Qual é o estatuto de verdade do conhecimento mítico e do conhecimento filosófico¿ O
conhecimento filosófico é a ruptura com o conhecimento mitológico ou o conhecimento filosófico é a transformação gradual e continua do conhecimento mitológico¿ Responder a primeira pergunta implica em diferenciar o conhecimento mitológico do conhecimento filosófico. Responder a questão sobre qual é o estatuto do conhecimento filosófico e mítico não é assumir o posicionamento sobre a ruptura ou não ou a transformação ou não do conhecimento mítico no conhecimento filosófico. Este texto argumentativo não objetivo defender se há a ruptura do entre o conhecimento mítico e o conhecimento filosófico ou a transformação do conhecimento mítico no conhecimento filosófico. Logo, defende-se uma posição marginal referente aos dois pontos de vistas, isto é, tanto o conhecimento mítico quanto o conhecimento filosófico possuem estatutos de verdades distintos. A fim de solucionar o problema formulado, divide-se a argumentação deste ensaio em dois tópicos: o primeiro vai-se defender a hipótese que não há ruptura ou transformação entre o conhecimento mítico e filosófico; o segundo vai-se analisar o conteúdo, a finalidade e método do conhecimento mítico e do conhecimento filosófico;. Por fim, vai-se sustentar que a diferença entre o conhecimento mítico e o filosófico reside nos seus estatutos de verdade. Retomando o problema inicial, há uma ruptura entre o discurso filosófico e o discurso mítico, isto é, entre o mito e a razão. Ao defender uma posição positivista temos que aceitar que há uma ruptura entre a razão e o mito na articulação do discurso filosófico. O mito é considerado insuficiente para explicar o que é a realidade, pois há o progresso na história do conhecimento humano (conhecimento do humano) e o conhecimento mítico é o filosófico são apenas estágios ou momentos desse. O posicionamento contrário encontra-se em Leví- Strauss, Mito e os seus significados, na esfera estruturalista o conhecimento filosófico é uma transformação gradual e continua do conhecimento mítico. O primeiro ponto de vista pressupõe o progresso do conhecimento humano e o conhecimento mítico foi um estágio, como o conhecimento filosófico é outro estágio e o estagio final é o conhecimento cientifico. O problema é definir o que é o conhecimento cientifico, isto é, a meta final do conhecimento humano. O segundo ponto vista, supõe uma transformação gradual do conhecimento mitológico no conhecimento filosófico devido às mudanças sociais sofridas na Grécia do século VIII-VII a. C., a saber, as viagens marítimas, a invenção da moeda e avanço do comercio local e com povos estrangeiros. Defende-se a posição intermediária entre a ruptura ou a transformação entre o conhecimento mítico e filosófico por três motivos: primeiro motivo, ao aceitarmos o viés positivista nós temos que aceitar que o conhecimento humano progride e o seu fim é o conhecimento cientifico. O problema desse enunciado é: como podemos determinar o que é o conhecimento cientifico¿ Se tivemos como fundamento aquele que consegue fazer a isonomia entre o que pensamos e o que é real, isso é insuficiente para determinar o que é o conhecimento cientifico. Por que as regras que utilizamos para definir o conhecimento, regras analíticas, a separação do problema em partes, a enumeração das partes, percepção da relação entre partes e a revisão para a confirmação dos dados obtidos é muito semelhante ao conhecimento filosófico. Aceitar a tese da transformação gradual é continua da sociedade grega converteu o conhecimento mítico em conhecimento racional possibilita a seguinte interrogação: então, qualquer civilização que estivesse estrutura socialmente e culturalmente equivalente a sociedade grega poderia ter inventado a filosofia. Por exemplo, os egípcios e por que eles não criaram a filosofia, pois a geometria e astronomia egípcia eram mais avançadas do que a grega. A tese do respectivo texto argumentativo é que a diferença entre o conhecimento racional oriundo do invento da filosofia e o conhecimento mítico encontra-se nos estatutos de verdade deles. O mito procura narrar como as coisas eram ou tinham sido no passado, antes que tudo existisse, tal como existe no presente e vai continuar existindo no futuro. O método do conhecimento mítico é o genealógico. As obras de Hesíodo, A Teogonia ou Trabalhos e os dias, podem servi de exemplos do método genealógico. Por exemplo, as Musas narraram para o pastor a origem dos Deuses (Teogonia), e a cosmogonia, isto é, a origem do cosmo e da Physis. É importante ressaltar que o cosmo não foi criado do nado como na narrativa cristã, mas é organizado a partir de uma matéria invisível. A finalidade do conhecimento mitológico é nomear a realidade e instituir uma relação causal entre o que existiu no passado e que existe agora. O conteúdo do conhecimento mitológico é as Musas, Urano, Gaia e Zeus. O estatuto de verdade do conhecimento mítico esta na manifestação mítica da linguagem, isto é, na capacidade da narrativa mítica se efetivar na esfera publica da linguagem, não sendo a interpretação pessoa do narrador e nem do ouvinte, mas a nomeação daquilo que supostamente é o real por mediação do divino. Na narrativa mítica não importa se há contradição ou lacunas no discurso, o importante é o que ela nomeia e anuncia. O conhecimento filosófico é compreendido como uma atividade racional, pois ele nele é necessário a coerência lógica e a determinação de uma causa sensível para explicar o mundo sensível. Diferentemente da explicação mitológica, a finalidade do conhecimento filosófico, em linhas gerais, é procurar na própria Physis o elemento físico que possibilita a composição, a combinação, a organização e a separação dos elementos que a compõe. O conteúdo do conhecimento filosófico são a água, o fogo, a terra e o ar. Os primeiros filosóficos, entre os séculos VII e IV a. C., eram chamados de naturalistas ou pré-socráticos, eles procuravam um elemento que estava presente na Physis que fosse o elemento primordial que estivesse presente em todos os objetos físicos. Por exemplo, Tales de Mileto acreditava que a água era o elemento primordial da Physis, ou seja, responsável pela sua organização e combinação dos outros elementos. Voltando ao ponto do método do conhecimento racional ou filosófico, encontramos três princípios lógicos, apesar de eles serem estruturados formalmente apenas por Aristóteles, o princípio da não contradição, o princípio do terceiro excluído e o princípio de identidade, eles caracterizam a explicação filosófica. Portanto, a diferença entre o conhecimento filosófico e o conhecimento mítico está nos seus estatutos de verdade. No primeiro a verdade é determinada pela coerência lógica e pela demonstração dos seus resultados. Enquanto no segundo a verdade é determina pela função da linguagem em nomear e anunciar que não está fundada na interpretação subjetiva do narrador ou do ouvinte, mas na manifestação mítica da linguagem.