You are on page 1of 7
CURRICULO: QUESTOES ATUAIS © cutriculo constitui hoje alvo privilegiado da atencao de autoridades, politicos, professores e especialistas. Sua centralidade no panorama educacional pode ser atestada pelas constantes reformulagdes dos curriculos dos diversos graus de ensino, bem como pelo incremento da produco tedrica na area. Pode-se mesmo afirmar que 0 campo do curriculo no Brasil vem adquirindo cada vez mais ‘Alem dos principios do neomarxismo e da Escola de Frankfurt, os atuais estudos dos curriculistas brasileiros refletem também a incorporagao de elementos e categorias do pensamento pés-moderno, dos estudos culturais e dos que discutem questées de géneroe raga. E no cenario de valorizagao do tema que esta coletanea se insere, buscando sobretudo favorecer as praticas democraticas tanto nos sistemas de ensino como nas escolas e universidades. RUS EDITORA Wiacisténio BoRMACAO E TRABALHO PEDAGOGICO Ahab ones de Neds» hai. Souza Mua Lopes Lila Lisi deCaskoP Sus + Senda Maaloaze / CURRICULO: QUESTOES ATUAIS 18 Edigao DITORA POPKEWITZ, T'S. A political sociology of educational reform: Power/know ia do currfculo, regulagdo social e poder. fn: T.T.Silva org.) -acdo: Estudos foucaultianos. Petropolis: Vozes, 1994 of change: Systems of ideas ws. Nyvigen, 1995, mimeo. SANTOS, B.S. Um discurso sobre as ciéncias. Universidade de Coimbra, 1986, Pela mado de Alice: 0 social e o politico na pés-modernidade. escuela moderna. Buenos Aites: Troquel, 1970 SILVA, T-T. Sociologia da educagao e pedagogia critica em tempos pés-mo- demos. In: T.T. Silva (org). Teoria educacional critica em tempos pés-modernos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. so ds edt: Badosfouceulanes. Peas school knowledge: Curriculum theory, research Londres: Methven, 1985. rg.). Knowledge and control: New directions for the socio- tion. Londres: Collier" Macmillan, 1971. eZ GLOBALIZACAO, MULTICULTURALISMO E CURRICULO Lucfola Lictnio de C.P. Santos José de Souza Miguel Lopes Este trabalho tem como objetivo discutir as repercussdes no campo educacional, sobretudo no campo do curriculo, do processo de globalizacdo. Se, por um lado, esse proceso tem mostrado a necessi- dade de compartithar valores relativos a preservagdo e & qualidade de vida do e no planeta, por outro, implica também a intensificagio do processo de homogeneizagdo cultural, E inegavel que a reagio a essa homogeneizagio, imposta pelos grupos detentores de poder, intensifi- articulagdo de diferentes movimentos de 10 a diferenga e o fortalecimento de grupos margi- nalizados social e culturalmente. Esse quadro delineia para a educacdo miltiplos desafios, pois a grande complexidade das quest&es dessa rea revela-se, concretamente, quando determinadas posigdes e préticas escolares — voltadas para a preservaciiode valores universaisouparaadefesadodireito rama, a partir do qual propostas curriculares sao discutidas, A globaliz i¢do € suas contradigoes E inegavel que o fendmeno da globalizacio € organismos internacionais para definir desde politicas militares até estratégias de desenvolvimento econémico, Segundo McLaren e Gutier- +22, “o fluxo global de mercadorias e capital depende da fragmentagio — ‘ou re-paroquializagdo — de territ6rios soberanos” (1995, p. 6). Nesse contexto, tem sido apontada, como maior impasse criado z 20, a concentragio da produgdo © do poder ecot ‘margem um grande contingente da populagao mundi Além disso, no plano cultural a globalizagao da cultura, viabilizada mesmo tempo em importantes para o consumo, ameaga a afirmagao cultural de diferentes segmentos sociais. aacesso ¢ a0 consumo de produ smuicago, como ao qu 0 uso diferenciado do ponto de vista social e cultural desses produtos. cer aos detentores dos meios de exercer forte influéncia nos planos ‘6s que dominam os meios de comunicago de produgio e manipulagio das consciéncias e Ge impose ao un abiato simico” (1998 po Da mesma forma, a globalizago da cultura é uma estratégia importante, no plano econémico, uma vez que cria condigées para a produgio de mercadorias compativeis com interesses ¢ gostos de const- midores de todo o planeta, Dessa forma, através dos meios de comuni= cagio so homogeneizadasas s8e processo se efetta com cer lismo contemporéneo, se configura uma forte tendéncia reativa A massificagdo do consumo, demandando uma produgao mais compati- vel com a diversidade de gostos e de esilos de vida. Em face disso, os meios ‘um processo que alia a diferencia- imulo a criagio de perfis eulturais tempo em que se procura criando-se segmentos de const agio dessa diversidade cultural, transnacionais 1¢, por um lado, a globalizagao de dependéncia tecnolégica, politicas e de grupos de ativistas fornaram-se mais conscientes da busca de alternativas de mais longo alcance. A busca da identidade cultural £ fundamental entender que o processo de globalizaglo criou as ima que a questio da identidade nacional parece, em nossos dias, ter-se tornado mais importante que o fato de se pertencer ao género humano, Para discutir a questio da identidade e da diferenca, o autor prope ia como ponto de partida para orientagdes € tomadas de € de “igualitarismo”. Enquanto para o diferencialismo existe uma distingdo entre ego e alter, para 0 igualitarismo ndo existe essa distingao. Em primeiro lugar, nessa tipologia, Rouanet define o #io com 0 outro. Nesse quadro, a diferenca do outro poe em perigo minha existéncia, desde que essa diferenca ¢irremovivel eno possivel, © autor apresenta 0 a igualdade entre os homens, ndo atentando para as diferengas reais entre as pessoas, eriadas no processo de desenvolvimento social ¢ hist6rico, abstrato 0 ater € anulado ao se tornar idéntico ao ego. A terceira figura dessa tipologia € donominada de diferenc eritico. Nesse caso, & reconhecida a distingdo entre 0 alter & ‘embora orientada por uma intengao em: i repressivo, 0 ego cria em alter a diferenga e com isso ex, adominagio. Exemplo disso so as imagens criadas em avareza do judeu, & indoléncia do negro ou a irracior No caso do diferencialismo erftico, 0 alter que se apercebe como outro, © em quarto lugar, estatia o jgualitarismo conereto, que se distingue radicalmente do diferencialismo repressivo, mas man- ‘ém afinidades com as outras duas figuras da tipologia. Como 0 iguali- tarismo abstrato, ele partitha da ideia da igualdade fundameital de todos ‘os homens ¢ mulheres, considerando 0 fato de existir uma racionalidade € uma moralidade bisica comum a todos. Da mesma forma, como 0 0, reconhece as diferengas reais e sabe que & las em qualquer projeto de emancipagio humana, importante conside Fica evidente que Rouanet defende a perspectiva do igi autor sugere que, em suas tiltimas consequéncias, essa talvez levar A instauragio de um apartheid de esquerda, Odireito a diferenca De acordo com Silva, a cr relagdes de poder constroem as pos-colonial explica como as 8 sobre 0 outro. O Ocidente © direito a diferenga engloba 0s conceitos de multiculturalismo, iversidade siderar que se trata da mesma coisa e nao hesit pelo outro, ocorrendo 0 mesmo com algun dade plural, McLaren e Gutierrez chamam a atengao para a wo com a questio da como, além da construgao discurs 1. Segundo Stephen Stor, expressio“ mplo-saxncos Na Fraga, diferentemen imbricada na con! Gutierrez 1996, do do capitalismo transnacional (MeLaren € aco de algumas concepgdes de multiculturalis- sugerido que a expressa0 in nitidez uma posi¢ao mais progres usado é de que 0 ddescerramento, reciprocidade e ‘roca e de interagZo, O sentido & de que, ao entrar culturas, uma dada cultura poders se dese ). com a questio ética de jedade com o oprimido. Assim, “o desafio para nds educadores & nga que reconfigure 0 mais do que autentici- -se, em alguns casos, mais préximas umas das outras. Curriculo e diversidade cultural Segundo Forquin, a reflexdo sobre educagao e cultura tem mos~ trado que 0 empreendimento educativo tem como responsabilidade ir ¢ perpetuar a experiéncia humana considerada como cultura, 35 dir-se-4 (..) que a educa dliscussdes no campo Isso significa que a cultura de diversos grupos sociais fica marginalizada do processo de escolarizacao e, mais do que isso, é vista como algo a ser eliminado pela escola, devendo ser substituida pela cultura hegeménica, ue esté presente em todas as esferas do sistema de ensino. De fato, aescola para fortalecer e dar voz. aos grupos oprimidos na sociedade, impée-se como tarefa primordial dos educadores trabalhar no sentido de reverter essa tendéncia hist6rica presente na escola, construindo um projeto pedagégico que expresse e dé sentido democrtico&diversidade cul propostas nessa direca0 s ‘que uma cultura dominante pode assimilar uma outra minoritéria, que se encontra em desigualdade de condigdes e com escassas oportunidades nos sistemas social e educativo, ¢tais propostas slo instituidas com base nessa ideia. Emprega-se também, muitas vezes, essa expressiio no sen- tido de que esse tipo de educaco pode se constituir em um instrumento jedade onde existam minorias tural pode se colocar como um F808 setores culturais de uma res burgueses €, importante consi- derar que “os saberes cultos, 0 ientifico, 0 racio- cinio filoséfico, a elaboragio literdria da linguagem carregam em si mesmos uma capacidade reflexiva critica” (Grignon 1995, p. 186). O desafio para a escola seria possibilitar a incorporagio da cultura culta pelas camadas populares, sem que essas perdessem 0 vinculo, oreconhe- cimento e a valorizagdo de sua cultura de origem. Por siltimo, € necessério também reconhecer a necessidade de o processo de interacao cultural ser utiizado na escola como mecanismo de critica e autocritica as diferentes manifestagées culturais. Desa forma, ao trabalhar com as culturas locais, é de fundamental importancia analisar seus aspectos repressivos e seus mecanismos de discriminagio, para que se transcenda do local ou regional na afirmacao de liberdade, da autonomia € do respeito ao outro. Concluindo, pode ser dito que, se 0 processo de globalizagao integra sistemas econdmicos, criando redes de consumo e de comunica- lo e, consequentemente, uma homogeneizagao cultural, € importante econhecer que nesse proceso constroem-se também espagos de Huta € contestagio e no apenas de dominacao, Nesse sentido, a luta no campo educacional inclui a abertura de espagos para que as culturas dos grupos excluidos do curriculo escolar tenham condigdes de se tomar repre 37 sentadas, por meio de narrativas que valorizem © deem voz. as suas experiéncias, possibilitando ainda um didlogo entre essas diferentes culturas, condigao fundamental para a criagdo, a ampliagio e a consoli- dagio de uma democracia radical.” Referéncias bibliogréficas BELLONI, Maria Luiza. A mundializaglo da cultura. In: Sociedade e Estado, ‘n® 1 e 2. Jan/dez. 1994, vol. IX. pp. 35-53. Escola e cultura: As bases sociai GRIGNON, Claude. Cultura dominante, cultura escolar mulicultralisano popular Jn: ‘Tomaz Tadeu Silva (rz). Alienigenas na sala de aula. Pesplis: Vazes, 1995. LACLALU, Emesto e MOUFFE, Chantal. Aegemony e socialist strategy. Londtes: ‘Verso, 1984, democritica através do “campo da In: Educagdo, Sociedade &Cultura.s? ‘oman esse proces dinimico e em constant ansformaso (1984. 3 NOVAS TECNOLOGIAS E CURRICULO Elizabeth Femandes de Macedo © papel desempenhado pela tecnologia nas diversas esferas da vida social tem sido largamente tratado tanto pela filovofia e pela mnais da educagao em outro, os mirabolantes

You might also like