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Acta Sclertiarum np on vembcoets ISEN pote 106-9598 Dat a vosieteaeasevaa 6508 O parafuso da didatica da hist6ria: 0 objeto de pesquisa e 0 campo de investigagao de uma didatica da histéria ampliada Rafael Saddi Universe Fedora de Gos, Faculice oe Hit, Cx Poss 131, 4001-970, Campus, Goi, Gol, Brest Eat sacttet@yahea comb RESUMO. Durante a ilkima década, inicion-se uma mudanga paradigmstica na didstica da hi ‘isa contribmir para esta mudanca atea¥es da defini do obj a ds histria amplada. Para tanto, ele analy qual €a opmizo ppredominante a respeito da diditica da histria e quae sao 3 principals reformulacoes produzidas por essa :udanga paradigmitica. Por lkimo, apresenta, a partir da bibliogafiaalema, uma detinicio do objeto de pesquisa edo campo de investigacio da diditca da histria ampliada, Palavrat-chave: discs da hiss, consetnca istic, ensino de bist. ‘The screw of history didactics: the object of research and the investigation field of an amplified History Didactics ABSTRACT. During the last decide, 4 paradigmatic uansformation has begin in brasilian History Didactics. The present paper aims to contribute o this change by defining the object of research and the investigation field of an amplified History Didactics. For lyses what isthe standard opinion about History Didactics and what ate the mains reformulations provided by this paradigmatic wansformation, Finally ic presents, along. the lines of german literate, a detinition about the object of researlt and the investigation field ofthe amplified History Didactics Keywords: history didactic, historical counsciousness, istry teaching Introdugio (Cetzatern se ler O fogs ds Ann, fl nos Sobre © napolitano de Morell, um homem “[...] {qe passou aos sentado& porta desta cas, olhando tim parafiso no chao" sem nada dizer © mada fazer (CORTAZAR, 2009, p. +43). Nao nos assusta que sea atitude tera sido motivo de pind e gozago rte seu Vanes, porqer, fil, exiae mato algo de ridicule desprezivel em pasar os disc 05 tos olfando para tm paraiso mu eal, Assi _historiadores, costumam or hoje “historia, Watando-as como q inferiores € dem Mas talvezo ero desis historiadores sea o mestno dle toda a vizinlanga do napolitano. Como disse Conizar QOD. p. HB). “[.] 0 de accitar que esse objeto Fosse wi parafuso, Go somente por ter a forma dde-um paraiso.” Sim, Picasso pega umn automével de bringuedo ¢ © converte no queixo de um cinoeéialo. E bem possfvel que 0 napolitano forse um idiot, mas também pode ter sido © inventor de um mundo (ORTAZAR, 2009, p43) ‘Reta Scientiarum. Education Se a tarela diditica tem algo a dizer sobre 0 pensamento histérico, € preciso que amplic a sua perspectiva sobre si mesma, que mio seredwza a ollar€ a descrever parafsos, ¢ que invente um mundo. Desde a tltima décaca,inicion-se wm processo de ‘madanga paradigmatica da diditca da historia no Brasil (CERRI, 2010). Tal tansformacio na_ampliagio do _conceito_de_didatic . {ulead hist6ria. Nosso objetivo, neste artigo. € contribuir para Tale fesse _processo transformador, através da elaboragio de a didtica da “seria possvel, entetanfo. sem a apropriago da literatura diditico-histria ams cu enorme influéncia nese processo de mudanca paradigmitica no Brasil contrsta com o ainda ponco Conhecimento existente das obras prodigées dos seus principas mores ‘Queremos. portant, apresentar © modo como a fiditica da historia, atwalmente redwida 3 metodologia do ensino de historia nas escola. pode tormar-se uma disciplina da cignciahistrica que tem 2 responsibildade de estabelecer a “Génese’. a "Morfelogia ea “Fungo” da ‘Conscigncia Hist’ Maringa, v. 34, n.2, p. 211-220, July-Dec., 2012 22 182 sociedade, debmagando-se sobre todos os tipos de Istria. sejam elas produzidas no interior da institnigio escolar (ensino escolar da historia), nos ‘meios prblicos (nos discursos politicos. nas grandes -Tevistas, na televisio. nos museus, no cinema cfc.) ‘ou nas universidades (histéria dos historiadores om Citncia Historic). Pars tanto, precisamos nos _perguntar, primeiramente, 0 que ¢ atialmente compreendide de forma predominante por didatica da historia no Brasil. Em segundo hugar. de que forma essa visio tem sido alterada pelo vigente processo de mudanga de paradigma. E, por tltimo, centrar-nos-cmios em nossa questio central a respeito do objeto © do campo de investigacio da diditica da historia em uma percepcio ampliada. O que se entende predominantemente por didética dda historia no Brasil? Responder 4 questio que tomece titulo a esse ‘6pico mio é wma tarela fil. Afinal, a definigio de diditica da historia esta longe de ser consensual em hnosso Pats. E, quando no i wnidade, seria de bom srado apresentar as detinigoes conceitiais existentes ou, 0 menos, a5 mais recorrentes. Entretanto, tampouco _podemos encontrar. na literatura ‘specializada, grandes éstorgos direcionados para a conceituagio desse termo, Ficamos, assim, como o hhomem que se pengunta: ew poderia descjar a liberdade. se o conceita de liberdadie nao existisse? Provavelmente ele nio sabe que as palavras sio cadelas negras qie nos mordem pela noite bem antes que possamios aprisioné-las sob uma coleira ‘onceitualsistematicaniente claborada. E, dessa forma. néo_€ preciso que _haja_uma_definigio cconceitual. explicit sistemtica, para que. seja eevocado im conjunto de imagens do que é a didi da histéria quando esse termo sai das boeas. Falanios eum ‘ws0 do termo’, que se estabelece antes ‘mesmo de sia’sstematizagio em conceito’ Como afirmam Schmit (2006) ¢ Urban (2000), 3 formulagio da diditica da historia passa pela consttuigio de wm codigo discipkinar, isto é de uma tradigfo configurada historicamente que estabelece tum conjumto de ideias. valores e rotinas que define e delinciam a fimgio edscativa da historia, No Brasil a constituigao desse cédigo disciplinar {foi materalizada em um conjumto de diseiplinas que apareceram, 20 longo do tempo, L-] com vitias denominacées, como Diditica da Historia, Mevodologia do Ensino de Histria © Pritica ‘de Ensino de Histétia, nos cursos de Ticenciatura, destinados 3 formagio do professor de Historia (SCHMIDT, 2006, p. 711), Saddi Nessa constituigio da fimgio educativa da historia, a diditica da histeria apresenta pelo menos em seus contomios mais radicais, (quatro edugdes) ‘Em primeiro lugar, ela € restita a metodologia do 4. ensino de histéria, © muitas vezes, 2 técnica de ensino. apresentando, dessa forma, um carter fancional A diditica da Wistria diz _respeito, nessa petspectiva parte pritica do ensino de histra, isto 6 ela é drea que se preocupa com 0 modo como 08 protessores devem ensinar Histsria na sala de aula, Una anilise dis ementas das disciplinas de diitica dla historia feta por Urban (2009. p. 170). por exemplo, demonstra o predominio de “[..] wm cariter normative assentado em preocupagoes ‘€enico-metodolégieas". O “método de trabalho em. sal de aula’ toma-se, geralutente, a tareta principal dessa disciplia, e a aprendizagem de téenicas (como elaboragio de plano de aula, de plano de ensino. 2 utiizagio de recursos didéticos etc.) surge como sama de sus principasfimgées. Ent segundo lugar. a diditica da histéria reduz-se. 40 ensino ‘escolar da historia. Dessa maneirs, todo 0 Processo de constituicio de consciencia historica na Vida piiblca (pelo Estado, pelos meios de comunicagio, pelos museus, pela literatura etc.) € ignorado on considerado algo que nio diz respeito 4 diditica da historia. Mesmo quando ela se volta para 4% questoes externas 8 sala de aula (como a definigio dos parimetros eurriculares ¢ a prodtgio dos livros diditicos, por exemplo). o que a preocupa é 0 modo como tais questoes se relacionam com a prtica de cnsino da hist nas escoks. Em tercciro lugar, a diditica da historia aparece 3 como uma rea externa 3 ciéncia histriea que deve buscar em outra dreas os procecimentos © migiodos para detinir como ensinar Historia nas escobs, ‘Trata-se,constantemente, de wna diditiea specifica de wma diditica geral. que, por sua ver. pertence a pedagogia. A maior parte do contetido que se Dressupde como proprio da didatica da histéria, por exemplo, € ministrada nas disciplinas fornecidas pelas Faculdades de Educacio, que. por seu tao, n concentran em seus programas de pos. griduacio a maior parte das pesquisas desenvolvidas nessa dea. Mesmo a metodologia de ensino de historia € marcadamente pattada pelo que Sclunidt (2004) chamow de “pedagogizacio do ensino. d histéria’. havendo, como alirmon Urban (2008, P. 170). “[.] uma auséncia de diseussoes que tem a «pistemologia da histsria como referencia” Por wimo, o cariter dsciplinar ¢ cientitco da || diditica da histéria nao € caro. aparecendo, por vezes, sncramente como uma dca de formnagio. Centra et seu carter normativ, cla tem iculdade em ‘Acta Sclenianim, Eaucation Maringa,v. 34.0. 2, p. 217-220, duly Dee, 2012 DDidatica da historia consciénciahistérica fiundamentar-se como disciplina cientifca com procedimentos. conceitos proprios e wma rea de inwvestigacio detinida e peculiar. Em muitos cursos de historia, por exemplo, mio existe disciplina alguna volac para a refleso diditica da histéria, Neles. a5 Aquestoes diretamente winculada 20 ensino de histéria dose exchasivamente durante 0 estigio ou durante as disciplinas de Priicas de Ensino, momento em que € pela experigncia priica, sem uma profimda rellexio tecrica, que se resolve a questi da formagio de professores. Essa concepio presenta Consequéncias no priprio ensino da historia mas escols, Em sama pesquisa empirica sobre os planos de aula dos estagidrios de histéria da UEL (Universidade Estadual de Londrina). a professora Marlene Cainelli (2008, p. 137) pereebeu que. {1 ma atclago do process ensino-aprendzagem da ist 2 teotia © 2 epiemelogia do conhecimen Iistrco dessparecem, no eotendanento, pr pane dos cstagitios, de que o espago da sa de auha mio comporariaosbet Gente. Ki (2008. p. 137). Existe, assim, para Cai [1 um distanciamento enne a histéria cientiica © a Istria escola, pois, para a maior parte os nossos alunos, a histria cientifica é para a pesquisa eaquel ‘ser ensinada €2 do lero diditco, Entendlida dessa forma, como a parte pritica do nas escohs. dissociada da én Inistorica e sem um cariter sistematicamente definido, 4 diditica da_histéria reduz sua capacidade de rellexio cal jarefa assemelha-se a ocupacio do napolitano de {_ Mari sr opin rd te um pains ‘A ampliagio da didética da hist6ria ou a mudansa paradigmatic da didética da histria no Brasil Na iilima década, iniciow-se um processo de ampliagic do conceito de didaitiea da histéria no Brasil, processo que Cerri (2010) chamow de iudanga paradigmtica da diditica da historia, Essa transformagio apresenta a0 menos (quatro STE, compe é dina SOG 4. A primeira delas diz respeito 20 questionamento da redugio dessa disciplina 4 metodologia de ensino. Como afirma Cerri 2001. p. 110): Na proposicio de Bergmann, a metodologia do censino da histériatorna-se apenas uma das preocupagées da didicica da historia, a pesquisa Youth and History € wn exemplo dessa ampliagio do campo de atuagio, cujos resultados reforsam, inclusive, a necessidade de pensar © pesquisar 08 conhecimentos histricos em todo 0 tecido social, as inter-telagdes que promovem entre si ¢ 0 conhecimento eradito owo escolar 213 [esse sentido, a didstica da histéria vai alm da rmetodologia de ensino, mas também vai além historia escolar, o que nos leva 3 segunda ampliago. ‘que se sustenta no questionamento da redugio da diitica da historia 9 escola. Olimar Cardoso (2008, p. 158) alia que, na historograta alem, [A Geachidsidabtie sbrange mais do que a realidade scolar, cla estuda a ‘consciénciahistérica ma socedade’. Essa diditica mio & apenas mais uma Dial der.. (@idtica da..), mas um todo cua definicio numa tinica palavta ~ Gesihudidakrie ~ pose no ser casual, Para esse autor, “A Geschidusdidalsi esté para a Historia escolar assim como a Teoria da Historia — Hisiorik — esti para a “Histéria dos historiadores™ (CARDOSO. 2008, p. 158). Dessa forma, Le] a Geshidnsliteltit nto € uma rellexio apenas sobre a Histéria escolar, mas sobre todas as ‘laboragies da Histria sem forma cientifica’ = icht-wisenshafirmigen — Gesciasrerar-beinagen (CARDOSO, 2008, p. 158) ‘Também para Cerri (2001. p. 110) as questocs diditico-histéricas vio além do ambiente escolar. envolvendo, [1.0 meio em que o aluno ¢ 0 professor vivem, os conhecimentas © opiniées que cirewlam em suas familias, ma iggej2 ou outras instinigSes que ffeqientam € nos mcios de comunicacio de massa 08 quis tein acest. A superacio da reducio da didatica da histéria & metodologia de ensino ¢ 2 histéria escolar ocorre. portanto, através de uma ampliagio do objeto de investigacio da didstica da hist6ria, seja para a analise de todas as elaboragdes da historia sem forma cientifica, nas palavras de Cardoso (2008). seja para a investigagio da circulagio social do conhecimento hhistérico, uas palavras de Cerri (2010). Em terceito lugar, ocorre wm qui da separagio entre didética da historia _e_ciéncia histérica, No Aimbito di propria metosotogia de ensino, Schmide (2009) questiona a ‘pedagogizacio do ensino de Histéria’, reivindicando uma aprendizagem histérica situada na propria ciencia histérica. Como afirma: Na perspectiva da cognicio sitada na citncia de referencia, a forma pela qual o conhecimento deve set aprendido pelo aluno deve ter como buse a propria racionalidide histria, € os processos Cognitivos devem ser of mesmos da propria epistemologia da cigncia da Histéria (SCHMIDT, 2009, p. 210), Cardoso (2008, p, 158), retomando a concepsao predominante na literatura alema, afirma que ‘Acta Scientiarum. Education Maringa, v.24, n.2, p. 211-220, Juy-Dec, 2092 24 cA. dliditica pelo. Gesthicinsdidaktie pertence i Historia, € wma parte ‘Ocorre, dessa forma, processo de {questionantento do cariter disciplinar da ditica da historia, Ao voltar-se para a Teoria da historia’ c para 4 “pesquisa histérica’ para pensar suas proprias investigngoes. a diditica da hist6ria vai tomando-se tuna —‘Subslsciplina’ da Cigncia Historica Cnentsziplin der Geschicuswissenshat) (SADDI, 2010) Por siltino, © cariter disciplinar ¢ cientitico da diditica da histéria torna-se cada vez mais detinido. ‘Ro superar a mera tarefa normativa, cla comega a definir seus préprios conceitos © a mapear 0 set campo de investigagio. E sobre essa detinigio do fbjeto de pesquisa e do campo investigative da didatica da histéria que pretendemos nos debrucar aqy © objeto de investigacio € as tarefas da didética da histéria: morfologia, gnese e funcio da consciéncia istérica Se a diditica da historia mio se reduz a metodologia de ensino de histéria © 3 histéria escolar. qual € © seu objeto de investigacio? Na produgio diditica alemi, desde a década de 70, ganhion Torga a nocio de que o objeto de investigagio da didtica da historia € a consciéncia historica (Geschicsbewussein). Mas 0 que os alemies entendiam por tal ermo? ‘Segundo Pandel (1987). apesar do longo uso da Geschichsbewusstsein nas publicagoes politicas € diditicas na Alemanha, nio havia consenso entre os diditicos da histéria sobre a definicio desse terme. Na definigio normativa da consciéncia hist6rica, ela € compreendida como um tipo de consciéncia correta, aquela que os homens deveriamn ter. Todas as demais consciéncias empiricas eram julgadas a partir de sua proximidade ou distancia do conceito- modelo. Como diria Pandel (1987), se na consciéneia de uma pessoa mio se encontram os ‘miesmos elementos da consciéncia hist6rica ‘correta’ entio se imputa a cla uma auséncia ow falta de consciéncia histérica. Essa nocio normativa da consciéncia histérica mio permite a existéncia de diferentes tipos de consciéncia histérica, negando a pluralidade ¢ a alteridade ¢ tornando-se, assim, uma forma especitica de conscigncia histérica que quer impor-se as demais consciéncias —histéricas, existentes. Como afirmava Pandel (1987, p. 53). Le] uma teoria mo nomatisa da Conscicia istéica, que seja il tanto para tinalidades da Pesquisa empitica quanto para uma pragmtica ‘sada Aiditicorhistérica deve, por um lado, com ceneza, efinir quais formas de Conscéncia ela aborda como ‘Conscigncia Histérica; mas por outro lado, cla io pode proceder de forma nomativa, no sentido de aralir somente ceras formas da Conseiéncia Hisérica ‘como a Conacgncia Histrica‘comreta’ ¢ tepresentar todas 2s ous manifesagses encontsveis como ‘Consciéncias Histricasincstentes ofl {( Foram as concepsoes nao & _J conscigucia historica que se tormaram hegemdnicas ina definigio do objeto de investigagio da didtica da stra, Interessa-nos, igo, apresentar_a oncepgio.apresentaia por (Kati-Erist Je (1977) Centrar-nos-emos nesse autor, porque apesar de se tratar de um dos mais importantes artices da imudana paradigmitica da didatica da histérin na Alemanha, sua obra é completamente desconhecida ‘no Brasil. Jeismann foi um dos primeiros a definir © conceito de consciéncia histérica como 0 objeto de investigacio da didatica da historia. Sua detinigao influenciow as, j4 conhecidas.no Brasil, posigées de Jom Risen ¢ de Klans Bergmann e ¢ ainda hoje referenciada por diferentes autores _alemaes contemporinees. Para Jeismann (1977, p. 12), a consciéncia historia “€ “[..] © total das diferentes ideas ¢ atitudes diamte do passado", Trata-se. portanto. da suma dos modos como os homens se relacionam como que jf ocorren. E através desse conceito amplo que Jeismaun (1977) detine as dias primeira taretas da didatca da histéria, quais sejam: a de_estabelecer wma ‘Morfologia’ uma “Génese’ da _consciéncia listrica. Por “Morfologia’ da conscigncia his6rica, Jeismann (1977) propoc a tarcfa de identiticar ‘mpiricamente as diferentes formas. como os homens se relacionam com o passado na sociedade contemporinea, Como afirma: “Com o método cempitico analitico, a didética da historia investiga chamada ‘consciéncia hist6ria’ esti la deutro da sociedade” (EISMANN. 13). ntretanto, “[..] nko menos importante que a ‘morfologia éa“génese” das diferentes concepses de historia. Cons 1 produto natural”, Trata-se, portanto, de investigar 0 modo como essa conscitncia histéricas prevalecentes sio “fo-] propagadas pela tnadigio, modificadas pela experitucia histérica, aumentadas pela critica ow agitagio, corrigidas on mio peli pesquisa documental” (EISMANN. 1977. p. 13). ‘Mis a consciéncia histérica iho se _restringe, cntrctanto, 20 proprio. pastado, posto que toda afrmacio histérica significa wma connicagéo cura cia historica nio & ‘hela Seeniiarum. Education Warnga, v 84,6 2, p 211-220, uy Dec, 2072 Didatica da histéria e consciéncia histérica no presente. Entramos aqui na terceira tarcfa da dliditica da historia: a de estabelecer a Fungio da consciéncia histérica. Trata-se de perguntar “{..] que importincia estas consciéncias histéricas apresentam para a autocompreensao do presente” (JEISMANN, 1977, p. 13). Dessa forma, a diditica da histéria busca compreender [.-]como, na consciéncia histérica, a interpretacio do pasado iitsdenting) conectarse com a ‘ompreensio do presente _(Selbanersinduis_ der Gegenwart ¢ com a perspectiva de futuro (Perspeine ier Zukus) ((EISMANN, 1977, p. 14), Podemos exemplificar essa wnidade das tres dimensoes temporais através de ideia comumente utilizada sobre © passado humano, Em uma argumentagio sobre a possibilidade do estabelecimento de uma sociedade igual commum ouvir a seguinte atirmacio histérica: “Seinpre, desde © surgimento dos homens. houve desigualdade social. Tal alirmacio sobre o passado conecta-se com uma perspectiva de futuro: “Logo. sempre vai haver desigualdade’, E também se relaciona com uma autocompreensio do presente: “Por isto. de nada adianta Intar hoje, no presente, pelo fim das desigualdades socizis’ ‘Mas, além de analisar 0 modo como wna iterpretagio do passado produz uma orientagio no presente, isto & alm de examinar “[...] © campo de Dbatalha das diferentes interpretagoes da histéria” ¢ procurar “[..] pela importincia dekis nas controvérsias do presente”, a didatica da histéria, inversamente, “[..] pergunta pela fimgio das controvérsias do presente para as diferentes énfises da conscigncia histérica” (JEISMANN. 1977, p. 14). Nesse sentido, cla também investiga o modo como 0 interesses presentes influenciam wn determinado ponto de vista histérico, ‘Essa posigio inversa fica claramente compreendida quando utilizamos como exemplo os recentes investimentos na _transformacio da _consciéncia histérica piblica no Brasil. Em uma matéria da Revista ‘Veja publicada em 2007. intitulada Che i guarenta ance morta 0 homem ¢ nastia «first, 0s jomalistas Diogo Schelp ¢ Duda Teixeira, impulsionados pelo interesse de combater 0 projetos esquerdistas, questionavam as representagses dominantes a respeit de Che Guevara, para formnlar 2 nogio de que o guerrilheiro argentino no passow ee uma miquina fia de matar Como homem de carne ¢ 0880, com stat fraquezas, sua mantaca necessidade de ‘matar pessoas, soa renga inabalivel na violencia politica e a busca Incessante da morte gloriosa, foi um ser despreatvel (SCHELP; TEIXEIRA, 2007, p. 84) 25 ‘Trata-se, assim, de win int influenciando uma interpretagio histérica, A diditica da histori esse politico presente determinada forma de além de a “Genese’ uncac’ da ‘onscigncia bistéricaatwal,estabelecer-se como wna da cc tGrica. Falamos aq de uma tarela normativa da diaatiew da histéria, na al *[..] ela busca uma forma de construir ow influenciar estas conscitncias histéricas de algum modo". Ao mesmo tempo. cla “[..J pretende corresponder um adequado © avangado [.] conhecimento do passado com a anto-compreensio racional do presente” JEISMANN, 1977, p. 15). Ela nao pode permitir que os interesses do. presente produzam interpretacdes do passado esquemticas € «em desacordo com of avangos metédicos da ciéncia histérica, nem que um passado esquemitico sustente uma antocompreensio do presente simplista, sgerando acoes e atitudes dogmiticas. Se a conscigneia histérica, entendida como o total das ideiase atitudes dos omens com relacio 20 pasado. € 0 objeto de investigagio da diditica da histéria, que tem como tarelas estabelecer a ‘Morfologia’. a “Génese’ ¢ a “Fungio' da consciéncia histérica na sociedade e fimdar-se como wma “Pragmitica da Diditiea da Historia’, devemos nos perguntar. entdo, em que reas a diditica da hist6ria tua. Isto é qual € 0 campo de investigagio da diditica da histéria? 0 campo de investigacio da didatica da histéria Definir a ‘consciéncia histérica na. sociedade’ como © objeto de pesquisa da diditica da historia implica descartar_a redngio do campo. de investigagio dessa disciplina a0 ensino escolar da historia, Estaria entao cla centrada na investigagio das claboragées da histéria “sem forma ci ‘como afirma Cardoso (2008)? Para_n6s. a diditica _da__hist6ria, subdisciplina da Ciéncia Historica que investiga a consciéncia histérica _ predominante una sociedade, no se redu2 nem a0 Histéria nem as elaboragoes da historia ‘ientifiea. Ao se colocar na treta de estabelec da “Morfologia’, da "Genese’ © da ‘Frmcio’ da conscigncia hist6rica, e, em sua tarefa. normativa atuar como wna “Praga ela desenvolve sua i mn forma wstigagio em res aeas fimdamentais: a) 0 ensino escolar da histéria. em que atua como uina didética do ensino de histera b) 0 uso piblico da historia, em que se estabclece ‘como uma diditica da histéria priblica:¢ c) a ciéncia ‘Acia Sclentaram, Education Maringa, v.34, n. 2, p. 211-220, Jul-Dec. 2012 | Ahist6ria, em que age como uma diditiea da ciéncia historica ou uma instineia de aumto-reflexio dos historiadores. © ensino escolar da hist6ria: a diditica do ensino de historia Segundo Jeismann (apud FONTAINE, 1986, p. 94). 0 ensino escolar da hist6ria “[..] € um campo importante da diditica da hist6ria, porém, nto todo © seu dominio.”. Assim, © ensino de histéria fz parte das preocupagées da Geschichndidakerik. Porém, de forma alguma cla se reduz a ele. Como afirma: ‘A sempre nova reconstrugio da compreensio da histéria na sociedade, através das translormagies © :mudancas geracionas contentes da cultra social ex sentido amplo, é um processo. tio abrangente, multifacetado ¢ compleso, que o ensino de Histéxa, ‘embora importante, apenas pode ser considerado como somente un fator neste processo; 9 ensino de Histéria, ¢ sua Diditica, € mito mais determinado ppor este processo alstrador, que tem a ver com a Diditica da Historia, do que 0 influencia (EISMANN, 1977, p. 16). ‘A reducio da diditica da historia a0 ensino escolar da histéria €, para esse autor, extremamente reocupante, posto que afeta a percepgio ampla do modo como os homens se relacionam de forma viva com o pasado cm uma sociedade, causando, também, uma forma reduzida de entender e praticar © ensino escolar da histéria, Em suas préprias palavras: Limitar a Diditica da Histéria 2 histéria escolar signifiatia uma mio apreciacio da realidade ¢ do impacto total das percepgdes__histéricas predominantes na sociedade, e consequentemente cegaria a diditica do ensino de Histéria (EISMANN apud FONTAINE, 1986, p. 93). Os alunos ¢ professores também sio formados cia histrica produzida nos mcios sociais. € no somente na histéria_ produ escola (CERRI, 2001). Nesse sentido. “[ {iditica do ensino de histéra, que, pelo menos. nao tem conscigneia de uma tal abrangente didatica da historia, € muito cura € tateia no escuro™ (EISMANN. 197, p. 16) Mas dizer que a diditica da histéria mio deve restringir-se 20 eusino exolar da historia mio J significa, de modo algum, substituir © ensino de | historia pela diditica da histéria. Ao contrétio, 0 ensino de histériacorresponde a uma ire especitca das investigagoes propras da dditica da historia, Mas, segundo Bergmann (1980). mesio quando entra na anilise do ensino de histéria, a diditiea da historia mio deve ser compreendida como Sada ee ee eee cescolas, “[..] antes de encarar as questoes da praxis et eremanation anes eS ew Le didatica da historia lida com a teoria, a metodologia ¢ a pritica do ensino de historia, em uma tarefa tanto reflexiva, quanto empirica, como Reilesiva porque se dcbraga sobre as condigies © 0s / fimdamentos do ensino escolar de historias empirica porgite investiga © modo como tem se dado o ensino da histéria, bem como as ideiashist6ricas de alunos © professores ¢ a relacio dessasideias sobre © passado com a autocompreensio do presente © com a formnlagio de expectativas de futuro; normativa, porque, além de analisar como se tem dado o ensino de historia, apresenta continuamente refornulagoes sobre o modo como se deve ensinar histéria (Pragmitica). Nesse sentido, ¢ preciso. refleir sobre_os fimdamentes eas condigées de producio da consciéneia historica no ensino de histéria, bem como ampliar 0 desenvolvimento de trabalhos que investignem empiricamente a consciéncia hist6rica de alumos e professores: ¢ também, normativamente, encontrar caminhos ampliagio da conscién escolar da histéria. No Brasil, os trabulhos de investigagio desenvolvidos a partir da metodologia da Educagio Histérica, especialmente impulsionados pela professora Dra, Maria Ausliadora Schmidt na UFPR, tém avangado. profimdamente na andlise empitica da consciéncia historica de ahmos ¢ protessores. Ao Inesmo tempo, © projeto ‘Jovens diante da Hist6ria’, coondenado pelo. professor Luis Femando Cerri, inspirado na pesquisa curopeia Youth and His, tem desenvolvido a investigacio empirica da conseiéncia histérca de jovens de diferentes pa Ampliar essas investigaces empiricas nos parece fimdamental para o desenvolvimento tanto da tareli reflexiva quanto da tarefa normativa da diditica da hist6ria no ensino de hist6ria. Isso porque. por wn lado. compreender © modo como 0s sujcitos. em. situagio escolar pensam historicamente pode nos ajudar a claborar teoricamente as condigées © 0s fimdamentos do ensino de histéria. Por outro, tal compreensio das ideias histéricas de ahmos ¢ professores nos parece uma pré-condigio para 0 desenvolvimento de propostas normativas da diditica da histéria no ensino escolar da histéria, Ou, como afirma Jeismann (1977, p. 14). ‘Acta Scientiarum. Education Maringa, v 84, 0.2, p. 211-220, uy. Dee, 2072 Didatica da histéria e consciéncia histérica Somente em conesio com 2 ‘Morfologia’. com a exploracio da ‘Génese'e da ‘Funcio' da Conseiéncia Histérica pode uma ‘Pragmatics’ da Diditica da istia ser suficiencemente findamentada ¢ desenvolvida Neste sentido, no ambito do ensino escolar da histéria, € preciso compreender oi nde histria, para saber como se para alm do ensino escolar da Histéria, adi historia também lida com os. sos piiblicos da Iistéria fora da sala de ala ¢ fora também das narrativas académicas (sistemiticas) da cigncia da hist ‘0s uss piblicos da histrica (Adtica da histriapiblica) A rea que denominamos de “Usos Piiblicos da Histéria’ on “diditica da historia publica’ é aquela ‘que se dedica aos clementos extracientiticos_¢ cestracscolares da consciéncia historiea. Eh awa ta inwvestigagio da consciéncia historica produzida nos ecios de comicacio de massa (revistas. jorais, tclevisio, cinema. propagandas. sites). beni como nos discursos politicos (a partir das producées narrativas dos partidos politicos, dos diferentes Grgios do Estado) ¢ também nas insttnicoes culturais ¢ religiosas (tis como igrejas de diferentes tipos, institutes de culturas, museus ete) (EISMANN, 1977; RUSEN, 2006, 20072: BERGMANN. 1980. 1989). Como _afirmon ‘Bergmann (1989. p. 32). diditica da historia, [J mio apenas tematiza a Histéria regulada © Alisciplinada pela cigncia e pelo ensino mas também abarca a Histéria transmitida no processo de socilizagae, que mio € iltada por nenhuu isciplina cientifica, ‘Umma diditica dos meios piilicos de produgio do passidopergunta pelos temas hist6ricos mais tratados na vida piblica contemporinea. pelo modo como eles sio abordados pelos diferentes atores © vveiculos, pelos interesses que movimentam essas temiticas narratvas, pelas ideas interpretativas utlizadas para a produgio dessas atirmagées histérieas. pelo vinculo que elas apresentam com a experiencia, pela relagio dessas narrativas com 0 actimulo racional da produgio do conliecimento cientfico ¢ pelo modo como clas produrzem uma autocompreensio do presente. essa forma, € nec lado, investigar a consciéncia histérica dominante na vida =. Mas. por outro. deve-se evitar_pensi-la como homogtnes, E precio CarenIer como ela se produz em diferentes Ingares e espacos. em diferentes grupos sociais e comunidades. ¢ de que forma esses discursos hist6ricos se consolidam como “hata Scentarum, Education Z 27 hegeménicos ou sio negados € inviabilizados no processo de constituigio da consciéneia historica dominante. Como afirma Bergmann (1989, p. 32), a diditica da historia investiga, [a]. as formae © oF contetides da socializacion hhitérica e politica dos diversos grupos, camadas € classes socais ¢ 25 quulidades © os efeitos ds respectivas conscincias histéricas resultantes dessa socializaco. linguagens e atores produzem uma interpretacio do passado que orienta o presente © projeta fituros significa reconhecer que essas narrativas interferem dirctamente no ensino escolar da histéria, uma vez que alimos © professores aprendem historia io somente com referéncia a disciplina escolar ot académica da hist6ria Em segundo Inga. trata-se de compreender que a diditica da histéria visa interpretar © modo como, ‘uma sociedade lida de forma viva com o seu passadlo € produz arguments histéricos que sustentam as suas ages no presente. Podemos_dizer_que_as cstraturas sociais. bem como_as_agbes politicas individuais, esti constantemente ancoradas_ em argumentos_hist6ricos. Compreender os vinculos centre as relagoes sociais presentes as interpretagoes do pasado deve ser wil tanto para o desenvolvimento de uma compreensio mais profianda do presente como para propiciar wma ampliagio da percepsio do passado que libera os homens para a definigio de novas relagoes sociais, Mas, também, quanclo investiga 0 uso prblico da hist6ria, produzide no processo de socializacio, a diditica da histéria ajuda a_compreender 05 elementos sociais que impulsionam mesmo as caréncias de orientagio © os interesses dos hhistoriadores na produgio_metédica de suas hhistérias. Como afirma Bergmann (1989, p. 32). [.-] ma medida em que se investiga © significado © a importincia do mundo vivide fora das instiuigbes cientiticas e escolares, sta formacio e qualidade seus tfitos para a formacio da conseigncia histrica, a Didlvica da Histria di uma contribuicio fandamental para 0 conhecimento daquele ator subjetivo ‘ransmiido socilmente, que esti at€ um cemto gratt presenre nos procedimentos epstemoligicos de ‘ientitas esnadantes,envolvidos em reconstrair 3 3¢%0 ‘co sfiimento limmanos do pasado em viros ves. ‘Maringa, v.34, 2, p. 211-220, JulyDec, 2012 218 ‘A citnciahistvica:didtica da cgncia histica Mas a diditica da historia nio deve se restringir 20 estudo das elaboragses da histéria sem forma ciemttica: a historia escolar ¢ a histéria piiblica. Embora Oldimar Cardoso tenha, 20 fazer tal alirmacio, ampliado a percepgio da diditica da huistéria para além do ensino escolar da histéria, pensamios quue nossa dseiplina assume também sm papel importante na reflexio sobre a propria ciéncia histerica, Para Bergmann (1980, 1989). a diditica da historia se estabelece como wma instancia necessiria de auto-reflesio da ciéncia da historia. Isto é, toma a citncia historica como objeto de anilise, sendo a dlsciplina competente para fornecer aos historiadores a reflesio. sobre 0s _pressupostos Aiditicos presentes na sta propria pris Sem essa investigagio diditica, a ciéncia_da historia corte 6 risco de se isolar do muido social « se desenvolver como sma ciéncia esotérica. Como afirma Bergmann (1989, p. 34). ~ A Diditica da Histéra ¢indispensivel para a Ciéncia a Histéria exatamente por causa do fato de ela Indagar sobre e problematizar este significado (dos conhecimentos da Cigncia Histérica pars a sociedad ¢, destare, se opor 20 perigo de a Ciéncia Historica se isolar das necessidades lgitimas de wa rientagio histériea daquela sociedad, que em slkima andlise, a sustenta © que diferencia a ciéncia histériea de todas as contras formas de histéria € justamente 0 seu acréscimo de racionalidade, “[..] que no quadro de referencia te6rico esta sedimentado no método na cigncia histéria como produto da pesquisa” (BERGMANN, 1980. p. 38). Ou, na definigio de Risen (2001; 2007). a cigneia histérica metodiza sua relagio com as fontes (pertinéncia experiencial ow empirica), a sua relagio com as ideias (pertinéncia interpretativa) € a sua relagio com a narrativa (pertinéncia orientacional) A investigacio des elementos didaticos da ciéncia histérica sé € possivel. porque a propria ciéncia historica € constitnida em wma “[..J certa etapa do processo histérico real” (BERGMANN. 1989, p. 33) no afirma Riisen (2001), todo homemt sole de caréncia de orientagio no tempo. Essas caréncias podem ser supridas por diferentes tipos de narrativas sobre 0 passado. Entretanto, “[..] quando o pensamento anterior ¢ nao cientilico nio mais ¢ suficiente para orientar ¢ conduzir a acao humana de maneira racional e significativa”. entao a eigncia se cestabelece (BERGMANN. 1989, p. 33). Nesse sentido, a cigncia histérica surge da vida pritica ¢ se toma viva para © homem quando ela, cm sta Saddi potencialidade racionalizadora. consegue estabelecer sentido de orientacio para os homens. isto é, quando supre caréncias de orientagio que nao puderam ser suprimidas por outras formas mio sistemuiticas de historias (mio de orientacio). : Se a cigncia histérica surge da vida pritica dos homens, das caréncias de orientagio temporal. s¢ ela atende a demandas de orientacio do tempo presente, ‘uma das tarefas da diditica da historia é investigar /” quais sto esses interesses que _permeiam as{ investigacoes cientticas da histria. ) Esse elemento diditico bisico da eiéncia historiea € percebido claramente por todo historiador quando cle inicia um projeto de pesquisa e precisa se perguntar pela relevincia social do desenvolvimiento dessa investigacio (VIERHAUS, 1977). Ao mesmo tempo, ele sabe que sew interesse por investiga tal cow qual tema histérico nio é€ mera facie burocritca, mas esti permeado por angrstas de sua esperitneia de vida no presente, ott por demandas de gmapos sociais dos quis jé participou. ow por valores ‘idcolégicos que partthou ow ainda partilha. ‘As pesquisas sobre a histéria das mulheres, por cxemplo, s6 se tomaram intensas quando mudangas profimdas nas relagoes de género. quebraram os conceitos naturalizados sobre a suposta separacio dos sexos. necessitando uma reinterpretacio do passado, para uma compreensio do presente ¢ 0 estabelecimento de novas expectativas de futuro 0 “nteresses" que tornam_possiveis © recorte de tm tema, 0 inicio de uma pesquisa. so «elementos didaticos presentes na propria preparacio ‘para uina investigacio cientitca da Histéria. Como firma Bergmann (1989, p34). Antes do inicio de qualquer pesquisa empiric, a Diditica da Historias se coloca e se compreende como corpo de rerasdiditicos. Na medida em que fla contionta 0 pensamento que pesquisa com 0 problema da selvincia (NIPPERDEY, 1972, WY. MOMMSEN, 1975), 2 pesquisa se orienta por expoctativas, exighciae ¢- necesidades que ~ se permanccessem ‘wtlletidas — agiiam na mesma plas costae do pesghisador Por outro lado. a diditica da hiséri.nio lida \ somente com os “trees” dena investiyagio | cientifica que esto em_jogo_antes_mesmo_ da cexecugio da_pesquisa. Ela também investiga os ~ resultados ow fungoes da Historia ja quando a pesquisa foi exeeutada. A didética da historia desempenha, esse momento, uma ‘figao relletiva- seletva’ e interroga “[..] 08 resultados da pesquisa por scu significado, refletindo sobre o fato de estes resultados merecerem —ser__transmitidos” (BERGMANN, 1989, p. 34). ‘Acia Sceniiarum Eaveation Maringa, v 34,0. 2, p. 211-220, Ju Dec, 2012 Didatica da histériae consciénclahistoriea ‘Mas a diditica da hist6ria nao se reduz a analisar os “interesses’ eas fiangoes" da pesquisa hist6rica. Ao [el ea também analisa crticamente os procedimentos cognitivos ¢ a extegoriae da Ciéncia Histérica elborades ¢ discutidos ma Teoria da Histéri, querendo saber © sen valor formativo (BERGMANN, 1989, p34). (Assim. diditica da histéria a analisa buscando compreender | spressupostosdiditicos dessa pris. = \ A investigagio da diditica da histéria sobre a \ praxis historiogritica transforma assim a percepio \ do historiador. A ciéncia histérica precisa presar \ contas de seus vinculos comro suposta Feivindieagio de exisiénicia aurénoma, Ao ‘mesmo tempo. ea ganha conseiéncia da sia Tisergio na vida ¢ se torna mais resistente aos interesses antes jobscuros que muitas vezes ela acabava por sustentar. ica da historia jamais pode colocir em Tio a lberdade da. Gina listen, limitando as possibilidades de producio que eta jos S€EHIOS. Ao contrario. como historica. ela esclarece. toma processos antes mio percebidos. ampliando a capacidade de autocompreensio e auto- realizagio da Ciencia Hist6rica Consideragées finais “Do paratso a um olho. de um olhio a uma cstrela.. Porque entregar-se ao Grande Costume?” (CORTAZAR. 2009p. 443). Neste artigo. apresentamos uma definigio do objeto de pesquisa ¢ do campo de investigacio de uma ditiea da historia amplia ‘De uma area reduzida 4 parte pritica do ensino de historia, alheia 4 ciéncia histérica, ¢ com wm ‘ariter_cientifico e_investigativo duvidoso. apresentamos © modo como a diditiea da histera soar 10 Brasil, a cada dia, uma subdisc ical Seu campo de investigagio m0 se Yeduz a metodologia do ensino de hist6ria, nem as 29 claboracoes. da historia sem forma cientitica. Ao contririo, cla pesquisa tanto 0 ensino escolar da histéria quanto os seus isos piblicos ¢ as histérias produzidas pela cincia da historia. Esse processo de ampliagio da diditica da histria xno Brasil esti, entretanto, apenas se iniciando. Ainda inmito deve ser feito para que possamos entender que 0 rapolitane de Morelli nto era um simples iota © que 6 Grande Paatiso ¢ prefertel 20 Grande Costume. ves, perfeitamente incurdveis, escolhemos por ‘ura o Grande Paraiso. inclinando-nos sobre le entramos nee, vollamos a invent todos os dis (CORTAZAR, 2009. p. 4. Referéncias BERGMANN, K. Gescichsdidalik als soziawissenschaf Im: SUSSMUTH, HL (Ed). Geschichtsdidaktische positionen: bestandeaimbme 1. Neworientionang. Pandeborn, Munchen, Wien, Zirich: Schningh, 1980 pT. BERGMANN, K. A Histéria na reflexio diditica, Revista Brasileira de Hist6ria, v.9,n. 19, p. 29-42, 1989. CAINELLI, M. R. Os saberes docentes de fimuros pprofessores de histéris: a especiticdade do conceto de tempo. Curriculo sem Fronteiras, v. 8, n. 2, p. 34-147, 2008, CARDOSO, ©. Para uma definiglo de diditiea da histiria. 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