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Introdugao igas metilicas € 0 sagsiatore | ensaiador] the assayer):a palavra que agradou a ‘mos is apalpadelas como o luthierque bate delicaadamen som os lino: uma imagem que Marc Bloch do torno, para sublitharo inextir ( 1. Histori } festa algum desconfoxto dian:e do cendrio intelectual reinante considera, quzse sempre, como certo que retéricé e prova se ex- cluem reciprocamente Neste livro procuro mostiar: no entante,~ cepsio do modo e proceder dos historiadores, inclusive os con- temperaneos, muito mais ralista ecomplecado quea cue esti hoje | em voga. 2-Astesescépticas baseadas nareducdo de hisoringrafia’ sua dimenséo natrativa cu ret6rica circulam, j4 h4 alguns decénios, ainda queas suas raizes sejam, como sever, mais antigas. Como de 2 aa B costume, as teoric ‘ori 3 ° 08 da hisoriograia que ai prepoem poco se 4 rior, aodireito do mais fortel(e, mais feqiientemente, uma combi- Preocupam com o trabalho concrete doshistoriadores. tes, } i ago deambos). Hoje, num tempo nequalacenvivéncia,nao raro conflitaosa, entre as diversas setransferia para asmetr6po- 4 ou retérica em voga, se mosttam bem pouce. jure-se cada vez mais a airmagaode que os principios morais inclinedosa refetir sobre asimplicasdes tebricas da sca profissio. cogmion darducitirnte eee [@s enteadis an (do. Esaatitude que emteora, devera deemtocarnumatcleriy- ogra ' Parece-meque: sério adesafio <éPtico, procurando expressar © ponto ce vista de quem trabalha \ com o: documentes, no sentido mais amplodo termo.Asolucaq \ Dranda (nas intencSes masnem sempre nasconseqiéncias) #a que proponho transfere para o Amago da pesquisa as tensdes ent outra feroz. Essas posigdes t&o distantes politicamente, se rao arragio € documentagao. Mas nic é meu intuito por de acordo | totalmente opostas tém uma ra im tericos e historiadorese, p-ovavelrrente, de:contentérei ¢ todos, t \ ret6rica nao apen: Aprimein vita esestemas diem repo apenssac peice | Racca ee No circulo de est aistoriadores, filésofos e estudiosos de ma, lenga uma luz nesper: Fe as discusides hodiernes acerca metogologia da historia. Mas ¢ umaaparénca enganosa, Como se das relagdes entre as 8. vverd, adiscussto scbre his task a a(Nietzsch3falou, com admiragio, de Ticid des muitas vezes; a existénciade costumese valores diversosdosnosws paré= io Tez mengdo 10 “terrivel” didlogo entre os atenienses ato obrigatGriojaceité-los sempre dequalque- manei- ceamui € 08 nilins.‘ 0 episodio ébem coahecido.Durantea Guerra do Pelosoneso,travacla entre Zsparta eAtenas eos respectivosalicdos, adotar uma atitude pragmética, decidindo caso por caso: véu isla- ‘os hubitantes da iha de Mil mico fibulacao sao coises bem diferentes.Mas até o véu islat co, como se viu ha tlguns anos em Franga (ecomo se vé hoje, com consecténcias bem mais trigicas, na Argélia),levanta questdes de 10 que no ¢ possivd ‘gnra{ Temowo direito de impor as nto col6nia espartana, tentaram, num primeiro momento, se manter neutros; depeis, diant: das impasigdes dos atenienses, se rebdaram. Aresposta de Atemis foi cruenta:¢m.416,9s homens de Milo forammortos ¢as rlangasescravindas? Do ponto de vista palitcg e militar tatowr_ se de um evento de paiucs importinciaTucidides}cecidiu dar-Ihe umgrande relevo: o brevissimo relato da piinigao dos méliosé pre- cedido por um longo dislogo que ocupa os capitulos 8: livto v da obra. Aos representartes dos ‘nélios que invocam as _ razhes da justica, 0s representartes dos stenienses opder com, ieza, as razces do poder Por alguns séculos uma resposta afirmativa pergunta, | por pate dos paises europeus empenhados 1a expansao :olonial, | ainda que a jus:ificative variasse: dé relagio implacivel 4 5 {..] deveis saber, 1o quanto nés, que o. nas discussbes entre ‘os homens, 16 prevalece quando os interesses de ambos os lades si0 compativeis, ¢ que os fortes exercemo. tem, (v.89) "re os fracos se subme. ‘Os mélios declaram cenfizr na protecto dos deuses, aos cuais sempre honraram, ¢ dos espartancs, dos quis so aliados. Ninguém os protegera, a:gumentam os atenienses| Todes homens deuses — devem sujeitar-se a necessidade natural gue Romans edeuses — 4 Jeva quem tem 9 podera exercé-Io, sempre e como pode essa Em nosso caso, portanta, nao impusemos est meiros aapl car os seus preceitos; encont: rard para serapre depois de n5s;pomo,; sidos de que vés ¢ os outros, se detentores da mesma forga nossa, agirleis da rresma forma” (v, 105) ioniso de Halicar= ia do dialogo entre ses € mélios, ele no podia t nem indiretos. Aos olhos de Dioniso do dialogo. Jamais, por exemplo, os atenienses pode- riam dirigir-se a outros gregos de mareii fazer mencao A justica. Desse modes Tuci lides yioi: estabelecidos por ele mesmo, para jt ira inclusao de ciscursos id Sus prOpria adza (1, 22). Dioniso suds que Tusidides estivesse escrevendo movido por ressentimentocontra a cidade que o exila~ ra, Uma outra cbservagao a qual Dioniso retorna duas vezes, trario, ao Amago da estratura do diilogo: enquanto ses se referema discursosalheios,oquese seguetem, uma forma dramtica* 6 Vejamos entio 6 inicio do didlogo, Os atenienses declaram, que 0s mélioshaviam solicitado que o encontro naose desenrolas- sediante da assemblé: (oJ garaevi queam: ra se deixe levar pelo feito deur disaxr- uido, ouvindo rapidamente argu nentos sedutoressem poder replicar*(v.85) Sustentou-se que essas palavras descreviam a maneira pela qual 0 coléquio rerdadeiramense se desentolou: uma interpreta- ‘Glo que, a meu ver, ceve ser exclulda."* 2 mais razcdve, supor que elas oferegam a chavs para aleitura do que se seguiré. 0 “discurso ir‘semn be as frases” (v, 89), sem diss mulaczo 04 preocupa- Ses de consens, coisas que, noTmaliente, devam permanecer Wiazsche }queadmirava em Tucidides o mestredo realismo, imune zsesct(pulos moralistas, dava provavelment? comocerto que ele comp: asse das teses formuladas pels atenienses."" |4 houve quem, referindo-se a Nietzsche, sustentasse que Tucidides. nao podia deixar de reconhecer a superioridade dos argumentos dos aterienses,:endo em vista que o cursodosacentecimentos lhes havia dado razio." Essa conchisio é discutivel, por dois motives. Por um lado, nio ve demonstrou que Tucidides identific: som éxito. Por out: riu mesmo aos atenienses. Aqui se insere a questa debatica, da data de composiyio da obra de Tucdices. A arneaca~ 0 + 99) situatia a elaboraddo do talvex, a maior parte éa obra, aps 404(Tud lesjeria queridomos a, que 05 oligarcss Fesentam,no inicio do didlogo,como uma arte para seduzir“s maioria” com a-gurnentos atraentes?fala- ciosos, era muito provavelmente compartilhada por Tuct foriemente critico no que diz respeito aderrocracia ateniense."* 4. Os argumentos propostos pelos atenienses na discuss les, um dos interlocutoresdo Gérgias, qu <> escrever pouco depois ce 367. Tal semelaanca tem sido geraliien te reduzida a um elemento exterior ao texte: as idéias de Célicles auesno entanto, nos sdoconhecidas apenas por meiods Gorgias Serd mais prudente limitar-se a um confior tos 0. didlogo entre os aienienses ¢ 05 mélios eo didlogo platonico, Comp severd, esse confronte nos leva denovs «Nietasche—, _Pouco depois do in'cioSacrates faz um pedido-woretcrice org: 3a5}"Dé-meentéo uma provadéssa tua habilidade de respon- der ein poucas palavras;da tua habilidadede fizerlongos discursos ¢, depois, me dards a prova uma outra ves"” Aqui também, como em Tucidides, os discursos deve dar lugar ans discursos concisos, baseados por urr lado na alternancia de _Pergur tas ¢ respostas (44Sc) e, pot outro, 2a gpntestacao." Depois de ter cbse-vado que rebater uma tese ndosigrifica langar um ata~ que pessoa. contra quem aproz6s,Gécratese-lara ser um daque- des que,a centestar,preferen ser contestados (58a): uma elegante antecipagao da tese provacadora, apresentada pouco depois, segundo a qual é sp ela.” Gor t | ' ' i \ gias & convidado a aceitar estas regras; docontritio, diz Socrates, melhor interromperlogo. De forma cndloga, antes de niciar a dis cussto com Pola, Sécrates adverte:“Como faziamos eu e Gérgias, rebate e deika rebater, em parte interrogando e, em parte, aceitan- doser interrogado” (46a), No uso co didlogt (Socrates YNenuncia a rebriaa como uma arte“er-ganadora” (465b), ccmpirando-aa outras edu Tagao” comp a sofistica,a cosmética =a cozinba (463). Elas soa “Imagem de‘ormadadafustica, dlegislagiod(gindsticae dmedi- tes ligadasao corps. A luz dessa clissificagao, @ jas parecetota mente coerente.* Asartes di a—pe'tencemaum Ambito Unico, ¢ da alma: a primeira como dasegunda, ‘terceira na qualidade de ar‘e mais geral,a qual ircluiambas (junto com a legisacdo e asua versio defornada, a sofistica’. (GocraresSastenta que ¢ mdhor softer injusiiga do que fazé-la ¢ Pélo acaba por Ihe dar ravaolCaliclesiintervém indignado, cor~ trapondo natureza a Lei [..] seguncoa natureza, zomefeita, é mais feio doo queétambém por exemplo. Segundo a ei, pelo (483a) pior, softer um: rio, é fizera Suportar agravos naoé coisa de ho! . mais namerosos, fazem.as s interesses, Sendo inferiores, legisladores, que sio os mais fracose leis preocapados com os prép ficam bem contertes de serery iguais. Essa Tada sarcistica a a entender que Calicles, mesmo tentando agradar 4 todo custo ao povo de Atenas (coisa que Ihe atrai as censures de Sécrates), tem idéias mutto apartadas das democrat 9 ‘Masparece-me ue préprianatureza mostra que éjusto que quen quem é mais poderos> tenha mais do que quem é menos poderoso. A introdugao dz idéia de justiga no ambito da natureza anun- ee Sarto da natureza 1a formulada pelos atenienses no Essa semelhanga toma-se, como jé foi nota- cia uma argumen dialogocem os mé i (ou “convengao”) para asse- io dos mais fortes sobre os mais fracos é como ji im expressado os atenienses em pdémica com os melios, (Tucidides v, 105): ‘Mas eu penso queeles fazem essas coi ral, também, por Zeus, com base na Lei {Plaid obra d€Tacidide® Sobre esta hipotese.d chegaido-se em gerala ima conclusio nega! Segundo alguns intérpretes, mesmo a conve:génci scom base no direito natu. J."(483e) tia apenas que tanto Tucidides quanto Platio costumzvam reagi as idéias qu? circulavan entao em Atenas, nos Sados pelos solistas. Mas a afirmagio dg Cilicles,¥e weintegrada a contexto, sugere uma relacao direta com texto de ‘Aucidides: > Mas parece-me ques propria natureza mostra que éjusto que quem melhor tenha mais do que quzm é pior, equem é mais poderoso tenha maisdo que quem é menos poderoso. Eelanosdemonstraque assim em muitos e808, no que diz respeito aos homers, em todas 48 cidades ¢ em todas as familias. também entre os outros animais; demonsira que o justo se ‘mais frazo eacaba por ter mais do queeele. 20 Com eftito, qual foiod aguerra contra aGrécia 02 0 su pai contr os citas?E possivel nvo- ‘ar indmerosoutros exemplo: desse gener! (Gérgias,83e-A8ta) ‘de que se valeu Xerxesaoempreender 1a parte da propagarda antiateniense.” Essa hipdtesc é reforgada pelas palavras jé citadas, e que se seguem imediatamente, sobre a ‘ei da natureza” coro aei do mais fort, Flas sd0 comentadas em termos que,ainda uma vez, ccountfuetides) [...]com basena lei, mas ada natureza,e rilo, com certeza,com base rna que venhaa ser estabelscida por nés. (Gérgias, 4832) pr: pésito da naturezas a:al ponto que tanto osateniensesquantc Caii- cles sentem a necessidade d> precisa im, mas nao feita por 16s”, O Girgias foi escrito Foucos anos apés o fim ca Guerra do Peloponeso. Como Tucidides, e num espirito ainda mais explicita~ menteantidemocratico,Qlatiotentou entender comese havia che- gado ao desastre.” Na conclasao de uma verdadeira crenga con‘ra a democracia ateniense, Sécrates exclama, dirigindo-se a Calicles: “tume forgastea fala: comoumverdadeiro demagogo” (5192).£40 Palavras cue retomam, em tom de desafio jocoso, a censuta que, iormente, Célcles the fizera por expressar-se “como um auténtico demagogc” (482c).”” Mas essa ficeta retaliagao tem um undo sér-0{40 0s fi6sofos endo 0s ret6vicos, que a politica} Greio estar entre os poucos atenienses’ exclamade a forma incitanteKcrate} “que ecamin ma arte da verdadeiza pol a € talvez seja 0 Unico, entre 9s contempordneos, que a exerce’ Nos politicos atenienses, e em Péric es em particular, Platao via os verdadsiros responsaveis pela derreta sofrida por Ate- nas. Q staque conta aretérice larcado no Gergias nase lima € comuma dura 20 antidemocrat ca 5. Podemos imaginar a emogao do jovem fildlogs} Nietzsche) ao ler 0 Sérgias pela primeira vez.”* O dominio co mais forte sobre omais fracodeterminaco por umalei danatureza qual obedecemn wos, novos ¢ Sstaddos;a morale o direito como projegees dos interesses de uma maioria de fracos;a submiss3c 3 injustica defini- refletir todaa sua vida, encontrandoa moral para escravos no cris- ayn pened Qarvin fal lou Niewscte a ele préprio. No entanto, Nietzsche nunca 0 citou, salvo uma iinica referéncia nas ligdes de Basiléiasobre Platio, nto destinadas & publica;ao.” Mas, ra fanosa passagem sobre “omag- nifico animal louroem busca de presa e vitoria” (Genealogia da ‘moral, 1, 11), Nietzsche implicitamente prestou homenagem a les,quehavia felado dos pequenos ledes que a sociedade nao consegue domar*{A altivez de ragac dasidéias de Calicles foram, para Nietaschz Jum ponte dechegade. No seu primeiro livro, O nase meh socialismo,” 2ouco deposs, Nietziche, indiretamente, deu seciién- cia & polémica com Sécrates, a0 “ea deva dizer, sem demora, que se tratava de ama ri liar a ret6rica, ainda que se 2 no diversa daquela que fora teorizada (¢, em perte pr a a (0 da democracia atenienise, Da retérica, dissera Sécrates deve sempré fazer uso visando A justiga a dé", Nietzsche Buscou na ret6 ment para refletir‘sobrea verdade eameatira em sentido exicamoral” Este 60 titulo de um breve ensaio inacabado, nascido de um ambi- cioso projeto concebidono cabo. Num certomomeato sofo. Consideracées sobrea luta entreartee conhecimento (1872 Essas paginas, publicadas postumannen:e (Uber Wahrheit und Liige [Acerca da verdade e da mentira), 1902), abrer-se com uma bre- vissima fabula: fal do Gorgias (527¢) “se como de qualcuer zsche pensouem intitul Era umavez,num Angulo remoto do universo ¢ muito alémdosinfi- nitos sistemas solares, um planeta sobre 0 qual alguns animais inte- igentes descobriramo conhecimenta. Foi instante mais arrogan- teemait mentiraso ¢a“hist6ria do mando”, mas tudo isso durou sé ‘um minuto. Apés algumas poucas pusagdes da natureza,c planeta esfriou 2 endureceue os animaisiiteligentes, aos poucos, foram morrendo. | cer a verdade, além de ser efémera,¢ também ilussria. Ele ters as suas raizes na regularidede da inguagem, mas, naspelavras,aver- dade nunca tem impastancia nem mesmo uma expressio : nas que foran reforcadas, a derelagdeshuma- cuais se esqueceu jatureza evasiva sic metéforas que se exgarca- ram e perderam toda foma sensive, so moedis cujas imagens se @pagaram ¢ s20 levadas em consideragao apenas como meta e nia mais como moedas. nvéma uma multidao, num es lle verbindlichen Stie 2 por aflorar também cesenvelveu a Para remover um preconceito antropocént imho percebem o mundo de forma dver- -se qual entre esas percepybes do mundo €a mais correta € uma questao sem sentido porjueremetea crité- rios inexistentes: opal sadohomem, pergu comefeto, entre us esferat absolutamente diversas,como 0 dio, nenauma expressio mas, no naximo, uma relagao & © impulso fundamental do homem, o ¢e criar me:aforas, encontrao seu proprio épice negniig.e 3a arte, O escopo da cultu. 1€ odominio da arte so>re avida, como ocorreu na Grécie antiga. (© que é entao a verdade? Um exército mobil de metaforas, metoni- ‘mis antropomorfisrios,em resumno:uma surna de relagdes huma- ras que foram reforcadas postica¢retoricamente, que foram deslo- «cadas ¢ embelezadas ¢ que, apés um longo uso,parecema am dado ovo, 6ldas,candnicas evinculavorias[ Nos iltinos decénios, essa pasiagem acabou por se transfor- acuele que, pela primeira vez, enfrentov"a tare'a filosoficade uma reflexio radical sobre a linguagem”™ Mas essa paradoxal fortune postuma acabou por obscurecer o sentido glotal do ensaio Acerca de verdade eda mentira,do qual taisfrases foram tiradas. As idias que estdo no centro daquelas paginas inacabadas — ite Doéticae que toda palavra lerivam de um livro de Gustav ~ 871— iz0u repetidamente, com freqiléncia a letra, nas es universitérias sobrea retbr:ca.” Mas Nietzsché> apresentou essasidéias centro da moldara de um conte ph'losophi- _gue,* A fabuia de abertura parece escrita no espirito das Operetta ‘mora (historietas morsis] de (Giacomo] Leopardi [1798-1837], uum autor pelo qual Nietzsche, naqueleverio de 1873, tinha parti- que Nietasche svas prépri 25 Cular interesse."'A descoberta do conhecimento _ s escobert Por pirte do gine- ro humano inscreve-se numa perspectiva siiicae €zssim ricicu- larizada. O in principio (no inicio} de Nietzsche sou CONG THE Parddia do primeico capitalo do Génesis. Essa interpretagio é:on- firmada pela tinica passagem na qual, num livro destinade & publi- ca¢ao, Nietzsche aludia a Acerca da verdade eda ‘mentira, No prefa- cio.ao segundo volume de Human, demasiado humao, de tratou do fato de terse sepa-ada da filasafia déSchapenhauel a0 qual dedicara a terceiradas Coasideragdes inactuais, A revizavclta havia sido antecipada num enszio “mantido em segred>” sobrea verda- de ea mentira, escrito noauge de uma crise de cepticismo moral queo havia compromet a quan veo havia ito“ na critica quanionnoaprofanda— observou Nietzsche, “2u rao screditava mais em nadi, como diz 0 povo—nem em Schopenhauer" A irdnica referencia aoponto de vista do povo parece pouso apropriada a uma rdlexio céptiza de Griter abstrato ¢ especulative, Acs olhos do povoque™na acedi- ta maisem nada’afasiou-se ca religid Deus ais endo cré mais em 7.“Nascido na casa de um pastor’, disseNietzschey respeito. de si mesmo, numa ce suas numerosas notas autobiogrifices." Filho de um pastor, neto (por arte de ambos os genitores) de pastores protestantes, por sua ver, na traducao de Lutero, que pertencera ao pai, morte quando Friedrich tinha cinco anos. O volume ainda existe: na pagina de rosto, Nietzsche escreveu o proprio nome e umadata, “novembro de 1858” Havia pouco temppoentrara na escola de Pforte. Aiestu- dou hebraico ¢ o Velho Testamento, mas semprecom um olho na filologia clissica: nurra nota daquele periodo, obser/ou que seria possivel estudar a Toré da forma comdF.A. Wolffhavia enfrentado sche es:avanaturalmente cestinado a tornar-se, stor. Entre os seus livros, havia o exemolar da Biblia 26 a questio homérica, atribuindc as varias partesa diversos autores. Em: Boan, onde, ne outono de 1864, seinscreveu na Faculdade de ‘Tecloga, Nietzsche seguiu, além de cursos de Histéria da Igreje e de Filo ogia Classica, as ligdes de“Constantin Sealotimaapsobreo. Evangelho de Sa0 Joao. Mas, poucos meses depois (janeiro de 1865), decidiu dedicar-se exclusivemente cos estudos filolégicos: ‘uma escolha que sua mae recebeu com desgosto e cesaprovacao." Num curr-culum vitae redigido em Leipzig alguns anos depois (1869), Nietzsche declerou que o seu antigo interesse pela teologia estava vinculado exclusivamente go “aspecto filolégico da critica. numa outra versio do mesme texto, pode-se ler uma declaraao mais intima, quase uma confissdo:“Na época eu imaginava ainda que a ristéria e a pescuisa histérica pudessem dac uma-resposta dicetaa certas questoes religiosase filosé‘icas’* Era com as per- guntas sobre Deus e o mundo que se concluia aautobiografia redi- gia stis anos antes." © Nietzsche de 25 anos parecia despedir-se ironicamente da sua propria adokescénciz, Mas era um desapego. cteiodeanbigi .de, A aula inaugural dada em Basiléia,em de 1869, terminava com uma’ confisséo de fé”—aexpressioésig- nificativa — que invertia orguhosamente a famesa frase de 'e2-se filosofia aquela que hevia sido filologia’.” A filolo- _gia clissica tomara o lugar daneotestamentéria como instrumen- tis, Mas, dai'a pouco, Nietzsche comegcu a trabalher num livro aheio eadverso,na forma em substancia,a filo o nascimento da tragédia (1872). A espostanao se fez esperar com o violentissimo opuisculo de Wilamowitz (Zukunfisphilolog “Bilologia do futuro!”) no qual Nietzsche era acusado de ignoran a, ce distorcao preconcebida das fontes e, no final, convidade trutalmentea mudar de profissao. Acontecimentos relevantes iam acompanhados de pesadas 1872. Nos meses fe ter comecado a tomar consciércia Raia: Slolozis scadémica e vecacio lo- ‘eparando 0 curso sobre a retérica, ele leue "ro Ge Gerber, Die Spracke als Kunst (A linguagem como 2ne!.€ se Ceparou com uma passagem na qual. insuficigncia de qualquer traducdo era mencionada com o fim de demonstrar a uagem.* Gerber remetia a famosa 2 Ge Goethe na qual Fausto compara diversas traducdes da versiculo do Evangetho de So Joto, Far- im Anfang war das Wort” [No principio erao Serbo. Gerber via na insatisfacdo de Fausto uma confirmacdo das roprias idéias:“ Mas Fausto sabe que en arthé én ho logosn30 spondeexatamente a ho principio era o verbo" Em Acerca da verdade eda mentira,a exist Serida numna argumientaceo destina- daa demonstrara fragiidade da chamada “citncia’ Talver Acerca daverdade e da mentiratenaa nascidotambém do impulso de res- ponder asobjecies filologicas de Wilamowitz, projetando-as num henizontefiloséfico. Mas o apelo de Gerber a Goethee ao iniciodo professor 1de Historia do Cristianismo) da Universidade de Sasiléia. Por alguns anos os dois habitaram na mesma casa. A pri- mera das ConsideracSes inactuais de Nietasche, dedicada a David Strauss, autorde uma famosissima Vida de Jesus,2 0 texto poléni: co de Overbeck Uber die Christlichkeit unserer heutigen Theologie a ce ee ee TF EA I Overbeck, cuja familiaridade com os textos de que estou tratando ‘esti fora de discussto,* {[Sobren carétercvistao da ncssateologia hodiernal aparecer: ‘mesmo ano juntc a Fritzsch,o editor de Wagner.”* Nietzsche dou encadernar ¢s dois trabalhos nums6 volume com uma de catoria em versosque os definia como “casal de gémeos provenien- tes da mesma casa’ filhos de dois pais ede uma nics mae: amizade.* E provavel que até 0 ensaio Acerca da verdade eda men- fira, que Nietzsche, com problemas de viséo, ditou em Fims, cantac] dos Grisies, no vero de 1873, ao.amigo Carl von Gers- do-ff, guarde um eco das intensas conversas com Overbe:k* Elas Podem ter esharrado também no Evangelho de Séo Joao, sobre o qual Overbeck havia iniciato uma pesqui grande parte da sua vida de erudito.{Asim 8.0 volume que abre a série dos excritos tinos de Lutero, na edigdo de Erlangen, inclui osermao Ne naicimento de Cristo, pro- nunciado em 1515 Luteroeesteva as visperas da rupt lacerar a sua einmeras outas Tas! Um jovem monge 7 amiade A 3 ¢ louvavé a sua filosofia, chamando-ade “bela, ainda que compreendida por poucos,e Uilla mais alta teologia” Més jé tinha solidamente em raos algurs fundamentos do seu Proprio pensemento, Por que, no inicio do Evangelho deSgo Joao —Perguntava ele —, Cristo, filho de Deus, é chamade de “ver- bum Porque,respondia,0 primeirocepitulo do Evangelh Jozo esclarece admiravelmente (“mirc lumine exponit’ Loto esclarece admiravelment = doGénesis 0 Verbo, que serrpreestevejun:o a Deus, eo Verbo que cria.o munde Y$ Disse Deus ‘Faca-se!’e foi feito.”).* Quase vinte™ anos depois, no comentérioao salmo 45, Latero retonoua relagio ia » enireas duas passagers, referindc-se mplicitamentedquele sermak Cra (atro crior, con- cluindor"¥ interno esta envolte em sons, em falavras, em letras, assim como o mel es:4 envolto fevo,a polpa d ‘eo verbona carne | interius ilud 1 sicut mel in javo nucleus in testa, medulla in cortic, vita in carne ct verbum in carne)’™ Cristo, 0 jozma casca, a teris est invol seja: na o:asito em qué Santo Agosiinhy segu _mento de retorica (que aprendeu eensinou na juventud: Nam capitulo de A doutrina cris observou que um conhecimento dos tropes — alegoria, enigma, — Gndispensa ‘0 ecodesias recomendagdes se prolon- «toda a dade Média.” Ele retorna, de forma insistente, nas obras do monge ie, depois, ex-monge) Lutero“ Apoiado ma prépria experiéncia ce tradutor, astinala aos leitores 0s tropos que constelam 0 texto sagra- nacrista autoriza usar sem riscot— como um grande artista (opti- mus artifx itando a desmesura de Origenes e de Jerénimo.* Nomomentoem quefala de“ prepuicio" “circuncisdo” para deno- tat respeciivamente os gentios ¢ os hebreus, Paulo emprega uma than thede a Baw beruihe ookb Sable olsrse, eo sinédogu de retoric observa alhures specifica: os ret6ricosmundanos ufanam de dispor as palavras de {que dio a inpressio de comunicare tornar vis vel a propria coisa ‘essa & mesmo a caracteristica de Patlo, isto ¢: do versitério sobre a retdricaantiga quanto no texto Acerca da verda- eficaz para con- us Kunst de Ger- ista sobre a linguagem, de Wilhelm von Humboldt em diante." Mas quando Gerber, nas pegadas de Humboldt, escrevia que “a linguagem € Die Sprache ist Geist)" 30 fazia refo:mular a cpiniao expressa por Lutero, tedlogo, exegetae t ismo dlemao & scb muitas aspe:tos, um crstianismo protes- ]O Verbo que € vercade, 0 Verbo mediante 0 ee criou, o Verbo que se comunica por meio guugem € tropo, se a propria gramatica ndo passa de um produte ‘etensdes de conhecer 0 mundo por 18,38) —, Cristo fcou em silencio, Nietzsche a reformulou e respondeu: “Um exército mobil 2 ‘Diante da pergunta fsita por | } inismo nasce aqui,nestas >4ginas cicsamente ico, talver porque ricas demais de ressonancias e de ivadas: naw parece artiscado supor vivide o propric afestamento da fé cristo ‘meméria do pai.” Mas as reflexes en quele fragmento s¢ tornou un dos textos fundadores do smo, gragas sobretudo a argutiss:ma leitura feita Imente apresentado numcon- Symposium.* Um tes) criticou De Man por » Nietzsche exclusivamente como im comentador sche € 0 nosso si valores’, observou Gates, “setiam mais congeni ietzsche nao justitica, de modo algum, um discurso que se refiraa um nivel situade “para alér” da ironia, Pelo 3 ontrério, ele nosconvida continuaments a nos preservar dailusio de cedera um desejo do ginero. Eé mesmo desseponto de vista que podemos compreender aimportincia de Nietzsche no que diz res- Peitoas questoespoliticas formuladas par Vossa Senhoria.” ‘Ninguém, entre os presentes, se enccntrava entio em condi- Ges de divisar o quesignificavam essa: palavras paraquem cs esta- indo. Entre 1940 ¢ 1942,@aulde Ma havia publicado ie de artigos, alguns dos quais dé contetido abertamente rum diario colaboracionista belga: circuns- que cle havia oculto zelosamente e que s6 errergiria apés a sua morte.” Sobre esse caso, escreveu-se muito, até dem ‘Antes de explicar por que eu 0 evoco aqui, direilogo que, nao obstante a Persistén-ia de alguns temas comoo (x40 muitooriginal) ca auto- nomia dz arte, a dis:ncia entre aqueks artigos ¢ os ensaios de De Man em sua maturidade é enorme. Exists uma :elacao intime, no entarto, entre a mascara asada pof De Man, durante qaarenta anos,e 0 seu trabalho de critico." Em 1955, escrevendo de Paris para ry Levin (um dos seus protetores académicos), De Man falouda “longa e delorosa auto. ;ndlise realizada por aqueles que, comeeu,provém di esqueida edos dias felizes da Frente Pepular’™ » Quer pronunciava essa frase profundanente nentirosa era o cri- tico cue,alguns anos depcis, apresentando com insélito entusias- ™o ao pablico americane a obra de Borges, me temas que sio recorrentes nela—a‘du> termos: ‘A ctiasio ds beleva comecaportanto ccm um ato de duplicidade |. A daplicidade do artista,a grandezae« miséria dasua vocacao,éum terra recorrente estreitamente associado ao temada infazi impulso poético, em toda a sua perversa f ade, pertence s6 a0 homem eo designa como essencialmente human.” 3 Dei 3 ¢ De Maitratava de-Borg§ ou o utilizave paca expressa’-se" Mas aqui éstamos ainda no plaro, relativamente simp es, dos con: {etidos. Mui:o mais significativo € 0 fato dee Man) ter chegado ¢ elaborar uma teori ica que via, no “eto dé Ter, um processc inter nindvel no quel a verdadee a mei ra estio inextricavelmen- Estas palavras sio de 1970. No mesmo ano, 0 ensaio (oge famoso) The rhetoric of temporality (A retérica da temporalida de] assinalava o momento da redescoberta da retérica mas sem ‘mencionar ¢ nome de Nietzscl,"* Pouco depois, De Man viv, ne ensaio Acerca da verdade e da mentira em sentido extramoral, Possi>ilidade de aprofundar uma interpretarao de Ni Propostaemvérios ensaios,entre os quaisaq particularmen: te importante, sobre Literary history and literary modernity (Historia literdria e modernidade literéria|."A modernidade de Baudelaire) assim como a d€ Nietasche)"é um esquecimento ov “uma supressio do anterior” uria fagada histSria que, no entan- to,comoo proprio Nietzsche demonst-ou, esti conderadaanfra: casso: nestas frases de De Man é impcssivel rao perceber, agore que o seu segredo foi revelado, uma ressonancia autobiografica." nha, pelo sentimento de culpa, pelo medo de ser descoberto? Os sentimentos de De Man nao medizem -espeito, mas.as suas a-gu- sim. De Manevitacairnaingenuida- de do céptico que poe tudo em divida exceto asi mesmo. Ele optz por unfrecuo perpétuo e inconfessive! entre verdadee m uma posicao intelectualmente mais sutil, embora existenci mente fragil Numa determinada ocasiio, a vaz de De Man, nor- malmente urbana (urbanamente afiada), se lornouestridente 34 jugo Friediich havia falado de“perda da representacio” dalii- ca rroderna, interpretando —comeniou De Man — “esia ten: dencia de maneira grosseira,extrinsecé e pseudo-bi mera fuga de uma real como jade que, de meados do século xixem diante;Yornava-se cada vez mais desagradavel’™ Friecrich tocara num ponte sensivel. Hoje sabemos qué De Maj muitos. | motivos paca querer t Everdade:a_ (2p oracaoda autonomia do s Eilages incecnas, endégenas Mas, como observou seguide de‘Te Markaté mesmo a fuga da histéria se enquadrahis toricamenta. ma idéia aparentemente abstrata, como a versdo “anti-referencial da ret6rica, pode carregar-se, aos olhos de alguém, de elementos emotivas porque oferecia (ou parecia ofe- recer) a possibilidade de afastar um passado insuportavel que havia publicado, no des anos 70, umlivro “sotre Nietzsche ea metéfora, no qaal mostrava 0 seu grande envolvimento com 0 tema, vinte anos depois, apés ‘er relatado a sua infinc’a de menina judia perseguida, decidiu suicidar-se.” A desforca da realidade foi, nesse caso, literal e homicidae nao méiaforicé e suavemente pés:uma, como nocaso deDe Man. Mas mesmo a cistancia entre esses dois casos dividua's pode langar ivos extradentificas que_ ‘um pouco de luz também scbre os m tos do estruturalismo francés — ou (nas intengdes de alguns dos participantes) para prepara:-Ihe um funeral digno,Jacques Der- “FidaZoncluiua sua interven;ao, dedicada basicamente a vmacri- da obra de Lévi-Strausg.com estas palavres: 35 | esa temética estruturalista da imedtiasBo interrompida 6 por- tanto,oaspecto test, negativo, igica.culpado, rcusseauniano do ludo, eajo outro aspecto seria: a afirmacao nietzschiana, a afi magi gososado jogo do mundo eda inocéncia do devin aafiema- (do de umunizerso designos sem equivocos, sem verdide, sem ori gem, equese cferece aura interpretagao ativa.” Entre essis das faces contrapostad Derrida Meclaravaironi- camente nao desejar escolher. Na realidads, toda a sua interven- 80,4 comegar pelo titulo (Estrutura, signa e jogo no discurso das ciéncias humanas', seguia na direcao descr doludo fs dada em favor da interpretacao ativa, isto é: des. jadoTes€ Os herdei- Nose espiritee Mad) Ieu a famosa pagina das Confissdesnas quais(Rousseayj,a uma distancia de dez anos, ta por ter com ierie7a,corio depois se o>servou repet damente,-nconfesss- veis ressonancias autobiograficas."* Mas, na estratégia usada, havia cia’, aret6rica come instrumento de auto-absolvigao individual ¢ coletiva,é o equivalente ted i retdric a”, por daqual, como observau{Franco More ‘que definiu como “forna épica moderna’, 0 O: ip diversas vezes os propr.os crimes. Javras. afeomo pro- 10.*Horror! Eorror!” sao asl 7 tagonista de Q coracao dastrevas Edward Said pproximoua multi- plicidade dos pontos de vista narrativos, usada com tante compe- tenia poronrad}do perspectvismo de ictsehs, partindo da conhecida citaca6 tirada dé Acerea da verdade eda mentira:“O que Mas observou que Conrad menos radical do que insensate-a questao de saber se omundo percebido pelohomem € mais adequado & realidade do cue o mundo que o mosquito vé, (CRietsc¥e-gostulatacitemente a existéncia dz um mundo tinico | domilials por una Tuta implacivel pela sobrevivenciahvo qual o homem mata 0 mosquito e © mosquito contamnina ohomen com a maléria, matando-o, O mundo da ‘ei andloga. a “lei Ja natureza” evocada pof J entre “Este mundo éavontadede poder >) Nos espacos de Kurtz o horrer-ainda habita, mas em escala incomparavelmente mais vasta. Centenas demilhares de homens, mulheres ¢ criangas morrem em consequéncia dos massacres, das epidemias e da fome, circundades pelos funcionéries da ONU € igiados pelas emissoras de televisio via sats! Jr ia se entrelacam inextricavelmente.” Para compreender esse rocessc B InicTado Ra cinco anos, o modelo relativista, delineado or Ketzsch}, ndo ajuda muito.|A supremaci isch, .Asupremacia do mund. | dodeadiantadore 5 edo lle lade e sobre a sua Bercepsder Quando a espoliagao i do mundo, por parte da Europa, estava ain€ no ini defini nhdis definiaos empreendimentos dos conquistadores espanhéis com a smosa frase“ fames frase ias mecanicast”, Temos muito o que aprender generosidade emotivae intelectual de Montaigne, mas seu m i tom destruidor em relacao a supremacia tecnologica dos espanhéis no € aceitavel. Os va foun : ‘Qlimite do relativismo é,ao mesmo tempo,c tico ¢ moral JH4 uns dez anos, “teak num congresso reunido numa ui versidade americana, ni um conhecido pesquisador apresentou a sua tese favorita segundo a qual éimpossivel tracar uma distingdorigo- _tosa entre narrativas histbricas ivas imagin’ Nadiscussio queseseguiu, umaestudanteindianaexclamou, furio- se: "Sou mulher, mulher do Terceiro Mundo, eo senhor vem me lembrei aquelas palavras ao ler “Situated knowled- 865” [Conhecimentos localizados}, um ensaio d ‘que apareceu em 1988, na revista Fey convida, explicitamente,a evi ceiro Mundo.” Mas a sui Donna Haraway inist Studies. Haraway nos 1a mitificagao das mulheres do Ter- ;paciéncia com relagao ao relativismo 38 que dominaa cena intelectual americana tem uma raz moral tam- . inspira palavras incisivas O relativismo se permite nao estar em lugar algum no momentoem que pretendaestar imparcialmente em toda parte. Essa “eqiiidade” doponto de vista constitui uma recusa de assumira respansabilida— Pelo contrério, d?/Donna Haraway devemos partir de um_ izado (situated), para construir uma dade”: ndo inocente porque consciente da existéncia de“uma argumentagao construti- vista muito forte referente a fodasas formas de conhecimento, em primeiro lugar as cientificas’, segundo as quais, no ambi do dis- curso cientifico, tanto as proposigdes quanto os fatos fazem parte | Partir de “alguns lugares’ confrontado com a irresponsdvel ubiqilidade relat sobretudo se a, mas ha o numasériede risco de fragmentar 0 conhecimento (ea vida soci pontos de vista incomunicéveis, nos quais cada grupase vé mura- do no interior da sua propria relacio como mundo, Aqui reencon- tramos o tema que, conforme aludi no inicio, constitui o pano de as: 0 da convivencia ‘paseada na interpretacdo”, é “critica e delimitad: entanto, de provas-Embora repelindo as conseqiiéncias radic strutivista sobre.a“natureza retorica_ no poe em discuss ‘mente cépticas da tese descot “Uma dessas premissas €2u re retorica prova ou {o que éo mesmo) ne wesc cao nao referencial da retérica que, como ja se viv, Temonta a cue uma retorica € Prova deverecomecar do texto, is de traduzir e estuda ia, acabou por colocar d | 10520 fio que liga os temas, : heter Jey » ¢parentemente Fetero; ms, confeténcias parte dai, —— 12, Odescréd.to no qualaretéricac: durou atécs titimes décadas do xx. M, € da retérica de Aristételes em ‘ular, levepouco eco ras dis. + reentes scbrea metodologia da hstéria, por razces que toatéaqu."*A visio da Retorica que ‘impede de perceoer que otexto.com oqual,comose Zer,comega o método critico moderno — ousseja, a dade da doacaodeConitantind, feita por meados do século xv — esta beseado nut macom- €1et6rica ¢ prova [cap 2). Mais precisemente, numatza._ digdo retér ca, der'vada d¢Qui lal Sitio retérca (Atisisteles, hs quais a imeiramente, ce a0 Sobreas proves tinha um papel a, de forma justa, que a publicagao (0 Le re dipomatics de Mabillon (1681) era “un grande marco, com :erteza,na histéria do espizito humano”, Mas Mabillon nao teria existido sem Valla: um nome que nao aparece nas reflexes inconclusas de Bloch. A catacterizacao da trajetéria que nos liga i Meurini, Vala, Quintliang e Aristotdes tem implicagdesnio apenas historiogré- as Hla permite relera Retdricg[cap. 1] a partir da pessagem eles observa, a propésito ca frase “Do-iew impic6s" que ninguém se preocupa em precisar UE 0 que estava em jogo na competigio era uma toroa de louros Porque isso “taco mundo” sabe. comunicacio mais elemertar “ verceu os jogos. ee ado: uma observagao aparentemente casual que tem, no entanto, uum sentido ocalto, revelado pea im lusdo a ame passagem to Z Stele} est paralela deGfe-ddotd. 0 saber tacito evocado por Arist ligado a dependéncia éa cidade: “todos” sao “todosos gregos’, até porque daquele saber os persa: estio excluidos. Que a civilizagao ‘grega constitu u-se coatrapondo-se aos persas e, de forma mais geral, aos barberos, é: ccisa conbecida, Mas Aristétes, ‘diztambem (ue 0s discursos analisados pea retérica— 08 que sio feitos nas ibuna’ —se referem a uma comunidede pragase nos salbes d ima expressdo, intencionalmente anacioni remeter 3 idéiade que atema des premissasnao mencionadas por- ‘que dbvias tenha sido enfrentado somente a pa veidade no qu: diz respeito asrelagoes Ambito da andiise éos textos, algo de muito similar havia comeja- dotrésséculosantes, quando juristas,antiqudrios e illogos se dis- puseram a dec frar uma lei romans, uma iascrigic fragmenté-ia, um verso de peeta latino por meio da reconstrugae dos contextos colidianos perdidos. Quandé alla dbserve que, né pretensa doa- | “conpaze nio, @o de Constartino, a galavra aiadema designa uma ‘tinta invisivel. Entre as nhas dz pretensa doaggo d: Constantino, aflora a vor do falsarie (cap. 2]. Seguindo as pegedas de Aristoteles de Vala tentei captar 0 eco dos indigenas dasilhas Merianas no rior da prado pronundadg por aquele que, de acordo com a —_ © lesuita Le Gobien, 0s teria incitado a -evolta [cap. 3], Também ‘este caso a TETOTica — uma ret6rica baseada na prova — Mesto tempo) oobjeto eo inst juiss Endo que- ria detectar ‘at umia falsficacdo, mas sim mostrar que 0 horssteute-o ‘Sis est fora do texto, estd também dentro dele, abr gave entre as suas dobras'¢ preciso descobri-lo ¢frzé-jo fala “Fazé-lo falar” vale a pena deter-se um memento nessa “xPressdo ou em outras andlogas, inocentes s6 na apaténcia. Na Sevdo da Retéricade Aristoteles dedicadaas provas externas ou nio técnicas encontrémos, junto aos testemunhos, aos contiatos ¢ 20s Juramentos, a tortura também. E verdace; no entan‘o, que, acerca desta iltimarAristételes hao tinha ilusdes:“ Nao ka nzda de: fidedig- no nos depoimientos prestados sob tortura” ( ‘Masanature- muitos sécalos mais tarde: uma metéfora cujo valor literal o estadista e fldscfo conhe- ciz bem. Hoje as coisas mudaram:a tortura, com certeza, co nua sendo pr: a palavra pistisnaGrécia do século tva. C. Mas ébastenteclaro o fio que une as duas nocées. Ambas se referer a.um ambito de verdade Provavel que no coincide nem coma verdade sepienci garanti- Be €, COMO TAL Ova, nem mpesioal da geometvia, inteiramente demonstra- mente demonstra todo aquele ( cravo) que Platio propds distantesdosgregos. Mesmo a insisténcia no nexo ertre padere corhecimenta, 0 quel Fcucault jorrou 2opular, nos leva a Grécia: mais precisemen- te, por nett de Nietasche)aos sofistas. Ainclusio da orsura entre u a3 prowas retdrics parece exasperar aquele nexa rzdurindo o conhecimento ao 2xercicio brutal do poder. Trata-se, natur Zu. * S6 dessa mane.ra sera possivel levar em conta tanto as rela- ¢ que € irredutivel alas. ‘es de forca quantoaquil A tensao entre asses termos é dedicada a andtise ¢o quadro cap. 5.4. tradicao classica na qual Picasso fora educado lhe permitiu apro- priar-se de figuragdes estranhas a ela. Um gesto subversive mas que,de qualquer maneira, nio deixava ée ser uma apropriag20,03 strumentos que nos permitem compreenderculturas diversasda_ nossa sao os insirumentos que nos permitiram domin Demoiselles d’Avignon, de Picasso, que condlui o git 0 passado por meio da identificagio empatic contexto, Benjamin cita uma frase de Flaubert ““Muito pouca gente serd capar deimaginar quanta melancolia foi necessaria para conseguir ressuscitar Cartago!”). Mas > romancista Flaubert utili- za, :ambém em Salammbé, instrunences mais complexos do ques, mera empatia A um deles é dedicadoo capitulo 4. Trata-se,ainds elbrica, mas de retorica ws a afica: pode Jo como um tropo tipagrafico de graa zero, Neste \_ caso.em ver deer entre as linhas procurei espagoem branco los da Educagao sentimental. And eum rane romana cool} mune argumentacdo sobre histéria, ret6rica e prova parece Jar razio 2 fese céptica corrente segundo a qual as harrativas de ficgao seria Squiparaveh asmarrativashistoricas.O meuobjetivo éexatamente wen SS narrativas historicas oposto: é vencer os cépticos ne sew 7" coma prove; a projegao do desejo, sem o qual nao ha pesquisa,ndo €incompativel com os desmentios infligidos pelo principio de escolhas narrativas idéia rudimentar de que os mode os narrativos interven no traba. ncluindo asda narrativa de ficgic}, Contra Ito historiogréfico apenas no find), para organizar o material cole. tedo/busco mostrar que, pelo contrario, el dur lando interdigdes ¢ possibilidad No século x1X,0 entusiasmo pelos prog essos clenificos etec- nol6gicos se traduziranuma imagem do conhecimento (inclusive ohistoriogrifio) baseado no espelhamento passivo di realidade ‘No século %, pelo contrério, um entusiasmc analogo sublinhou ot glementos ativos, construtivos do conhecimento. Entre as razbe: dessa fortuna esté também, e talvez principalmente, a capacidade oferecida a uma parte co género humano de fazer aparscere dest. Parecer a realidade com um simp es gesto — liga andc gtelevisor, Que essa sitzagéo possa provocar fenomenos de trans- fetencia éevidente. Masa polémica que estoa desenyalzendo con- 11200 relativismo céptico nao develevar a equivoco. k deque as fontes,se cignas de ft oferecem um acesso imediatoa realidade u pelo menos, a um aspecto da tealidade, me parece gualmente rudimentar. As fontes 180 sdo nem janelas escancaradas, coma istas, nem muros que obstruem a visio, como ensam os cépticos: no maximo poderiamos compara-lasa exper thes deformantes,\ anilise da distorgac especifica de qualque forte implicajérand elemento construtivo, Mesa construgao, omo roca etiam serrento consrutivo, Mis aconstruco, con Procuro mos:raF nas paginas que se seguein, nao é 4 45

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