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Boletim Bibliográfico 7 - Figuras do mês - novembro de 2020 - Rómulo de Carvalho

“Aqui, e em todo o mundo (civilizado, é claro) a humanidade foi submetida a uma operação
ditatorial que todos acolhem voluntariamente. Que estarão a fazer as pessoas nas suas casas,
segregadas, com as janelas fechadas, sem darem sinais de vida?"

“*Este modesto Boletim Bibliográfico é para si, meu amigo+”, poderia ser uma forma de co-
meçar esta biografia, tal como Rómulo de Carvalho / António Gedeão tantas vezes fez nas
suas obras. Rómulo de Carvalho foi professor, pedagogo, cientista, poeta, divulgador de ciên-
cia, investigador, historiador, um homem de grande valor cívico. Rómulo de Carvalho nasceu
em Lisboa, a 24 de novembro de 1906 e, desde cedo, revelou-se uma criança precoce. Culti-
vou as Letras e as Ciências e nos dois domínios deu-nos grandes contributos para melhor co-
nhecermos o Universo, a sua composição e, também, o Homem. Na data do seu nascimento,
comemora-se a sua memória O dia nacional da cultura científica.
Da sua extensa obra, podemos destacar um conjunto de áreas, registando alguns dos seus
títulos mais marcantes. Ei-los:

Divulgação Científica
História do Telefone, (1952); História da Fotografia, (1952); História dos Balões, (1953); História da
Electricidade Estática, (1954); História do Átomo, (1955). História da Radioactividade, Coimbra, (1957);
História dos Isótopos, (1962); História da Energia Nuclear, (1962); Ciência Hermética, Colecção Cosmos,
(1947); Embalsamento Egípcio, Colecção Cosmos, 142-143, (1948); Que é a Física?, (1959); A Física
para o Povo, vols. I-II, Coimbra, (1968); «Sr. Tompkins explora o átomo», (1956).

Cadernos de iniciação científica


A Descoberta do Mundo Físico, Lisboa, (1979); A Experiência Científica, (1979); A Natureza Corpuscular
da Matéria, (1979); Moléculas, Átomos e Iões, (1979); A Estrutura Cristalina, (1980); A Energia, Lisboa,
(1980); As Forças, Lisboa, (1980); O Peso e a Massa, Lisboa, (1980); As Reacções Químicas, (1980); A
Composição do Ar, (1982); A Pressão Atmosférica, (1982); A Electricidade Estática, (1982); A Corrente
Eléctrica, (1983); Magnetismo e Electromagnetismo, (1983); A Electrónica, (1983); A Radioactividade,
(1985); A Energia Radiante, (1985); Ondas e Corpúsculos, (1985).

Livros - História
História da Fundação do Colégio Real dos Nobres de Lisboa *1765-1772, (1959); História do Gabinete
de Física da Universidade de Coimbra [1772-1790] desde a sua fundação em 1772 até ao Jubileu do
Prof. Giovani António Dalla Bella, (1978); Relações entre Portugal e a Rússia no Século XVIII, (1979); A
Actividade Pedagógica da Academia das Ciências de Lisboa nos Séculos XVIII e XIX, (1981); A Física Ex-
perimental em Portugal no Sécu1o XVIII, (1982); A Astronomia em Portugal no Século XVIII, (1985);
História do Ensino em Portugal, desde a fundação da nacionalidade até ao fim do regime de Salazar-
Caetano, (1986); A História Natural em Portugal no Século XVIII, (1987); D. João Carlos de Bragança, 2
duque de Lafões fundador da Academia das Ciências de Lisboa, (1987); O material didáctico dos séculos
XVIII e XIX do Museu Maynense da Academia das Ciências de Lisboa, (1993); O material etnográfico do
Museu Maynense da Academia das Ciências de Lisboa, Lisboa, 2000.

Na sua produção, podemos ainda distinguir Artigos e Comunicações – Históricos e Comemo-


rativos, Artigos pedagógicos, Livros didáticos e naturalmente Obras de ficção, com destaque
para a figura de António Gedeão, seu pseudónimo na obra poética. Quem conheceu Rómulo
de Carvalho sente-lhe a saudade da sua presença imensa, da sua voz ligeiramente grave ado-
çada de gestos de simpatia. Sente a falta de uma companhia que ensinava tanto, numa hu-
mildade inesquecível. Com ele aprendemos tanto, ele que nos deixou lições de vida sobre o
que significa a cidadania, sobre o que podemos fazer individualmente com as ideias, com o
que sentimos em eternas viagens entre a Ciência e a Poesia, a nossa humanidade. E ensinou-
nos, com o seu exemplo, com as suas palavras, essa ideia essencial, de que somos o que faze-
mos e o que pensamos. Nessa curiosidade, nesse sorriso pela descoberta do que nos rodeia,
percebemos melhor o que podemos ser e que mundo decidimos construir. Rómulo foi uma
reencarnação da Renascença, nessa ideia de procurar sempre no mundo formas para desco-
brir sinais, realidades que podemos desvendar com o nosso raciocínio, com a nossa sensibili-
dade e com essa máquina de futuros - a imaginação.

“Sejamos modestos. Compreendamos que tudo quanto po-


demos pensar está limitado pelas nossas condições físicas,
pelo meio cultural em que nascemos, por todos aqueles que
nos antecederam. Sejamos modestos. Eu nem sei sequer
“Minha aldeia é todo o mundo. como são as coisas que vejo. Só sei como as vejo. Sejamos
Todo o mundo me pertence. modestos nas nossas “certezas” e na defesa das nossas
Aqui me encontro e confundo “razões”. É comum ver os seres humanos encolerizarem-se
Com gente de todo o mundo para impor as suas razões. Eu, pessoalmente, pouca impor-
Que a todo o mundo pertence.” tância atribuo às razões de cada um porque a razão é uma
coisa que todos têm. Há alguém que não tenha razão? Não
“Minha aldeia”, Teatro do Mundo, 1958 . conheço”. (Memórias, p. 393)
Boletim Bibliográfico 7 - Os Escritores do mês - novembro de 2020 - Rómulo de Carvalho

Encontrei uma preta Viajei por toda a Terra


que estava a chorar desde o norte até ao sul;
pedi-lhe uma lágrima em toda a parte do mundo
para a analisar. vi mar verde e céu azul.
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Recolhi a lágrima Em toda a parte vi flores
com todo o cuidado romperem do pó do chão,
num tubo de ensaio universais, como as dores do mundo
bem esterilizado. que em toda a parte se dão.
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Olhei-a de um lado, Vi sempre estrelas serenas
Do outro e de frente: E as ondas morrendo em espuma.
tinha uma ar de gota Todo o Sol um Sol apenas,
muito transparente. e a Lua sempre só uma.
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Mandei vir os ácidos, Diferente de quanto existe
as bases e os sais, Só a dor que me reparte.
as drogas usadas Enquanto em mim morro triste,
em caso que tais. nasço alegre em toda a parte.
—————————
Ensaiei a frio, António Gedeão, “Lírio Roxo”
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
Eu queria agradecer-te, Galileo,
—————————-
a inteligência das coisas que me deste.
Nem sinais de negro,
Eu,
Nem vestígios de ódio
e quantos milhões de homens como eu
(Água) quase tudo
a quem tu esclareceste,
E cloreto de sódio.
António Gedeão, “Poema para Galileo”.
António Gedeão, “Lágrima Preta”.

Venho da terra assombrada Não há ventos que não prestem


do ventre de minha mãe nem marés que não convenham
não pretendo roubar nada nem forças que me molestem
nem fazer mal a ninguém correntes que me detenham

Só quero o que me é devido Quero eu e a natureza


por me trazerem aqui que a natureza sou eu
que eu nem sequer fui ouvido e as forças da natureza
no acto de que nasci nunca ninguém as venceu

Trago boca pra comer Com licença com licença


e olhos pra desejar que a barca se fez ao mar
tenho pressa de viver não há poder que me vença
que a vida é água a correr mesmo morto hei-de passar
com licença com licença
Venho do fundo do tempo com rumo à estrela polar
não tenho tempo a perder
minha barca aparelhada “Fala do Homem nascido”, in Teatro
solta rumo ao norte do Mundo, 1958 .
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada

“Eu queria que o amor estivesse realmente no *coração,


e também a Bondade, *e a Sinceridade,
e tudo, e tudo o mais, tudo estivesse
realmente no
*coração.
Ficha Técnica Então poderia dizer-vos:
Redação: Equipa da Biblioteca "Meus amados irmãos,
falo-vos do coração",
Biblioteca: Agrupamento de Escolas António Rodri-
ou então:
gues Sampaio "com o coração nas mãos."
Periodicidade: Mensal (novembro)
Distribuição/Publicitação: António Gedeão, “Poema do Coração”, in Linhas de força, 1967.

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