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= JOHN A. HOBSON H GAY 2 i zi * A Evolu¢ao do Capitalismo * Moderno tn Um Estudo da Produgao Mecanizada Hobson, John Atkinson, 1858-1940. H89e ‘A evolucao do capitalismo moderno : um estu- do da produgao mecanizada / John A. Hobson ; a- presentagao de Maria da Conceigéio Tavares ; tradu- Ao de Benedicto de Carvalho — Sao Paulo Abril Cultural, 1983. (Os economistas) 1. Capitalismo - Historia 2 Industria - Historia 3. Maquinaria na inddstria |. Tavares, Maria da Con- ceigdo. Il. Titulo. Ill. Série. 17. e 18. oP 82-1871 1983 EDITOR: VICTOR CIVITA i\ CapituLe VIL one Combinacées de Capital § 1. A-concorréncia se intensifica com o capitalismo modemo./ § 2. Experiéncias de combinagéio (combination) — A alianga de Birmingham. § 3. Pools nos ramos metaltirgicos norte-americanos § 4. Conferencias nas ferrovias e na navegaciio — Pools nos seguros. § 5. Acambarcamentos (corners) nos mercados § 1/0 maior tamanho e complexidade da unidade empresarial /nas indiistrias sobre as quais vem atuando a forca concentradora do capitalismo_provocam me dancas nas relagdes entre as empresas que integram 0 mesmo mercado. Quando © desenvolvimento das dimensdes normais da empresa € acompanhado de uma expansio correspondente do mercado, 6"niiméro total de concorrentes pode man- fer-se inalteradd, e os termos de sua competicéo podem continuar como antes. Mas, na_maior parte_dos ramos da inddstria capitalista, \do_ndo continua a expandir-se com.a.mesma rapidez que as dimensdes de uma.empresa_elicie’ de maneira que o ntimero de concorrente: ivos’ num mercado tende.a-tornar-se menor/ Enquanto a concorréncia entre o ntimero menor de grandes concorrentes continuar “livre” como era entre um numero maior de pequenos concorrentes, nao ocorreré nenhuma alteracao radical na estrutura do mercado.Todas as econo- mias produtivas tendem, como antes, a ser repassadas para 0 consumidor sob a forma de precgos reduzidos de mercadorias. Além disso, uma firma concorrente nao pode sequer desfrutar com exclusividade as vantagens de uma economia indi- vidual privada, se sua concorrente possui outra economia privada de igual impor- tancia. Se A e B sao duas firmas que competem acirradamente, possuindo A deter- minada maquina capaz de lhe garantir 2% acima do lucro comercial normal, @ pos~ suindo B vantagem igual no suprimento de mao-de-obra mais barata, essas duas vantagens individuais se anulam mutuamente por meio da concorréncia, passando para os bolsos do ptiblico consumidor, mediante precos reduzidos. Ha inumeras raz6es para crer que, com uma reducéo do namero de concor- rentes e aumento de sua envergadura, a concorréncia se tome cada vez mais agu- 125 126 COMBINAGOES DE CAPITAL da. Antigamente, os costumes exerciam influéncia consideravel nos negécios; o ele- mento pessoal desempenhava papel maior nao s6 na determinacéo da qualidade das mercadorias como na confiabilidade; os compradores n’o comparavam com tanto rigor os precos; ndo se deixavam guiar apenas pelas cifras, néo regateavam sistematicamente 0s precos; nem os vendedores empregavam uma proporcdo tio grande de seu tempo, de seu pensamento e de seu dinheiro em manobras para tomar os fregueses dos outros.'’ Esse_elemento pessoal e esse: los_costumeiros quase_desapareceram inteiramer vas empresas ¢, 4 medida que crescem as_vantagens Ifquidas da_producao.em grande escala, mais.e.mais atencdo se daa tareéfa especifica da concot ia. Dai concluimos que é precisamente nos ramos ; de jiivél mais elevado de organizagao, servidos pela maquinaria mais avancada e baseados em unidades maiores de capital, que se registra a competicdo mais feroz ¢ inescrupulosa. O papel exato que a maquinaria, com sua imensuravel tendéncia para a superproducao, fem desempenhado nessa concorréncia fica para ulterior consideragao. Basta evidenciar aqui 0 fato conhecido de que a escala de crescimen- to da empresa tem intensificado ¢ nao reduzido a concorréncia. Nas grandes indi trias_mecanizadas, as flutuagées dos negécios se fazem sentir coi maior intensida. de; as empresas menores nao conseguem fazer frente 4 maré de depressao e en- tram em colapso, quando nao sdo levadas, num gesto de autodefesa, a unir-se a outras. A tomada de capital por empréstimo, a formacao de sociedades por acées e todas as formas de cooperagao de capital tm se processado com mal ior rapidez nas industrias téxteis e metaltirgicas, nos servicos de transporte, naveg' , na fa- bricacdio de maquinas e em manufaturas secundétias, como a fabricacaio de bebi- das alcodlicas fermentadas e de produtos quimicos, que exigem plantas de_alto ci / to, Essa unido de pequenos capitais para formar um capital qrande-2 tinico ea _ab- Sorgao “de empresas pequenas.por.empresas, grandes. significam,_primeiro_e_acima de tudo, ‘um esforgo para fugir aos riscos e Tigos_que.se_interp6em.a~produgao em pequena escala Tio cu TAG Gas modlcesBes | modificacdes industriais modernas, Mas, como to- dos'se tmovein na tiiesina direcao, ninguém ganha a custa de outro., Certas econo: mias comuns sao compartilhadas ‘pelos Eoncorrentes gigantes} mas é preciso em- pregar energia cada vez maior na competica resultado € que as economias pro- dutivas se dissipam em parte no atrito da concorréncia feroz, em parte se transfe- tem para a massa dos consumidores, sob a forma de precos reduzidos}. Assim, 0 es- forgo para conseguir seguranga e lucros altos, mediante economias da producao, em grande escala, torna-se indtil, diante da intensidade crescente do processo com- petitive. Cada grande firma julga-se capaz de empreender_mai is _que Os que jé tem em mdos eoferece_precos mais baixos que os do seu.vizinho, até que a baixa afogue os concorrentes mais liza “6s Tucros dos mais fortes aum nivel em que eles mal podem subsistir, a § 2. A intensidade da competicéo assim gerada no capitalismo_desenvolvido, onde algumas grandes empresas encontram dificuldade crescente para colocar to. ‘a sua produgao regularmiente_e a precos lucrativos, leva os concorrentes a buscar ta im acordo que a Esses visam primordialmente @ ‘limitagao_da precos, por meio da adocao de listas de precos fixs e, quando necessario e factival, pela regu- lagaéo da producio; as firmas nao deixam de competir, mas se. esforcam_para res tringir os termos de sua concorréncia. Nao existe, evidentemente, nada de novo {im cettos ramos antiquados, sobrevivem ainda fimas que negociam sem contratos escritos e formais, e que se envet= gonhariam de aceitar um prego mais baixo do que o que tinham pedido antes, ou de regatear o prego olerecido pelos COMBINAGOES DE CAPITAL 127 nisso: nas industrias locais, especialmente onde as mercadorias so vendidas direta- mente aos consumidores, os precos jamais foram estabelecidos pela concorréncia “livre”; os atos normativos das guildas e tribunais (assizes) sempre foram seguidos por manobras de vendedores locais, destinadas a elevar os precos. No caso das grandes indistrias capitalistas, o necessdrio mecanismo do mercado para a compra de matéria-prima e para a venda do produto, isto é, a Bolsa de Cereais ou Algo- dao, a Camara de Compensacao para Estradas de Ferro ou Bancos, a necessaria organizacéo do comércio, com vistas a obtencao de informagées rapidas e seguras sobre questées de interesse comercial comum, o desenvolvimento de Juntas de Sa- larios e um mecanismo adicional para negociagdes com a mao-de-obra — tudo is- so configura uma base de associaco que pode ser_utilizada para regular a concor: rencia. 7 © primeiro_estagio é o de um acordo informal, que surge inicialmente entre fir- mas competidoras de determinada localidade, e que gradualmente se estende até englobar todo _o ramo de. aslo, ‘ou uma parte dele, suficiente para assegurar 0 necessario — ‘98. Foi esse 0 movimento tipico nos ramos de ferro, aco e engenharia na Inglaterra, nos tltimos anos. A alirmacao feita por um jornal de comércio, em 1898, traduz com exatidao a situagaio nesses ramos. “Encontram-se hoje em. vigor acordos ou entendimentos sobre_pregos.nos_setores de trilhos, de_chapas_par a 108, leiras, no_de_ferro_forjado_em, barras_e em. outros ramos. do. comércio.de_ferro_¢_aco_desse_pais, por.meio.dos.quais. 98 _pregos..s80-mantidos. relativamente-bem.e.as. baixas .80_em__grande..parte..evi~ tadas,”” Entre outros planos de combinagao ou fusdo que estéo em curso na metalur- gia, no setor téxtil e em outras importantes inddstrias manufatureiras e entidades comerciais na Gra-Bretanha, essas experiéncias de_requlacdo_de_precos mediante acordos informais_prevalecem_em toda parte, Seu @xito-ou-malogro-denende, fun- damentalmente, de duas*condigoes — jprimeiro, Wo percentual 0 amo con- ffolado_por-poucas © grandes finmas concorrentes ‘Segundo, da situagio do merca- do no -que-diz respeito a oferta. No caso em que, como acontece na maior parte dos setorés dos ramos metaliirgico e de engenharia na Gra-Bretanha, algumas em- presas _gigantes_ dominam.o.mercado, a existéncia de grande ntimero de pequenas: firmas empenhadas, em sua maioria, em negocios de cardter puramente local, nao impede 6 estabelecimento de uma tabela de precos apropriada. Por outro lado, um mercado com_excesso de estoques,.em virtude de uma grande melhoria do equipamento produtivo ou do colapso da demanda, pode facilmente anular um “acordo” como esse e conduzir a uma guerra de baixas, oculta ou aberta. As transformagées rapidas, tanto de capacidade produtiva como de volume de demanda, caracteristicas dos mercados modernos, proporcionam polica seguranca a “acordos’’de.firmas concorrentes, a menos que sejam acompanhados por certas ga- rantias ou penalidades efetivas, em caso de infracéo das condigdes do acordo. Para que os acordos em favor da manutengao de pregos lucrativos possam ter alguma chance de éxito duradouro, nota-se que devem ser acompanhados de disposicdes regulamentadoras da produgao ou da distribuigaéo proporcional de “‘encomendas” Nas empresas de mineracdo e manufatureiras, a limitacéo da “producdo” é, em al- guns pafses, a base para um acordo eficaz. Na Inglaterra, contudo, recorreu-se pou~ £0, até hoje, a esse método de manutencao de pregos. Quando, como aconteceu re- 21ron and Coa! Trades Review. Citagio de Mactosty. p. 184. 128 COMBINAGOES DE CAPITAL centemente na indtistria algodoeira de’ Lancashire) algumas firmas competidoras combinaram encurtar a jornada de trabalho, a politica adotada nao teve como objeti- vo sustentar os precos, mas enfrentar uma emergéncia passageira, resultante de uma oferta escassa de materiais. Embora mais de uma vez, no ramo do carvao em Gales do Sul, se tenha proposto limitar a produgao e distribuir as encomendas entre as varias minas, nenhuma experiéncia foi realizada nesse sentido. Mas, enquanto a maior parte das importantes industrias manufatureiras britani- cas esta fazendo experiéncias com “acordos informais”, certo nimero de ramos se- cundarios, especialmente na metalurgia, vem buscando uma base mais firme de as- sociagao. “Alianca de Birmingham’ foi o nome dado a uma espécie de acerto, que, inicialmente estabelecido no ramo de fabricagao de camas de ferro em 1890, foi adotado por varios setores secundarios da metalurgia no interior do pais e, mais tarde, pelo ramo de tinturaria de West Riding e por algumas outras industrias de se. gunda ordem. Sua base. principal foi um acordo formal, estabelecido entre os mem- bros da Associagéio de Empregadores, para adotar um sistema cientifico de tomada de custo, acrescentando_uma_ parcela de Tucro ao custo real, e chegar assim a uma tabela de pregos que todo membro deveria comprometer-se a respeitar. A parte nova do esquema consistia em ampliar o acerto de maneira a incluir a mao-de-o- bra. A Associacéo de Empregadores fez uma alianca com os sindicatos de trabalha- dores, assinando um convénio formal, em virtude do qual todo empregador se comprometia a dar emprego apenas a membros dos sindicatos, enquanto estes se comprometiam a fornecer trabalhadores apenas a empregadores que fossem mem- bros da Associacio. Com base em certo acréscimo permanente aos salarios em gor, estabeleceu-se uma escala mével, segundo a qual os salétios subiam ou cafam na razao direta dos lucros. O esquema todo estava vinculado a uma Junta de Conci- liagao, na qual patrdes e operdrios tinham igual representagao, com a previsdo de ar- bitragem imparcial, quando necessério. Se um empregador rompia com a Alianca ou violava os compromissos assumidos, a Junta “‘chamava” seus operdtios. O con- corrente marginal devia ser enfrentado “por uma redugao dos pregos bem preparada, cuidadosa, judiciosa e sistematica, até que fosse obrigado a abandonar a luta ou a entrar em acordo”. Para fazer face a situacbes como essas, levantava-se um fundo de luta e, con- comitantemente, adotava-se um sistema de “descontos” com vistas a tomar freque- ses dos fabricantes de fora. Durante muitos anos o plano teve éxito no ramo de fabricagdo de camas de ferro e em varios outros: os precos se elevaram, os lucros cresceram e grandes bo- nificag6es foram acrescentadas aos salarios. Mas, com o decorrer do tempo, desco- briu-se que os altos lucros abalavam a forca ‘ecoivomica-da-Aliancay membros des. leais da Associacao comegaram a praticar precos mais baratos, utilizando faturas fal- sas_ou comi ome a_assumir dimensGes assustadoras. Em 1900, como resultado dessa déstoraliza~ $0, a Alianca dos Fabricantes de Camas de Ferro fracassou, sequida ou precedida em sua queda pela maioria de seus imitadores. § 3. Essa experiéncia serve para mostrar que, sem um controle direto da asso- ciacdo sobre a produgao das diversas firmas, que permitia facilmente localizar e adequadamente punir infragdes ao acordo, nem mesmo um acordo formal_entre firmas sobre precos de venda pode ser mantido. Diversas experiéncias interessan- tes de acordos industriais (pooling) nos Estados Unidos tém como finalidade ex- pressa descobrir e testar os melhores métodos para manté-los. 's_secretas, a0 mesmo tempo que a concorréncia exterior comecou COMBINAGOES DE CAPITAL, 129 Qs fabricantes interessados em formar um pool cram normalmente wna organiza ao sem fusdo de seus membros, como a Associagip ‘de Aco Bessemer, a Associagéo Se Comerciantes de Minérios ou a Associagao de Trilhos de Ago. Concordam todos cra respeitar uma tabela de pregos, fixada pela Associagio, ¢ om limitar adequadamen- te sua produgéo. Cada fabricante € ‘autorizado a produzir (ou vender) somente certa percentagem de sua produco total, dependendo da capacidade de qualificacoes de sua planta, Para impedir a violacao do acordo, exige-se, de cada um um depésito que pode ser confiscado pela Associacao.""* Contratam-se contadores especializados: estabelecem-se multas para firmas que produzem mais que o percentual permitide e pagam-se bonificagGes corres: pondentes aos que produzem menos. Os pregos e as ‘cotas de produgaio sao acerta- dos anualmente em novembro ou dezembro e valem para o ano seguinte. Proce- de-se, freqiientemente, a uma divisdio territorial do mercado. Via de reara, estabele- fem-se 0s precos locais, fixando primeiro um preco uniforme por fabrica, ao qual se acrescenta, depois, 0 frete entre a fabrica e o local de venda. Sobrevivem diversas variantes dessa estrutura geral. Varios pools tem deixado de lado 0 aspecto das alocagSes percentuals ¢ imposto um tributo sobre foda a manufatura.” “Outro attificio @ 0 agente Gnico de venda. As firmas consorciadas combinam em- pregar uma tinica pessoa como seu agente exclusivo dé vendas, que se entende com peda uma delas separadamente, mas estabelece com todas um prego uniforme de ven- da.” “Outva forma de poo! baseia-se em patentes essenciais & manufatura do artigo. O concessionario da patente vende 08 direitos de uso a todos que a aplicam, mediante 0 pagamento de royalties uniformes. © poo! limita também a cota de produgdo de cada firma, acima da qual os royalties aumentam rapidamente.”* Nos ramos do aco e do ferro nos Estados Unidos fervilham esses pools. Extrat- do o minério, é este negociado por uma associacao, que se aroga 0 direito de fi- xar precos e regular a producao. Na ‘manufatura de ferro gusa, uma associagao acerta os pregos com os fornalheiros. Em 1896, os lingotes de ago eram negocia- dos em comum (pooled), repetindo-se o fato a partir de 1900, 0 mesmo ocorreu com materiais pesados, como trilhos de aco, vigas, cantoneiras, barras etc., e mate- tiais leves, como correntes, parafusos com porcas, canos e tubulagées. s Poueos desses pools, se houve algum, podem ser considerados como organi- zacées estaveis. Seu colapso freqiiente, segundo Belcher, € 0 resultado natural das primeitas tentativas prematuras de ganhar vaniagens adicionais por meio de eleva~ (40 de precos. O principal interesse Tigado a eles consiste no fato de que, como as “etiangas” inglesas, eles representam esforcos de fabricantes empenhados na in- distria capitalista, no sentido de assegurar um elemento de lucros de monopélio, Sem abandonar a propriedade ¢ o controle independentes de suas respectivas em- presas. § 4. O capitalismo mais desenvolvido dos ramos do transporte ferroviario e hi- droviario levou A adogao de métodos de acordo, na regulamentagao ou limitagao da concoréncia, mais duradouros ¢ ‘bem-sucedidos que os convénios de fabrican- tes que acabamos de descrover. Na-Gra-Bretanha e nos Estados Unidos, que sao > BELCHER, W. E. “Industrial Pooling”. In: Quarterly Journal of Economics Novembro de 1904. Dele os pormenores ‘seguintes foram também tirados, gegpintes foram tombe de poo! a The Consolidated Seedess akin Co. ¢ 2 Natonol Harrow Co, 130 COMBINAGOES DE CAPITAL 0s dois principais paises onde as ferrovias foram deixadas nas maos da “empresa Privada”’, as companhias ferrovidrias, expostas a uma acirrada competicaio, organi zaram sistemas comuns de tarifas para fretes e, também, para o trafego de passa- geiros. Na Gra-Bretanha, esses acordos para regular a “‘concorréncia” sao reconhe- cidos abertamente; nos Estados Unidos, sao ilicitos, mas vigoram mesmo assim. O meétodo inglés é o das conferéncias, entre as quais duas sao principais — “A Confe- réncia Anglo-Escocesa de Tarifas e Fretes” e a “Conferéncia de Normanton”, “A Conferéncia Anglo-Escocesa € constituida de representantes (que sio normal- mente os principais gerentes de fretes — goods managers) de todas as companhias, tanto inglesas como escocesas, interessadas no transporte de mercadorias entre locali. dades da Inglaterra e da Escécia pelas diversas rotas. Esses representantes encontram. se uma vez por més e tratam de todas as questées relativas ao estabelecimento de no- vas tarifas ou a alteragao das tarifas em vigor, para lugares competitivos entre os quais existe mais de uma companhia em condicées de realizar o transporte. A Conferéncia de Normanton, estabelecida originalmente’ para controlar a tarifa em certo distrito do qual a cidade de Normanton, onde suas reuniées tinham sido anteriormente realiza- das, era um centro conveniente, foi paulatinamente estendendo seu raio de acdo a tal Ponto, que hoje € constitufda de representantes de quase todas as companhias de algu- ma importancia na Inglaterra, enfeixando em suas mios 0 controle de quase todas as tarifas competitivas que nao sao da alada da Conferéncia Anglo-Escocesa."® O estabelecimento de tarifas ¢ 8s vezes suplementado por um plano \ylterior, que da ao acordo semelhanca maior com 0 pool industrial mencionado. E. conheei” do como “Divisao Percentual de Trafego”’ “Admitindo-se a existéncia de certo tréfego entre duas cidades ou distritos, e duas ou mais companhias ferroviérias, possuindo cada qual uma rota prépria que lhe permi- te disputar o transporte, chega-se a um acordo segundo o qual as receitas oriundas do conjunto do tréfego realizado por todas as rotas irao constituir um fundo comum e ca. da companhia teré direito a certa percentagem do todo. (...) Os percentuais sao geral- mente ajustados com base nas receitas reais anteriores, mas, no estabelecimento dos termos do acordo, da-se o devido valor a toda vantagem em perspectiva, capaz de as- Segurar a uma companhia o direito de reclamar uma proporgdo maior do que a que Ihe coube no passado.""* onde sao ilegais todos os acordos tariférios explicitos en- tre corporacées ferrovidrias concorrentes, 0 mecanismo de regulacdo é mais infor- mal e oculto dos olhos do publico, nao havendo diivida, porém, de que se recorre continuamente ao estabelecimento de tarifas e mesmo ao Pooling de companhias ferrovidrias competidoras. “E ocioso dizer que nao houve um entendimento entre companhias de navegacéo, quando se verifica uma situagao em que, por exemplo, cada uma das numerosas |i nhas que transportam cereais de Chicago, Saint Louis e pontos correlatos para a costa atlantica aumenta suas tarifas no mesmo dia e exatamente no mesmo valor. Nem as companbhias transportadoras, via de regra, negam essa acéo combinada, embora insis. tam em que ela nao chega a ser um acordo ilegal."”? O termo conferéncia é também usado para indicar a organizagao por meio da qual companhias de navegac&o concorrentes mantém tarifas fixas e impedem o in- °Ver FINDLAY, Sit G, The “FINDLAY. p. 267 Report of Inter-State Commerce Commission for 1903. p. 15, Working and Management of an English Railway. p. 265, COMBINAGOES DE CAPITAL, 131 gresso no ramo daqueles que néo so membros dela. Uma conferéncia @ um Act” do entre linhas principais de navegagio a vapor, que navegam em determina Tr ta maritima, tendo em vista estabelecer uma tarifa fixa “Justa” no fon eile gas e de passageiros. Esse acerto s6 pode ser eficaz se todas ou quase i a nhas regulares entram para a conferéncia, Isso porque 0 poder da conferinc’’ exerce diretamente sobre os expedidores, por intermédio de um sistema co 1 conto”, que opera em parte como suborno, em parte como uma ameaga, Hn”, do os expedidores a negociar exclusivamente com os membros da conferéncia. ifi- sistema parece ter tido origem no comércio com a China, conforme se pode veri car pelas circulares seguintes, que ilustram seu funcionamento ja em 1884: “Temos a satisfacio de conceder um desconto de 5% sobre o volume do frete = brado aos exportadores que confiam exclusivamente seus embarques de ché @ carne geral da China para a Europa (nao incluindo os portos do mar Mediterraneo yest ; gro), 4 Companhia de Navegacao a Vapor Peninsular ¢ Oriental, & Compartis as geries Maritime, a Companhia de Navegaao a Vapor Oceanica, as linhas Glen, tle, Shire e Ben, assim como as Companhias Oopack e Ningchow” Outra circular, emitida pela mesma conferéncia em 1885, estabelece que “a firma responsével pelo transporte de cargas apanhadas em quaisquer portos da China ou Hong-Kong, com destino a Londres, por vapores de companhias nao filia- das @ conferéncia, perdera o direito de qualquer participagao na viagem de volta du- rante todo o periodo semestral em que o transporte tiver sido feito, mesmo que, em outros lugares, ela tenha dado apoio exclusivo as linhas filiadas & Conferéncia”.® O objeto e efeito desse sistema é confinar o tréfego as linhas conferenciadas, de acordo com os precos convencionados, e impedir os navios “sem carreira regu: lar’, a vapor ou a vela, de aportar e pegar cargas em qualquer lugar, com tarifas da conferéncia, ou tarifas reduzidas. O método usual empregado pelas linhas de navegacao a vapor era cobrar, além da tarifa do frete, uma “primagem” de 10% que elas se comprometiam, aps um prazo estabelecido (digamos seis meses), a devolver aos expedidores que nao tivessem utilizado os servicos de vapores “intrusos”. : Como as rotas ocednicas séo as principais vias internacionais, tais conferéncias vem se expandindo naturalmente além dos limites de uma s6 nagéo, e compa- nhias inglesas, francesas, alemas, holandesas e americanas foram atraidas para. o sistema, que se estendeu desde 0 comércio do Extremo Oriente ao do Cabo, In- dias Ocidentais, Australia, América do Norte e do Sul. Quando se trata das confe- réncias mais poderosas, os “‘monopélios”” estabelecidos nao se apdiam apenas no sistema de descontos, mas também em franquias postais e outros subsidios publi- cos, assim como em facilidades portuarias, que Ihes concedem uma vantagem so- bre as companhias nao filiadas. A identidade substancial desse método de competigao limitada com 0 método empregado por ferrovias é admitida pelo presidente da P. & O. Company, nos se- guintes termos: “Nao era possivel dirigir com lucro uma empresa de navegagéio sem uma uniformi- dade de tarifas, estabelecida por uma “conferéncia” das companhias transportadoras. Essas conferéncias poderiam ser comparadas aos acordos que existiram entre as varias *Citagdo de MACROSTY. p. 157 132 COMBINAGOES DE CAPITAL companhias ferrovidrias do Reino Unido. As ferrovias cobravam tarifas idénticas entre ‘05 mesmos pontos, embora mantendo a competicao no terreno da velocidade, da aco. modagao oferecida nos trens @ nas facilidades gerais. Foi isso exatamente © que as companhias de navegagao fizeram”,” Encontra-se em certos ramos dos negécios de seguros, sobretudo nos seguros contra 0 fogo na Gra-Bretanha, a forma de associacéo em que a concorréncia é li. mitada com maior rigor ¢ a independéncia empresarial reduzida a seus niveis mais baixos. Todo o ramo esté nas maos de um numero muito reduzido de compa- nhias, que estabelecem um conjunto de tarifas bem definidas, com severas penali- dades para infracées comprovadas, e concordam em dividir entre si os sequros con- seguidos individualmente, distribuindo-os segundo um percentual estabelecido en- tre as varias companhias. Esse sistema de reinvestimento, destinado prémordial- mente a nivelar os riscos, serve da mesma forma para nivelar as empresas, reduzin- do virtualmente a concorréncia entre as diversas companhias a economias de arre- cadagao e de administragdo de escritorio. O prego que o segurador esta autorizado a cobrar é um s6, mas os agentes das diversas companhias, a fim de assegurar pa- ta suas firmas o fechamento inicial dos negocios, sem dtivida alguma utilizam ligei- ras variantes na forma das apélices e modos de pagamento. § 5. Todas as formas de associagao destinadas a limitar a concorréncia, até agora examinadas, em certa medida ou aspecto ficam aquém_de_uma inteira fusdéo ou identificacao de interesse entre as empresas associadas, Devemos agora considerar casos em que a restricao da concorréncia é levada a uma fusdo que ou funde empresas até entao independentes ou identifica seus in- = teresses de lucro. Tal amalgamagao ou identificagéo pode ser temporaria, se temos ‘| em vista um Gnico coup"? empresarial, ou uma série de coups, em que nao ocorre ’ fusdo de estrutura econdmica ou legal; ou pode ser permanente, implicando o de- « Saparecimento da entidade econémica e as vezes da entidade legal das diversas © empresas. a <« Uma “ inacda”. temy i da ¢nte..cancar X j1e g resas ntes,.a fim de “manipular o mercado”, “‘sequrar’” a oferta, elevar os.precos e em: (bolsar lucros de_monopélio, embora fendmeno freqiiente no empreendimento co- mercial modermo, n&o deve tomar muito nosso tempo. Esses agambarcamentos so normalmente planejados assegurando-se — nos estagios de transporte ou mer- cantis, pelos quais passa a mercadoria-de-um estabelecimento agricola, de uma mi- na ou fabrica ao mercado atacadista ou varejista — um controle da oferta total ou uma porcao suficientemente grande da oferta, capaz de garantir 0 comando dos precos de venda O acambarcamento tipico é um movimento financeiro exercido sobre um dos mercados de produtos, por intermédio do qual safras de trigo ou algodao ou ou- tros importantes suprimentos de alimento ou matéria-prima sao retidos por algum tempo por especuladores, que esperam monopolizar a oferta a fim de forcar comer- ciantes ou outros especuladores que se tenham comprometido a entregar quantida- des dessa mercadoria em determinada data a adquiti-las deles por um preco gran- demente aumentado, Para ilustrar essa manobra, v. de trigo: /eja a seguinte descrigéo de um acambarcamento ” Reunlao anual (eitagiio de MACROSTY. p. 158}, ™ Golpe, Em frances no original (N. do E.) COMBINAGOES DE CAPITAL 133 “O homem que promove um acambarcamento de trigo, primeiro compra ou assegu- 12 © controle de toda a oferta disponivel de trigo, ou 0 maximo que possa conseguir nesse sentido, Além disso, adquire mais do que esta ao alcance do mercado, compran do no “sfje¥éado futuro’ ou fazendo contratos com outros que se comprometem a en- tregar-the trigo em certa data futura, Naturalmente, ele visa a assegurar 2 maior parle de seu trigo, por precos baixos. Mas, logo que ele acha que toda a oferta esta quase sob seu controle, espalha a noticia de que existe um “agambarcamento” de trigo no mercado e compra com alarde tudo que pode, oferecendo pregos cada vez mais eleva- dos, até que cheguem a um nivel suficientemente alto, a seu ver. Agora, as pessoas que se comprometeram a entregar-lhe trigo nessa data estiio a sua merce, Devem com- prar dele 0 trigo de que necessitam, pelo prego que ele estabelecer, e entregi-lo ime- diatamente apés a compra, a fim de cumprir seus contratos. Enquanto isso, 05 moi- nhos devem continuar funcionando e os moageiros tém de pagar um preco mais alto pelo trigo; eles cobram ‘aos padeitos precos mais altos pela farinha, e os padeiros ele- vam 0 preco do pao. Assim se desenvolve o tiltimo ato da tragédia ‘do acambarcamen- to, contado pelas bocas famintas na casa do pobre”. Se a maior parte desses agambarcamentos organizados por financistas séio ne- gécios de curta duragao, acontece as vezes que se tenta fazer uma “‘combinacdo” mais duradoura, que se assemelha mais aos “pools industriais” mencionados aci- ma, Para ilustrar essa pratica, bastaré um tinico exemplo: o do “Sindicato do Co- bre’, que durante algum tempo negociou sob a razio social de “La Société Indus- trielle Commerciale de Métaux”. Sua estéria, em sintese, foi a seguinte: um grupo de capitalistas franceses, em sua maioria n&o proprietdrios de minas ou de indtis- trias metaldrgicas, mas especuladores, pura e simplesmente, aplicou num fundo co- mum uma soma de dinheiro, com a intenco de acgambarcar a oferta de estanho. Antes de atingir esse objetivo, eles foram atraidos para uma especulacéo maior no mercado de cobre. Em 1887, assinaram contratos com as maiores companhias pro- dutoras desse metal em varios paises, obrigando-se a comprar todo 0 cobre produ zido nos trés anos seguintes a um prego determinado, a que se acrescentaria uma bonificagéo equivalente a metade do lucro obtido com a venda do produto. Em 1888, © sindicato prorrogou seus contratos com as principais companhias minera- doras, a fim de que cobrissem um periodo de doze anos, acertando também com elas a limitagao da producao do cobre. Durante algum tempo, tiveram o mercado em suas maos e os precos subiram consideravelmente. Mas, em parte, devido ao malogro em complementar seus contratos, garantindo uma redugao de produgao, e, em parte, pela incapacidade de satisfazer compromissos correntes, 0 agambarca- mento foi rompido em 1889 e os precos, artificialmente inflacionados, cairam. Outras formas mais duradouras de agambarcamento e ‘‘combinacées” organi zadas nao por especuladores de fora, mas por comerciantes e fabricantes, asseme lham-se mais de perto aos pools industriais ja descritos. Assim foi, por exemplo, a fa mosa ‘‘Combinagao de Gado dos Quatro Grandes”, de Chicago, por meio da qual ‘os senhores Armour, Swift, Morris e Hammond controlaram 0 ramo do gado e da came em grande parte dos Estados Unidos, estabelecendo nao s6 os pregos pagos aos pecuaristas como os precos pagos pelos consumidores de carne no varejo. Essas primeiras experiéncias de associacaéo temporaria ou parcial, entre firmas independentes no que diz respeito a propriedade e interesses lucrativos, embora, no momento, sejam elementos perturbadores de magnitude consideravel, nao tém im- portancia grande ou duradoura como formas de associacao capitalista. 11 Evidentemente nao precisa haver desvio real de mercadotias para as mos do “grupo” (ring): a esséncia do monop6- lio consiste no controle de mercadorias e no na sua posse, Capituto VIII Cartéis e Trustes § 1. Desenvolvimento de formas mais estaveis de combinagao § 2. Estrutura do cartel alemao. ~ § 3. Natureza ecdnémica de um truste. § 4, Classificagdo e difusdo dos trustes. * § 5. Poder monopolista dos trustes. fio. ‘ 07 § 6. A economia do grande capital nao é base suficiente para 0 mon aa 0 § 7. As principais origens econémicas ¢ os sustentaculos dos monopélios. § 8. A tarifa — mae adotiva dos trustes. “ § 9. As ferrovias como sustentdculos dos trustes. § 10. O transporte, associado as fontes de suprimento natural § 11. O génio empresarial como base dos trustes. 8 12. A expansao horizontal e lateral dos trustes. ve § 13. Circunstancias que favorecem os trustes nos Estados Unidos. § 14. A origem das combinagdes na Gra-Bretanha. § 15. Os trustes na Gra-Bretanha. § 16. Os monopélios nas artes e profissdes liberais. § 17. Os trustes internacionais. /§ 18. Sintese geral da extensao do poder dos trustes. 135 § 1. O objetivo econémico de todos os “acordos”, “aliangas”, “combina. es", pools e “acambarcamentos", descritos no ultimo capitulo, é estabelecer cer. fa forma ou grau-de “monopélio”, concordando os detentores da oferta em fixa uum. preco de venda e recusando-se a concorrer uns com 0: num processc de redugao de precos. Na maior parte dos casos, quando o que se busca € unt con. trole duradouro do mercado, 0 acordo entre as empresas visa a imposigao de de- terminadas regras a producao, implicando certo grau de controle exercido pela “combinagaio” sobre a conduta das diversas empresas. Do ponto de vista da estrutura e da fungdo econémica, a diferenca entre essas “combinagdes” e a_completa fusdo, consumada_em um_truste, esté somente no \grau, nao apenas no que concerne («) ao controle do preco de venda como () & perda de independéncia no controle da empresa, Sem dtivida, legalmente, a dife- renca é grande, pois, enquanto 0 truste assume, em geral, a forma de uma pessoa juridica feearcis body) — embora a legalidade de formas particulares possa ser “€ontestada —, as combinagoes parciais ou temporarias sdo, em quase todos os ca- sos, extralegais ou realmente ilegais. ae A meio caminho entre as combinacées is, que vimos considerando, e © “trust” ou outra fusdo completa, est4_o “‘cartel”, Como se encontra na Alema- fia, Austria, Bélgica e em outros paises do continente europeu. Embora suas ori- gens possam ser identificadas desde cedo na histéria da industria holandesa e_ale- ma, sua forma e sua importancia atuais séio modernas. Ampliando a idéia de_pool industrial, as empresas que se cartejizam adotam a forma de associag6es de conhe* cimento do publicd, com o objetivo de_fixar precos uniformes, de venda.e regular_a roducao, mas sem assumir o controle aciministativor d fireto sobre as empresas as- socladas e sem estabelecer uma taxa uniforme de lucros. § 2. Entre esses cartéis, os mais bem organizados esto nas industrias carboni- feras, do ferro gusa, do aco e na metalurgia da Alemanha e da Austria. A estrutura do cartel e seu modo de operacao estado mais bem ilustrados no importante cartel de carvao do Ruhr, na Vestfalia renana. Os proprietarios das minas do distrito organizam uma companhia vendedora (com um capital nominal, cujas agdes eles detém), destinada a atuar como agente nico na venda do seu carvao. Essa companhia (ou sindicato) é organizada de for- ma estatutéria como uma sociedade por acées (Actiengesellschaft). Seu comit® exe- cutivo (Vorstand), devidamente designado, recebe poderes para fazer contratos com os donos das minas separadamente, comprometendo-se a receber e vender a producao de suas minas, mediante certos ajustes sobre precos e pagamento; por sua vez, os donos das minas se comprometem a vender todo o seu carvao, coque etc. ao sindicato, com a excecdo de certa quantidade reservada para utilizacdo em suas minas, para seu uso privado e para certas finalidades de suprimento exclusiva- mente local. Os donos de minas também concordam com o sindicato e entre si em formar uma organizacaéo ou associacéo (Versammlung), com vistas a indicar um conselho representativo, encarregado de fixar normas gerais de precos, contribuigées desti- nadas manutencdo do Sindicato de Venda, multas por infragSes ao acordo etc., e fazer outros ajustes para a aplicacao da politica comum. A fungao mais importan- te da associagdo, contudo, é a designagéo de uma comissao para determinar a “participagao”’, isto é, 0 percentual da produgao alocada a cada mina. A comissao diretora do Sindicato de Venda, depois de recebef da associagaéo os regulamentos gerais quanto (a) a produgao proporcional das diversas minas, (B) as normas gerais de prego, comega a aplicar e a fortalecer a politica comum — 1) comprando e vendendo 0 carvao, 0 coque e os briquetes (brickets) produzidos CARTEIS E TRUSTES 137 pelas minas sindicalizadas; 2) fixando 0 preco ou os precos reais de venda nos mer- cados competitivos e ndo competitivos, 3) propondo a associacao as contribuicées para cobrir as despesas do sindicato; 4) examinando 0s livros das diversas minas; 5) propondo multas as infragdes ao acordo. A conseqiiéncia desse mecanismo algo complicado é estabelecer um agente comum de venda e um prego minimo tinico, assim como regular a produgao-geral ea de cada membro do sindicato. O prego minimo de venda é aquele pelo qual o sindicato recebe 0 carvao dos proprietérios de minas. Quando o sindicato vende em distritos competitivos, ele pode fazé-lo até por esse preco minimo. Nas regioes nado competitivas, vende freqiientemente com certo agio, caso em que o exceden- te de preco é em geral, mas nao sempre, devolvido mina abastecedora em ques- tao. O sindicato ndo é operado como uma sociedade com fins lucrativos, pois to- das suas despesas so cobertas por contribuigdes feitas pelos proprietérios das mi- nas; ele € apenas o instrumento de venda de certo numero de proprietdrios de mi has, que, objetivando o lucro, procuram manter altos precos e regular a produgiio. Nao existe pooling de interesses dos capitais, nem garantia de uma taxa uniforme de lucto, nem mesmo um prego uniforme.de pagamento aos diversos proprietatios de minas." Parecem sér dois os pontos fracos do cartel: primeiro/ a recusa de_certos pro- dutores_em_ingressar_no_sindicato, preferindo manter-stia liberdade e adotar uma politica alternativa de vender pelos precos mais altos, assegurados pelo sindicato, onde ele for forte, ou praticar pregos menores que os ‘do sindicato, onde ele for fraco; segundp—as queixas dos proprietarios de minas ou de fabricantes, menores e mais fracoS, de que a cota de participacao (producao) que lhes coube é desvanta. josa, comparada com a dos'produtores maiores e mais fortes. In¢ |_parece estar, contudo, ito_de_que nado é possi- vel_assegurar ocupacao_con ~ oso, cartel. Para enfrentar ou alc- nuar essa" deficiéncia, uma politica de exportacdo..cuidadosafaz_parte das ativida- des do cartel.~ - nes 0 cartel: “Constatamos que o acordo do cartel do ferro 'fixa a quantidade de ferro manufatu- tado que cada estabelecimento tem autorizac3o para produzir, mas ‘no contralto nao constam os produtos que sio exportados, para serem enviados diretamente ao pafs es- trangeiro, ou para serem vendidos a estabelecimentos manufatureitos (por exemplo, fabricantes de vagoes ou locomotivas) e usados por eles para exportacao’. Poderia pa. recer que 0 resultado de acertos dessa natureza seria certo impulso ao comércio expor- fador, mais ou menos independente dos precos pelos quais as mercadorias podem ser vendicas em paises estrangeiros. Mas ‘o cartel se esforca para evitar um volume de produgao que exceda aos requisités do mercado interno; e sua pratica, conseqiiente- mente, nao @ encorajar 0 comércio de exportacio — comércio que é realizado com uma taxa de lucro mais baixa que no mercado intemo, ou mesmo com prejuizo’,""? Parece que os cartéis, em sua maioria, embora relutantes em incentivar o comércio exportador a niveis nao lucrativos, de quando em quando sao levados a adotar es- se método de funcionamento em suas minas e fabricas. Nao sO aprovam e organi- zam 0 comércio exportador com base em precos mais baixos como, em muitos ca- 50s, 0 incentivam por meio de subsidios. Na realidade, 0 desenvolvimento do co- mércio de exportagao foi um dos primeiros motivos para a associagao entre interes- 1 Essa descrigdo do cartel do Ruht & um resumo da valiosa monografia sobre “Monopole” Combinations in the Ger: ‘man Coal Industry, de Francis Walker (American Economic Assocation, 1904) *GRUNZEL. Ueber Konele p. 217. Chagao Cd, 1761, p. 328, 138 CARTELS E TRUSTES, ses mineradores,' ¢ 0 modemo desenvolvimento do comércio exportador de pro. dutos manufaturados e semimanufaturados alemaes é, em grande parte, o resulta. do direto de uma politica de cartel, Mestno que agradasse aos cartéis a regulacay da produgio e dos pregos, sem encorajar um comércio de exportagao menos lucra- tivo, a tendéncia para a superprodugao nas modernas manufaturas é tao forte que uma limitagéo absoluta da produgao as necessidades de um mercado interno regu. lado se mostra freqiientemente impraticdvel, permitindo-se ou encorajando-se uma saida para 0 estrangeiro como uma concessio determinada pela urgéncia do caso, : Durante 0s tltimos anos, os Sindicatos do Carvao e do Ferro adotaram um sis- tema geral de subsidios ou prémios, pagos no aos exportadores dessas matéria. primas mas aos exportadores dos produtos metalicos nos quais © carvao entra co- mo principal custo de produgdo. Ja em 1882, os interesses da siderurgia na Vestia. lia e em Siegenland ofereciam descontos nos precos a certos grupos de usinas de laminacao,* mas o sistema regular de subvencées nas indiistrias mineradoras ¢ me. talrgicas parece ter surgido por volta de 1891.° Com o decorrer do tempo, essa politica de exportac&o dos cartéis assumiu uma forma mais altamente organizada e, em 1902, as industrias do carvao, coque, ferro gusa e “‘semi-acabados” de ferro e aco da Vestfélia renana estabeleceram, em Diisseldorf, uma ‘Camara de Com- Pensagao para a Exportacao”, incumbida de distribuir prémios ao comércio expor- tador.* Essa cémara de compensacio foi autorizada a fixar subsidios para as diver- sas mercadorias, e 0 quadro seguinte mostra as cifras estabelecidas. para o tltimo trimestre de 1902: 1,50 marco por tonelada de carvio, 2,50 marcos» ” " ferro gusa (exclufdo o subsidio do carvao) 10,00 » ” ” " ferro fundido (incluidos os subsidios do carvao e do ferro). Embora esse sistema de cartel pareca ter maior relevancia nas indiistrias do carvao, do ferro ¢ na metalurgia, também as industrias de acticar, petréleo, barban. tes, fios de algodao e de la, retorcidos ou nao, de produtos quimicos, bem como de artigos diversos, como lapis, papel, cimento, porcelana, vidro, couro, produtos de borracha, aparelhos elétricos” etc., estiveram nas maos dos cartéis alemdes e austriacos, A difusao de cartéis na Alemanha avangou realmente, com grande rapidez, a Partir do inicio da era modema da indtstria. Enquanto, em 1870, existiam apenas cinco sindicatos, seu ntimero se elevara a 345 em 1897, cobrindo virtualmente to. da a area da manufatura e do comércio. Durante 98 Gltimos anos, a associacéo de sindicatos diminuiu seu numero e aumentou seu poder efetivo. § 3. Embora os cartéis sejam freqiientemente classificados junto com os trus- tes, existe entre eles uma diferenca sensivel de estrutura econdmica_e fungdo. Ado- tamos aqui o termo americano “trust” como o mais conveniente Para _representar uma-consolidagao de capital dentro de uma_organizagao_econémica suficientemen- te grande e forté para ¢ lar, em medida aprecidvel, a oferta e 0 preco_de ve da dos artigos que negocia. i SWALKER. p. 209. S WALKER. p. 220, SRAFFALOVITCH. p, 23, Cd. 1761, p. 313. ?€d. 1761, p. 358, CARTEIS E TRUSTES: 139 ol industrial, em que participam diversas empresas pertencen- tes a proprietarios diferentes, ficam aquém, tanto no controle da _produgdéo_como do preco, da consolidagio organica de-inferesses sorangda per por um fruste. A propriedade real de toda a oferta, ou da maior parte desta, esta assentada nele. Essa definigdo é, ao mesmo tempo, mais estrita e mais ampla que certos usos comuns da palavra “truste”. Assim, nos Estados Unidos, a palavra é freqiientemen- te empregada para qualificar qualquer grande corporacao, sobretudo se ela é for- mada pela fusao de diversas empresas antes independentes. Hoje, em quase todas as areas da empresa capitalista, especialmente nos setores dos bancos, das ferro- vias e outros tipos de transporte e das indtistrias de mineracao e de elaboracao de metais, a fus&io e a absorcao de empresas mais fracas por empresas mais fortes es- to se processando rapidamente em toda a comunidade industrial avangada. Mas ndo ha razo para diferenciar essas fusées ou “combinagées” de outras grandes companhias ou empresas privadas, se temos em vista propésitos atuais, a menos que sua formagao tenha como objeto e conseqiiéncia dar-lhes um poder substan- cialmente monopolista. Se uma empresa possui esse poder, ndo interessa que ela tenha surgido pela fusio de certo ntimero de concorrentes iguais, pela absprcao forcada de firmas mais fracas por uma mais forte, pela criagdo de uma nova sociedade por ac6es in- dividual ou de uma empresa privada em um novo segmento da industria. Estamos ainda menos preocupados com a origem e significado legal e particu- lar do termo “‘truste’”’, ao enfocarmos os monopélios do ponto de vista econdmico, salvo na medida em que este constitui um testemunho importante da instabilidade e fraqueza do pool industrial ou de outro acordo formal ou informal entre empre-_ ‘sas concorrentes. A incapacidade dos concorrentes nas indistrias do petréleo, acu- car, uisque e outras tantas de assegurar uma cooperacao firme e eficaz, no que diz regpeito a producao e precos, por qualquer método que nao signifique a entrega de seus capitais separados a um conselho administrative com poderes para exercer controle absoluto sobre a conduta de suas empresas, pode talvez indicar que os cartéis, pools e outros “‘acordos” sao simples fases transitérias da transformagao da empresa capitalista em uma estrutura mais elevada e mais perfeita.” § 4. Os trustes de que tratamos compreendem todas as combinagdes de capi- tal, operadas como unidades empresariais e exercendo um controle substancial so- bre um mercado. As formas de associagao podem ser classificadas como a seguir: «) “Trustes propriamente ditos”, em que a totalidade ou a maioria das agées das diferentes empresas associadas é transferida a um conselho, que exerce completo controle, distribuindo certificados. aos diversos proprietrios, conservan- o estes, em alguns casos, hipotecas correspondentes ao valor estimativo de suas fabricas. Em sua forma original, o truste Standard Oil foi o exemplo maximo de rendi- Go total ao conselho, ao passo que o truste do uisque, de rendicao condicional. 8) Consolidagées outras que nao os “trustes propriamente dito: unidade pratica de operacgao é assegurada, mantend em que a le é assegurada do-se a independéncia formal. Pode tratar-se de um acordo tempordrio, quando uma companhia ferrovidria 1 Brustesdo utsauie € 0 melhor exemplo do desenvolvimento a parti de uma forma mais fraca de pool, Durante mui- fos anos, destiladores concorrentes tinham feito acordos, 8s vezes para estabelecer 0 volume da produgéo, 8s vezes im- Pondo um tributo sobre a quantidade de graos moidos, a fim de subsidiar o comércio de expottacao, e, dessa forma, unidade orga de uma inddstria que controla um mercado é 0 trago carac- ~ teristico essencial do truste, que assim se identifica com ‘um monopdlio, em que a 140 CARTES E TRUSTES arrenda outra, mediante uma operagdo de leasing ou simples locagao, politica ado- tada as vezes em outros tipos de empresa. Ou pode ser um acerto permanente, quando uma companhia ferrovidria ou outra corporagdo adquire o controle acionario de outras corporacées, operando-as como partes de seu sistema particular. Quando uma sociedade por agées isolada é constituida, com o objetivo de as- segurar para si o controle acionario de uma companhia ou de diversas companhias concorrentes, a fim de operd-las como ‘um sistema tnico, temos 0 que se chama “sociedade holding’ (“holding trust”) ou “‘sociedade votante” (“voting trust”), cu- ja forma econdmica se assemelha muito ao “truste propriamente dito”, embora seu status legal ou ilegal seja algo diferente, : Os detentores da maioria das aces de uma companhia ou de diversas compa- nhias transferem o direito de voto (voting power), assegurado por sas acdes, para um corpo de mandatarios ou uma holding (trust company), com poderes para diti- git 0s negécios da companhia ou companhias, de acordo com uma linha geral de politica previamente determinada. “Os acionistas podem entao, individualmente, penhorar, vender ou dispor de’ suas agées da maneira que melhor Ihes aprouver, mas o capital votante fica nas maos dos mandatarios. A missao dessa sociedade votante , evidentemente, preservar a continui- dade da politica que, por essa ou aquela razio, 0s acionistas preferem. Pode ser que, em alguns casos, a maioria dos acionistas da firma original considere desejavel destinar todos os ganhos obtidos, durante determinado periodo, ao aprimoramento da proprie- dade, ¢ néo ao pagamento de dividendos. Poderia ser impossivel prosseguir nessa poll- tica com um corpo flutuante de acionistas, muitos dos quais talvez desejassem receber dividendos anualmente. Se, entretanto, as acées continuam transferfveis, mas 0 direito votante permanece nas maos de uns poucos, a politica pode ser seguida firmemente durante um numero determinado de anos.” O exemplo mais notério de uma holding foi a Northern Securities Company, formada com o fim de colocar nas mesmas maos o controle aciondrio de quatro grandes companhias ferrovidrias, com vistas a limitar a concorréncia entre elas e Operd-las como um sistema tinico. A legalidade dessa forma de truste nas ferrovias tem sido questionada com éxito, mas 0 moderno desenvolvimento financeiro res- salta cada vez mais esse método de unificacdo multiforme da posse de agdes por meio da concentrac&o do controle, ) Amalgamacaéo em que se efetua uma “unificacdo” completa de empresas concorrentes, como no caso da fusao das estradas de ferro de New York Central e Hudson, ou a fusao das linhas de navegacao Union e Castle, na Inglaterra Esse processo de amalgamacao completa, seja em virtude de acordo entre iguais, ou pela coergao ou absorgao forcada, realizada por um concorrente mais forte, é, de fato, 0 processo mais geral de concentracao de capital em qualquer se- tor significativo da grande indiistria. Onde tal amalgamagao cria uma base de mo- nopolio, ela pode ser classificada como um “truste”, no sentido da palavra aqui empregado, sendo provavelmente a maioria dos “monopélios” efetivos da manu. fatura, do transporte e das financas estruturada dessa maneira. 8) Absoredo de certo ntimero de empresas concorrentes por uma nova com- aliviar a pressio sobre o mercado interno, para manter pregos remunerativos, Esses pools foram desmoronanda cont ‘nuamente & 0 malogro na manutencdo desses acordos levou & formagao do ttuste. Ver JENKS, The Trust Problem. p, 108, "JENKS. The Trust Problem p. 115-116 CARTEIS E TRUST 141 panhia estabelecida com esse propésito. A United States Steel Corporation e a Atlantic Shipping Combine sao dois exemplos manifestos desse modo de constitui- cdo de um truste,"” § 5, Muitos desses métodos de associacao tém sido adotados com a finalidade de assegurar economias operacionais ou delimitar uma concoréncia fatal, e nao com vistas a exercer quaisquer poderes essenciais de monopélio. Apesar de essas combinag6es serem freqiientemente classificadas como trustes, elas nao diferem es- sencialmente, como entidades econdmicas, de outras grandes companhias que nao so produto de combinacdes e que nao nos preocupam no estudo que faze- mos dos trustes, identificados aqui com monopélios. O poder monopolista-dos trustes 6 sem davida ¢ inteiramente uma questio de grau. Nenhum truste é a fonte Gnica de suprimento no conjunto do seu merca- do; nao existe nenhum truste sem uma concoréncia real ou potencial limitadora \de seu controle sobre os precos. As listas de trustes e combinagdes que se propdem mostrar que uma grande proporgao do agregado industrial dos Estados Unidos ou de outros paises passou definitivamente do estégio concorrencial para um estégio de monopdlio privado nao s&0 confidveis como fontes de mensuragéo acurada, embora sejam titeis como indicadores do grau de progresso da concentracdio capitalista nos diversos segmen- tos da industria. Desse ponto de vista, é significativo verificar que, em 1899, o New York Journal of Commerce publicava uma lista de 350 trustes e combina- c6es, existentes naquele ano, s Grandes corporagées americanas (a maioria formada por associacao) contro- lam praticamente toda a industria do transporte por terra e hidroviario (alimentada pelo vapor e eletricidade), os estabelecimentos bancarios, de seguros e financas em geral, os servigos locais de aqua, gas etc., além dos sistemas locais e nacional de telégrafo e telefone, as industrias de mineragao e de irrigacio, a publicagdo de li- vros e jornais, a maior parte da distribuico urbana no atacado e no varejo, grande parte, provavelmente crescente, da propriedade das terras e dos empreendimentos. agricolas, além de exercer controle completo sobre teatros e muitas outras indiis- trias de recreacéio, e sobre quase todas as grandes manufaturas dedicadas ao supri- mento das necessidades e comodidades fundamentais do povo. O resumo das combinacées. industriais, apresentado pelo Relatorio do Censo dos Estados Unidos, relativo ao ano de 1900, fornece uma indicagdo interessante sobre os tipos de manufatura mais expostos ao desenvolvimento das combi- nagées. [Ver Quadro, p. 142.} A lista seguinte’? compreende artigos manufaturados ou vendidos em 1900 por grandes corporacées, isto 6, com um capital nominal de cerca de 10 milhées de délares americanos: fertilizantes, dlcalis, acticar de beterraba, tijolos, lato, bici- cletas, vagdes ferrovidrios, dleo de algodao, aparelhos elétricos de aquecimento, peixe acondicionado, vidraca, instalagdes de iluminacdo a gas ou elétrica, couros brutos ou elaborados, gelo, dleo de linhaca, produtos litograficos, maquinas de cos- tura, malte, mobilidrio escolar, navios, fios de seda, uisque, arames, tiras de ago, agticar de cana, fios, folhas de estanho, fumo, artigos de la, papel de escrever, co- bre, rapé, parafusos e porcas, borax, aco, madeira serrada, produtos farmacéuti- cos, cerveja comum e amarga (ale), (havendo associagées de empresas cervejeiras nas seguintes cidades: Chicago, San Francisco, Pittsburg, Boston, Cleveland e San- Essa clasiicagio conesponde rigorosamente & anslise de Von Halle em sua obra Trusts, Cap. IL "Ver COLLIER, W. M. The Trusts p. 15 142 CARTEIS E TRUSTES iim ‘Rime de |/Nemerode | Clears | tetera 1. Ferro, ago € seus produtos 40 4a7 341.779 954 145 60 2, Alimentos e produtos correlatos, 22 282 247 944 675 33.16 3, Produtos quimicos e andlogos 15, 250 176 512 835, 28 40 4, Metals ndo-ferrosos u 89 118519 401 2052 5, Bebidas alcodlicas 28 219 118 459 158 762 6. Vetculos 6 65 85.965 683 34.42 7. Fumo 4 41 16 191 818 17 66 8. Texteis 8 72 92 468 606 3772 9, Couros ete. 3 100 62 737 011 989 10. Papel e impressdo grafic 7 116 59271 691 16 7¢ 11. Argila, vidro etc. 15 180, 46 878 928 20 2¢ 12, Madeira ete. 8 61 24.470 281 1077 13, Outros produtos 16 118 45 408 869 17 2¢ Total 185 2040 | 1436 625.910 400 04 dusky, Baltimore; e também Milwaukee e Chicago); carvao e ferro (industri¢ Colorado e também do Tennessee), aparelhamento de iluminagao para carro: tricos, vagdes de aco, cimento, fumo prensado para mascar, fios de algodao, { ros, barcos elétricos, baterias elétricas de acumuladores, canos para esgotos, pt tos quimicos, aparelhos elétricos em geral, agticar de glucose, louga de grant mo cubano, papel de jornal e de impressdo, prataria, pélvora sem fumaga e mite, bombas a vapor, uisque “Bourbon” (destilarias do Estado de Kentucky) to (mninas do lago Superior), celulose, biscoitos comuns e bem torrados (crac farinhas, carvao, tapetes, produtos esmaltados e estampados, chumbo brancc parafusos, amido, tubos, papel de parede, pinho, elevadores para passageit¢ dro plano, tecido_estampado, ferro e aco, fermento em po, artigos de bort carvao, caixilhos de janela e portas, petréleo e seus subprodutos, ufsque, cor barbantes, vigas de aco, trilhos de ago, carne de vaca, carvao e ferro, sacos d pel, maquinas de escrever, frutas, maquinas para fazer calcados, tubos de ferr dido, colorantes, farinha, cola couro, sapatos e botinas de borracha, verniz, de escrever etc. E impossivel determinar com preciso aproximada até que ponto, sobr area de mercado, e por quanto tempo essas varias corporagoes tém sido ca de exercer um poder “monopolista”. A maioria delas, provavelmente, tem ¢ do certo grau de monopélio, mas poucas conseguiram © controle amplo e douro sobre um mercado que detiveram, durante longos perfodos, trustes co da Standard Oil e o do agticar. Se em todos esses mercados uma tnica co! ¢a0 controlasse, digamos, 80% da produgio, a seguranga que a concorrénc ai = rante a0 ptiblico consumidor teria virtualmente desaparecido. O percentual exigido de) para determinar um amplo limite de controle efetivo sobre precos variaré, natural- mente, com 0 tipo de mercadoria em questéo e com as diferentes condicdes do mercado, mas pode-se afirmar com seguranca que o grau e extehsao do poder mo- nopolista, exercido pela maioria das corporagées acima mencionadas, estdo muito longe de alcangar o controle exercido pelos exemplos classicos que acabamos de 5 citar. CARTEIS E TRUSTES Considerando a grande sociedade acionéria isolada como instrumento de mo- nopélio, nao ha provas que mostrem que essas empresas industriais incorporadas ja tenham desenvolvido poder suficiente, mesmo nos Estados Unidos, para limitar 2 a producdo ou elevar os pregos durante um periodo consideravel, exceto no caso ; de um pequeno niimero de mercadorias."? Se adicionarmos a esses trustes os pools industriais ¢ outras “combinagées”, 0 monopélio duradouro exercido por : meio da associagao industrial nao afetaré um ntimero realmente grande de merca- dorias. Considerado como um instrumento sélido do controle capitalista, o desen- volvimento do truste industrial é até hoje fraco. As associacées de’ ambito local sur- gidas no ramo do varejo exercem, com toda probabilidade, uma influéncia maior e 3 ea 4 mais difundida sobre os precos pagos pelos consumidores e Com poucas excegdes, 0 poder comprovado do “monopélio” capitalista, nos Estados Unidos, esta encarnado_nao—nos—trustes_industriais, mas, como_veremos, s nas corporagées dp fansporte ¢ das fnangas 2.pas crane s que exploram ser- vicos locale om-siruda Ge Tcetieas_ou_outos privléaos. A infludné ‘acumulela 4 de alteragdes desordenadas nos pregos, exercida por trustes industriais, é indubita- ; velmente considerdvel, mas sua capacidade de sustentar precos tem sido até hoje 5 pequena, irregular e de curta duracdo, tendo em vista a maior parte das mercado- 3 rias transacionadas por eles. E muito duvidoso que uma associagao de simples fa- —| bricantes possa manter um monopélio eficiente, mesmo em um mercado nacional 6 em que contam com a protecao tarifaria. A forca real de um truste manufatureiro ou industrial resulta em geral, quando nao universalmente, de processos nao ma- s do nufatureiros aos quais ele esta vinculado. elé- Embora, por conseguinte, exista ampla evidéncia, comprovando que as corpo- ésfo- rag6es industriais — produto, em sua maioria, de associacao de firmas que antes concorriam entre si — se empenham em toda parté no sentido de regular a produ- Go e elevar os pregos, a fim de conseguir lucros mais altos, s6 a minoria delas tem sido capaz de manter uma carreira de sucesso baseada nesses objetivos. O atual estagio, mesmo nos Estados Unidos, onde 0 movimento avancou com maior rapidez, é mais de experimentacéo multiforme do que de realizagao. Certo grau de regulacao de pregos é, sem divida, operativo nas maiores industrias basicas, mas ele resulta fundamentalmente mais de acordos temporarios entre fir- acha, | mas concorrentes que da imposicéo de qualquer corporacao isolada a que se pos- das e sa dar o nome de truste. e pa- As areas de potencial econémico nos Estados Unidos, onde operam ativamen- i Pe . ) fun- "2 “Em mutios dos mois importantes setores da indasia, as associagbes tem assegurado 0 controle de grande percen- papel | ual da produgao do pas. Em outesinddsbian embora a porcaiagem de tose produgSo contelads pelos Rese t Ges nao seja to grande, existem ainda organizagées com capital muito alto. No cultivo ou distribuigéo dos produtos , que | garcolas, essas combinagbes, embora no desconhecdas --@ o caso da companhia United Fruit sto ainda raras ‘ | E'bem verdade que foram dedos os primes passos no sentco da assocagao de indistias mercants, ndo apenas PazeS | sob a forma de lojas de departamentos como também pela unio de diversos grandes estabelecimentos, segundo di- xerci- | versas linhas — como, por exemplo, a associagdo organizada por H. B. Clapin; mas, até hoje, o maior percentual de Gura- | _22350: empreendimenios comeicis & propriedade de fmns relstwamente pequenas, que tamer os operam. Matas tu | inddstrias manufatureiras, como do vestuério, confeccéo de roupas femininas, chapéus, pequenas ferramentas, apare: mo © | thos eltricos, artigos de uso doméstico, textes e de outos numerosos artigos, esto undamentalmente fora dessas as ora~ sociag6es. Entre os empreendimentos industriais onde no se assinala a presenga das associagoes de grande porte, 0 i da fabricagéo de produtos texteis de algodao ¢ talvez 0 mais importante.” Ver Report of the Industrial Commission. v. ia ga- XIX, p. 604, 144 carvias € RUSTE te “corporacoes”, “combinacées” ou trustes, esto fora dos processos manufatun "08; @ onde ‘um truste manufatureito ¢ poderoso, seu poder resulta em geral des fontes nao manufatureiras. .., 8 6 A pesquisa das origens e sustentaculos de “trustes” bem-sucedidos 1 Estados Unidos e em outras partes nao conseque apontar nenhum exemplo de. Nepslio na manufatura, estabelecido pela economia da _concentracao_de capital qualquer nivel do mercado nacional ou internacional. Trata-se de um ponto de grande importdncia tedrica e pratica. Como ja Mos, a economia da produgdo em grande escala opera_na_ maior parte das ar ‘@ producdo mecanizada, e a experiéncia parece comprovar o fato de qué-é €conomia se desenvolve, em diferentes industrias, até pontos distintos, estabelec 0 em cada industria um tipo maximo de empresa: se esse maximo for ultrapas do, certas perdas de administracao empresarial e outras desvantagens pesa mais que as economias técnicas da producao em grande escala. Nessas circuiist Cias, se, em qualquer indtistria, a economia liquida da produgdo em grande esc continuar a crescer até ou além do ponto em que a grande empresa pode aba: cer © mercado inteiro, sem duvida alguma pode-se estabelecer um monopé Mas somente nessa economia. Uma doutrina simples e amplamente dominante bre a evolugao econémica da sociedade industrial baseia-se na hipdtese da con tizagao (operation) ampla ou geral dessa tendéncia. Efetivamente, com a ampla Pansao dos mercados, resultante do aprimoramento do transporte e do meca mo de venda, torna-se altamente improvavel a materializagio dessa tendéncia tal. Mas nao existe nenhuma razdo a priori pela qual um monopdlio de um me: do local, nacional ou mesmo mundial nao possa ser alcancado, antes que a eco mia progressiva da produgéo em grande escala em determinada inddstria mani tureira tenha-se esgotado. Em mercados locais se apresenta, de fato, com freqi cia, 0 caso de um homem influente, sem nenhuma superioridade que nao influéncia, esmagar um concorrente menor e estabelecer, dentro de certos limi um monopélio absoluto, embora, mesmo em tais casos, se possa sempre que: Nar se a capacidade ou a energia pessoal é um fator de sucesso. Quando, porém, consideramos mercados nacionais ou mundial, é mais prc vel que a economia da producao em grande escala se esgote antes que sejam cangadas as dimensGes empresariais adequadas ao monopélio. Se é imposs Provar que nao basta a simples existéncia de um truste nacional poderoso para mar uma economia de producdo em grande escala, operada por um homem de pacidade empresarial normal, nado ha noticia de nenhum grande truste indus baseado somente numa economia como essa. Se_existem exemplos de trustes eficientes, apoiados exclusivamente na ecc mia_da concentracao de capital, eles devem ser procurados na rea das finang nao na da industria comum, pois é nos bancos, nos seguros_ e nas. financas em tal que se encontra a forca essencial do capitalism modemo; nas financas, 0 : ples vulto do crédito parece atribuir vantagem crescente e sem limites ao con rente em'busca de negécios lucrativos ou ao manipulador de “golpes” lucrativos. § 7. Se examinarmos © surgimento e a estrutura reais dos trustes, vamos contrar sempre a economia da produgao em grande escala apoiada em uma | mais determinada de monopélio. a ses sustentaculos podem ser provisoriamente classificados* como a seguir: 2 Pode se encontrar na obra de Ely (Monopolies and Trusts Cop. I) uma elssicacdo mais complet € cient monopsios ao te- io, 1is- fa- ua no- ge- im- sor a de CARTEIS E TRUSTES 145 1) Acesso especial a matérias-primas, | 2) Controle especial de meios de transporte e distribuigio. 3) Mantagens diferenciais na producao ou comercializagaio, em virtude da posse de patentes, marcas registradas, processos especiais. 4) Franquias, licencas ou outros privilégios pablicos, concedendo monopélio ou res- tringindo a concorréncia. 5) Legislagao tarifaria. A reflexéo nos mostra que esses sustentéculos nao se excluem reciprocamente em todos os casos. A superioridade de acesso a matérias-primas e ao transporte fer- rovidrio, por exemplo, pode ser atribuida, em parte, a franquias pblicas, enquan- to a legislacao tarifaria confere uma vantagem diferencial em mercados. Mas, para 0 propésito que temos em vista, essa classificagao bastaré. Nenhum truste norte-americano, industrial ou de outro género, parece desprovido de um ou mais desses sustentaculos. As condig6es da vida industrial estao tao intrincada- mente vinculadas que é dificil especificar a importancia relativa dada a esses varios sustentaculos. Evidentemente, a forga.de muitos monopélios provém das vantagens com- preendidas nos itens 3 e 4. Invencdes especiais, garantidas por patentes ou pelo se, gredo, podem constituir uma base de monopdlio Gnica e suficiente para uma firma produtora de linotipos ou maquinaria elétrica ou produtos quimicos, No desenvolvimento do truste do acticar, as destilarias de Havemeyer e Sprec- kel alcangaram suas primeiras posigées de predominio, em grande parte, com a posse de patentes que lhes asseguraram economias de produgéo. Pode-se dizer 0 mesmo da Carnegie Steel Company e de outras empresas que atingiram em seus ramos posig6es suficientemente destacadas para que pudessem impor uma ‘‘com- binagado” a empresas dotadas de equipamentos inferiores, Os direitos autorais podem atribuir um poder monopolista similar a um jornal ou outra empresa editora. O uso das marcas registradas, comprobatérias de reputa- Ao, € grandemente baseado nessas vantagens diferenciais de producao. Em certas linhas de manufaturas — isto 6, nos ramos de engenharia, produtos quimicos, ins- trumentos cientificos, maquinas agricolas — todas as firmas mais destacadas ja in- corporaram ao valor do capital da empresa algumas patentes ou outros processos especificos de producaio, e nao séo poucos os trustes mais bem-sucedidos que des- frutam vantagens dessa natureza. Outros conglomerados possuem poderes monopolistas conferidos por conces- sdes legais de regalias ou privilégios, que Ihes dao direitos exclusivos sobre merca- dos lucrativos. As companhias concessionarias de servicos ptblicos locais, de agua, iluminacao, bonde etc. pertencem a essa classe. A fuséo dessas companhias, emba” sadas em monopélios puramente locais, e sua transformacdo em corporagées nacio- nais ou mesmo internacionais, explorando servicos de tracao elétrica ou telefonicos constitui um desenvolvimento importante do capitalismo de nossos dias. As compa- nhias ferrovidrias e telegraficas dos Estados Unidos e as companhias ferrovidrias da Gra-Bretanha extraem~grande parte do poder de monopélio que exercem sobre grandes areas de tréfego nao competitivo das concessdes feitas pelo poder publico; © restante é devido a vantagens naturais de itinerdrios que conduzem a propriedade privada de terras. Nos Estados Unidos, a unificacaio progressiva de ferrovias concor- rentes em uns poucos e grandes sistemas, que adotam tarifas uniformes formando um pool, é, de longe, o aspecto mais temivel da questao dos trustes. As enormes concess6es de terras feitas a companhias de estradas de ferro por meio de alvaras ressaltam 0 cardter ptiblico do poder monopolista que elas desfrutam. Entre os privilégios influenciados ou apoiados pela politica do Governo, deverr ser incluidas as restrigdes @ concorréncia efetiva, decorrentes da limitagao oficial < autorizages para vender certas mercadorias. A industria da cerveja na Inglaterra e em menor medida, em outros paises, configura o exemplo mais notavel do desen volvimento de poderosas corporagées que auferem lucros monopolistas, oriundo: da limitagdo, quando nao da efetiva liquidagaéo da concorréncia local, baseada err restricdes ao ntimero de vendedores de bebidas alcodlicas, impostas pelas autorida des publicas. O sistema bancario de muitos paises contém elementos da entrega publica d. monopolios, no sentido de direitos especiais de emissdo de papéis, ou de gozo di auxilios governamentais especiais, conferidos a um numero limitado de bancos. § 8. O apoio mais geral oft ido aos trustes pela pol 0 _te como. origem.o. sistema_protecionista_da_tarifa_aduaneira. E. dificil definir até _qu ponto a tarifa.é, na_realidade, “a mae _dos trustes” havido casos de truste surgidos diretamente sob protecao de bareiras tarifarias, levantadas para apoia los. O érgio do Reform Club, de Nova York, mencionava, ha poucos anos, um: centena de casos de trustes manufatureiros cuja existéncia ele atribuia ao protecio nismo." A lista, todavia, continha muito itens, tais como suprimento de eletricida de, trilhos de ago, carvao de antracito, livros escolares, éleo de semente de algo dao, que gozam de outros auxilios econdmicos ou publicos, além da tarifa. . ecessario, pot m. ue. ncenti \dustrial_precisa_te .ido_muito_longe_num_ramo_de_negécio, para que a tarifa seja_oper: criaga: P¥/de_um tniste. Os Estados Unidos constituem, por sf 56s, uma enome érea de co mércio livre, e — a menos que, pela acao de outras forcas, o ntimero de concor rentes efetivos no mercado ja fosse muito pequeno — a idéia da fuséo numa Gnic corporacao, a fim de elevar os precos dentro dos limites da drea protetora, ndo se ria factivel. A existéncia de um direito protecionista, ou a probabilidade de sua im posigdo, constitui certamente um forte elemento de persuasdo para que uma em presa, ou um grupo de empresas, que j4 controla uma grande faixa do mercado ir terno complemente sua associagao com o seu rival, ou que o absorva.”” Mas uma tarifa protecionista.s6_poderd criar_ou facilitar a formagao de um trus te quando ae condiches nara uma associacao eficente em escala nacional itv rem sido amadurecidas pela acdo de outras forcas que marcham para o monop< lio. No conjunto, seria mais seguro definir a farifa aduaneira como a lotiva “Hao como a mae dos truistes. Alimentando-os s expensas do conjunto dos consi midores e protegendo-os contra a invasio do mercado interno pela concorrénci estrangeira, ela lhes permite manter seu monopdlio e torné-lo mais lucrativo."* governai ten Ver VON HALLE. p. 50. : 28 Em sua obra Trusts, p. 51, Von Helle ilustra esse fato com 2 ampliagso da grande Cordage Combination, estrutu da ein 1890, na expectativa do Decreto Mckinley 160 Prof. J. W. denks, em sua obra The Trust Problem, p. 40-41, ndo acha que, em muitos casos, a eliminago da ta fa testabelega a conconencia “A eliminagio da tarifa aduaneira, estivesse a industria dependente dela ou nao, certamente destruitia os adver tios do truste, antes que ele proprio desaparecesse, Nessas citcunsténcias, em qualquer dos casos os consumidores i dubitavelmente se beneficiariam de pregos mais baixos.” “E também verdade que, em muitos casos, a eliminacio da tarifa, fortalecendo concorréncia estrangeita, simpl ‘mente daria origem a uma associagao intemacional.” : Contudo, a formagio ea mantitengdo de um truste intemacional no $80 processos “simples”, como até a hist6 do truste Standard Oil comprova: as expenencias bem-sucedidas so pouguissinas e se linilam & érea dos pequen negdcios ow daqueles em que as melhores fontes de matérias-primas 50 muito poucas pata serem alvo de acambar mento, CARTEIS E TRUSTES: 147 mesmo género de ajuda é prestado também pelos pools industriais e por outras as- sociag6es cuja estrutura fica aquém de um truste completo. E provavel que a eco- nomia liquida da produgdo em grande escala, excetuados 0s sustentaculos cons‘ tuidos pelas patentes e pelo subsidio ferrovidrio e © acesso superior a materiais, possa bastar, em certos casos, para elevar as dimensdes de empresas eficientes € restringir seu numero, de maneira a tornar o sustentéculo da tarifa aduaneira o fa- tor determinante de um truste. | § 9. Mas a histéria real dos grandes trustes norte-americanos, altamente repre- sentativos, parece indicar que 0 0 5] | ao_estabelecimento e_implementa- ao do transporte_e.aos suprimentos de matérias-primas-constituem os_sustentacu- Jos mais importantes de um truste duradouro. Entre os “monopélios” ou trustes de primeira ordem, quanto as dimensdes e ao controle de mercados, os da Standard Oil, o da Anthracite Coal e o da United States Steel se destacam como os mais re- presentativos. A origem da associagaio pode ser atribuida, em cada caso, a facilida- des especiais de transporte e a certo controle das.melhores_fontes de suprimento de matérias-prim: E de conhecimento ptiblico que a formagio inicial da companhia Standard Oil se deveu a descontos ilicitos, conseguidos pelo truste em acordos com as ferrovias, cujas linhas atravessavam o distrito petrolifero. A formagao da Camegie Steel Com- pany (nticleo do atual truste do aco), em virtude de um acordo similar sobre taxas preferenciais estabelecido com a estrada de ferro da Pensilvania, é igualmente signifi- cativa, apesar de menos notéria, O controle absoluto da industria do antracito, por meio de um pool de interesses das sete companhias de estrada de ferro que atra- vessam © distrito carbonifero, pertence ao mesmo género de fatos industriais. Em cada um desses casos, 0 controle exercido por meio do transporte ferroviario foi flanqueado pelo acesso especial a suprimentos de material. Se os primeiros pogos de petroleo estivessem distribuidos por varias partes do pats, ao invés de concentra- dos numa regio limitada do Estado de Ohio, nao teria sido possivel organizar, por intermédio do transporte, um monopolio eficiente. A limitacao estrita da oferta do antracito é essencial para a organizagdo compacta que opera essas minas. A forca fundamental do truste do aco, condicéo de sua manutencao, reside no controle exercido por ele sobre os minérios do lago Superior, assim como sobre os meios de sua manipulacao e seu transporte. Evidentemente, nao é necessario que um truste manufatureiro poderoso pos- sua e opere sempre as melhores fontes de suprimento de matérias-primas, embo- ra, como veremos, seja uma politica segura dos trustes adquirir o controle direto dessas fontes. Um controle suficientemente forte dos meios de transporte sobre tri- Ihos, por navios a vapor ou oleodutos, assegura em geral um comando suficiente sobre ‘os suprimentos de origem interna ou importados para controlar o mercado. O truste da Standard Oil s6 comecou a adquitir certa participacdo na propriedade direta de pocos de petrdleo depois de ter avancado bastante em sua carreira: s6 en- tao péde adquirir 0 dleo cru dos produtores, impondo-lhes suas proprias condi- des e, mais do que isso, manter em grande medida essa politica. Da mesma ma- neira, também, o truste do aco ja estava organizado, quando conseguiu a posse di- eta das fontes mais ricas de minério de ferro. — Nos Estados Unidos, o fator central do controle organizado da industria pelos trustes é o poder das companhias ferrovidrias, que domina as ricas fontes naturais de suprimento na mineragao e na agricultura, assim como o transporte das maté. rias-primas até os centros manufatureiros, e dos produtos acabados até os grandes mercados do pais. Nos Estados Unidos, as ferrovias tém sido as Gnicas vias trafegdveis efetiva- 148 CARTEIS E TRUSTES mente na maior parte do pais, 0 tinico meio de comunicagao entre o Leste e 0 Oes- te, No que concerne ao comércio interno, o Mississipi e, em uma parte do ano, 0 conjunto de lagos ao norte, constituem 0 Gnico freio ao controle exercido pelas fer- rovias sobre o trafego de grdos e carne entre os Estados do Oeste e do Centro até © Leste superpovoado, assim como sobre a distribuiggo de produtos manufatura- dos procedentes dos Estados do Nordeste para todo o continente, e sobre o trans- porte de carvao, ferro e outros minérios dos distritos mineradores para os centros manufatureiros, No inicio do desenvolvimento das ferrovias, linhas pequenas e independentes, em grande ntimero, disputavam, umas com as outras, 0 servigo do transporte. “Com © crescimento dos sistemas, recorreu-se a acordos de varios tipos, a comegar por convénios de tarifas, passando por pools, de 1870 a 1887, depois transformados em sociedades transportadoras entre 1887 e 1898, culminando no principio da comu- nidade de interesses, de que a Northern Securities Company é 0 exemplo mais expres- sivo.”"!7 No que tange ao tréfego mais importante, o que liga os Estados do Meio-Oes- te aos do Leste, essa concentracéo avangou tanto que esses grupos, de composi- cao razoavelmente estavel, comandam quase todas as estradas entre Chicago e a costa, estendendo os seus tentaculos, fincados em Chicago, até os grandes Estados mineradores e agricolas destinados, num futuro proximo, a converter-se nos princi- pais centros da industria e da populagao norte-americanas. A natureza real dos lagos que unem as companhias ferrovidrias a outro estabe- lecimento empresarial iré aparecer quando discutirmos 0 aspecto financeiro do ca- pitalismo moderno. Basta, no momento, assinalar que muitas dessas estradas de ferro possuem, controlam e as vezes operam minas, sidertirgicas, obras de imiga- ¢40, canais, silos, currais anexos a matadouros de gado e grande variedade de em- presas que nao tém nenhum vinculo essencial com as companhias ferrovidrias, nas guais, freqiientemente, por normas de seus estatutos, sao proibidas de participar. Mais importante ainda sao os acordos indiretos, freqiientemente secretos, pelos quais elas se comprometem a favorecer trustes e associagdes a que nao estdo orga- nicamente ligadas. O principal instrumento de favorecimento reside nas facilidades especiais de transporte, que, segundo o Prof. Ely, podem ser classificadas como a seguir: “{a) Facilidades gerais, como © fornecimento de vagdes a um concorrente com mais presteza que a outro; (B) expedicao imediata da carga do expedidor favorecido, enquanto a de outro fica no desvio; (y) oferecimenté de melhores instalagdes terriii- nais a determinada pessoa; (8) manutengao de relagdes especiais entre os varios tipos de embarque — como, por exemplo, entre vagdes-tanque e tambores ou entre trans- porte ferrovidtio, hidroviario e por oleoduto — que beneficiam alguns e outros nao; (c) classificagdes de fretes, estabelecidos e depois modificados em beneficio de grupos favorecidos; ({) discriminacdes em favor de zonas geograficas, para atender a interes- ses de grupos de expedidores.”"® Um interesse empresarial comum, incorporado em um acordo, ou em um en- tendimento mutuamente benéfico, entre um truste e uma ferrovia, possibilita ao © Ver MEYR, Prof. American Economic Association Report. 1904. p. 110. MELY. Evolition of Industrial Society. p. 210, ee CARTEIS E TRUSTES 149 truste salvaguardar e utilizar quaisquer outras vantagens que possa ter, no tocante ao volume e ao controle especial de materiais ou de mercado, induzindo a ferrovia a apoiar todas essas varias formas de tratamento diferenciado. § 10. A importancia que o transporte ferrovidrio assume no funcionamento dos monopélios industriais, especialmente nos Estados Unidos, é facil de entender. Se nés acompanharmos o fluxo de matérias-primas industriais, a partir das indus trias extrativas primarias e afravés-dos varios processos manufatureitos e mercantis que as transformam: e colocam a ‘disposicéio dos consumidores, descobriremos que, na maior parte dos casos, esse fluxo de producdo é muito restrito na etapa do transporte: os produtores da matéria-prima sao numerosos e disseminados; seu produto, uma vez entregue a concorréncia, tenderia a passar para as maos de di- versos fabricantes concorrentes que, por sua vez, passariam os produtos acabados a muitos comerciantes atacadistas e varejistas. Mas a coleta e o transporte de maté- rias-primas, carvao, graos, algodio, gado, desde os primeiros produtores até os fa- bricantes, ou as forcas do mercado atacadista, obrigam a corrente a passar por um estreito canal de transporte, onde a concorréncia, normal e necessariamente conti- da, pode ser eliminada com facilidade: por conseguinte, um grupo de fabricantes, de comerciantes, ou de especuladores de produtos pode organizar, da maneira mais efetiva, um monopélio ou controle de producao e de mercado, mediante o auxilio de _um sistema ferrovidrio. Quando as proprias estradas de ferro nao deci- dem ou nao sao capazes de organizar 0 monopélio, como fizeram no caso do an- tracito, elas esto prontas a entrar num pacto lucrativo com uma corporagao ou pool independente, colocando & sua disposicéo 0 poder monopolista referente ao estdgio do transporte. Armado com tais poderes, o truste do gado, formado por Armour, Swift, Mor- ris e Hammond, pode estabelecer o prego que pagaria aos criadores de gado que nao tinham outro comprador sendo o truste, e fixar 0 prego que os consumidores deveriam pagar pela came. A arma econémica empregada pelos trustes consistiu na distingao das tarifas de fretes e em outras facilidades de transporte e de termi- nais, asseguradas pelos favores concedidos pelas ferrovias. Em outros pafses, onde o fator ferrovia é menos dominante, como na Alema- nha ou Inglaterra, as taxas ou as facilidades especiais — obtidas quer por meio de influéncia politica (quando se trata de ferrovias estatais), quer de acordos privados — formam uma economia de vanguarda, constituida de trustes ou outras grandes organizagées de capital. Nos casos em que as companhias feroviarias estabelecem Ppregos mais baixos pelo transporte de grandes quantidades, a longa distancia, tal distingéo, embora as vezes ilegal, ndo pode ser tida como injusta, pois as tarifas mais baixas correspondem aos custos mais baixos de carregamento: nao ha mais tazio por que © transporte de pequenos volumes, a curtas distancias, deva ser fei- to pelos mesmos precos do transporte de grandes volumes, a longas distancias, da mesma forma que quaisquer outros precos do varejo devam ser tao baixos quanto 0s precos do atacado. Mas quando, como acontece geralmente, se concede abatimentos ou outras facilidades especiais a expedidores de carga, sem levar em conta a economia de transporte, ou, ao contrario, exagerando-a, as ferrovias passam decididamente a fo mentar monopélios. O fator transporte no monopdlio nao pode, todavia, ser operado plenamente, sendo em conexao com alguma limitacdo natural no suprimento de alguma maté- tia-prima ou no mercado de produtos acabados Se a matéria-prima pode ser obtida em muitos lugares, com a mesma qualida- de, sua transformacao industrial tera pouca probabilidade de ser concentrada, e 150 CARTEIS E TRUSTES: seu fluxo sera menos estreitado no estagio do transporte. Um agambarcamento du- tadouro de trigo, ou mesmo de algodao, é muito mais dificil de concretizar-se que um de antracito ou de petréleo, Por outro lado, quando o suprimento de material, por melhor e mais acessivel que seja, esta confinado estritamente a uma localida- de, pode-se criar um monopélio eficiente sem apoio de uma companhia ferrovia- ria Assim, © truste do papel, que durante certo tempo controlou os pregos nos Es- tados Unidos, viveu do monopolio de uma fonte de energia elétrica e de 4reas flo- Testais que possufa, situadas em condi¢des de aproveitamento na producdo barata de papel. Pode-se, portanto, resumir_da seguinte maneira_os sustentaculos reais dos trus- tes norte-americanos: controle de tarifas ferrovidrias, controle de fontes limitadas de carvao, ferro ¢ de outros recursos naturais, controle de patentes, protecao tarifa- ia conta a concorréncia do_comércio mundial e, finalmente, burla da tributacao sobre o valor mercantil de sua propriedade, 0 que nao é consegiiids pelo peque empresario.? : § 11. E indispensavel admitir que um.truste_pode ter outra_origem ¢ sustenta. Culo, Vimos que a economia da producao capitalista caminha para o estabeleci mento, em toda a indtstria, de uma empresa cujas dimensées representam uma economia maxima. Quando definimos o limite normal dessa empresa, reconhece- mos que a economia da administragao era um fator de primordial importancia. De- pois de atingidas certa magnitude e complexidade, aparece o desperdicio, resultan- te da falta de controle empresarial central. Mas pode surgir, as vezes, um_empresé- tio de energia e capacidade_anormais, cuja mente pode levar_a administracdo em granide“escala muito além_dos limites normais, apresentando atributos de discemi- mento ou de organizagao que postergam a aplicacdo da lei dos retornos decrescen- tes, os quais, de outra maneira, barrariam o crescimento da empresa além dos limi- tes normais. ' Quando as economias normais de producdo em grande escala esto esgota- das, antes de a empresa ter atingido as dimensdes necessarias ao estabelecimento de um truste ou monopélio nacional, essa rara capacidade empresarial pode ser su- ficiente para eleva-la ao nivel requerido. Quando poucos homens, relativamente, tem a oportunidade de descobrir, exercitar ¢ exercer um falenfo_natural para_a or- geTizac2o. empresa Gn Ua hes: sheer ahd ane oe a OF possivel stirgir, as vezes, uma mente empresarial tao Superior a de seus competido- tes que 68 esmaga, erguendo um monopdlio sobre suas ruinas. “E do Prof. H. C. Adams a proposta de que um trusté pode ser © produto de um monopélio de capacidade natural, como também de um monopélio de mate- tias-primas, ou de outro requisito: rs “Um levantamento abrangendo os tiltimos cem anos de transformagao industrial evi- dencia fato de que, em seu componente mecadnico, a indtistria vem-se desenvolven- do de forma mais rapida que em seu componente gerencial e administrativo, ocupan- do a escassez de talento empresarial um lugar importante em toda explanacao final so- bre a competicio congestionada — frase que me parece sugerir um diagnéstico bastan- te acurado dos males industriais de nossa época... Na medida em que se pode atribuir a centralizagio do poder industrial a uma falha na oferta de competéncia empresarial, nao se pode esperar um alivio permanente para os males dos trustes, até que o mais elevado grau de inteligéncia empresarial se converta em uma propriedade comum do "Ver BEMIS, E. W. American Economic Association Repon. 1908, p. 121 CARTEIS E TRUSTES: 151 mundo dos negocios. O truste pode ser encarado como um agambarcamento de vi- sao, de talento e de coragem empresariais”.”” Pode-se admitir com seguranca que essa rata capacidade empresarial da gran- de elasticidade 4 concepgao sobre a dimensdo normal maxima da empresa e que, de fato, um truste bem-sucedido deve seu éxito sobretudo ao génio administrativo e estratégico de seu. principal organizador. Nao ha, contudo, nenhuma prova de que a formacdo de um truste se baseie somente na competénda do empresario: em todos os casos observa-se a presenca de um ou mais dos outros sustentd- culos.** § 12. Ao nos voltarmos agora para a estrutura do truste, amparados pela anali- se que acabamos de fazer, estaremos preparados para esperar uma extensio de fungdes.|No exame geral da grande empresa modema, vemos que ela se estendia tanto verticalmente, a fim de abranger processos anteriores e posteriores, como ho- rizontalmente, acrescentando novos tipos de produto e subproduto a sua linha ori- ginal de produgao| Um truste qiie procura assegurar e fortalecer seu monopélio é impelido, por consideragdes de ordem excepcional, a uma ampliacéo similar de sua estrutura. Comegando pela organizagaio de um processo particular de manufatura, ele é natu- ralmente levado a buscar, por um lado, o controle ou a posse do mercado de suas principais matérias-primas e, por outro, dos mercados para a venda de seus produ- tos manufaturados. Assegurar ndo somente as facilidades especiais do transporte, mas também a posse real das melhores fontes de suprimento; entregar seus produ- tos diretamente a magazines varejistas, que estéo sob seu controle e obrigados, por acordos, a s6 vender seus produtos por precos preestabelecidos, si0 métodos usuais da economia dos trustes. Realizando © transporte de matérias-primas e pro- dutos acabados em vagées, tanques ou oleodutos, navios ou barcagas de sua pro- priedade, o truste prossegue no rumo da aquisicao e¢ controle de toda a cadeia de Processos produtivos e distributivos. A isso acrescentam-se geralmente o controle de fabricagao e outros processos subsididrios das operacées principais, a posse de suprimentos de carvéo ou eletricidade, a fabricagdo de maquinaria e de outros equipamentos indispensdveis para assegurar a auto-suficiéncia de um truste. A ex- pansao horizontal assume em parte a forma de novos produtos e subprodutos, em Parte a de aquisicao de interesses em outras espécies de produtos que, de outra maneira, competindo com os produtos do truste, limitariam seu monopdlio. Essa Ultima extensdo é ilustrada pela aquisiggéo de companhias de gas pelo truste da Standard Oil, e de canais, por varias companhias de estradas de ferro. | A forma caracteristica assumida por um truste, cujo nucleo é um processo ma- nufatureiro nico, é uma forma que 0 torna muito proximo de um segmento indus- trial completo, abrangendo todos os processos que, direta ou indiretamente, contri- buem para satisfazer as necessidades de um consumidor, relativas a determinado ti- po de mercadorias, Esse fato fica mais bem ilustrado pelos artigos enumerados numa cléusula dos estatutos da corporagao United States Steel, que diz o sequinte: American Economic Association. 1904, p. 104, Da mesma maneira que o talento empresatial ¢ um fator do éxito de um tnuste, ele Ihe transmite um elemento de ins {abilidade, Isso porque, embora ““o controle hereditério” seja menos comum nos Estados Unidos que na Inglaterra, a capacidade de escolher e treinar um sucessor competente nio pode ser considerada como elemento normal do prepa~ to de um grande dingente de truste. A propésito desse fator pessoal no éxito de uma empresa, ver as interessantes ob. servagées de CHAPMAN, Prof, S. J. Lancashire Cotton Industry. p. 170. 152 CARTEIS E TRUSTES, “Construir pontes, navios, barcos, motores, vagdes ¢ outros equipamentos, ferro. vias, docas, rampas, silos, sistemas de abastecimento e distribuigao de égua, fébricas de gas ¢ usinas eletticas, viadutos, canais e outros tipos de hidrovia, e quaisquer ou, tros meios de transporte, assim como vender os itens acima mencionados ou deles dis. por como melhor entender, ou conserva-los e empregé-los” As inddstrias referidas, em grande parte, séo elementos auxiliares ou instru. mentais para a consecugdo dos objetivos finais da corporacao, ou seja, a producao ea venda de varias mercadorias nas quais 0 ago é o material principal. O duplo processo da expansio desse truste pode ser ilustrado pelo quadro abaixo: United States Steel Corporation Fitas Trilhos Ae Nites Tubos. Minério de ferro Fenrovias Usinas de Folhas-de-flandres Minas de carvao Navios Altos- laminagao Pontes Coque Docas forrios Foros Vagies Gis natural etc etc Silos Motores Centrais elétricas etc. Os bens do truste sao oficialmente apresentados, de maneira geral, como a seguir: “78 altos-formos, com uma capacidade superior a 6,5 milhdes de toneladas de ferro gusa anualmente, isto é, metade da produgdo americana em 1900, 149 usinas de aco e seis plantas de processamento final, incluindo fabricagao de barras de ago padrao e chapas, com uma capacidade de aproximadamente 9 milhdes de toneladas de produ- tos acabados; 18 300 foros de coque; cerca de 70% das exploracées de minétios da tegiao do lago Superior, produzindo 12 724 900 toneladas em 1900, 70 830 acres de terras carboniferas, uma area com cerca de 30 mil acres de terras na regido de carvao coqueificavel e 125 embarcacbes lacustres ete.” § 13. Ha quatro razdes prin ipais pelas quais o truste ou associagéo compacta, com, “monopdlio, assume TEanee mroee ne et 2 que na Inglaterra e em outras partes. Primeiro: como fator econdmico, a ferrovia, mais importante que alhures, é capaz de dar maior apoio as associagdes de mineracdo, manufatura e co- mércio. Segundo: a tarifa aduaneira, depois de assegurar aos produtores america. nos © mercado interno, torna as associagées lucrativas mais factiveis que em um pais onde existe liberdade de importacao. Além disso, em nenhum dos paises pro- tecionistas da Europa os grandes interesses manufatureiros obtiveram um controle téo exclusivo da politica tariféria como nos Estados Unidos.’ Terceird. 0 dominio da corupcao politica exercido por interesses empresariais, mais fortes nos Estados Unidos do que em qualquer grande nacao industrial da Europa, possibilita aos grandes conglomerados de empresas ferroviérias e mercantis conseguir /concessoes municipais e estaduais e outros privilégios lucrativos, como também ignorar_impu- nemente muitas leis e negar cota de contribuicao regular para 0 erario ptiblico. ne CARTEIS E TRUSTES, ‘Quarto! a maior absorcaio da energia nacional em operacées empresariais, a maior area para a selecdo de valores, a maior igualdade de oportunidades para subir, o temperamento sanguineo e audacioso do empresario americano, aliado a desobri- gacdo quanto ao respeito de muitas restrigSes legais ou costumeiras que dificultam a evolugao “légica” do empreendimento capitalista na Europa, deram origem a um tipo de “furao” industrial e financeiro (hustler), dotado de idéias mais grandio- sas @ maneiras mais rapidas e inescrupulosas de executé-las. § 14. Mas, embora nessa atmosfera favordvel os trustes se tenham tornado maiores e mais numerosos, nenhuma das condicées peculiares aos Estados Unidos 6 essencial a formacao de um truste. Sem nenhuma ajuda de tarifas alfandegarias ou ferrovidrias verificamos que em muitos setores da metalurgia e de outras indiistrias manufatureiras da Gra-Bre- tanha surgiram associagées de um género menos rigoroso que um truste, que se mostraram capazes de exercer um controle relativamente considerével sobre os reGos. pee Existem eletivamente na Gré-Bretanha muitos exemplos de empresas gigan- tes, formadas por fusées, que ocupam posicdes tio grandes e firmes no mercado interno e externo, no tocante a determinados géneros ou tipos de mercadorias, que na América seriam seguramente classificadas como trustes. O “‘monopélio” ou © poder competitivo especial de que desfrutam provém na maioria dos casos, em grande parte, de .“‘simpatia” ou reputacdo, baseada parcialmente em patentes e processamentos secretos, em larga experiéncia de administragao e na habilidade ou, em outras palavras, na “‘peculiaridade do trabalho”. Em muitos desses casos, a escala das operagées, requerida para um empreendimento bem-sucedido, implica © emprego de um capital enorme, que suscita a fusao e impede o facil restabeleci- mento da concorréncia. Fusdes recentes nas indtstrias do ferro, aco e engenharia oferecem diversos exemplos de firmas que, embora nao estejam absolutamente Ss alheias 4 competicao, desfrutam de certo grau de monopélio pratico em certas _ Areas do mercado e em certos tipos de contratos estatais ou privados, A tal classe pertenceriam a Platts, da cidade de Oldham, no ramo da maquina- tia algodoeira; a Elswick Works (incluindo a Armstrong e Whitworth etc.), na enge- nharia e na-construcao naval; a Nettlefolds (fundindo-se com Guest, Keen & Co, e outras associagdes), no ramo dos parafusos; Vickers & Co. (absorvendo a Maxim, a Nordenfeldt e a Naval Construction and Armament Co. etc.), no ramo das cha- pas para couracas. Como no caso do truste americano, existe uma tendéncia crescente para que essas companhias inglesas se fortalecam, abocanhando as melhores fontes disponi: veis de matérias-primas e estendendo suas operacdes desde a manufatura de arti- gos vendaveis até os processos preparatorios. E assim, por exemplo, que vamos encontrar a Nettlefolds absorvendo a Pa- tent Nut and Bolt Company (de porcas e parafusos), que antes havia absorvido a Dowlais, Iron Company, englobando minas de carvao e de ferro na Espanha, al- tos-fornos, usinas de aco e de laminacao etc.” Da mesma maneira, a grande firma John Brown & Co., fabricante de chapas blindadas e outros equipamentos navais, adquire minas de carvao e de ferro.2* MACROSTY. p. 186 8 "As aparencias afuais nos levariam & expectativa de que a indkistia sidendrgica em bieve estoré resbita a/um grupo Felativamente pequeno de grandes unidades empresariais, como Armsttong, Cammell, John Brown & Co, Vickers Guest, Keen, Weardale, South Durham (acumulando esta cerca de 21 milhdes de libres de capital) © algumas outras Em organizages como essas, a conconéneia pode ser elminada Wo integralmente como sob a egide do tipo mats > ‘mum de uste.” Ver MACROSTY. Economic Joumal, Setembro de 1902 154 CARTEIS E TRUSTES: Em certos casos, em que a posse de patentes ou o controle de matérias- pri- mas sao fatores determinantes do controle de “custo” ou do mercado, a consolida- Go aproxima-se tanto de uma forma de monopélio que chega a ser classificada co- mo um truste real. E 0 que acontece com a Brunner, Mond & Co. no ramo quimi. Co, em que inventos especiais e qualificagao cientifica se juntam para formar o prin- cipal elemento do éxito; € 0 caso também da Borax Consolidated, que se apdia fundamentalmente na posse de todas as minas e fontes importantes de matéria-pri- ma. Na maioria das empresas britanicas, onde uma companhia possui uma posi- §a0 tao forte no mercado que embolsa lucros excepcionalmente altos, nao somen- te pelos baixos custos de produgao mas também pelo controle que exerce sobre os Precos, essa posicdo se baseia na posse de patentes, marcas registradas, acesso es. pecial matéria-prima, a meios de transporte, a obtencao de contratos especiais com © Govemo, ou com algum outro monopélio. A capacidade empresarial privile- giada @ comumente um requisito para a plena utilizacdo dessas bases de monopo- lio. A fusdo de empresas concorrentes e um grande vulto de capital podem ser con- digées de sucesso, embora nao essenciais em todos os casos: o traco caracteristico desses monopélios é mais a criacéo de um mercado especial, apoiado em um tini. Co tipo de mercadoria, na sua forma ou na sua qualidade. ‘A Dunlop Pneumatic Tyre Company, a Huntly & Palmer's Biscuit Company, a Macmillan’s Publishing Company (que’ recentemente incorporou a Bentley), a Cadbury's Cocoa, o Times, sio exemplos de companhias que usufruem esses mer cados especiais, sendo que as mercadorias que elas produzem competem mais com tipos ou géneros diferentes de mercadorias do que com as mesmas mercado. rias produzidas por firmas concorrentes. A elevada diversificagao de mercados é a principal causa dos lucros diferenciais desses monopélios. O “monopdlio” dos Sts. W. H. Smith & Sons nas bancas de livros de estrada de ferro da Union-Castle Line no comércio da Africa do Sul, ou o dos Srs. Kynoch nos contratos sobre 0 comér- cio de pequenas armas de fogo apdiam-se em acordos de negécios especiais, que tornam inoperante a aco de outros concorrentes. Em todos esses casos, instituiram-se limites relativamente rigidos ao monopo- lio. Outros tipos de pneus competem permanentemente com a marca Dunlop, li- vros e jomais podem ser adquiridos fora das estagées ferrovidrias e nao nas bancas dos Srs. Smith, nenhum Governo poderia dar preferéncia aos Srs. Kynoch, se as Propostas dessa firma fossem excessivamente altas, e por af afora. 2U¥§ 15. Embora muitas dessas empresas sejam virtualmente “trustes”, esse ter- mo tem sido em geral reservado na Gra-Bretanha para certas fusées formadas com 0 objetivo confesso de pér fim a concorréncia e de dominar o mercado. Os casos mais antigos foram da Salt Union, constituida em 1888 com um capi- tal de 3 milhdes em agées e 1 milhdo em debéntures, e da United Alkali Com- pany, em 1891, com 6 milhdes de acées e 2,5 milhdes de debéntures. As duas companhias procuraram estabelecer 0 monopolio, controlando fontes de suprimen- to e empregando modos de produgado mais avangados. A concorréncia estrangeira levou-as a faléncia.?* As manufaturas téxteis foram sempre um terreno favorito para as experiéncias britanicas, mas a historia até hoje registra mais fracassos que sucessos. O mais forte desses trustes, e 0 mais bem-sucedido deles, é o formado pelos Sts. Coats no ra- mo da linha de coser. * Ver HUBBARD. Economic Journal. Abril de 1902, CARTEIS E TRUSTES 155 Os Sts. J. & P. Coats, depois de ingressarem num pool ou fundo comum de venda com os seus principais concorrentes — Clarke & Co., Chadwick & Co. e Ja- mes Brook & Co. — fundiram sua empresa com a destes senhores em 1890. Pou- co tempo depois, fizeram grandes investimentos na English Sewing Cotton Co. e na American Thread Co. e, em 1899, adquiriram uma firma belga. Essa série de fu- s6es transformou-os em proprietérios do ramo da linha de coser, nao s6 na Gra- Bretanha e na América como em todo o mundo. A Associacéo dos Tintureiros de Bradford, formada em 1898, uniu cerca de 90% do ramo de tinturaria de Bradford e foi bastante bem-sucedida. A Associagao de Penteadores de La de Yorkshire, formada em 1899, a Asso- ciacdo dos Fiandeiros e Dobradores de Algodao Fino (1898), a Associacaio dos Es- tampadores de Morins (1899), a Associagao dos Tintureiros Britanicos de Algodéo e L& (1900), a Associagao dos Cortadores de Veludo (1900) parecem ter fracassa- do totalmente, enquanto diversos outros experimentos téxteis ainda nao foram sufi- , cientemente testados. A cuidadosa anilise dos trustes britanicos, apresentada pelo Sr. Macrosty (Eco- nomic Journal. Setembro de 1902),”° indica que apenas um pequeno numero de experiéncias nesse tipo de associagao tem tido éxito. Observa-se que, entre os pou- cos bem-sucedidos, quase todos tm como objeto artigos nao expostos ao impacto da forte concorréncia estrangeira: a dos Srs. Coats & Clarke atua no campo inter- nacional e controla o mercado mundial; trés de suas companhias estao no ramo do carvao, onde a concorréncia estrangeira nao é vidvel; uma ou duas outras, co- mo a dos Fabricantes de Papel de Parede, procuram atender aos gostos e as exi- géncias nacionais. Deve-se acrescentar a essa lista de trustes industriais briténicos um grande nt- mero de companhias fabricantes de cerveja. De fato, 0 ramo da cerveja é 0 mais “trustificado” da Gra-Bretanha: uma proporcéo esmagadora desse ramo é controla- da por grandes companhias, formadas em sua maioria pela combinagdo e absorgao. de concorrentes e desfrutando verdadeiros monopélios em reas locais. Esses “trus- tes” de bebidas tém posigao diferente em relacao a outras associagées industriais, re- sultando sua forga de monopélios locais, baseados em licencas para o funcionamen- to de bares e tavernas de sua propriedade, aos quais fornecem bebidas alcodlicas. No ramo do transporte, especialmente com a aplicagao de meios elétricos e ou- tras modalidades de condug&o e comunicagao, registram-se algumas das mais efica- zes formas de monopélio. Sendo um pool baseado em acordos de tarifas etc. de inte- Tesse comum, nosso sistema de ferrovias apresenta, na Inglaterra e na Escocia, diver- sos exemplos de fusdes destinadas a conter a concorréncia, enquanto, em grandes Areas do pais, certas estradas mantém um controle de tarifas que pode propiciar grandes abusos. Em outros segmentos, a National Telephone e a Company Electric Traction.Company sio exemplos de empresas poderosas que jé apresentam, ha anos, muitos dos poderes caracteristicos de um truste inteiramente desenvolvido, § 16. Nos diferentes ramos do transporte, manufatura, mineracao, distribuicao e financas constatamos 0 desenvolvimento de obstaculos organizados na concor- réncia, resultando em comers, pools, trustes ou outras formas de monopdlio. Mani- festa-se a mesma tendéncia, as vezes, no suprimento de necessidades que se colo- cam fora da area habitual da atividade industrial e comercial, pertencendo mais ao mundo da inteligéncia e da arte. Nos Estados Unidos, e, em medida crescente na Ver 0 quadto da p. 156. CARTEIS E TRUSTES 156 [-T-T-T = [=T- = Gi PAL | OOD OTE PT] 000 STS Ht op onseqo] feud sae [Sy te |S = OL ove oo09zz | o009z@ | ° siaiqy parsiom SP22] eS) Sale tS = $ 000262 | 000 2sz vor unpre P98 ar eee gears Weer (et ma L = 000022 | 000 012 ouuayy puefooyy 228g =f. = le = a ¢ pny. 000 bt | 000 OT sianing 12ni9A\ PeHuN) peeps eee ek i st opny 000 0g3 | 000 oss ‘OD INN PUR TIO 2A een} —| — | —]| —- sh og opr, —_—| 000 6€ 9 | 000 6bE 9 siaimpejnueyy awed pueRIog Spe | Hi pe a ss cpr, ——-| 000 164.9 | OOD 0SL9 * uopepossy siaypeaig ren |S ies ¢ opal 000662 | 00922 sya azemasiq atysyioA epenjepenf| —| — |—]— 8 9 oztie — | 08 Zé T | CODOZBT s128g Jooyy pue uoNoD YsaIE, ee eae | ae 86 1e Opn 000 IT > | 000 Ibi > sraanypejnueyy 12deq [2M epenfepen] — | — | — $8 lp 000 9228 | 000 002 8 uuoperossy suatutig C2412 epenepen] — | — | — 06 L opny, 000062 | 000 062 oneossy Arouiyseyy ajax] ee i toa oe 8 eit 000 0b2 | 000 oz sjeonuaya pue obipu $210 Fe) = ae = & Opn. 000 $86 | 000 +86 epenlepen) — | — | — a se opr, | 008 996 I | 008 £6 I + syaquiog oom aa4s%04 9 jenfe | — f-|— 09 LL at 000 034 1 | 000 032 1 Si S0HEO PUE HO YSREG eg eee a hey 06 8 opr, 000662 | 000 661 Uuopersossy [209 puO;PeIg gs [8/8 eae creat a aon IL at 00089 | 000 0Sb s1a6iq OBIpu] au1ysH10.A, 8 lak =) => = z Opn, 000.006 | 000 006 (ovatea) 0379 2494209 "HAH ® a oo La 06 € pee | 00000 | 000 00 . quiog weapiagy 2] 6 |erers| = | — 06 zz et 000 $22 > | 000 000 € siasq proppesg wen] ee f=] = = 0000zg | 000 028 sjeonuiay puespoomarig ysahg, fie | ee fh aa Ie el 000.0399 | 000 000 + aya srauutdg woHoD uj pen] $e | $2 $8 lepen] — = SI biL 000 000€ | 000 052 z “197 yonog Bumag ysy6ug or} st} im] #2 Je fe 09 8 opny 000 0892 | 000 0032 (ogatea) uos 73.209 oz] os] or | oe | oz a $ = 000 000 Ot | 000 005 $ a seo) dB? epen|ePeN] PEN [epeN|ePEN| = — 1s a 000 0b 8 | OSS Oz 8 reay pan, epen|epen| een |ePeN|ePEN| +9. 026, 000 00h Z | 000 002 > uounes aus 061 | to6t |o06t| 668t | 868T| 468r = sopipuyp1o z z wD! OP | sppojs08s0 Pato (zoenemy| uso aad pommua2i9g souisauduo ap 9 soupurpio sopuapiaig sow | opSodiomind | ou es a is a CARTEIS E TRUSTES, 157 Inglaterra, 0 teatro constitui o exemplo mais notavel do dominio de um truste. O “consumidor” comum da obra dramatica, na maioria das cidades norte-america- nas e em muitas cidades inglesas, 6 obrigado a “comprar” o espetaculo teatral que o Sr. Frohman decida “vender”, seja ele qual for, pelos pregos e por outras condi- Ges impostas pelo monopolista: o ator sé pode prestar seus servicos ao ptiblico — representar para ele — por intermédio do Sr. Frohman. A imprensa jornalistica, freqiientemente um monopdlio local, dada a prépria natureza do caso, apresenta hoje tendéncias diversas para a formacéio de “‘trus- tes”, que devem controlar, em grandes areas, a venda de noticias e a manipulacdo da opiniao ptiblica. Na Gra-Bretanha, duas firmas, dos Srs. Harmsworth e dos Srs. Pearson, depois de adquirirem jornais em diversas cidades grandes, tém aumenta- do 0 ntimero de suas propriedades, com o objetivo de economia de produgio e monopolio de mercado, por meio da publicagéo de um “‘periédico simultaneo”, is- to é, de uma rede de jornais circulando em todos os grandes centros populacio- nais, contendo cada qual uma parte dedicada a noticias gerais e “politica edito- rial”, fornecida por um centro Gnico, e uma parte constituida de noticias e politica local, sobreposta a primeira.”° Em outro segmento da literatura — 0 do suprimento de livros escolares — a American Book Company merece ser citada como um exemplo de truste podero- so, cuja forga principal provém do controle que exerce sobre o sistema escolar do Estado, por meio de métodos que caracterizam a politica norte-americana. E possivel, sem dtivida alguma, discutir até que ponto uma Igreja, que coorde- na a oferta de um género especial ‘de servico religioso, sustentada pelas contribui- Ses em dinheito dos seus adeptos, pode ser encarada como uma corporacéio em- presarial. Mas no sistema altamente centralizado e nos cuidadosos acordos de ne- gécios realizados pela Christian Science Church, que fornece literatura e outros ser- vicos a pregos caracteristicos de “monopélio”, temos um exemplo recente de um “truste”’ espiritual, que emprega por meio de métodos que, embora sem dtivida andlogos aqueles que a Igreja Catélica Romana e outras Igrejas poderosas sempre empregaram, sao “‘monopolistas” mais rudes em sua forma. § 17. Embora as tarifas e outras leis e direitos aduaneiros nacionais tendam a manter a estrutura capitalista dentro de limites nacionais, forcas poderosas também atuam no sentido do internacionalismo econémico, de tal maneira que_o truste in- ternacional j4 é uma realidade. ‘ Esse internacionalismo assume varias formas. As vezes, ele implica o controle de um mercado estrangeiro por um truste cujas operacées produtivas se realizam exclusivamente no pais de origem; no entanto, companhias subsididrias podem se estabelecer no pais estrangeiro, como nos casos da Standard Oil Company, com sua coligada Anglo-American, ou a Burroughs & Wellcome, no ramo dos produtos farmacéuticos. Em outros casos, ha uma fusdo de firmas de paises diferentes, com vistas & formagao de um truste intemacional, embora, também aqui, as formas de companhias nacionais sejam freqiientemente preservadas. O Coats & Clarke Thread Trust, j4 mencionado, o Nobel Dynamite Trust, com suas companhias sub- sidiarias na Escécia, Alemanha e em outras partes, e o Atlantic Shipping Trust es- to entre os maiores de suas categorias. A absorcao da firma americana Brooke & Co. (marca “Macaco”) pela Irmaos Lever (sabao Sunlight), com a nova compa- nhia estabelecendo fabricas também na Alemanha e na Suica; e a absorcao da % Um interessante artigo de Allred Harmsworth, em North American Review do més de janeito de 1901, descreve a economia dessa forma de “truste” 158 CARTEIS E TRUSTES: Bryant & May Match Company pela American Star Company sao exemplos de monopdlios mais limitados, dotados de uma base internacional. O Atlantic Shipping Trust ¢ a associacaio de interesses financeiros no ramo da tracdo elétrica, na América do Norte e na Gra-Bretanha, so os exemplos mais sig- nificativos da tendéncia para o internacionalismo no movimento dos trustes. A proposta mais ampla para a extensao do principio do truste 4 concorréncia internacional foi a esbogada pelo ramo do aco em 1904, quando foi alcancado um acordo provisorio entre o American Steel Trust e os principais grupos de produto- es britanicos, alemaes, belgas e franceses, com o objetivo de regular a producao de trilhos de aco,” A base do acordo, como no caso entre os principais pafses da Europa, foi a alocagao a cada pais de um percentual fixo de producao, cabendo 53,50% aos estabelecimentos briténicos, 28,83% aos alemaes e 17,67% aos bel- gas. A parte da Franga seria estabelecida em bases algo diferentes, cabendo-lhe 4,8% do total atribuido as usinas britanicas, alemas e belgas no primeiro ano; 5,8% no segundo ano; e 6,4% no terceiro ano do acordo. Cada pais deveria entao repartir sua cota de producao entre suas companhias constituintes. Todas as gran- des firmas britanicas participaram do acordo que, se realizado com éxito, parecia apto a controlar quase toda a produgao mundial de ago. § 18. Pode parecer que o amplo predominio da concentragao de capital nos pools, trustes e varias associacées locais, nacionais e internacionais, cuja existéncia se comprovou nas diversas areas da indtistria, seja contraditorio com 0 grande vo- lume de provas quanto a sobrevivéncia de pequenas empresas. A incoeréncia 6, contudo, apenas aparente. Em toda a rea da industria, se aqui incluirmos toda for- ma de ocupacao, nem 0 ntimero agregado de pequenas empresas nem o percen- tual dos operarios nelas empregados esto em declinio; mas a independéncia eco- némica de muitos tipos de pequena empresa é violada pelo capitalismo organiza- do, que se implanta nos pontos estratégicos de quase todo fluxo produtivo, a fim de impor tributos sobre 0 tréfego em direcao ao consumidor. O pequeno produtor sobrevive ainda em grande numero na agricultura; mas como a agricultura moderna, para ser bem-sucedida, requer o uso de um capital consideravel e de amplas oportunidades de mercado, o pequeno lavrador torna-se cada vez mais dependente da companhia emprestadora de dinheiro e das ferro- vias. Na manufatura, o pequeno artesao, o encanador “biscateiro” ou outro “em- Preiteiro”, o amolador de Sheffield ou o pequeno fundidor de latéo em Bir- mingham, © alfaiate ou marceneiro que trabalha em casa, embora sobrevivendo em grande ntimero, estéo mais intimamente ligados a grandes firmas de fabrican- tes ou a fornecedores, que contratam seu trabalho e freqiientemente os respal- dam, fornecendo-lhes “crédito”. A independéncia da pequena empresa de “sua- douro”em tantos ramos da induistria de confecgées e outros é, de fato, meramente nominal. Isso vale, em grande parte, para as empresas comerciais: a maioria delas é constituida de agéncias ou escritérios de representacéio de empresas, que, tanto no ramo do atacado como no do varejo, ligam 0 comerciante ou lojista a uma gran- de companhia — manufatureira, de navegagao, mineradora ou comercial — para a qual negociam. O enorme crescimento dos bens “acondicionados” no ramo do varejo e a extensao geral do sistema de magazines com empresas coligadas ou con- troladas ilustra esse aumento de dependéncia. As mesmas influéncias se fazem sentir no mundo da arte e da literatura e até no das profiss6es liberais — massas de jornalistas “colaboradores”, ligados a uma #" Realizadlo no verso de 1905. CJ ‘CARTEIS E TRUSTES 159 ou duas redacdes de jornal, de autores que trabalham para editores ou associagdes literarias, artistas cuja unica chance de vender seus servicos esta na loja de arte: ato- res, musicos, médicos, professores e até clérigos, que ganham seu sustento incerto por meio de uma companhia de intermediarios, 4A medida do poder de concentracao capitalista nao est, portanto, absoluta- mente, confinada a area imediata das operacées capitalistas. Na longa série de pro- cessos produtivos ¢ distributivos, por meio dos quais so criadas e levadas a ven- da, até o consumidor, as matérias-primas da riqueza material e imaterial, encon- trar-se-4 geralmente algum processo que envolva uma organizacao altamente capi- talista. Nesse caso, mesmo que qualquer outro processo esteja incluido na area da pequena empresa competitiva, 0 controle monopolista pode exercer opressio so- bre todos os outros processos e impor ao consumidor final um tributo tao grande como se toda a cadeia de processos estivesse incluida na esfera de monopélio. Es- se poder pode ser exercido, e freqiientemente o é, sobre pequenos lavradores ou pescadores e sobre o ptiblico consumidor, pelas companhias de transporte, ou pe- Jo “grupo” (ring) que controla o mercado atacadista; ele pode surgir em um pro- cesso industrial, onde umas poucas e grandes empresas venham a associar-se; um acambarcamento no mercado produtor pode, de tempos em tempos, usurpar © poder monopolista; ou, apés 0 exercicio da livre concorréncia em todos os estagios anteriores de produgdo e comércio, “grupos” de distribuidores no varejo podem elevar precos locais, a fim de obter lucros de monopélio. Por toda parte, o “siste- ma concorrencial” € minado por associagdes que exercem alguma forma ou grau de ‘“‘monopélio” — isto é, que assumem em certo mercado a posigao de vendedor Unico, capaz de impor seu preco, dentro de certos limites, Interessa relativamente pouco ao consumidor se a “livre concoréncia” é “sustentada” pelo monopdlio em diversos processos da producdo e do comércio ou em um s6: uma “combina- cao” poderosa, que unifique solidamente um processo Unico e necessario, pode exercer 0 mesmo grau de controle sobre a produgio e o prego de venda de uma mercadoria que meia diizia de consércios diferentes, que enfeixem processos ante- riores e posteriores na mesma seqtiéncia de produgao. Na realidade, a existéncia de um poderoso pool ou truste, surgido em um Gni- co estagio de produgio, como, por exemplo, no transporte de petrdleo ou na refi- nagdo do acticar, impede que uma associacao independente de produtores ou dis- tribuidores, em qualquer outro processo do ramo, absorva todos os lucros mono- polistas, sugando no ponto de maior estrangulamento. Embora, como j4 vimos, a “organizagéo” de um ramo de negécio, em determinado ponto, tenda a estender- se & organizagdo dos processos anteriores e posteriores e ao controle de processos subsididrios e concorrentes, nao se pode dizer que essa paralisacao efetiva da con- corréncia tenha se estendido, em grande proporcao, a area geral da industria. A so- brevivéncia de uma concorréncia aguda em tantos mercados comprova, em parte, as condigdes rudimentares dos novos métodos da “organizacgéo” capitalista. Mas, em parte, serd atribuivel ao controle exercido por um ring, pool ou outro consér- cio, que, ao invés de controlar diretamente os processos anteriores, os forca a en- trar numa competicao encarnicada, a fim de poder comprar barato e vender caro. Mesmo que, conseqiientemente, a maior parte de nosso sistema industrial conti- nue ainda a ser concorencial, a area do poder de associacao capitalista esta cres- cendo, e a protecao efetiva ao consumidor, assegurada pela concorréncia, esta di- minuindo. CapiTuLo IX, Poderes Econémicos do Truste § 1. Poder dos trustes sobre processos anteriores ou posteriores. § 2. Poder dos trustes sobre competidores diretos — Controle de mercados. § 3. Controle sobre os saldrios € 0 volume de emprego. of 4. Controle de pregos. § 5. Teoria dos precos de monopélio. § 6. Controle de pregos em relacao a tipos de mercadoria 87. Sintese geral do controle de preco. § 1. Resta investigar 0 poder econémico real que um “monopdlio” possui so- bre os diversos segmentos de uma sociedade industrial. Ainda que o “truste” pos- sa ser tomado como a forma representativa do monopdlio de capital, os poderes econdmicos que ele possui sdo os mesmos, em graus diferentes, de que dispdem todas as outras formas mais fracas ou mais tempordrias de associacao, assim como as empresas privadas que, pela posse de uma patente, segredo comercial ou outra vantagem econémica, exercem o controle de um mercado. Esses poderes de mo- nopélio podem ser enquadrados em quatro topicos, conforme as categorias em no- me de cujos interesses eles atuam: a) empresas mercantis empenhadas num pro- cesso anterior ou posterior de producao; b) concorrentes reais e potenciais ou em- presas rivais; c) empregados do truste ou de outro monopélio; d) © publico consu- midor, a) O poder que um monopélio tem em maos, baseado no setor do transporte, ou em um setor da manufatura ou do comércio, de “‘imprensar” os produtores an- teriores ou menos organizados, ficou patente no tratamento dado aos lavradores pelas companhias de estradas de ferro e de silos e pelo truste do gado nos Estados Unidos. Como ja vimos, até bem recentemente, o truste Standard Oil preferiu dei- xar as terras petroliferas e a maquinaria de extragdo de dleo cru nas maos de pes- 161 162 PODERES ECONOMICOS DO TRUSTE soas ou companhias dele desvinculadas, acreditando que sua posigao de maiores compradores desse produto os capacitaria a ditar os pregos. A queda do preco do 6leo nao refinado, pago pela companhia, de 9,19 délares em 1870 para 2,30 déla- res em 1881, quando o truste foi constituido, e a manutengao de um nivel mais baixo quase uniforme, de 1881 até 1890, comprova a solidez do dominio exercido pela companhia sobre os produtores de petréleo; pois apesar dos aperfeigoamen- tos introduzidos nesse periodo na maquinaria de perfuracao dos pocos e extracao do dleo, essas economias de producao, por si, absolutamente nao bastam para ex- plicar a queda verificada. Na realidade, 0 método empregado pela companhia em suas transages com os produtores de dleo, segundo palavras do proprio advoga- do em defesa do truste, é testemunho convincente do controle que este tinha da si- tuagao. “Quando 0 produtor de petréleo abre um pogo, ele comunica 0 fato & empresa ex- Ploradora do oleoduto (um ramo do truste), que o liga imediatamente ao seu sistema de transporte. Do tanque em que se encontra, junto ao pogo, 0 dleo é levado, quando solicitado, para grandes tanques de armazenagem pertencentes a companhia, onde fi- a a disposigao do dono enquanto ele assim o desejar, A companhia fornece ao produ- tor de dleo um certificado, que the permite levantar dinheiro a qualquer momento; e © Oleo, uma vez vendido, é entregue ao comprador em qualquer posto das linhas de dis. tribuicao.""? O truste do acticar controlava, de forma semelhante, 0 mercado do agucar bruto. E seu poder nao se exercia somente sobre os produtores do acticar bruto. Ditava aos atacadistas do ramo de secos e molhados 0 preco que obrigatoriamente deviam cobrar dos seus consumidores? pelo acticar refinado recebido do truste. truste dos fabricantes de papel de parede fez um convénio com os vendedo- res, obrigando-os a se absterem de comprar 0 artigo estrangeiro durante dez anos. A Standard Oil adotou, no setor do petrdleo, os meios mais severos para im- Por seu monopélio aos varejistas. Um revendedor que tentou chegar a um acordo com os concorrentes do truste foi procurado por um agente deste, que o informou de que, caso nao cessasse suas compras “livres”, uma loja seria aberta nas proximi- dades do seu estabelecimento, para mover contra ele uma guerra de precos.? Em outros casos, apelou-se para um sisterna de descontos, que nao se diferenciava do praticado pelas Conferéncias das Companhias de Navegagao. Assim, na América do Norte, o truste dos ramos de cigarro e bebida alcodlica concede um desconto de 5 a 7% aos fregueses que podem provar que, durante certo periodo, adquiri- ram seus suprimentos exclusivamente do truste.* O poder de um monopélio nao se limita apenas ao controle de precos nos Processos anteriores e posteriores da producao e distribuig&io da mercadoria. Uma das formas mais expressivas assumidas por ele nas manufaturas onde é grande o uso de maquinaria é a do controle ex. lo sobre os concessiondrios de patentes e mesmo_sobre os fabricantes de maquinaria. Onde existe um truste poderoso, o concessionario. da_patente de uma nova invencao s6 pode vend “fru 2 pelo prego do truste..O truste Standard Oil e outros monopélios poderosos sao mesmo cusa de se apropriarem habitualmente de qualquer invengéo nova, patentea- da ou nao, sem pagar por ela, certos de poder evitar com sua influéncia as conse- qliéncias legais de seu procedimento. Hé realmente fortes razées para crer que a } Ver DODD, S.C. T. The Forum. Maio de 1892. ® “Trusts in the United States". In: Economic Joumal. p. 86, {Ver LLOYD, Wealth Against Commonwealth. p. 250; ¢ TARBELL.. History of the Standard Oil Trust VON HALLE. p. 77. — PODERES ECONOMICS DO TRUSTE 163 posicao irresponsdvel assumida por algumas dessas corporagées as leva, com tais propésitos, a um uso inescrupuloso de sua grande riqueza. § 2. b) Como 0 objetivo primordial de um truste é a realizagaio de vendas a pregos lucrativos, e como os precos so diretamente determinados pela relagao quantitativa entre a oferta e a demanda, é evidentemente vantajoso Para um truste conseguir um poder tao completo quanto possivel sobre o processo de regulagao do volume da oferta. Controlar uma cota preponderante da producdo ¢é, de fato, ‘condigao essencial para a existéncia real de um truste. Segundo uma maxima po- pular entre os empresarios da Inglaterra, o éxito de uma fusdo exige um minimo de 70% do ramo, sendo o percentual consideravelmente maior em quase todos os casos de trustes poderosos — por exemplo, a Wall Paper Manufactures alega con- trolar 98% dv seu ramo. Se é verdade que a Standard Oil, em processo de reorga- nizacdo em 1899, alegava produzir cerca de 65% da producdo total de éleo refina- do do pais, o fato é que seu percentual de controle sobre o mercado da regiao Les- te e do Meio-Oeste era muito superior a essa cifra; e a American Sugar Refining Company, segundo testemunho do Sr. Havemeyer, em 1897 fornecia 90% do consumo nacional total. Uma tinica associagao controla 75 a 80% da produgéo de muitos artigos de aco, e em algumas linhas mais ainda.’ A fim de assegurar esse controle, o truste teré que aplicar uma politica de duas faces. Adquirir toda empresa rival ‘que, a seu ver, possa ser operada vantajo- samente, ista os propdsitos do truste, O prego pelo qual ele obrigara os donos de tais empresas a vender nao teré nenhuma relagao precisa com 0 valor da empresa — dependera somente do grau de dificuldade que essa empresa podera causar, recusando-se a fazer parte do truste. Se a firma refratéria tem uma posicgao forte, 0 truste s6 pode forcd-la a vender por meio de um processo prolongado de cortes de pregos, que envolve perdas considerdveis. Para efetuar esse negocio, é preciso pagar um alto prego. Por esse meio, um truste ou um sindicato firmemente organizado colocara sob seu controle 0 conjunto das maiores e mais bem equipa- das empresas que, de outra maneira, com sua concorréncia, enfraqueceriam 0 con- trole do truste sobre o mercado. Uma empresa menor ou uma importante empresa rival que insista em manter-se fora do truste é atacada com as varias armas que 0 truste tem em maos, e esmagada pela forga bruta do seu rival mais forte. O méto- do mais comum de esmagar uma empresa menor é it reduzindo os precos da margem de lucro e, valendo-se da capacidade de resisténcia superior, cai tica do capital de maior vulto, levar 0 concorrente a inanicao. Essa modalidade de guena de aniquilamento é empregada nao s6 contra empresas rivais realmente existentes — € 0 caso de uma companhia ferroviétia que, com a finalidade de afas- tar do tréfego uma linha rival, se empenha em baixar as tarifas do transporte até que cheguem a um nivel inferior ao prego de custo — como também contra a con- corréncia potencial do capital marginal. Depois que fracassaram duas ou trés tenta- tivas de competir com a linha telegrafica instalada por Jay Gould entre Nova York e Filadelfia, por meio de abatimentos que levaram as tarifas a um prego puramente. nominal, bastou a fama dessa arma terrivel para conter ulteriores tentativas de con- corréncia. Dessa maneira, todo truste fortemente constituido pode resquadar firme- mente certa esfera de investimento, reduzindo assim 0 campo de aplicagéo para to- do capital vindo de fora. Esse emprego de forca bruta é, as vezes, qualificado co- mo concorréncia “‘desleal” e tratado como algo distinto da concorréncia comercial normal. Mas a diferenciagao estabelecida ¢ absolutamente enganosa. Assim, ao lo.em ° Ver Report of Industrial Comission, v. XIX, p. 604 164 PODERES ECONOMICS DO TRUSTE derubar um concorrente, 0 truste simplesmente utiliza as economias que, segundo vimos, se vinculam a empresas de grande porte, quando comparadas com as de Pequeno porte. Sua agdo, por mais opressora que possa parecer do ponto de vista de um rival mais fraco, consiste simplesmente na aplicagaéo das mesmas forcas que sempre operam na evolugao do capital moderno, Em uma sociedade industrial competitiva, nao ha absolutamente como distinguir a conduta de um truste, quar. do utiliza seu tamanho e sua capacidade de resisténcia, da conduta de qualquer fa- bricante ou lojista comum que tenta construir uma empresa maior e mais remune- rativa que seus rivais. Cada um utiliza, ao maximo e sem esertipulos, todas as van. fagens econdmicas de tamanho, experiéncia na produgao, conhecimento de mc dos, tabelas de pregos atraentes e métodos de propaganda que possuem. E bem verdade que, enquanto existe concorréncia entre certo nimero de empresas relat. vamente iguais, 0 publico consumidor pode ter algo a ganhar, até certo ponto, com essa concorréncia, ao passo que o resultado normal do estabelecimento bem. sucedido de um truste é simplesmente possibilitar a seus donos a obtengao de lu- cros mais elevados com elevagao dos precos ao consumidor. Mas isso nao consti. tui uma diferenca no tipo de concorréncia que mereca ser denominada “Ileal”, em um caso, ¢ “desleal’’, em outro, E mesmo duvidoso que barganhas como as que mencionamos, entre a com- panhia Standard Oil e as ferrovias; por meio das quais foi estabelecida uma tarifa distinta em favor da companhia, sejam “desleais”, embora sub-repticias ¢ ilegais. No sentido comum do termo, foi um contrato “livre” entre as ferrovias e a compa- nhia de petroleo, e que, a despeito de seu carater disctiminatério, poderia ter sido publicamente defendido nao fosse a interferéncia da lei por causa de um porme- nor técnico. O mesmo se pode dizer até do ato flagrante de discriminagao descrito pelo Sr. Baker: “Uma combinagao, constitulda de fabricantes de molas para vagées ferrovidrios, de- sejosos de arruinar um concorrente independente, néo s6 acertou com a American Steel Association que devia cobrar a companhia independente dez dolares a mais por tonelada de ago que aos membros do cons6rcio, como também levantou um fundo a ser empregado da seguinte maneira: quando, para ganhar um contrato de forecimen. to de molas, a companhia independente fizesse uma proposta, um dos membros do truste estava autorizada a oferecer um prego menor, representando um prejuizo a ser Pago pelo fundo comum. Dessa maneira, a companhia concorrente acabou sendo ex. pelida do negécio”.” Esses casos diferem somente em sua complexidade das modalidades mais simples de vencer uma empresa rival oferecendo precos mais baixos. Muitas dessas taticas sao mesquinhas, sorrateiras e talvez ilegais, mas, afinal de contas, elas diferem mais em grau do que em qualidade das taticas comumente praticadas pela maioria das empresas empenhadas numa guerra comercial aguda. Se elas so “injusias". sera somente no sentido de que toda coercao exercida pelo forte sobre o fraco é “injusta” — veredicto que indubitavelmente condena, de qualquer ponto de vista moral, © conjunto da concoréncia comercial, na medida em que ela ndo se limita a concorrer pela qualidade do produto. © Gnico uso do poder, exercido por um truste ou monopélio, em suas transa- G6es com um capital concorrente que merece ser colocado numa categoria espe- Gal de “infamia”’ é 0 emprego do dinheiro para corromper 0 Poder Legislativo e, dessa forma, assegurar tarifas protecionistas, isengées ou. concessbes especiais, ou "Ver BAKER. Monopolies and the People p. 85. PODERES ECONOMICOS DO TRUSTE 165 outros privilégios que permitam a uma companhia monopolista sobrepujar suas ri- vais, conseguir contratos, frear a concorréncia exterior e gravar o piiblico consumi- dor em beneficio dos trustes. Nessa categoria podemos também incluir a intromis so na aplicacao de Justica, atribuida, aparentemente nao sem boas razées, a al- guns dos trustes: a utilizacdo de dinheiro do truste para assegurar imunidade diante dz acdo da lei, ou, em ultimo recurso, conseguir, mediante propina, sentengas favo- raveis nos tribunais, Esta além de nossos propésitos inquirir até que ponto as afirmagées mais ou menos definidas sobre esse assunto podem ser comprovadas, mas certas revela- coes relacionadas com o Tweed Ring, a Standard Oil, o Anthracite Coal Trust e ou- tros sindicatos levam a crenca de que os capitalistas mais inescrupulosos procuram influenciar tanto os tribunais como o Poder Legislativo, a fim de atender a seus in- teresses empresariais. Contribuig6es para fundos partidarios, com 0 objetivo e o efeito de influenciar a legislacao tarifaria ou outra qualquer, para atender a seus in- teresses, constittem métodos empregados pelos trustes que, embora seja questao de consenso, sao coisas dificeis de provar. Temos, no entanto, o reconhecimento do Sr. Havemeyer diante de uma Comissio do Congreso, de que o truste do act- car, tendo em vista ficar bem com 0 poder politico dominante em cada Estado,’ contribuia para o fundo do Partido Republicano nos Estados republicanos, e para o fundo do Partido Democrata nos Estados democratas. § 3. c) O-controle mais ou menos completo do capital aplicado em uma indis- tria e 0 controle do mercado implicam enorme poder sobre a_mao-de-obra eng: jada_nessa industria, Enquanto subsiste a concorréncia, 0 empregado, ou grupo de empregados, tem a ‘possibilidade de conseguir salarios e outras condicdes de em- prego, determinados, em certa medida, pelos interesses conflitantes de diferentes empregadores. Mas, quando existe apenas um empregador, que é-0 truste,_o ope- ério que procura emprego nao tem nenhuma outra opgao salvo aceitar as condi- oes oferecidas pelo-patrao~ Sua tnica alternativa @ renunciar ao uso da habilidade especial qué Conseguiu-no seu oficio ¢ ingressar no mercado sempre “inchado” do trabalho-nao-qualificado. Isso se aplica com vigor especial a operdtios que adquiri- ram grande destreza pela pratica incessante de uma rotina estreita, cuidando de uma maquina, Em uma fabrica moderna e altamente sofisticada, o empregado mé- dio esta, de maneira geral, menos preparado que outro operario qualquer para transferir, sem prejuizo, sua forca de trabalho para outra espécie de servico." Ora, como ja vimos, é precisamente nessas manufaturas que surgem muitos dos trustes raais poderosos. A Standard Oil e o truste do ago sao donos de seus empregados quase na mesma medida em que o sao de suas fabricas e maquinaria — tao subju- gada ficou a mao-de-obra modema ao capital fixo para o qual trabalha. Alega-se freqtientemente que uma das vantagens de um truste é que as economias associa- das ao seu funcionamento permitem-lhe pagar salarios mais altos que os vigentes no mercado, Nao pode haver nenhuma duvida quanto a capacidade dos trustes mais poderosos de pagar salarios altos, Mas nao ha forca capaz de obriga-los a is- so, e seria hipocrisia pura alegar que os interesses dos trabalhadores fizeram parte dos motivos que levaram um organismo de empresarios astutos a se apossarem de um monopélio. Uma das economias especificas que um grande capital _desfruta em telagaio a um pequeno capital — e que um truste possui par excellence — é 0 po- der de fazer barganhas vantajosas com seus empregados. Ver JENKS, J. W. The Trust Problem p 192. "Ver cap. XV, 166 PODERES ECONOMICOS DO TRUSTE, Entre os trustes mais poderosos, uns poucos reconheceram a vantagem ¢ afastar seus empregados do “movimento trabalhista” geral, introduzindo um p queno elemento de “participagao nos lucros”, ou oferecendo-lhes atrativos para ji vestir suas pequenas poupancas em agdes da corporagéo. Uma pequena fracé dos lucros monopolistas, assim empregada, compra a paz industrial e ajuda a inet tir no ptiblico em geral a crenca de que os lucros de um truste enriquecem muitos nao poucos. Alega-se com alguma razdo que os trustes da Standard Oil, do aco alguns outros sao dirigidos com suficiente inteligéncia para reconhecer que a “ec nomia de salarios altos” cabe o mérito da existéncia de empregados responsave e altamente qualificados. Mas os salarios e outras condigdes de trabalho, predom nantes entre os operarios menos qualificados das minas de antracito? e em outre industrias fortemente “trustificadas”, provam que as classes trabalhadores em ger nada t@m a ganhar com a economia do monopdlio industrial. Mas 0 dominio que ele tem, na pratica, de seus empregados — caracteristic da posicaéo de um monopédlio — nao da absolutamente a dimensao exata do pc der opressor exercido pelo truste sobre a m&o-de-obra. Como a regulagao da prc ducao é © meio empregado pelo truste para manter os precos, seus interesses ex gem freqtientemente que grande parte do capital fixo das companhias que o inte gram permaneca ociosa. “Quando a concorréncia se torna tio feroz que surge freqtientemente no mercad uma oferta de mercadorias tao grande que nem tudo pode ser vendido a precos remt nerativos, é necessdrio que os estabelecimentos concorrentes, a fim de, pelo meno dar continuidade aos negécios, freiem sua produgao (evidentemente, num regime de | wre concorréncia perfeita muitos iréo faléncia). Nessas circunstancias, um pool c¢ mum toma providéncias para que cada estabelecimento funcione segundo uma dé duas maneiras j4 sugeridas. E claro que uma organizacao mais forte, como o truste, e: colhendo os melhores estabelecimentos e operando-os continuamente no regime d sua capacidade maxima, ao mesmo tempo que fecha ou vende outros, utilizando d outra forma o capital assim liberado, conseguir realizar grande poupanga””.”” O truste do uisque é um exemplo expressivo dessa economia. Quando o ra mo do uisque funcionava sob a égide da organizago mais ‘“frouxa” de um pool ir dustrial, cada uma de suas destilarias trabalhava abaixo de sua capacidade max: ma, num ano com 40%, e em outro até com 28% de sua produgao anterior. Mas quando as oitenta destilarias assumiram a forma mais compacta de um truste, j No ano seguinte todas foram fechadas, salvo doze das que tinham melhor situaga e melhor equipamento: estas funcionaram a plena capacidade e sua produca agregada foi tao grande quanto a das oitenta destilarias que estavam funcionand antes." Quando, no inicio de 1894, o Sr. Carnegie combinou com seis outros pro dutores de ago colocar sob seu controle 65% da produgao, os que ficaram de for receberam grandes somas para fechar os seus estabelecimentos.!? A mesma pol ca foi adotada, entre outros, pelos trustes do dleo de algodao, do agticar e da bor racha."* Todos os trustes maiores, na realidade, seguiram esse plano de fechar intei ramente as portas dos estabelecimentos mais fracos e operar exclusivamente o mais fortes, realizando dessa forma uma poupanca de capital e mao-de-obra." Vemos aqui um truste no exercicio de seu poder econdmico de regulador di ° ROBERTS. Anthracite Coal Industry, 1 Ver JENKS, J. W. “Trusts in the United States". In: Economic Journal. v. Il, p. 80. "JENKS. The Trust Problem. p. 34. VON HALLE. p. 62 VON HALLE. p. 66, 108, 'JENNKS. The Trust Problem. p. 33. PODERES ECONOMICOS DO TRUSTE 167 producao. Esse poder, como veremos adiante, nao se limita simplesmente a fechar fAbricas ou usinas menos categorizadas, a fim de conseguir a_mesma produgao agregada com o funcionamento pleno da planta mais eficiente. Em caso de super- produgao, € de interesse do truste reduzir a produgao. Tendo em vista esse objeti- vo, ele fechara abruptamente metade das fabricas, usinas ou silos em um disttito Os donos dos estabelecimentos fechados continuam recebendo do truste suas co- tas como se suas empresas estivessem funcionando. Mas a mao-de-obra dessas unidades, subitamente e sem nenhuma compensagao pelo transtorno, é “poupa da” — isso significa que os empregados sao impedidos de prestar servigos no Gni co tipo de planta (e com material) onde podem empregar sua atividade e sua expe- riéncia. E provavel que um dos resultados da formagao de cada um desses trustes maiores tenha sido 0 de mandar embora varios milhares de operdrios, colocando- 0s seja nas fileiras de desempregados, seja em algum outro setor industrial, onde a experiéncia que possuiam de pouco lhes servira, @ onde seus salarios foram propor- cionalmente reduzidos. Essa poupanga de mao-de-obra nao se limita aos proces- sos produtivos. Com a formacao da American Steel and Wire Company (hoje, ra- mo do grande truste do aco) foram dispensados os servicos de duzentos vendedo- res: uma das primeiras economias do Consércio do Uisque foi a dispensa de trezen- tos caixeiros-viajantes. Pode parecer, de acordo com as consideragées feitas acima a respeito das mudancas de organizagao da producao sob a égide do truste, que seu efeito sobre a mao-de-obra nao tenha sido o de reduzir o emprego liquido e sim dar emprego pleno e regular a um némero menor de pessoas, ao invés de em- prego parcial e irregular a muitas; e que, dessa forma, a mao-de-obra como um to- do levaria vantagem. Continua em curso, até hoje, um movimento industrial em que © emprego irregular facultado a muitos é substituido pelo emprego regular ofe- recido a poucos. Mas é preciso ter em mente, primeiro, que existe normalmente uma reducdo liquida de emprego, que a substituiggio que ocorre nao é a de 100 operdrios com meia jornada de trabalho por 50 operarios com jornada inteira, mas por 30 operdrios somente. Isso porque nao s6 haverd uma economia liquida de mao-de-obra em relacdo 4 mesma producao, resultante do aproveitamento exclusi- vo das fAbricas mais bem equipadas e situadas, como a produgao agregada da em- presa sera reduzida ou sua taxa de crescimento sera menor que no regime da con- corréncia aberta, uma vez que o truste surgiu para limitar a producao a fim de ele- var os precos. A principal economia do truste decorrera, na realidade, da_diminui- 40 liquida_ do emprego de bra. Enquanto o truste se fortalecer e absor- ver uma proporcao cada vez maior da oferta total no mercado, o processo de redu- cdo de emprego, via de regra, continuard. De fato, se a tabela de precos considera- da mais lucrativa pelo truste é tal que provoca grande aumento do consumo, per- mitindo por conseguinte uma expansio das méaquinas e equipamentos de producao, o emprego agregado pode ser mantido ou até aumentado. Mas, como veremos adiante, nada existe na natureza de um truste que assegure tal resultado. A conseqiiéncia normal de colocar nas maos de uma companhia monopolista a ta- refa de ordenamento de uma indtistria é dar-lhe poder, que ela tem interesse em exercer, de reduzir 0 campo de ago da indistria, de mudar sua localizacéo, de abandonar certos setores e incrementar outros, de substituir trabalho manual por trabalho mecanico, sem nenhuma atencaio ao bem-estar dos empregados que esta- vam associados ao capital fixo antes em uso. Quando, depois disso, ponderamos que a capacidade que tem o truste de escolher seus operarios em um mercado com superabundancia de oferta de mao-de-obra, artificiosamente estimulada, dé a0 monopdlio, desobrigado assim de concorrer com outros empregadores, poder quase absoluto de fixar salarios e horas de trabalho, de pagar em mercadorias, e di- tar em geral as condicdes de emprego e de vida, compreendemos 0 sentimento de 168 PODERES ECONOMICOS DO TRUSTE desconfianga ¢ antagonismo com que as classes trabalhadoras véem o desenvolvi. mento desses grandes monopélios em ambos 0s lados do Atlntico § 4. Os que admitem que um truste 6, essencialmente, urn monopélio ¢ que, em virtude da posicao ocupada, tem condigées de vender mercadorias a altos pre’ G08, afirmam as vezes nao ser de seu interesse manter precos altos, tendo, de fato, geralmente, reduzido os precos. - Grandes interesses estao ligados a essas questées,, pois 0 teste direto da forca de um monopélio consiste no controle que exerce sobre os precos. Ocorrem, toda. via, dificuldades logo que procuramos comptovar os Tatos. E verdade que pode. mos, com facilidade, conhecer as flutuacées de precos, tanto das mercadorias “trustificadas” como de suas principais matérias-primas, antes e depois da forma- cao do truste. Podemos assim verificar se, na realidade, os trustes tém reduzido pre- G08 ou em que medida os tém elevado. Comparando as curvas representativas de matérias-primas € de produtos acabados, podemos verificar, embora com menor exatidéo, se a margem ver aumentando ou diminuindo: se ela vem aumentando, podemos concluir, em geral, que o truste esta obtendo lucros de monopélio, ao ele. var 05 pregos pagos pelos consumidores, nao necessariamente acima do nivel ante- ior, mas acima do nivel a que eles teriam descido, se o truste fosse forcado a con. tentar-se com uma taxa normal de lucro, Uma pesquisa muito cuidadosa sobre a matéria, desse ponto de vista, foi feita pelo Prof. Jenks para a “‘Comissdo Indus- tial”. Examinando o truste do acticar, ele chega a sequinte conclusio: “A combinacdo do agticar teve 0 poder de estabelecer, por conta propria, dentro de limites consideraveis, qual deveria ser 0 preco do acticar, baixo ou alto, houvesse ou nao concorrentes; embora, quando ha concorréncia, ela tenha preferido reduzir os pre- G08 e, assim, eliminar seus rivais, a correr o risco de deixé-los ganhar paulatinamente © seu mercado, gracas aos altos pregos cobrados por ela. Durante cerca de nove dos do. ze anos decorridos desde a organizacao do truste, a margem de lucto entre o agticar bruto € 0 refinado foi consideravelmente maior"® do que durante os trés anos anterio- Tes & sua organizagéo, e durante os trés anos em que vigorou uma forte concorrén- sia! O truste do uisque foi menos bem-sucedido na manipulacao de precos, porque “as combinagées formadas no setor s6 conseguiram manter pregos e lucros altos du- rante curtos periodos, visto que quase sempre tentaram assequrar lucros excessiva- mente elevados e superé-los””.” O esforco do truste Standard Oil pode ser assim resumido “O truste Standard Oil foi:constituido em 1882. A partir dai, durante um perfodo de ito ou nove anos, percebe-se apenas uma ligeira queda na margem de lucro. Desde 1891 até 1898, parece que a margem ficou constantemente em torno de 1%, ou exa- famente 1% abaixo da que prevaleceu no periodo anterior. Mas 0 perfodo de margem minima parece ter sido nos anos 1893 e 1894. Durante os tltimos dois anos! houve um aumento firme nao s6 no prego do éleo refinado como também na margem entre 0 dleo crue o refinado”’."” ¥8 Nao podemos, contudo, concluir daf que a margem de lucro cresca de forma comespondente, pols “para que os lu: ‘c1os possam ser os mesmos, a margem entre o prego da matéria-prima eo do produto acabado deve, em yeral, au ventay ligeiiamente com o aumento do prego da materia prima” (p. 133) SENKS. p. 139. ¥ JENKS. p. 149. Isto @, 1898-1900, !JENKS, p. 153-154 PODERES ECONOMICOS DO TRUSTE 169 Essa margem maior nao implica alta correspondente do lucro, pois hé um cus- to adicional de refino a ser considerado. A tabela de precos no ramo de folhas-de-flandres mostrou que 0 efeito imedia- to da combinacao societaria foi a elevacao da margem, e que 0 maior lucro assim obtido foi aumentado, a seguir, por uma reducdo no custo de fabricagio.2” A for- macao da Steel and Wire Company, agora incorporada no truste do aco, produziu (08 Mesmos resultados gerais. “As margens, da mesma forma que os precos de pro- dugao, cresceram rapidamente a partir da data em que foi formada a combina- ao.” § 5. Mas, embora tais pesquisas possam servir para ilustrar o controle de pre- 0s, que é o objetivo essencial a ser assegurado por um truste, elas nao nos permi- tem avaliar 0 elemento “monopdlio” nos precos para os consumidores, nem o lu- cto liquido acima da taxa normal de lucro, que resulta de um truste + Pode convir a um truste nao s6 baixar os precos para os consumidores como reduzir a margem entre o preco dos materiais e o dos produtos acabados; no sé is- so, pode convir a um truste, com controle absoluto de seu mercado, reduzir a mar- gem entre 0 custo de produgao e os precos de venda por unidade de produgéo agregada. Essa menor margem de lucro pode ainda conter um elemento de mono- polio que, se consideramos todo o conjunto da producao, representa o maior lucro agregado que 0 monopdlio é capaz de produzir. S6 submetendo a questao a um enfoque dedutivo é possivel provar claramen- te que os trustes exercem sobre os precos poder antag6nico aos interesses do publi- co consumidor. O truste ou qualquer outra empresa que tenha completo monopélio de qual- quer tipo de mercadoria para a qual exista um mercado se empenhara em fixar preco que lhe proporcione o maximo. rendimento liquido de seus negécios. A ques- to primordial sera: “Quantos artigos devo produzir e colocar 4 venda?” A respos ta a essa pergunta dependera das relages entre dois conjuntos de calculos, referin- do-se 0 primeiro a gastos de producao e 0 outro a elasticidade da demanda por parte dos consumidores. Quanto aos gastos de producao, a tendéncia para restringir ou ampliar a pro dugao depende, evidentemente, de até que ponto sua empresa obedece As leis, tespectivamente, da diminuicao, da consténcia ou do aumento dos rendimentos — em outras palavras, do limite de maxima eficiéncia em relacao a dimensaio da em- presa. Enquanto um aumento ulterior da producio puder ser obtido mediante uma reducao do custo por unidade do produto total, nosso monopolista tenderé a aumenta-la. Mas freard essa tendéncia, em consideragdo ao aspecto demanda da questao. Se produz pequena quantidade, ele pode vendé-la.a um preco alto; mas uma oferta maior implica uma queda de preco. Se o artigo atende a uma necessi- dade premente e ampla, ou estimula fortemente uma Ansia de crescente consumo entre os que se apoderam dos primeiros incrementos da oferta, um grande aumen- to desta pode corresponder a uma queda relativamente pequena de precos. Por outro lado, se o artigo tem fraca influéncia no publico consumidor, satisfazendo o gosto superficial de um grupo pequeno e especifico, dependendo do fator “‘rarida- de” para ser apreciado, ou facilmente substituido na preferéncia publica por outra mercadoria, uma producdo maior s6 pode ser escoada mediante grande reducao de prego. E a relacao entre essas duas consideragées tecnicamente desvinculadas que determina 0 poder efetivo de um monopolista sobre os pregos. A medida que os custos de produg&o caem, pressionando o monopolista a aumenta-la, os precos / 2JENKS. p. 163. 170 PODERES ECONOMICOS DO TRUSTE, de venda de seu produto também caem, pressionando-o a reduzi-la. A prod maxima real, cuja fabricacdo e venda lhe proporcionarao 0 maximo lucro ag do, deve obviamente depender da velocidade relativa entre esses dois movim de precos. i 1 1 i 1 ' \ ' \ \ i é h 1 O diagrama acima,?! expresso geométrica desse jogo de forcas, indica a tenga entre a determinagéo de um preco competitivo e de um prego monop¢ para uma empresa que obedece, no fundamental, 4 lei dos rendimentos cre tes. i “No diagrama a curva ao representa 0 custo varidvel de producaio, sendo po denominada curva de oferta: a linha co representativa das condi¢des de demanda be, correspondentemente, a denominagao de curva de demanda. A linha ox rep taria o prego num regime de concorréncia. As perpendiculares fh e il represente Precos que seriam estabelecidos pela demanda, se o monopolista limitasse a of | eh ou el, respectivamente. As linhas gh e kl representariam 0 custo total por ur na produgao dessas varias quantidades. Os paralelogramos ghge e kine repres 0S Custos totais das diferentes quantidades e os paralelogramos fhpe e ilme corre dem aos rendimentos totais das vendas. Conseqiientemente os paralelogramos r res fapq e ikmn, que se igualam aos paralelogramos correspondentes @ renda total nos 0s paralelogramos relativos dos custos totais, representam o rendimento Ii Se conhecemos o cardter das duas curvas, podemos determinar, com a ajuda d mulas matematicas, onde se encontraré © paralelogramo de maximo rendimento do, e conseqiientemente qual serd o prego de monopélio.”” Pode-se depreender desse diagrama que o prego de monopélio, onde que se estabeleca, no ponto fh ou em qualquer outro, deve sempre ser mai que 0 prego do concorente ox. A reflexao, porém, nos mostra a possibilidac * Adaptado, com pequena alteragao, da obra de ELY ¢ WICKER, Elementary Principles of Economics. p. 184. cao ega- ntos dife- lista, isso. rece- 2sen- m os laa dade ntam, pon- \eno- quer alto e de PODERES ECONOMICOS DO TRUSTE 171 que, no ponto de coincidéncia das duas curvas, que representam respectivamente custos de oferta e elasticidade da demanda, o preco de monopélio e o preco de concorréncia coincidam. Em outras palavras, a economia da producdo ampliada poderia ser to grande, e a economia do consumo reduvzido t&o pequena, que se- ria mais remunerativo para um monopolista vender uma quantidade muito grande de artigos por um prego que nao seria mais alto; poderia ser até mais baixo que o prego de concorréncia. Pois, se por “‘preco de conconéncia” entendermos o preco de mercado que prevaleceria caso 0 mercado, ao invés de ser presa de um mono- polio, fosse dominado por varias grandes empresas competidoras, é bem provavel que um truste achasse financeiramente vantajoso estabelecer precos de venda abai- x0 desse ponto. Isso acontece porque os gastos de concorréncia, que um monop6- lio ex hypothesi poupa, devem ser levados em conta na determinacao do preco de concoréncia: um truste poderia achar lucrativo fixar um prego que representasse um ganho positivo para o ptiblico consumidor, resultante do estabelecimento de seu monopdlio. E provavel que, sob a pressdo dessas forcas, tenham ocorrido ca- sos reais em que o ptiblico desfrutou, sob o regime de monopélio, precos mais bai- x08 do que os que teriam vigorado no regime da concorréncia ou de alguma for- ma de combinacao mais frouxa. § 6. O perigo real dos trustes, no controle que exercem sobre os precos, surge quando consideramos esse controle em_relagéo_com.varios. tipos_de_mercadoria que sao objeto de monopélio. @).4_urgéncia da necessidade a que_uma mercadoria satisfaz_permite_ao_mono- polista_cobrar_precos altos. Quando uma comunidade depende vitalmente de uma Unica mercadoria, como os chineses do arroz, 0 monopolista pode obter preco alto pelo suprimento total que nao excede ao necessario para manter viva toda a popu- lagao. Assim, um monopolista de trigo ou arroz, durante uma época de escassez ex- trema, pode conseguir preco exorbitante por um suprimento consideravel. Mas, (de- pois que a oferta é bastante grande para que toda pessoa possa satisfazer as stias necessidades mais urgentes de subsisténcia, a preméncia da necessidade a ser satis- feita por qualquer oferta ulterior cede rapidamente, pois nao se pode comparar a demanda durante um periodo de fome generalizada com a demanda estimulada pelos prazeres da mesa.) © monopolio de uma necessidade vital 6, por conseguinte, mais perigoso que qualquer outro monopélio porque, além de colocar as vidas humanas a mercé de alguns negociantes, freqiientemente sera de interesse de tais monopolistas limitar a soferta a satisfacdo das necessidades vitais mais elementares. Ao lado desse tipo de necessidade existe 0 que se denominou “necessidade convencional’’, algo que, por forca do costume, ficou definitivamente consagrado como parte integrante do padrao de conforto. Naturalmente, esse padrao difere nos varios tipos de comunidade. O calgado pode ser hoje considerado como uma “necessidade convencional” em quase todas as camadas da sociedade inglesa, e um monopolista poderia elevar consideravelmente o preco desse artigo, sem dimi- nuir muito seu consumo. Ha meio século, todavia, quando o calcado ainda nao se tinha firmado solidamente como parte do padrao de conforto da grande massa das classes trabalhadoras, 0 poder de um monopolista de elevar os precos teria sido muito menor. A medida que descemos na escala da urgéncia das necessidades satisfeitas, verifi- camos que o conforto e 0 luxu sao parte do padrao de vida de um ntimero cada vez menor de pessoas e, como satisfazem a exigéncias intrinsecamente menos im- Portantes, estdo mais sujeitos a serem afetados por uma alta de precos. | | 172 PODERES ECONOMICOS DO TRUSTE b) Intimamente ligado a essa consideragdo e atuando com ela em cada ponto est4/o problema da possibilidade de substituir por outra mercadoria a mercadoria monopolizada. Isso modera, em toda parte, a preméncia da necessidade atribuida a uma mercadoria. Mesmo entre as mercadorias de que habitualmente carecemos, como alimento, abrigo, vestuario, ha poucas, se alguma existe, que ndo poderia- mos dispensar, e nao dispensariamos, se os pregos se elevassem muito. A concor- réncia incessante que se processa entre diferentes mercadorias, que reclamam satis- fazer a uma forma particular de necessidade, ndo pode ser descartada com o esta- belecimento do monopélio de uma delas. Esta ai, provavelmente, a principal expli- cacao para os baixos pregos da Standard Oil. Para fins de iluminagao, o petréleo compete com o gas, as velas e a eletricidade e, a menos que o monopdlio seja es- tendido lateralmente até abranger esses e quaisquer outros possiveis iluminantes, ©8 precos do truste ndo podem ser determinados apenas pela pressao da necessida. de de luz artificial. Apesar de a luz artificial ser provavelmente até mais importante que o agticar de cana, para uma sociedade moderna, um truste de acticar pode ter poder monopolista mais forte que o de um truste de petrdleo, e ser capaz de ele- var 0s pregos mais alto que este, pois os sucedaneos do acticar de cana, como o melago e a beterraba, sao concorrentes menos eficientes do que o gas, a vela e a eletricidade sao para o petréleo. O poder dos monopédlios ferrovidrios depende em grande parte do grau em que seus servicos sao indispensdveis e da inexisténcia de modalidade alternativa de transporte. As vezes, no entanto, os monopélios calculam mal a extensaio de seu poder. As altas tarifas ferrovidrias em vigor na Inglaterra provocaram recente- mente, em diversos setores, a substituicao do transporte ferrovidrio por estradas e canais, nos casos de mercadorias para as quais a rapidez nao era essencial. Pela mesma razao, em outros casos, o transporte maritimo foi deixado de lado. O maior poder de que dispde o monopélio nas ferrovias norte-americanas re- sulta em parte do fato de as distancias serem tao grandes, e 0 transporte maritimo costeiro ou outra forma de transporte hidrovidrio tao afastado que, na maior parte do continente, o monopélio nao sofre a aco moderadora das possibilidades alter- ras de transporte, dey consideracdo inversa, isto 6, a possibilidade de substituir outros artigos de consumo pelo artigo de monopélio, a fim de assegurar um mercado maior, tem in- fluéncia muito importante sobre os Pregos.\ A possibilidade de substituir 0 carvao pelo petrdleo na cozinha e em outras opéracées tem provavelmente muito a ver com 0 baixo preco do petroleo. Freqlientemente, um truste mantera pregos baixos durante uma estacdo, para vender seu artigo por preco mais baixo que o do seu concorrente, e assim expulsd-lo do mercado — concorréncia muito semelhante a que ele trava com o produtor do mesmo artigo. Quando o gas natural foi descober- to nas vizinhangas de Pittsburgo, o prego foi reduzido a um ponto bastante baixo para induzir grande ntimero de fabricas e residéncias a abandonar o carvao e quei- mar gas. Depois que foram introduzidas instalagdes de alto custo, e consolidado o habito de utilizagdo de gas, a companhia de gas, sem prévio aviso, procedeu ao au- mento de preco até o nivel de 100%. Quando ascendemos na escala dos artigos de mais alto luxo, a concorréncia entre diferentes mercadorias — com vistas a satis- fazer ao mesmo gosto genérico, ou até desviar 0 gosto ou a moda de um tipo de consumo para outro — torna-se imensamente complicada, moderando muito o controle de um truste sobre os pregos, O poder de uma companhia detentora de patentes de um tipo especifico de sacarolhas € reduzido em grande parte nao s6 pela concorréncia de outros tipos desse artigo, como também pela tampa de rosca e varios outros dispositivos desti- nados a assegurar 0 fechamento das garrafas. A faculdade de prescindir do objeto PODERES ECONOMICOS DO TRUSTE, 173, de monopélio, embora nao impeca 0 monopolista de cobrar precos muito mais al- tos que os precos de concorréncia, a fim de absorver toda a “renda do consumi- dor”, do consumidor marginal, estabelece um limite pratico aos precos de monopo- lio, c) Ha, finalmente, a influéncia da concorréncia real ou potencial de outros pro- dutores sobre os pregos de monopélio. Onde os pregos e lucros so muito eleva. dos, um truste esta sujeito a uma concorréncia mais eficaz por parte de quaisquer firmas independentes que sobrevivam, assim como ao estabelecimento de concor- rentes novos. Essa-capacidadeé qi mM © capital foranéo, deentrar fa Com Competicao, diferira evidentemente nos diversos ramos, Onde o monopélio tem a protegao de uma tarifa, a possibilidade de nova competigio, vinda de fora, é reduzida. Quando © monopélio esta ligado a certa vantagem natural ou a posse exclusiva de uma utili- dade especifica, como na mineragéo ou nas ferrovias, a competicéo direta por par- te de intrusos, em igualdade de condigées, é impedida. Quando a combinacdo de um grande capital com uma administragéo capaz € indispensavel para possibilitar 0 éxito de um produtor rival, 0 poder de um monopélio é mais forte do que quando um pequeno capital pode produzir em condicées mais ou menos iguais e competir. Se 0 monopélio esta intimamente vinculado a qualidades pessoais e oportunida- des especificas de conhecimento, como no ramo bancario, é mais dificil para 0 ca- pital de fora competir eficazmente. § 7. Essas consideragées mostram que 0 poder de_um truste ou outro mono- polio sobre os pregos é determinado por certo numero de forcas comple: agem umas sobre as outras, em varios niveis de pressdo, conforme minua © volume da oferta. Mas um truste é sefpre capaz de cobrar “superio- res aos precos de concorréncia e tem, alids, interesse em agir assim, Normalmente, seré de interesse de um truste, ou outro monopdlio, manter uma tabela de pregos mais baixos para as mercadorias de luxo ou para as que atendam algum gosto me- nos premente e mais caprichoso, e manter altos precos quando 0 artigo monopoli zado visa ao conforto comum ou a qual nao ¢ facil enconirar CapiTuLo X O Financiador » $1. Origem e natureza econdmica das financas modemas. § 2. Relacées entre o investidor e o financista. 3. Necessidade do intermedicirio financista 284. capacidade de ganho, base verdadeira da capitalizagao. 85. A arte da promogao. § 6. Manipulacdo nos mercados de aces. § 7. O controle das empresas lucrativas sadias. xv § 8. Os empréstimos bancérios, como um fator nos negécios financeitos. ¥ §9. tridngulo das forcas financeiras nos Estados Unidos. _y $10. A pressaio financeira em favor de mercados extemos. § 11. O sistema financeiro, exemplificado com a Africa do Sul. § 1. A estrutura do capitalismo modemo tende a lancar um poder cada vez maior nas maos dos homens que manejam o mecanismo monetario das comunida- des industriais — a classe dos financistas. Para os. grandes empreendimentos, 0 fi- nancista foi sempre um homem indispensavel: no mundo antigo e no medieval, era com ele que os reis e os homens da grande nobreza, eclesiastica ou civil, iam buscar as grandes somas de que necessitavam para resolver suas situagées de emergéncia, abastecer expedicdes militares ou navais ¢ auxiliar as formas mais am- plas de empreendimentos comerciais carentes de capitais. Os pequenos financistas, como usurarios ou emprestadores de dinheiro, viveram, em todos os tempos, dos transtornos e inforttinios da classe dos agricultores, artesdos e pequenos negocian- tes. Mas foi s6 depois que o desenvolvimento dos métodos industriais modermos exigiu_um fluxo grande, livre e variado de capital, em muitos canais do emprego. Produtivo, que o financista deu sinais de assumir o posto de autoridade que hoje 175 176 OFINANCIADOR ocupa em nosso sistema econdmico. Cada passo importante que demos no senti- do do desenvolvimento da estrutura industrial contribuiu para afastar a classe dos fi- nancistas da classe mais geral dos capitalistas, assegurando-lhe um controle maior e mais vantajoso sobre o curso da industria A complexa diversificagao de processos industriais, que resultou na formacao de empresas separadas, a concatenagéo de uma longa série de diferentes empre- sas, contribuindo diretamente para a producao de todo tipo de mercadoria, a rela- cao de cada elemento dessa série com empresas dependentes ou subsididtias, ca- da uma das quais é, individualmente, um elemento de outra série de processos or- denados em separado, a interdependéncia dos processos manufatureiros ou comer- ciais mais amplamente divergentes, por meio do uso de uma fonte comum de for- ¢a mecénica ou de um instrumento de transporte, a expansao e conseqiiente trans- formacao de mercados locais em mercados nacionais e mundiais, que concretizam a unidade de sistemas industriais antes distintos e auto-suficientes — em resumo, 0 funcionamento de tal organizagao industrial importa um mecanismo delicado e in- trincado de ajustamentos, Para que esse sistema possa_funcionar coreta e econo- micamente, toma-se necessério um instrumento automatico para a aplicagao de es- timulos econdmicos e a geracio de forca produtiva em pontos de caréncia indus- trial e uma correspondente aplicagdo de dispositivos de contengao em pontos de excesso industrial: a forca industrial deve ser distribuida de forma geral por todo o organismo, a fim de ser transformada em formas especificas de energia produtiva onde for necessario. Essa necessidade crescente da indastria moderna reagiu_ de duas maneir de duas_maneiras im-_ portantes sobre a_estrutura_econémica — panel ro, prod presarial; segundo, na estrutura da unidade e1 pecial stas “emi Finanas, cuja tarefa é a direcao estratégice ica’ das telacées intersticiais do sistema’. “O-Fpido surgimento da nova empresa manufatureira e comercial exigia um movimento de capital mais livre que 0 movimento normalmente assegurado pela estrutura empresarial mais antiga: empresas privadas, hé muito estabelecidas, pro- curavam expandir-se; homens dotados de viva inteligéncia, capazes de aproveitar as oportunidades, emergiam “das fileiras”, reclamando 0 uso de capital; formas no- vas, enormes, de empreendimentos nas ferrovias, na mineracao etc., exigiam um capital maior do que o que as financas privadas podiam fornecer. Dai a necessida- de de uma reforma da estrutura empresarial, tendo como base o capital cooperati vo, procedente de inumeraveis fontes individuais, fundido em’ grandes massas e uti- lizado para a indistria lucrativa por diretores capazes de grandes empreendimentos na esfera dos negécios. A mais ampla difusdo da riqueza, decorrente da aplicagao de novos métodos industriais, permitiu que agora um ntimero maior de pessoas realizasse poupangas individuais: a economia da producao em grande escala impe- dia que essas pessoas se estabelecessem comercialmente com o pequeno capital de que entao dispunham, ao mesmo tempo que os métodos aperfeigoados de in- formagées comerciais ampliavam grandemente a Area de investimentos seguros, tendendo cada vez mais para separar 0 capital da presenca e do controle direto de seus donos, e coloca-lo a disposicao de grandes empresarios, que pagavam juros pelo seu uso aqueles que o tinham em maos. assim que, em todas as esferas da industria capitalista, a empresa de capital acionario vem deslocando rapidamente empresas de propriedade individual, En- quanto a nova classe de pequenos investidores s6 tinha a alternativa de efetuar em- “VEBLEN, The Theory of Business Enterprise. p29 i i i

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