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BIBLIOTECA DE CIfNCIAS SOCIAIS Sociologia Tom Bottomore e Robert Nisbet ORGANIZADORES HISTORIA DA _ ANALISE SOGIOLOGICA Tradugio de ‘hee. Waltensir Dutra ZAHAR EDITORES Rio de Janeiro “Titulo original A ltstory of Sociological Analysis ‘Tragugéo, autorizada, da primeira edicdo nc “gm 1978 por Basic Books Ine., Ni z= onwrioht @ 1978 by Rese Conk © 1078 ty tae ; All rights reserve: ES & i 8 — 8 Direites reservados, =, : Z Proibida reprodueso (Lat : SES 4 Bese © 98 e239 fs 8] #58 22 8 $3 2, R Dieitos para a igua portuguesa adquiriéos por ZAHAR EDITORES S.A. €P 207 (ZC-00) Rio de Ianciro ‘que se reservam a propriedade desta versto Gompesto © imprewo por Taware & ‘Tristio — Grifca ¢ Editors de Lior Lida, 2 Raw 20 de Abr 28, sla 103, Tio de Sane, Ra pata Zaha’ baiteres, Tmpresio no Brasil indice ‘AlNmonugho — Tom Bottomore © Robert Nisbet 1 0 Pmsnmwro Socordaico No SécuLO. XVINI — Robert Bier- edt... aiseetiettt i 2 Troms no Procensso, Desuwvorvnmmnro & EvoLucio — Ken rneth Bock .. a i tia 3 Constnvacmswo — Robert Nisber .. 4 Musxmso x Socotoaa — Tom Bottomore . : : A Formagio do Pensamento de Marx, 166; O Desenvolvioento do Marxiamo, 175; A Hegemonia Bolchevigue, 18/; © Renasci mento do Pensamento, 167 3 A Socotocu Auimk A Broca pe Max Wester — Julien Freund Ferdinand Ténnies, 209; Georg Simmel, 215; Max Weber, 223; © Periodo dos Epigonos, 246 6 Esme Domes — Edward 4. Tiryekion 7 0 Fosmusuo 2 sxuk Guentos — Anthony Giddens . Comte, 319; A Influéscin’ de Comte, 324; O Positivisima L6- ico € 0 Empirismo Modemo, 332; A Filesolia Positivista © a Sociologia Modema, 238; A Filosofia da Cléncia Pés-Positivista, 344; A Crita do Positivismo na Filosofia de Frankfurt, 357, Comentérios sobre a Filosofia da Cifncia Natural, 355; As Ciencias Natnrais © Sociais, 366 8 Tenpiierss Anmmcanas — Lewis A. Cor eecccescesessee Fervor Moral e Reforma Social, 379; O Ambiente de Refor- ma, 381; A Sociologia Toma-se uma Disciplina Academica, 3845 ‘Sumner © Ward, 386; Ross e Veblen, 395; Cooley e Mead, 402: ‘Thomas © Park, 409 1» us 166 252 317 319 a 2 B “ 5 6 ” Iunice Ovomismeo Trois ANALfnco. HISTORIA DA ANALISE SOCIOLOGICA © Fuscoxsnsuo — Wilbert £, Moore... taddaae © Problema das Origens, 424; A Perspectiva dos Sistemas, #29: Funcionalismo Estrutural, 439; A Perspectiva Neo-Revolucio- nivia, 450 Teomas DE Agio Soc, — Alan Dawe A Tuowa m4 roca — Harry C, Bredemeler svesesseecesssee A Natureza da Teoria, 548; Agio Todividual, 352; Aspectos da ‘Troca, 563; Modos de Coordenacio, 571; Complexidade © Melos Intervenientes, 577; Os Sentimentos Morais, 577; Os Colapsos, 583 Iremacommio — Berenice M. Fisher © Anselm L. Strauss . Uma Breve Cronologis, $98; Fundamentos Histéricos, 600; ‘Presuposigées: Mudangs, Racionalidade, Criatividade Associa ‘io, Liberdade e Coapio, 602; Thomas © Park, 604; Sucessores Sociolézicos, 619; © Aspecio Meadiano do Interacionismo, 629; Grtioas © Reagdes, 632; Outras Tendéacias, 635; Cinco Areas Probleméticas, 636 Fenomsoroc © SocioLoau — Kurt H. Wolff . Fenomenologia, 651; Criticas da Fenomenologia, 659; Fenome- rologia e Marxismo, 662; Schutz, 670; Fenomenologia © Socio- login, 677; Etnometodolosia, 692 Esmuronausmo — Tom Bottomore o Robert Nisbet Batruturalismo Francés, 729; Estruturalismo Alemio, 7% truturalismo Recente, 769 Esmanmcacko Socat. — Frank Parkin es Classe © staius, 783; Propriedade, 791; © Estado, 802; Btni dade, 807; Genero, 813 Pour E Auronpine — Sieven Lukes Aniuuse Socoréctca x Potines Soci, — Janes Coleman . ‘Teoriss do Papel Social da Soclologia, #22; Moderna Pesquisa de Politica Social, 993; Pesquisa de Politica Social nes Décedas de 1950 1970, 996 aa 15 3a 396 650 m 70 as sa si7 OTE Introdugio Tom Borromore e ROBERT NISBET A. jidéia deste tivro surgiu.principalmente do interesse que ha muito os dois organizadores tinham pelas diversas formas tomadas Pela Sociologia como disciplina intelectual, embora se tenha ins. pirado mais imediatamente nas reflexdes sobre a contribuigéo feita & istéria da Economia por J. A. Schumpeter, em History of Eronomic Analysis. Examinando as histbrias existentes da. Sock logia, compreendemos que, apesar de muitos estudos esclarecedo. Fes sobre pensadores ou episédios isolados, faltava um trabalho eral que mostrasse, com a mesma riqueza de detalhes do. livro de Schumpeter, como a anélise sociclégica se desenvolveu, come os varios esquemas tebricos foram elaborados ¢ modilicados, qual 42 relagdo que tém entre si, como os debates tebricos surgiram, es- tenderam-se ¢ foram finalmente resolvidos ott postos de lado. Quando passamos a examinar como essa histéria poderia, ser escrita, pareceu-nos evidente-que o ambito-excepcionalmente arnplo da analise sociolégica — pretendendo, como pretende, abarcar a. ida social “como um todo” — ea enorme diversidade das Otientasées tedrieas, que aumentou nos dltimos anos, tornava zconselhivel uma obra coletiva, na qual as diferentes teotias seriam examinadas de maneira exaustiva por estudiosos com ine teresse € competéncia especiais em cada Area. Mas julgamos tam. bém ser essencial complementar esse exame do que se poderia chamar de “escolas tedricas” com duas outras formas principais de estudos: uma, relacionada com as varias orientagies metodold- gicas de um carter muito geral, que coexistiram durante tola a hiistéria de nossa disciplina, encontraram expressio em diversos esquemas tedricos ¢ deram origem, ocasionalmente, a debates. me= 8 HISTORIA DA ANALISE SOCIOLSGICA todol6gicos importantes; a outra, relacionada com certas questGes tedricas amplas — a significacio do poder e estratificagao, a rela gio entre a andlise sociolégica e a vida social pritica — com as quais todas as principais escolas de teoria sociolégica se tiveram de haver. Finalmente, consideramos itil incluir, como tipo de exemplo especffico, uma exposicéo sobre certos aspectos da andl se sociolégica nos Estados Unidos, onde a Sociologia se desen- Volven mais répida e amplamente do que em qualquer outro lugar @, em conseqiiéncia, teve grande influéncia histérica, A concepgio inicial deste livro baseou-se também numa dis- ‘tinglo bastante rigorosa entre a anilise sociolégica e 0 pensamen- to social num sentido mais amplo. Nossa intengio nfo foi apre- sentar, nem mesmo rapidamente, um panorama hist6rico do de- senvolvimento do pensamento, sobre a-sociedade ¢ situar 2 Socio- Jogia nesse contexto, ¢ sim delinear o aparecimento © desenvolvi- mento de uma ‘“‘ciéncia nova”, que tem sido um importante elemen- to na histéria das Ciencias Sociais modernas desde o sécalo XVIII. Nossos colaboradores ngo ignoraram, totalmente os pre- ursores, mas, como nds, concentraram sua atencio, firmemente, nna Sociclogia como ciéncia tedrica e empfrica, que $5 assumiu uma forma definida nos dois éitimos séculos, e mais especialmente no tual século, Essa distingfo, entre o pensamento social — cuja historia € equivalente & histéria de humanidade — e a andlise s0- iolégica, & examinada de varias maneiras nos primeiros capitulos deste livro, mas exige pelo menos uma exposigao preliminar, aqui, Como Schumpeter em stia discussio da Economia, temos de in- dagar se a Sociologia & uma-ciéncia; ¢, também como ele, temos de reconhecer que a propria idéia de anilise sociolégica, de uma ciéncia sociolégica, & sob certos, aspectos, obscura, parcialmente cculta pelo pée a fuimaga de.ruitas batalhas, algumas das quais continuam .eem esmorecimento até hoje. Nao ¢ este o lugar para entrarmos em detalhe sobre as controvérsias da filosofia da cién- cia relacionadas com a natuteza.da ciéncia em.geral, sua separa- sao da nio-ciéncia,? ¢ 0 cariter particular e 05 problenias das Giéncias Sociais, alguns dos quais sie examinados sob varios as- pectos nos dltimos capitulos, com. referéncia a determinadas ‘opiniGes tedricas, e tratados mais diretamente no capitulo sobre ‘© positivismo. Podemos, agora, abordar @ questio observando al- sgumas das caracteristicas que constituem 2 anilise sociotégica coma ‘tma forma sistemética de indagagio, dispondo de uma série ca- racteristica, embora variada, de conceitos e métodos de pesquisa ‘A. abertura do pensamento social que produziu a Sociologia pode ser interpretada de varias manciras ¢ foi, certamente, produto de muitas influéncias diferentes, mas um de seus aspectos mais 7 aE OCS INTRODUCKO, 9 importantes foi sem diivida: o conecito: novo ¢ mais preciso da “sociedade” como objeto de estudo, bem distinto do Estado e da setor politico em geral? bem\como de uma vaga histria universal da humanidade ¢ das ‘historias individuais de “povos", “Estados” cou “civiizagées”. A iddia de ““sociedade” foi. desenvolvida em social, sistemas sociais e insttuigdes socials anatises da estrutar que formaram 0 niicleo central. da teoria socioldgica pelo menos a partir de Marx; ¢ todas as diferentes escolas de pensamento que examinamos neste volume so outras tantas tentativas de definie os elementos fundamentais da estrutura social — tanto os que sio universais como os que tém um cardter hist6rico particular — ¢ oferecer algumas explicagées on interpretagées da unidade © per- sisténcia das sociedades, bem como de suas tenses internas e de seu potencial de transformagio, Constituida como disciplina cientifica por essa definicio de seu objeto, a Sociologia, embora vasta, canhestra ¢ passivel de con ceituagses extremamente variadas, desenvolveu-se de uma maneira que pode ser considerada ‘como razoavelmente normal, apesar do desenvolvimento continuado de paradigmas alternatives e da controvérsia tedrica entre seus defensores, através da acumulagio de um corpo ordenado de conhecimento resultante da pesquisa em- Pirica, dirigida por um ow outro paradigma, e através da espe. ializagéo da pesquisa, Nesse progresso, compreendendo o que pre- tende ser uma descric#o e avaliacio imparcial c critica das teorias € uma colecio € disposicio objetiva de dados empiricos, hi, na verdade, varios aspectos. insatisfatérios. Um deles & a cocxistén- cia, em longos periodos de tempo, de uma multiplicidade de para- digmas, sem que nenfum deles predomine claramente; dai poder se dizer, de um lado, que nenhuma teoria socioldgica chega pro- priamente a morrer, mas entra em “coma”, sendo sempre capaz de um despertar subseqiiente; e, por outro lado, que nio hé “re: Yolugées cientificas” reais nas quais um paradigma reinante seja inequivocamente deposto € outro se torne soberano. Uma segunda caracteristica € a proximidade entre 0 conhecimento cientifico pro duzido pela Sociologia ¢ 0 conhecimento ordinirio do senso co. mum, 0 que & por vezes proclamado de maneira extrema polas re- feréncias & “obviedade” das teorias © investigagSes socloldgicas, quando despidas de sua, camada protetora de jargio® Essas duas caracteristicas explicam grande parte do descon- tentamento que os préprios socidlogos experimentam por vezes em relagio ao estado, € ao progresso, de sua disciplina. Nao obstante, elas fio devem ser exageradas. As constatagées da pesqrtisa so ciolégica nem sempre so trufsmos: na verdade podem opor-se as conviegées do senso comum.ordindrio, sobre um determinado as- 10 HISTORIA DA ANALISE SOCIOLOGICA: sunto, ow podem confirmar uma concfusio “ébvia” contra outra, contraditéria mas igualmente “ébvia” e generalizada, ou podem proprocionar conhecimentos de fendmenos que nfo foram devida- mente observados pelo senso comum. O mais importante para 0 tema deste livro 0 fato de que a anélise sociolégica, mesmo que tenha sua fonte original numa visio de senso comum ‘da interagéo humana, nfo s6 contribui para um entendimento sistemético, am- plo e rigoroso, mas também transforma nosso conhecimento do mundo social pelas suas novas conceituacdes. A anilise de Marx “ sobre a produgéo de mercadorias, o estudo de Max Weber sobre as selagées entre a ética protestante ¢ 0 capitalismo, a concepeio de Duricheim sobre as bases da solidariedade social ¢ a andlise es- ‘trutural do parentesco, tudo isso proporciona um novo conheci- mento que no era antes parte da visio do mundo oferecida pelo senso comum, e que em parte foi mais tarde incorporado, de vé- las maneiras, ao conhecimento cotidian Os problemas criados pela multiplicidade dos paradigmas na Sociologia — amplamente revelados no presente volume — podem ser examinados de vérios aspectos. Evidentemente, os vérfos pa- radigmas concorrentes surgem dentro de uma arena intelectual de finida, © pelo menos sob esse aspecto pressupGem um acordo am- plo, embora mais implicito do que explicto, sobre o que constitui © dominio especifico e os problemas cla Sociologia. Na medida em que isso nio ocorre —- eh controvérsias de grande alcance evi- dente sobre a natureza ¢ a validade da Sociologia em si, ou de qualquer ciéncia social geral — entio nfo podemos pretender que exista uma concepgéo wniversalmente aceita do objeto da anilise sociolégica, que proparcione 0 contexto de toda disputa teérica, Essa incerteza, a. presenga latente de imagens radicalmente opos- tas, ot incomensuréveis, do homem ¢ da sociedade, como pano de fando de diversos esquemas tedricos, oferece dificuldades sérias fem relagio & solucio de desacordos, & passagem de um paradig- ma pata outro, om 3 avaliaglo do progresso cientifico na Socio- logis. ‘Sera realmente possivel falar de progresso? Gostariamos, sem Alvida, de afrmar que 0 desenvolvimento inal da Sociologia re senfou um progresso claro no estudo da sociedade humana pela Ris deftaigto fais clara do objeto do estudo e oun formulagio de novos temas e problemas de anilise. E a partir de meados do século XIX até principios do século XX — nas obras de Marx, Weber e Durkheim — surgiram construgies tedricas ousadas, exposigdes incisivas de método socioldgico © importantes estudos de elementos fundamentais na estrutura social que, em conjunto, fizeram da Sociologia um modo rigoroso de indagagéo cientifica ANTRODUGKO. uw © provocaram uma grande expiinsio das investigagSes socisis em- piticas. Nao pode haver divida de que essas realizagSes represen fam um avango considerdvel além das formulagées mais especula- tivas de Saint-Simon e Comte, ou dos pensadores conservadores de principios do sécwlo XIX, por mais importantes que tenham sido como precursores. Edward Tizyakian observa que 0 projeto da vida de Durkheim era estabelecer a Sociologia como uma cién- cia rigorosa, e que ele “proporcionox a disciplina seu primeiro paradigma cientifico abrangente”, # mas isso se poderia dizer tam- ‘bém, com pequenas modifieagtes de termos, da obra de Marx, que hha muito demonstrou — nio obstante os|periodos ocasionais de “modorra dogmética” entre os préprios manxistas — aquela ca pacidade de criar novos problemas de pesquisa e provocar con- trovérsias cientificas, que € uma das indicagées do vigor de um paradigia cient Mas pode parecer que 2 pergunta mais importante a ser feita, ‘em relagéo a0 progresso de anilise sociolégica, € se houve, desde a época brithante ma qual as bases da disciplina foram estabelec das, qualquer progresso definitivo seja na formulagio de uma teoria geral ou de teorias mais limitadas sobre fendmenos sociais particulates, e na critica e rejeicfo de teorias mais antigas, Em nossa opiniio, esse questo & de grande complexidade, ¢ nio pode ser respondida de maneira simples. De um lado, € perfeitamente evidente que 08 tipos de andlise sociolégica representados.pelas obras de Marx, Weber e Durkheim ainda possuem autoridade © influéncia € esto longe de terem sido postos de lado. Umm dos aspectos da situagio € que ainda nfo surgiu no séewlo XX nenhum paradigma que avance claramente’ além daqueles que foram pro- duzidos na chamada “idade de ouro” da Sociologia. A abordagem ais proxima dese paradigma provavelmente sero funcionalis- ‘mo estrutural das décadas de 1940 e 1950, mas isso nio repre- sentou uma reformulagio geral da teoria sociolégica, pois embo- ra incorporasse (especialmente na obra de Taleott Parsons) al- guns importantes conceitos tebricos de Weber e Durcheim ¢ rocurasse ir além deles na formulagio de um novo esquema con- eptual, nao confrontou diretamente seja a teoria marxista, ou outros ‘tipos menos destacados do pensamento sociolégico, ‘nem tentou inclui-los em sua sintese. Esse exemplo indica, porém, uma das manciras pelas quais as teorias sociolégicas so formuladas ¢ reformuladas, pois a ascensio e subseqiiente declinio do funciona Tismo estrutural podem ser considerados como uma oscilacio entre duas Enfases contrastantes no estudo da sociedade humana — da continuidade estrutural, interligagio, unidade cultural; ow da des- continuidade, propensio & mudanga ¢ interesses e valores confli- BR HISTORIA DA ANALISE SOCIOLOGICA tantes — no curso das quais, porém, uma maior clareza e siste- matizagio conceptuais podem ser conseguidas.® No todo, porém, o Proceso pode parecer mais ciclico do que Hinear; © no caso espe- cifico do funcionatismo as dificuldades e criticas que levaram 20 seu declinio — mas no desaparecimento — estavam intimamen- te associadas 20 renascimento do marxismo como teoria sociologi- ca de importéncia, ¢ nfo com o aparecimento de uma teoria nova ou de um paradigma mais geral que daria uma orientagio total tente nova a anilise sociolégica. : Mesmo que, como nossa argumentagio sugere, seja. impossi- vel demonstrar 0 aparecimento, pelo menos ent épocas recentes, de quaisquer mudangas importantes de paradigmas que tenhany trans formado todo 0 campo de indagacgo, continua havendo a possi- bilidade de que um progresso significative teaha ocorrido no de- seavolvimento de algumas teorias particulares. Sem divida, como muitos dos capitulos seguintes mostrario, houve progresso no es- clarecimento ¢ reformulacio de conceitos fundamentais, na elimi- nagio de outros que nfo suportaram o exame eritico (por exem- io, algumas analogias orgénicas) ¢ na revisio de proposigdes d ivadas de teorias especificas. Mas houve também uma tendénc de que 0 trabalho em qualquer estrutura teérica se desenvolvesse mais ou menos da mesma maneira pela qual se desenvolve o tra- Dalho relacionado com os, paradigmas mais gerais, on seja, produ. zindo concepgées alternativas que passam’ a coexistir sem qualquer solugio efetiva das diferengas entre clas ‘Um bom exemple € proporcionado pelo desenvolvimento de pensamento marxista nas iltimas décadas; caracterizados certa- mente por debates tedricos muito intensos, por algumas notiveis reinterpretagées do método de Marx, e por muitas andlises con- ceptuais esclarecedoras, esses estudos levaram a formagio de vé- Has “escolas” marxistas nitidamente demarcadas, e nfo A consoli- dagio de uma éiica teoria marxista, cientificamente mais avangada Dificuldades semelhantes no estabelecimento de uma linha de avango clara surgitdo se passarmos do exame de esquemas tebi- 08 especificos, como o marsismo ou 0 funcionalismo, para o estado das_ diversas '¢ sticessivas_maneitas de analisar_determinados fendmenos sociais. Como Frank Parkin observa com respeito a estratificagio social, a teoria do assunto “...nfo tem historia, no sentido de um corpo cumulativo de conhecimento com urn pads de desenvolvimento, de uma situagio mais primitiva para outra mais sofisticads”, ¢ “...a maior parte daquilo que é considerado hoje como teoria de classe ou estratifieagio tem suas origens quase que exclusivamente nos escritos de Marx e Engels, Max Weber e da escola de Pareto-Mosca”. * Nesse caso, portanto — e isso se aplica mrRopucio. 3 também a outros campos de indagasio considerados em outros capitulos deste volume —~ a contribuicio de pensadotes posteriores s¢ parece ter limitado & modificagio, de varias maneiras, das prine cipais teorias formuladas numa épota anterior e introdugao de novos elementos que devem ser levados em conta, como por exem- plo a significaglo da etnicidade e género na estratificacdo social, Q progresso que ocorret relacionow-se principalmente com o aper- feicoamento ¢ as modificagdes de teorias existentes, sem inovagses tebricas notéveis ou a absorgio de teorias rivais numa concepelo mais ampla. Ao mesmo tempo, pode-se dizer, sem exagero, que certas anlises mostraram-se poteo titeis e foram em grande parte ppostas de lado, de modo que, como observa Parkin: *...6 dificil Imaginar 0 aparecimento de um novo equivalente da escola de ‘estratifcacao, de Warner”. 7 Mas se, como a discussio anterior sugere, nfo houve revohi= ses cientificas de éxito na Sociologia no tiltime meio século, houve sem diivida variagdes bastante acentuadas nas maneiras de abor- dar a matéria ¢ nos tipos de problemas examinados, como se nota, or exemplo, pela ascensio e queda do funcfonalismo e pela eres” Cente influéncia, nos sltimos anos, do marxismo da fenomenolo- gia, Devemos indagar, portanto, como ocorrem essas variagoes ¢, em particular, examinar se esses movimentos de pensamento nig tém sua fonte tanto nas mudangas que estio ocorrendo no amb gente social ¢ cultural como nos debates e descobertas tedricos na Sociologia como disciptina cientifica Uma das maneiras de colocar essa questio 6 perguntar se a histéria da anilise sociolégica no 6, afinal de contas, simplesmen- te uma historia de ideotogins, retratando as varias ¢ mutavels tentativas de expressar num corpo de pensamento social, ow numa visio do mundo, os interesses econémicos, politicos e culturais dos diferentes grupos sociais engajados em lutas sociais priticas. Tal concepcio parece ser mantica implicita ou explicitamente por varios estudfosos dedicados 20 exame da histéria da Sociologia ou da filosofia das Ciéncias Sociais, mas um exame adequado desea guestéo exige, em primeiro lugar, a discussio do conceito de ‘deologia, em ‘si mesmo suscetivel de interpretagdes diversas. Na teoria de Marx, a ideologia refere-se aos simbolos e formas de Pensamento necessariamente presentes nas sotiedades divididas em lasses, 0 que deforma e oculta as relagées sociais reals e dessa maneira contribui para manter e reproducit a ascendéncia da classe dominante, No obstante, hé também forcas contrabalanca- doras, mais particularmente nas modernas sociedades capitalistas, € uma delas € a capacidade de resisténcia das classes dominadas, pelo menos até certo ponto, e através de um entendimento de sua u HISTORIA Da ANALISE SOCIOLSGICA prépria experiéncia cotidiana, & influéncia da ideologia predomi nante; outra, € 0 progresso da ciéncia, inclusive a ciéncia social, que torna possivel a revelagio do verdadciro estado de coisas, que a ideologia.distarca. O contraste entre ideologia e uma razio ou entendimento humano universal, especialmente o contraste entre a ideologia ¢ a ciéncia (como a forma mais desenvolvida da razio), € um elemento essencial da teoria de Marx. Isso se demonstra melhor em sua anélise da producio de mercadorias que tem como objetivo mostrar, pela investigacio cientifica, as verdadeiras re- ages. sociais na sociedade capitalista, que estio por tras das vaparéncias expressas na ideologia. Desse ponto de vista, uma descrigéo da Sociologia — uma presuntiva ciéncia da sociedade — apenas como ideologia, no tem sentido. Todas as ciéncias, e todas as outras manifestacdes da vida intelectual e cultural, podem ser influenciadas pela ideologia, mas nao obstante h4 um cresci mento selativamente zuténomo auténtico do conhecimento ciea- tifico, Acima de tudo, é o desenvolvimento da ciéneia social que hnos permite distinguit o que ¢ ideolégico, e criticé-lo, Hi, porém, outra concepgio da ideologia, elaborada de ma- neira mais completa por Karl Mannheim, segundo 2 qual as Giéncias Sotiais so inevitavelmente ideolégicas. O que produzem no so teorias cientificas que possam ser testadas e avaliadas racionalmente, embora encerrem elementos como dados empiricos ¢ sistematizagio racional, mas doutrinas, que formulam 03 inte- esses ¢ aspiragées de vétios grupos sociais, entre os quais nagies, grupos étnicos e grupos culturais, bem como classes sociais. Desse Ponto de vista, os movimentos do pensamento na Sociologia de- pendem do que aconfece na sociedade e na cultura, e 0 cresci- mento ¢ 0 minguamento das teorias sociolégicas devem ser expli- cados pela oscilante fortuna dos diferentes grupos sociais em sa incessante competigéo ¢ conflito. Essa idéias nfo sio alheias a certas formas do pensamento marxista: Gramsci e Lukées con- eeberam o marxismo como uma visio do mundo, como a cons- ciéncia da classe operiria que se desenvolve historicamente, e 40 como uma ciéncia da sociedade; ¢ os pensadores da estola de Frankfurt, de uma mancira muito diferente, criticam a prépria Sociologia — na forma assumida como um’ elemento no cresci- mento da ciéncia moderna — como uma idcologia ‘“‘positivista” que tem sua fonte nas relagies sociais especificas estabelecidas numa sociedade capitalista, 20 mesmo tempo que assumem ama posigfo propria sobre uma “tcoria critica” que envolve nio s6 uma critica geral das ideologias, mas também a afirmagdo de uma concepcio filoséfica distinta, que relaciona toda indagagao social com 0 obj tivo da emancipaggo humana. * merRoDuGio 16 Como esta anlise indicou rapidamente, a idéia de que a and lise sociolégica € essencialmente ideoldgica foi apresentada de ma- neiras muito diversas, indo de uma Sociologia do Conhecimento até uma Filosofia da Histéria hegeliano-marxista. Mas essas con- cepgGes so, em si mesmas, problematicas — assim, uma Sociologia do ‘Conhecimento pressupée uma Sociologia mio-ideoligica, en~ quanto uma teoria filoséfica da histéria suscita todos os problemas a telcologia — e nenhuma delas mostrou de mancira convincente que no se pode estabelecer uma distingéo valida entre o pensa~ mento ideolégico e uma ciéncia da sociedade. O que elas sem davida conseguiram foi dar-nos uma conscigncia mais clara das varias maneiras pelas quais a ideologia, qualquer que seja a forma em que € concebida, pode fazer parte de paradigmas sociolégicos, € dai a necessidade de examinar teorias e paradigmas nfo 66 do ponto de vista de sua coeréncia interna e de seu desenvolvimento, mas também em sua relagéo com seu contexto social mais amplo. Essa visio, aplicada & histéria da cliéncia em geral, tornot-se mais conbecida desde a obra de Kuhn, ? ¢ tem, obviamente, uma elevncia especial para as Ciéncias Socias, devido 20 cardter mar- cante de sua ligagio com os interesses e valores que surgem na vida social pritica. A histéria de qualquer cigncia € importante para proporcionar um melhor entendimento de seu desenvolvi- mento tedrico, e dai as atuais teorias, estimulando novas idéias ¢ ‘transmitindo 0 sentimento de uma atividade continuada de inda- gacio, através da qual ocorre um creseimento do conhecimento Gradativo, ou ocasionalmente stbito ¢ dramético. Com freqiiéncia, € através do reexame de tentativas anteriores de resolver tum de terminado problema que se fazem novos progressos. Essas consi- deragées aplicam-se evidentemente & histéria da anilise sociolégica, mas além disso hd outros beneficios a serem obtidos. Primeiro, tum estudo histérico que leve em conta 0 contexto social histé= Fico em que um corpo de idéias tedricas se desenvolves deve per~ amitir-nos discriminar mais precisamente entre a evolugio dos con- ‘ceitos teéricos e as proposigses em si, © a influéncia que sobre clas exereem 03 varios interesses sociais e culturais — ou, em outras palavras, distinguir entre 0 contetido cientifico e 0 ideolégico de 1um sistema de pensamento sociolégico. Segundo, porque os objetos da anilise sociclégica incluem nfo s6 as caracteristicas uni= versais das sociedades humanas, mas também os fenémenos his- t6ricos e em mutagio, uma histéria das varias abordagens e teorias reve'a as proporgées has quais muitas delas, pelo menos em alguns aspectos, tim wm ambito restrito e especifico no trato dos fatos € problemas de periodos histéricos particulares. Sob esse aspecto, porém, pode haver diferencas substancisis entre teorias nas dife- 16 HISTORIA DA ANALISE SOCIOLGGICA rentes areas ‘da “Sociologia. Por exemplo, pode-se sugerir que a continuada importincia das teorias de classe ¢ estratificaggo do século XIX se deve ao fato de ter havido relativamente’ pouca mudanga, num longo perfodo, nos fenémenos de que se ocuparam, ‘20 passo que as teorias de desenvolvimento sofreram vitias trans. formagdes no espago de umas poucas décadas, nao sd em conse Giiéncis das controvérsias entre a teoria marxista ¢ outras, mas também porque as concepgées de um crescimento econdn terrupto predominantes nas décadas de 1940 e 1950, e que influen .Giaram os te6ricos sociolégicos, foram violentamente criticadas © “até certo ponto substituidas por uma preocupacio (bem ou mal fundada) ‘com os “limites do crescimento”; dessa mancita, os fatos ¢ problemas de que se tem de ocupar uma teoria soviolégica do desenvolvimento também mudaram. Nos capitulos que se seguem os nossos colaboradores exami nam determinadas teorias ¢ paradigmas, falando de modo geral & maneira aqui delineada, focalizando a atengio tanto no desenvol- vimento interno das teorias como resultado da critica e da. in vagio quanto no impacto das mudancas das circunstincias socials ¢ culturais, Também discutem, em alguns capitilos, os problemas gue surgem da tentativa de avaliar e decidir entre esquemas tebr cos rivais; essa diseusséo vem tendo importincia central para a Sociologia desde Comte. Mas hé duas tendéncias na evolugao re- scente da anilise sociolégica que merccem atengio prelimmar, a esta altura. Primeiro, temos o crescimento e a consolidacio, as duas ou trés tltimas décadas, de wma comtnidade cientifica in ternacional, dentro da qual, apesar da diversidade de pontos de vista em que insistinos, o intercdmbio e a eritica ativos das idéias, € as constatagdes da pesquisa, definiram mais claramente os limi tes da distiplina ¢ 2 série de problemas que constitui a sta matéria Sob esse aspecto, pode-se pelo menos afirmar que hoje existe uma iinica disciptina, ‘um dominio de discurso cientiico fora do qual 12 anilise sociolégica no pode ser realizada adequadamente; ¢ essa disciplina — ao mesmo tempo o produto e 0 elemento de gacto de uma comunidade de cientistas que se propGem metas distintas € especificas — constitai uma esfera relativamente auténoma, do~ finda talvez de uma resisténcia crescente a influéncias puramente ‘deoldgicas. ‘Uma segunda tendéncia esti associada com esse aspecto, ot seja, 0 movimento de afastamento das escolas “‘acionais” de’So- Ciologia ¢ da criagéo de sistemas sociolégicos altamente individuais, caracteristicos de um periodo anterior. 2 claro que certos elemet tos das condigées anteriores permanecem. Embora jé nfo exis. tam escolas de Sociologia caracteristicamente “nacionais”, ainda ha intropucio. It predominios “regionais” de Sociologia europtia e norte-americas na na disciplina como um todo. Mas quem pode prever, com ale guma.confianga, que novas transformagées da andlise sociologica ocorreréo em conseqiiéncia da evolugio no contexto das diferen- tes tradigées culturais ¢ de outras civilizagées? Da mesma forma, grande parte da andlise sociolégica ainda tem sua principal fonte na obra dos fundadores, isto & em determinadas criagGes intelee- tuais, individuais, Mas no hd hoje uma Sociologia weberiana ot durlcheimiana, ¢ mesmo no caso de Marx ha uma distincia consic dervel entre sua twotia da sociedade © as formas variadas da Sociologia marxista da atualidade, compreendendo 0 desenvolvi- mento desta iltima, 20 que ousamos sugerir, progressos mais do Pensamento “soviolégico” do que “marxista’. © que afirmamos, portanto, € que a analise sociolégica atin~ gin uma certa medida de amedurecimento cientifico, que seu de~ senvolvimento exemplitica de uma mancira mais getal as caracte. risticas mencionadas por Leszek Kolakowski, em sua andlise do lugar do marxismo nas Ciéncias Socizis: “...0 conceito de mar. xismo como uma escola de pensamento a parte tornar-se-4, com © tempo, menos preciso ¢ acabaré desaparecendo totalmente, tal como no hé ‘newtonismo’ na Fisica, ou ‘linewismo' na Botanica, ‘harveyismo’ na Fisiologia. e ‘gaussismo’ na Matematica. O que & permanente na obra de Marx sera assimilado ao carso natural do desenvolvimento cientifico”. 1° Mas fazemos essa sugestio de maneira apenas experimental, bem conscientes de que alguns de nossos colaboradores, ¢ talvez uma proporgio ainda maior de Hossos leitores, no se inclinariam a aceité-la, pelo menos sem nu merosas ressalvas; e conscientes também de que ainda ha questies importantes e dificeis sobre a relagio da Sociologia, considerada como uma ciéneia, com as formas mais filosificas de reflexio sobre a sociedad. Com efeito, hd duas tendéncias de discussio diferen- tes mas interligadas neste volume, e também em nossa introducéo? uma se volta para o desenvolvimento das diferentes teorias e pa- adigmas numa disciptina cuja localizagao no conjusito do conhe: cimento humano é em grande parte accito sem discussio; ¢ a outra que trata da natureza mesma e das bases da disciptina, seu direito @ uma existéncia independente. Procuramos apresentar uma des. righ mais geral posstvel desses debates, talver com uma én. fase maior no primeiro aspecto; e embora reconhecendo a exis. téncia de certas lacunas nessa descrigio — em particular, nao pudemos tratar com minicia desejada as teorias sociolégicas da cultura ¢ do conhecimento — ainda assim acreditamos que este livro proporeiona os meios necessérios para avaliar e comparar 18 HISTORIA DA ANALISE SOCIOLGGICA diferentes orientagSes teéricas, para examinar até onde ¢ de que maneita 2 anilise socioldgica progrediu, e para entender 0 desen- volvimento historico das principais contzovérsias sobre os convei. 10s bisicos da Sociologia NOTAS 1. Algumas das questées gerais e das discordincias esto bem assina- adas no volume organizado por I. Lakatos © A. Musgrave, Crilclsm ond us, the Growth of Knowledge (Cambridge: Cambridge University Pres, 1990) © a Ei git, 2 discussio dessa distingdo: entre o politico eo social emi W.G. Runciman, Social Science and’ Poliieal Theory (Cambridge: Car ‘bridge University ‘Press, 1963), cap. 2. . Vets BOT exeriplo, A. R. Louch, Explanation and Humen Action (Oxford: Basil Blackwell, 1966), p. 12, discutindo certos aspecion da ‘ftcoria geral” de Talcott Parsons, comenia: *... 0 que ¢ nove? A com plcada estrutura de Parsons ¢ na sealidade uma’ mancira de classifica’ as ‘isis interaotes entre individuos e grupos e qualquer surpresa surge ape fas do fato de que aquilo que conhecemos das atividades huiangs pode ser reformulado em sua terminologia e seu sistema clesficalérie” Em termes mals gerais, Isaiah Berlin, ium ensaio sobre a ideia do Sonhece ‘mento social de Vico, refere-se ad conhecimento “que os partcipantes do lama atividade pretendem possuir, em contraposigfo. aos metos omervado™ Fes... 0 conhevimento exstente ‘quando uma obra da imaginagio ou de iagnéstico social, ou um trabalho de critiea ou erudieao ou historia, € escrito do como correte, ov imcorreto, abil ou inepto, ‘bem-sucedido ou fracassado, mas como profunde ou superficial, realisia ou irtealbio, sgnsivel ou insensivel, vivo ou morto”. Ieaiah Berlin, “A Note. an Vico's ‘Concept of Knowledge", New York Review of Books, XU 7 (1969) 4. Ver p. 253, injra, 5. Ver capitulo. 9 deste tivo. 6. Ver p. 180, infra 7. Ver p. 785, infra 8. Para uma melhor discussio desias idéies, ver 0 capitulo 4 deste sivro, 9. Ver Thomas Kuhn, The Siructure of Scientific Revolutions, 28 €4. (Chicago: University of Chicago Press, 1970) 10. Losock Kolakowski, Marxism ond Beyond (Londres: Pall Mall Press, 1968), p. 204, O Pensamento Sociolégico no Século XVI Rosert BIERSTEDT A historia das idias, exceto em suas origens ocultas, comeca sem- re in medias res. Todas as idéias tém antecedentes, e ninguém Pode escrever sobre o aparecimento das iléias socioldgicas no séeulo XVII sem dobrar uma tapecaria inconstitil ocultar a maior parte do panorama que de outro modo se revelaria, N&O havia Sociologia como tal no século XVIIT porque nio existia a palavra, que 86 foi eriada no sécwlo XIX — e Auguste Comte, que a inventou, acreditava estar promovendo uma ruptura acen. fuada com 0 pasado. Adotou, por isso, sta curiosa doutrina da “higiene cerebral”, lendo apenas poesias durante 2 composicio da Filosofia Positive, e numa tentativa para impedir que as idéias de seus predecessores contaminassem 0 seu pensamento, Foi um esforgo initil. A histéria da Sociologia pode ser curta, mas tem tum passaclo muito longo, Podemos ter certeza de que desde 9 alvo. Fecer da razéo a inquieta e indagadora mente do homem nfo 96 Projetou-se aos céus ¢ observou as entranhas da Terra (a expres: Sto € de George Berkeley), mas também fez perguntas solve o Proprio homem suas sociedades. & da natureza do homem, como, Sbservou Aristoteles, viver em grupos, e 66 um animel, ou um deus, pode viver sozinho. A natureza desses grupos, sejam pares com, Jugais ou amigos, governantes ou eseravos, torna-se ascin tion Preocupacio dos fil6sofos do Ocidente, (ee 20 HISTORIA DA ANALISE SOCIOLOGICA Na verdade, nenhiim periodo da histria esteve tive da ese Peculagio socioléxice, e poucos periodos foram to esperulativen nesse sentido, quanto o século XVIII. Crane Brinton pode exa- gerar um pouco, como ele préprio adinite, 20 eserevers "Parco aver boas razdes para acreditar que em fins do século XVIII gastou-se mais energia intelectual nos problemas. do homer eon Sociedade, em proporcio a todos os outros poseiveis interessea da mente humana, do que em qualquer outro periodo da hisioca"t Na verdade, Brinton chega ao ponto de ‘dizer que a patsera philosophe, intraduzivel em francés modemno, podera. ser Snelhoe g.fransposta como sociologue. Sem divide, ela ‘no pode ser trade Zida como “flésofo”, no sentido contemporinen dessa palavra. O Primeiro Diziondrio da Academia Francesa, publicado em fins da século XVI, dava-the trés definigSes: 1) estudioso das cias; 2) hemem sabio que vive uma existéncia tranquila; 3) ho. mem que pelo livre pensamento (libertinage desprit) ‘toloca-se acima dos deveres ¢ obrigagGes comuns da vida civil” ® Como a maioria dos Filésofos era hostil 4 religido, especialmente reli gio oficial, a palavra philosophe pascow a encerrat’a conctagia de um homem de letras que é livee-pensador. A maior parte deles dedicavarse, se nio a0 ateisimo, pelo menos 20 deismo. © ateismo, como explicon Robespierre, era aristocritico e alguma coisa que pio se discutia na frente’ dos criados,* “"Vocé sabe”, esoreves Horace Walpole, de Paris em 1765, “quem sio os philosophes, ou © que significa essa palavra aqui? Em primeiro lugar, ela. aban. 6 quase toda gente, c, em seguida, significa os homens que esto ftravando guerra contra o papado'e que visem, mnitos dies, ‘Subversio da religiéo”.* De seu prisma no séulo XX, Robert Nisbet escreve que o séoulo XVIII foi marcado por um ataque incansivel ao Cristianismo, e que, de fato, o Thuminismo. francés no passon disso. * san S csPera que o sécilo XVITI conhega uma distingfo das Gitncias Sociais em disciplinas & parte como Antropolorin, Se. iologia, Psicologia Social, Economia, Ciéncia Politica e Jurisprec déncia.” Ainda € muito cedo, de fato, para a existensia de algo ‘como a ciéncia social, Nao ha artigo com esse titulo na Bacio pédia de Diderot © d’Alembert. Além disso, os pensadores socials ‘socials, interessados ndo no estudo da sociedade em si mesma, mas na sua reforma em beneticio da humanidade.* Eram tamben inconstantes © 0 cima “aio tem una metas etrminada pars Bixee”. Quando o lina € demasinay Caneee (© FENSAMENTO SocIoLécIco No SEcULO xvmt 2 corpo é privado de vigor ¢ forca e isso por sua ver explica a imu: tabilidade das manciras ¢ costumes durante longos periodos, A agricultura € a principal ocupago do homem, mas um dli- sma demasiado quente o leva a evitar esse tipo de trabalho. A “vida monistica” desenvolveu-se nos paises quentes do Leste porque eles sto mais inclinadas & especalagio do que & ago. Os costumes re- lacionados com o uso do alcool também sto regulados pelo climat A Ici de Maomé, que protbe 0 vinho, & portento adequada ao cl ‘ma da Arfbia; e, na verdade, antes da Spoca de Maomé, a éaua era a bebida comum dos érabes. A lei que proibia aos cartagineses beber o vinho era uma lei do clima; ¢, na realidade, 0 clima daque- Jes dois paises € mals ou menos 0 mesmo.st Por outro lado, nos paises frios, o clima praticamente forga as Pessoas & intemperanga. “O. uso’ da bebida predomina por todo © mundo em proporcéo a frieza e umidade do cima.” Os fatores liméticos exercem também, & claro, sua influéncia sobre as leis, E finalmente, sobre esse assunto, Montesquieu propde a tese de que a instituicéo da escravidio é também conseqiiéncia do elim 1 palses ein que o excesso de calor enerva 0 corpo € toraa os homens to indolentes © desanimades que nada, exeeto > medo do castigo, pode obripivlos a realizar qualquer trabalho: a escravidso € ali mais reconciligvel com a razio; e, sendo 0 senhor to pres {g080 em relacio a0 seu soberano quanto seu escravo em relagio 4 ele, isso contribuiu para uma escravidio politica além dace. cravidio civil Por outro lado, ele ndo esti totalmente certo sobre isso e se incli- a a acreditar que a eseravidio nao € natural: Mas, assim como todos os homens nasceram igueis, a escravidso dove’ ser considerada como antinatural, embora om’ alguns paises seja baseada na razio natural; e uma’ grande diferenca deve ser estabelecida entre osses paises e aqucles nos quais até mesmo a re ‘fo natural a rejete, como na Europa, onde foi felizmente abo. tides Ao final do capitulo seguinte, ele escreve, de mancira comovente: Nilo sei se este artigo & ditado pela minha razio ou pelo men oo ‘ado. Possivelmente nfo havers clima na Terra em que 0s mais trabelhos0s servicos nie possam sor reslizades por homens livres, evidamente estimulados. Tendo as més leis feito os homens maus, les foram reduzidos & eacravidio devido & sua preguiga.2« ee —™ pe CC SEESSS=SCON Ee 30 HISTORIA DA ANALISE socioLGoICA, B [asentével, pocém, termes de admitir que mum capa defende a estravdao’ do negro tone ned co O lina tambm tem alma coisa er com as relax entre Feo que on atts deisem ums mulher para tomar outta © 6 ne carapace astiticos permitem a poligamia, a0 passo aie’ os pafen seateactes mis ftios, ndo a admmitem, Tss0 por sua tos tenes wana paige @Zeiide. Explica por que o Islamism, que ape penet pede riin, fi facilmente estabelecido na Asla, mes who heey nenhuima,” ‘Seria um erro dizer que Montesquies tem apenas em mente bene weratura quando apresenta suas teses geogrufias. Ele eee iim considera @ natureza do solo, a dispombitiats ie fgua, a gigtincia do mar, @ presenca de portos naturals e's dnd ibuigao Sie_imasses de terrae dgua, # qiase certo que pene eee Bretanha, ao escrever o seguinte trecho fame: Fania nfo pode manterse facilmente dentro de uma dies levi as também um erro sugerir que Monteaquien dew éafase 03 Esogréticos com exclusko de outros. No que concene oo Seige: (eeral de humanidade”, ndo s6 0 clima, mas tambon e Testo, leis, miximas governamentais, morals ¢ comune eye Villewgy Babel A influéneia do clima diminui & medida que ec, Uikagio avanca. Nao obstante, “o império do slim to aimee "e mais poderoso de todos 08 império Setar selHo, 0 comércio, of costumes, 4 eduengiona cere Gear emisica, 0 crime, o castigo, a pobreza, 0 lixo’« pont eeermatmen’e, © divércio, 0 suicidio, a frail, a’ gues Siaeeito, & usura, as festa e muitos outros. Ele € abunione en, observag®es atraentes, como a de que 0 venetianos s£0\tio tan © PENSAMENTO SociOLSaico No sicuLO xvi at moniosos que s6 os cortesios podem fazer com que gastem die aheiro; © epigramas: “Nada deve ser corrigido.”*® Interessa-se vitalmente pelas relag6es entre 0s costumes e as leis, © sugere que € ma politica tentar mudar por lei o que se deveria mudar pelo costume. ® Sua erudigio € rica, embora nem sempre fidedigna, Mas, acima de tudo, € um socidlogo no sentido atual da palavra. Excluiu o sobrenatural da explicagio das sociedades humanas ¢ apresentou o método comparado para o estudo das institulgoes vo: itis, Raymond Aron 0 considera muito mais socidlogo do. que Auguste Comte (sem desmerecimento para este) e como in dee grandes teéricos da disciplina. Para ele, € evidente que 0 objetivo ae © Espirito das Leis ¢ 0 objetivo da propria Sociologia —— om seja, simplesmente 0 de tornar inteligivel a histéria”” E Durie hheim observa que, ao instituir a Sociologia, seus sucessores “pow. $0 mais fizeram do que der um nome ao campo de estudos por ele inatgurado”, # Voltaire (1694-1778) ocuparé menos a nossa atencio do Montesquieu, principalmente por ser dificil considerd-lo‘um coud, logo. Céptico, mordaz, poeta, dramaturgo, correspondente, historia dot, panfletirio ¢, acima de tudo, racionalista militante — é im- Possivel sequer pensar no século XVIII sem mencionar © homen ‘uja producto literdria ¢ filosdfica 0 resumiu, como disse Georg Brandes. Ele detestava 0 Cristianismo devido’ & i no sobrenatural e devido & sua justificacio da i © Bertrand Russell de seu século ¢, 20 mesmo tempo, alguma coise mais ¢ alguma coisa menos do are, sso, Tina aversto ges jee deas em grande parte porque os. julgava responsiveis pelo Cita. tianismo. Considerava a Téade Média como barbara e se colocavas contra a intoleréneia onde quer que se manifestasse. Acreditava que a opressio politica e refigiosa era incompativel com @ civ zacfo e expressou essas opinides com tal vigor ¢ clareza que se tormou 0 autor mais influente de sua época. Era capaz de atacar seus adversérios com expresses como canalha, sapo, lagarto, cobra, aranha, serpente, espigo, cachorro, Procura-se inutitmente em Voltaire um tratamento sistemitico de algum assunto, inchisive a sociedade. Ele foi, como disse alguém, um bom conversador por escrito. Como Turgot, acreditava firmemente na unidade da human’ dade. Por mais que os homens fossem diferentes na aparéncia ex- terna, nas diversas partes da Terra, eram os mesmos em sen mentos ¢ desejos. Admirava os ingleses, como suas Letives sur FAnglais (1733) atestam, mas nfo ofereceu um relato sistemith. 0 da cultura ott do Governo ingleses, Observow especialmente que I 5 32 HISTORIA DA ANALISE socOLéoICA podia oct, 8 Bal livre ¢ que © inglés, como homem Ti Pp 1omem. livre, Rantos? Para 0 e8ut por qualquer ‘camiano que the agradasse, Newton, Bor exemplo, no s6 teve sorte de. Ceca Sn’ ‘tal pais, ie nae eg costames “Ha dois impérios, 6 Inpério ‘as wee EE 2 tly: Honens & haze a eros penta oe Nat fampério do Costume que, cobrindo ts manciras to oe cs Sunda varlodade através do. mando”. Asim: gpg natural feigdee a oem soeigh ¢ ele usa a primeira para atic wy imper- 0 devas 2 viver com eles ein gropos do, Volts serisee © justia, sem os quais néo haverie spent cornet, Joh Ean ‘do puede socal ha ee tine feces, NgeTaeis este mundo, sendo a igualdade gc ume lish, Nao chegou, como alguns de seas contemporaneos, a Sein na eto. do eatin cain ees 2 oe ea ON 8 Sonsiderasse respeitivel taba eee eo ontros, €008 trabalho, dizer uma mentite que Sees me cates ou woltar-e contra um benfeitor, ou ealuniat res mani site queria conhecer os pasos pele ais ‘ue wate, hevle ciminhado da. barkine pars 9 oh, FReeti8 ae histrin Fosse escrita no em tones de vie Shogun; mbm observagdes sobre a histia, em conjunto ci so Ghegam a constituir uma filosofia dessa taseuie ns Podemos re- EGA StH cepticism quanto 2 histéria escria jogo que vida ees UTES” — © seu Pessimismo quanto a Meeste sreacet sucesso de crueldades initeis™ Se o cle meneame felasio com Yo império do costume” 5 So eo © PENSAMENTO SocroL6cIco No séicuLO xVE 33. em Genebra, de uma familia de origem francesa que vivia ali ha guase 200 anos e estava entre os poucos que tinham o direito de tsar 0 titulo de “cidadio” depois de seu nome. Sua mée motren cerca de uma semana apés 0 seu nascimento, e sua infancia foi dificil A histéria é contada em suas Confissdes. Toda a saa vida foi peripatética ¢, com freqiiéncia, patética. Teve uma ligagao per- fmanente com Thérése Levasseur, uma criada de hotel sem qual~ quer educagio, que Ihe dew cinco dilhos, todos entregues a um abrigo de enjeitades — costume que, segundo ele, era bastante eomum a época. Em 1749, 2 Academia de Dijon anuncion um concurso de enaaios sobre a questio: “Se a renovagio das artes ¢ ciéncias teve © efeito de purificar ou corromper 2 moral”, Rousseau apresenton jum ensaio intitulade “Discurso sobre os Efeitos Morais das Ar- tes © Ciéncias”, © obteve o prémio. Nesce trabalho, afirmava que a civilizacdo era_uma influéncia corruptora e que a ignorincia hhavia sido, infelizmente, substitufda pelo cepticismo. © Huxo disrio das marés no § mais influenciado pela Lua do que '& moral de um povo pelo progresso das artes ¢ ciéncine. Quando sua luz se levantou acima do horizante, a vislude fugia e 0 meme fendmono foi constantemente observada em todas as épocts @. lun ares, 14 O deus que inventow as ciéncias, segundo uma velha tradigfo, era ‘nimigo da trangiilidade da humanidade, Rousseau concorda, ‘Temos ai, sem diivida, uma tese sociolégica. Nao sé uma tese sociolégica, como Rousseau oferece provas empiricas em seu apoio — no Egito, na Grécia, em Roma e Constantinopla, onde exatamente, isso ocorreu — © em naghes como Pérsia, Cithe ¢ ‘Alemanha, onde niio aconteceu, “estondo preservadas do’ contig! do conhecimento initil”. Na verdade, Esparta tinha a3 virtudes gue faltavam a Atenas, e Sécrates, se vivo estivesse, teria vdespre- zado as cigncias vis do século XVIII e nio teria “contribuido para aumentar 0 fluxo de livros que ver de toda parte” ® Os fhomens honestos se satisfazem com a prética da virtude, pertur= bam-se quando procuram estudéla. Isso. significa, ainda, ‘que melhor viver ma sociedade do que analisi-la e sugere que, se @ Sociologia estivesse entre as ciéncias da época, Rousseat ¢ teria Condenado juntamente com as outras. Nao obstante, em seu en saio ele deseja ver as dedugdes que se podem fazer da histria. Aleumas delas sdo erréneas, como 2 confiso que faz entre a pro: issio de ignorincia feita por Sécrates e 0 elogio da ignorascia, Outras sto questionaveis, # Mas a tese é clara. © aparecimento de Sees u Mnvéa oe axitusr soewocéack “E)ueuamtro sociotéeco wo sicoto xm 3 ciénia eines com 0 dectnio da mera Rowseat tence ax vs ‘ousseau langa até ‘ial nas suas ocupacées, As comunidades e linguas surgi- mesmo maldicées 2 arte da i 2 : fem especial nas suas ocupagé gu Bloece de Abn n®® MPVS © spor o cede da eM, DS as uso orf os fomone ceoag neta Sune sere ae frit that moioe oportniiade We fterea Leese a vo abun esse fe Rowssey aprestado 2 Academia de 4 perocher relag6es que podiam ser indicadas por pelavras come ® dade entre os Hones nese “Qual a Origem da Desigual grande, pequeno, forte, fraco, répido, lento, temierose, oussdo, oe twa Gn com sen Poe et coms Kenn. Ean gen, fr a apo, aw qin pod oe — Fe enn oe Pope, segundo o qual a mais itil fiar em outros, e Situagoes nas quais deviam desconfiar de outros, Aes pousn, como psa leno do tonne, sr aia. fais eho, comecaram a iver cob ores ules familia, e “toda familia tornou-se uma Pequena sociedade”, Entio, homens © mulheres se reuniram em grupos maiores, ¢ as cermmoe Man tresan ee ti mecomanagem 20 conseiho do oréctlo de Delfoss “Cans ‘ff mesmo”, © tema do ensaio surge no segunie Parigrafo: fe Asredito haver dois tipos de desiguatda tread ¢ coarg de Batral ow fisco, por sor estabelecide re atte Ya, qoilidady de mente ou fe arate Sie, fo Quem dansaste ov canasse melhor, que fosse ¢ mais bonito, 0 : mais forte, © mais hébil ou o mais elogiiente, patsava a ser 0 ‘mais fered convenoto, exabieie, cn Tela nen ee sorsidernda: © exe foi o primero paso pare a designs «ne ‘consentimento on a ue aunorizada, pelo, mesmo tempo para o vicio. tir dessas primeiras distingdes sur- Siesetines for omens. Esa iia cents ot aca PO fom, de um fay wins deen, Mime Stites Oe are Estes eat, em phi de een es Inve, Ea frmonapa® a $2 OU vere feet Ral res. mle honrads, mals podsony meh ote termina peorocend emit esteada por eres moves ferment farem em posivéo de exivir obedizncts ae PO ‘terminow provocando combinagées fatais & inocéacia ¢ felicidade st Qs ‘homens comesaram assim a se prejudicar mutuamente, ¢ isso Jevou certos autores a supor que o homem primitive era cruel A cmueldade, porém, surgit. mais tarde, “Nada é mais décil do que © homem em seu estado primitive, pois foi colocado pela naturces . a igual distancia da estupidez dos brutos e da ingenuidade fatal fo, gm aialauer sentido histérica, © anal emis pra do homem civilizado.” ™ esse 0 estado em. que 08 homens de- tmanidade, hd uma insinuagdo’ de i veriam continuar, @ no qual eram livres, felizes, honestie © sa sau. Ele’ expecula sobce. as arigens los. A metalurgia ¢ a agricultura produziram grandes revoha. Sona orizem da sociedade humana, fedate se © ses; 0 ferro € © trigo civilizaram 0 homem e arruinaram e the anterior & linguayem, ov esta 2 sovichaae ee manidade. Como Locke havia observado antes, a propriedade. <3 posta. Examinando com cuidado em detail ee pode vir do trabalho, e, como os mais fortes e mais habeis acum, 2 estado natural, ele pode concluir que se meen eee, Ve ter sido Jam mais, as desigualdades entre os homens aumentam. # feel, SHS Se eden oe a acme GE Rainy nen Sse eos ma Nesse segundo Discurso, que conta © fame oe violéncia, surgiram sobre a Tetra, e o contlito perpétuo, Primeiro homem que, tendo Cereals uma eg oe echo Nessa sittacdo, alguém deve ter stingide e onvencide os Rous dzendo “st § nate encontrar, homens a se juntarem para protecio mitua, Foram Taciiments se. Bim, fredlar nel, fi verdad finagaoron, Seam, sie dazidos e todos “Ccorreram 20 encontro de suss cadens” etaag antos crimes, guerrag, horrores tana ; : nelhor sucrifear parte de sua iberdade pars. proteser, 6 a los se ningém tvesee ene ase imponee gem so ae ot esse, ou poderia ter sito, @ origem da saiedade © de Te! ts preeamtta, aumentou, aumentaramttambten propor te boom jorrunidade fer com que outras se eee apes tev nes mamas. A influéncin dos. solon, cin es: ta, Rousseau comets multipcaram. Num apéndize pessin ta, Rousseau contrasta novamente o estado natural com 0 estado da sociedade, 0 selvagem com o cidadio, néo deixando divile See 36 MISTORIA DA ANALISE SOCIOLOGICA quanto a suas preferéncias, £ certo ser mnimigo da civilizagéo. O homem é, por natureza, bom, e somente suas instituigaes 0 tor. naram mau. # Num artigo intitulado “Discurso sobre a Economia Politica”, Publicado na Encielopédia de Diderot em 1758, Rousseau modera sua visto da sociedade ¢ da civilizagio e defende instituigdes como Governo, lei, propriedade ¢ heranca. A heranca de bens. deixados pelos pais, para os filhos, & acertada, tanto porque os filhos prom vavelmente contribuiram de algum modo para sua aquisigao como porque é fatal A moral © & Repiblica uma oscilacio constante de essoas em relagko & posigfo social e fortuna. Fala, tambem, das “vantagens que todos obtém com a confederacéo social”, Embora ereca apenas uma répida mencio, Rousseau escrevet: uma longa carta a d'Alembert, cm 1758, que encerra uma Sociologia inet iente do entretenimento, As’ monarquias se podem dat 0 Ineo clo teatro, mas para as repiblicas ¢ pequenas cidades € melhor es. timolar festivais, paradas, competigées atléticas e outras ativida- des ao ar livre. O Emile, tratado que Rousseau escreveu sobre a etlucacéo, foi publicado em 1762, Basta-nos observar que com esse vee nascent a Psicologia Infantil, B interessante notar, ainda, que relativismo cultural de Montesquien nfo valido para Rousesau, Laneemos 0 olhar sobre todas ae nages do mundo; examinemos todos os volumes de suas histérias; em meio a todas esas formes estranhae © crasis de adoracto, em meio a essa surpteendente we Hledade de manciras © costumes, encontraremos em oda porte wo ‘mesmas idias de dlreito e justiga; em toda parte os mestios prin tpios de moral, as mesmes idéias do bem ¢ do mal&! HA no coragéo de todo homem um principio inato a que Rous- seatt dé 0 nome de constiéncia. Para os socidlogos, hé a advertén- cia de que, para estudar sociedade devemos estudar os homens, ¢ Para estudar os homens devemos estudar a soviedade. O que fazer primeiro & uma questio que os dois séculos seguintes (as conseguiram responder, No mesmo ano (1762) em que Rousseatt publicou 0 Emile, Publicou também O Conirato Social, apenas um fragmento da obra. Principal que pretendia escrever sobre as instituicées politicas, Grande parte dele € dedicade néo a questées de Sociclogia, mas aos problemas hoje atribuidos & ciéncia politica e & filosofit no. litica — a natureza da soberania, o processo de legislacio. as for. mas de Governo, as marcas de um bom Governo, © processo clei. foral € os meios de fortalecer as constituigdes, Todos conhecen as famosas palavras com que se inicia 0 capitulo T: “O homens © PENSAMENTO SOCIOLOGICO No siiCULO xvEt 37 mos cada membro coma uma parte indivisivel do todo.” 5 © conceito da vontade geral criou dificuldades interminaveis de interpretacio. Ele difere da vontade de todos. & uma espécie de Mmesmos sacrificios a todos os cidadios e é a iiltima salvaguarda Funtamente com esses trés tipos de let Epoltia, civil e criminal], hha um quarto, mais importante de tedes, que néo esta gravado em tabuletas de marmore ou cobre, mse nos eoragses dos cidadios, Ele forma a verdadeira constituipio do Estado, exda dia adquire novos poseres, quando outras leis entram em decadncia ov morrem, 2% fabeless-ss ou toma seus lugares, mantém 0 povo nos caminhos ‘que deve seguir, e insensivelmente substitui a eutoridade pela forca do nabito. Falo ds moral, do costume, acima de tudo da opi publica: um poder desconhecido dos pensadores politicos, e, ndo obs- fante, um poder do qual depende o &xito, em tudo, 1 com ele que 8» preocupa em segredo o grande legislador, embora pareca limitar. se a doterminados repulamentos; estes so. apenas tim segmento do reo, ao passo que as maneiras @ a moral, que surgem mais lentar ‘mente, si0 no fim a suma pedra fundamental jrremovivel. 6° Rousseatt também reconhece que, quando os costumes se tormam consolidados, ¢ inatil tentar mudé-los. °° HISTORIA DA. ANALISE SOCIOLOGICA As dificuldades ¢ incocréncias na obra de Rousseau foram observadas © discutidas por numerosos eriticos. Ele proprio su- geriu que O Contrato Social deveria ter sido reescrito e que 0s que afirmam entendé-lo sio mais inteligentes do que ele, Rous- -seau. Mas nfo hi diivida quanto 4 gua importéncia, bem como dos discursos anteriores, tanto para a Filosofia como para a So- siologia. © Podemos dizer algumas palavras sobre o monumento de Di- derot, a grande Encislopédia do século, publicada em 17 volumes de textos ¢ 11 de ilustragées, durante os anos de 1751 2 1772 Se ela se voltava para o futuro ou para o passado, se seus artigos foram originais ou simples compilagées e empréstimos, se seus at- tores cram génios ou simples “plimitivos", sio questdes de que ‘io nos precisamos ocupar aqui. Seu coordenador, e varios de seus autores, foram acusados de atefsmo. Nio ha mengio da lenda da eriagdo, por exemplo, na definigdo de Homem (“nome mase.”) como ‘‘Um ser sensivel, capaz de pensar, inteligente, que se movi= menta livremente sobre a terra. Esti acima dos outros animais e exeroe dominio sobre eles; de hibitos gregérios, inventou varias artes ¢ cigncias, ¢ tem virtudes e vicios peculiares a suta espécie.” A palavra “sociedade” é inclaida © entre seus significados esta 0 de uma tnigo de wirias pessoas com algum objetivo, tendo a fam! lia e a aldeia como exemplos. A “sociedade” também ¢ tratada no sentido contemporineo de tima associagio ow grupo erganizado, Samos informatos de que homem ¢ feo para vter em socieds- de porque Ihe falta 0 equipamento adequado para viver 86, Busca- # 86 podemos ser felizes com eles. A palavra “social” & menciona- sda como, sendo nova, e designando as qualidades que tormam 0 “homem til aos seus’ concidadlios, Poder-se-ia dizer que. 2. Exc. clopédia substan a palavea “diving” pela palavra “social”, mas com um certo exageto. Néo hi nenhuma concepcio genutna de uma disciplina sociolégiea, neta, A nocao de que para estudar a hhumanidade devemos comecar com 0 grupo e ndo 0 individuo nio & reconhecida, A Enciclopédia, apesar de suas dificuldades com os -eensores, nfo pode ser consierada como tam dos passos no avanco do conhecimento sociolégico — ou mesmo da especulagio socio- Aégica, © papel dos Filésofos nos momentosos acontecimentos. da Revolugéo Francesa, como 0 papel das idéias na modificagio so- cial em geral, foi motivo de debates detalhados. Em 1770, deze- ‘nove anos antes da tomada dz Bastilha, 0 avocat général Séguier © PENSAMENTO SOCIOLOGICO NO SECULO xvi 39 escreveu: “Os filésofos buscaram, com uma das mfos, abalar 0 trono, € com a outra sacudir o altar. Seu objetivo era mudar @ opiniao publica sobre as instituigdes civis ¢ religiosas, © a revo uso foi, por assim dizer, realizada. A histéria e a poesia, os To- mances € até mesmo os dicionarios, foram contaminados “pelo yeneno da diivida. Seus escritos mal ‘slo publicados na capital € 34 immdam as provincias como uma torrente. © contagio esten- deu-se as oficinas cabanas,” © © iiltimo dos Filésofos nfo s6 influenciou a Revolugio, mas também participou dela ¢ deu por ela a stia vida, Sea nome fol Marie-Jean-Antoine-Nicolas Caritat, Marqués de Condorcet. Nas cido em 1742 de um pai nobre, mas pobre, e de wma mie bare gussa, mas rica, ele, que mais tarde se tornaria adversétio mili- fante ‘dos padres, foi educado por eles em escolas 16 anos de idade, defendeu brilhantemente uma tese de Matemi tica; escolhendo essa matéria como sua carreira, aos 19 anos fol estudd-la em Paris, onde, sob a tutela de d'Alembert, freqiientou 03 saldes, num dos quais’conhecea Turgot, que seria um de seus maiores amigos. Publicou seu primeiro livro, sobre cdlcalo, em 1765, aos 22 anos de idade; ¢ isso, juntamente com trabalhos adicionais, valeu-lhe a eleiggo para a Academia de Ciéncias aos 26 anos, e da qual foi mais tarde secretatio permanente até a swe morte. Foi eleito para a Academia Francesa em 1782, Teve tam. bbém uma carreirapliblica como inspetor da Casa da’ Moeda, no ministério de Turgot; membro da assembléia legislativa e presi dente de sua Comisséo de Instrucio Pablica e, mais tarde, men bro da Convengio Nacional em 1792, onde fof presidente de uma comissio de redacéo de um projeto de constittigao. Foi, porém, itima da hostilidade entre girondinos © jacobinos, esereven um folheto violento contra os segundos, que foi denunciado como sedicioso, e a Convencéo aprovou sua prisio. Refugiou-se numa Pensio galante de uma certa Madame Vernet, onde se esconden durante nove meses ¢, tendo apenas alguns livros e notas, esere. veu seu Esboco do Progresso Intelectual da Humanidade, © pe- rigo de abrigé-lo tomou-se tio grande para Madame Vernet, que ele finalmente deixou a penséo disfarcado, foi logo preso’ pela Policia € colocado numa cela da prisio de Bourg-le-Reine, onde foi encontrado morto na manhé seguinte — 8 de abril de 1794. As opinides de Condorcet sobre as questées sociais cram tae avangadas que multas delas seriam combatidas pelos conservado. res do séewlo XX. Foi um dos primeiros adversirios da escravi cscreveu_um folheto, Refferdes sobre a Escravidéo Negra (1781), ¢ serviu como presidente de uma sociedade chamada Amigos do Negro, Foi um ardoroso defensor dos direitos das | EET EEETEEEEEEEEreEEmereee 40 HISTORIA DA ANALISE SOCIOLOGICA mulheres ¢ achava que deveriam ter oportunidades iguais as dos hhomens, inclusive acesso a cargos piiblicos. Apoiou 0 sufrigio unt versal, educagdo universal gratuita, a separagéo entre a Igreja ¢ 0 Estado, a liberdade religiosa para todas as crengas sem ex- ceco, o bem-estar social © 0 seguro social para os pobres, 0 pro- cess adequado da lei para todos, uma legislatura unicameral, um tribunal mundial com autoridade para solucionar disputas inter- nacionais, a livre empresa, 0 casamento civil e 0 divércio, € 0 con- trole da natalidade. Opds-se — juntamente com a cscravidio — guerra, & pena capital, & primogenitura e aos castigos cruéis para as prostititas © homossexuais, Até mesmo no Ikuminismo, ele era um homem eselarecido. Como matemético, Condoreet esperava aplicar métodos ma- temiticos ao estudo da’ societiade. Para ele, a “Matematica Social” significava uma Aritmética Politica ou, como passou a ser conhe- ccida, 2 Estatistica, Num discurso @ Academia Francesa, disse cle: Considerando a natureza das Ciéncias Morais (Sovias), nio se pode deixar de yet que, se baseadas como as Citacias Naturais na obser- ‘vaso dos fatos, eles seguiriam mesmo métedo, teriain_o mestno vvocabulirio preciso ¢ atingiriam @ mesmo grau le exatidéo. Um ser que fifo fosse da nossa espécie poderis estudar a sociedade hue ‘mana tio friamente quanto estudamos a rociedade dos castores om das abethas. Surge uma grande dificuklade no fato de que 0 ob- servador € parte daquilo que observa, e a verdade nfo pode ser Julgada pelos que séo corruptos ou tém preconceitos, E por isso ‘que © progresso das Citncias Soviais foi mais lento que @ pro- reso das Ciencias Fisica! As duas iiltimas frases tém um tom contemporaneo. Se no teve muito Exito em realizar sens objetivos, ainda assim procurou usar © cileulo das probabilidades — matéria para a qual contribuin — para testar a justica de decisies de tribunals, examinar o gratt ‘em que as decisées legislativas correspondiam 203 desejos do elei- torado, e encontrar um sistema eleitoral superior. Era sensivel a elagio que 0s virios fetores da sociedade tém entre si — a rela- ‘sio que sexo, temperatura, clima, profissio, Governo © “hébitos comuns” tém com a duracio da vida; aos varios fatores que infli~ enciam a taxa de mottalidade; as cansas e efeitos das modifica. ‘gfes na populagdo, ea composigio da populagio segundo idade, Sexo e ocupagio. Sob todos esses aspectos, ele foi precursor de ‘Quétetet. Embora Condorcet se tivesse ocupado de todo 0 campo do que hoje chamamos de Ciéncias Sociais, sua maior obra, Esboo de um Quadro Histérico do Progresso da Mente Humana, tem © PENSAMENTO SOCIOLSGICO NO SECULO xv aL intengio ¢ énfase sociologicas. sociolégica no mesmo sentido em que 2 obra de Comte € socioligica. mais do que isso. Hum hino Ae louvor ao progresso, ao uso da razdo, a perfectibilidede da hu- manidade ¢ a felicidade da raga humana, B especiticamente socia ligica pelo fato de nfo ser uma histéria de uma determinada of dade ou nagio ou império, e sim um estudo.do progresso da hu manidade 0%, como provavelmente ditiamos hoje, da sociedade. O Progresso esté sujeito as mesmas leis gerais que podem ser per cebidas no desenvolvimento das faculdades individuais, sendo na ealidade “a soma daquele desenvolvimento realizado num grande nimero de pessoas unidas em sociedade”. °° Condorcet nos explica assim as maneitas pelas quais podemos assegurar a continuagio do progresso: B esse o objetivo do trabalho que empreendi, © seu resultado seré ‘mostrar, pelo apelo A razio ¢ a0 fato, que a naturcza nfo. impos limites & perteigao das faculdedes Fumanas, que a petfectibilidade do homem & realmente indefinida; © que o' progresso dessa perfec. ‘ibilidade, doravante independente de qualquer poder que pudes so: desejar delé-la, no tem ontros limites que a duraglo do globo fom que a natureza nos langou.64 Condorcet néio accitava a opiniéo de Voltaire de que a histéria é apenas uma massa de crimes, loucuras.e infelicidades, Mostra- Se até mesmo otimista quanto a0 uso militar da pélvora. Permitine do aos combatentes lutar a grande distancia, ela redueird © niime= ro de vitimas. © livro esta dividido em dex capitulos,-correspondendo as dez Spocas ou estagios através dos quais a humanidade passou (os titulos sfo dele mesmo): 1) Os homens se nem em'trikos; 2) Povos pastoris: a transicio desse estigio para o de poves agrico- Jas; 3) O progresso dos povos agricolas até a inven¢io do alfa bbeto; 4) O progresso da mente humana na Grécia até a divisio das ciéncias aproximadamente época de Alexandre, o Grande; 5) © progresso das ciéncias, desde sua divisio a0 seu declinios 6) A decadéncia do conhecimento até sia. restauracio 4 época das Cruzadas; 7) O progresso inicial da ciéncia, de seu renascimento no Ocidente até a invengdo da imprensa; 8) Da invengio da im. prensa até a época em que 2 filosofia e as ciéncias se ibertaram do jugo da autoridade; 9) De Descartes até a fundagéo da Re- publica Francesa; © 16) © futuro progresso da mente humana, © timo capitulo difere dos outros por se voltar para o futuro, com uma visio utbpica, © otimismo de Condorcet foi por vezes. temperado pelo Feconhecimento de que o preconceito € o erro podiam destruir ag ecco eee eee eee eee eee oe 42 HISTORIA DA ANALISE SOCIOLOGICA conquistas obtidas pelo conhecimento, que os esclarecidos podiam constituir apenas uma pequena minoria num mundo maior de ignorantes ¢ que 0 progresso podia deter-se por periodos mais curtos ou mais longos. Por veres, fatores ocasionais retardariam ou acelerariam “a marcha regular da natureza”. Como 03 filésofos dia tradigéo britinica empirica, e especialmente Locke, Condorcet tinha consciéncia da importdncia da linguagem no processo de in- dagagio: {Um dos elementos essencials de qualquer filosofia sélida 6 produ 22, para toda ciéncia, uma linguagem exata e precise, na qual todo simbolo represente uma idéia bem definida e circunscrita; e iso, ‘pela andlise rigorosa, para garantir que toda idéia eaté bem deft. snida © circunserita. 6 Ele € especialmente elogtiente quanto As mudangas ocorridas no mundo gracas & invencio da imprensa. Esta introduziu na socie- dade uma forga nova, a forca da opinio piblica, que é particalar- mente capaz de proteger a verdade contra o erro. “Temos agora ‘um tribunal cujo escrutinio ¢ diffell de evitar, e de cujo veredicto € impossivel fugir.” Ao _reconhecer 0 fato de que a populagéo estava aumen- tando, Condoreet se pergunta se poderia estar aumentando dema- siado rapidamente, e se poderia finalmente superar a produgao de alimentos. Nao resultaria isso numa diminuigdo da felicidad, sum verdadsiro retrocess0? Duas respostas podem ser dadas a isso, A primeira € que o uso de méquinas aumentaré a produti- vidade da terra, Ninguém pode prever como a engenhosidade do homem lhe permitira transformar os recursos da natureza em sev proprio beneficio. A segunda € 0 controle da natalidade. Se che- gar o momento em que uma populagio abundante tiver un supri- ‘mento insuficiente de alimentos, ¢ se a mesma razio tiver elimina do as superstigses absurdas que corrompem o eédigo moral, entio ‘os homens saberdo que tém um dever para com os que ainda nao fasceram de no thes dar existéncia a expensas da destruicao daqueles que jd estdo vivos. Malthus, quatro anos depois, de tum capitulo de seu Ensaio sobre @ Populagéo (1798) ‘a Con- doreet ¢ procura refutar seu otimismo, mas nao se ocupa do que diz Condorcet_sobre 0 controle da ‘natalidade. Na verdade, 0 subtitilo do Ensaio de Malthus € “Com observagées sobre’ as especulacdes dos Srs. Godwin, Condoreet e outros autores". Malthus, porém, pertence ao séeulo XIX. Saint-Simon ‘© Comte apreciaram, ambos, Condoteet, mas ambos o criticaran, Saint-Simon disse: “Foi Condoreet 0 primel- vo que concebeu a iia de escrever uma histéria do passado ¢ © PENSAMENTO SOCIOLSGICO No siicULO xvi s do futuro da inteligéncia geral. Seu projeto era sublime.” Acres. entou rapidamente, porém, que eua execugio foi indigna. Saint- Simon fazia objegdes ao Exboco sob trés prismas: 1) Condoroet sustentava que a Tinguagem estava presente desde os primérdios, ‘a0 passo que ela s5 poderia ter surgido depois de um longo pro- cess de desenvolvimento; 2) apresentou a religido como um. obstéculo 20 bem-estar humano, quando na realidade ela. serviun como fator de integracio na sociedade; ¢ 3) sua opinigo sobre 2. perfectibilidade ilimitada da natureza humana era erronea. © Comte foi mais positive do que Saint-Simon. Chamou Condorcet= de seu. pai espiritual, referiu-se & introducéo e 20 ditimo capitulo do Esboco como imortais, escreveu: “Depois de Montesquieu, © progresso mais importante na concepgao fundamental da So:io- logia toi feito pelo infeliz Condorcet em seu trabalho memordvel, a Exquisse.” Nao obstante, Comte achava que, embora Condoreet tenha oferecido um conceito de progresso, nfo conseguiu desen- volver uma teoria que o explicasse. A verdadcira lei que ele dese- jou descobrir, uma fei como a da gravidade, fugiu-the. Para Con- dorcet, Newton foi sempre o padro pelo qual o progtesso das outras cigncias deveria ser julgado e a inspiragko para encontrar na sociedade 0 funcionamento das mesmnas leis universais que go- vernavam os movimentos do universo fisico. Italia Na noite de trevas espessas que envolve a antiguidade remota, tio» distante de nés, britha a luz eterna e perene de uma verdade’ ack ma de qualquer divida: a de que 0 mundo da sociedade huma- ‘na fot seguramente feito pelos homens, ¢ seus principios #0 encom ‘réveis, portanto, nas modificagdes de’ nossa propria. mente. hima- nna. Quem quer que rellita sobre isso nfo. pode deixar de espantarse com 0 fato de que os filtsofes se tenham concentrado no estude do mundo da natureza que, tendo sido feito por Deus, s6 por Ele pode ser verdadeiraments conhecido; e que tenham nesligenciado 9 estudo do mundo das nagdes, ou do mundo elvil que, tendo sido feito. pelos homens, pelo homem pode ser verdadeiramente ‘co- aahecigo."® Sao palavras de um italiano, Gismbattista Vico, o primeiro grande socidlogo da Itélia e um dos mais originais ma histéria da Socio- logis. Se, por um acaso circunstancial, tivesse ele criado a pala vra “sociologia”, em tagar de Comie, seria considerado hoje como o fundador dessa disciplina, que teria entio mais cem anos de idade, “4 HISTORIA DA. ANALISE SOCIOLOGICA Vico nascen em Napoles em 1688 e morreu naquela mesma cidade em 1744, Durante quase toda a sa vida adulta ocupow 0 cargo mal remmerado de professor de Retrica na Universidade de Napéles — na verdade, to mal remanerado que tinha de com- plementar sua renda com atlas particulares. Quando chegost © mo- mento de publicar seu livro, nfo howve nenfiuma ajuda papal ow ‘qualquer oatra, e ele teve de empenhar seu objeto de maior valor, 4m anel, para ‘pagar ao impressor “42 Isso foi no ano de 1725 e © nome do livro era Principi di ina science muovs @intorno alla commune natura delle nozioni {Principios de uma ciéncia nova sobre a natureza comum das na~ ‘Sbes], € hoje universalmente conhecido como Sciensa Nuova, ou A Nowa Ciéncia. Continuiow tevendo esse livro até sua morte, sen- do um trabalho que se ocupa de todas as ciéncias a que hoje cha- mamos de sociais. Mas, acima de tudo, € uma teoria sociolégica da ascensio ¢ queda das nagies. # a historia da génese da socie~ dade € da longa transicio para a civilizagio, proceso que se inicia com a religigo ¢ termina com as artes e cigncias. Como a Inquisigéo ainda estava desagradavelmente presente em Népoles, Vico teve de preservar o Jardim do Biden, mas depois do Diliivio ‘os hotnens se encontraram num estado bestia, d persos “pela floresta do mundo”, aterrorizados pelo trovio e 0 felimpago, e envergonhados tinham de buscar 0 abrigo das ca- vernas para suas relagies sexuais. Surgiram assim as familias, depois as comunidades. A ordem das coisas foi primeiro as flo- estas, depois as chogas, depois as aldeias e as cidades. As 50- ciedades comesaram com a religiéo, que é também uma resposta 20 medo “Varro recolhen diligentemente nada menos de vinte mil nomes de deuses conhecidos dos gregos. Esses nomes indicavam as necessidades da vida, a vida natural, moral, econémica ou civil, desde as mais remotas eras.” As classes sociais surgem cedo no processo historic, Os refagiados buscam a protegio de familias 6 instaladas © a recebem em troca de seu trabalho. Temos assim ‘uas classes, herdis e fugitivos, como mais tarde temos em Roma patricios e plebeus. Vico, atribuindo a idéia aos egipcios, identifica trés estigios ou periodos nas histérlas das sociedades humans, antecipando assim Turgot, Saint-Simon e Comte. O primeiro é a idade dos deuses, na qual os homens vivem sob Governos divinos e slo xgovernados pelos auspfcios e oriculos. © segundo € a idade dos heréis, quando 0 patricio entra em conflito com o plebeu, des jando'o primeiro preservar 2 sociedade © 0 segundo, mudi-la. (© PENSAMENTO SOCIOL6GICO No SECULO XVI 43, © terceiro é a idade dos homens, quando estes reconhecem sua igualdade e sao capazes de formar, a principio, urna comunidade, fe em seguida uma monarquia, Vico, como Comte, busca triades fem toda parte, Na linguagem, a progressio se faz do sagrado para ‘0 simbélico e deste para o “vulgar”. Homero, por exemplo, men- ‘ciona uma lingua mais antiga do que a sua, que deve ter sido a ingua dos deuses. Hé, da mesma forme, trés maneiras de com- preender 0 mundo —'a animista, a mitopoésica, ou criadora de mitos, ¢ a cientifica; ¢ trés formas de costumes: 0 religioso, 0 meticuloso e 0 humano. A lei era a principio divina, como ‘no cédigo de Moisés; depois herdica, como em Licurgo; e em s guida humana, quando se desenvolven a razio. Cada estigio € ‘uma unidade organica e carrega consigo, em sua progressio, a lingua, a arte, o Governo e a religifo, cada qual em harmonia com os outros, Na terceira fase também as sociedades passeram da poesia para a prosa, € do costume para a lei — quase, somos ten- tados a dizer, de Gemeinschaft para Gesellschaft. ‘A terceira fase, porém, nao é mais permanente do que @ pri- meira ou a segunda. A idade dos homens entra em decadéncia quando eles deixam de respeitar a lei, quando 2 anarquia prejudica a igualdade e quando a filosofia substitui a religiéo. Surge ums nova barbirie, e 0 ciclo recomeca. Assim, a histéria é uma série de ciclos, corsi ¢ ricorsi, repetindo-se sempre. As sociedades, & claro, podem sucumbir & conquista externa, e podem por vezes ser detidas em sta progressio através de trés estégios. Mas no todo suas histdrias evidenciam um padrio ciclico. Foram essas as fases atravessadas tanto por Roma como pela Europa, E um erro, além disso, supor que a cultura tenha surgido numa sociedade que cem seguida 2 transmitiu a outras, Cada sociedade desenvolveu suas instituig6es préprias isoladamente das outras. Podemos, portanto, supor que, se idgias idénticas evoluiram em sociedades que néo tinham contato entre si, devem ter alguma base de verdade, € nenhuma tradigio pode ser totalmente falsa. Versado em Técito ¢ no Aristételes medieval, Vict desde logo Descartes ¢ adotou Francis Bacon. Pata Vico, néo é a Matematica, mas a histéria — e, por inferéncia, mao a dedugio mas a indugfo que nos revela realmente a natureza do mundo. Embora fazendo certas concessées & Providéncia, e nunca deixando de ressaltar a significagio da religiio nas sociedades humanas, Vico no obstante di uma estrutura cientifica & histéria, Nao & a Providéacia, mas os estados mentais do homem, que determina. (© curso dos acontecimentos humanos. A explicagio da historia, 46 HISTORIA DA ANALISE SOCIOLOGICA da sociedade em geral, deve ser procurada no préprio homem, a historia tem assim uma base na Psicologia. Toda sociedade tem seu proprio destino imanente, e as causas de suas mudangas sio antes naturais do que providenciais, Com isso, ele faz soar uma nota nova, que the assegura um lugar entre 0s sociélogos do Tumi- nismo. Se Voltaire foi o Bertrand Russell do séewlo XVIII, Vico foi 0 seu Oswald Spengler. A histéria da repereussdo da Scienza Nuova é curiosa. Seria de esperar que uma realizagio tio inovadora tivesse efeitos ime- diatos sobre 0s contemporaneos de Vico na Franca, Alemanha, Inglaterra e, acima de tudo, na Ttélia. Com excecio de um pe queno grupo em Veneza, nada disso ocorreu. Houve um breve co- mentirio negative na Acta Eruditorum de Leipzig, mas sob outros livro foi totalmente ignorado. Como H, P. Adams es- ’oi_ como se tivesse sido construfdo um grande navio, capaz de navegar por todos os mares do mundo, e ficasse ancorado no cais do constrittor, para ser visitado ocasionalmente, por uns poucos amigos do inventor, © mencionado em sua correspondéncia Por uma ou duas pessoas superiores, que reconbeciam no tanto © seu valor, ¢ sim a inteligéncia que deveria ter orientado a sua construgio.”® Segundo Adams, Montesquieu visiton Veneza em 1728, foi convencido 2 comprar um exemplar da Sciensa Nuova por uma figura literdria chamada Antonio Conti, mas quando vi- sitox Napoles no ano. seguinte io procurou conhever Vico. Usando Benedetto Croce como autoridade, Max H. Fisch diz que Montesquiew pode ter conhecido o autor durante sia permanéncia em Napoles ¢ possivelmente recebido dele um exemplar da pri= meira edigio, que ainda existe na sua biblioteca em La Bréde René Wellek nos diz que Montesquieu registrox em seu diario, quando em Veneza, a intengio de adquirir a Sciensa Nuova, mas talvez nfo 0 tivesse feito, e Wellek contradiz frontalmente Fisch € outros: “Nao existe exemplar do volume no catélogo da biblio- teca de Montesquieu nem entre os livros hoje preservados em La Bride.” Goethe adquiriu um exemplar do livro em Népoles em 1787 © o emprestou seu amigo Jacobi. John Stuart Mill, numa carta de 1844 a Auguste Comte, confessava nao ter tido Vico, © foi naguele ano que Comte 0 leu, dois anos depois de publicado 0 ikimo volume de 4 Filosofia Position. Ha uma breve referéncia a ele em Politica Positiva e seu nome foi devidamente re- gistrado no Calendério Positivista. O americano George Frederick Holmes, entio professor da Universidade de Virginia, escreven a Comte em 1852 dizendo que Vico tinha maior direito do que Condorcet a ser cotsiderado como precursor de Comte. Em © PENSAMENTO SOCIOLOGICO No siiCULO xvmT at suma, Vieo 6 foi descoberto no século XIX, Benedetto Croce atribui a austncia de reconhecimento, quando em vida, a sua “po- sigio singular e talvez excepcional na histéria da Filosofia, um amacronismo em virtude de um excesso de génio”. Escécia David Hume (1711-76), um dos homens mais aféveis e um dos maiores filésofos, 6 conhecido como epistemélogo, moralista, tedri- co politico historiador. Céptico quanto & validade da deducio causal, que atribuia totalmente a0 costume e no & razio, era também sensivel ao papel do costume das convengées em outras Areas da vida do espirito. O costume ¢ na realidade o grande guia da vida bumana. Torna nossa experiéncia itil e nos Teva a espe- rar que 0 futuro seja como 0 pasado. Se hé uma harmonia prees- tabelecida entre o curso da natureza ¢ nossas idéias, ela se deve a0 costume: “O costume & 0 principio pelo qual essa correspon- déncia foi estabelecida; portanto € necesséio & subsisténcia de nossa espécie e & regulagio de nossa conduta, em todas as circuns- ‘téncias da vida humana.” ™ Temos aqui uma incipiente Sociologia do Conhecimento, Hume também atacou a doutrina do direito na- tural e insistin em que nosso entendimento do direito ¢ do bem sho derivados das convengSes da sociedade. As regras — ou 0 que devemos hoje chamar de normas — so nevessirias tanto para a satisfagio dos interesses individuais como para a estabilidade da sociedade, A sociedade ¢ possivel sem Governo, mas so a vemos sem Governo em condigées primitivas. A fraqueza dos homens & que eles parecem preferir um bem imediato a um outro, mais dis- tante, e essa tendéncia pode ser minorada, mas nfo ctrada, pela instituigéo do Governo. a Home talvez se tenha aproximado mais de uina apreciagéo a Sociologia, naturalmente sem esse nome, no trecho seguinte: Admitese universalmente que hé uma grande uniformidade entre fa agéet dos homons, em todas as naples ¢ idades, e que a natu ‘reca humana ainda continua a mesma, em seus principios © ope- rade, E mais adiante, no mesmo parégrafo: ‘Quor conhecer os sentimentos, inclinagées e curso da vida dos gre- 0s e romanos? Bstude bem o temperamento ¢ as agGes dos fran- exes © ingleses: voc® mio pode cometer muitos erros transferindo pats os primeitos 2 maiorla das observagSes que tiverem sido fer 43 HISTORIA DA ANALISE SOCIOLOGICA tas com respeito aos segundos. A humanidade & muito parecida, fem todas as epoeas ¢ lugares, © a histéria nada nos diz de novo ou fesranho, nesse particular. Sua principal utildade & apenas a de escobrit os principios constantes ¢ universais da natareza humana, ‘mostrando os liomens cm todas as variedades de circunstincias situacdes, © proporeionando.nos material com o qual podemos for ‘mar nossas observagdes © conhecer as molas roguleres da a¢éo ¢ 60 comportamenta humano,"® Devemos, € claro, levar em conta a diversidade de caréter, pre- conceitos, © opinies, e as diferencas de idade ¢ sexo, mas no todo ha uma ‘uniformidade de’ disposigso entre os. homens. Ao diseutir a origem da justiga e propriedade, Hume tem oportunidade de especular sobre a origem da sociedade. A nature za foi cruel para com 0 homem, dando-lhe mais necessidades do que meios para satisiazé-las, sendo portanto apenas na sociedade gue “suas fraqueras sio compensadas"." “A esas necessidades Junta-se uma outra, que & 0 principio primeizo ¢ original da so- ciedade: “ssa necessidade nadia mais ¢ do. que o apetite natural entre os sexos, que 0s une e preserva sua unifo, até que um novo Jago surge em sua preocupagio com os descendentes comuns. Essa nove preocupacio também se tora um pti 0 pais eos filhos, ¢ forma uma sociedade mais mumerosa.” __Incidentalmente, Hume acredita que um estado natural é uma ficgGo ociosa, Num 'ensaio intitalado “Do Contrato Original”, ele diz’ que essa ficgio € itil apenas por mostrar como a justiga sarge fem conseqiiéncia da convengéo humana, Esti disposto a admitir que no principio, quando 0 Governo teve sua “primeira origem nas florestas © desertos", alguma forma de contrato social deve ter existido em condigses “tio ébvias ¢ claras que se poderia consi- derar supérfluo expressictas”. Mas todos os Governos conhecidos da histéria basearam-se mais na forca do que no. consentimento. > Esse ensaio leva Peter Gay a dizer que “Hume procura converter nao apenas a Filosofia Moral, mas também a Filosofia Politica em Sociologia’ © Num ensaio intitulado “Dos Caracteres Nacfonais”, Hume discutin em detalhe a influéncia dos fatores geogrificos sobre a sociedade ¢ tem ditvida, em contraste com Montesquieu, de que “03 homens devam qualquer coisa do seu temperamento ot géni ao ar, alimento, clima”. Na verdade, num discurso erudito sobre © ascunto, apresenta nada menos de nove razées pelas quais a in- terpretagio geogréfica ¢ inaceitével. & possivel que nas latitudes Norte os homens tenham a propensio ao consumo do alcool, 20 paso que no Sul preferem o amor ¢ as mulheres, mas mesmo’ sob fesse aspecto as causas morais podem ser to importantes quanto © PENSAMENTO SOCIOLOGICO NO SECULO xvi 49 as causas fisicas. Hume escrevex muitos outros ensaios sobre: assuntos que podem ser considerados sociolégicos — sobre gosto- fe paixdo, sobre superstigéo e entusiasmo, sobre a dignidade ow ‘mesquinher da natureza humana, sobre a liberdade civil, sobre a ascensdo © © progresso das artes e ciéncias, sobre a poligamia e © divircio, sobre 0 padrio do gosto, sobre 0 dinheiro, o juro, 03. costumes, sobre a populagéo das nagies antigas, sobre a impa~ déncia ea modéstia, sobre o amor ¢ 0 casamento, e sobre 0 sticin dio. Finalmente, sua Hidtéria Natural de ReligiGo, com 0 uso de material comparado, é fora de diivida uma contribsigio para a Sociologia do assunto As afirmagBes de que Adam Ferguson (1723-1816) & 0 ver- dadeiro pai de Sociologia so hoje tio numerosas que, como os tributos 2 Newton, tornaram-se monétonas. Ele foi um membro- importante de um circulo de intelectuais de que faziam parte David Hume e Adem Smith, mais conhecidos, grupo esse que criow, jum- tamente com os grupos em outras artes e ciéncias, 0 Thaminismo escocés. Na verdade devemos lembrar que a Edimbargo da época, conhecida como “a Atenas do Norte”, rivalizava com Paris © su- perava Londres e Filadélfia como centro de cultura ¢ erudicio. Sob muitos aspectos, a Escécia do séeulo XVTIT tinha lagos. mais fntimos com a Franga do que com a Inglaterra. De qualquer modo, Ferguson, 0 escocés miais tipico de toda a raca, como era mencionado na Edinburgh Review, ® servi como capel@o de um regimento escocés, deixou a Igreja da Escécia em circunstancias até hoje misteriosas, ® substituin Hume como curador da Biblic teca dos Advogados, ¢ tornou-se 0 primeiro Professor de Filoso- fia Natural e, em seguide, professor de Pneumética ¢ Filosofia Moral da Universidade de Edimburgo, cargo que ocupou de 1759" ‘até sua aposentadoria em 1785. Publicow seu Essay on the Hise tory of Civil Society em 1767 ¢ mais tarde (1792) suas conferén~ cing, sob o titulo de Principles of Moral and Political Science Escreveu também uma History of the Progress ond Termination of the Roman Republic, que publicou em 1782. Ferguson acreditava que a sociedade é 0 estado natural do- homem e que o estudo adequado da humanidade é 0 estudo de grupos, e nio de individuos. “A humanidade deve ser considerada fem grupos... ¢ toda experiéncia relacionada com esse assunto deve ser feita com sociedades inteiras, e ndo com homens isola dos.”™ E ainda: “A humanidade sempre foi ndmade ou seden- téria, concordow ox brigot, em tropas e companhias.”® A pré- pria mente humana, numa’ proposigéo relacionada com uma das 30 HISTORIA DA ANALISE SOCIOLOGICA roposigées de Hume, depende da sociedade para o seu desen volvimento A atmosfera da sociedade, do todo, podemos concluir que & 0 cle ‘mento no qual a mente humana deve aurir © primeio alento da Dropria inteigéneia, ox mesmo o ar vital pelo quai o ar celeste do Sentimento moral 'é alimentado; no podemos duvidar que sein {de um efeito poderoso em excitar essa chama, © que a mente dos homens, para usarmos um exemplo familia, pode sor comparada 4 ‘esses combustiveis que, tomades & parte, dificilmente si0 ace Sos: mas que, se reunidos em montes, so facilmente tansforma: fee em chamas.s¢ E ainda: Da sociedade derivam no s6 a force, mat a existéncia das mais fo- Uizes emogées do homem; nfo s6 a melhor parte, mas quase que © todo de seu cardter racional. Enviado para 0 descrto sozinho, cle € luma planta separada de suas raizes; a forma pode realmente per durar, mas todas as faculdades declinam e murcham: a pestoa i. ‘mana’ e 0 earéter humano deixam de exist 5€ Ao estudar a soviedade, & necessirio eviter invengSes, conjeturas € especulagées (ele pense em Rovsseatt) © em lugar disso recor rer & observasio, Na verdade, a Filosofia Moral deve depender de bases, cientficas © usar as evidéncias empiricas da Geografia, Psi. cologia, histérie da Nngua ¢ populacio. Mas ele nao procarow de- duair a estrutura da sociedade a partir de principios psicoldgicos ,,_nfluenciado por Montesquien, como todos of seus contempo. raneos, Ferguson reconhecea a importineia da Geografia, mas e- jeitou qualquer teoria do fator isolado para explicar a’ mudanga social. Tem as suas trés fases — selvagem, barbara ¢ “polida” —— ¢ elas permitem a MacRae consideri-lo como um pensador evo- fucionatio antes de Darwin. Também rejeitoa qualquer nocio de que os homens vivem num estado natural: se buscarmos um ¢s- tado natural © encontraremos onde estamos, & nossa volta, nas ithas Britinieas ow no cabo da Boa Esperanga E, mais sofisticn. do do que seus sucessores do sécilo XIX, rejeitow a analogia com © organismo: A cstrutura humana tem um curso geral; tem, em todo individuo, Juma contextura fragil, de duracéo Iimitada; 6 desgastada pelo exer. cicio € pela repetipéo de suas funcSes. Mas numa sociedade cujos membros consituintes so renovades a cada geracio, onde x raga parece desfrutar a juventude perpéina, e acumular vantagens, io Podemos, por nenhuma paridade da Tazo, esperar encontrar i © PENSAMENTO SOCIOL6GICO No SECULO xvi BL Docilidades relacionadas com a simples idade © a extensio dow dias. Ferguson ressaltou tanto @ uniformidade como a diversidade das sociedades humanas. A evolugio social nfo tem uma finalidade: as sociedades “tropegam em estabelecimentos, que so na realida- de o resultado da agéo humana, mas nio a execucio de qualquer objetivo humano”, Copiam os costumes umas das outtas, mas so- mente quando a ociedade receptora esti pronta pera a troca. A evolugéo social ndo é linear, mas ciclica. Ferguson se pergunta com freqtiéneia por que as nacdes deixam de ser eminentes € ni0 oferece nenhuma explicagio totalmente satisfatéria, exceto a de que hd um declinio na virtude, A virtude floresce em tempos de luta e sucumbe 20 vieio quando as metas sio alcangadas. Antecipando Simmel em cerca de 150 anos, Ferguson argue ‘mentou que 0 conflito social tinha seus usos ¢ era, na verdade, essencial. “Quen nunca Iutou com suas eraturas € um estranbo & metade dos sentimentos da humanidade.” Os homens se delei tam positivamente com 0 conflito e sentem-se felizes com oporti nidades de oposigio. A agressio é revigorante. A guerra contri- bui para a coesio da sociedade civil; sem ela, a sociedade nao teria forma: “E initil esperar que possamos dar 4 multidio de pessoas uim senso de unio entre si, sem admitir a hostiidade aos que a elas se opdem”, ¢ “Atenas era necessaria a Esparta, no exer- cicio de sua virtude, como o ago o & para a pederneira na produ gio do fogo.” Dificiimente poderiamos ter uma expressio. mais Wicida do principio de in-group/out-group. Ferguson também re- couhecex — como Condorcet, e ambos antes de Malthus — que os meios de subsisténcia limitariam 0 crescimento popslacional. "Os homens se agiomeraréo onde a situagio ¢ tentadora e, numas poucas geragies, povoario todos os paises na medida de seus meios de subsisténcia,” Finalmente, Ferguson escreveu sobre a diviséo do trabalho @ como socidlogos depois dele, apreciou tanto suas vantagens como desvantagens. & necessiria’ tanto 20 progresso como 20 cul- tivo das “artes da vida”. Em sociedades selvagens e birbaras, 03 homens tém de fazer muitas coisas para screm capazes de fazer uma delas bem. Com a divisio do trabalho, podem separar as ta- refas, tommar-se eficientes nelas e ser, em conseqiiéncia, mais pro- dutivos. Mas a divisio do trabalho, como reconhecia Marx (que era admirador de Ferguson), também leva & alienagio. B portan- to a0 mesmo tempo uma béngio e uma cura, Divide a comunida- de © ameaga sua integragdo — criando assim o problema sociolS- gico que Durkheim tentaria resolver um séeulo depois. Podemos HISTORIA DA ANALISE SOCIOLOGICA ‘concordar facilmente com Peter Gay de que “ai piginas de Fer- guson sobre a diviséo do trabalho constituem um iueto mene a Sotiologia do século XVIII”. Se a essas piginas serene farmos as muitas que ele escreve sobre outros ‘asauntos seckin, gic0s, teremos no um triuafo menor, mas de proporgdes meine, Hii um certo sabor contempordneo em Ferguson, ¢ podemee elke ‘dele muma Tinguagem adequada tanto & nossa épeca quanto i om Como Donald MacRae sugere, se hd qualquer Economia em Ferguson, ela serviu a sua Sociologia. Em Adam Smith, oeores @ inverso, Sua Sociologia serviu tanto a sua teoria 7 Theory of Moral Sentiments (1759), como a sua teoria ceoaomicn am The Wealth of Nations (1776). Este tltimo, € claro, € on $08 grandes livros da histéria da Economia, Ao introduzit a "mae invisivel”, langou 2 base do capitalismo do iaissee-faire © torn Se gmbora nfo imediatamente, um dos livros mais influentes. ja. mais tscritos sobre Ciéncias Sociais. Crion mesmo aquilo que es alemies chamam de “o problema de Adam Smith”, ‘porqce swe fcoria tice parecia apoiar o altruismo; sua teoria econdmica, © ggoismo (“Nao € da benevoléncia do agougueiro, do padcito ‘ou Hecttyeieit©, awe esperamos nosso jantar, mas ‘da. preosupacso eles com 0 interesse préprio.”). Mas néo'o podemos reivitdas Para a Sociologia. Exceto pelos seus primeiros capitulos sobre a ‘divisio do trabalho, cle pertence totalmente 2 Eccnome Um exame da Escécia do século XVITT seria incompleto sem Sfuensto de John Millar. Ele nascen 2 22 de junho de 1735, on Kitk of Shotis, @ poucos quilémetros a leste de Glasgow, a eet trada de Edimburgo; ingressou no Velho Colégio (a Univer. Gade de Glasgow) aos onze anos de idade; estudou ali devarte S55 anos e freqitentou conferéacias de Adam Smith, de quem ,orNOB Amigo intimo; obteve permissso para advopar cn Edimburgo em 1760, ¢ em 1761, aos 26 anos, era nomene Pan festor de Dircito Civil na Universidade de Glasgow, cdtedra que Scupou com distingzo durante 40 anos até sua morte a 30 de mets Halk! Esereveu dois livros importantes, ambos muito clogindos rante sua existéncia, em seguida esquecidos ¢ mais recentameee ¥e dkscobertos como contribuigdes sérias 4 Sociologia. O primeh To ideles, The Origin of the Distinction of Ranks, tem coma cabin De, St frase informativa: “Um Exame das Circunstancias que Dio Origem 3 Influéncia © Autoridade dos Diferentes Monkees Sh Sociedade”. Foi publicado em 1771 e teve quatro edigées, 0 sesundo, An Historical View of the English Government from the Settlement of the Saxons in Britain to the Acccesion of the © PENSAMENTO SOCIOL6GICO No SECULO XVII 33 om ores es ra eae lane varias edigées, com suplementos. * cee Le eo esta ea aatranaes ntl tes Pais de Gales. Além disso: “As diferes _Mmanciras de pessoas nacional depende muito pouco da influéncia imediata do clima,’ as ciedade’ sem classes € uma esperanca va. As classes superiores si htc hee Pg antieclesiéstioos de seus contemporaneos escareclos © fo} wa Alemanha Embora no fosse ainda uma nacio, a Alemanha também teve sett Twminismo no séctlo XVITL Tnspirado por uma combinagio de deismo inglés e livre pensamento francés, ele teve nomes ius 3a MISTORIA DA ANALISE SOCIOLOGICA tres como Goethe, Kant, Lessing, Schiller, Herder e 0 préprio Frederico, o Grande, Este tltimo deixou, na verdade, sete volu- mes de historia, num total de trinta volumes, todos em francés; © em sua L’Histoire de mon temps, registrou mio s6 os aconteci: mmentos militares ¢ politicos de sew reino, mas também sua cién cia, filosofia, literatura ¢ arte, Lessing esereveu um livro. sobre a educagio da raga humana ® que era com efeito uma Filosofia da Histéria, e no qual considerava o Cristianismo como represen tando apenas um estigio da histérie, a ser substituido por um outro estigio, jé atingido por alguns individuos, no qual 2 razto predominaria, Mag 36 Herder pode ser considerado como sociblo- £0, mesmo assim, se formas bastante generosos com essa. clas- sificagao, Herder (1744-1803), mais romantico do que racionalista, foi mais pio do que seus contemporineos franceses € escocescs, '¢ Providéncia tem um lugar em seu esquema de coisas. Os racion nalistas desprezavam a Tdade Média; Herder, pelo contrario, elogiavaa como um periodo de imaginacio, simplicidade © paz, Em sou primeiro livro sobre a Filosofia da Historia — Auch eine Philosophie der Geschichte (1774) — ele argumentou contra a idolatria da razio ¢ admirou as civilizagées classicas de Grécia e Roma. Sua magnum opus foi publicada em quatro volumes, 1784.91, sob o titulo Ideen sur Philosophie der Geschichte der Menschhseit®® No preticio, explica que nao pretendia, em seu tra- balho anterior, aplicar termos figurativos como infancia, adoles- eéncia, maturidade e velhice 2 todas as nagGes ou deixar implicito que toda a “historia do cultivo” podia ser acompanhada com se- guranga. Ocorreu-Ihe, porém, que, como tudo o mais no mundo tem sua filosofia ¢ ciéncia, assim também deve haver uma fia ¢ uma ciéncia daquilo que nos preocupa mais, o seja, a téria da prépria humanidade, Deus, que regulou “tudo 0 mais na natureza, teria deixedo ao acaso o curso da histéria? Talver_a melhor classificago para o Livro seja a de histéria universal. Comega com a criagio da ‘Terra e seu Inger no sistema solar ¢ trata dos reinos vegetal e animal, a estrutura de plantas ¢ animais, os instintos dos animais, as diferengas entre homens ¢ animais, ¢ a capacidade de raciocinér do homem. O autor passa a discutir’ as caracteristicas fisicas dos povos nas virias partes do mundo e evidencia uma apreciagio especial da influéncia do clima sobre as diferentes ragas. Sobre tal assunto, porém, nfo é dogmi- tico: B verdade que somos um barro maledivel s milos do clima; mas (08 sous dedes mokdam de forme to variads, e as leis que os neu (© PENSAMENTO SOCIOLGGICO No SHICULO xvnI 55 trahzam so tho numerosas, que talvez apenas 0 génio da human dade 6 capaz de combinar as relagbes de todos esses podores mum todo." le insiste — ¢ na realidade é esse um dos titulos de seus capi zpenas uma e a mesma espécie de homem em toda a Terra.” Nao se deve dizer que existem quatro oa cinco ragas de humani- dade, porque “uma se assemelha a outra”, Adverte-nos a nao ir demasiado longe na comparagao do homem com 0 macaco, conti- do, ¢ hé ai uma pequena antecipagio de Darwin, ‘Ao contrério de Hobbes, Herder nfo considera o homem ‘como ser poco social, e muito menos como um animal de rapina. Reconhece que 0 homem depende de outros para o desenvolvimen- to de suas faculdades: Concedido no seio do amor, ¢ alimentado no peito da afeiedo, ele & educado pelos homens ¢° doles recebo mil beneficios gratuits, ‘Assim, elo se forma realmente na sociedade © para cla, sem 0 ‘que no poderia ter recebido o seu ser, nem se ter tornado um ho- mem.100 A paz, € nfo 2 guerra, é seu estado natural, embora a Giltima seja, por vezes, “fille da nevessidade”. A natureza leva o homem & mu ther, “uma eriatura ao mesmo tempo diferente ¢ semelhante a ele, fe cujas paixées dificilmente entram em choque com as stas, pois tém a finalidade de formar uma unio”, "" Herder sugere que 0 “Sexo fraco” possui virtudes que nfo 40 concedidas 20 homem e que © governa pela sua bondade. As virtudes masculinas sio a coragem, o amor paternal ¢ @ amizade, sendo esta iltima “o mais sobre Jago. do. homem”. Grande parte do livro é historiografia ortodoxa, Herder des- creve com detalhes a historia da China ¢ do Japao, Babilénia “Assiria, os medos e persas, os hebreus e egipcios, Grécia © Roma, fas nagdes germinicas e eslavas, os reinos bitbaros, o progresso do Cristianismo, as Cruzadas ¢ histéria da Europa. Diz-nos que todo acontecimento histérico deve ser visto como um fendmeno natural e, quando isso é feito, “as catssas pelas quais nao pode ser de otro modo aparecerio comumente”. % S6 podemos de sejar que assim fosse, Podemos dizer, incidentalmente, que néo hat ‘em Herder uma concepgio de clases de acontesimento, de repeticio de padrées, co que entendemos, em suma, por institu speed ed oo clemson Gologia poderia fazer. Como o homem & parte da criagio, segue- se que deve obedecer as leis, “no menos belas e excelentes do que 36 HISTORIA DA. ANALISE: SOCIOLOGICA as leis pelas quais todos os corpos celestiais se movimentam”, #88 As leis 2 que da expressio, porém, sio simplistas © mesmo insi. pidas.i% Se nos decepcionamios com as respostas por cle dades as aiuestbes de que se ocupon, temos de dizer, numa nota positive, gue as préprias questes tinbam um cardter autenticamente, ae, Goligico, De qualquer modo, sua influéncin sobre 2 historiogratte ge von Ranke e Mommsen, e sobre a Filosofia da Histotia de Kant ¢ Hegel, no pode ser ignorada. Conelusio © eitor deste capitulo notou, sem divide, que néo hi nada sobre © Pensamento sociolégico na Inglaterra do século XVIII. Poe ee franho que pareca, nao Ii nenhuima figura naquele pats, em toe g betiodo de Locke a Malthus, que tenha estatura ‘cemelhante & destes dois autores, e poucos que poderiamos mencionar com cet {ere como tendo um interesse predominante na natureza de soca, dade, Bacon, Hobbes ¢ Locke — para nio falarmos em Newton Tndituenciaram poderosamente os Fil6sofos franceses, mas on psetores de Locke na tradigéo empirica britinica foram George Farksley, irlandés, ¢ David Hume, escocds. David Hartley pee Bicou suas Observations om Man: His Frame, His Duty, ond His Expectations em 1749; mas como Condillac, do outry into do canal, ele pertence & Psicologia, e nio & Sociologia. Mais tarde Faauele século, Shaftesbury, em’ suas Characteristics of Mem, Monners, Opinions and Times (1711), argumenton que a socie. dade se baseia na sociabitidade natural’ do homem, Intereasava-se mais, porém, pela ética ¢ estética do que pelas manciras constantes ck sen tinilo. Mandeville, autor de The Fable of the Bees (1714), 2 que acrescentou um apéndice em 1723, intitulado “Um Bxame sobre 2 Naturera da Sociedade”, insistia em que os vicios priva- Gos sio bens piiblicos, encontrou a origem da sociedade nos pa fes dos omens e antecipo 0 darwinismo social. 2° Bolingbroke eseteven Letters on the Study and Use of History (1738), afir, mando-nos que ‘a Historia & a Filosofia ensinada pelo exemplo”, £ Pedindo-nos que examinassemos as causas ¢ conseqiicncies doe acontecimentos histéricos. E Burke, mais prético do que filésofo, acrcditava ser Deus o responsivel ‘pela ordem sotal, achava, que Serco, 9 Romem wm animal social a familia é a unidade adequala de studs © defendia a desigualdade social, sob a alegagdo de que G inevitével. Mas nenbum doles € um_representante importante do pensamento sociolégico. O mesmo podemos dizer de Binckctone (© PENSAMENTO SOCIOLOGICO No SECULO xvi a7 ¢ Bentham, cujo trabalho surgiu mais tarde no mesmo século, e SoG cajo liv conferis majestade a bistoriografia ingles Do lado ocidental do Atléntico, Franklin Jefferson foram hmese do, ina, Crm amos fre igs, fees ¢ énio foi 8 igual aos seus maiores contemporaneos seu génio foi pelo menos ig 3 arin Franklin eserevet Observations Concerning tomes rn eres Opamatn Conarg te expulia a proposcto demografica de que « migragio pura um pals ndo sumenarin, «longo prac, pepassio, pore diminat a taxa natural de cumento, ¢ sugeriu que um tnico pais, a In- aterra. por exemplo, seria suficientemente prolifica para ‘povoar foda a Terra, na auséacia de outros habiantes, Jefferson fee co muendrcs ponderados sobre os fexdmanos soca incase a po. lao, esratifcagto & via isiges scat Suns Notes om The State of Virginia, que pretendiam set um levantanent a tistico, acabaram sendo um exame muito vivo de varios aspect da vida ¢ da sociedade americana. ¥° Mas ninguém afirmaria que as contribuig6es Titerdrizs de Franklin e Jefferson pertencem & area da indagagio sociolégica aa 3 continuidade no desenvoivimento do pensamento soiolgico na Inglaterra e entre os pensadores americanos do. século I. Nao tiveram euotsoors imediatoo,¢ aosint su stra tom at 108, com livros cuja sighificacia sociolégica s6 € desco- tos e reew 2 8 & een erta depois’ de longos periodes de esquecimento, O Eiieresse Terns 4 ooo inka daca Ge Monteagsies Roasseat ¢ Condorest até Malis, Spencer © os darwinsas soos, de um Jado, ¢ até Saint-Simon, Comte ¢ mais tarde Durkheim, de outro Jado, ‘Temos, em suma, ama lina de indagagio, que be tornaré uma disciplina e uma tradigio quando a palavra “sociologia” sur- ge, recém-criada, da mente de Comte. NOTAS ; “ tof the Soca 1. Crane Brinton, “The Revolutions”, reetpedia,of Siences (wove York, Macilgn Cov, 1950), Vy ps 129 SSP Gi Pree Sey Bio) lem Cult So va Yo Hen Hl & Co. 190, Vou os s88G6: Dialer de hoa ace cme ae de © atv nga ero eter lembrndo dot de meio! foe ve gr Sobre © debe Jo poo, especialmente o de Bolingbroke, Pope, Yale 6 Len rt Har, arp Tours te Bio Contr, dg inns dH Lew Nay” tow Have: at aber Sip’ Press 198}. Tverd nes advert "Noo houve win deo, 38. HISTORIA DA ANALISE SOCIOLGaICA Hos, todos diferentes, mutuamente opostes, ¢ mesmo em choque entre si 0 Pore no ¢ igual ao de Volisire, © este estava multe diene le Lessing.” Os deisas ingleses do século XVII — inclusive figens wane Lotte Hecbert, Tindall, Toland, Wollaston, Collins e Chubb taneen evidenciavam uma diversidade de opinioes “Addison, {Reldentalmente, considerava-se um livre pensador, sob a alesagto Je gos fet “ateu” estava fora de moda. 4, Catt Becket, The Heavenly City of the RighteenthCentury Phic lesophers (New Haven: Yale University Pres, 1932). po. 31, 197 3. Citado nor Smith, 4 History of Modern Culture, wo. I, p. 356 6, Robert Nisbet, The Social Philosophers (Nova ark: Thocaas ¥ Crowell, 1975), pp. 217-18 7. gxoressio “eléneia politica”, porém, foi usada.primetro, a0 ‘gue tudo indica, em 1701 numa carta de Leibniz a0 Bispo Burnet, Em i738, Jonathan Swift, em Gulliver's Travels, tencionou at ineapscitege ae bbrobdingnasianos de “reduzir a politica’ a ume cigucia, como os contin ‘ais argutos da Europa fizeram”. Depois de Hume, a expresso se teen moeda corrente, Smith, A History of Modern Culture, vol. Il p81 8. Isso nfo significa que as duas preocupacdes sejam incompatives, 9. Fo Immanuel Kant quem traduziu a exprescio fregilente lumtires como Aufilarung, detinindo-a como a “libertacto do homem de te me, oridade auto-imposta”, e sugeria que o homem se havia amadurecyionna weraglo anterior & sua propria. Yrumanuel Kant, War ist dufeiivone (784); Smith, A History of Modern Culture, vol, Th p. 55 10. Nisbet nos fembra, porém, que com freqiénein eram tio inter terantes quanto sous adversétios sacerdotals © que do's deles, Marmiontel ¢ @Alembert, aié mesmo recorreram a0 censor para silencier Le Precone somalist, historiador © ertioo. Nisbet, The Social Philosophers, p18 Ale smesmo Locke, paladino da tolerancia, declinon estendéla os aiees, Uunitérios, judeus e' cetéticos 11. "As palavras de Condoreet estfo no Hoge de Buffon, as de Ho Bach no preficio so seu Systtme de la Nature. Amber sto) aiados on Smith, A History of Modern Culture, vol. Il, pp. 358-99. 12, | Uma figura hoje exquecida foi 20 ponto de proclamar a divindade a, redo: Johann Christian Edelmann, Die Gottichtelr der Yermunft ‘amy 13, A obra clissice sobre o assunto € J. B. Bury, The Idea of Prow front (Nove York: Macmillan Co., 1932), com uma introdugho de Chon les A. Beard. Referimo-nos a essa idgia apenas incidentalmente gorse tratada em detathe em outro capitulo deste Tv. 14. Poucos creditariam nos milagres da Biblia, no tivessem eles lum autor t20 dstinto! 4S. Net a obra de Peter Gay em dois volumes, Te Enlightenment: An Interpretation (Nova York: Allred A. Knopt, 1967, 19036 16. A obra de Vesslio, Sobre @ Eetrutura do Corpo Hurnano, 101 ppublicada no mesmo ano, © a de Cardano, A Nova Avie (abe Atuebrey ois anot sepois, 27., 2 possivel que o prefécio tivense 0 efeito benéfico de eliminar obstéculcs que teriam impedida ov evitado a publicasde ao Tee © PENSAMENTO SOCIOL6GICO No siCULO XVII 39 . Fo Kepler tamém quem, como alguns de seus storsores mas at ito el 3 ee oi ena sek fsmatica. Sua tenda nfo correspond & sun fata ey quando a8 me ther moweu, ete resale ical outa cascada todas a sees J Sc conhesinenio uma erala Ge scordo com valores mumtios abu dee suse qualidadss, O resto dn hotéin lmbem pertcnce ¢ Presrved Smith “Ese metodo de escolher uta eposa parece Ho prudente doe he dove ier paesdo uma, contariedads inexplcvel & hatmona, das css fe a seahora esolhida lon ses eile tivewo. dclnado da hon, © Xe foe obrigado a desost na lta antes de resolver equaglo de Mate: Sten matriminio” Smith, History” of Modern Cur, vol pm A obra de Lene Cooper langou enone divide sobre 8 autem cine sg ‘na engestict coma lego tanto Ste 6 "ep St'muove", quo Gallen teria siurmurado depos de sun condenado. fa elo Tribuoal da Inquisigao, Nao ha roferénda 8 experiencia ere uate Sin obras publcadar por Calls © que ¢ inleresame, a vino correla seen’ st 6 ao gin cry de pan dog cam com onan Gelocdade nun vieuo pode sr eacontada oi De Rerum Natures Tereso. Ver Lane” Cooger, dvistale Galo” aid’ the Tower of Psa thaess Comme! University Brea, 1935) OOS. Sib, 4 Bory of oder Ciltre, vl. typ. $3 Bn Hat ste ar naa (8 inn ts we meiis de la Philosophie de Nevion (W138) : 2. Kes votes hay insentalneniey uma versio do séulo XX And 39 i was; unit the Dent, ering Ho, Sad, tet Eintin ber and revtorcd th sates quo. TE astm fol sté quo o Dish, grando Hl, Dine: Que exista Einstein, retabelesou © status quo] 28. Smith, A History 0f Modern Culture, vol. 1, p. 58. Vale 2 pena nienclons tives make do que ieienaltiente, que” Coptrnica era otnés rahe, dnamarguss; Kepler, slomay Galle, Halanar © Nevin. Sos : as jecgrafa, que Inclul tanto a exporagio como a cartgzalia, dere saan ot sane tw Xvi” Ve Prac ith, 4 Flitry of Modern Cultre, vol 1, cap. W, ¢ sol I, cap. Sine’ Denoprfiae Shatin, ce "A. Well, ary 6) Selene Technology and Philosophy nthe Eighteenth Centiry, 28 ci revi pot Di'Mckic (Londres: George Allen de Unni, 1980) Schve Demogrfla: wer {amém The Determtnants ond Consequences of Population Trends (ODN infon Studies n.0- 17) (Now York. Unted Nationa, 1953, 3s" Caria LXXXVA. Montesuie, Caras Peres 26. Montzsaulon, Conidvadons ur les cauter de fx graneur des Ro- mains et leur deadence: (130), cap. 98 : “Sohn Plamenata, Man’ ond Sovity: Polieal and Social Theos: Mechisel through Rouseas GNora Yorks McGraw Hil Book Go, 1983, vol. J, p. 256. Ver todo 0 eaplulo salxe Montesqulel, pp. 25338, em: Bora én sua mslr parte cle tate da tot polis 28" Sim, seahore, déemme o mapa dem pal su configura, seu Gling, suas Aes, sus vento © toda'e Sua grogafia fen, lcmae tum posi natal, sua Tors, sua zockoin, © eu me compometa a Sizeres, prlar, como sord 0 homes dese pals que papel exe pat 60 MISTORIA DA ANALISE SOCIOLOGICA {er na histéria nio gor acaso, mas necessariamente; © ndo numa época, mas fem todas as époces". Victor Cousin, Introduction @ T'istolre de tel Phas Jotophie, citado por Lucien Febvre, A Geographical Introduction to Hse tory Condres: Routledge & Kegan’ Paul, 1925). p. 10. Lembramos tons bem a impaciente “refutacio” de Hegel: “Nio me talem de determinantes ‘geosréficos! Ondo antes viveram o3 gregos, vivem hoje os tureos, Iso sor iuciona a questo” 29. Montesquiew, O Espirito das Leis (1748), livro XIV, cap. 1 30. Bid, tivo XIV, exp. 1 31. Ibid, tiveo XIV, cap. 10. 32. Bid, livto XV," cap. 7 33. Ibid, tivea_ XV, cap. 7. 34. Did, ivro XV," cap. 8. 35. Bid. tivo XVi, cop. 8. 36. Ibid, livwo XVH, cap, 5. 37, Wid. tir XIV, ‘cap. 14." Sobre 0 que Montesquiew peasava do lima em goral, inclusive as fontes de sues ideas, ver Rebert Shackleton, Montesquieu: A Critical Biography (Oxford: Oxford University Drees, 1961), pp, 302-19. ‘Ver tambem Plamenatz, Man and Society, vol, I of 257-60; © Raymond Aron, Main Currents in Sociological Pheush, Gatee ‘0 inglosa de Richard Hioward e Helen Weaver (Nova York: Bask, Books, 1965) 38. Montesquieu, © Espirito dat Leis, livto XIX, cap, 6. 39. Lembramo-nos de “Aristotels, que esereve ‘gue “uma Tei tia toda a sua forea do costume”, © da famosa pergunta de Taito, “Quid leges vine moribus’™ 40. Aron, Main Currents in Sociological Thought, vol, 1, pp. 13+14. Al. Emile Durkheim, Montesquieu and Rousseau, Forerunner of Sociology (Ann Arbor: University of Michigan Press, 1960). p. 57, Vee fambém Wemer Stark, Montesquieu: Pioneer of the Sociolosy’ of Know. ledge (Teronto: University of Toronto Press, 1961). 42, Noliaire, Essa! sur tes Marurs (1768), capitulo exvii (Pati tions Garnier Freres, 1963), tomo Il, p. $10 43. 0 livro de Voliaite Filosofia da Histiria (1766) pote ser considerado melhor como ums bistéria universal. Para ele-'a expresso der niticava a histéria esciita por um filgso{a on livre pensader, Oise eine inglesa foi publicada no mesmo ano (1766) por tradutor descooheciie. Uma reprodusio dessa ediso fol publicada em Londres em 1968 (Lonutes Vision Bross, Ltd) (4. Tean-Jacques Rousseau, The Social Contract and Discourse, trae (uzido para o inglés ¢ com uma intreducso, por G-D.H. Cole (Londres: Everyman's Library, J.M. Dent & Sons, 1947), 9. 123. O Conselno de Estado proibiu a Enclcfopédia de Diderot em 1759 por sex da mesma ost pifo: “Ax vantsgens a serem obtidas de um trabalho desse tipo, om tes lacio a0 progresso nas artes ¢ ciéncias, jamais podem ser compensades pelo ano lnreparavel que resulta dele em relacdo A moril e A rellgido™ Clady por Wil © Ariel Durant, The Story of Ciitzation, vol. IX, The’ Age of Volteire (Nova York: Simon & Schuster, 1965), p/ O22 45. Rousseau, “Discurso sobre os Eleitos Morais das Artes © Cién- las", em The Social Contract and Discourse. p. 127 46. Como a0 essrever: “Quenda os godos devastaram a Grécie, as Dibliotecas $6 escaperam as chamas devido a uma opinido. que ee dissent. aria entro eles, de quo era melhor deixar o inimigo com posses destinadss + Edi (© FENSAMENTO SOCIOLOGICO NO SBCULO XVIT 6K ieee a sce ae cast nals ea te Sr tea ll ea ott eat See care eae eee, ae poling hse et te ce etn es ans peas cocoa cee sus feoorer eclsce rel sete etetimeae accent oma hen, coven i lube rs cme came ce cme Na She sama ve i, Se re eve, tamer cet hacer ¢ oem Rowen Emile, tr. de Barbara Fox, Everyman's Library i ee ee es tts Mig crane Sour tre ctl fe we ns 0 ee ae ee eee | meee ce oe Etre Gee mn webu a eee tee ova» a eceee te Bs Grete: Bete Glciess pie mess a inept ee ein SnaaE £3, Bat, IM Heo Does 3.2%, om» app perm a eeegeat peel gie ES 2 Sart aban, teres Sie ews: cre

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