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‘TERCEIRO ACTO “aesquenda e no centro. — Dia. si, Sénia (sentados) e Elena Andréevna (anda a pensar em qualquer coiss). desejo de que sala de estar, 2 ma da tarde. (Otha para o regio.) £ uma menos tum marto. Ele pretende elucidar a humanidade sobre ‘ANDREEVNA — Algum problema, pelos vis~ aITSKI — Ele ndo tem problemas nenhuns. Escreve ilidades, resmunga e tem citimes, mais nada. (em 1om de censura) — Tio! VOINITSKI — Est bem, esta bem, pego (Aponta para Elena Andréevna: Tindo! ELENA ANDREEVNA — Todo o dia a zunir, a2 no esté farto? (Com mégoa.) Estou morta de no sei o que fazer SONIA (Encolhe os ombros.) — Nao falta que faze: Basta querer ELENA ANDREEVNA — 0 que, por exemplo? SONIA — Tratar da propriedade, ensinar, cuidar «: ELENA ANDREEVNA — Nao sei fazer isso. Ta ‘do me interessa. Apenas nos romances com SONIA — Ora, eu nem sequer percebo como se pode ar. Espera, espera um pouco que )) Nao te aborrecas. vinha e4 poucas vezes, um dia por més, era impos convencé-lo a vir mais, mas agora esté e4 todos os s so, abandonou as suas florestas e & medi ‘querida, minha maravilhosa, sangue de sereia nas veins, a ‘Ao menos uma vez na vida, permita-se a liber- ae te rpiamete Por alg Dx as weacte gum fr,masovamenie—e aires : ‘Herr Professor e todos n6s — Deixe-me em paz! NTSKI (nao a deixa ir) — Pronto, minha alminha, idesculpe... Pego desculpa. (Beija-the a mao.) [ANDREEVNA — Isto nem com a paciéncia de 1A — Rosas outonais — encantadores, am amibas para a janela. ENA ANDREEVNA — Ja Setembro./Como passare- aqui o Invern? est 0 doutor? xo quarto do tio Vania. A eserever. Ainda m que oto Vania sau, tenho de falar contigo s ELENA ANDREEVNA'— De qué? mente, até quando se vai continuar nesta situagiio SONIA — De qué? (Pousa a cabeca no peito dela.) sfinida?... Deixa-me falar com ele! ELENA ANDER VINA!" Dobra! lé; deite../U4figa-the 0 sna afirmativamente com a cabeca. po. Ou ama ou nio ama — no ¢ i {que ndo ponka cé mais os pés. De acordo? ‘afirmativamente juando no vemos a pessoa. Nao vamos ‘vamos saber agora mesmo. uns desenhos quaisquer...Vai diz-the que ‘emocionada) — E depois contas-me toda NA ANDREEVNA — Claro. A verdade, seja ela quer experangat (Com desespero.) Oh mes Des, al for, € sempre menos terrivel que a incereza “me Forgas... Rezei toda 4 note... Muita fa cm mim, pombinha sproximo-me dele, eu é gue meto conversa, ol (Sim, sim Digotbe que qustes wer os dese: cle nos ols... 4 ndo tenho orgulho, jé nfo tenho i (aie para a porta.) Nao, a incesteza € 8 para me controlar. Ontem ndo suet econ Jempre uma esperans "ANDREEVNA —O que dsseste? ‘be que o amo. Todos saber. ELENA ANDREEVNA — E cle? é — Nia né nada pior SONIA — Nada, Nao me vé ELENA ANDREEVNA (pen: homem... Sabes uma coi Eu alo com jitinho, com i Pai 3 ‘muller, Cabecinha de ouro, bondosa, pura... N3o, nin endo a pobre pequena, No meio to insuportével, quando, em ve ‘quando s6 se ouvem banalidades, quando do ‘outra coisa seniio comer, beber, dormir, ¢ de quando chega cle, que ndo € parecido com os bonito, interessante, atraente, como a lua ppouco atraida. Sim, na auséncia dele abortego-me. ‘quando penso nele sori... Esse tio Vania diz que me ver na vida, permita-se a liberdade»... E ent?” seja mesmo nevessério.. Seria tao bom fugi ‘como um péssaro livre, fugir das vossas Sonolentas, das conversas, esquecer que riam eabo de mim... le vem e6 todos os dias, vinho porgue, jf me sino culpada, pronta Joelos dante de S6nia, pedir pero, chor ASTROY (entra com um cartograma) (Aperta-the a mdo.) Quer ver a minha pinta ELENA ANDREEVNA — Ontem prometeu que me mo travaos seus Uabalhos..Tem tempo agora? ASTROV — Oh, claro que tenho. (Exende 0 cartogr sma em cima da mesa de jogo e prega-o com perceve 40s.) A senhora onde nasceu? 56 ANDREEVNA (ajudando-o) — Em Petersburgo. —Eestudouem..? /ANDREEVNA — No Conservat6rio. — Esta coisa nio tem interesse para si, acho 'ANDREEVNA — Porqué? Nio conhego 0 cam- erdade, mas li muito. )V — Aqui em casa tenho uma mesa de traba- No quarto de Ivan Petrévitch. Quando fico 9, com a cabega completamente em gua, largo ‘Corto para aqui, ¢ divirto-me com esta coisa orita ou duas.. Ivan Petrovich e Sofia Aleksin- A minha mesa, a desenhar — e estou quenti- ossegado, e canta 0 grilo. Mas raramente me to-um tal prazer, um dia por més... (Mostrando 0 ama.) Agora, veja: ito € o mapa do nosso dis- ‘como era hd cinquenta anos. A verde-escuro ¢ 0, sto as flores; metade do teritio, €0- ‘compoe-se de florestas, Aqui, por cima do ver- nde esté a rede vermelha, havia alces © cabras 3s... Tanto flora como a fauna estio aqui mar- a enchentes de passarada, um im ‘nuvens dels. Aléi das aldeias, pe- fe grandes, esté a ver, aqui e aqui havia aldeo- ‘granjas, ermitérios do velho tito ortodoxo, 0s de dgua... Havia muito gado e cavalos. E tu- Histo marcado a azul-claro, Por exemplo, nesta €0- f cor azul-clara 6 muito densa; havia aqui ma- 7 ‘nadas de cavalos, cada familia camponesa tinha ums smédia de trés eavalos. Passamos para a teceira parte — 0 aspecto do ‘actualmente. A cor verde, aqui e ali, nio € cont ‘mas por manchas; desapareceram os alces, 0s cis (0s terazes. Das antigas aldeolas, das granjas, erm ros e moinlos nem a sombra ficou. No geral ‘norama de gradual e indubitavel degradagao, tem de esperar dez ou quinze anos para se tornar pleta, Vai dizer-me que talvez estejam aqui influéncias culturais, que as velhas formas snto ests noutro lads Fpequeno interrogat6rio, e estou confusa, nfo sei SA ANDREEVNA — Sin, um interrogat6rio, mas xe inocente. Vamos sentat-nost sede uma jovem. Vamos falar com toda a honest fe, como amigos, sem rodeos. Vamos falar e- ‘esquecemos esta conversa. De acordo? OV — De acordo. IA ANDREEVNA — Trata-se da minha enteada da Gosia dela? OV —Sim, tenho estima por ela. W,ANDREEVNA — Gosta dela como mulher? OV (depois de wna pausa) — Ni. NA ANDREEVNA — Mais duas ou trés coisas, nfo ‘O senhor io tem reparado em nada? sgradagio séncia absoluta de consciéncia, numa situagio ‘ohomem é presa do fio, da fome e das doengas © &m cy ve ASTROV — Noo, em nada, ELENA ANDREEVNA (pega na mdo dele) — Nao ama, vejo pelos seus olhos... Ela soft... Tente prcender isto... deixe de vir ed ASTROV (levanta-se) — O meu tempo jf pas ‘Também nfo tenho tempo. (Encolhendo os Como havia de arranjar tempo..? (Estd emba do) ELENA ANDREEVNA — Fu, que conversa desagradé vel! Estou tio derreada como se com mil arobas. Gragas a Deus, ‘quecer isto, como se esta conversa nunca tivesse exis- tido e... vé-se embora. O senhor 6 inteligente, com- ASTROV (rindo-se) — Manki verdade, que a Sonia esti a deixando ala.) Por favor, no fag essa cara espa da, a senhora sabe perfetamente porque & que eu ve nho e4 todos 0s dis... Porque por eausa de quem et ‘venbo cf, sabe iso pereitamente. Querida predador o ime olhe assim, olhe que eu sou um milhafre ANDREEVNA (perplex) — Predadora? Nao es- ys a perceber nad OW — Fum furko, belo, felpudo... Tem necessida- ‘procuro-a com avidez — € a senhora gosta, 10, muitissimo... Pois bem... Estou vencido, o sabia, mesmo sem 0 interogat6rio, |ANDREEVNA — Est ROY (rise entre dentes) —f timid. "ANDREEVNA — Oh, eu sou melhor do que is- no sou tio baixa como o senhor pensa! Juro! PROV (ndo a deixando far) — Jurar para qué? Nao ‘Oh, que boni- amanhi. (Abraga-a pela cintura.) Bem vés, a 6 inevitavel, temos de nos ver. (Beijaca: neste momen 10 entra Véinitski com um ramo de rosas e pi tém-na enlacando-the a cintura) — Vs amanhil reserva florestal, 3s duas, ou por volta dis- 0. Sim? Sim? Vais? ELENA ANDREEVNA (vendo Véinitski) — Largue-me! (Afasta-se para ajanela, muito emocionada.)E bor vel VOINITSKEI (pse 0 ramo na cadeira; emacionado, lin com 0 lengo a cara e 0 pescogo sob 0 colarinko) — [Nao tem importinci... ois... No em import ASTROV (com ar amuado) — Estimadissimo Iv tt6vitch, hoje o tempo nio esti mau, De manhi sombrio, parecia prepar cartograma.) S6 que 0s dias 4 sio pequenos.. (S ELENA ANDREEVNA — (Aproximase rapidamer Voiniski) — aga tudo, recorraa toda a sua inf para que eu e © meu marido nos vamos dagui embors hhoje mesmo! Ouviu? Hoje mesmo! VOINITSKI (limpando a cara) — O qué? Pois sim... ‘ti bem... Eu, Héléne, vi tudo, tudo, ELENA ANDREEVNA (nervosamente) —~ Ouviu? Ten de me ir embora daqui hoje mesmo! e Serebriakow, Sonia, Teléguin ¢ Marina. {UIN —Também eu, exceléncia, também ev estou pouco adoentado. Hi ja dois dias que no ando sbega, 20 ei BRIAKOV — Mas onde estio os outros? Nao gosto ta casa, Isto 6 tum autGntico lairinto. Vinte e seis ‘enormes, andam todos espalhados pela casa, & im- ivel encontrar seja quem for. (Toca a campainha:) ‘a Maria Vassilievna ea Elena Andréevna! [ANDREEVNA — Estou aqui. BRIAKOV — Sentem-se, meus senhores, por fa- (aprosimando-se de Elena Andréemna, com im- janci) — Entdo, o que foi que le disse? INA ANDREEVNA — Depois 1A — Estis a tremer? Tao emocionada? (Perscruta- ) Compreendo... Ele disse que no volta dréevna acena afirmativamente com a cabeca. BRIAKOV (para Teléuin) — Com a doenga ainda ssfvel uma pessoa resignar-se, ainda wi que nao © que eu no suporto 6 0 modo de vida aldeso. Te- ‘a impressio de que ful atirado da ‘Tera para um eta estranho, Por favor, fagam 0 favor de se senta- ‘meus senhores! Sénia! e Siinia nao o ove, estd imével,cabisbaixa Sonia! Pausa. Nao ouve. (Para Marina.) Senta-te, mae Marina t ta ‘bém. ‘A-ama-seca senta-se, atricorar a meia, Por favor, meus senhores. Pendurem VOINITSKI (emocionado) —~ Talv ‘mim? Posso i? ‘SEREBRIAKOV — Nao, és aqui mais necessério todos os outros. \VOINITSKI— Eo que quer de mim o senhor? SEREBRIAKOV — 0 senor... Porque essa raiva? Pausa, ‘Se tenho alguma culpa para contigo, desculpa-me, por favor. ‘VOINITSKI — Deixa If esse tom, Falemos do que tessa... O que queres? Entra Maria Vassilievna, SEREBRIAKOV — Cé estd a. maman. Vou comes ‘meus senbores. Pause ‘Meas senhores, convoguei-s para os informar ‘vem cf um inspector. Est bem, d cadeiras. E uma questio séria, Re senhores, para thes pedir ajuda © ‘endo eu a amabilidade inabalivel dos senhores, 6 f sem uma orientagao da parte das pess fe pego que tu, Ivan Petrovich, © o senhor lis h, ea senhora, maman.. E que manet omnes una ‘estamos todos nas mos de Deus; te, por isso acho oportuno regularizar os 1 da minha propriedade na medida em que ‘¢ minha familia, A minha vida acabou, no (a pensar em mim, mas tenho uma mulher jovern una filha soltcira, te ‘propricdade. Vender a floresta, digamos, & edida extraordindria a que nao se pode recorrer ‘os anos. E necessério encontrar 3s medidas que 0a honra de apre pe eceenie oon ot am Finhas gerais. A ia, dé um rendimento de ar una pequena casa de campo na Finkindia. Jum oe one tos) ( F) 6 LVOINITSKI — Espera..Parece que nem estou 8 tar nos meus ouvidos. Repete If o que disseste VOINITSKI — Nao, nio & isso da Finlandia... Dis ‘mais qualquer coisa. SEREBRIAKOV — Proponho que se venda a proprieds \VOINITSKI — Isso mesmo. Vendes a propriedade, ‘mo, & uma rica ideia... Mas onde queres que ‘meta com a velha mie e a Sénia? ‘SEREBRIAKOV — Falaremos disso no seu devi po. Nao pode ser tudo de uma vez. ‘VOINITSKI — Espera, Até agora, eu, pelos vistos, tenho tido wma gota de senso comum. Até agora, parvo, eu pensava que esta propriedade pert ‘para o dote da minha irma. Até agora eu, pelos tenho sido um ingénuo, nao tenho compreend! leis & mancira turca e pensava que era a Sénia tinha herdado a propriedade da minha itma. SEREBRIAKOV — E verdade, a propriedade pe ‘S6nia. Ninguém poe isso em causa. Sem 0. ‘mento dela, nio me atreveria a vendé-la. Além para o bem de Sénia que fago esta proposta VOINITSKI — E inconcebivel, inconcebivel! Ou eu 1 ‘quel doido, ov... ou. MARIA VASSILIEVNA — Jean, no contradigas 0 Alek sandr. Acredita que ele sabe melhor © que é bom & © que é mau, 6 eTskI — Nao, déem-me gua. (Bebe gua.) Di o que quiserem,o que quiserem! Gy _ Nao pereebo porque te enervas assim. estou a afitmar que © meu projecto &0 eal. Se agente achar que nao presta, no vou insist “4 cn) — By xc, lime Nao ma bn ete ts 2 a ter do mea GE asin Para Serra fotcampraaa idee SA notte prguiar para gut om rr KI — Esta propriedade, aos pregos daquela ¢ prada por noventa € cinco mil ublos mea mie fou dever Wn € to “igam.. A propieade nfo seria - F da minha parte eu amv com ATSKI — A propriedade esti live de dividas, © 36 esti completamente aruinada gragas aos MeUS €- o forgos pessoais. Mas agora que cheguei a velho, que rem pér-me no olho da rua! ‘SEREBRIAKOV — Nao pereebo aonde queres ch \VOINITSKI — Durante vinte e cinco anos eu propriedade, trabalhei, mandei-te dis ‘mente como © mais consciencioso dos ‘ante este tempo todo nem uma vez me di ‘gad, Durante este tempo todo — quando era ‘agora também — eu recebia da tua parte um ide quinhentos rublos anuais, wm ordenado vell,. — € nunca pensaste em acrescentar rublo que fosse! SEREBRIAKOV — Ivan Petrovitch, como podi ber? Nao sou um homem prético, nio percet dessas coisas, Tw pr6prio podias acrescentar uisesses 20 teu ordenado. VOINITSKI — Ou seja, porque no roubei, que nio me desprezam todos por eu 1d0 ‘Seria justo e, agora, eu nao estaria na mis MARIA VASSILIEVNA (severa) — Jean! ‘TELEGUIN (emocionado) — Vania, amigo, nio ‘assim. no... eu até estou a treme... Para qué estas ‘as boas relagdes? (Belja-.) Nao vale a pena, VOINITSKI — Durante vinte © cinco anos, estive me entre estas quatro paredes com a minha mie ‘0 nossos pensamentos e sentimentos iam 9 ti, Durante dia falavamos de ti, das tuas obr mos orgulho em ti, promuneiavamos 0 teu n ‘veneragiio; ¢ perdiamos as noites 2 livros que agora desprezo profundamente! “6 Nao, Vania, deixa 16 isso... Bu nao ‘KOV (irado) — Nao percebo o que é que tw ‘Tw eras para nés uma eristura de ordem famos os tes artigos de cor... Mas agora ‘os olhos! Vejo tudo! Escreves sobre a ente! Vou-me embora! NANDREEVNA — Ivan PeteOvitch, exijo que se “ANDREEVNA — Vou-me embora imediatamen- ara Jonge deste inferno! (Grita.) Nao suporto mais ou incapa! isxi —- Uma vida perdida! Sou talentoso,inteli- ‘ousado.. Se vivesse normalmente, poderia ter © sido um Schopenhauer, Dostoiévski.. Neste tral sem descanso, tinhamos medo de gastar um desperdicei o cérebro! Estou a enlouquecer... Mic nha, estou desesperado! Miezinha! MARIA VASSILIEVNA (severa) — Obedece a0 sande! SONIA (pde-se de joethos ao pé da amarseca ¢ a -se contra ela) — Merinha Marina! Maezinha! VOINITSKI — Mie! O que é que eu fago agora? SEREBRIAKOV — M Liveem-me deste lou baixo do mesmo tecto! Ele vive aqui (aponta porta central) quase ao meu lado... Que para aldea, para 0 anexo, ov entio ‘io posso fear com ele na mesma ELENA ANDREEVNA (para o marido) — Vamos accom cle, (Sai pela porta central.) 'ANDREEVNA — Sé meigo com ele, acalma-o. ards dele.) (apertando-se contra a ama-seca) — Maezinha, inha Marina! INA — Deixa I ila. Os gansos gitam,gritam © RIAKOY (irrompe, cambaleando de susto) — em-no, segurem-no que ele enlouqueceu! 1” Elena Andréeuna e Véinitski lutam & porta, ELENA ANDREEVNA (tentando tirar-the o revélver) — Dé cd iss0, 46 cf, esti a ouvir? VOINITSKI — Largue-me, Héléne! Largue. (Liberta-se, entra a correr e procura Serebriako ‘8 olhos:) Onde esti ele? Aah, cf estd ele! (Dis contra ele.) Pum! Pausa. Nao acertei? Outra vez? (Encolerizado.) Ab, diabo, dis bo... que diabo... (Arira 0 revélver para 0 chao com {orca e, exaust, senta-se na cadeira,) Serebriakov estd aturdido; Elena Andréevna sente-se ‘mal e encosta-se a parede. ELENA ANDREEVNA — Levem-me dagui! Levem-me, ‘matem-me, mas... io possoficar aqui, no posso! VOINITSKI (desesperado) — Oh, 0 que eu estou a 18 zer! O que estou a fazer! SONIA (baixinhio) — Me Marina, mezinhal Pano arto de Ivan Petrovitch; 6 onde ele dorme, mas & ‘ escritério da propriedade. Junto a janela ha ca grande com livros de contas e todo o género ivaninha, armarios, uma balanca. a mesa, mais pequena, para Astrov; em cima j estdo utensilios de desenho, tintas, uma pasta. |gaiola com um estorninho, Numa das paredes, um a4 ‘Aca pelos vistos desnecessirio para toda a Di ecrme aed fora de loa tuma porta que dé para os aposentos: & para o iri; & porta direta hd um capacho, mjiques no sujem o cho de tarde outonal. Silencio. éguin e Marina esto sentados frente a frente, an. novelos de Ia para as meias. LVOINITSKI — Nao te tirei coisa neniuma. Amos se sentam. ASTROV — Nao? Estd bem, espero mais um ‘mas depois, desculpa If, vou ter de recorrer & ‘Amarrar, revista. Estou a falar muito asério, ‘vornrTskt —A vontade: Pausa. ‘Fazer uma figura de parvo destas: disparar duas vezes « ‘nio acertar! Nunca me perdoarei! ASTROV — Se te apetecia dar um tro, dava-lo na ‘nom me entregam ao tribunal. Quer dizer que me cor sideram maluco. (Riso maldoso.) Eu sou maluc (08 oUiTos nfo sto malucos, os que escondem {cos eruditos a medi dade, a obtusidade, a {que se casam com velhos € depois, 8 vista de todos, os ‘enganam, essas no so malucas. Eu bem vi como « ® abragavas! ASTROV — Sim senhor, abracei-, © para t tom to fae-lhe o gesto de tocar trombeta no narie). \VOINITSKI (olhando para a porta) — Nao, mal terra que ainda vos suporta! ASTROV — Estupider. ‘maluco, logo inimputével, tenho © dliteito de dizer asneiras. % ROV — Essa conversa j é velha. Tu no és maluco, antes, go da uma man clara, serena, € sentir que comeyava fer de novo, que todo 0 passado estava esquetido, fe se dissipava como fume. (Chora.) Comesat wma da nova... Diz-me como é que hei-de comegat-.COm ¢ posto comesar: ROY (com irritagdo) — Deixete disso! Que vida que m queres? A nossa situagio € desesperads, PROV — Estou convencido disso. n das de maneira tio estipida e ordinéria — calhar,j4 terio encontrado o método para ‘mas n6s... Tu e eu temos apenas uma esperanga. lectuais: eu ¢ tu, Mas bastaram uns rotineira e desprezivel para ficarmos atl nos envenenar © sangue com as suas exalag ASTROV — Tiraste-me um frasco de morfina da mala «de medicamentos. Pasa. ‘vai até loresta e dé um tiro na eabeya, Mas a ‘de ma devolver, send espalham-se por forneci...1é me basta a perspectiva de te ‘Achas que ¢divertido? Entra Séni. ‘roubou-me da mala um frasco de morfina € no © ‘dovolver. Diga-Ihe que, palavra de honra, nio es~ ‘ser nada inteligente, Além disso estou com pressa. no de me ir embora, — Tio Vania, pegaste na morfina? OV —Pegou, tenho acerteza. a. (Beija-the as méos.) Meu querido, meu bom 3! (Chora. bondos 05 dos noss samente nos papéis que estdo em cima da mesa.) Jos tudo atrasado. OV (pde 0 frasco na mala e aperta as correias) — gora ja posso ir ELENA ANDREEVNA (entra) — Ah, Ivan Pet std aqui! Vamos partir jé. Va ter com o Ale cle quer dizer-Ihe qualquer coisa, SONIA — Vé If, io Vania. (Pega no braco de ‘ki) Vamos, O papsie tu tém de fazer as pazes. cessério. Sonia e Véinitski saem. ELENA ANDREEVNA — You partir. (Estende a mio « Asirov.) Adeus. ASTROV —16) ELENA ANDREEVNA — Os eavalos jd estdo atrelados. ASTROY — Adeus. ELENA ANDREEVNA — Hoje prometeusme irse em ‘bora daqui ASTROV — Lembro-me disso. 16 me vou embora. Pausa, ‘Assustou-se? (Pega na mdo dela.) Isto & assim tio 2s sustadoc? ELENA ANDREEVNA— BE. ASTROV —Néo quer ficar? Nio? Amanhd, na reserva ELENA ANDREEVNA — Nao... Esti decidido... E esto» 1 olhar agora para si sem medo precisamente po jiestd decidido que nos vamos... Pego-lhe 86 uma pense em mim da melhor maneira. Gostai me respeitasse ASTROV — Essa agora! (Gesto de impaciéncia) Fi ‘peyorlhe. Confesse que nio tem nada que fazer mundo, que mio tem qualquer objectivo na vida 80 tem nada que Ihe ocupe a atenglo, que, em qual- er caso, mais cedo ou mais tarde vai ceder ao senti- ato — € inevitivel. Entio, € melhor que nao acon- ‘em Khéskov ou em Kursk, mas aqui, no seio da __ elo menos € poético, 0 Outono até vai bo- HA 4 uma reserva florestal, solares meio des- os 20 gosto de Turpuéne... WA ANDREEVNA — Li ofmico é... Estou zangada 20, mus mesmo assim... vou recordé-lo com pra- "E uum homem interessante, original. Nunca mais ara que disfargar? Fi- ym a gota do seu marido ¢ com ele e a Senhora — "6 estranho, ¢ tenho acerteza de que, ‘a devastagao seria terivel. Seria.o meu fim, ¢«8e~ at ASTROV (para Teléguin) — Picadinho, diz 16 que i, ‘gam também os meus avalos. ‘TELEGUIN —Com certeza, amiguinho. (Sai.) Ficam apenas Astrov e Véinitsk. ASTROV (tira as tnas de cima da mesa e arrumacs ng ala) — Porque no vais vé-los partir? ‘VOINITSKI — Que eles s¢ vio embora, eu. n30 poss, Estou mal Preciso de me ocupar em qualque 4 Trabalhar,trabalhar! (Remexe os paps em cima da mesa.) Pausa; ouvem-se 0s guizos ASTROV — Partiram. O professor est feliz, cor 7a, Agora nfo volta cf, nem que the paguem. [MARINA (entra) — LA se foram. (Senta-se na etricota a meia.) SONIA (entra) — LA tenham boa viag MARIA VASSILIEVNA (entra devagar) — Lé se foram! (Senta-se ¢ mergulha na leitura.) se KI (escreve) — «Conta tale tal..do senor.» éontinuam a escrever em silencio. (boceja) — Apetece-me fazer 6-6. OV — Silencio, Arranham as pens, canta 0 grilo. .. Nao me apetece ir embora vaton.. $6 meet eno despedir-me amigos. despedir-me da minha mesa © no! (Arruma os cartogramas a pasta.) A — Para qué tanta pressa? Ficavas mais um bo- Nao paso. sscreve) — «B restam, da divida antiga, setenta e cinco copeques..» ich, 08 cavalos esti prontos. s outra mala e a pasta.) Toma. Vé H6, no me oles a pasta MogO — Sim senor. (Sa.) FROV — Nio € proviso. Prono, fiquem bem! (Para ASTROV — Ora bem... (Aproximasedeles parse }) Nao me acompanhes, mie Marina. Nao vale pedir) - SONIA — Quando nos yoltaremos a ver? ‘ASTROV — Acho que nunca antes do Verio. No (escreve) — «Dia dois de Fevereiro, éleo — fe libtas.. Dia dezasseis de Fevereiro, éleo outra MARINA — Como &, vais sem tomar cha? ASTROV — Nao quero, mie Marina J ovem.se os guizos MARINA — Se calhar um copinho de ves, ha? 4 ASTROV (indeciso) —Talvez Marina sai (Depois de uma pause.) 0 meu cavalo do lado a0 (volta, pae a vela em cima da mesa) — LA se SKI (faz contas no dbaco ¢ aponta) — Tota levava para o bebedouro, uinze... vinte e cinco. INA (boceja) — Oh, 0s peeados do mundo. ta-se ao lado da por- isinho, naa de vodea e um pedaco de pao) — Toma, Q Astrov bebe a vodca SITSKI (para Sonia, afagando-the 0 cabelo com a Bom proveito, paizinho, (Faz-the uma vénia profunde.) 2) — Oh, como eu sofro, minha filha! Se soubesses ‘Come 0 pho, mo isto me dit 80 ; ‘Anton Tehékhov O Tio Vania ‘Cenas da vida aldel em quatro actos a indice PRIMEIRO ACTO SEGUNDO ACTO TTERCEIRO ACTO ‘QUARTO ACTO

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