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Ator — Senhor da Emogao e Nao Seu Escravo Seba do espirito humano, desde as mais sutis e delicadas at iaior ator se sabedor de que jamais deve sim domiié-las. Para tanto, deve colocar-se permanentemente a pat dos 1s mais grosseiras ¢ violentas, € 0 ator. Contudo, dominad plas emo ¢ sareache indspensive Jamais alenado do saber eda procedéncia de fad de sor (manera demic de extar no mundo-palo) «nunca Tova verdade real devia verdae de home, da ogo Frowaha),Atode mover eu sig ’ ee seu cons mente e sentido, O atorsogaor deve er um domador Irlgete um eteta sense desta fog nase veto aden e peetinente ao movimento-vida do personage, cae mre ana doa dose de jogo, Conta prevesrepara reas \dode acordo com o dicionSrio Auréio. segura, soltar as emogies na medida em qu ‘oequilbrio psicol6gico, ou desequilibra-se quando achar necessirio nesta Capua J060 PRAZER No EFEMERD CENICO ra ‘ou naquela cena. Af parece residir a heleza cénico-califésica! A dose cemocional, maior ou menor, néo € uma questio de quantidade mas de cualidade, (Oque vale & saber como o ator joga com seus 100% de emosiio, ou 20 ‘ou 50, ou 80, ou nada, ¢ no a porcentagem dela em si mesma despejada primeiro sobre seu personagem e, segundo, por extensfo, sobre a platéia Uma questo de fluéncta qualitativa. Se gritou, chorou, gemeu, berrou, rolow num vale de kigrimas até exaurit-se, nfo importa muito, o que pesa é como perseguiu, durante o tempo todo, o domfnio destes gestos, como atticulou, arquitetou, desenhou, esculpiu e até como deu a iluséo a platéia de que foram eles, estes prantas desolados ¢ ensandecidos que os dominaram completamente. Aludo A natureza da ilusio, do jogo, do encanto provocades. Para iluminar tais argumentagées, recorto a um excerto extrafdo do livro A essdade da arte de Ernest Fischer, que to bem esclarece a posigao deste ‘meu procurado ator-domador Para conseguir ser um ants é necessrio dominar, controlar e transforma a experincia em meméria, a meméria em expresso, «4 matéria em forma, A emoxio para wm antsta ndo é tudo; ele precisa também saber trati-la, precisa conhecer todas as repr, tenicas, recursos, formas e convengées com que natureza — «sta provocadona ~ pode ser dominada e seta dt concentragio ddaare. A paixdlo que "consome” odiletante "serve" ao verdadeio aanista 0 artista ndo € possuido pela bestafera, mas domara (197: 14), Minha proposigio implica atribuir a0 ator, dentro de sua pe atividade teatral, um controle absoluto da emogio, sendo que, quanto mais solidamente ele a embasar na razio (elemento apolineo), quanto mais ele souber estudare organizar os signos de forma a lastreé-los num modo racional de construgio da emissio oral, mais ¢ melhor poderd liberar seu Dioniso (emogio) e conduzir a entrega emocional do fruidor, ais um propésito teal. Ator-Jogador: Equilibrio Entre Razéo/Emogao © ator-jogador, portador da maneira Iidica de estar no paleo, opera ‘como ninguém este sistema inte de equilfbrio entre os elementos apolineos ¢8 elementos dionisfacos. Razio, sem geleira; emogio, sem insanidade. “A. sad — € fuga do caos, E movimento ordenado em néimeros; 1 asin Fru & PERFOROIANCE DA ORALIOADE TEATRAL massa limitada em medidas indeterminago de matéi & procur de remo da vida" (Bos, 1989-57), vimentagies,levando-me a dedusir que n emosi, enquanto para utes ators € poto depart, pas mi, cl porto dechegade, Ultimo cote da esrturgto, Expand melhor nam contto inl teense, asolurs mocional atria do ator fae prinene na serie de velo alert aexperimentar una eapécte de fagrantedesvignal da ebuligho em suid, o ator deve procurardesvencihar-se deste joo ensandecile impensado pata trnsformilo mum trabalho de ourivesai esti, no qual 0 owador jamais se pert tratar cmd de rma brute as labora, pontalmente passa @ser expresso de forma estetizada,deseniada Propositalmente. © chor, por exemplo € mantstado ple ator escler {uc clahor, x melhor ue elabora sun expresiocom eleidos contort estos Hl ue plata com una suposta verde, na qual ela sredita fngindo que chor, que ue se. Fngindo no limite da verssiniThanga do fngmento. Um jogo dalétic, um jogo dferenciaorconsgo, com seu aragonite coma lati. Unchorr oportun, desenhdefngo melon para malssensinaa verdadero. Um choraropetuno mois eral pata melhor se cxpressarfryido. Ator- um joador da express emoxional “Assim ele de do novo, parafrascando os fuandamentos de Samia Cha Io precio cto, Caos erigda sobre consiénct, Jo pensada. O ator rompe, desta forma, com 0 esteredipo da emogio e cri odio nel, adotando oa sua liberagso inconseienee cea, hy sex burlament catia e Leto, ‘Aorlidade vinclada 8 emocio cravada numa feldad senso instrumental snc de forma dic, no gual agénese de eos fone rt 2 ona sentido inusados yeradres de inustadossigicade, Esta posture éco-eteea Jo stor no tateeno dco emocinal eal mplica serge de prin absctamientefunduentis A comer do cont com meal emecionasadvindos de sentido predediidosIncando seus eompremisn com afl pstrs de hom oad, o ator deve impaciazar Su are do texto, sored no ino, evita intengosfogadasc consequent cxistlzagio de emogGes extereotipads, o qe nd quer der que ele pone sentndo'aemosio em primeira instnci, conforme J expligul, mat sem s Capt —J0c0 €PRaZER No EFEMERO CEnico 18 fixar nela. Possibilitaré assim o resgate do fundamento verbal como vida em si ‘mesma, como pulstio emocional realmente trabalhada, estilhagando-o em sua cconvencionalidadle e em seu vaio retético (muitas veves), ‘Trabalha-se em teatro sempre em busca de novas ¢ tantas ¢ outras émissOes vocais, em alguns momentos, com a disritmia emocional da palavra «que pode explodir ou nao, sem nenhum controle do personagem, mas todo controle do ator no desenho deste descontrole, Ator — Amor a Primeira Vista Pelo Personagem — Posterior Elaboragao entusiasmo inicial do ator, a paixo pelas sugestdes emocionais do autos incorporamentoimediato das rubrica oferecidas so sempre sensades Particulares. Uma espécie de amor a primeira vista pelo personagem. Mas, bem longe de qualquer posigéo definitiva, o que tende ao tolhimento de ums postura cientfica em que o no comparecimento do jogador estrategsta di lugar & instauragio do ator aleatoriamente intuitivo, deformade pelo cego «xcesso emocional. Por iso insistir em leituras primeiras sem uma carga de texcessiva emotividade, nas quais o ator persegue somente o entendimento loico da estrutura do eixo dramatirgico e encara as rubricas emocionais do. autor apenas como indicio, tendendo, lentamente, a maturaro caminho de seu futuro ator/jogador-mestr. AAs descargas emocionais que forem forjadas de forma precipitada, com 'propriagdes indevidas e incorporadas a0 primeiro estimulo, cottem o tisco dle registrarem-se traumaticamente na meméia do ato, obsteuindo a geragio de sentimentos mais profundos ¢ fundamentalmente travando seus podeves éstratégico-estéticos de bom jogador,disposto a atmadilhas mentais coerentes, Desencanta-se, com isto, os provéveis encantos da emocionalidade vocal Ator/Jogador — Opera com o Sutil das Emogoes Penso que o ator, enquanto jogador ¢ sempre atento ao fluxo das tonalidades emocionais, deve evitar trabalhar com o grosso das emogSes coridianas, com o sentimento puro, inteiro, com a emogio como um blocs atendose 2 sensibilidade das emogies, eis uma das maiores dimenses de 4 ‘Min Fru ~ A PERFORMANCE DA ORALIADE TEATRAL seu jogo. Tsto 6, opera por sobre vapors de fio cozinhandoe nfo por sobre os préprios fejées. A verdadeira emogio (cotidiana), original, pura, cor responderia aos fees € a emogao que brota dos parimetros seletivos, opcio: espécie de visio rtualistica, nis do jogador-ator corresponderia 20 vapor. Uma tencontto littrgico, vislumbre do eterno em movimento € do et cconcteto possivel este contato como vapor. Trabalhar com o feijao fhum entrave completo e portanto numa cegueira quanto as possibilidades de manipulagio dos coringas que o ator poderia descartar para embelezat sua expresso ¢ melhor empatizar. Enxergando, sem a paralisia da emogo deseontrolada, portanto, jogando com ela, o ator dispte-se & selegio dos tons, das cores, dos ritmos, das vibragSes sonoras e dos matizs das modaicades vvocais podendo, enfim, desenhar Tudicamente a expressio oral de forma cstética, Muito longe da dimensio da beleza, € vero ator titerizado, titanizado ‘por sua emogio e nao o senhor dela ~ ator fantoche de todo um percurso fmocional. O jogo confere-the distanciamento para expressar os sons orais ‘Com auitonomia, emogio pertinente, emogio em vapor € nie emogao em dor. Sutileza e no grosseria emocional, esta € do homem, artista-ator no paleo, Mas, se desejar apresentar-se & platéia em forma de {elirios biquicos emocionais, transportes demontacos,balados de Shiua, tal fembriaguez deve submeter-se a seu dominio e controle. Dominio hidico. peo de jogo. Estratégias no teritcnio, reinado de Dianiso Jacqueline Lichtenstein, em A oor elogent, a0 se referir a urna lige sombra que mansformaos olkos em olha,assinala, as passagens da insignficdincia Aexistencia, do espectto forma, da sombyra luz, da sihueta & matéria, 0 passo {que um carregamento muito forte de cores significa o desvio para o vazio da iscara, para o culto da beleza sutil Esta igen sombra que transforma os olhos ‘emolhar€alusio a0 suti das emogSes (vapor do feo). Estecarregamento muito Jone das cone, desvio para o vanio da mascara, smogo bruta (Feo). Acredito que a chamada emogio auténtica com a qual alguns atores traballiam funciona como uma espécie de ansiedade mascarada que eclipsa ‘uma real capacidade em manipular 0 contedido emocional de forma sensivel ‘Ator, um ser de sensibilidade, em que as emogies s30 verdadeiros diamantes a serem lapidados. ator trabalhar com a sensibilidade, ee teré as emogdes todas sua disposicio. Implica dizer: a sensibilidade um pianista (ator), cujo teclado ‘so-as emogdes. Neste interedmbio dialético, o contato com a emogio bruta parece anular a poesia, porém carregar o teatro de realidade e, por outro Tado, o contato com a emogi ar o realismo, mas inundar ‘o teatro de luz, Pertence ao ator, um metacriador, administrar a emogio da {qual cle € senhor, enguanto ela se faz senhoreat por ele. A emogao, uma Substncia cuja plasticidade esbarra num entrecruzar de elementos, 0 fisico ho sentimental, o sens6rio no orgiinico, 0 erstico no sensual, deve estar na vida, ¢ no do alusio 8 0 sutil parec Capitulo i ~J0GD PRAZE WO EFEMERO CENICO ro ‘enquantoimpulso.antmico da oralizagio, a servigo do ator-jogador que, instru mentalizado, redefine o sistema verbal de signos da escritura transcendida (O ator prepara-se para ser,no palco, sensibilidade e técnica, Emocao Peculiar ao Ator e ao Fruidor, Distintamente ‘Uma ver instaurada a postura emocional do ator com relagéo’ dimensio oral, resta-me indagar: o que cabe emocionalmente ao fruidor/platéia? Como se processam os tratamentos, as medidas, as proporg receptor? Turbilhio ou lucides da platéia de quem provém um jogo novo (ou rnenhum jogo), muito diferente do jogo primordial do ator/criador mas, no centanto, comandado por ele? Enquanto a emogio do ator na arte de oralizar propde-se controlada s, emocionais deste Procestos da cio, aemogio detencadenda no fuidor parece corer slta desea, Libero ets de qualquer necessidae de controle ou persuaso. ‘enovelar-se nas teias insidiosas do seu jogo emocional. " r Ofuidor ao qual me refionoteatto Go uidr simplemente, plata rio crtea, no erica nf clasicadora ou historidora de arte, masa qe tivencdo de Haste, um edmpice,Husdes que, habitndo nee, despertas pela induglo emocional do atorjoqudor em seu pereguido ¢ constante desejo de iludit. Este, um gerador proposital de ilusbes. Aquele, tmexperimentadorpovocado em Ha lberadas vremente. Todo um processo de Identieagoer, projegde, transfeéncis, sugesties esublimaoes, peculartsimo ao fur ocore¢ genuinamentesubjeivas a ele. A qualidade de ratamento emocional em imo (teflaa) & muito diferent. Um espetiulo tetra pode, do Emocionas levr osspito da plata se dsfzer de todo parimeto Tacona, a confndiroslimites entre sujeltoc objeto ea convidar fruidor turilhonane a0 ator-jogador ascender em méritos conduzida. Este receptor instancia-se para mim Fematian 8 Navn Fou A PERFORMANCE OA ORALIOADE TEATRAL ‘Contudo, emborao feuidorseja credenciado a entregar-selivemente «todos esses processos ea todo 0 escoar da emogéo pura e, mais do que isto, de interpretar a obra de acoro com seus préprios crtéros, personalizados ¢ alheios 20s do criador, tem ainda, de acordo com muitos teéricos, a possi lidade de te sua subjecividade emocional invadida e conduzida pelo ator de posse da regéncia Iddica. A facilidade em dirigir a emogio do receptor & atributo inaliendvel do ator-ogador. Afrmou uma vez Kandinsky ~ mestre da pinturaabstrata—, ser fungio do criadoratista conduzrofruidora seus preender € educar o espectador, é atra-lo para © ponto de (1987: 25). E continua o artista objetivos: “co vista do artista Mas... opintor lator] nao est privado desse poder de “ia pode, se quier,forcar o espectador [plata] “a comegar por cag", a seguir um caminho exato em sua obra pictérica {espeticuloteatral] ea “sai poral. rata-se de questes exes sivamence complicadas, ainda pouco conbcidas e sobretudo taramente esluidas (apud Cui, 1988: 351). A platéia, aqui chamada algumas vezes de receptor, outeas de fruidor, apesar de possivelmente condusida na emogio, permanece descomprometida com a ctiagio, podendo receber a expressividade oral do espeticulo na vitalidade dela mesma, na sensacio real, na emogio fundante davida criada Afirmo que, de acordo com referéncias anteriores, cabe ao ator, na pericia de seu engenho de jogador, sutilizar a emogio bruta, lapidé-la, escamotes-la, tomando. cde maior grandeza na proporgioem que melhor souber trabalhar com o etéreo da matéria, mais do que com ela mesma Pertence no entanto platéia, df comportamento de sentir a emogo como movimento legtimo, dinamicidade sensivel,irrompimento fercz até, autenticidade de sensagiesin loco, destituida de qualquer possbilidade de burilamento em si. Pois tal postura nao € necessariamente de sua ccompeténcia, tio-somente da responsabilidade do ator. Fica-me claro, contudo, que a sutileza representa sempre um requinte, tanto para jogador-ator, como para receptorplatéa. E, se o estado sutil de percepcio do ator conseguir depurar a freqiiéncia emocional do receptor, levando-o a equivalence nivel de sutileza perceptiva, melhor, mas esta € condigio primeira do ator-esteta, em segundo lugar da plaeéia, Assim como © ator também pode, ou nfo, conseguir real sntemente, zat seus intuitos de inducio 3 pertinent eandlogs. acon colhetes como ierccgtes minha wo a 2 Por conde nesta citago a fina como referencia Kaninsy, pemnito-me Capt —J060 €PRAZER MO EFEWERO CENCO 7 emocional 8 platéia. Ele chega ase surpreender, muitas vezes, com respostas ‘em graus diferentes ou igualmente coincidentes, ou ainda, com niveis muito mais gratificantes de embarque emocional do que os sugeridos por ele na indugdo do jogo. € todavia que, quanto mais o espetéculocalar fndo na emogdo da platéia, mais di provas oator da eficiéncia de seu estrategismo Kidico. O que experimentei fundo e do que tenho certeza é de uma utilizacdo inteligente, criativa, dominada, da energia emocional do ator como seu agente, para uuma recepeio emocional, selvagem, livre, aleatéria, falgurante, porém, conduzida para seu receptor-plat Enfim, a estrutura verbal eserita como fato fisico, surge revificada na provincia da oralidade com a forga do jogo emocional, cuja intensidade € diferente para ator e platéia. O ator é senhor da emogao dionisfaca, comandadsa e dirigida pela razio apolinea. O receptor pode ser senhor ou eseravo dos dois. Apolo e Dioniso trafegam descompromissados no fruidot dda representagao teatral, apenas sujeito as tentativas de uma possivel condugio emocional, cravada nas armadilhas capciosas de um empreendedor de Apolo: o ator-jogador! “Criador fruidor dialogam em canto constantemente alternado, tecendo a criagio" (Saiies, 1992),

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