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28 Edicao Revista e Ampliada A Atheneu nat Quando se fala em instituigdes para idosos, o ter- mo que logo nos ocorre é asilo, com as imagens cor- respondentes de um lugar sombrio, mal cheiroso, ‘onde idosos, em estado de semi-torper, esperam, nao se sabe bem 0 qué. (Os meios de comunicacéo eletrénicos so mes- tres em difundir essas imagens, 85 quais acrescentam mensagens condenatérias daqueles que internaram ‘os idosos: “filhos ingratos, como podem fazer isso com 0s pais, de quem tudo receberam?”. Séo mensagens que contém a idéia de que a institucionalizacao do idoso é sempre um ato de abandono. No Brasil, muitos continuam sem perceber que 0 tempo passou e que deixamos de ser um pais de jo- ‘ens. Nao conseguimos resolver os problemas funda- rmentais da nossa sociedad, mas jd enfrentamos novos ‘e complexos problemas, que vieram somar-se aos j existentes, Historicamente, as instituigdes asilares tiveram ori- gem como um equipamento de assistncia social, onde fram abrigados idosos pobres e sem familia. Algu- mas eram, no inicio, verdadeiros asilos de mendicida- de, que lembravam os “Alms Houses” da antiga Inglaterra, regida pela Lei Elisabetana dos Pobres de 1601, onde eram internados os pobres considerados incapazes: 0 doente, 0 velho, 0 cego, o surdo-mudo, 0 invélido, o demente e maes com criangas pequenas”. Capitulo 40 Tomiko Born ‘A Politica Nacional do Idoso (Lei 8.842 de 1994) prioriza o atendimento ao idoso através da sua pro- pria familia © assinala, ainda, que a modalidade asilar deve ser considerada uma alterativa assistencial em ‘casos de auséncia ce familia ou em situagdo de aban- dono ou pobreza. Veritica-se, assim, que esta lei no considera outras situagies em que o atendimento em instituigao asilar possa ser necessério, em caréter tem- porério ou permanente. Entretanto, € preciso lembrar que, hoje, @ pro- blematica da internacéo de idosos em instituicoes, assumiu novos feitios: continua havendo um grande contingente de idosos que necessita de abrigos por ‘questées de sobrevivéncia, mas noves atores entraram em cena: idosos ricos, remediados ou pobres, que trazem as marcas de enfermidades crdnico-degenera- tivas, seqiielas de acidente vascular cerebral ou demén- , Cujo cuidado pela familia tornou-se impossivel por varios motives Conforme pondera Saad'®, “embora de uma ma- neira geral néo se questione o fato de ser a familia a insténcia mais capacitada a oferecer o apoio bésico as idosos, e de ser o ambiente familiar o mais ade- ‘quado para a sua convivéncia, resta saber até que ponto as familias terdo condigdes de manter os pa- péis e vinculos tradicionais com relacdo aos seus ido- 505, a despeito do aumento da carga de dependéncia, do declinio das condigdes econémicas, do intenso 743 4 processo de migragio edo crescente engajamento da Fhulher em atividades econdmicas fora do lar”. Muitas instituigdes para idosos em grandes cen- tros urbanos enfrentam problemas semelhantes 205 dos paises ricos, mas sem os recursos econmicos © tecnoldgicos correspondents. As perspectivas 40 insustadoras, Para agyavar, a auséncia de um Progra ina de sade acessivel para a maioria da populacao idosa reflete-se nos novos pedidos de internagso que batem as portas das instituicoes. E preciso ajustar nossas lentes e examinar a ques: tio da institucionalizacao nessa perspectiva, tendo ‘como pano de fundo as grandes transformabes que Seorreram no Brasil a partir dos anos 1960: urba- nizacao intensa, mudangas na organizacio familiar, femprego feminino, espagos habitacionas diminuides, gem falar nas sucessivas crises econdmicas que yam atingindo duramente uma grande parte da po- pulacao. Evidentemente, a internacao deve ser a citima ak ternativa, depois que todas as outras foram pensadas ¢ exgotadas, Feliz 0 idoso que pode permanecer até 6 fim dos seus dias na sua propria casa, cercado por familiares que aliam amor e competéncia técnica para tuidar dele, dispondo de espaco habitacional e di- rnheiro para prover suas necessidades. ‘Com estas consideeragées introdutérias, pretende- mos justficar este trabalho, que objetiva examinat {questes relativas a0 cuidado ao idoso na instiuicio siiar, mudancas no papel da instituigdo para 0 idoso, discutircritérios para intemnacao, examinar condicoes para manter ainsituigio como um lugar para vie problemas do seu cotidiano, terminando com refle- xées sobre perspectivas futuras. TAU ISIGIACSELeaaucenad EeronevLes {Em varios pafses do mundo, os asitos para idosos nasceram como um servigo para abrigar idosos po- ties ¢ som famfia, muitos em estado de mendican- Gia, O Departamento de Geriatr D, Pedro ida Santa ‘Caza de Misericérdia, que foi transformado em 1996 fem Hospital Geritrico e de Convalescentes, € um pom exemplo dessa trajet6ria. E hoje uma instituicdo geritrica com capacidade para atender 552, idos0s, ras sua origem se deve & preacupagao em dar 2ssis- Teneia aos mendigos que, em fins do século XIX, cor idade de Sao Paulo (Faria, megavam a aumentar na ci 744 Gerontologio 11971). Crescendo a internagio de pessoas idsas, 208. poueos passou a prevalecer o caréter de instiuicl para a velhice e, a partir de 1964, definiu-se como uma insituigao geriatrica. Embora, nos tiimos anos, varias pesquisas tenham 4 sido tealizadas em instituicbes asilares, até hoje néo hd um levantamento de Ambito nacional sobre as mnesmas, a ndo ser 0 estudo de Héte™, um soci6logo francés que, em 1984, pesquisou extensivamente Pro- gramas para a tercera idade no Brasil. O lvro que erine os resultados do seu trabalho indica que, na- Guele ano, ene 0,6% e 1,39% da populagao idosa se 7 Gncontrava em instituigbes. O relatbrio da Caravana ‘a instituigbes asilares,realizada em setembro de 2001, pela Comissio de Direitos Humanos da Camara Fe- Feral, comenta, também, que “E dificil saber quantos Sao cs idosos institucionalizados no Brasil. Pelos da; dios do governo, existem hoje em torno de 19 mil jdosos’ atendidos em instituigoes asilares, © ndmero pode ser muito maior se levarmos em conta que mul. Pas instituigGes do tipo nao estao cadastradas e oultras tantas funcionam, efetivamente, na clandestinidade.” Segundo dados internacionais, em palses europeus ‘eda América do Norte, 0 percentual de idosos inst tucionalizados varia de 5% a 896 com predominancia feminina e idades avancadas (75 a 80 anos e mais ‘Aqueles que ingressam com idades mais bairas 0 geralmente pessoas slteiras/itvas ou ser ilhos (Bu reau of the Census, 1993). ‘As instituicbes para idosos'de cardter flantropico so. geralmente mantidas por associagbes religiosas (catélicas, espritas, evangélicas), associagoes de im gantes e seus descendentes e outras organizagies Bemo Rotary, Lyons ou Magonaria, So também co- hecidas como Lares, Casas dos Velhinhos, Casas da Vous, Recantos, Cidade dos Velhinhos, Centro de Comivencia, Centro Vivencial e Ancianatos (no sul do pa) € apresentam grande heterogeneidade, variando Te um mero abrigo a instituigbes altamente desen- | oles, que ostentam um padrao comparavel a0 do primeiro mundo. [Nos ditimas anos, especialmente em centros ut- panos de maior porte, multiplicarant-se Casas de Re- pouso, Clinicas de Repouso ou Clinicas Ceridieas Be cardter privado, com fins lucratives @ extraordi Travar no Brasl enconirem-se em insuigbes astores cerca de 2% 0 3% de idosos. Capitulo 60 natiamente heterogeneas quanto ao padrao dos seus servigos. Nos anos recentes, muitas instituigées filantrépi- cas passaram a receber néimeros crescentes de idosos dependentes ou semi-dependentes, de idade mais avancada, vérios seqtielados de acidente vascular ce- tebral e outros com quadro demencial. Muitas inst- tuigdes procuraram adequar-se as novas demandas, reformando suas instalaces, construindo outras, con~ tratando profissionais, geralmente com grandes difi- culdades devido a permanente falta de recursos ‘econémicos para programas socials, fests aaa nesens ‘Aexperiéncta dos paises mais desenvolvidos, ta bém do Brasil, indica necessidade de definircritérios | para organizarinsiticbes ou unidades dentro de uma insituicao, com atendimento especializado, conforme o grau de dependéncia dos residentes. Nos Estados F Unidos, j4 na década de 1950 fazia-se a distingéo en- tre Home for the aged (Lar parao idoso) e Nursing Home (Lar para idosos dependentes). Nos anos recentes, de~ vido a multiplicagaé de programas de atengao a velhi- ‘ fla-se num continuum de servigos ou num sistema obal de servicos & populagio idosa. Kane e Kane" consideram os Nursing Homes (lar para idosos depencientes) como parte integrante dos Cuidados de longa duracao (Long Term Care), um pro~ rama hibrido, parcialmente de satde e parcialmen- te de servigo social ‘Outras fontes (Nursing Home Info) nesse pats clas- sificam as instituigdes asilares como: + Moradias para idosos indepenclentes, que incluem: — moradia independente (Independent Living) para pessoas capazes de se cuidarem; = residéncia comunitaria (Congregate Care) que, embora similar ao anterior, proporcio- ‘na um ambiente comunitério com algumasre- feigbes servidas no refeitorio € outros servicos, como transporte, piscina, lojas de conveniét cia, lavanderia etc; “© Moradias com assisténcia (Assisted Living) em acomodagBes no estilo de apartamentos, obje- tivando assisténcia nas atividades da vida diéria ccom servicos de refeigbes, limpeza e manuten- fo do apartamento, assisténcia em relacao aos medicamentos, lavagem de roupas e visitas re- gulares aos residentes; Capitulo 60 Cuidado ao Idoso em Instituigo + Cuidados intermedirios Intermediate Care) que ddesignam lares para idosos com algum grau de dependéncia, mas que nao requeiram grandes cuidados; + Servicos especializados de enfermagem (Skilled Nursing Facilities) so insttuigbes que proporcio- nam cuidados integrais de enfermagem para pessoas com doencas graves ou deficientes.Fs- tio registrados em érgios pablicos e contam ‘com enfermeiras padrao, enfermeiras técnicas ce auniliares de enfermagem. Duarte ¢ Pavarin?*, a0 se referirem ao atendimento institucional de idosos nos Estados Unidos e Inglaterra, fazem referencia a quatro categorias de instituigées: 1, pessoas que necessitam de cuidados provisorios té recuperarem a capacidade de cuidarem de si mesmas (reabilitagao); 2, pessoas que nao podem, por doencas ou inca- pacidade, cuidar de si mesmas; 3. pessoas com doencas terminais que necessitam de cuidados até morrerem; 4, idosos fragilizados que necessitam de culdados continues. Recentemente, a Portaria 073/2001 da Secretaria de Assisténcia Social do Ministério“dla Previdéncia € ‘Assistoncia Social a0 formular normas para o funciona mento de servigos de atencao ao idoso, introduziu a expressio Atendimento Integral Institucional para de- signar os programas desenvolvidos em insituicbes para idosos ¢ definiu trés modalidades de atendimentos, conforme o grau de dependéncia do idoso: Modalidade | a Instituiggio destinada a idasos independentes para atividades da vida didria (AVD), mesmo que Fe- queiram o uso de algum equipamento de auto-aju- da, isto 6, dispositivos tecnol6gicos que potencializam a funcao humana, como, por exemplo, andlador, ben- gala, cadeira de rodas, adaptagées para vestimenta, escrita, leitura, alimentacio, higiene etc. A capacida- ‘de méxima recomendada é de 40 pessoas, com 70% de quartos para quatro idosos e 30% para dois idosos. Modalidade It £ a instituigio destinada a idosos dependentes independentes que necessitam de auntlio e de cuida- dos especializados e que exjam controle e acompa- 745 inhamento adequado de profissionais de satide. Nao setdo aceitos idosos portadores de dependéncia fsica acentuada e de doenga mental incapacitante. A capa- ‘Gade maxima recomendada é de 22 pessoas, com 50% cde quartos para quatro idosos e 50% para dots idosos.. Modalidade II! a instituiggo destinada a idosos dependentes que requeiram asssténcia total em, no minimo, uma AVD. Necessita de uma equipe interdisciplinar de sate. A capacidacke maxima recomendada é de 20 pessoas, com 70% de quartos para dots idosos e 30% para qual ido- sos com dependéncia total em pelo menos uma AVD. Por sua vez, a Comisstio de Assessoria Técnica a Instituig6es da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Seco Sao Paulo (SBGG $P), 20 elabo- rar o Manual de Funcionamento de Insttuigdes de Longa Permanéncia para Idosos, examinando a refe- rida Portaria, concluiu que para a realidade de Si0, Paulo era desejavel haver quatro modalidades de insttuiges (ou unidades no interior das insttuigoes): Modalidade | Ea instituico destinada a idosos com até uma AVD comprometida e capacidade cognitiva preservada, mesmo que requeiram o uso de algum equipamento de auto-ajuda, isto 6, dispostivos tecnol6gicos que potencializam a fungio humana, como por exemplo, andador, bengala, adaptacdes para vestimenta, escri- {a,leitura,alimentagio, higiene etc. Acapacidacle mé- xima recomendada por Unidade’ é de 40 pessoas. Modalidade I a instituigao destinada a idosos com até trés AVDs afetadas e comprometimento cognitivo controlado, {que necessitam de auxiio, cuidados especializados, controle e acompanhamento adequado por profissio- nals de sade. A capacidade maxima recomendada por Unidade é de 30 pessoas. Modalidade Ill E a instituigo destinada a idosos com quatro a cinco AVDs comprometidas, com quadro demencial *No pret. 746 € ou cognigio alterada, Necessita de uma equipe in- terdisciplinar de satide. A capacidade maxima reco- mendada por Unidade é de 30 pessoas. Modalidade IV Ea instituigao destinada a idosos dependentes que requeiram assisténcia total nas AVDs. Necessita de uma equipe interdisciplinar de satide. A capacida- cde méxima recomendada por Unidade é de 30 pessoas. Tanto a Portaria 073/2001, como o Manual da ‘$B SP? contém orientagdes para a composicio do quadro de pessoal e organizacéo do espaco necessé- rio para o atendimento em cada Modalidade. Na Inglaterra e nos Estados Unidos as instituigoes que atendem idosos dependentes so hoje designa- das Long Term Care Institution — LTC, ou seja, insti tuicao para cuidados de longo prazo. No Brasil passamos a adotar a expressio Instituicdo de Longa Permanéncia para Idosos ILPI, cuja sigla utilizaremos doravante, ao longo deste texto, Segundo a literatura dispontvel, na Inglaterra as ILPI encontram-se em estabelecimentos hospitalarest © tempo médio de permanéncia do idoso nas LIC dos Estados Unidos 6 de dois anos; a idade média, 82” anos; 70% tem mais de 70 anos; a proporgao de se- x05 € tr8s mulheres para um homem e um tergo ‘admitido diretamente dos hospitals" Tarefa mais dificil do que cuidar dé idosos portado~ res de deficiéncias fisicas € cuidar do idoso demencia- do, Muitas instituigBes continuam com seus residentes ‘demenciados enquanto estes encontram-se num limite considerado toleravel por funcionatios e tecnicos e nao foferecem ameaga nem a si mesmos, nem a terceios Agravando-se seu estado, torna-se imperioso o encam- nnhamento a outras entidades, normalmente hospitas | psiquidtricos, Tata-se de um problema gave, fonte de grande preocupacio nos passes rcos, tanto para as al- toridades competentes como para a populagéo em ge- ral. O que dizer de um pais de parcos recursos e preciria ‘organizaggo comunitria como 0 nosso? reece Lucene nei DIRE Wola cakes ESE No Brasil, dadas as condigbes econdmicas extrema mente desfavordveis de uma grande parte da popula: io, envelhecimento torna-se mais um castigo do que | prémio para muitos idosos; sua aposentadoria irisria Capitulo’ 60 Cuidado 00 Idoso em Instituigéio tende a sofrer achatamento, sua satide esta em declinio por mas condicbes de trabalho e vid e falta de habitos Saudavels. Quando enfermo, s6 pode valer-se da rede piblica de sade sujetoa longas hla de espera e, quan- do perce aautonomia, sua moradia€ inadequada. Caso procure uma insituicSo, seus recursos s6 the permitem pagar uma casa de repouso de baixo padro ou esperar ‘aga numa entidade filantropica, ‘Até agora, a acio do Estado tem sido irregular insu ficiente. Faltam polticas pablicas, verbas, acao fiscaliza- dora. A portaia 810 do Ministério da Satie, sancionada fem 22 de setembro de 1989, aprovou as normas € 05 padres para o funcionamento de casas cle repouso c= nicas geridtricas e outras instituigbes destinadas ao aten- dimento de idosos. Embora necessérias, essas normas nfo consideraram devidamente a realidade brasileira. No Estado de Sio Paulo, a portaria do Centro de Vigi- Jancia Sanitaria de 4 de dezembro do mesmo ano, tor- nou obyigatéria a vistoria pela autoridade sanitria, para efeito de expedicio de alvard (nico) de funcionamen- to das respectivas instituigBes e outras providéncias Por faltarem as autoridades sanitérias do Estado ccondigées para exigit 0 cumprimento da referida Por- taria, grande ndmero de instituicdes filantropicas € ‘casas de repouso atendem sem o Alvaré de Funcio- namento. Deve-se registrar que a Secretaria de Assis- téncia e Desenvolvimento Social do Estado de S30 Paulo, a fim de superar essa situacao, notificou as ins- tituicbes filantrépicas que, desde de marco de 1995, o Alvard de Funcionamento é exigido para a renova- io do registro nessa Secretaria. Quanto a5 casas de Fepouso, tém merecido a agio fiscalizadora do Gru- po de Assistancia e Protecio ao Idoso (GAP), sob @ iniciativa do Ministério PGblico e integrado por re- presentantes da Vigilincia Sanitéria. Sua agéo ja re- sultou no fechamento de um grande nimero de casas de repouso na Grande Séo Paulo. Embora sejam meritrias as acdes desenvolvidas, no seré nem uma legislagio, nem uma enérgica inter vencio que iré mudar o atendimento dispensado aos, idosos, Mesmo as casas de repouso vistoriadas e libe- radas pelo GAPI estio longe de atenderem as necessi- dades da populagéo idosa. A demanda é tao grande que © proprio Ministério Pablico admite que néo in- terdita algumas ILPI por ndo ter para onde encaminhar 0s idosos que estio sendo atendidos nessas institu Bes. A Vigilancia Sanitria tem constatado que muitas, ILPI, mesmo fechadas, reabrem logo depois, em outro enderego, e com outro nome. A verdade & que no temos um dimensionamento adequado da demanda real Capitulo 60 Em setembro e outubro de 2001 a Comissio de Direitos Humanos da Camara Federal organizou uma Caravana a Asilos que percorreu as cidades de Sio Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Londrina e Curitiba. Vis tou 28 insttuig6es e, a0 final, produziu um relatério como titulo Uma Amostra da Realidade dos Abrigos & “Asilos de Idosos no Brasil. Um dos parégrafos iniciais do relatério resume bem a situacio encontrada “Nos asilos, 08 idosos nao sé concebidos como cidadaos. Séo resquicios, lembrancas avulsas, lamen- tos. Pessoas trataclas como absolutamente incapazes, mesmo quando no gozo pleno de suas faculdades mentais ou independents fisicamente. Nao podem decidir o que quer que seja, devem responder pron- tamente as normas internas definidas sempre por ou~ tros, comer a comida que outros preparam, dormir & acordar nas horas de praxe, tomar a medicagio que Thes é dada e aguardar. Aguardar, indefinidamente, por nada. Em grande parte das insttuig6es, n8o pos- suem sequer 0 direito ao nome proprio. Aqueles que interagem com eles, nfo sabem seus nomes. O espa- o que habitam nao é 0 seu espaco. Dormem em quartos onde as camas quase se tocam, junto com outros idosos que jamais viram antes. Nao possuem privacidade, nem contam com mobilidrio pr6prio que ihes permitam guardar seus pertencese tera eles aces- so. Nesses espacos ondle se estranham, ndo contam, fem regra, com uma estrutura fisica adaptada a sua condigio fisica ou as dificuldades que passam a ex- perimentar para lacomocao e outrasatividades da vida disria (AVD). Os asilos onde foram deixados costu- mam thes construir armadilhas perigosas: as vezes, uma escada ingreme, sem corrimao} as vezes um ba- rnheiro Gmido e escorregadio, sem amparos. Por con- ta disso, caem freqiientemente e se machucam.” £ importante salientar que 0 quadro descrito nao foi encontrado nos estados e cidades pobres, mas em cidades de grande porte e poder econdmico como ‘So Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Londrina, Recife. Em 4 de janeiro de 1994, foi sancionada a Lei 8.842 que dispée sobre a Politica Nacional do Idoso. Se de um lado a lei atende & longa luta daqueles que trabalham com idosos e dos préprios idosos, estabe- lecendo princfpios e diretrizes, definindo prioridades competéncias, de outro revela também a distancia entre 0s egistadores e a realidade social. Seu artigo 4, Pardgrafo Gnico, assinala: “E vedada a permanéncia de portadores de doengas que necessitem de assis- téncia médica ou de enfermagem permanente em ins- tituigdesasilares de caréter social.” Esse artigo aparece 747 Gerontdlogia atenuiado no Decreto n® 1.948 de 3 de julho de 1996, ‘que regulamenta a Lei 8.842, art. 18, “Fica proibida a permanéncia em instituigbes asilares de carater social, de idosos portadores de doencas que exijam assisténcia médica permanente ou de assistencia de enfermagem intensiva, cuja falta possa agravar ou por em risco sua vida ou a vida de terceiros. Parégrafo Ginico. A perma- rnéncia ou néo do idoso doente em instituigbes asilares, de carater social, dependeré de avaliacio médica pres- tada pelo servico de saiide local. Art. 19, Para imple- mentar as condigdes estabelecidas no artigo anterior, as instituigGes aslares poderdo firmar contratos ou convé- nis com o Sistema de Satide local.” Fundamentando-se na Lei 8.842, a Comissao de Direitos Humanos acima mencionada recomendou: “IV — Que as instituigbes tipicamente asilares se- jam, progressivamente, desativadas em favor de uma politica puiblica que privilegie o atendimento domici- lidrio, as Casas-lares, os Hospitais dia e os Centros de convivéncia, conforme diretrizes da Politica Nacional do Idoso. V—Que, em carater emergencial, o governo fede- ral, 0s governos estaduais e as prefeituras, assegurem 0 deslocamento para instituigao de natureza hospitalar de todos os idosos portadores de doencas infec- iosas ou que necessitem de asisténcia médica perma rnente ou de cuidados intensivos de enfermagem que estejam internados em instituigGes asilares de cardter social, garantindo, desta forma, 0 disposto pelo paré- rato tnico do inciso IX do artigo 4 da Lei 8.642/94." Essas recomendagies remetem-nos tanto & anali- se sobre as mudancas na estrutura familiar, como sobre ‘o aumento de idosos com varios graus de dependéncia, em decorréncia de enfermidades cronico-degenerat vas. Devemos nos lembrar, também, conforme afirma Kane e Kane's, da importancia de um sistema global de atengio ao idoso ou da necessidade de um conti- uum de servicos para a velhice. Nesse sentido, a implantagao de programas néo-asilares nao iré excluir a fungio de ILPI. Provavelmente, conforme se verifi- ca nos pafses desenvolvidos e, também, nos munici- pios mais urbanizados e ricos do Brasil, havendo um, amplo leque de servicos de atendimento “nao-asilar”, ingressarao nas ILPI, idosos de idade mais avancada e ‘com alto grau de dependéncia. Nesse sentido, a re~ comendacao V merece, igualmente, maior atengao. Nao se discute a necessidade de transferéncia de ido- sos portadores de doengas infecto-contagiosas, mas no se pode ignorar que muitos idosos em ILPIjé rece- 748, bem cuidados da enfermagem e de outros profis- | sionais de satide, sem, contudo, necessitarem de atendimento hospitalar, mas de uma moradia especia- lizada, como deve ser as ILPI. Devemos reivindicar, também, um apoio efetivo do Estado aos programas de atendimento integral ins- 7 titucional por meio de pagamentos per capita mers que se aproxime dos valores gastos na manutengdo desses programas." Além disso, é desejavel a promo- cao de treinamentos de dirigentes e funcionatios de instituicdes em parceria com instituigoes de ensino & | sociedades cientiicas, Por outro lado, tem-se observado que certas inca vas que nascem de grupos de instituicées para trocas de experiéncias, num clima de mdtua confianca, $40 extremamente produtivas ‘A patticipacao das instituigSes de ensino, do nivel fundamental a0 universitério nas ILPI tem aumentado ros citimos anos, realizando um interc&mbio mutua- mente benéfico. Muitos cursos de nivel superior tem § “organizado estagios em ILPI, proporcionando, assim atendimentos especializados. Aigumas escolas desenvol ‘vem programas de resgate da memétia dos idosos, que funcionam, também, para aprendizado de histria geografia, Em relagio a criancas do ensino fundament tal, um exemplo interessante & o proggama deserwoh do por uma professora de Roraima, semi-finalista do, ‘concurso Professor Nota 10 de 2602, promovido pelt Fundagao Victor Civita: Pequenos contadores de hist rias, que visava a0 desenvolvimento da leitura na cram ‘ga. Ascriancas vistavam periodicamente uma insituigad e liam jomais ou livros para umn idoso por elas adotad IS on Winco anion aun VIVER Na medida em que aumenta a populacéo depe' dente, seja pelo ingresso de novos residentes ou fra gilizagao dos antigos, uma instituigdo para idosos corte © isco de tomar-se um hospital de retaguarda ou pir, uma antecdmara da morte. Manté-la como ura “Segundo Aveloria do Tibunal de Contos da Unizio, em i 4 ‘ho de 2002, 0 valor méximo per Capit pogo pelo MPAS At InstluigBes ere de R$60,82 a0 Idoso depenciente, encuontal (8 custos méchosinformados eram: ern S80 Lus, RS417 fom Porto Alegre, R§360,00; Fortaleza, R$351,11; Goleta §2$400.00: Santos, R§400,00; Belém, R§400,00: Jodo Pesan § S340,00; © Recife, RS3P500 ‘ Capitule-40) 50 Cuidado ae Idoso em In: tunidade de vida ou como um lugar onde a vida é valorizada e a dignidade do idoso é reconhecida até no leito de morte € um desafio permanente para as instituigGes. Essa qualidade é conseguida pelo soma- trio de atitudes, ambiente, situacbes. Inicia-se com as entrevistas de intemacao, passa pelo ambiente fisico fe humano da instituicio, respeito a individualidade e privacidade e com a valorizacéo da autonomia. © Processo de Internagao ‘A decisdo pela institucionalizagio deve ser toma- da apés cuidadoso exame das alternativas posstveis, ‘como arranjos na famlia, contratagao de cuidadores, ou utilizaggo de recursos comunitarios. No Brasil, de- vido a escassez de programas comunitatios de atendi- mento ao idoso dependente, as famiias buscam vagas ‘em ILPI em situacio de crise, esperando uma solugao imediata para 0 problema, sem disponibilidade para cestudo de altemativas. Uma justficativa frequente para ‘0 pedido de internacao é a impossibilidade momen- tanea ou permanente do cuidador de continuar seu papel, devido a enfermidade, acidente e outros pro- blemas que exigent sua atengio; necessidade de tra- balhar para enfrentar as dificuldades econdmicas ou um clima de grande tensio na familia, € preciso reco- __nhecer que cuidar do idoso dependente ou demen- ado 6 uma tarefa estressante. Um video americano para treinamento de familiares (Labor of love: realities and solutions — A guide to family caregiver educati- ‘on) lembra que uma dona de casa tera de calcular quatro horas adicionais de trabalho para cuidar do idoso, ¢ para a importncia de toda uma organizagao da vida doméstica em fungio dos novos encargos, além de suporte de parentes e amigos a fim de pro- | porcionar repouso periédico a essa cuidadora. ‘Apesar de muitas instituigbes registrarem aumen- to de pedidos de intemnagio de pessoas dependen- tes, pode-se supor que um grande niimero de idosos | continua sendo cuidado em sua prépria casa, mesmo ‘nos maiores centros urbanos do Brasil, Nos Estados Unidos, segundo Brink’, para cada idoso dependente tem instituicdo, ha dois sob cuidados em sua propria casa e a maioria das familias tenta primeiro essa solu- Edo, s6 recorrendo a internacao quando a sobrecarga tomna-se insuportvel ou algo faz supor que 0 idoso nfo estd recebendo a assisténcia adequada ‘Outra situacio muito comum é 0 pedido de inter- nacio ser feito do hospital onde o idoso esta interna- do, na iminéncia da alta, apés sofrer um acidente Capitulo 60 igo vascular cerebral ou fratura, num estado que ird exi- gir imobilidade protongada ou um longo processo de reabilitacdo. Naquele pas, tal situacio corresponde a tum terco dos internadios em ILPI, no havendo dados levantadios em instituigées no Brasil, mas observacoes feitas por profissionais no atendimento diario dos pe- didos de internacdo confirmam alta frequéncia des- ses pedidos. Asinternacbes que sio abreviadas devido 2 falta de vagas em hospitais piblicos ou aos regula ‘mentos dos planos de satide, a auséncia de unidades intermedidrias onde o idoso possa.permanecer para reabiltacéo, dando a familia tempo suficiente ¢ aci- ma de tudo alguma trangiilidade para reorganizar 0 espago fisico e a vida familiar, permitindo a volta do idoso para a sua propria casa, refletem-se diretamen- te nos pedidos de internacio. Em quaisquer circunstancias uma ou mais entre- vistas com 0 idoso e os familiares, conduzidas por ‘uma assistente social ou psicdloga, complementadas, se necessirio, por visitas domicilidrias ou ao hospital, so indispensdveis para uma avaliagio objetiva da necessidade de internacdo, Na medida do possivel, 0 idoso deve ser envolvido nesse processo, tomando parte no planejamento e nas decisbes, como assina- lam Born e Boechat’ 7 “0 pleno conhecimento das medidas que esto sendo tomadas contribui para uma melhor aceitagao ce adaptagéo. A opiniao da familia é importante, mas, se for capaz, idoso deve opinar, decidir. Se suas ccondigies fisicas permitirem, uma visita prévia, acon- versa com o dirigente e membros da equipe 0 deixa- ro mais seguro @ menos ansioso.” A Recepgao Ainstituigio deve preparar-se para receber 0 novo residente e introduzi-lo na rotina da casa, no conhe- cimento das instalagBes, no contato com outros resi- dentes com a equipe responsavel. Algummas ILPL ‘organizaram, com sucesso, comissées de recepgao in- tegradas por residentes, que se encarregam de recep cionar e acompanhar o idoso nos seus primeiros dias no seu novo habitat. 0 Direito ao “Luto” Por melhor que seja a qualidade da instituicao & dos preparativos para a institucionalizacio, essa traf ‘Go na vida do idoso pode ser acompanhada de inten 0 sofrimento, pelas perdas sentidas, pelo afastamento 749 Gerontoogia de seu ambiente conhecido, pelas despedidas de vizi- rnhos, temor de abandono pelos familiares e, particu larmente, pelo significado atribuido pelo proprio idoso e-asociedade & ILPI— sua iltima morada. Schisler”, psicéloga, especiaizada em tanatologia ¢ longos anos de diregao de ILPI em Floriandpolis, enfatiza a necessi- dade de reconhecer 0 processo de “Iuto” do residen- te, e oferecer-Ihe o acolhimento e apoio indispensivels para vencer essa etapa. © Problema dos Custos atendimento de bom padrio numa instituigio € extremamente caro, InsttuigBes beneficentes podem ter uma margem de manobra melhor, descle que sua base financeira esteja razoavelmente consolidada, pois sua receita ndo depende apenas de pagamentos das intemagdes € contam com varias isengbes, podendo receber donativos e subvengies. Necessitam, porém, ter seus registros em ordem, ser’reconhecidas como entidades filantropicas e de utilidade pablica nos ni- ‘veis municipal, estadual e federal e manter 20% de gratuidade no seu atendimento. Ito nao significa que fessas instituigGes tém situacao financeira tranqiila ‘Muito pelo contrtio, necessitam lutar permanentemen te para desenvolver campanha de funds, mas possuem uma estrutura legal e, a0 mesmo tempo, um mandato, para atender idosos em regime de gratuidade ou com ‘um pagamento simbélico. Enquanto jss0, as casas de repouso particulares, com fins ucrativos, devem arcar com todos os encargos ¢ obter, ainda, uma margem de lucros que compense 0 investimento. Nao tém sido poucos os profissionais espeecializa- dos em Geriatria e Gerontologia, que abrem uma casa de repouso e empenham-se em manté-la num pa- ddrdo técnico elevado, serem obrigados, apés curto espago de tempo, a fecharem suas portas, por se ve- rem impossibilitados de repassarem as despesas aos idosos ou seus responsdvels. Em S40 Paulo, as casas de repouso particulares cobram mensalidades que variam de R$1.500,00 a R$3.000,00 (valores de ou- tubro de 2002), oferecendo acomodacoes e servigos considerados bons, dentro da nossa realidade. Se con- siderarmos que cerca de 50% da populacao idosa da Grande Sao Paulo recebe aposentadoria de até dois salérios minimos ou seja, 8$520,00 (na época), che~ gamos a conclusdo de que poucos podem pagar essas internagbes, a nao ser que contem com 0 auxilio de seus filhos. Se além das despesas com ILPI a familia ‘ou o idoso mantém um plano de saiide de cerca de 750 $300 a R$400 mensais — problema sério quando o- idoso se encontra numa instituigéo que integra um | complexo hospitalar —, pode-se imaginar que pov cos conseguem arcar com todas essas despesas, por um periodo mais ou menos prolongado. Numa situas | io dessas,famfias da classe média siofrequenternente Colocadas diante do dilema: ensino de bom padrio para os filhos ou interagio custosa dos idosost Os Contatos com a Familia 3g Com certa freqiténcia, diretores ou técnicos de instituigées referem-se as famflias de idosos de forma | cextremamente negativa, acusando-os de negligencla> rem 03 contatos com o idaso ou fugirem dos compro~ missos assumicios como responséveis pela internacio.. Nao podemos esperar que todas as famtias tenham ‘uma relacdo amorosa com o idoso € nem que todos 4 05 flhos tenham o senso de responsabilidad desejé: vel. Mas entrevistas com 0 idoso e a famfia podem revelar problemas de relacionamento familiar nunca resolvidos e, talvez, até mesmo agravados com 0 es tresse resultante dos novos encargos. Portanto, é pre: cso fugir da tendéncia de transformar o idoso em \itima e a familia em vilé e procurar compreender 4 dindmica da situagio, avaliando as forcas e as debi dades da familia, a duracio dos problemas e de que ” mmaneira as atuais necessidades do.idoso esto aelan 4 do 0 relacionamento entre os membros da fama. & interessante observar que certos padres de relacio~ amento se repetem © que muitos filhos guardam Lintigas magoas e ressentimentos, apesar de serem homens ou mulheres maduros e os progenitores, ido- 0s fraglizados ou demenciados. (0s conhecimentos desenvolvidos por movimento de terapia familar e, particularmente, sobre terapia © | orientacio da familia podem ser muito titeis para to- ddos quantos lidam com esses problemas no seu daa: dia Se as instituigbes tiverem abertura para dialogat com os familiares, num ambiente néo-punitivo, & pos Sivel esperar, a médio prazo, alguma melhora no rela | ionamento de pais e filhos, em beneficio de ambas a6 partes além de colaboracao na vida da instituigt. A Interagao entre os Residentes Que imagens ¢ fantasia tém 9s familiares e idosos sobre as instituigées quando consideram a perspecti- va de internagiot Muitos idosos enfrentam essa pers: pectiva com receio de perda de liberdade, abandono Capitulo 40 7 Cuidado ae Idoso em Instituigdo pelos filhos, da aproximaggo da morte, do tratamen- to que irdo receber de funcionarios e colegas. Os fa- miliares imaginam que a instituigdo nao s6 ofereceré bons cuidados ao idoso em relacio a higiene, alimen- tacdo, enfermagem, mas também que 0 idoso pode- réter oportunidade de fazer novos contatos socias, € quem sabe, amizades. No microcosmas da insttuiglo, a realidade costu- mma ser bem distinta da imaginada: as perdas auditivas cu visuais sofridas por muitos idosos podem dificultar ‘a comunicacgo. Idoso com confuséo mental pode acu- sar colegas ou funcionérios de furtarem seus perten- ces, Ha as “panelinhas” dos antigos residentes € resistencia para receber novas intemnos. Até mesmo conflitos abertos podem eclodir, assustando 0 idoso recém-chegado. Se, de um lado, é preciso preparar os residentes para a entrada de um novo interno, procurand criar ‘um clima favordvel para a sua recepcéo e adaptacio, por outro, preciso compreendler a dinamica grupal existent. Dessa forma, necessita-se de apoio aos no- vatos e paciéncia para com os veteranos, deixando que um clima de folerancia favoreca a convivéncia mais ou menos satisfatsria dos seus moradores. Vida Sexual e Afetiva ‘A questi da vida sexual e fetiva dos idosos em ILPI merece maiores estudos e uma abordagem cuidadosa do que numa residéncia para idosos independentes. € preciso considerar que alguns idosos esto demencia- dos, outros fragilizados e com grande limitagdes para o exercicio da autonomia, Uma coisa € reconhecer a ne cessidade sexual dos residentes da ILPI, seu direito & privacidade € intimidade, favorecer 0 convivio, 0 na- moro as trocas afetivas entre idosos e idasas na hora dds refeigBes, nos momentos de lazer; e outra,facilitar as relagbes sexuais, cuja lberagéo deve ser vista com ‘autela, sem romantismo. Ao contrério, € preciso estar atento para que 0 contato sexual nao se torne uma for- ma de abuso contra mulheres fraglizadas. A Rotina Diéria Se nfo houver uma programagio planejada para 0 idosos, de preferéncia com a sua participagio, se no se desenvolverem esforcos para marcar 0s varios ‘momentos do dia, a rotina didria do idoso na institui- ao tende a ser extremamente mondtona. Quanto maior a perda da autonomia, maior a monotonia, O3 Copitulo 40 dias tendem a ser a repetigéo de cuidados pessoais, alimentacio, eliminacio e repouso com poucas varia ‘gbes © interrupgbes. Os idosos podem rapidamente desenvolver uma passividade aprendida, serem redu- Zidos a corpos decadentes e rostos inexpressivos, sem histéria, com consequéncias negativas tanto para si pro prios como para os culddadores. Cuidar do idoso, nao importa a sua fragilidade ou confuséo, requer uma abordagem holistica ou uma visio de totalidade. Por tanto, nio basta manté-o limpo, alimentado adequa- damente com todos os nutrientes, se 0 idoso néo for visto num momento da sua trajetoria e integrado na sua cultura e no seu tempo: de onde ver, quai foram seus sonhos, como avalia seu passaclo, 0 que significa seu presente? Nesta perspectiva, cada momento da sua vida nao € qualquer momento, e como tal deve ser considerado. Cada dia deve ser marcado por ativida~ des estimulantes, 0 amanhecer ser diferente do anoi- tecer, uma semana distinta da outra. Q suceder das stages deve ser lembrado com frutas da ocasiao, lo- res, eventos, datas festivas, os dias que se tornam mais longos, as mudangas da temperatura Abrir as janelas, cumprimentar 0 idoso ajudé-lo na sua higiene matinal e na troca de roupas (roupas esco- thidas por quem?) 6 uma forma de marcar 0 dia que se inicia. Ajudar na higiene vespertina; preparar a cama para o repouso da noite, fechar as janelas, asistir na troca de roupa para pijama ou camisola, desejarthe boa noite, anuncia-Ihe o término ce mais uma joma- da, Amudanga de tuo das funcionarias, a pressa delas, fem irem para casa, cuidarem do jantar e das criangas rndo thes dé trangjilidade para este ritual. Freqiente- mente, a rotina é, terminado o jantar, 0s idosos depen- dentes serem colocadosna cama para enfrentarem uma longa noite, somente interrompida pela passagem da plantonista noturna. Porém, jé se conhecem no Brasil programas vespertinos ou notumnos, organizados com fa participagao de voluntérios em instituigées com 0 intuito de contornar esse tipo de problema, ainda que uma solugao permanente possa ser mais dificil £ importante que 0s funciondrios sejam prepara- dos para a importancia da rotina programada e que tenham oportunidades de conhecer alguns detalhes da vida do idoso, para que possam relacionar-se com cele como uma pessoa e ndo como um vov6 ou uma ‘vov6, sem nome e sem identidade. A reciproca é ver- dadeira e a funcionaria deve portar um crach4 para facilitar a sua identificacao, ‘Comemoracio de aniversérios, datas festivas do calendétio ctistéo, de outras religibes ou da comunica~ 751 Gerontologia de de idoso, sio todas atividades que deve constar na programacéo mensal e afixadas em letras grandes, ‘num lugar vsivel Liberdade e Restrigdes (Uma instituigao para idoso deve combinar liberda- dee flexibilidade com limites e restricbes Brocklehurst’ recomenda que, tratando-se de sua morada, onde, provavelmente, ira passar os tlkimos anos da sua vida, é importante que possa desfrutar de um ambiente des- ccontraido, onde possa dedicar-se ao que lhe seja pra zeroso, No entanto, a convivéncia de um grande néimero dle pessoas exige hordrios e regulamentos que assegu- rem o bem comum, higiene e seguranca. Em particu- lar, 0 aumento de idosos confusos torna necesséria maior vigilincia sobre a alimentacio, arrumagéo do seu espaco € armarios e manipulacio de instrumentos que possam oferecer riscos para si mesmo ou para coletividade. € uma boa medida discutr os regulamen- tos com o idoso e seus familiares na admissao, dando- thes oportunidades para levantarem diividas nesse momento e em outras oportunidades. Além disso, en- ccorajar 0 estabelecimento de uma comissdo de repre sentantes pata apresentarem reivindicagbes, sugestoes ds residentes é um meio para criar um clima de mai- ‘or confianca mitua, responsabilidade e participacio, minimizando 08 riscos do autoritarismo, sempre pre- sente na vida da insituigdo. Problemas de Pessoal ‘A qualidade do atendimento ao idoso na insti- tuigio depende em grande parte dos funcionatios responséveis pelo seu cuidado pessoal, higiene e alc mentacao, e/ou dosa) cuidadoria) de idosos Segundo temos conhecimento, séo precdominantemente pesso- as do sexo ferinino, situacdo que ¢ idéntica a dos Es- tados Unidos, Japo e Alemanha e provavelmente da maioria dos patses, tanto do Primeiro Mundo como ddos demais. No Brasil, s0 em geral, pessoas com bai- xa escolaridade — ensino fundamental incomplete. ‘Algumas instituigoes de melhor padro empregam pro- fissionais de enfermagem (auxiliar de enfermagem, tenfermeira técnica e padrao), predominantemente com experiéncia em estabelecimento hospitalar, send, ain- da, relativamente poucas aquelas especializadas em cenfermagem geronto-geratrica Apesar de 0 cuidador do idoso ser pessoa-chave, pouco tem sido feito, até 0 presente, em termos da 752 sua qualficacdo e eventual profissionalizacao, fican- do as iniciativas de seu treinamento a cargo das ins- tituicées. O Programa Nacional de Cuidadores de ‘dosos (Portaria interministerial 5.153/99, assinada pe- los Ministros da Satide e da Previdéncia e Assisténcia Social) e 0 reconhecimento da categoria ocupacional pela Classficagdo Brasileira de Ocupagies (Ministério do Trabalho}, criaram condigdes para que se realizem ‘cursos de capacitacio dessa categoria ocupacional: ha ‘material didatico elaborado por uma equipe multis- ciplinar, currculo minimo e metodologia proposta. Em §$30 Paulo foi elaborado um material didatico (video e manual) pela Comissio de Assessoria Técnica a Insti- tuigées da Sociedade Brasileira de Geriatria e Geron- tologia, Seco Sdo Paulo em parceria com a Secretaria de Assisténcia e Desenvolvimento Social do Estado de ‘io Paulo, H, também, uma publicagéo que registra 60 experimento desenvolvido pelo Centro Experimen- tal Pablico de Formacio Profisional, da Secretaria do Emprego e Relagbes do Trabalho (1999) Como ha indimeras experiéncias j realizadas, por corganismos piblicos e pela sociedade civil trata-se de resgatar as experiéncias bem sucedidas, apoiar as ue se encontram em desenvolvimento, incentivar a realizagdo de novos cursos de formacao de cuidado- res em nivel nacional. ‘A portaria 810/89 apresenta uma extensa lista de servigos que as instituigoes para’idosos dever pro: ver: assisténcia médica, odontol6gica, ce enfermagem, nutricional, psicolégica, farmacéutica, de atividades de lazer, de reabilitacio (fisioterapia, terapia ocupa- ional e fonoaudiologia), servigo social, apoio jurid- co e administrativo e servicos gerais. Como entender tessa Portaria? Se de um lado, deve-se esperar que 0.” cuidado 20 idoso vise o atendimento global de suas recessidades e esta listagem estd longe de esgoté-las, de outro, deveriamos nos interrogar que instituigao sera capaz de atender a todas essas necessidades, ain- da que recorrendo a servigos da comunidade? Ade- mais, 6 preciso definir as responsabilidade da instituicao e da familia do idoso, deixando bem | claro o que se espera das duas parte e que cuidar do idoso & uma tarefa que deve ser realizada em parce: | ria, nao esquecendo o papel que cabe ao proprio ido- 50. Evidentemente, a insituigéo teré de assumir maior responsabilidade quando 0 idoso nao tiver nem fami- Tiares, nem amigos que possam substitui-los. Temos constatado que, dependendo da capacidade finan- Ceira da instituicdo, disponibilidade de profissionals € visdo dos dirigentes , varia enormemente @ compos Capitulo 60 do do quadro de pessoal. Além de proporcionarem brigo e alimentacdo, as instituigbes procuram ofere- cer basicamente, servigos de enfermagem, assistén- cia médica e assisténcia psicossocial. Em muitas instituig6es filantrépicas, a assistente social, juntamente com a encarregada de enferma- gem, é a profisional comumente encontrada. O ser- Vico médico é muitas vezes oferecido por profissionais, Yoluntérios, sendo os geriatras ainda em néimero re- duzido. A Portaria ministerial jé refer exige, no caso, das instituigées que prestam “atengio médico-sani téria’, um coordenador médico (no estado de Sé0 Paulo deve estar registrado na Vigilancia Sanitéra). Profissionais de reabiltacéo, especialmente fisiotera- peutas e terapeutas ocupacionais jé tém experiéncias acumnuladas em instituicGes, mas fonoaudislogas difi- cilmente so encontradas, 0 mesmo ocorrendo com (© especialista em locomogio do deficiente visual Embora imprescindivel, o trabalho destes especialistas sé terd resultados se forem capazes de criar um ambi- fente que valorize a autonomia, conscientizando 0 pessoal auxiliar para a importancia da reabilitagao, especialmente atrayés das atividades da vida didria, ‘A fungao da nulticionista ¢ extremamente impor- tame, mas seu papel ndo pode se limitar ao célculo dos nutrientes e organizacao do cardépio. Devers orien taro pessoal da cozinha e da copa sobre o significado afetivo da releicio e da necessidade de zelar também pelos seus aspectos estéticos. Organizar refeigbes com sugestoes e pedidos dos idosos, criar oportunidades ‘ocasionais para permitir a escolha de alguns pratos pode ser um exercicio de autonomia extremamente impor- tante para as pessoas dependentes. © papel do psicélogo deve ser exercido tanto no atendimento de idosos como na orientacéo dos de- mais profissionais e orientacdo e apoio as atendentes de idoso em relagao aos problemas que os idosos apresentam, tentando compreender e interpretar seu comportamento junto a eles. A Equipe Interdisciplinar Nao basta haver profissionais de varias éreas, com- petentese bem intencionados, Muito mais do que num hospital ou num centzo dia, a instituigéo de longa per | manéncia requer uma orientacio unificada, resultante de uma visio holistica dos problemas do idoso. A in- terdisciplinaridade 6, também, um caminho para os profisionais poderem superar suas distorgbes e a com- preensio limitada da realidade, fruto da excessva es- Capitulo 60 Cuidado ae Idoso em Instituigdo pecializacdo em todos 0s setores de conhecimento hhumano. A atuacéo interdisciplinar supde a formagao da equipe, ¢ esta, a realizacio de reunides peribdicas para estudos te6rices,estudos de casos ou situagoes, vi sando 0 diagnéstico, a elaboracio ce um plano de tra balho e posterior avaliaco. A propria rotina distia, as programac6es € a attagéo dos funcionérios deveriam, igualmente, merecer a atencao dessa equipe. A super- visora dos cuidadores de idosos deveré fazer parte dessa equipe, a fim de assegurar a continuidade dessa linha de trabalho nas instancias inferiores, fazendo o traba- tho de formagao de equipe neste nivel. Sem esta preo- ‘cupagio, a equipe multiprofisional pode produzir um belo trabalho para congresso de especialista, sem em nada alterar a qualidade de vida do idoso. {As instituigdes que dependem de profissionais vo- luntérios e emprega outros em regime de tempo par- cial, encontram muitas dificuldades para implantar & ‘manter o trabalho multiprofissional. Mas, hé também, problemas organizacionais que prejudicam e impe- dem a adogio dessa linha de trabalho. Adequacdo Ambiental Quem teve oportunidade de visitarinstituigoes para idosos em paises desenvolvidos, ou sfiesmo as viu em filmes ou em revistas de arquitetura, sabe dos esforgos, feitos nesses pafses para criar:projetos arquitet6nicos funcionais, agradveis, aconchegantes para instituicBes, de idosos. Aqui mesmo no Brasil hé algumas institui- ‘goes projetadas por arquitetos com uma orientagao. gerontolégica, obedecendo, também, a normas da ‘Associagao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). £E claro que projetar boas construgées requer muito dinheiro e, neste sentido, as insituig6es aqui existen- tes refletem mesmo a pobreza da nossa sociedade. Mas, pensando bem, talvez a pobreza nao seja ape- nas econémica. Num pais que produziu arquitetos de fama internacional e construiu algumas obras que figuram em catalogos internacionais, a maioria dos profissionais e as faculdades de arquitetura parecem nndo ter descoberto a realidade do envelhecimento & as necessidades dela decorrentes, tanto nas edific oes como no tracado urbano. Temos visto 0s jé escassos recursos financeiros des- perdigados em novas construgdes ou reformas inade- quadlas, pela ndo-observagio de normas basicas,além las diretrizes tracadas na Portaria 810/89. Resumindo, podemos dizer que uma insttuigao deve ser a mals préxima possivel de ura moradia e além de 753 Gerontologia ‘oferecer seguranca e condigées higiénicas, respeitar a privacidade e individualidade, promover a autono- mia, possibilitar o encontro de pessoas, ser ensolara- do, claro e agradavel, Num pats, onde 0 medo aos assaltos obriga-nos a colocar grades de protecdo nas janelas e onde uma grande parte da populacso, mes- mo da classe média, mora em més condigoes,talvez seja esperar demais das instituigoes. No entanto, fi- ‘cam aqui como referéncias. ‘Comecemos pela cor das paredes: a literatura americana sugere que 0 ambiente seja colorido € es- timulante e que as cores palidas e pastel podem to~ das assemelhar-se, motivo por que recomenda 0 uso dde tons brilhantes Numa visita que realizamos a um hospital dia, em Frankfurt, Alemanha, motamos que as pparedes tinham cores qluentes, em tons de marrom, nao se assemelhando a um ambiente hospitalar, e 0 médico disse-nos ter tido a assessoria de psicblogas na escolha das cores, com 0 objetivo de tornar 0 am= biente mais estimulante. Provavelmente, essa pre- ‘ocupagao deve ser maior num pats de inverno frio & prolongado, mas certamente é urn detalhe que no deve ser esquecido aqui também. ‘Além dos dispositivos de seguranca previstos na Portaria ja referida, os corredores devem ter pisos anti- derrapantes, corrimao e iluminagao adequada. O piso indo deve ter cores contrastantes, pois estas podem dar a impressio de alteragdes em altura, confundir 0 idoso e causar quedas. © mobilidtio deve ser confortivel e seguro. Mesa de concreto, bancos fixos no piso ou mesmo bancos ‘sem encosto devem ser evitados. A altura das poltro~ nas e cadeiras deve ser adequada & estatura dos usud- rios, Deve-se observar que 05 idosos tem maior dificuldade em se sentar e levantar de cadeiras ou poltronas muito baixas, macias ou fundas. Os méveis recebidos em doagio ou trazidos da casa do proprio idoso devem ser examinados e, quando necessério, adaptados ou descartados. Permitir que 0 idoso leve seu préprio mobilirio 30 ingressarna insltuigdo ou pelo menos alguns perter- ces seus, uma cadeira, mesa de cabeceira, um quadro ‘dard um toque familar ao ambiente, permitindo estabe~ Jecer uma continuiclade com o passado. Um ambiente familiar pode diminuir a ansiedade do idoso provoca- da pela mudanga radical que ele teve de fazer. ‘Vasos de plantas, flores naturais, passaros e aqua rios concorrem para dar vida ao ambiente e torna-lo mais acolhedor. 754 Recuperagao e Valorizacdo da Autonomia Respeitar 0 idoso 6, antes de mais nada, criar con- digGes para que ele possa exercer sua autonomia, ain- ) dda que limitado por incapacidades fisicas ou deficiéncias sensoriais. Primeiramente, 6 importante haver um ambiente fisico adequado, méveis, equipamentos € Utensilios adequados. Corrimao nos quartos e corres dores, apoios junto ao sanitério, e no box do chuvel- ro, cadeira sanitéria ou um simples banco para tomar banho sentado jé ajudam muito. Andadores e cadei- rade rodas podem facilitar a mobilidade; apoios adap- tados & cama podem facilitar o movimento de deitar levantar da cama. Catlogos de patses desenvolvidos apresentam uma oferta enorme de artigos. Aqui no Brasil comega tam- 4 bem a aumentar a oferta e melhorar a qualidade dos produtos. para idosos dependentes. No entanto, isso hao basta. € preciso a valorizacao da autonomia, tan~ to pelo idoso, como pelos cuidadores, sejam estes 7 formais ou informais. ‘Além dos equipamentos vendidos em lojas espe: cializadas, hé provavelmente muitos outros fabrica~ dos artesanalmente, em instituigées ou na moradia do idoso. £ lastimavel que até hoje haja pouco inter: cambio entre as insttuigOes para a troca de know how desenvolvido, a fim de contribuir mutuamente % para a elevacio da qualidade de atendimento. [Um outro item que nao tem merecido a nossa aten: «io € a confeccio de vestuério adequado para pesso- 4 3s portadoras de deficiéncias, que pode igualmente © favorecer maior exercicio de autonomia. Equipamentos, utensils, roupas, tudo isso s6 ter valor se forem introduzidos na vida do idoso, dentro ” de um processo de reabilitagao, no qual é indispen- sivel a efetiva colaboragio de todos que convivem com ele. Sem o seu concurso, os melhores equipa: | mentos tendem a tornar-se inutilidades. Incontinéncia Aincontinéncia ¢ um dos problemas mais frequen tes € afltivos para 0 idoso. A julgar pelo aumento da oferta de fraldas descartéveis para adultos, 6 um pro= blema crescente entre os idosos em geral. Parece hi ‘yer uma tendéncia tanto entre os idosos, como entre | ‘0s cuidadores, para consideré-la inevitvel ¢ irevet: sivel, antes de haver maiores investigagdes ou trat mentos, apesar de terem aumentado, nos dl ‘anos, recursos terapéuticos para este problema. Capitulo, 60 ‘literatura americana" menciona que 33% de resi- dentes em insttuigdes so incontinentes. Ndo temos co rnhecimento de dados estatsticos similares no Brasil, mas ‘uma consulta em $40 Paulo, em duas grandes institu (64s, indicou resultados que se aproximam daqueles. \Visitando insttuigées ou moradia de idosos depen- dentes, 0 odor de urina é um dos sinais indicativos do seu mau funcionamento e da negligencia em relagio a0 idoso. TTemos informacées de que nos paises desenvolvi- dos ha um empenho em diminuir o problema da incontinéncia. Menor proporcio de idosos que depen- dem de fraldas 6 considerado, nesses paises, sinal de qualidade da instituicao. Estuclos sistemsticos tém sido realizados para detectar as causas da incontinéncia e medidas sio estucladas para remover essas causas, seja pelo tratamento médico, seja pela provisio de sanitati- 0s portiteis e vestudrios modelados em funcio das di- ficuldades do idoso, além de retreinamento dos idosos cetreinamento de cuidadores. Mort” observa que as causas da incontinéncia sto médicas, fisicas, psicolégicas e socials € recomenda que todos estes aspects sejam investigados e agdes, adequadas sejam desenvolvidas, antes de considera- la inevitdvel. Suas recomendagdes em relacdo ao tra- tamento da incontinéncia resumem-se nos quatro pontos abaixo enumerados: 11. nem aidade, nem a capacidadle mental reduzida cdeven neglgenciara investigacio médica. Aequi- pe responsive pelo re-treinamento deverd saber a causa da incontinéncia e o tipo de incontinén- ‘ia, e se informar sobre o uso de medicamentos como, por exemplo, diuréticos, Informacbes 80- bre o prognéstico so também necessérios, para poder tratar os elementos reversvels e pensar nos ‘meios para enfrentar 0s ireversiveis, 2, pacientes com dificuldades fisicas para chega- rem rapidamente ao sanitario ou para usi-lo sem a ajuda de outra pessoa podem ser consi- derados incontinentes, embora nao sejam no sentido correto. Re-treinamento e maior habi- lidade no manejo de cadeira de rodas e para sentar e levantar-se do sanitério podem resol- ver 0 seu problema; 3. quando a causa é psicol6gica, o doente tende a melhorar na medida em que for integrado num grupo e tomar consciéncia do seu ambiente; 4, as causas socials incluem 0 fator “negli social”: quando o idoso nao tem 0 estimulo de Capitulo 60 Cuidado ae Idoso em Instituigdo contatos humanos, sente-se rejeitado e no se importa com 0 seu problema, Barreiras arqui tetdnicas podem impedi-to de chegar ao sani- trio em tempo. Na literatura americana encontra-se também reco- mendacéo do exercicio Kegel para melhorar a tonic dade muscular e apoiar a estrutura pélica — étero, boexiga e reto —, corrigindo ou atenuando alguns casos de incontingncia em mulher idosa’. Quem pratica ioga conhece, igualmente, exercicios de contracao da mus- culatura anal e de todo o assoalho pélvico recomenda- dos para prevencio de problemas de incontinéncia Dada a gravidade do problema, seria importante que aioresesforgos fossem deserwolvidos sistematicamen- te, tanto no sentido preventivo como curativo, concor- rendo, dessa maneira, para aliviar 0 sofrimento de rmuitas pessoas e promover seu bem-esta. Os Contatos com a Comunidade Evitar ou minimizar a tendéncia de a instituigao tornar-se isolada e fechada exigem esforgos continu- «5, tanto dos dirigentes, como da comunidade. Na medida do possivel, 6 recomendvel que a institui- ‘cao ofereca oportunidades aos grupos locais para visi tarem suas dependéncias, eventualmente organizarem atividades conjuntas tanto de jovens como de idosos ‘com os residentes. Abrir seus servigos para usudrios da comunidade, organizar cursos e palestras sobre téc~ niicas de cuidado do idoso para familiares de idosos e voluntarios, sfo alguns exemplos de programas que podem ser desenvolvidos. Kane e Kane! observam que nos Estados Unidos algumas ILPI mantém servigos comunitérios de cui- ddados diios a idosos (day care center, refelcbes so- bre rodas, atendimento domiciltério e o respite care, que 840 05 servigos de cuidado ao idoso que objeti- ‘vam 0 repouso temporario do cuidador; traduzido ‘em portugués como respiro. Manter um pequeno playground ou uma peque- 1a praca ajardinada com bancos e abrir esses espacos para criancas da comunidade pode ser um étimo ser- Vico a comunidade que pode ter efeitos salutares para (08 préprtios idosos. Temos observado como a presen- a de criangas pequenas, filhas de funcionarios ou Visitantes, traz alegria desperta sentimentos ternos ros residentes de instituigdo. Uma revista informativa do governo japonés relata uma experiéncia de inter- ccimbio entre uma residéncia para 100 idosos e de ‘um jardim da infancia que acabou resultando na cons 755 Gerontolbgio ee trugio de um prédio Gnico para os dois servigos, faci- litando mais ainda 0 convivio entre idosos e criangas. Criangas e idosos foram observados e foi constatado que as criangas tornaram-se mais interessadas pelos demais, mostraram mais compreensio e paciéncia, fengjuanto 0s idosos ficaram mais animados e sua sad de melhorou. De outro lado, criar condigdes para que os idosos possam ver uma exposigao, asistirem a uma ativida- de artistica, mesmo numa cidade grande e complexa como Sao Paulo, pode ser uma experiéncia trabalho- sa, mas prazerosa e muito benéfica. Um simples pas seio de 6nibus, que possibilite ver outros horizontes & pessoas paderd ser extremamente gratificante, sobre- tudo para as pessoas com problemas de mobilidade. Incentivar contatos entre as instituicdes asilares e e5- colas de ensino fundamental favorece oportunidade de aprendizado matuo. ‘Convidar pessoas voluntarias para prestarem ser vicos na instituicgo, para sentarem-se com os idosos nna mesa das refcicoes, ajudando a servir os pratos, fenquanto faz comentérios sobre acontecimentos da vida cotidiana é uma outra forma de fazer a ligagio com a comunidade. ‘Manter um programa de curta permanéncia é um meio de otimizar os servigos da instituigao e oferecer alternativas & longa permanéncia para uma parte da populagao idosa, Sao internagbes que variam de uma semana a tiés meses e visam 0 descanso temporério dos cuidadores de idosos. Varios paises desenvolvidos mantém esse programa. Na Inglaterra hé pequenas residncias de cardter permanente e temporario, onde tum terco das vagas destina-se para estadias tempors- Fias, de modo que o idoso pode alternar sua vida entre sua casa (dois meses) € inslituigao (duas semanas). A Morte e 0 Morrer Uma instituigao que cuida de um grande nimero de idosos dependentes é forgada a conviver com a realidade da morte. Algumas instituicoes de bom pa- rao em Sao Paulo, tém verificado que o pavilhéo para idosos dependentes corre orisco de transformar- ke em um hospice devido & intemnacéo de algumas pessoas extremamente fragilizadas, que falecem de- pois de trés meses. Embora nao faca parte da cultura brasileira a discussio e o preparo para a morte, é um tema que deveria merecer maior atencao no treina~ mento dos que trabalham na instituigao. Quanto & famtfia, lembré-la sobre a importancia de pensar an- 756 tecipadamente sobre as providéncias a tomar quan- do da ocorréncia da morte pode poupar-Ihe maiores dissabores e sofrimentos. PERSPECTIVAS FUTURAS q No Brasil, dada a caréncia ea desorganizacao, tan- to nas politicas sociais compensatérias como na de sade, todas as solugdes propostas, por melhor que sejam, serdo insuficientes e correm 0 risco de serem rapidamente superadas pelo aumento de problemas No trabalho com idosos, nada mais verdadeiro. Mas 60 idoso ndo pode esperar. O tempo urge. ‘Comecemos por desmistificar a natureza das insti~ tuigdes para idosos, reconhecendo que © aumento dda populagio idosa e a extensio da longevidade criou uma nova categoria de idosos necessitada de cuida- dos especializados em instituig6es. Essa nova populagio requer cuidados especializa dos e custosos que uma grande parte dos idosos néo pode pagar com a sua aposentadoria e ajuda dos f- Thos, 0 que os sujeita a internagao em instituigGes (com freqdéncia, casas de repouso) de péssima qualidade ou ao abandono em sua propria residéncia Nao & mais posstvel deixar que a solugdo desses problemas continue nas mos da iniciativa privada (co sas de repouso) ou entregues apenas & boa vontade das instituigées flantr6picas. Muitas destas necessitam superar o seu estigio de assistencialismd e desenvolver ‘uma nova compreensao do seu papel, face a nova reali- dade a fim de adequarem seus programas para anova realidad, Aquelas, ndo obstante a seriedade de inten ‘cho de alguns proprietarios, ¢ os seus conhecimentos _ de Geriatria e Gerontologia, no tém o folego para um atendiniento em massa € a baixo custo. E, 8em davida,, prioritéria a criagao de servigos comunitatios, que, oferecendo cuidados diurnos ou § otumos, atendimento domicilidrio e muitos outros, programas, possibilitem a manutengio do idoso de- = pendente no domictio. Mas néo nos enganemos, €5 7 fas medidas podem retardar a internacdo, mas, como 9 revelam dados dos paises mais adiantados, novos can-) didatos & internacao terdo idade mais avancada € apresentardo maior grau de dependéncia. 4 fssas consideracées fazem-nos concluir que um ppasso maior e mais ousado deve ser estudado, visa {do a ctiacao de organizacies nfo-governamentais Com a participacdo de associagoes de idosos, asociagbes de aposentados, grupos de mulheres, moviment Copitulo.4 religiosos, grupos empresarias eprofissionais da sali de para estudar uma estrutura capaz de equacionar esse problema a médio prazo, Concomitantemente, devemos exigir do poder pblico, ages consistentes e conseqientes junto a TLPI, ilantrépicas ou com fins lucrativos, a fim de exi- gir um padrdo minimo nas suas instalacbes e servigos Deve-se estudar a adogio imediata de uma no- menclatura uniforme em todo 0 territério nacional para definir as categoria de instituigbes para idosos e tstudar meios para coletas de dados sobre institui- Bes sob a orientagio de entidades como a FIBGE. Finalmente, devem ser encorajadas e apoiadas todas as iniciativas da sociedade civil que visem melhoria da qualidade das ILPI para idosos, em par- ceria com 0 Estado, por meio de cursos para dirigen- tes e funcionérios, producao de videos e folhetos. Poteet anoint 1. Portaria MS-810/89 — Norma para o funciona- mento de Casas de Repouso, Clinicas Geridtricas outras Instinsighes Destinadas a0 Atendimento do Idoso. 2, Lei 8842 de 4 de janeiro de 1994, que dispoe sobre a Politica Nacional do Idoso. 3, Decreto 1948 de 3 de julho de 1996, regula- menta a Lei 8842 de 4 de janeiro de 1994, que dispée sobre a Politica Nacional do Idoso dé outras providéncias. 4, Portaria Interministerial 5153/1999, institui © Programa Nacional de Cuidadores de Idosos. 5, Portaria SAS-073 de 10 de maio de 2001, que éestabelece Normas de Funcionamento de Ser- vigos de Atencao 20 Idoso no Brasil. 6. Decisao n°590, 2002 Plendrio do Tribunal de Contas da Unio. zits alee: soccer 1. Beisgen B. 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Rela tBrio da V Caravana Nacional de Direitos Humanos: Uma ‘Amostra da Realidade dos Abrigos e Asilos de Idosos no Brasil; 2001 £8, Departamento de Geriatra D. Pedro Il. Relatrio das ativi- ddades do mordomo Carlos Coelho de Faria. Periodo de 19641971. Sho Paulo: Irmandade da Santa Casa de Mise- ricérdia; Mimeografado. 9, Duarte YAO, Pavarni SCI. lsttuigdo de Idosos: qualific- ‘Glo de pessoal. | Congresso Paulista de Geriatria ¢ Geron- {ologia — GERP'98, Consensos de Gerontologja. Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia Secio Sao Paulo. Friedlander WA. Introduction to social welare. Nova York: Prentice-Hall; 1955. 111. Gelfand D, Olsen JK. The Aging Network Programs and Services. Volume Eight in the Springer Series on Adulthood ‘and Aging, Nova York: Springer Publishing Company; 1989. +12, Gutman G (org). Shelter and care of persons with dementia, “The Gerontology Research Centre. Vancowver: Simon Fraser University; 1993. f 13, Heer Jj, Weakland JH. 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