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AS DISTINTAS FACES DO COMPORTAMENTO ANIMAL . Kleber Del-Claro, Fabio Prezoto e José Sabino (orgs.) A ae 7a Sze) ANHANGUERA EDUCACIONAL ‘ * ny i335), =U © 2008 Anhanguera Educacional Proibida a reproduc total ou parcial por qualquer meio de impressio, em forma idéntica, resumida ou modificada, em lingua portuguesa ou qualquer outro idioma, Impresso no Brasil 2008. A / Fine EES UNIDERP ANHANGUERA EDUCACIONAL UNIDERP Prof, Pedro Chaves dog Santos Filho Chancelor Profa, Ana Marin Costa de Sousa Reitora da UNIDERP Profa, Leocddia Agiaé Petry Lesry Vice-Reitora Prof. Antonio Carbonari Netto Presidente Prof, José Luis Poli Vice-Presidente Académico Prof Maria Elisa Ehrhardt Carbonari ‘Vice-Presidente de Pesquisa, Extensio e Pés-Graduagio Alex Carbonari Vice-Presidente de Desenvolvimento Ricardo Scavazza Vice-Presidente de Operagbes ‘Marcos Lima Verde Guimaries Jiior ‘Viee-Presidente Administrativo-Finaneeiro Dados Internacionais de Catalogagio na Publicagio (CIP) Ficha eatalografica elaborada pela Biblioteca Central da UNIDERB [As distintas faces do comportamento animal / Kleber Del-Claro, Fabio Prezoto pels ¢ José Sabino; edigdo especial — Valinhos, SP : Anhanguera Educacional, 2008. 422 pil 24cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-7704-084-1 1. Etologia 2. Ecologia comportamental 3. Psicobiologia 4. Zoologia I. Del- Claro, Kleber. Il. Prezoto, Fabio, III, Sabino, José. IV. Titulo. V. Universidade ‘para 0 Desenvolvimento do Estado e da Regio do Pantanal DD 21 ed. 591 5915 Revisiio: Edmara Moraes Veloso, Liicia Helena Paula do Canto e Aloizo Rodrigues dos Santos Produedo de Arte: Adalberto Sousa, Kétia Barbosa ¢ Ricardo Rojas Anhanguera Edueactonal S/A. ‘Alameda Maria Tereza, 2000 Bairro Dois Cérvegos ~ Valinhos/SP CEP: 13278-181 1.11 COMPORTAMENTO DE REPTEIS Carlos Frederico D. Rocha Mortique Van Sluys Os répteis sao vertebrados terrestres caracterizados pela presen- ca de escamas impermeaveis 4 Agua ao longo de todo o corpo e por terem a reproducdo totalmente independente do meio aquatico, uma "eZ que 0s Ovos sdo envolvidos por uma casca também impermeavel. es sdo os primeiros vertebrados tetrépodos (de quatro membros) to- Imente adaptados a uma existéncia exclusivamente terrestre. Essa onquista de um ambiente totalmente novo permitiu o surgimento de uitas novas espécies com histérias de vida variadas. Os répteis in- mem os lagartos, as serpentes, os crocodilianos (jacarés e crocodilos), quel6nios (tartarugas, jabutis e cAgados), os anfisbenideos (cobras- as) e o tuatara (um género de réptil primitivo que é endémico da sova Zelandia e s6 possui duas espécies vivas). Durante muito tempo, os répteis foram considerados animais cnferiores” e a sua inteligéncia e capacidade de aprendizagem foram jiientemente questionadas. O estudo dos répteis, juntamente com de anfibios, 6 chamado de Herpetologia (herpeton é um termo grego significa “coisa rastejante”). Até hoje, serpentes, jacarés e lagartos animais que causam repulsa para muitos. No entanto, a caracteris- biolégica de serem menos dependentes de manter sua temperatu- corp6rea constante (como as aves e os mamiferos) propicia que os is vivam em ambientes considerados indspitos tais como desertos com baixa disponibilidade de alimento. A diversidade de padrdes portamentais acompanha a grande diversidade morfolégica e fi- sgica observada entre os répteis. Ocientista sueco Carolus Linnaeus que, no século XVIII, estabe- leceu os fundamentos da nomenclatura cientifica, descreveu os e os anfibios como sendo “criaturas sujas, feias e repugnantes”. entanto, os répteis sao animais interessantes, relativamente faceis estudar e tém sido objeto de estudos de comportamento ha te tempo. Em termos gerais, ha um claro desvio em que os pa comportamentais de lagartos e quelénios sejam mais conhecidos que os dos outros répteis. Isso se deve a sua maior facilidade de contro e estudo do que a auséncia de comportamentos por parte outros grupos de répteis. As cobras-cegas ou anfisbenideos sao mais fossérios (vivem enterrados) e, portanto, sao dificeis de encontrados e praticamente nada se sabe sobre os seus comport: tos. Serpentes sao geralmente solitarias, o que dificulta seu encon’ conseqiientemente, 0 estudo de seu comportamento. Com relacao. tuatara, por ser de um grupo de répteis com poucas espécies, varios seus comportamentos sao conhecidos. Estudos abordando a capacidade de aprendizagem datam inicio do século XX, quando foi observado que, ao contrario do que pensava, os répteis nao sao animais ‘esttipidos’, mas sim sao ca de aprender de acordo com experiéncias especificas. Os répteis, px cipalmente os quel6nios, foram usados em muitos estudos de portamento envolvendo a aprendizagem, desde 0 inicio do século Na Europa, os estudos sobre aprendizagem em répteis comecaram década de 1930, abordando principalmente lagartos. Para os ow grupos de répteis, ha proporcionalmente menos informacao dis; vel sobre a aprendizagem. Na década de 1940, dois artigos publicados mudaram um co to vigente sobre os répteis. Antes da década de 1920, os répteis considerados “animais de sangue frio” em oposicao aos de “sanz: quente” (aves e mamiferos). Posteriormente, a denominacéo mudo= para animais pecilotérmicos, significando que as temperaturas corp6- reas variam de acordo com 0 ambiente. Esses conceitos eram dogmas estabelecidos, apesar de haver evidéncias acumuladas paralelamen- te mostrando que essas generalizacdes eram inadequadas. Os artigos publicados por Charles Bogert e Robert Cowles (COWLES & BOGERT 1944, BOGERT 1949), com base em estudos empiricos e experimentos naturais, apresentam os répteis, principalmente lagartos, como pos- suindo um controle ativo de sua temperatura corp6rea. Esse controle ativo ocorre nao s6 por meios fisiolégicos, mas também, comporta- mentais. Os comportamentos de regulacaéo da temperatura adotados por lagartos incluem deslocamentos entre locais insolados e sombre- ados e entre micro-habitats mais frios ou mais quentes, mudangas de posturas e posigGes, alterando a exposicao a fontes de calor e regulan- do os horarios de atividade. Carpenter e Ferguson (1977), com base em extensa reviséo da literatura, compilaram a informacdo disponivel até a época sobre os padrdes comportamentais relacionados a encontros agonisticos, corte = c6pula exibidos por répteis. Eles consideraram apenas aqueles com- Portamentos estereotipados, isto é, aqueles cuja ‘performance’ consis- ® de padrées motores invaridveis. Essa foi uma das primeiras catalo- =acoes e permitiu que comparacdes pudessem ser efetuadas entre os =upos de répteis. Por exemplo, lagartos, entre os répteis, sao que tém ‘5 repert6rios visuais mais evoluidos enquanto serpentes e quelénios Gependem mais de comunicacao olfativa e tatil apesar de também exi- Girem varios sinais visuais. Crocodilianos e 0 tuatara aparentemente dependem mais da comunicacao olfativa, auditiva e t As primeiras revisdes sobre as relacdes espaciais dos répteis sbordando os padrées de espacamento, areas de vida e territorialida- ac, avaliando a existéncia ou nao de padrées nessas relagdes dalam 177 178 do final da década de 1950/inicio da década de 1960 e sao fortem: desviadas para lagartos (STAMPS 1977). Para outros grupos de rép' (por ex. quelénios, serpentes e crocodilianos), essas relagdes espacizs € os comportamentos envolvidos continuam com dados insuficientes Esse desvio deve-se principalmente a facilidade de encontro, observ cao e manipulacdo experimental dos lagartos em relacdo aos outres répteis. O actimulo de informagGes decorrentes dos estudos sobre te _ ritorialidade em répteis, principalmente para lagartos, permite a idew tificagdo de padrées. Por exemplo, lagartos da Sub-ordem Iguania = crocodilianos, de modo geral, sdo considerados territoriais, enquante. serpentes e quelénios aparentemente nao defendem territério. O comportamento social foi menos estudado em répteis do que em qualquer outro grupo de vertebrados. Os estudos existentes limi tam-se basicamente a estudos de territorialidade em lagartos e cuida— do parental em crocodilianos. A partir da década de 1960, varios es tudos foram desenvolvidos, a maioria em situac6es de cativeiro, com comportamento social em serpentes. Esses estudos mostram que os comportamentos de corte e cépula para esses répteis sfio mais elabo- rados do que se pensava inicialmentc, com base nas evidéncias de que serpentes sao animais solitarios. Mais recentemente, a percepcéo de que a distribuicéo de seme- Ihancas ou diferencas em comportamentos em um grupo de espé- cies tende a ser correlacionado com as relagées filogenéticas dentro do grupo chegou até os répteis. Essa percepcao abriu todo um novo campo de possibilidades de testes de hipéteses sobre a evolucado de diferentes comportamentos e representou um importante avango no conhecimento dos padrées comportamentais exibidos pelos répteis. Por exemplo, Martins (1994) avalia sob o ponto de vista filogenético a evolucao da territorialidade em lagartos. O padrao geral encontrado por essa autora foi de que familias filogeneticamente proximas eram territoriais. No entanto, ha enorme variacao entre espécies no compor- tamento territorial exibido. Por exemplo, lagartos podem diferir no tipo de area sendo defendida e no tipo de comportamento agressivo adotado e também exibir variacdo espacial e sazonal nesses fatores. O Brasil é um dos poucos paises do planeta que apresenta me- gadiversidade. Contudo, frente a riqueza de organismos que ocorrem em seus biomas, podemos considerar que o conhecimento sobre os di- versos aspectos da biologia desses organismos ainda é relativamente incipiente. Isso mostra que ha muito que ser estudado e compreen- dido em diferentes Areas, incluindo a de Comportamento. Os estudos sobre comportamento de répteis no Brasil sio um campo aberto e ha muita coisa a ser estudada. Considerando a elevada diversidade de espécies que o pais possui, os estudos com comportamento sao pro- porcionalmente poucos. Varios estudos foram feitos no Brasil sobre -omportamento de répteis, principalmente com lagartos, serpentes e quel6nios (esses tiltimos, principalmente no Jardim Zoolégico de S40 Paulo e pelo projeto TAMAR). Com serpentes, podemos citar os es- dos desenvulvidus por Ivan Sazima (UNICAMP) e Marcio Martins USP). Em termos gerais, os estudos sobre comportamento de serpen- es brasileiras abordaram basicamente mecanismos defensivos € com- portamento de forrageamento. Os répteis sdo um grupo de organismos interessantes para estu- ios comportamentais. Além disso, varias caracteristicas da biologia ou : historia de vida desses organismos facilitam esses estudos. Muitos épteis (especialmente os lagartos) so em geral abundantes, de facil vi- ualizacao e observacao (muitos sao comportamentalmente evidentes

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