You are on page 1of 22
Dols SECULOS DE TEORIA DO PLANEJAMENTO: UMA VISAO GERAL Jot Freda | ‘A idsia de que o conhecimento cientificamente embasado a zespeito da | Introdugio | | | ham, porém, convencido de tou com rigor matemético as conseqiiéncias da a¢%0, que ele tomou como base pare o julgamento ético e, tomaram rumo muito diferente daquele tragado por Mill. Apesar de ter sido um dos primeiros admiradores da filosofia positiva de Comte, Mill veioarejeitarorfgido autoritarismo dos seus trabelhos posteriores. esse ponto em diante, as duas correntes de tendéncia modems ~ 0 libera- 69 |stats ae tegen tee eee lismo britfnico enraizado na preocupagao com o individuo e suas liberdades mo francés, que atribuiu papel decisivo ao Estado ~ trithariam foi considerada, em varias cincias soci de supostos herdeiros, incluindo a soci politica (Vipat, 1959), a administragio pi * (embora no a linha marxi referia-se principalmente&intervengo estatal na economia (DuskHEM, 1958; Bennste, 1955). O planejamento, € claro, provém do caos, E di smas que, eventualmente,seriam retomados por tedricos engenheiros que colocariam seu trabalho @ Familiarizados com as leis organicas da sociedax cestabelecer seu curso futuro de scordo com um plano abrangente. Tiaham a capacidade de predizer os resultados futuros de agbes presemtes, 0 que permitiria que a sociedade controlasse seu destino. Era uma concepeiio ccorajosa. De forma pritica, 08 ‘seus conhecimentos aos mais eapazes de conduzira evolugo da humanidade cem diregao a uma nova ordem industrial: os engenheiros, empresétios € banqueiros-financistas que o construiriam:; 03 artistas, escritores e misicos, {que serviriam como seus idedtogos; e os lideres politicos, que regeriam todo oconjunto. Na época em que Saint-Simon desenvolveu suas teorias, a vitoria a do industrialismo ndo estava de forma nenhuma assegurada, Suas da sociedade ofereceriam defini tcorias foram adotadas pela emergente burguesia con ‘sua luta pelo dominio. Como classe, eles poderiam be ma ideol6gica na 10 _ setae mrmconurnmn ne aon de uma filosofia em que o planejamento cientifico era a parteira da liberagio humana da escuridao de seu passado feudal. ‘Um interessante parelelo pode ser observado nas doutrinas de desen- Asiae da Africae 0 avelerado crescimento dos velhos pafses latino~americanos estimulavam a imaginaglo das pessoas. A prosperidade em breve tomar-se-ia universal, eles pensavam; a pobreza seria banida para sempre; a felicidade tornar-se-ia o destino hiumano comum. Tudo isso seria aleangado por meio do planejamento (cientifico). Era uma fantasia que logo conduziria a una visio ‘mais sobria das coisas, mas, durante um tempo, foi investida de idealismo esperanga (Wore, 1981), Bram 2 mesma esperanga ¢ o mesmo idealismo ‘que haviam inspirado os engenheiros saint-simonianos um século antes. ‘A vistio mais sébria da primeira era industrial veio menos de uma geragiio depois da morte de Saint-Simon, em 1825, com a publicago da Filosofia da pobreza, de Proudb ., dois anos depois, coincidindo sta, Aqui, pela primeira vez, ymento consagradas nas doutrinas do exam a8 visOes radicais de pla anarquismo ¢ materialismo hist6rico. (Nese meio tempo, « viséo conservadora marchava adiante sob a bandeira da religiao da humanidade, de Comte). O que fez © planejamento radical, diferente foi sua mensegemn politica: no era enderegad classe dominant, como Saint-Simon e Comte tinham feito, mas, sim, ao portador da Iuta revolucionéra, o proletariado turbano. A sonora exclamagio de Proudhon, "Propriedade é roubo!", difcilmente eativaria os principes do capital, como também nao, a excle magdes de Marx e Engels “Trabathadores do mundo, uni-vos!™. Todos os trés desejavam uma mudanca nas relagdes de poder: Proudhon negando a legitimidade de qualquer forma coetctiva de poder, Marx e Engels reivin- dicando reformas estruturas, ais como o programa de dez pontos do Mani- {festo, Amos viram, numa ample mobilizagio social ds classe trabalhadore, ‘resposta aos poderes de planejamento de um Estado burgués opressor. ‘Assim, a8 correntes de pensamento conservadoras e radicais sobre 0 planejamento se estubeleceram cedo. A realizagfo efetiva de planejamento cientifico como t6enica para guiar 0 progresso social levaria mais um sécul. n Inaugurada com o planejamento de produgdo durante os anos de guerra, 1-se de uso regular com a implantagda do sistema saviético nto nos anos de 1920. Apesar de que outras formas de plane jamento, tais como o planejamento urbano, reformas sociais parciais € 0 planejamento administrativo de cidades, podem ser encontradas a partir da ravam uma prética cientifica. lidades \inua expansio, fazem-se presentes nos dias atuais (HaBEeMas, 1979), A trajetéria dessa idéia germinante obviamente nao seria uma linha reta, Primeiro, tarefas diferentes pediam s dadas por novas disciplinas, & medida que se toravam ne ainda conceitos antagénicos de Estado e, de fato, de personagens outros que nfio 0 Estado. Com o tempo, entlo, surgiu uma grande variedade de correntes de planejamento. Algumas se inclinavam para o lado téenico da equacdo ~ tormada de decisées e formulagdo de alternativas ~, outras cram. .cional. O restante deste capitulo a, do planejamento sérias, Havia cientificamente embasado. As correntes intelectuais O periodo cobesto pela Figura 2é de aproximadamente 200 anos. Ao a partir do final do século XVIII até o presente, a linha do tempo do lado esquerdo do diagrama expande-se para acomodar o grand de autores contempordneos: desde 1945, houve uma verdsdeira explosio de literatura sobre planejamento. [As correntes intelectuais e 0s autores sfio colocados ao longo de is, que vai da ideologia conservadors, no Indo esquerdo da figura, ao utopianismo e anarquismo, no direito. Para simplificar @ exposigdo, pode-se dividir esse continuum em tr&s partes. um continuum de valores n No extremo esquerdo do diagtama, estio 0s autores que véem a confirmagio ¢ a reprodugio de relagdes de poder existentes na sociedad. Expressando preocupagbes predominantemente técnicas, eles proclamam ‘uma posigio cuidadosamente elaborada de neutralidade politica. Na realidade, eles direcionam seus trabalhos agueles que estfo no poder ‘vem como sua missio principal servir ao Estado. ‘AAnilise de Sistemas origina-se de um conjunto de teorias que podem ‘ser agrupadas, sem excessivo rigor, sob o titulo Engenharia de Sistemas (cibemética, eoria dos jogos, teoria da informacao, ciéncia da computacéo, robética € outros nomes). Os cientistas dessa drea trabalham princi- palmente com modelos quantitativos de grande escala. Em aplicagdes as de planejamento, podem usar técnicas de otimizagio tais como fortemente em linguagens analticas de sistemas, ‘Tendo uma relagio mais proxima com a administragao publica que coma andlise de sistemas, a ciéncia c politica pablica a analises socioecondmicas. Os conceitos dispontvei anélise de custos e beneficios, orgamento base-zero, andlise de custo-ficicia cc avaliaglo de programas, De forma geral, hd preferéncia por problemas ‘que estejam bem delimitados e por declaragées de propésitos que néo sejam ambiguos. Note, também, que a ciéncia politica ¢ herdeira de uma antiga corrente intelectual. Hssa I6gica tem forte origem na economia neoclassica, com suas vérizs ramificagSes na economia do bem-estar ¢ na teoria da cescotha social, Uma mistora com a abordagem institucional da administrago piblica, entretanto, Ihe é prépria. Spee errors wma Topics Anargustg contribuigio fundamental das éreas de administragio piblica & tearia do planejamento foi feita por Herbert Simon, cujo trabalho inicial, Comportamento ‘admin 6; o1ig.1945), abordou o processo buroerético com base em uma perspectiva comportanental que enfatizava as condigdes que limitavam lidade em grandes organizagoes. Joposto do espectra: la Figura 2), estio autores «8 transformagao ot las celagBes de poder existentes na sociedade civil. Aqui, ndo se dirigem mais 20 Estado, e sim as, pessoas, em particular as oriundas da classe trabathadora que, acredita-se, is extremados em sua rejeigo a0 poder s1o 0s utopianos ¢ os anarguistas, que, em suas buscas por um mundo de relagdies no hierdrquicas, do mado de produso dominante,Conrariamnete aos utopias, eles acta cBes de classe preocupacao anaitca cenial dos materialist histéricos, E mediante insuperdves confit de clases, eles angumentam, que srelages de poder existentesserdoeventualment “desmantcladas” substiudes porum Estado CCattica Jay, 1973), Sua principal preocupagto é comacritica radical, enraizada janas ¢ marxista, de manifestagées cultu tadas do capitalismo, incluindo a deificagdo da prdpria razo, tiface- a 16 ee [Em diregio & parte central da Figura 2, entra-se na érea cinza da sobreposigdo entre 0 polo conservador de ideologia, em que as relagbes de poder atuais permanecem preponderantemente inquestiondveis, ¢ 0 pélo radical de utopia, com sua visfo trnscendente, Aqui se encontram as cor- rentes reformistas do planejamento e seus antecedentes imediatos. Préximo 2 dministragdo publica, 0 que pode ser visto, em parte, como sua vertente, esté a corrente da administragéo cientiica, que se iniciou com o trabalho precursor de Frederick Winslow Taylor (1919; orig. 1911), Sua doutrina go- zou de notivel sucesso. E, apeser da clare subservigncia aos interesses ‘comercais, exerce uma atragio inresistivel até sobre pensadores radicais, como Veblen e Lénin, que concebiam a sociedade como grande laborat6tio ¢ 0 planejamento como forma de engenharia social. Para todos eles, tanto conservadores como radicals, palavraeraeficiénciae,nacrado industrilismo, sua invocagio ira magicamente abrir as porta para o futuro, ‘Ap6s 1945, aadministragdo cientifica gerou novo campo, o do desen- volvimento organizacional. Seu principal cliente era a grande corporagio privada, para a qual oferecia uma mensagem calcada na retsrica humanists Com os trabalhos de Erie Trest, Chris Argyris, Donald Schiin, Charles Hampden-Tumer e outros, produziu-se uma literatura que se afastava gradual valores psicol6gicos do autodesenvolvimento parao primeiro plano. [Na diregdo de linhas iberais mais convencionas, esté a economia institucional. Um ramo americano da escola histrice alem do século XIX, ras desprovida de definigSo rigorosa, enfatiza o estudo de insttuigdes ves, em dettimento das toorias abstatas a0 estilo dos modelos da economia neocléssia, Os institucionalsta preferem cexaminar as falhas de organizagbesinsttucfonais especificas em zelago 30 propésito socal ideutticarreformas. Eles tém contribuido com grandes idéias para o planejamento do pleao emprego, crescimento econdmico, 0 desenvolvimento de recursos regions, as poitcas de novas cidades, os esquemas de habitagéo popular ¢ bem-estar social. A insttucionalizago da funsdo planejamento foi uma de suas maiores preocupagées. nalistas tendem a ver o Estado como ator relativamente racional ¢ benigno, que atende & pressio politica. Nesse sentido, eles fo lucro como 0 sinico critério de gerenciamento, trazendo ” posicionam-se: acreditam, como o préprio pai da fllosofia positiva, nos poderes da razéo tecnica para determinar © que é correto, para persuadir os ignorantes & desconfiados ¢ para forjar © consenso necessério & agiio. Suspeitando da politica democrética descompromissads, eles colocam sua fé na tecnocracia dos meritrios. Situada entre as correntes do ins do materialisino hist6rico, encontra-se a escola filos6fica do pragmatismo, Ela é importante, dados os nossos fins, por causa da excepcional influéncia de John Dewey na hist6ria intelectual do planejamento. Essa influéncia notal s, segundo a qual o aprendi- lio de experimentos sociais era visto como fundamental Um expoente mais sofia pragmética nos moldes de Dewey é Edyar Dunn. Na falta de um termo mais adequado, a legenda da linha central da Figura 2 € sociologia. Aqui se encontram os grandes sintetizadores do conhecimento social. Sem excegio, socidlogos tém argumentado a favor da azo técnica em questdes humanas: Bmile Durkheim ¢ Max Weber, 0 primeiro enfati res consensuais na onganizagio social e a solidariedade orglinica ds divisto do trabalho; 0 segundo, o papel dominante das estruturas burocréticas numa sociedade industrializadla que n funcional; Karl Mannheim, o mais eminente soci6logo continental de sua époce, erttico da sociedade de massa e defensor do planejamento racional como forma de superar os males da tomaram conta da Europa; Kar! Popper, académico aust ensatez que igrante tas sociais da Univer- bem-estar (1957), 12 a respeito de planeja- lade de Yale, cuja obra conjunta, Pol 4 primeira grande afirmagdo te6rica ameri 18 [ieee eee eee eee eee eee ee pect epg rugdo, de Manaheim, ida da geraglo anterior da obra Homem e sociedade em uma era de eserita durante outro periodo de crise general (19496; orig. 1940), ‘Allinha pontilhada, legendada como ciéncias da engenharia, atravessa © topo de Figura 2, conectando Saint-Simon e Comte, a0 centro, com adm nistragdo cientifica, administraglo pablica, engenhariade sistemas e economia institucional. (Uma influéncia sobre Lénin também esté representada.) Pode- se argumentar com a idéia de que os métodos de engenharia dao suporte as principais correntes da teoria do planejamento. Nos seus celebrados jantares parisienses, em que suas idéias tomaram forma, Saint-Simon reccbeu alguns dos proeminentes professores da nova Escola Politécnica (fundada em 1794) ce mais tarde cercou-se, preferencialmente, de jovens politéenicos, que eram tango seu piblico quanto sua inspirago. Entre esses estava Comte, que, por razdes disciplinares, tinha sido expulso da escola meses antes de sua formatura ‘ABscola Politécnica pode ser vista como ums instituigio protétipo da nova era industrial ea fonte de sua ideologia gerencial. Engenbeiros aplicaram co conhecimento de ciéncias naturais & construgio de pontes, tineis e canais. Pela mesma légics, por que uma nova espécie de engenbeiros sociais no poderia aplicar seu conhecimento & tarefa de reconstruir a sociedade? Em seu brilhante ensaio sobre a tradigo da escola, Friedrich Von Hayek conta- ‘nos como a nova instimuigo, nascida em tempos revolucionérios, moldou o caréter ¢ 4 mentalidade de seus discipulos. “O engenheiro tipico, com seus pontos de vista, ambigdes © limitagées caracteristicas, foi aqui criado. Aquele espirito sintético {que nto xeconheceria o sentido de nada que nfo tivesse sido construido propositadamente, aquele amor pela organizaco que brota das fontes gémeas das priticas militares ¢ de engenharia, a predilegao ascética em detriment de qualquer coisa que simplesmente cresceu, foi o elemento acrescentado ~ ¢, com o passar do tempo, comegou a subs 20 ardor revolucionério dos jovens poitéenicos... Foi nesse ambiente ‘que Saint-Simon formulou alguns de seus primeiros e mais fantésticos planos para reorganizar a sociedade, e.. foi na Escola Politécnica ~ ‘Victor Considérant algumas centenas de seguidores 's de Saint-Simon e Fourier receberam sua formagio, seguindo-se a eles uma sucessfo de reformadores sociais século dentro, até George Sore!” (Havex, 1955, p. 113), ‘A nogio de certeza dos engenheiros (e sua ignorincia da historia) norteou alguns dos mais proeminentes tericos de planejamento posteriores, centre cles Thorstein Veblen, Rexford Tugwell e Herbert Simon, que ficaram todos encantados com a idéia de “desenhar a sociedade”, Até Simon, que ccertamente estava ciente das dificuldades inerentes ao projeto, no conseguia ial como a tarefa de “desenhar o artefato "como se a soviedade fosse meramente uma maquina algo a de desenhar won, 1982). F precisamente quando se pa ‘Simon parece estar consciente da contradicdo, “Fazer desenhos complexos te win Tongo ados 40 Tongo da {mplementagdo tem muito em comum com pincura éleo. Na pintura «leo, cada novo ponto de pigmento colocado na tela cria algum tipo de padrao que oferece uma fonte continua de idéias para opintor. O processo da pintura & um processo de interagoefcica entre o pintor e-atela,em que os objet fem que 0 desenho muda gradualmente, sugerindo novos objtivos” (Snow, 1982, p. 187). perfodo de tempo e continua 8 a a0 mesmo tem sociedade néo é uma tel suas energi junto com outras “crises” urbanas. M ipos de problemas ~ como conguistar o espago e como eliminar a violéncia urbana ~ tém natureza 80 asbestos ara aoa! essencialmente diferente ¢ a descoberta dos engenheiros de que a vi urbana nfo seria resolvida com solugdes de engenharia nio demorou a vir (Rrrre; Wesven, 1973). Essa répida Jeitura do eixo horizontal da Figura 2 precisa agora ser ‘comiplementada com uma discussto mais detalhada da dimensfo do tempo na evolugio do pensamento do planejamento, Certas datas-chave siio definidas com um corpo maior ns marge ‘Nossa histéria comega em 1789, com a publicagio da obra de Bentham, Introduedo aos princ(pios de moral e legislagdo. Bscrito apenas alguns anos apés a Revolugio Americana, na mesma época da queda da Bastiha, o ratado de Bentham marca 2 transiglo das vozes cultivadas do uminismo — Locke, Hume, Montesquieu, Diderot, Voltaire, Condor squerda simboliza a grande divisdo. ‘A préxima grande ruptura ocorre em 1848, quando revoltas populares ‘yarreram o continente europeu numa velocidade estonteante. Em pouco ‘menos de um ano, entretanto, as forgas revolucionérias tinham-se exaurido. A hegemonia burguesa foi firmemente restabelecida e iniciou-se um longo ‘periodo de unificagio nacional. Com excego de precursores individuais, quase todas as principais correntes do planejamento datam de 1848. Parado- ‘xalmente,o desenvolvimento do planejamento cientifico ocorre paralelamente ‘a surgimento do Estado liberal "A Guerra Mundial e 1914-1918 pos profundemente em dvida as ilusbes ‘burguesas de progresso ilimitado, Forgas subterréneas e disjuntivas estavann, sendo descobertas por fil6sofos como Bergson ¢ Heidegger, psicdlogos como Freud Jung, compositores como Schiinberg e Weber eescritores como Kafka ¢ Joyce (Huaues, 1977). As nuvens escuras da irracionalidade estavam comegando a se juntas, O fascismo estava em ascensio. Mas a guerra havi mostrado as possibilidades do planejamento central, e,em uma década, 2 Unio Sovitica havia inaugarado seu primeiro Plano Qtingllenal, Entio veio a Crise de 1929. Em toda parte foram realizadas intensas reformas sociais, especialmente nos Estados Unidos. A nova economia a keynesi a legitimava win papel intervencionista do Bstado com um apelo cigneia, Algumas figuras importantes ni jamento fizeram sua e ram pl -volugao da teoria do plane- ssa época. Alguns, como Rexford Tugwel jadores tanto em atos como em palavras. Karl Mannheim conseguiu escapar do jugo nazista ¢ ir para a Europa. Ant6nio Gramsci definhou-se em uma pristo fascista ¢ Keynes e Mumford viveram em conforto e seguranga, o primeiro em Cambridge e 0 segundo em uma Pequena cidade no estado de Nova York, Sempre prolificos, seus escritos cram muitas vezes exorta tecnicos, cantelosos, Para alguns desses teéricos, plane} significava revoluglio e transcendéncia, ‘Com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Depressdo acabou es cde pessoas perderas ‘espetacular: As cidades foram reconstrufdas; 0 Estado do bem-estar soctal foi implantado: 0 crescimento econdmico acelerou-se a um precedentes; novas nages pr ia nuclear passou a ser ‘rouxeram de volts amostras de rochas do espaga: sat ‘ansmitiram imagens para todo o globo, projetando a star; uma China comunista emergiu como p cr intermindvel. Com a aveleragio da se a busca de significado em meio as mudangas ca6ticas ‘Apareceram, no cenério, novas ¢ importantes correntes de planeja- iberagio nacionais em quase todos os politicae o desenvolvimento tes contribuigs ids, mais indblom ¢ do se 0 triunfo da raztio técnica, ° rico determi ‘uma onda de febre revolucionéria assolou o 1 de Paris & Cidade do México. Pela primei 82 Soest coerce ne revolucionério adquiriu alcance global, fazendo tremer todos os comedores sido em 1848, mas venceu em, pelo menos, uum aspecto, Conseguit revelar total bancarrota da ordem estabelecida, Embora seje verdade que o capital financeiro e industrial tenha conseguido organizar os mercados globais, @ pobreza no mundo aumentava a cad ano; nos pafses ricos, o consumismo hhavia-se tornado mais um peso do que um prazer; # alma humana estava nas garras de tervores desconhecidos; guerras devastadoras estavam sendo travadas com resultados amargos no sudeste asitico ena América Central; a reestruturagio econémica tinha deixado ociosos milhées de trabalhadores fisicamente capazes; o proprio Estado estava-se afundando cada vez tas ‘em dividas, mesmo quando o crescimento econdmico deseeslerava,O sistema ‘de bem-estar social, que tinha sido tio bem elaborado, estava encallzando nos, bbancos de areia da crise fiscal. O otimisno natural das primeiras décadas do ps-guerra estava-se rapidamente dissipando. ‘Unanimemente, 0 profeta do perfodo foi Herbert Marcuse, cujo 0 homem unidime (1964) foi lido por estudantes que buscavam desesperadamente uma explicagZo racional para sua insatisfagao. in conseiéncia e ameagava a sobrevivencia da raga humana. Mas, além da al da vida contemporlinea, Marcuse ndo oferecia respostas, as buscassem novas respostas, lo de planejamento, baseado no ivo rejeigto magi Geixando que pensadores mais posi Alguns viram o futuro em um novo e didlogo; outros esbogaram utopias sociais, para além do aparato c do Estado e das corporagies; 0s neomarxistas louyavam a l6gica da Tuta de classes na transformagio social. ‘Mas continuava 0 estonteante ¢ agitado ritmo dos acontecimentos. ara muitos, parecia ter fugido ao controle, Ninguém sabia o que o futuro hhaveria de trazer; 0 sonho saint-simoniano estava destruido, Na esquerda 1, 0 deslocamento foj para a ago comunitéria e, na direita, para a al de Milton Friedman, Ambos foram movimentos de afasta- ‘mento em relago 20 Estado. ‘Nessas condigées, o paradigma do planejamento cientifico, que havia sido dominante por mais de um sécuilo e meio, foi subitamente questionado, 83 Pisces eee eee ee eee re ee crete ee creer eee eee eee eee eee ‘marcha dos eventos apontava na diregio Embora ainda tivesse © poder de fazer a guerra e semear a destruigo universal, 0 Estado-nagiio (pelo menos no Ocidente) estava perdendo ‘redibilidade em casa. O pr abordagens comunitirias. No limiar da virada de outro século, 0 significado joo esta posto em dilvida, A respeito das origens do pensamento sobre 0 planejamento le Rouvroy (1760-1825), o conde de Saint-Simon, era unificagio do n de Roma (Peces dedicado & causa de tomar 0 mundo seguro para o ¢: Ele era, em resumo, um homem apsixonado pelo futuro e asturo para detectar as correntes ocultas de sua época. Tambérn era irremedivel e stou-se para lutar “pela -veio a deserever) n ), Ao voltar para a Franca, onde outra revolugo havia ‘opriedades requisitadas da Igreja, ganhando Roberspieme foi peso quase levado ‘um dos mais espéndios sales intleccuis de Pais, Seus turbulentos casos amorosos terninavam em matrimfnioe divoreio quaseimediato. As argens do Lago Genebra, ele tentow cortejar a mais brilhante autora de sua Epoca acohidoe cuidado Dotan sooner eater porsua ex-ctiada, Ele produziu uma sucessto de ensaios, panfletos,discursos cecartas sobre a reorganizagio da sociedade, atraindo jovens discipulos que co reverenciavam como seu guru e ajudaram a apoiar seu trabalho. 54 no final de sua vida, como muitos profetas auto-realizados geralmente fazem, «ele criou as bases para uma religito que durou pouco, o Novo Cristianismo, Rodeado de seus aodlitos, ele morreu, com um discurso mais flosSfico no |, dando instrugées e conselhos. Teria dito, no sev ghtimo suspiro: ‘Lembrem-se de que para alcangar coisas grandiosas é preciso sentir com paixio” (MARKHAM, 1952, p. xvii). Para ter idéia do seu estilo e melhor noglo de por que ele pode ser ‘chamado de pai desse levemente indecoroso empreendimento chamado planejamento, varnos ouviclo falar. A seguir, um extrato de sua "Sexta carta", que aparece na segunda e dltima edigdo de sus revista The Organizer. “Quando tivermos feito as trés coisas de que falei, estaremos em ccondigies de proceder ao estabelecimento de um novo sistema politico, ado pois a nova composiggo da Camara Baixa teria possibi cexigida pelo atual estado da stida do supremo poder politico porgue estabelecer a organizag’ civilizagdo, ea Camarnest aprova os tributos, Vou descrever o caminho que & Camara dos Deputados... deveria adotar, Para explicar mais clara erapidamente, deixarei que a propria (Camara fale: Haver uma primeira cémara que seré chamada de Camara da Invengho. [Essa cmara teré 300 membros; ser dividida em tis segBes que co trabalho $6 seré oficial quando podem reunir-se separa tiverem discutide conju Cada segdio poderd convocar a assembleia das ts se96es juntas. [A primeira segdo seré composta de 200 engenheiros civis; a segunda, de 50 poetas¢ outros autores literdros; e a terceira, de 25 pintores, escultores, ox aquitets, e dez miisicos. ssa cdmara teré as seguintes fungSes: “Apresentar, a0 final do primeiro ano de sua existéncia, um plano cas a serem realizadas para o ensiquecimento da Franga 85 impeza da terra, abertura de novas estradas eescavaedo ro consideradas as partes mais importantes desse plano; © 08 canais nto devem ser vistos apenas come meio para © transporte; sua construct deve ser conocbida de tal forma ue sejam o mais agradavel p para os Viajantes, (...Toda @ Franga deveria tomar-se um espléndido parque no melhor estilo inglés... Essa cfimara ird realizar outra tarefa, que serd a de preperar a les sero celebrados sucessi capitais dos departamentos e dist para que os habeis oradores, {que nunca siio muitos, possam espathar as vantagens de sua elogiiéncia. Nas festas de expectativa, os oradores iro explicar ao povo os planos paraas obras piblicas que o parl 0 cidadios a trabalhar com ‘melhoradas quando esses planos tverem sido executados, Nas festas consagradas & comemoragio, os oradores tentario mostrar &5 pessoas como esti em melhor condigg0 do gue seus antepassados. . Lis sean ccdmara serd formada, que se chamard a Camara Essa cfimara seré composta d meédicos que trabalhem com a cigncia de org: ‘médicos que trabalhern com oestudo de Essa cara serd incumbida de Ind elaborar um plano de educagio ‘A Cimara dos Comuns serd reeonsttuida quando as primeiras duas tiverem sido formadas; seré entdo chamada de CAmara de en _____coeeasneteconinmncone reo! Implementagio, ssa cfmara, nessa nova composigdo, encarregarse-4 de verfcarse cada setor de indstria estérepresentadoe se 0 mimero de seus deputados€ proporcional 8 sua importinci, (Os membros da Camara de Implementagto nto receberto nenhum salitio, porque todos devem ser ricos, pois serdo escolhidos entre 0s principas Ideres da indistria, ‘A Cimara de Implementago sera encarregada de executar todas ‘as resolugdes; teré sozinha 2 incumbencie de definir a escala de tributagio e de arrecadar 0s tributos. [As trés cdmaras juntas conformardo 0 novo parlamento, que seré investido de poder soberano, tanto constitucional como legislative." oxescu, 1976, pp. 147-149) ‘Podemos sorrir condescendentemente diante dessa visio, mas devemos lembrar que Saint-Simon estava descrevendo 0 que ele conside- rava ser a organizagdo necesséria no atual estado da civilizagto. B isso no ‘ano 1820, quando 0 continente europeu estava ainda no limiar da era do ccapitalismo industia" Hii quatro grandes dispositivos no seu esquema de uma nova organi- haveria um parlamento composto de uma ndustrialistas, artistas ¢ intelectuais ses ¢ intelecto pudessem naturalmente unir-se para fa um governo dos melhores € mais incipal tarefa do parlamento seria preperar nfo mas também um orgamento 1980, (Pode-se recordar que = pessoas cujos i realizar reformas inevi brithantes. Segundo, a apenas um plano anual para as obras pb comespondente e niveis adequados de essa idéia de preparar paralelamente 0 plano financeiro e o plano material € pprecursora do PPBS, o sistema de planejamento, de programagio e de orgamentago usado por Robert McNamara, durante sua gestio como ‘Secretério de Defesa dos Estados Unidos, de 1961 a 1968). Terceiro, haveria ‘uma engenhosa série de feriados com 0 propésito de ganar maior apoio popular para o plano e, incidentalmente, para 0 governo que os propos. ‘Quarto, um papel-chave nesse esquema seria reservado para industrialists sm ao Estado sem receber salério (mas que, claramente, ricos que serviria 37 (tt cnriqueceriam com 0 implemen Contudo, a avocagéo de Stin

You might also like