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DANIEL ODIER CL MITOLOGIA, PRATICAS SECRETAS € RITUAIS em Copyright © 2016 by Daniel Odier English Original tide Tantric Kali: Secret Practices and Rituals. Tradugio Thiago Goulart Edigio Priscilla Lhacer Revisao técnica Lara Borriero Milani Design Editorial Milé Bottura Dias ISBN: 978-85-93158-24-7 CIP - BRASIL. CATALOGAGAO NA PUBLICACAO Bibliotecario responsavel: Lucas Rafael Pessota CRB-8/9632 ECS ee LEE ae ese ro PEERY aR EEE eUtwe ses Bey ee coe Pe CHEE ECM EU Tae) cra Brazilian Port yww.montsecortazar.com). All rights reserved. No part of this book may be reproduced or utilized in any form or by any means, electronic or guese Language Edition arranged through Montse Cortazar Literary Agency mechanical, including photocopying, recording, or by any information storage and retrieval system, without permission in writing from the publisher. Todos os direitos desta edigao reservados & Pressagio Editora Santo André — SP Brasil htep:/Awww:pressagio.com.br Impresso no Brasil CONTEY/DO Prefacio Introdugao: Kali ¢ a via tantrica Capitulo 1: As origens de Kali e seu simbolismo O nascimento de Kali O simbolismo do corpo e dos atributos de Kali Capitulo 2: A tradi¢ao Kaula O nascimento da via Kaula Textos Kaula Os 36 tattvas Kali e Shiva A visio caxemiriana do yoga, do Tandava e das praticas de Kali Capitulo 3: Praticas preliminares da tradigio Kaula O yoga da linhagem O yoga dos cinco elementos (tattvas) Visualizagoes preparatérias A expressao da violéncia ¢ sua transmutagao em amor absoluto Capitulo 4: O Nirrutara Tantra: a escritura superior a todas as outras Capitulo 5: Os rituais de Kali e a Grande Uniao Kali Gayatri Um ritual simples de canticos ¢ oferendas Meditagao de visualizagao de Kali O yantra de Kali O ritual de Kali e a Grande Uniao O retiro na escuridao absoluta Capitulo 6: O avango na via Kaula: a Meditagio nos Oito Chakras, a Pratica Suprema do Coragao das Yoginis ea Devoragao dos deménios Internos A Pratica do Coragao das Yoginis Pritica de Kali: a Devoragio dos Deménios Internos Capitulo 7: Hinos ¢ cinticos de louvor a Kali Hino de Abhinavagupta em louvor as doze Kalis Os cem nomes de Kali Hino a Kali Canticos a Kali Bibliografia Tina: a silaba-semente (bija mantra) de Kali PREFACIO Varios textos sao publicados aqui pela primeira vez em uma lingua ocidental. Certo niimero de praticas, recebidas diretamente de minha mestra Lalita Devi, nao constam nos tratados que eu conhego. Devo a ela © conhecimento dos rituais e das praticas secretas. No que concerne ao ritual de Kali, também me beneficiei da presenga magnifica de Shree Maa, uma yogini discipula de Ramakrishna que vive em Napa Valley, na California, e € uma grande adoradora de Kali! Eu nunca pratico o ritual sem colocar em volta de meu pescogo o colar de rudraksha (semente de Shiva) que ela me ofereceu. Dpyie over 1. Ver SARASWATI, Shree Maa: The Life of a Saint. Hi muitas outras obras em seu site: . INTRODUCAO KALI € A VIA TANTRICA A mengao de Kali evoca um mundo sombrio coberto de mistério, pois essa deusa indiana surgiu de um passado antigo da humanidade. Apesar de ela ter sido cultuada por séculos, muitos dos tesouros de sua mitologia e muitas prdticas permanecem ainda ocultos em textos sAnscritos ¢ scitas esotéricas. Porém, Kali tem varios presentes para nés “Eu sou a Grande Natureza, consciéncia, _ felicidade, a quintesséncia,” diz Kali no Chudamani Tantra. Ela é a Mae Césmica, escura como nuvens de tempestade, nua com sua cabeleira insana que chega aos joelhos. Ela vem até nds de um rico passado devotado 4 adoragao do poder feminino — a Grande Mie, universalmente venerada antes do nascimento das religides. A civilizagio do Vale do Indo, onde encontramos as sementes de todas as grandes ideias que viriam ar-se dentro do movimento tantrico, venerava a Grande a cristal Deusa, da qual sobrevivem estatuetas em terracota com cerca de 4.500-5.000 anos. Sitios paleoliticos representam a Deusa em forma de mondlitos triangulares ou de rochas arredondadas, algumas das quais ainda veneradas na India. Kali surgiu das tradigdes rurais pré-védicas (1500 a.C.) de origens selvagens ¢ xaminicas, antes de migrar lentamente para dentro da tradigéo indiana. Ela provavelmente foi a antiga deusa adorada pelos habitantes dos Montes Vindias, que separam o norte do sul no centro da Indi De acordo com Sir John Woodroffe (Arthur Avalon), em seu livto The Garland of Letters, “Kali é a deidade naquele aspecto que se retira de todas as coisas que criou em si mesma. Kali é assim chamada porque ela devora Kala (Tempo) e entio retoma sua dimensio escura_e sem forma”! Ele cita o Mahanirvana Tantra da seguinte 1. WOODROFFE, The Garland of Letters, p. 220. forma: Na dissolugao das coisas, ¢ Kala (0 Tempo) quem devorara tudo ¢, por isso, chama-se Mahakala c, como Mahakala devora a si mesmo, é chamado o Supremo Primordial Kalika. [...] Retomando apés a dissolugao sua propria natureza escura ¢ sem forma, sozinho permanece como Um, Inefavel e Inconcebivel.? Kali nos fala dos aspectos mais escuros da natureza e de nossa prépria natureza humana, mas também nos fala de amor, pois se tornou a consorte de Shiva, adotada pelos tantricos* da via Kaula. Kaula ¢ a via vamachara, muitas vezes chamada “o caminho da mio esquerda”, mas, como vama também significa “mulher”, seria mais preciso e em harmonia com a via Kaula traduzir vamachara como “a via de Shakti”. No dominio do tantra, “o tema central ¢ a energia divina e © poder criativo (sha&ti), representado pelo aspecto feminino de qualquer um dos varios deuses; personificada como uma devi, ou deusa, ela é retratada como sua esposa, acima de tudo como a esposa de Shiva”.* Os textos tantricos costumam tomar a forma de um didlogo entre Shiva e Shakti. Kali, ou Kalika, é uma das muitas formas de Shakti, cujo nome e forma sao paralclos aos do aspecto particular que o deus possui, tais como Kala e Kali, Bhairava e Bhairavi.’ O mundo de Kali é gigantesco. Seria presungoso pensar em abrangé-lo por completo, mas eu quis reunir em um sé livro o essencial da mitologia, dos rituais e das praticas, bem como a cosmovisio mistica que representam. Aqui vocé encontrara varios textos que esto sendo publicados pela primeira vez em uma lingua ocidental. O capitulo 1 explora as origens de Kali e seu simbolismo, o que deixara claro desde o inicio que ela sera nosso guia para o territdério do ser psicofisico humano que geralmente é desprezado ou proibido na religido. No capitulo 2, a via Kaula e sua propagagio por toda a India sdo descritas em maior detalhe, com vislumbres no fecundo campo da mitologia de Kali, bem como é feita uma introdugao aos 36 principios da realidade (/attvas). Esse capitulo inclui tradugées do Kaula Upanishad ¢ do Kularnava Tantra, 0 que deixa claro que o sistema de valores da tradigdo Kaula ¢ muito inconformista. 2. Thidem, p. 220-221 43.Tintrico éa forma adjetiva de tantra, que literalmente significa “tear, urdidura”; portanto, ‘principio, continuidade, sistema, doutrina, teoria’, da raiz verbal can, “estiramento, expansio”, e 0 sufixo ¢ra, “instrumento” 4, FISCHER-SCHEREIBER et al., The Encyclopedia of Eastern Philosophy and Religion, p. 354. 5. Na mitologia indiana, cada deus ou deusa toma muitas formas e € conhecido por muitos nomes. Cada manifestacao particular, como Kali, pode também ter numerosos nomes em particular, cada qual representando um aspecto especifico dessa deidade. Kali, no entanto, ainda é capaz de falar conosco, principalmente por meio de praticas que animamos dentro de nosso préprio ser. O capitulo 3 apresenta praticas preliminares que sao preparacées essenciais para entrar nos profundos rituais de transformagio de Kali. O capitulo 4 contém uma das primeiras publicagées da traducao em lingua ocidental do Nirrutara Tantra, a mais antiga apresentagao do ritual de Kali Oritual de Kali é apresentado em detalhes no capitulo 5,culminando no ritual da Grande Unido. Praticas e visualizagdes para guiar o aspirante ao longo da via Kaula séo dadas no capitulo 6, incluindo um foco nos oito chakras 64 yoginis, a Pratica do Coragao das Yoginis e a Devoragao dos Deménios Internos. Além de inspirar a composi¢ao de muitas escrituras tantricas, Kali evocou devogio na forma de hinos canticos, muitos dos quais sio apresentados no capitulo 7. A. civilizagao trouxe-nos muitas coisas maravilhosas, mas também nos separou de nossas raizes antigas e de nossa conexio com a natureza, com os animais ¢ com o cosmos. A chegada das religides adicionou todos os tipos de regulamentos e regras, que reprimiram nossas conexdes fundamentais com o mundo. Tornamo-nos assustados, conformistas, moralizantes, culpados e aterrorizados por esses impulsos que violentamente emergem em nés, as vezes na sexualidade, As vezes em confrontagées. Eles podem nos surpreender e nos chocar. Esse € 0 contexto em que as praticas de Kali sao inestimaveis para os praticantes de hoje. Elas nos permitem reintegrar todos os impulsos vulcdnicos que fluem através de nés nos labirintos da imaginagio e dos sonhos. Como uma presenga que foi estabelecida antes dos grandes movimentos religiosos, Kali tem o poder de reconectar- nos as nossas raizes, restaurar o alcance completo do que significa ser humano, oferecer-nos aceitago de toda a nossa riqueza — ela absorve toda a histéria da humanidade, desde seus primeiros balbucios até seu desenvolvimento final. CAPITULO 1 AS ORIGENS DE KALI € SEU SIMBOLISMO O NASCIMENTO DE KALI Segundo a mitologia, Kali surgiu do terceiro olho da Grande Deusa Durga, que nao conseguia dar conta dos deménios, liderados por Canda e Munda, enviados para se opor a ela em uma guerra césmica. Ela concentrou seus poderes para produzir uma encarnaco da violéncia absoluta ¢ assim projetou Kali sobre © campo de batalha. A histéria é contada no Devi-Mahatmya, escrito cerca de 2.500 anos atras: 7.2 Entio os deménios avistaram a Deusa, que sorria ligciramente, montada em scu ledo sobre o cume dourado da mais alta montanha. 7.3 Ao avisti-la, eles se prepararam para rapti-la enquanto outros deménios se aproximavam com espadas desembainhadas ¢ arcos estendidos. 7.4 Ambika! em seguida soltou um grito aterrorizante em sua diresao, ¢ seu rosto, de raiva, tornou-se negro como a tinta, 7.5 De suas sobrancelhas trangadas, no meio de sua testa, imediatamente surgiu Kali, com sua face assustadora, portando uma espada e um lago. 7.6 Ela carregava um estranho bastao adornado de um cranio e usava um colar de cabegas cortadas Ela estava envolta em uma pele de tigre ¢ parecia assustadora, com sua pele macilenta mbika ¢ outro nome da Grande Deusa.

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