias Sociais. So Paulo, Cortez, 1985; Robinson, J. Ciéncia e Moralidade. In: Liber- dade e necessidade, Rio de Janeiro, Zahar, 1971. Com um grau maior de complexidade, constitui uma excelente leitura o ensaio de: Meck, R. L. Economia ¢ Ideologia. In: Economia e ideologia. Rio de Janeiro, Zahar, 1971. O livro de E. H. Carr, Que é Histdria, Rio de Janciro, Paz ¢ Tetra, 1987, contém uma discussio da metodologia na Histéria, grande parte da qual é aplicdvel A Economia. Uma obra muito til, mas nao traduzida para o portugués, ¢ P. M. Lichtenstein, An Introduction to post-keynesian and Marxian theories of value and price, London, Macmillan, 1985. Os dois primeiros capitulos, mais diretamente relacionados com o nosso tema, so bastante acessiveis, No que se refere & questéo dos paradigmas, vale a pena ler T. S. Kuhn, A estrutura das revolugdes cientificas, Sio Paulo, Perspectiva, 1976. vigmauncauuy cor

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