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” Fav de Bako seu espago e alarga ainda mais a consciéncia do tempo. Sob as camadas sedimentares reconhecemos eras geolégicas inteiras, ‘ocupando milhares e mithoes de anos. Por fim, na segunda me tade do século XIX ¢ inicio do século XX, of estudos astroné- :micos ampliam nossa consciéncia do tempo para a escala dos bilhdes de anos, conduzindo & real dimensio da insignificancia dda humanidade, tanto no tempo quanto no espaco. A Jideia de mundo histérico é ainda mais importante se pPensamos no contexto em que nos inserimos: sociedades oci- dentais ou ocidentalizadas, marcadas pelo cristianismo (que € principalmente uma religido da meméria ¢ da lembranga), € pela heranga clissica (Grécla e Roma), da qual herdamos a importancia que & dada ao registro e i narragio dos eventos ue, a cada época, sio considerades os mais importantes. Em. nossa (moderna) sociedade, as coisas sio justficadas em gran- de parte pela sua antiguidade, pela sua tradicao, e ndo é difi- cil encontrar uma resisténcia natural ao novo. Ou o extremo ‘posto ~ tipico das crises de projetos coletivas ~, em que as ‘coisas 6 so boas quando so novas (ou seja, tendemos a nao analisar a coisa em si, mas sua antiguidade ow novidade, sua familiaridade ou estranheza). Nao foi 4 toa que, diante das instabilidades e incertezas da década de 1930, Vargas e seus apoiadores ofereceram o Estado Novo, e que nos anos 1980, quando da tumultuada transigio para a democracia, o gover- no do presidente José Sarney se autointitulow “nova Repti- blica” e ainda que a presidéncia seguinte, de Collor de Mello, atribuiu a si mesma a nome de “Brasil novo", Diante de tudo isso, conhecer a historia e ser capaz de entender/praticar 0 seu método de analise critica dos enunciados e de construgio do conhecimento é uma necessidade, se almejarmos formar ‘um pensamento auténomo, critica ¢ criativo. Ensino dehistriaeconsléncla histrca Faz toda a diferenga conhecer, mesmo que superficial- mente, a historia das coisas que nos cercam e com as quais Interagimos (objetos, ideas, situagdes, instituigdes, leis) a0 tomar nossos posicionamentos diante dos miltiplos aspectos da realidade. Entender as coisas como construe, com uma ‘durago propria, é necessivio para quem quer agir sobre clas, ~Alinal, a8 coisas como dados prontos e acabades fora do tem- po, como fatos naturais, aos quais s6 resta submeter-se sio a -Aescrigao da postura conformist, Pensarhistoricamente ee ee sn. ara 2, teas cme, enon df que pena He fovkamentee nunca acta as nfragtes, das, dado ct fem levarem consderagioocontexto em que fran progr dio: seu tempo, suas peclaidades cltras, oa vical Ges gr: poncooamertspeltcons clamav a pot Spins Lninatin cn concise que wan mdo 4 produsin 0 que € pox pars andi B nunca dehar de lado que todo produte de una ao tem uno mals sjetes pes: ees wl Gelb oer gees ate ses seen, pels io condicion o sentido da mcnsagem. 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Finalmente, pensar historicamente leva 2 compreensio do que de fato significa a histéria: a sucessao do inesperado, do novo, do inusitada e da criagao constante, e no apenas a de- terminasio, a permangncia, a continuidade, Evidentemente, essa caracteristica torna ingratas algumas das demandas sobre © historiador, como no caso de lhe ser perguntado, nos meios, ‘de comunicagao de massa, sobre os progndsticos para um de- terminado tema da realidade que envolva mais claramente al- _gumas questées que se arrastam desde 0 passado (um bom ‘exemplo éa questio palestina). Embora possa falar em tendén- ‘as, 0 historiador € obrigado a trabalhar com uma relevante rmargem de incerteza. Nesse sentido, &extremamente antichis- triea a ideologia do fim da historia, pois julga que chegamos, ‘a um momento em que as coisas vao mudar quase nada, pols tiie hi alternativas a situagn atual do’ manda neoliberal Eso 6 querer petrficar a temporalidade (Chaui, 1990:16), colocar algumas instituigées (como o liberalismo, a demoeracia repre- sentativa, o poderio norte-americano) fora da historia, como se nio pudessem, daqui em diante, softer a agdo do tempo. Ensino de histri € consciéncahistérea « _O tempo histérico ¢ feito do combate entre permanéncia € uudanca, ¢ 0 “sempre fol assim” e o “val ser sempre assim” “sio expressdes de quem no péde pensar historicamente. De imediato, situagdes que pareciam solidas no inicio deste novo século, como a consolidagao do neoconservadorismo e do neoliberalismo no mundo ocidental, foram profundamente abaladas antes do final da primeira década, com a eleicao de lideres de esquerda na América Latina, com a crise financeira ‘mundial de 2008, a retomada da perspectiva de interveng30 importante na economia ¢, por fim mas no menos importan- te, a eleigiotdo democrata negro Barak Hussein Obama para a presidéncia dor Estados Unidas “Todas essas afirmagies que vimos fazendo até este ponto, desde o inicio do capitulo, ndo tém o cariter de enunciagio de verdades descobertas ou reveladas. Trata-se apenas de ‘uma tentativa de formular os padrdes de entendimento tipl- ‘cos de uma forma de geragao de sentido histdrico correspon dente a uma configuragao moderna, cientifica¢ dialogante de consciéncia histérica, Afinal, a geracao de sentido histérico também ¢ historical ‘Se somos obrigados a usar, nas nossas agoes cotidianas,al- ‘gum tipo de conhecimento que interpreta a nossa identidade hho tempo, nio é isso que significa, necessiria e imediatamen- te, que sejamos capazes de pensar historicamente. Dizendo cde outro modo, entende-se aqui que “ pensar historicamente” éa capacidade de beneficiar-se das caracteristicas do racioct io da ciéncia histérica para pensar a vida pratica. Determi- nadas formas de consciéncia histdrica, por exemplo, tendem a excluir ou a incompatibilizar-se com 0 pensar historicamen~ te segundo essa definisio, o que mio quer dizer que deixem de manejar alguma compreensao do que ¢ o tempo, de onde @ FOV de Bolso vem e para onde vai. & 0 caso de qualquer fundamentalismo religioso, que exclui elementos centrais do raciocinio da cién- cia histérica, como a relatividade e historicidade da verdade ((a que a verdade religiosa é revelada de modo sobrenatural e no est sujeita a discussdo; s6 cabe aceiti-la ou nao), a agao autdnoma do sujeito (ji que 05 sujeitos sao instrumentos para que se realize o que a divindade ja havia concebido}! e a aber- tura do futuro (jé que se pensa num tempo de redengao ou juizo final, em que o préprio tempo termina), entre outros, Na cultura politica brasileira, por exemplo, também é possivel pereeber elementos que se contrapdem a0 pensar hhistoricamente nas frases do senso consi que, em Felagao a0 poder, afirmam que “as coisas sempre foram assim e va continuar sendo” (ou seja, simplificam ¢ nivelam diferentes experiéncias histéricas, excluindo contradigoes e fatores de complexidade) ou que “as grandes decisies politicas foram sio trabalho para grandes homens, nao para 0 cidadio co- ‘mum’ (assumindo como verdade algo que é uma formulagao idcoligica das classes dominantes), Muitas dessas ideias que se enraizam no senso comum po- dem acabar se tornando limitagoes ou dificuldades para a rea- lizagao de projetos coletivos de pessoas, regides € paises, pois algumas delas assumem a forma de preconceitos, no senti do de percepsdes preconcebidas que dificultam ou impedem rnovas abordagens, que passam a implicar rupturas com um grande sistema de sipnificados ¢ identificagdes. Por exemplo: 2 ldeia. muito difunctida no Brasil, de que ele & 0 "pais do futuro”, ou seja, que tem por destino obrigatorio ser uma grande e prospera naydo, desobrigando ou tirando a necessi- Ensino de hist conscici histrica ° dade urgente, na cultura dos seus habitantes, de resolver seus problemas presentes. Na Argentina, por sua vez, essa nogio de grandeza inclu a ideia de posse argentina sobre as ilhas Malvinas e territério antatico, que aparecem nos mapas es- colares identificando esses espagos com a nagl0.? Quando nos referimos as imagens que fazemos sobre os outros povos, isso pode ser um obsticulo para o aprofundamento das relagdes com nossos vizinhos ou para o nosso préprio desenvolvimen- to, na medida em que mobiliza ou dispensa a energia das pes- soas para determinados problemas que elas nao chegaram a estabelecer\por si mesmas, como legitimos ou prioritirios, ‘Além dessas perspectivas, devemos adicionar que, na so- -ciedade informatizadae tecnificada desde o fim do século XX, ha forgas contzapostas ao pensar historicamente. De certafor- ma as soviedades hipermodernas, em que o passado parece muito distante¢ o futuro parece realizar-seimediatamente em 0 do presente € no vertiginoso ritmo dos acon- -tecimentos ¢ informagdes, ha uma reaproximagio da relagio com 0 tempo que tinbam as sociedades ditas "primitivas” Novamente recorremos a Chaui (1990:62), que descreve com precisio essa ideia: Volitl e efémera, hoje nossa experiéncia desconhece qualquer sentido de continuldade e se esgota num presente sentido como instante fugse. Ao perdermos a diferenciagio temporal, no 8 rumamos para 0 que Virilio chama de “meméria imediata”. ou auséncla de profundidade do passado, mas também perdemos a profundidade do Futuro como possibilidade da inscriglo hu- aucsuauning ger pacse nr lcrescatee amps aes ipsa ean “ FGV de Bolo ‘mana enquanto poder para determinar o indeterminado e para ultrapassar situagdes dadas, compreendenda e transformando ‘sentido delas. Em outras palavras, perdemos o sentido da cul ‘ura como ago histrica, © que a histéria pode oferecer para que as pessoas se orien- tem melhor no tempo? Em primeiro lugar, a historia, disciplina cientifica, baseia “se na nogao de historicidade e a oferece como elemento do pensamento cotidiano, ou seja, todas as coisas resultam de ‘um processo histérico e continuam na histéria, Isso significa que 0 que ¢ historico nao é absoluto, deriva de uma serie de fatores. foi diferente no passado e pode mudar novamente Isso coloca em perspectiva a a¢io dos sujeitos individuais e coletivos como possibilidade, sem a que nao é possivel pen sar uma cidadania ativa Orlentar-se no tempo € similar a orientar-se no espaco, a0 ‘menos nas estruturas. O primeiro passo é “a ponto onde es- tou”: no tempo, esse ponto se compae da definigao da propria identidade, ou da identidade geupal (em culturas refratarias 420 individualismo). As minhas coordenadas so a percep¢a0 € a definicao do meu presente, cruzadas com as minhas origens Pessoais, minha familia e minha comunidade. Mas um ponto no basta; & preciso uma reta que, como se sabe, & constitui- da de um alinhamento de infinitos pontes, embora possa ser definida por apenas dots deles. Passado e presente assumidos Por alguem dio 0s dois pontos minimos para que identi Quemos uma reta. Mas ma reta, embora jé estabelega uma direcao, nao tem ainda um sentido; esse sentido nao é apenas do passado para o presente (afinal, muitas vezes 0 passado se faz presente}, mas 0 plano individual e coletivo, pelo qual ‘nos projetamos para além da nossa condigao de hoje. O saber Ensino de historia econsciéncia histica “ sobre o tempo permite a navegagio segundo um “mapa” de Significados que a reflexao sobre o tempo ajudou a dar aos ‘elementos que fazem parte do nosso “entorno cronolégica”’ Esses mapas do tempo sio oferecidos desde diferentes pers- pectivas, © descrevem de modos distintos ¢ sobrepostos 0 ‘mesmo “territério”, Assim sio oferecidas diferentes orienta ges temporais A historia oferece também a ideia de que todos os pontos de vista sobre um determinado assunto sio, afinal, relativos -a determinadas origens, sujeitos, tempos, Em outras palavras, todas as afirmagdes tém um autor (individual ou coletivo) ¢ portent se+ compreendidas com maior clareza estudando esse autor, seu lugar na sociedade e na histiria, seus projetos {nteresses, sua formagao ¢ seu universo cultural no tempo em. que existiu, A histéria permite, afinal, compreender que to- «das as coisas estdo sempre vinculadas a contextos, e s6 30 compreendidas se 05 contextos em que surgem e se desen- -volvem sio esmiugades. Por isso sio relativas, por relacio- “narem-se a contextos, condigies, pessoas, posicionamentos. De posse dos rudimentos do método histérico, a leitura de mundo que 0 sujeito faz & muito mais clara e auténoma. Por ‘essa razio hd quem diga que, no ensino de histéria, o mais importante nio ¢ estudar os contetidos em si, mas 0 método, a forma de pensar, produzir e criticar o saber sobre os seres ‘humanos no tempo. Além de tudo isso, o historiador s6 pode construir 0s co- nhecimentos partir de suas pesquisas considerando todos 5 conhecimentos anteriores atinentes ao seu tema, Assim, ‘tem que ser capaz de emitir um juizo critico sobre as perspec tivas explicativas da historia que 0 antecederam e embasa- ram, Talvez essa seja uma das contribuigdes mais importantes « Fev deBolz0 do “pensar historicamente” para a construgao da cidadanta: a capacidade de entender e posicionar-se diante de visoes de mundo, de explicagdes gerais ou fragmentirias sobre a socie. lade, que utiizam conhecimentos sobre o tempo. F isso, por ‘ua vez, $6 se di quando nos informamos sobre 0 assuntorem foco, quando conhecemos minimamente 0 que ja se disse c esereveu sobre ele. Nao € 0 caso, entretanto, de imaginar que o “pensar histo- icamente” signifique conduzir o alumojcidadao a assimilar uma das muitas doutrinas sociais ou cientificas como 2 ver ade a partir da qual todas as vuteas visdes sejam medidas, Por tratar-se de método cientifieo, o método histérica supa ‘como tinica verdade, que o melhor argumento deve preva. lecer no processo de discussio de ideias. Portanto, o conhe. cimento € provisério, © nossas “verdades” 36 merecem esse titulo quando continuamente submetidas a teste ¢ possibill_ dade de refutagio, Do contrétio, construiriamos dogma, que €0 oposto do saber cientifico. Na obra Pedagogia da autonomia, Paulo Freire defende que «4 “conscientizagdo”, conceito que utilizou nos anos 1960 em ‘outro contexto cientifico e ideolégico, néo perdeua sua vali. dade. Desde que a conscientizasao seja pensada como 0 opos- to da doutrinaszo e processo pelo qual o sujeito compoc a sua autonomia, ¢ dentro ainda do principio de que “ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho..” (0 que vale também para “‘conscientizar”) 0 conceito & compativel com o sue vinnus trabathando nesse topico. Nao se trata de imaginsr gue “conscigncia” seja algo que se tem ou nao se tem, ou que se tem do jeito certo ou errade, ou que possa ser doado de lum sujelto para outro, pois isso significaria a imposigdo cul. tural de uns sobre outros. A conseiéncia do mundo, dentro da Ensino de historia econtiéncahistvice © Derspectiva aqui tecida,€ inerente ao ser humano, ¢ pode ser ‘ais ou menos aprofiundada, mais ou menos adequada 20 seu Contexto, mais ou menos envolvida por mitos e preconceitos, mas o educador nio é aquele que traz a luz sobre os ignoran. tes cegos. Pelo contrario, dentro do principio freitiano, ele ¢ uma espécie de partciro que ajuda no processo de conscien. tzagio, ndo the cabendo em nenhum momento impor a sua Prépria visio de mundo. Nisso, tanto Freire quanto Riisen alinham-se a perspectiva de razio dialégica ou comunicativa do filésofe tirgen Habermas. A fdeia de pedagogla do oprimido (Freire, 1987) & muito Significativa: nao se trata de pedagogia para o oprimido, mas luma Pedagogia que o tem como sujeito, Os temas da cone, lentizagao © do medo da liberdade introduzem o tema do dislogo, que é 0 verdadeiro fio condutor nesse momento, Para descrevé-lo, Fete aponta 0 seu extremo oposto, que nega Politicamente o dislogo: o sectarismo. Este ¢ esteril: porque fechado numa postura de “dono da verdade", incapae de se relacionar de modo produtivo e colaborativo com quem no Partilha dos mesmos pontos de vista (embora multas veces Partilhe dos objetivos e principios). H4 um ponto de encom. ‘to visivel entre uma pedagogia que se nega a ser resumida 4 mera transmissora de conhecimento — porque entende que © conhecimento nao se transmite por vasos comunicantes do chelo ao vazio ~ e uma perspectiva de diditica da historia gue rejeita que seu problema seja como ensinar (ou transini. ir] melhor ¢ se preovupa em compreender como pessoas que Jf sabem uma ou varias relagdes com o tempo integram esse Conhecimento como uma outra forma ainda de pensar essa relagao, que a historia ensinada na escola, refercnclada na historia dos historiadores. « FOV deols0 ‘A concepgio de historia que se coloca em foco agora clui tanto as vertentes que consideram que a historia nao é ‘uma ciéncia (por compreenderem “‘ciéneia” em sua formata- 0 moderna, absoluta e arrogante diante de outras formas de conhecimento, ou por compreenderem que a produgio de verdades absolutas é impossivel, ao menos em ciéncias hu- ‘manas} quanto as que mantém a perspectiva de que a histé- ria, como conhecimento racional ~ baseado em e gerador de ‘enunciados razoaveis —, é ciéncia, mas, como ciéncia, nio é lum saber fazer isolado de outras formas de conhecer existen- tes na sociedade Pela contritio, é 0 que esti fora da eiéncia da historia que a motiva e move, ¢ 0 que a motiva e move também ¢ influenciado pelos resultados divulgados do traba- Iho da histria, [Essa perspectiva tem base em diversos pensadores, mas um dos mais destacados é Jurgen Habermas e a teoria da ago co- ‘municativa, que traz em si 0 conceito de razio comunicativa ‘Aqui a racionalidade & produzida processualmente, envol- vendo falantes e ouvintes que busquem entender-se sobre 0 ‘mundo objetivo, social e subjetivo: uma posigao nao subjuge 4 outra, sé vindo a substitul-la se logra convencer, negocia- damente, a outta posicio. As proposigdes racionais deixam de ser aquelas que correspondam a uma pretensa ¢ iluséria verdade objetiva, e passam a ser aquelas que sejam capazes de atender aos requisitos racionais da argumentagio e da contra- -argumentagdo. da prova e da cantraprova, na busca dos dia Jogantes por entendimento miituo. f interessante notar como argumentagio de Habermas converge com a de Paulo Freire, ‘de modo que podemos dizer que ambas participam da constr. gio de um paradigma emergente na teoria do conhecimento, Da mesma forma que Riisen, Habermas e Freire nao desistem Ensino de histéiaeconsiénca Nstricn ° dda razio nem se aferram a uma razao objetivista e cartesiana, que 86 sobrevive se nao for discutida e questionada em seus fundamentos. Procuram alargar a dimensio da razio ¢ suas fontes, e com isso nio estabelecem um universo proprio no ‘campo das ciéncias, mas ajudam a responder, no campo das ci Encias humanas, aos desafios epistemolégicos cruciais postos pela teoria da relatividade e pela mecanica quantica Neste quadro, 0 ensino de historia nao tem como ser enun- clagao, mas didlogo, Nao cabe a ideia de que a historia ciéncia -produz. ¢ a historia ensinada reproduz, divulga ou didatiza ara. o imusidy dos nao Iniclados. km seu nascedoure, o conhe. cimento histdrico cientifico encontra-se encharcado das ra ‘es da Vida pritica, visto que os sujeitos desse conhecimen- to sio seres humanos envolvidos com o cotidiano: a relagio de aprendizagem historica precede e projeta-se apés o ato da produgdo do conhecimento. O aprendizado, por sua vez, é um ato de colocar saberes novos em relago com saberes anterio- res, j que viver implica alguma forma de aprendizado sobre alguma forma de histéria (no sentido de tempo significado); nesse sentido, é um ato de criagao de conhecimento, também, ‘Oensino escolar de historia, portanto, no é dar algo a quem ‘no tem, nao é dar saber ao ignorante, mas é gerenciar o fend- ‘meno pelo qual saberes histéricos si0 colocados em relagio, ampliados, escolhidos, modificados. Nada pode ser mais pre- Judicial para isso do que uma tébua inflexivel de contetidos sclecionados previainente e fora da relagao educativa Em suma, defendeu-se aqui que o ensino de historia, além de tum problema pritico e tedrico posto a educagao, & também um problema pratico e tedrico posto a prépria historia. Em outras, palavras, os problemas que identificamos hoje na educagio, e cespecificamente na parcela da disciplina historla e suas corre Fav de Bolo latas, bem como em atividades curriculares e extracurriculares {que envolvem conhecimento histdrico, nao serio devidamente cequacionados nem minimamente enfrentados enquanto os his- toriadores ~ nao s6 0s institucional e academicamente envol- vvidos com 0 ensino ~ nao se responsabilizarem. E nao se trata de “meter 0 bedelho” na area e pontificar, olhando “de cima”, sobre o que deveria ser feito, mas estudar, saber o que ja foi dito, pensado ¢ escrito, argumentar e contra-argumentar com ‘0 que jé virou consenso (que, nessa visio, é sempre provis6rio) com as perspectivas controversas; enfim, participar. Considerando tudo isso, 0 processo educative que promo- ve a conscientizagio no tem um ponto de chegada (e muitas vvezes nem mesmo um caminho) preestabelecido. Por isso ndo é surpreendente que, uma vez. desencadeado o processo pelo {qual os educandos passam a ler interpretar 0 mundo a par- tir do desenvolvimento da propria consciéncia, muitas opini- des divirjam das préprias opinides da professora ou professor. Educar & um processo de dislogo, e 0 professor revolucionario pode acabar diante de alunos socialmente desfavorecidos que, conscientemente, rejeitam a revolugio, pois avaliam criteriosa- zmente que 05 processos revolucionérios historicamente geram mais sacrificios e perdas para os mais pobres. Embora eventu- almente concordem com uum projeto utdpico de sociedade, nao festio dispostos a concardar com 0 caminho que o educador “presenta, pois a eles cabe a parte maior e mais pesada da con- ta. Se esse educadar nao estiver conscientizado sobre 0 que 0 pprocesso de conscientizacio significa, poderd achar que scus alunos nao estdo conscientizados, porque @ conclusto de um ‘aspecto da educagao— um posicionamento politico estratégico, esse caso ~ no corresponde ao que ele projetou. Diferente- mente disso, se 0 educador estiver consciente de que a educa- Ensino de historia e consciéncia historica a ‘gio (freitianamente concebida) ¢ principalmente dislogo, teri diante de si um rico material para rever suas proprias concey ‘¢8es ¢, assim, também aprender. Portanto, a conscientizagao, como a educag2o, também nao é um ato unilateral, mas um proceso em que todos esto envolvidos, ¢ o professor também se abre para ser conscientizado sempre, adotando uma postura de pesquisador diante da atividade educativa: "Em lugar de “estranha', a conscientizagao é ‘natural’ ao ser que, inacabado, se sabe inacabado"” (Freite, 1996:60). Qual seria a contribuigio da historia para a conscientizagéo dos sujgitos, segundo a perspectiva de conscientizagao defini- da acima por Freire? Partimos mais uma ver do principio da auséncia: o que significaria a inadequacao da consciéncia his t6rica, a ser trabalhada por uma agdo criteriosa da escola e dos ‘profissionais da historia envolvidos com os meios de divulga- ‘¢20 do conhecimento historico? Essa inadequacdo significaria, sobretudo, uma incapacidade do sujeito de agir a favor de seus proprios interesses. O problema é que esses interesses nao si0 dados objetives, Mas nio € s6 isso: trata-se da incapacidade de ler 0 rumo tendencial do tempo a partir dos indicios do passado ¢ do presente, ¢ ficar, assim, impedido de lidar com cestratégias de ago mais adequadas a seus proprios interesses ‘No se pode definir de antemio, através de algum método neutro, quais sio os interesses de outrem. “Felicidade”, por sua vez, € um critério bastante subjetivo para definir se uma determinada visio do mundo, da identidade, do tempo é pro- dutora de agao que, por sua ver, gere ou contribua para gerar ages cada ver mais favoravels para o sujeito. Mais um paso © nos esborrachamos no abismo do relativismo total, antes de o leitor concluir o que toda essa discussio tem a ver com o ensino escolar e extraescolar da histéria, ae FGV de Bolso Entio, o que pode ser considerado contrério aos interesses do proprio sujeito? Podemos comevar lembrando novamente ‘4 cara regra dos historiadores, que é a historicidade: os in. teresses so historicos, datados, ¢, além disso, definides so- ialmente. Essa talvez seja a nossa primeira ancora: 0 estigio de “civilizag2o” que estabelecemos (embora nao consigamos praticé-lo, como humanidade, por uma série de obsticulos). Isso significa, por exemplo, que o bem-estar (para nao usar © termo “felicidade”) de todos esti acima do bem-estar in- dividual. Em nosso ordenamento juridico e ético contempo- ranco, o interesse publico ¢ anterior ao interesse individual, independentemente da vrigem social ou dos privilégios do individuo. Por isso a sociedade no consente na continuacao do prazer que o psicopata sente quando pratica seus assus- sinatos, pois esse “bem-estar” individual significa a destrui- so do bem-estar coletivo, seja para as vitimas concretas, seja para as préximas vitimas potenciais, gerando, portanto, inseguranga em toda a populacdo envolvida. Ou, para usar um exemplo mais prosaico, o direito de alguém a liberdade individual de ingerir bebida alcodlica e depois dirigir nao se sobrepde ao interesse coletivo de evitar acidentes, ferimen- tos, custos de hospitais € honorérios médicos, custos judi- ciais, perda de produtividade no trabalho e, principalmente, de vidas Esse exemplo extremo aponta para a construgdo coletiva das nossas interdicdes socialmente constriidas, que envol vem diversas situagdes graves, mas menos terminais: viol cia contra a mulher, exploragao de criangas ¢ adolescents, corrupsio, racismo. Agdes que continuam sendo praticadas como se nds, a humanidade, fossemos jogados continuamen- te entre luz e trevas, Se nio podemos dizer arrogantemente Ensino de historia econsciéncia historica » que estamos muito melhor que outras civilizagdes ou outras, Epocas, sabemos coletivamente para onde gostariamos de ir Os fundamentos da arena onde se digladiam as diferentes Propostas sobre o destino da comunidade estdo assentados em cédigos legais, como a Declaragio dos Direitos Humanos € a Constituigao Federal. Sem esquecer que esta ultima nao, € 0 cspelho fiel ¢ exato da vontade popular, mas ¢ filtrads elas diferengas de poder que caracterizaram a Assembleia Constituinte e os sucessivos congressos nacionais que a mo- dificaram, essa é uma ancora importante para comecar a de- finir 0 que seriau us interesses a partir dos quais seria viavel definir a conscientizacao histérica possivel para os sujitos, conforme sua identidade e especificidade. Pelo menos temos um principio ~ histérico, datado ~ de que os interesses ins viduais no podem produzic © prejuizo (morte, fome, misé- ria, ferimentos, doenga fisica ou psicoligica, ignorancia, ex- Ploragio) dos interesses dos demais. E, repitamos, tudo isso continua a acontecer, o que 36 torna mais valida ainda a pers- ectiva de Freire, de que estamos fadados a mudar o mundo... continuamente, talvez Teremos que nos equilibrar, portanto, com a provisorieda- de do que cada pessoa, cada grupo e cada tempo conside- ram "felicidade”; com 0 que a humanidade e as sociedades Particulates consideram correto através de suas leis maiores, Um exemplo ¢ que seria obsticuln para a consciéncia histo. rica almejada qualquer perspectiva do tempo que nos fizesse aceitar que grandes parcelas da humanidade devem perecer ara que os “melhores” sobrevivam — sobretudo se essa pers~ Pectiva apontar isso como necessério, inevitavel. Estamos nos Teferindo, obviamente, ao nazismo, mas no podemos deixar de olhar para determinadas formulagdes do proprio neolibe- ” Fav deoiso ralismo que insistem para que ndo se invistam recursos em pessoas que nio poderao ter uma vida produtiva ou que no conseguitio se constituir como consumidores tteis. Desse ‘modo, 0 programa neoliberal dangou na beira do abismo 20 flertar com a ideia de duas humanidades: uma envolvida no mercado global ¢ a outra nao, ¢ por isso descartivel ou aban- donavel a propria sorte. Outra forma de olhar esse problema é 0 dado de que nés, assim como nossos interlocutores, nao temos uma visio clara f definitiva do que seriam nossos préprios interesses. 1ss0, nao invalida que os interesses dos trabalhadores sejam obvia- mente dstintos dos interesses dos patrdes (ou que 0 interesse dos sem-terra seja diferente do interesse dos latifundisrios embora essa distingio nao impeca que se fagam acordos ba- seados em interesses pontuais comuns no curto prazo. Isso implica que nossa visio do que € 0 "verdadeiro” interesse de uum grupo ~ gangues de adolescentes, sem-terra acampados, operariado, professores ~ nao ¢ imiitl diante da opiniéo dos sujeltes sobre si mesmos, 20 mesmo tempo que ndo é uma vi- sio ciemtifica de quem, conhecendo 0 “werdadeito” rumo da historia, fosse transmit-lo aos “ignorantes” de seu proprio destino histérico. Essa seria, por exemplo, a perspectiva de uma vanguarda revolucionaria de viés leninista, cujo para- diigma estamos recusando assumir a0 admitir Paulo Freire ¢ Jurgen Habermas como referenciais consonantes, alii, com Rusen e Heller. "Nosso entendimento do interesse do outro tem a importan- te fungio de contraponto e combustivel da dialogicidade ne- cessiria, estabelecendo outro panto de vista com o qual fica possivel comecar o didlogo. & um despirse de preconceitos constantes, sobretudo preconceito de que a ciéncia da histé- ~ outras representacbes, Ensino de hstria e consciénca histica s ria pode oferecer 0 rumo correto da histéria ¢ o lugar certo do interesse dos povos. Fla nao suprime nem se impde ao “senso comum”, mas dialoga com ele, vem dele, volta para ele; as sessora a reflexio, a diivida, € a busca por meio do didlogo. Para isso nao basta despir os preconceitos, mas estar disposto 2 interagir, o que, em tiltima instincia, significa que caloco minhas convicgdes em jogo, “ameacadas” por novas formas de ver os temas que clas enfrentam. Pensando na perspectiva do professor de histéria, é evidente que “passar contetido” ou transmitir conhecimento é muito mais seguro e reconfortante. Nazismo ¢ holocausto judeu siv tetas dos sais cleos para contintarmos desenvolvendo essa discussio, Sobretudo 0 ho- ocausto, que coloca em xeque as discussdesentre a historiogra- fia moderna ¢ a pés-modernidade, o que pe questies centrais para 0 ensino de historia, sobretudo as consequéncias morais do relativismo na abordagem das representagdes sociais. Nio € demais lembrar que o holocausto s6 tem esse peso diante de stantos outros holocaustos (a conquista da América, a didspora africana, o dominio do rei Leopoldo da Bélgica sobre o Congo), -Porque o holocausto juceu atingiu a classe média branca eu Topeia no proprio coragio da Europa. Isso nio 0 torna menos horroreso ou trgico, mas coloca as coisas em perspectiva, Para a posigdo pés-modernista ha uma crise das represen- tagdes na pos-modernidade. Como consequéncia, essa crise significa, no extremo, a impossibilidade do conhecimento his- xorlco, porque o historiador so teria condigbes de produzir 0 texto historiografico (por si sé uma representacao) a partir de enao do real. Dessa forma, um discurso historiografico seria t20 valido como qualquer outro, como a literatura fantastica ou 0 hordscopo diario. 0 discurso histéri- 0 seria um género literario, ou, em outros termas, o passado 6 FGV de Bolso nio teria nenhum grau de objetividade, sendo possivel apenas como representagio de representagbes. E, note-se, a desmate- Halizagao do passado converge com 0 “presente continuo” em {que se vive na atualidade. Que tipo de orientagdo temporal (6. portanto, de aso diditica) esse tipo de saber permitiria? Novamente recorremos a Rusen (1997:90} 0 que nos prope, entio, a concepgdo pés-moderna de histria no tocante a funcio orientadora do saber historico? Qual é sua slternativa de dar & vida uma orientacio paras midansae pars 2 transformagio, que pudesse ser aplicada na vida ctidiana e no agir privado? A respostaé: orientagao por melo da imagl- nagdo. Como se nega uma entidade real chamada “historia”, essa imaginagdo histriea &consttuida por elementos da saa, Assim, em principio, ela no pode orientar o agi prtico, pols ‘um apr orientado segundo fegbescondur&eatistrfe comple- 1a, De acordo, porém, com meus cinco principios da canheci smento hstrico, deve exstir uma forma de orlentagio. E, com efeito, a pis modernidade oferece uma Fangio de orientagio na historia, Embora de atureza muito especifia:trata-se de uma espécie de orientacao da vida humana que pode ser comparada com sonhos. A psicanilise nos ensinow que necessitamos de sonhos para poder dar conta da realidade. Bessa me parece ser 2 Fungo da historiogratiae da teoria da histriaps-modernas, De certo modo, trata-se aqui de uma compensas3o dos resulta- dos negativs da agdo contemporinea;trata-se de um consolo cstética produzido pela memriahistrica diante da crise do progreso eda ameaca pea ctdsteoe |. 3o msm de Rien nlc ea came gui ra vad gui sce rede Kt rm hdr deen meee ‘low blot em sss paragon cae inane -comsciéncia histérica 7 Falcon (2000) aponta, entretanto, que 0 posicionamen- to historiogratico derivado da “virada linguistica” titubeia quando o problema é 0 holocausto e a disputa revisionista sobre sua existéncia ow nao. Nossa hipdtese é que isso acon- tece pela ampla dose de horror envolvida no tema, um dos twistesepis6dios em que os conflitos extrapolam os interesses| econdmicos ou politicos deseambam para a liberagao irra cionalista do sanatos em larga escala,episédios cujo sentido € nio fazer sentido algum. Em Agnes Heller a consciencia -da morte ¢ a primeira porta para a compreensio humana do “tempo ¢ da finitude, que, por sua vez, embala 0 surgimento ida conscigucia histories Iw porque « mute prova a sua ob- Jetividade por si mesma, qualquer que seja a representasio “que fazemos dela. Fla evidencia a limitagio da capacidade _ instituinte dos imagindrios, representagBes etc. Ela introduz, de modo irremediavel, a nogJo do perecimento, da contun- dente provisoriedade do ser humano. A morte de um mem- bro do grupo é uma experiéncia limitrofe, ¢ talvez este seja © primeizo nivelador das pessoas, sendo provavel que tenha contribuido para as priticas de meméria como primeiro uso de narrativas sobre o tempo destinadas a identificacao entre ‘0s membros da comunidade primitiva O holocausto ndo desaparecera se conseguirmos provar que cle é uma representagso pro-Isracl ou algo do genero; as evi- déncias até aqui nio 0 permitem. Hi muita morte envolvida para minimizaro acontecido, e n2o importa se estamos falan— {40 em 9X) mil ou 8 milhoes. U holocausto € o tipo de horror em que a morte, em niveis industrials, passa a compor um horror qualitative, em que a quantidade ji ndo & mais uma questdo. © mesmo vale para a acao homicida das ditaduras rho Cone Sul: nfo ha como discutir se a ditadura brasileira * FEV de Bolso fos branda ou “menos ditatorial por tr sido responsive Propercionlmente & populago tla da époc, por menos spcutors morte ou desmparecidos do que a do Uruguai da sugentin ou do Chile, por exemple volagio des dros humanos no ¢quanttaiva, mas qualilatva No que tange a questo educaciona, no pnsamento mo- derno' acho sobre s conscincia histrca 6 desenvolvida no tun de histria, de modo a orienta as pessoas no tem- pore cvitar conepgdes historias que j esta superadas Be alo prope, Kaus Beginann, (199), sem qualger scrtente moderna, desde os primrdio do casino dehistria To Império raster ou na ascent RepUblieaanyetion da Primera mlade do séelo XIX, por excmplo, até a eons victlares dos anos 1990 (enor alguns critics apomtem Talula pvmodermas importantes nos fundamentos de Sua proposes) ssa orlentayio je tem una face dominan- teigue Inc, por exemplo, 2 prevengio conta movimentos do tpo mais ea apologla dos dietos humanos. °A Concepedo pos moderna nog no apenas oconhecimento hisrnce, as 2 posbilidade de ensiar bistra no sentido de orentartemporalment as novas grades partir daguil gjucor entadunidenseschamaram, no século XVIL de “com- vi sna” Ora a imposible de ensiar historia porgue P Conhesimentohisterico nao passa de uma Tepresentsa0 taquivalenea Hteratura de Rega abr expago eagoraazemes serum em cc har oe pa ‘iam eer R————_——————EE_— ‘0 gancho com o holocausto) para um posicionamento em que oS yeleza € mais importante do que a vida”, tese central do nazismo exposta em Arquitetura da destruigao, documentario dirigido por Peter Cohen em 1992, ¢ comum ao pensamento ‘neoliberal, como vai se evidenciar em scus criticos, como Vi- Viane Eorrester, em 0 horror econdmico,> denunciando © pro- Jeto neoliberal que exclui amplas parcelas da populagdo mun- ial, relegando-as ao desemprego, & miséria, as epidemias, 3s rigracdes forgadas, aos campos de relugiados, & morte. Nao porque sejam declarados como “geneticamente inferiores”, zmas porque no interessam ao “mercad No pensamento ¢ na historingrafia pés-modernos estio es- tabelecidas condigdes para defender que 0 holocausto nde ~existiu, e que esse neoliberalismo ¢ aceitavel: afinal a histéria thao se diferenciaria fundamentalmente da ficqo ¢ nao pode dlispor de ancoras objetivas sobre as quais se fixem bases de lamn discussio racional (no sentido da vitoria do melhor argu mento) intersubjetiva. Como seria o programa pés-moderno Sobre o nazismo na escola? Uma representacio estética de um ‘delo, ou de um sonho de beleza ¢ pureza racistas? Uns Fizem que houve skoah, outros dizem que no, ¢ 0 altno ¢s- feolhe aquilo em que quer acreditar, conforme a histéria mais tbem-contada ou seja, esteticamente superior). Néo ha evi- dencias a orientar/sustentar argumentos ¢ raciocinios. Assim, ‘hao se orfenta o aluno para lugar algum, dentro do pretexto da relatividade e da despolitizacao da sala de aula de historia, contra a douttinayau etc. No limite, € uma posigao ingénua, inocente titi] ou mal-intencionada. Say ses opm tie a en tpnee sae Po tithe Como vimos anteriormente, para Klaus Bergmann uma das {arefas centrais da didatica da historia ¢ trabalhar pela rejei. sao de perspectivas histéricas ja superadas. Se para nos isso arece um pouco estranho (afinal, a superacao historica de qualquer coisa é muito mais complicada da que parece), nfo & nada dificil de entender quando lembramos que Bergmann, alemao, escreve para uma sociedade cuja cultura historica ¢ assombrada pelos ecos do nazismo e pela presenga do neona- zismo. Mas ~ pode o nosso aluno ou nosso colega pergun. {ar ~, nao poderd o neonazismo estar certo em alguma coisa, ‘no que se refere a visio de historia na qual se sustenta? A Fesposta dependerd do critério: se este for racional, baseado xno método historico (sustentado em evidéncias) e sustentade za moralidade contemporinea do valor supremo da vida, a resposta¢ no. Se 0 critério foro relativismo, a ideia de que a historia ¢ uma fies3o, em que as histdrias valem por serem bem-contadas (valor estético) ou por aplacarem terapeutica- mente as angiistias ou desejos de uns ou outros, por screm capazes de nos reconfortar com nosso passado ¢ com nosso futuro, entdo a resposta€ talvez, mas, assim, abrimos os por. ‘es para as monstruosidades derivadas do “sonho da rarao”, mencionado por Risen no artigo em portugués de 1989, ci, tando 0 titulo de um quadro de Goya. A conscientizacao histérica nao é definitiva, porque a “v. dade historica” também no o €. Mas é racional, verga-se 20 melhor argumento, 8 narrativa mais bem fundamentada, As. sim fica mais fécil vishumbrar que tipo de conscienticagao historica o profissional da historia ~ soja na escola, seja no ‘museu,, scja nos meios de comunicacdo de massa ou nos mo. vimentos sociais ~ pode desenvolver. A conscientizacio, vale 4 pena insistir, ndo é conceder consciéncia a quem nao a tem Ensino de historia econsciénciahistériea “ (isso no existe), mas atuar com nossa consciéncia, buscan- do influenciar ¢ transformar a consciéncia dos educandos, ‘num processo em que a nossa prépria consciéncia ~ geral « historica ~ nao sai da mesma forma que entrou. Como ensina Risen (1989:323} Formalmente o pensamento histérico & racional, quando reali zado dentro de um determinado tipo de linguagem e comu ‘eagio: quando ele se realiza mediante uma conceituacio, est fem sintonia com a realidade, possui uma regulamentagao me- todologica e se orienta em elementos consensus, “Rario” se refere aqul ao cardter argumentative do pensamento histirico, Indissocidvel da cientficidade, Do ponto de vista do contetido, um pensamento histirico & racional quando lembra processos ¢ fatos de humanizagi0 no ppassado, quando lembra a eliminasao da miséria, do softimen- to, da opressio e da exploracio e a libertasdo de coages na- {urais ou impostos por outros e a passagem para uma vida de autodeterminagio e de participagio, Do ponto de vista funcional ou pragmatico, o pensamento historico é racional quando nas suas referencias ao presente serve de orientasio para a vida e a formagao de identidade dos sujeitos, quando a lembranga histérica favorece a ago €3 formacao da identidade, -Olhando por esse ponto de vista podemos evitar o equi voco mais comum no ensino de histéria: 0 objetivo da dis- ‘tiplina nao ¢ ensinar coisas, dar conta de uma grande lista -de contetidos estabelecida por alguém em algum momento -no pasado, © objetivo maior é formar a capacidade de pensar historica- mente ¢, portanto, de usar as ferramentas de que a historia co ee dispoe na vida pritica, no cotidiano, desde as pequenas até as grandes ages individuais e coletivas, Noltando a Paulo Freire, & comparacao possivel entre apren dlizado histérico © aprendizado do dominio da leitura’e da Garis, ttata-se, mals do que aprender a produzir e repro. Guuzir e6digos, de ler aquilo que origina a escrita e a leitors, ou seja, o mundlo. £ outra forma de dizer que o aprendizade Cognitivo de ferramentas de comunicagio e interpretagdo +6 ¢ significative quando surge e se direciona para a vida cotidis, na dos aprendizes. Nesse quadro impde-se, as pessoas interessadas na educa- G0 histérica © politica das uovas geracocs, a seguinte per. Sunta: se o ensino de histéria pode influenciar decisivamente 2 formasio das identidades pessoais e coletivas, € possivel Pensar em termos de identidades razoaveis, para as quais Possamos direcionar nossos esforgos? Essa questao € posta por Jigen Habermas, entre outros, considerando que sofre. mos a producio ¢ reprodugio de identidades nio razodvels na atualidade. Para isso seria preciso definir 0 que conside. ramos razodvel ou racional, e se nos sustentamos na ideia de gue o racional é aquilo que deriva, sempre provisoriamente, da forca do melhor argumento em discussio. Entao, necesss, Tamente temos que considerar a ideia de que a formagao de ‘dentidades razodveis passa obrigatoriamente pelo trebstha Som 2 alteridade, a consideracao positiva e integracionista 0 “outro”, e coma primazia do didlogo nas relagSee pessosis © coletivas, Por fim, vejamos uma proposta de enfrentamento desse dic ema por parte de Garcia (1998:290): ‘Uma saida pata o dilema e uma aproximacao a identidades "ra- eaveis" poderia ser tentar romper o cireulovicioso da pre. Ensino de historia econsciéncia histérica a tensio excludente da identidade para situé-la em um contexto de confronto de identidades. Este contexto poderia abarcar as ‘maitiplas identidades que cada individuo integra em seus di- ferentes ambitos de vida, as mudangas de identidades através do tempo, o contexto regional ¢ internacional das identidades coletivas. Por outro lado, a pergunta ..| quanto a manipulagzo dos desejos © atitudes coletivos, que se expressam, por exem- plo, no imaginirio nacional, quer extrair estes sonhos ¢ ima- gens da "logica da comtraidentiticacao". Aconsciéncia histérica é historica...e maltiplal 4 conscigncia histérica nao € histérica somente porque se ~tefere aos processos de nossas vidas no tempo; ela mesma € tum fator desse processo e, portant, sofre a mesma condid0 -e todas as coisas historicas, que é ser afetada pelas marcas -do seu tempo. Fssas marcas nao afetam apenas aspectos aces- sorios do fendmeno, mas a sua propria definigdo e modos de funcionamento, o que faz virios pesquisadores considerarem, como vimos, que nao ha consciéncia historica sendo em nossa época, porque nao existe o conceito de historia (como o de- finimos hoje) em outro momento histérico que ndo a moder- nidade ocidental. Nascidos e criados no “Terceiro Mundo”, temos uma tendéncia a desconfiar desse tipo de construgao intelectual, Ao usar a expressio “conscigncia historica”, de- finimos quc “Iistoria” refere-se a todas as tormas de relaydo humana com atribuigdo de significado ao tempo, sem a preo. cupagao de restringir essa atribuicao aos processos racionais de melo modern oie, om o que os canals de dso #0 permanecem abertos e permitem, por exemplo, participar ds debates sobre a cs da rario moderna deco sie e

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