A FORMAGAO DA CIDADE Rodrigo Ferreira Andrade Beatriz de Almeida Magalhaes Na leitura destas notas sucintas sobre a formagio de Belo Horizonte, o leitor vera destacadas duas de suas caracteristicas, a nosso ver, aS mais marcantes: a preponderineia da iniciativa do Estado, para além da criagao da Capital, nas intervengOes urbanas importantes, boas ‘ou més; e a vertigem do novo com a negacio do passado, verificavel na desproporcio rnimero de modificagbes 0 tempo decorrido desde © momento inicial da cidade, a despeito de ter sido cla planejada, ‘© papel que 0 Estado desempenhou no crescimento de Belo Horizonte pode ser melhor percebido por contraposicio, Christian Norberg-Schulz, um grande estudioso do carter do significado do lugar construido pelo homem, comenta as relacdes entre publico € 0 priva do € como elas se resolvem espacial ¢ formalmente no crescimento da cidade americana, A forma indo a vertical, que na hist6ria do homem simbolizou o sagrado — a torre na paisagem signi presenca de forcas transcendentes a vida cotidiana —, torna-se a expresso de direitos € oportu- nidades individuais iguais para todos na cidade americana atual, de origem essencialmente demo critica. A cidade que o Estado prové nio & uma estrutura hicrarquizada em torno de bairros dominantes, mas uma grelha neutra, uma rede horizontal aberta, de infraestrutura focada na possibilidade de criacdo de nés de atividades pela iniciativa privada. A paisagem urbana america ra vai sendo, entio, constituida pela aposicio de estruturas particulares de nitidas intencoes I, se dé submetido a expressivas: 0 crescimento vertical, como exercicio de liberdade indivicl aretha, que ordena o interesse comum, € em didlogo respeitoso com o entomno, que persiste até ‘mesmo em perspectiva aérea, gracas 20s tratamentos iconogrificos diferenciacdos dos coroamentos, Vigora a nogio bisunivoca de pertinéncia entre individuo ¢ coisa publica a Oy MNOS savon vdDADE 5 # © oposto se di entre n6s, em circulo vicioso. Com a iniciativa privada indisposta a correr riscos, o Estado prové, além da infra-esteutura, grande parte das construgées ¢ dos dores dos nds ou focos de atividade. Com isso, inibe ainda mais 0 fmpeto de criagio de novas oportunidades pela empresa privada, que desempenha um papel muito aquém do que poderia na construgio da cidade. A empresa privada se reserva para os investimentos de retomo garantido € inova pouco porque espera que o stado faa 0s investimentos mais arrisca- dose mesmo os de maturacio lenta, Sem qualquer generosidade para a criagio de espacos de uso PUblico, faz aproveitamento quase sempre mesquinho dos terrenos e acaba por produzic uma paisagem urbana acanhada e cheia de mesmices. No caso de Belo Horizonte, além do projeto e da implantagio, o governo estadual continuou bancando diretamente a construgio a adminiseragio ‘da Capital até 0 final da Primeira Repaiblica. Todas as decisdes ¢ recursos emanavam do Palicio da Liberdade, sejam para a implantagao € methorias de infra e superestruturas de urbanizacio, ‘organizagio dos servigos pablicos de luz ¢ transporte, educagio, cultura, satide e abastecimento, (ou para os investimentos estruturantes do espaco urbano ou da economia. Coma primeiea eleigio de um prefeito, em 1945, constituiu-se uma administracio municipal auténoma, com mais tivos dentro de uma economia urbana iniciativa, mas ainda sem poder arrecadar recursos signi {ineipiente. A iniciativa privada de Belo Horizonte veio atuar de modo tardio e secundirio na edificagio da cidade, Esteve, quase sempre, a reboque dos estimulos dos Poderes Publicos, aproveitando-se muitas vezes de sua omissi0 ou das brechas da legislacio para empreendimentos oportunistas. As cinco fases em que dividimos este relato sio denominadas por binémios que, no Rosso entendimento, representam o resultado das politicas do Estado hegeménico, ¢ por subtitu Jos que identificam os interesses que o Estado julgava dever satistazer. © eariter de transitoriedade na formacio material de Belo Horizonte tem origens ‘superpostas.A vertigem do novo ¢ propria da nossa formacio colonial. Dentre as muitas matérias “o1upuysou Siuezs011 ofa fen ou “wisnusuTsjoauasap OBS ap zopasi0> wn “orSonp vonbeu “9s-ew04 “ox1sIseq 93890-021U99 op oBdedND0 ¥ opuNPUOD ‘seeW Sau, 9p wo8eseq ¥p > EIpSeIE 9p OFSRASUOD v “SIUDWEIDNP syrM “> sopeppo sopurst sep sopeiseye stew soSedso sop ordrdnoo w ered sonurngey Sop apepmqiuodsip ¥ opueiuowine ‘oxSeynosE wo eioyy¥ eye anb “vonsEqowoIMe a ‘EASNpUL EP OFSeUD ¥ -a1UOZLOH OF2 9p O1UaUNISOI9 O EsIOUEWDZGOs toa “seurqan sopepyaH "umpuanyur senp ‘seanvont sediouud sens anug “.g wo sour 9s, s98J08U959P sowed ap eomod Suapso ap essxyee owioa ‘soajaqeisa Yoy>sHGNy “eoHIqNdoy EP SUDpIs4E ‘ooo vf ‘eprogp ruisaw ep aprrous Ypunas "ws BIMINASD ep ‘se stuowedpund opueproge “apepC Ep sora, ou wouod9 eus9 EU aIUOZOHT OPAL ap OFDIRSUY eA onb “uuewssuueyy roxianuopis © arse OU Ep ‘YEA wuREW ep oFsuDIS9 ap sou > wsHNAA ¥ sitnb $0 aud “oormouors owusWNas>:9 © se19]298 ese SoWUWINAISUE 9p ‘1unuoo wn vp opeisa 0 oupsiaNy_ sopeuIaI05 op *,suodsueEN 9 eFIDUD, onuouig op warnpuea ® dos ‘9s ap wprD9P ep apwious eaowsEd HN smansgns anb ‘oon ‘ousrxoad oansny 0 see sode ‘eipunws 09 sorstanad soyes9p So 9 soprindns WinI9$ ¥ setua|qoxd $0 wo sanuazIpAION oiuourefouryd 9p sormpuinasur ap pep! ¥ s80p ap opRUaDs OU se lug so0SensjUpUpe sealsaons Se eRHOWIOD OMUDD OP UO? ¥ ¥ euequngns 9 euegin seuoe se sypruyapar oFs opuEnb ‘ort aPS=q AFORMACAO DAC‘meta-distincia entre a velha € a nova capital, Torna-se necessério introduzit na administragio da cidade 0 conceito mais amplo de Planejamento Urbano, sendo contratado, para tal fim, © grupo SAGMACS. Segundo os estudos, nessa Epoca de grande creseimento, a estrutura da cidade assim se apresen ‘no que concerne ao que denominam “niveis coletivos de vida’: +s bairros Boa Vista, Sio Joio Barista, Vila Futuro, Ressaca, Baiero das Inckistrias & Jardim América apresentam 0 nivel Popular Precitio, de ocupacio recente © baixa densidade, 0s bairros Cardoso, Pompéia, Esplanada, 10 Geraldo, Ipiranga, Vila Oeste, Horto, Concérdia, Sto Paulo, Cachocisinha, Santo Andeé, Caigaras, IAPI, Cel te Império, Salgado Filho, Alto Barroca, Coragio de Jesus, Anchieta, Santa Hfigénia, Sagrada Familia, Renascenca, Venda Nova, Progresso e Barreiro, que abarcam 40% da populacio de Belo Horizonte, apresentam 0 nivel Popular Inferior, de ocupacio menos recente, & média distincia do Centro e baixa densidade; + 0s bairros da Gameleira, Nova Suissa, Calafate, Lagoinha, Bonfim, Carlos Prates, Prado, Sio Pedro, Santa Tereza partes de Santo AntOnio ¢ Floresta, apresentam 0 nivel Médio, mais proximo do Centro, ocupado por camadas sociais médias, posteriormente ao desenvolvi- mento inicial da cidade; ‘© Centro Comercial consolidado e os centros em transicio de Santa Efigenia, Flores Barro Preto, ocupados nos primciros tempos, apresentam o nivel Médio Comercial, € abrigam, com altas densidades, camadas populares médias; 4 Praca Sete de Setembro, 1958 195¢ onto a cidade, Imeados da cada de 50 6Vista aérea do Barto Reto, vendo-se a Praca Raul Soares © 0 Eifiio JK, 1962 STF ace Vise atte do bao dos Funcioniis eda Praca da Liberdade Be NL Aruive Puntco ae Osade ce Blo Honzonte= 0s bairros da Barroca, Cidade Jardim, Carmo, ruzeiro, Serra € Sio Lucas, apresentam 0 nivel Superior com deficiéncia de equipamento, de ocupacio mais recente e densidades variéveis; = no hemiciclo sul, 08 bairros do Cruzeito, Funciondcios, Santo Antdnio, Lourdes e Santo Agostinho, formando um tecido quase homogéneo, apresentam o nivel Superior Residencial, de baixa densidade, ocupado pelas camadas médias a superiores. Desde o inicio desse periodo, a populacio cresce a taxas anuais entre 5 € 7%. De 350 mil habitantes em 1950, passa a 700 mil, em 1960, chegando a 1 milhao e200 mil em 1964, Destes, 10% vivem em 79 favelas. © aquecimento das atividades produtivas, pela demanda das obras do Planalto Central, acentua 0 processo de -m parte provocado complementaridade entre as funcées da rea central de Belo Horizonte ¢ io da das reas industriais dos municipios vizinhos, propiciando 0 i conurbacio no processo metropolitano, © adensamento da ocupacio do espaco se dé ateavés da habitacio unifamiliar horizontal, na zona Norte, € da verticalizagio da zona Sul. ‘Torna-se moda entre as pessoas de maior poder aquisitive morar em apartamentos € varios desses prédios so erguidos no centro da cidade, onde o gabarito de altura permite maior ndimero de pavimentos. O sistema de trolebus, que havia substituido © sistema de bondes, sobrexiste por pouco mais de dez anos; € desativado no final dos anos sessenta. Sendo passagem obrigat6ria dos principa mais 0s estabelecimentos de comércio ¢ de servicos, o que acentua ainda mais fluxos de trifego, agrupam-se no Centro cada vex a verticalizagio, de modo 2 maximizar 0 aproveitamento dos lotes e da infra- cestrutura, Essa concentracio de atividades torna, gradativamente, a 4rea im- prépria para a convivéncia residencial, ea demanda por apartamentos migra para 0s baieros mais tranguilos, sobretudo os da regio sul da antiga area urbana, préximos da Avenida do Contomno, como os bairros dos Funcionarios, Santo Antonio, Carmo, Cruzeiro ¢ Serra, Constroem-se, no principio, muitos prédios de tes pavimentos, com apartamentos de generoras cas ineemas, LMF ‘Avenida Afonso Pena, 1955, rq Palen da Gade de Blo Hoonte ‘Avenida Antonio Calas, 1962 coRegiso centile elo Horizonte, entre © bio da Lagonha ea Feira Permanente de Amos, aécoda de 60 Seno etedocumentno Sve arenes EAMG mas sem elevadores, sem recuo no alinhamento das calgadas, ¢ com reas de estacionamento resumidas as dos afastamentos laterais, Nao hi nenhum outro cuidado que 0 do aproveitamento integral dos terrenos. Mais tarde, para abrigar os automéveis € 0 “status” dos moradores, inverte-se a questio: 0s prédios iS qualidades que thes tinham sido sonegadas, a tr0co. passam a dispor daque de disporem de wi vvenda, Uma acentuada crise econdmiea nacional, entre eujos desdobramentos Nimero maior de apartamentos, mas mais exi wos, para esti o golpe militar de 1964, marca a passagem para um outro periodo em ‘que a cidade vem a ser, de novo e explicitan te, objeto € campo da acio politica de um Estado consciente de si ‘Avenida Afonso Pena, vendose 2 Sera do Cural 20 undo, iio da dada de 60 Sana de Fotedocumertagio Svs de vases EAUEMGotatis na dea central de Belo Honore1964/1977 - CENTRALIZACAO E PLANEJAMENTO. UMA CIDADE PARA O ESTADO FORTE A intertertncia do Regime Militar implantado em 1964 no desenvolvimento das cidades brasileira tem base em duas caracteristieas, corolitios do autoritarismo, da nova administragio federal: a centralizacio de todas as decisSes em Brasilia € a formagio de uma tecnocracia com grande poder decisério em detrimento do poder politico © com reducio sensivel da autonomia jos. Adota-se uma Iogica empresarial concentradora na produc dos servicos bens piiblicos ¢ o Estado € 0 agente bisico do “milagre brasileiro", nome pomposo dado 20 ripido erescimento € modernizacio da economia, na tentativa de amenizar a visio de suas graves dos estados e muni conseqiiéncias sociais, Com a eriacdo do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, do Instituto de Desenvolvimento Industrial e da Companhia de Distritos Industrials, expande-se © parque indus- tial de Belo Horizonte, apropriando-se de grandes areas nas proximidades do sistema viirio principal, Implantase a Refinaria Gabriel Passos, a MBR comeca a escalada exportadora do minério da Serra do Curral e a modernizacio do setor tercidrio leva a abertura da CEASA e de outros equipamentos comerciais de grande porte em sireas cada ver mais periféricas. Tem inicio a instalae Gio do Campus da Universidade Federal de Minas Gerais, na Avenida Anténio Carlos, processo Vista aérea ca Pampuina, vendo a lagoa, © Campus da UEMG © 0 Mincirdo Bc. Paco 38 Cidade de Bel Horizonte(que iria se prolongar até os dias de hoje. Entre © Campus € a Lagoa da Pampulha, em drea antes a ele destinada, sio construidos, em sequéncia, os estidios do Mineirio e do Mineirinho. ‘Bm 1967, € eriado © Banco Nacional da Habitagio - BNI e, vinculado a ele, o Servigo Federal de Habitacio & Urbanismo - SERFHAU. Sobre essa base, funda-se um amplo & complexo sistema de financlamento que centraliza todos os recursos € decisées relativos & urbanizacio © A consteucio de hhabitagoes para familias de baixa renda. Ademais de o fazerem para “cooptar as massas urbanas deserdadas", 0s tecnocratas, na presuncio de serem racionais € objetivos, emitem, para todas as questoes, normas que menosprezam as diferencas regionals ¢ as peculiaridades locais e tornam-se camisas de forga a defenderem mais a recuperaclo dos recursos aplicados do que os interesses ddas populagdes atingidas pelos programas. Assim, no setor do chamado “Planejamento Local Integrado”, sio feitas toneladas de planos, que iriam envelhecer nas estantes da burocracia sem produzir quaisquer methorias fas cidades a que se destinavam. Na l6gica banciea, condicionase, aos interesses do capital piblico ou privado toda a producio & administracio das infra-estruturas € servigos publicos. A partir de entio, © BNH tornase o principal agente dinamizador da construcio civil e, em conseqiiéncia, da inddistria de materiais| de construcio € do mercado imobilisrio. [No ambito de um programa abrangendo as maiores aglomeracées urhanas brasileiras, institucionalizase a Regio Metropolitana de Belo Horizonte, congreganda 14 municipios Prevalecendo, na época, 0 conecito de que planejamento € acto forcosamente fundada em conhecimento exaustivo, logo, demorado, de todos os aspectos da realidade, monta-se 0 Plambe! tum eseritério téenico de grandes dimensoes, de eujo trabalho 56, Manchas da ocupacae urbana, 1964/1972 Pavowaarscam, como fatores de modificagao significativa da cidade, a eriagio de lum Srgio especifico para administrar 0 transporte € 0 triego metropolitanos de Uso © Ocupagio do Solo, que entra em vigor em 1976, 3 limites do custo de construcio para as virias faixas de renda, impostos pelo Sistema Financeiro da Habitacio, permitem 0 aparecimento de um novo padrio social de desigualdade, com ampliagio das diferencis entre 0 Centro e as periferias: nas mais afistadas, as centenas de casinhas idénticas dos conjuntos COHAB, dentro da malha urbana, 0 conjunto de prédios de acabamento singelo dos INOCOOPS, nas areas centrais a verticalizacio compacta ‘que ocasiona perda da qualidade ambiental, Ao longo do period os recursos piiblicos € privados vio se deslocando, sistematicamente, para a producto de loteamentos ¢ habitaghes para as rendas mais clevadas, © crescimento da economia do pais acarteta novas dimensies © diversidade em todos 0s fatos urbanos. A construciio vertical invade os bairros €, 20 longo dos principais corredores de trifego, formam-se concentragdes is importantes em Santa Tereza, no Barro Preto, na Barroca ¢, notadamente, no bairro dos Funciondrios, em torno da padaria Savassi, cujo rome se estendeu para a propria praca e, mais tarde, para toda essa regio. Retiada do obelsco da Praca Sete de Setembro, 1963Com prioridade do transporte individual sobre © coletivo, as vias centeais congesti fonamse € diversas modificagées no teacaclo visio tornamse necessirias. A Praca Sete debxa de ser ‘uma grande rotativa para ser atravessada pelos Mluxos da Afonso Pena e da Amazonas; 0 obeliseo & transposto para a Praga d que reeebe assim ares de novo centro, Ha grandes im Jimentos em obras vidrias, na implantacio das vias expressas Norte € Leste-Oeste © no equacionamento do. problema de com as eaptagdes do Rio das Velhas € da Virzea das Flores. Os bairros mais préximos do Centro, principalmente no vetor sul, renovam-se transformando-se em espagos preferenciais da burguesia Praga Sete de Setembro, fem 0 obeleco, déeada de 70ARQUITETURA DA MOI A partir de 1976, uma breve recuperacio dos salirios fax bascular para as faixas de baixa renda a maior parte dos investimentos do mercado imobiliério, Hi uma oferta sem precedentes de unidades em conjuntos habitacionais na regiio Norte no Vetor Industrial Oeste da Area Metropolitana. Reforvada pela Lei de Uso e Ocupacio do Solo, consolidase a tendéncia espontinea de adensamento a0 longo de eixos que sem do Centro em todas as diregbes, de modo a mudar radicalmente a identidade dos lugares; verticalizase 0 eixo Avenida Prudente de MoraisSanta Licia, © 0 bairros Luxemburgo © Santo Antonio, Dando sequéncia & descaracterizacio que comecou cedo, com a tomada gradativa de espacos a0 Parque, com 0 sacrificio desnecessirio € tautoligica do antigo prédio dos Correios € do conjunto Sulacap que o substituira, com a destruigao do espaco simbélico do Bar do Ponto, a ‘Avenida Afonso Pena é devastada pela retirada da athorizagio, e a paisagem da Serra do Curral & desfigurada pela retirada do minério, aa ll Praca ca savassi com o abesco, 197 wii, Pla da Ce de Bas Hotzonte1977/1997 - LIBERALISMO E EXCLUSAO UMA CIDADE PARA O CAPITAL Antes de terminados 0s anos 70, 0 inchaco do setor financeiro em detrimento do setor diretamente produtivo © o incremento do subemprego € do desemprego anunciam a derrocada do “milagre brasileiro”, a recessio da economia que iia permitir denominar 0s anos seguintes de “década perdida”. Em todos os setores da sociedade, vai ganhando forga 0 proceso de abertura politica que culminaré na re-democratizacio do pals em 1985. Aparecem os movimentos de reivindicacio sociale as associagdes de baitso lancando as sementes da participacio comunitiria no processo de planejamento. 0s efeitos da nova Lei de Uso ¢ Ocupacio do Solo, somandorse a grande quantidade de prédios levantados sob os ditames do mercado imobilidrio, sem quaisquer preocupagées arquitetOnicas, © & monotonia dos conjuntos habitacionais, vem produzic uma notivel homogeneizagio da arquitetura, A verticalizacio agora no se restringe mais A area central ‘Comeca pontuanda aqui ¢ ali em todos os bairros, tomando previsivel a formagio de “paredées* as margens dos prineipais eixos de circulacio, como as avenidas Prudente de Morais, Raja Gabaglia, Bario Homem de Melo, Silva Lobo € Nossa Senhora do Carmo. Na regido entre a Avenida do Contorno e a Serra do Curral, ela se torna maciga, Os Modelos de Assentamento das construgdes, Vata ares ca Praca Tadentese alto dos Funcionstos, 1977 Driv ita da Cidade de Blo Horaonte‘com coeficientes de aprovei mento muito generosos, seriam revistos em 85, mas continuarlam propiciando a repeticio exaustiva das solugdecs arquitetdaieas nos prédios comerciais ou mistos, conferindo certa monoronia A paisagem urbana. A conjugagio dessa legislagio com uma nova politica de transportes acelera o processo. de mudancas na drea central. No Hipercentro de Belo Horizonte, como passa a ser chamada a regio ma congestionada, a qualidade de vida jé fica prejudicada, mesmo para o desempenho das atividades de comércio € servigos. Em 1981, ‘metropolitanos ¢ tm inicio programas de reformas nas vias da ‘rea central e de estruturagio do riada a empresa para geren iar a questio do transporte © do trifego sistema de transporte coletivo Com a participagio dos governos Estadual e Federal, sio também comecadas as obeas de implantagio do Trem Metropolitano, no vale do Ribeiro Arrudas, € do conjunto de viadutos ‘para superar a passagem de nivel sobre as vias férreas, denominado Complexo Vidrio da Lagoinha. Iniciado 0 processo, verusto tecido do mais peculiar bairro da cidade passa a sofrer entio, por cctapas, radicals cirurgias em que desaparecem, de cambulhada, com barracos € edificagbes realmente deterioradas, os espacos de apropriagio popular de um mercado © da Praca Vaz de Melo, assim como, duas quadras inteiras de sua modesta, mas homogénea €, por isso mesmo, muito representativa arquitetura, Conclui-se também o tinel da Lagoinha, cuja abertara fieara interrompida por muitos anos, ¢ implantase a Avenida Cristiano Machado, que visia formar com fo Carlos o principal vetor de ocupagio da regio Norte Complexe Vian da Lagoinhna, 1998Minas shopping Foo: Nino anaes ‘Tem inicio a formacio de novos centros nos baieros Santo Agostinho e So Lucas. Volta 0 obelisco para a Praca Sete, a Praca Rio Branco & modificada com a elevacio de um. monumento que divide as opinides ¢ a Praca da Estagio ¢ transformada em estacionamento € lugar preferencial para festas populares. M (0 centralismo autoritirio de Brasilia jé€ criticado em todos os setores do pensamento nacional ¢ € iniciada a sua dissolucio. O Banco Nacional de Habitacio, que se desviara muito de seus objetivos aplicando mais recursos no financiamento de construgSes para as classes mais favorecidas e no setor de saneamento, € desativado, preservandorse 0 Sistema Financeiro da Habitacio, sob © controle da Caixa eondmica Federal ‘Com 0 movimento pelas cleigdes diretas ¢ a relemocratizacio, em 85, tem lugar a retomada do poder politico em imbito municipal. As Regides Metropolitanas, instincias entre © poder do estado ¢ © do municipio, sio contestadas por todos os prefeitos © suas agéncias de planejamento perdem forca até serem, finalmente, suprimidas. ‘Avenida Cristiano Machaca Pear SUBECAP a ser responsdveis, juntamente com a FIAT, a FMB, a KRUPP ¢ a DEMAG, por 70% do emprego No setor da construcio civil, vio se formando empresas de maior porte que chegam. dda cidade, em todos os ramos. Estio concentrados em Belo Horizonte quase 60% dos postos de trabalho da Regiio Metropolitana, Na recessio dos anos 80, as calgadas do centro da cidade comecam a ser o¢t ambulante € hi uma retragio da construcio udas pelo c civil que faz 6 mercado imobiliério se voltar para os loteamentos de baixo custo, acelerando, © proceso de adensamento das periferias,‘Trecho vercalzado junto a0 Minas Shopping Com a criacio de um shopping center, no final da década de 70, no limite entre Belo Horizonte © Nova Lima, aparece pela primeira vez, no municipio, uma estratégia com origem na iniciativa privada, A descentralizacio, assumida depois por outros empresirios © pelos administradores da cidade, cria coxpo € passa a determinar 0 estimulo a investimentos semethantes. Funcionando como atratores para a formagio de centros secundirios, so ino Machado © Hernardo de Vasconcelos, implantados, no entroncamento das avenidas Crist tum conjunto de dois shoppings, um supermercado © um restaurante €, no eruzamento da Avenida Carlos Luz com © Anel Rodovisio, um outro shoppit Belvedere Il, vendo-se a Serra de Curral a fundo. Foto de 1998‘BH shopping 1H Shopping, interior Com 0 conecito de consumo, 0 shopping center surge como uma metifora da cidade, com todos os seus componentes, ‘scala reduzida para agilzar os percursos ¢ nogio de tempo ¢ clima soneyada para garantir maior permanéncia. Da cidade real, s6 the faltam as casas. Complementos do shopping, os mottis, dormitérios especializados, materializam, em todas as saidas da cidade, 0 advento de nov tipo de comportamento, Nessa esters, formam-se concen tragies de comércio © servigos em numerosos entroncamentos dlispersos em toda a malha urbana, aparecendo quantidade de shoppings menores, as yezes especaizados. cones do consumo & da diversio de massa, essas edificagdes, a0 aereseentarem suas arquiteturas espalhafatosas a0 novo ecletisme don paisagem da cidade, acarret pavimentagio e construgio de passarelas nas vias que Thes d20 acesso, Sio feitos repetidos melhoramentos nas avenidas Senhora do Carmo, Carlos Luz ¢ Cristiano Machado, tem n obras de suporte, como alargamento, cia. a eanalizacio do Arcudas com extensio das pistas de rolamento laterais até proximo das divisas Leste do municipio & la a Via Norte para acesso a0 novo Acroporto de implant Confins. No lado Sul, os bairros Belvedere, Estoril € Buritis, no) sopé da Serra do Curral at se instalam, na regito denominada Seis Pistas, um conjunto de ngem os limites de Nova Lima, onde eserit6rios, restau potencial do vetor Sul no processo de expansio da area urbana, ates, hospital e faculdade, que deixa claro 0 o mesmo modo como foram se especializanclo, em anos anteriores, certas reas do Centro Comercial, por exemplo, em tecidos (eieo Cactés /Tupinambss Santos Dumont), em material elétrico € tintas (eixo Parand/Guarani/Oleggrio Maciel), em satide (eixo Alfredo Balena), acentua-se gradativamente a especializaglo de alguns bairros. Na Lagoinha, concentease 0 comércio dle moveis usados; no Barro Preto, as confeecoes; no Sao LucasSanta Blige(08 consultorios médicos € laborutérios; na Stwass, as boutiques; na Avenida Raja Gabagli, os earros importados € as diversoes ete. As dificuldades do transito determinam a construgio do elevado Castelo Branco, das trincheiras da Rua Rio Grande do Norte © da Avenida do Contorno, de diversas passarclas metilicas para pedestres ¢ do viaduto da Avenida Francisco Sales, entre Santa Ffigénia © Santa Tereza. A Praga Raul Soares, inacessivel As pessous, sobrevive apenas como entroncamento viitio. As pracas Diogo de Vasconcelos, Benjamim Guimaraes, 21 de Abril € Afonso Arinos sio redesenhacas pari cumprie 0 mesmo objetivo. Estaciona-se sobre as calcadas com a complacéncia da fiscalizacio, pavimentamse jardins para alargamento de pistas e paradas de autos. Degradamse a8 avenidas Parand, Olegitio Maciel © Santos D Imont, sob 0 peso da circulacio de centenas de linhas de transporte coletivo ¢ transbordam de pedestres ¢ vendedores ambulantes todas as calgar das do tridngulo entre as duas tiltimas avenidas © a Amazonas. Os congestionamentos de tinsito, ue se tornam comuns, mesmo fora das horas de pico, € a poluicio ambiental, comegam a comprometer seriamente a qualidade de vida em muitas regides de Belo Horizonte. A rapidez com ue vio desaparecendo a amenidade dos lugares € 0s raros exemplares da arquitetura dos primeiros tempos, acabam por despertar, enfim, 0 aparecimento da consciéncia protecionista ‘Todas as intervenes na cidade so determinadas pelos interesses, ai ‘quer outros, do capital, imobiliéio, mercantile financeiro e do automével. Tudo pode ser desfeito, desde que os beneficie. A argumentacio do dircito & propriedade © ao lucro prevatece em todas 1a de quais- as questdes que envolvem a preservacio de patriménio natural ou cultural A Constiuigio de 1988 estabelece uma politica moderna de protecio dos patriménios ‘natural € cultural, atribuindo um novo papel aos municipios, sobretude no que diz respeito a0 controle © a execucio das medidas pertinentes. Amplia‘se na comunidade a consciéncia do valor da preservagio €, no Ambito da administracio municipal, sio estabelecidos instrumentos legais ‘com esse objetivo. Uma relagio de maior respeito entre empresirios ¢ 0s poderes piiblicos coma timida, mas esperancosamente, a se estabelecer, © municipio, que tomara a iniciativa de desativar sua empresa de mineracao ¢ de implantar 0 grande Parque das Mangabeiras junto & Serra do Curral, consegue, num processo bem sucedido de negociacIo com virias empresas, restaurar 6 Parque Municipal, as pragas da Liberdade, Hugo Werneck, Floriano Peixoto, Carlos Chaga na de - Duque de Caxias ¢ estabelecer com uma, consteucio civil um entendimento exemplar, no qual Ihe sao cedidos, um edificio tombado, na Rua Estévio Pinto, ¢ ajuda para instalar nele 0 Centro de Referéneta Audiovisual da Serra Bairro da Lagoinna, como de movets usados Foto de 1996 ‘Avo Moje Lagann UFMGSl De modo unanime, eresce em todos 0s estratos da populacio a nocio de ter direito 4 um patrimdnio ambiental urbano de melhor qualidade e poder trabalhar por isso, Nos sltimos anos, através de um programa de participagio popular na elaboracio do orcamento, consegue- se uma aplicagio melhor dos parcos recursos publicos, distribuindoos com mais justica entre © Centro € os espacos periléricos. No entanto, consolida-se, com igual unanimidade, 0 entendimento dde que a eapacidade de adaptagio da estrutura urbana as novas ¢ erescentes necessidades esti no limite do espotamento e de que é urgente ¢ imprescindvel transfomla em sua esséncia, Elaborase ‘um Novo Plano Diretor e a sua correspondente Lei de Parcelamento, Ocupacio € Uso do Solo Urbano, que entram em vigor chegado 0 ano do centenstio. Invertendo a Iogica do plano ant Alistribuigio dos for, © novo estabelece como diretrizes para a 108 € ocupagdes, nao a tendéncia manifesta pelo mercado imobiliério, mas a0 izagao mais racional da infraestrucura disponivel © potencial das diversas dreas. Para o descongestionamento da drea central ¢ do Hipercentro, estimula a descentralizacio espa: conmtritio, a a Gal das atividades, a formacio de novos centros ¢ veda a possibilidade de consteugio e ampliaglo de uma série de equipamentos piblicos ou privados dentro desse perimerro. Estabelece uma cestrutura vidria coerente, visando 3 formacio de um sistema de anéis concéntricos que permitam, a circulagio entre os bairros sem passar forcosamente pela rea central. Cri, prineipalmente, um conjunto de instrumentos vigorosos que deverio atrair a iniciativa privada, tanto para gestos mais generosos na ocupacio do espaco dividido, quanto para saudiveis parcerias com o setor paiblico na edifieagdo de espaco comum,