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Boletim Operário Ano XII

Nº 631
Caxias do Sul,02/jan/2021

Gazeta de Notícias A Rua

Rio de Janeiro Rio de Janeiro

01 de dezembro de 1882. 20 de julho de 1917.

Edição nº 334 Ano VIII Ano IV Edição nº 196

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A greve do Faubourg Saint-Antoine resolveu-se no A Evangelizadora da Greve

seguinte: Os patrões não aceitaram o programa dos Quem é Juanna Buela?

operários, e os operários não aceitaram o programa dos O que se diz por aí da “Anarchista”

patrões. Depois de uma resolução destas a greve devia

continuar como começou. Pois não aconteceu assim e Magra, de olhos tristes, mas revelando no olhar uma

desfez-se. Também se não desfez. É uma trapalhada energia máscula; pálida, muito pálida mesmo, mas

enorme para que não há explicações que bastem. Há denotando ser forte Joanna Buela desliza como uma

greve e não há greve! sombra pelas ruas do Rio, sem que a multidão elegante

Os patrões abriram as oficinas e os operários foram estenda sobre o seu vulto feminino um pouco de atenção

trabalhar; mas nem os patrões aceitam o programa dos curiosa. É que para semelhante público ela nada tem de

operários, nem os operários o programa dos patrões! notável: veste com simplicidade modestíssimo vestuário

Enfim, tudo leva a crer que a greve se desfaz por si, sem e deve ter mais de trinta anos.

ter um único resultado, exatamente como a celebre

questão do comediante, de que resultou os atores

meterem na algibeira toda a indignação e todo o furor

com que se tinham caracterizado, deram-se por

satisfeitos com a noticia no Figaro, em que a redação se

salvara da responsabilidade do artigo, porque estava

assinado e não acharem por fim motivos para nomear

um delegado dos artistas que se batesse com o Senhor

Octave Mirbeau. A operária Buela (Expressão fisionômica quando discursava)


Não houve, pois, um duelo como todo Paris previa e

achava inevitável, tanto mais que se nomearam No entanto, despercebida pela multidão do nosso mundo
testemunhas de parte a parte! Não será ainda esta uma elegante. Joanna Buela não é uma desconhecida, sendo
questão, padecendo um pouco blague?! É a grande mesmo uma das pessoas mais genuinamente populares da

doença do século em França. metrópole fervilhante.

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2 / Boletim Operário Nº 631

E ela passa pela Avenida, e um grupo de “chauffeurs” à

espera de fregueses para os seus autos estacionados

em fila, fitam-na e palestra:

- Aquilo é que é mulher!

- Vale mais que muitos homens...

- E como sabe falar das misérias dos operários!

- Não me admire: é instruída a valer e leva as noites E assim, quer na Avenida, quer nas demais vias públicas,
Dona Joanna não passa despercebida. Conhecem-na os
sobre volumes anarquistas.
chauffeurs, os condutores de bondes, todos os homens que
Mas Joanna Buela segue avante e passa em frente de
labutam nas oficinas do Rio.
um grande estabelecimento industrial, cujos operários,
Quem é, finalmente, Joanna Buela?
deixando o trabalho, procuram os lares para o jantar
Uma mulher de origem espanhola, anarquista por princípios,
modestíssimo...
educação e único ideal na terra.
É um nunca acabar de cumprimentos:
Vive no Rio há pouco tempo. Andou por Buenos Aires,
- Boa tarde, D. Joanna.
Montevidéu, Santiago, Lima e outras capitais Sul-
- E como tem passado? Bem?
americanas. Tem noções muito interessantes sobre a
Joanna estaciona e palestra. Palestra e aproveita o
situação atual do operariado de todo o mundo. Oradora de
momento para evangelizar idealismo transcendentes: o “meetings”, fala com estranha eloquência, sobrepondo
mundo livre, a miséria um trono, a prepotência sem argumentos e argumentos contra tudo que oprime as
força, o operariado sem fome... classes mais infelizes. Dir-se-ia derramar um pouco de luz
Fala, doutrina, aconselha e continua o passeio. Além, sobre o espirito rude dos que a ouve. Aos anarquistas,

numa esquina, encontram-se dois sujeitos de má chama-os – “espíritos selecionados”, aos que ainda não são

catadura, apoiados em bengalões, - dois secretas, cujo - “espíritos atrasados”.

tipo especificador da espécie policial não tem evoluindo, À noite, invariavelmente, demora-se num café existente na

quando tudo evolui... Praça Tiradentes, quase vizinho à sede da Federação


Operária, onde bebe uma xicara da nossa rubiácea e depois
- Olha – diz um deles em voz baixa – lá vai a Joanna em
palestra com operários desgostosos.
peregrinação, e vai só, sem o marido.

- E quem é o marido?

- Ó homem! Um rapagão que usa óculos, muito magro e

mais alto do que ela...

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